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MARIA CRISTINA OLIVEIRA BRUNO

KÁTIA REGINA FELlPINI NEVES


Coordenadoras
MARIA CRISTINA OLIVEIRA BRUNO
KÁTlA REGINA FELlPINI NEVES
Coordenadoras

MAX
MUSEU DE AROUEOLOGIA DE XINGÓ

S ADE FEDERAL DE SERGIPE


PETROBRAS
CHESF

ili
Apresentação 7

PRIMEIRA PARTE:CONCEITOS,TRAJETÓRIASE MUDANÇAS

1 Museus e Desenvolvimento Local: um balanço crítico 11


Huçhes de Varine-Bohan
Consultor Internectonal sobre Desenvolvimento Local

2 Mudança Social e Desenvolvimento no Pensamento da Museóloga


Waldisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos 21
Maria Cristina Oliveira Bruno
Museu de Arqueoloçie e Btnoloçia - MAE/llSP
Andrea Matos Fonseca
Kátía ReS2inaFelipini Neves
Curso de Especialização em Museoloçia - CEMMAE/llSP

3 A Radiosa Aventura dos Museus 41


Mário de Souza Chagas
llntversidede Federal do RÍo de Janeiro - UnÍRÍo/
Departamento de Museus e Centros Culturets do Iphan

4 As Ondas do Pensamento Museológico: balanço sobre a produção brasileira 53


Manuelina Maria Duarte Cândido
Museu da Imaçem e do Som - MIS/CE

5 ,Que Puede Hacer Ia Arquitectura por los Museos? 73


Juan Carlos Rico
EI Centro Superior de Arquitecture de Medrid

6 Evaluación en Museos y Desenvolvimiento Social:


presupuestos téoricos y metodológicos 91
Felipe Tirado Seçura
llniversidede Autónoma de México - UNAM

5
SEGUNDAPARTE:EXPERIÊNCIAS, PROPOSTASE PERSPECTIVAS

1 Acessibilidade, Inclusão Social e Políticas Públicas:


uma proposta para o Estado de São Paulo 115
Amanda Pinto da Fonseca Tojal
Pinacoteca do Estado de São Paulo

2 Participação e Qualidade em Museus:


o caso do Museu do Trabalho Michel Giacometti 137
Isabel Victor
Museu do Trabalho Michel Giacometti

3 Museus, Exposições e Identidades: os desafios do tratamento


museológico do patrimônio afro-brasileiro 157
. Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha
Universidade Federal da Bahia - UFBA/ Museu Airo-Brasileiro

4 O Museu dos Povos Indígenas do Oiapoque - Kuahí:


gestão do patrimônio cultural pelos povos indígenas do Oiapoque, Amapá 173
Lux Boelitz Vidal
Universidade de São Paulo - USP

5 Memória e Movimentos Sociais: o caso da Maré 183


Cláudia Rase Ribeiro da Silva
Museu da Maré, Rio de Janeiro

& Memorial da Resistência: perspectivas interdisciplinares


de um programa museológico 195
Maria Cristina Oliveira Bruno
Museu de Arqueoloçta e Iitnoioçia - MAE/USP
Maria Luíza Tucci Carneiro
Universidade de São Paulo - USP
Gabriela Aidar
Pinacoteca do Estado de São Paulo

Perfil dos Autores 205

fi
Segunda parte
EXPERIÊNCIAS, PROPOSTAS E PERSPECTIVAS
Acessibilidade, Inclusão Social e
Políticas Públicas:
uma proposta para o Estado de São Paulo

• AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

INTRODUÇÃO
Sés;!undo a Orçanízação Mundial de Saúde (OMS) 10% da população mundial
apreentam als;!um tipo de deficiência. o que representa aproximadamente 610
lI, ôes de pessoas com deficiência no mundo. das quais 386 mtlhôes fazem
pa~ a população economicamente ativa e 80% do total dessas pessoas vivem
em países em desenvolvimento.

No Brasil. dados estatísticos apurados pelo Censo Demoqráfíco do ano de


2000. realizado pelo Instituto Brasileiro de Geoçrafía e Estatística (IBGE). ates-
tam a existência de 24,5 mtlhôes de pessoas cadastradas portadoras de alçum
tipo de deficiência (portadores de deficiências físicas. motoras. mentais. auditi-
vas e visuais). numa população s;!eralde 169.799.170 habitantes o equivalente a
14,5% da população brasileira.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

Os dados do Censo Dernoçráfíco mostram ria I dessas pessoas com o patrimônio cultu-
também que. no total de casos declarados de ral presente nessas instituições.
portadores de deficiências. 8.3% possuem
deficiência mental. 4.1 % deficiência física'. Como assinala Aidar (2002. p. 60). "em ter-
16.7% deficiência auditiva. 22.9% deficiência mos ideolóçicos, as instituições devem mo-
motora" e 48.1% deficiência visual. Entre 16,5 ver-se na direção do reconhecimento da
milhões de pessoas com deficiência visual. idéia de que elas têm um papel a contribuir
159.824 são incapazes de enxergar; e. entre os para a is:;tualdadesocial. para o fortalecimen-
5. 7 milhões de brasileiros com deficiência to de indivíduos e s:;truposem desvantaçern, e
auditiva. 176.067 não ouvem. para o incremento de processos democráti-
cos dentro da sociedade."
Trata-se. portanto. de um universo expres-
sivo de pessoas com deficiências. as:;travado Todos esses temas. porém. não podem ser
pelo fato de o Brasil estar entre os países com concebidos de forma isolada. mas. ao con-
os maiores índices de acidentes de trabalho trário. devem ser pensados a partir de uma
e de violência urbana. o que amplia síqnífí- politice cultural que tome por paradíçma as
catívarnente o número. principalmente de concepções m useoioçicas contemporâneas.
indivíduos jovens com essas características. Tais concepções compreendem. além das
funções tradicionais (pesquisar. preservar e
Dentro desse quadro de referências. o mu- comunicar). o conceito da responsabilidade
seu. como instituição pública. deve ter como social. exíqíndo ações interdisciplinares que
objetivo não somente a preservação do pa- envolvam todas as áreas dessas instituições.
trimônio cultural nele abríqado, como tam- o que no caso da freqüência de públicos es-
bém o importante papel de promover ações peciais demandará a participação de todas
culturais enfocando o seu potencial educa- as instâncias do museu - um processo demo-
cional e de inclusão social. atuando como crático que reúna além das áreas de traba-
as:;tentede conhecimento e fruição do patri- lho. os profissionais nela envolvidos incluin-
mônio histórico. auto-reconhecimento e do também a comunidade em s:;teral.
afirmação da identidade cultural de todos os
cidadãos. independentemente de suas diver- Essa compreensão vem. portanto. se con-
sidades. trapor a uma visão em que as ações
educetivas aparecem dissociedas do proces-
Nessa perspectiva. o conhecimento e a so museolôçtco. visão esta ainda presente
fruição do objeto cultural. presente nos mu- em s:;trande parte dos museus. exposições
seus. sequndo uma visão democrática e temporárias de s:;trandeporte e outras institui-
multicultural. deve contemplar todos os pú- ções culturais brasileiras. o que. conseqüen-
blicos. sem distinções. o que especificamente temente. passa a se refletir diretamente na
para os públicos especiais (pessoas com limi- concepção. realização e continuidade de
tações sensoriais. físicas ou mentais) exíçe projetos educatívos dessa natureza.
uma série de adaptações. tanto físicas (aces-
sibilidade arquitetônica e expoçráfíca) como Em razão. portanto. da sua fraçilidade, os
sensoriais (comunicação. apreensão espacial projetos educativos realizados a partir dessa
e estética do objeto cultural). além de um concepção e sem o respaldo de uma política
proçrama de ação educetive especializada. cultural que efetive e promova permanente-
cujo trabalho de mediação seja realizado mente um proçrarna educatívo estruturado.
por um açente facilitador que proporcione restrínçem-se a atendimentos superficiais ao
uma melhor compreensão e vívêncía senso- público visitante. descaracterizando a sua
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO

verdadeira função sócio-cultural e revelan-


SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

Por outro lado, a incompreensão desses


fatores frente às diferenças culturais é fre-
-
do apenas um caráter temporário e com in-
teresses muitas vezes apenas promocionais, qüentemente a causa de enfrentamentos, vi-
sendo a locução responsabitidade social olência e guerras, muitas vezes justificados
também apropriada de forma indevida. apenas por razões sociais, econômicas ou
geopolíticas, subestimando os fatores cultu-
Estender, pois, um projeto de acessibilida- rais.
de a todas as instâncias museoláçtcas, visan-
do um trabalho mais substancial e coletivo A atividade cultural é ínteçradora. am-
do museu para essa importante parcela da plia a capacidade humana de percepção e
sociedade materializa um objetivo que exige de inserção social, desenvolve o espírito
uma politica cultural na forma de politicas crítico e a cidadania, é matéria-prima dos
públicas que efetivamente possam conceber sonhos e da memória. No afã de atender às
e implantar um trabalho permanente de demandas humanas, alimenta-se da utopia
acessibilidade e ação cultural para esse pú- que, por sua vez, impulsiona a criatividade
blico especial, já que o conceito de inclusão e a inovação, podendo tornar-se economi-
social compreende todos os espaços públi- camente expressiva e desempenhar seu pa-
cos, o que confere a uma instituição como o pel decisivo na geração de riqueza e em-
museu uma função eminentemente social pregos.
evidenciando sua responsabilidade com o
patrimônio msterisl e imatertal por ela pre- A cultura na sociedade contemporânea
servado e disponibilizado à sociedade. se define, acima de tudo, pela pluralidade e
pela diversidade de aspectos e interiaces.
compreendendo-se essa dinâmica aberta às
MUSEU E INCLUSÃO SOCIAL transformações e à incorporação constante
de novos valores.
Para iniciar uma reflexão sobre este tema,
cumpre primeiramente pontuar alguns pres- Toda essa multiplicidade de manifesta-
supostos determinados pela cultura que di- ções culturais, desde que adequadamente
zem respeito ao seu importante papel para o apresentadas, pode influir positivamente
reconhecimento de um povo. para um melhor reconhecimento da cultura
tanto do passado como da atualidade, bem
A cultura tem como princípio possibilitar como possibilitar ao fruidor uma melhor
tanto o reconhecimento da Identidade de convivência e confrontação com as produ-
um povo ou nação como também possibili- ções culturais inovadoras e com as rupturas
tar o reconhecimento da sua diterençe - de próprias das novas linguagens, abrindo um
quem somos frente à diversidade do outro - importante espaço para o estímulo à sua
isto posto, não pode atualmente ser entendi- própria produção.
da senão como territorio da diversidade.
Por isso, cumpre às poiiticas púbticas. ao
Assim, o seu reconhecimento e a sua prá- reconhecerem as múltiplas potencialidedes
tica são fatores positivos que conduzem a da cultura, dar condições e infra-estrutura
uma maior abertura para a compreensão do para atender toda a cadeia de produção, cir-
outro e a sua relação com a natureza o que, culação, difusão e consumo de bens cultu-
conseqüentemente, possibilitará melhores rais, permitindo a todo cidadão a ampliação
relações de tolerância entre os homens e e fruíção de bens simbólicos, como também
uma maior harmonia com o meio ambiente. o acesso a sua produção.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

Outro aspecto relevante para o desenvol- de apoio) como também as áreas de pesqui-
vimento e a aplicação de poIfticas culturais sa, documentação e conservação.
é o que diz respeito às formas de acesso à
cultura por seus cidadãos. Por outro lado, ao adotar-se um
psrediçma inclusivo para a política cultural
Sabendo que os bens culturais são produ- de um museu, há de se levar em conta a ne-
tos do conhecimento, o principal obstáculo cessidade de um redimensionamento de
à íruíção das diferentes manifestações cultu- suas práticas museolóçícas, o que, na visão
rais é de natureza simbólica, isto é, um códí- de Aidar (2002, p. 60), representa "a adoção
lJo que necessita de uma alfabetização para de um posicionamento crítico em relação a
ser reconhecido ou revelado.' Sendo assim, elas. o que silJnifica não tomá-Ias como da-
cabe às poIfticas públicas prever investimen- das ou neutras mesmo aquelas que costu-
tos para a ampliação do repertório cultural mam ser consideradas assim. como as de
dos mais diversos setores da população, in- documentação e conservação. Paralelamen-
vestimentos estes que só serão viabilizados te, os museus deveriam promover uma de-
com o estabelecimento de parcerias tanto mocratização interna. evitando as ríqídas hi-
com orçâos educacionais como também erarquias de poder e permitindo que diver-
com outras instituições públicas e privadas. sos setores da profissão e do público partici-
pem e tenham voz nos processos de tomadas
Trazendo estas questões para o universo de decisões."
da museoioçia, resta evidente o importante
papel que a instituição cultural museu de- Deve-se levar em consideração que as
sempenha na ampliação do repertório cul- afirmações antes apresentadas ampliam as
tural dos cidadãos, já que a ela é conferida responsabilidades sociais que a princípio po-
a importante função de adquirir, preservar, diam parecer restritas à área de ação
documentar e comunicar os bens culturais, educetiva do museu.
muitos deles deslocados de seu espaço orí-
lJinaI. Partindo do princípio de que ao setor
educativo compete maior parcela de res-
Aos museus, bem como a todas as institui- ponsabilidade acerca das demandas sociais
ções culturais, cabe também estar em nessa instituição. é importante ressaltar que
sintonia com o pensamento contemporâneo as ações previstas para essa área. mesmo sen-
de respeito e reconhecimento da diversida- do de crucial importância para a incJusão
de cultural e social trabalhando a favor não social. não podem ficar restritas às questões
somente da comunicação de seus objetos de ampliação da freqüência de diferentes ti-
culturais, sob um ponto de vista pos de públicos. tarefa esta que conduz à for-
multicultural. como também contribuindo mulação de estratégias que requeiram. entre
para a democratização cultural por meio outras, a eliminação de barreiras para o seu
dos processos de incJusão social acesso. como as barreiras físicas. sensoriais.
financeiras, atitudinais e intelectuais. bem
Dessa forma, a incJusão social aplicada à como a importante tarefa de criar. preferen-
prática museolóqíca deve conter um foco cialmente por meio de parcerias, um envol-
Interdisciplinar abrançendo todas as áreas vimento desses públicos com essas institui-
de trabalho dessa instituição, o que envolve- ções.
ria os aspectos educacionais e museoçráti-
cos (compreendendo desde concepção da Importa. pois. acrescentar a essa impor-
exposição até os recursos comunicacionais tante tarefa - a da incJusão social por meio
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO

das ações educetivas - para além de uma


maior acessibilidade às instituições culturais.
SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

seus. Em termos pedaqóçícos, procedimen-


tos de conservação utilizados em museus e
-
o desenvolvimento de ações culturais que explicitados poderiam ajudar a promover
tenham tanto um impacto político, social e nos públicos visitantes uma consciência do
econômico. 'A inclusão social em institui- papel e importância da preservação."
ções culturais deve ser compreendida como
um passo além do trabalho de desenvolvi- Do mesmo modo. o papel do curador
mento de públicos. buscando ampliar suas também deveria ser redimensionado. substi-
atribuições e implicações sociais ao provo- tuindo sua posição de autoridade definitiva
car mudanças qualitativas no cotidiano dos para a de um papel mais Ilexivel permitindo
S2rupos envolvidos. " (Aidar. 2003. p. 6) a participação e contribuição de profissio-
nais de outras áreas do museu. principal-
Nesse sentido. a concepção de uma polí- mente no que diz respeito às preocupações
tica cultural para o museu. cujo pensamento pedaçóçícas de mediação e acessibilidade
ideolóqíco inclui. além das suas funções tra- dos diversos tipos de públicos. para as quais
dicionais. o da responsebihdede sociel. im- a parceria comparti/hada com os educado-
plicará respectivamente em ações interdisci- res dessas tnstttuiçôes torna-se fundamental.
plinares envolvendo todas as outras áreas de
atuação como. por exemplo. as de f/erencia- Dessa forma. ao se filiar a essa visão con-
mento de coleções, pesquisa e documenta- temporânea da museoioçia o museu e outras
ção. que dentro desta concepção. poderiam instituições culturais terão não somente a
estar mais abertas à participação de diferen- consciência de seu importante papel social:
tes çnspos sociais dispostos também a dar a mas também a oportunidade de refletir sobre
sua contribuição nos processos de aquisição. as suas próprias práticas, repensando perma-
seleção e complementação de pesquisas so- nentemente a sua condição de instituições
bre os objetos. públicas. fator este diferencial em relação às
concepções museotáçicas tradicionais, que
A pesquisa e a comunicação museoloçica restnnqíarn esses espaços de cultura a sim-
deveriam se preocupar também em ampliar ples depositários da história. da tradição e da
a sua rede de informação acerca do patrimô- preservação de seus objetos.
nio pertencente a sua instituição. adaptando
os conteúdos apresentados aos diversos tipos
de públicos. permitindo. dessa forma. que PLANEJAMENTO DE POLíTICAS PÚBLICAS DE
um maior S2rupo de pessoas tenha acesso a INCLUSÃO DE PÚBLICOS ESPECIAIS EM
essas informações. MUSEUS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Outro exemplo de atuação Interdiscipli- Isto posto. cumpre discutir. mesmo que ra-
nar pode ser demonstrado no campo da pidamente. uma experiência prática. Trata-
conservação. muito embora nele viS20reuma se. assim. de examinar a metodoloçía aplica-
contradição. pois. como observa Aidar da durante o desenvolvimento da pesquisa
(2002. p. 61). "uma de suas tarefas é a de esta- da tese da referida autora com o objetivo de
belecer barreiras protetoras entre os objetos avaliar proçramas de acessibilidade e ação
e o público. Para responder a isso. poderiam educativa inclusiva instrumentalizados por
ser desenvolvidas alternativas para o uso meio de questionários aplicados em museus
controlado e supervisionado de certos obje- do interior de São Paulo pertencentes ao Sis-
tos. em contraponto à oposição neqatíva do tema de Museus do Estado. vinculados à Uni-
não toque. normalmente adotada em mu- dade de Preservação do Patrimônio Museo-
- IÓf!Íco (UPPM) da Secretaria
AMANDA

de Estado da
PINTO DA FONSECA TOJAL

d06• a Unidede de Preservação do Patrtmônto


Museoloçico tem priorizado, entre as suas di-
Cultura.
versas ações. o desenvolvimento de proçramas
o estudo de quatro casos. incluindo a aná- de formação profissional e ações educaüvas
lise dos resultados obtidos pelos díaçnóstt- (visando atender uma parcela cada vez maior
coso proporcionou subsídios para a discussão do público visitante) nesses museus.
sobre o planejamento de politicas públicas
de scessibtlidede em museus. para o que. ali- Dessa forma. a UPPM. em parceria com a
ás. o Proçrama Educetivo Públicos Bspecials Ação Educativa da Pinecotecs do Estado e
da Pinacoteca do Estado de São Pau104• tam- com apoio da Vúa do Bresü. deu início. no
bém pertencente a UPPM. é referência. ano de 2006. a um proqrama de formação de
educadores e profissionais de museus coor-
Note-se. mais uma vez. que é preciso não denado pelo Proçrama Educatívo Públicos
perder de vista a perspectiva que alinha esta Especiais (PEPE) denominado Proçrama de
discussão. isto é. que as ações não podem ser Formação em Acessibilidade e Ação Educa-
pensadas individualmente. mas. devem ser tive Inclusiva em Museus.
articuladas a partir de políticas públicas de
caráter cultural. Esse proçrarna inclui cursos de formação
para profissionais dos museus convocados
Essa advertência se faz necessária na exata pertencentes a UPPM. entre outros museus
medida em que se observa que há um lJrande convidados. além de assessorias e encontros
distanciamento entre as reçularnenteçôes do com a comunidade nas diversas unidades.
setor e sua prática cotidiana. A questão é de tanto da capital como do interior do Estado.
ordem político institucional. exiqindo um tra- capacitando educadores e profissionais para
tamento desse porte. Pensar o museu como o planejamento e Implantação de projetos
instrumento de inclusão do público especial de acessibilidade e ação educativa inclusiva.
pressupõe tomá-Io como instrumento de como também a consctentizaçâo das ques-
macro políticas públicas culturais. tões envolvendo a inclusão cultural de pes-
soas com deficiência na sociedade.
Vê-se. portanto. a viabilidade da concep-
ção e aplicação do planejamento conside- Paralelamente à realização desse proçra-
rando as diretrizes estabelecidas pelo Siste- ma. iniciado no mês de Maio de 2006. con-
ma Estadual de Museus do Estado', ao pro- tando com a participação de cinco unidades
mover e incentivar parcerias entre a Admi- museolóqicas convocadas. MHP lndia
nistração Pública c.om Orqanízaçôes não VanuÍre (Tupã), MHP Consettieiro RodrÍf!ues
Governamentais (ONG's) e Associações de Alves (Gu ara tinçuet á). Museu Casa de
Amíqos de Museus. como forma de amplia- Pottinari (brodowski), Museu da Casa Bresi-
ção. otimização e potencialização de recur- Ieira e Memoriai do Imiçrante, os dois últi-
sos técnicos. o que. conseqüentemente. re- mos. localizados na capital. foi realizado
sultará na consolidação e melhor articula- pela autora. no primeiro trimestre desse mes-
ção pública dos proçrarnas museolóçícos mo ano. quatro estudos de caso em museus
desenvolvidos por essas instituições. do interior do Estado. com o intuito de
pesquisar e elaborar um dieçnásttco prelimi-
Por isso. e por ter como responsabilidade nar seçuído de um parecer final. referências
oferecer o suporte técnico e operacional para fundamentais para a utilização de um mode-
o desenvolvimento da política cultural de 2 J lo de planejamento objetívando a implanta-
instituições pertencentes ao Governo do Esta- ção de políticas públicas de acessibilidade às
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

instituições pertencentes ao Sistema Estadual nos aspectos físicos e arquitectónicos -


de Museus do Estado. bem como a outros Sis- acessibilidade do espaço - mas vai muito
temas ou Redes museais existentes no país. para além deles. uma vez que toca outras
componentes determinantes. que
Avaliação de acessibilidade física e concernem aspectos intelectuais e emocio-
sensorial de museus do interior do estado nais. acessibilidade da informação e do
acervo. C .. ) Uma boa acessibilidade do espa-
Para apresentar o estudo de caso. é preci- ço não é suficiente. É indispensável criar
so explorar os conceitos que fazem com que condições para compreender e usufruir os
o tema. acessibilidade em espaços museoló- objectos expostos num ambiente favorável.
gicos. seja de relevância dentro de uma polí- C ..) Para. além disso. acessibilidade diz res-
tica cultural em consonância com as teorias peito a cada um de nós. com todas as rique-
da museoloçía contemporânea. zas e limitações que a diversidade humana
contém e que nos caracterizam, temporária
Segundo a ABNP. o conceito de acessibili- ou permanentemente. em diferentes fases
dade diz respeito à possibilidade e condição da vída.'?
de a!cance. percepção e entendimento para
a utilização com seçurança e autonomia de É importante também frisar que o museu
edificaçõe~ espaço, mobiliário, equipamen- deve refletir para além do modelo médico
to urbano e elementos. - que define a deficiência como condição a
ser curada. algo patológico de responsabili-
Ao enfocar esse conceito sob o ponto de dade do indivíduo e que deve se possível.
vista da museoloqia, percebe-se que. às ques- ser superado para que o indivíduo possa se
tões acima assinaladas. que dizem respeito tornar uma pessoa normal - o modelo soci-
somente ao acesso físico das edificações. al - que reconhece que é a sociedade. e não
acrescentam-se outras de caráter atitudinal. o indivíduo com deficiência. responsável
coçnitivo e social pela criação de barreiras e cabe. portanto. a
ela eliminá-Ias dando plenas condições
Várias publicações. principalmente inter- para que todos possam nela atuar e partici-
nacionais. contendo pesquisas relacionadas par. 10

tanto para as áreas técnicas e administrativas


de museus. como também descrevendo ava- Ao se conceber uma politics cultural que
liações realizadas por públicos especiais fre- tenha como diretriz o compromisso de asse-
qüentadores das instituições. apresentadas gurar ações que vão de fato ao encontro das
na forma de f/uias de acessibilidade museo- necessidades e interesses dos diferentes pú-
Ioçics", enfatizam que a responsabilidade blicos. em especial os públicos com necessi-
dos museus nos processos de inclusão sócio- dades especiais. mostrando-se adequadas
cultural deve ir além dos aspectos físicos. aos seus limites e capacidades. deve-se.
isto é. da eliminação das barreiras como pressuposto. dispor-se de instrumentos
arquitetônicas dos edifícios. espaços de cir- de avaliação dirigidos às questões de acessi-
culação e da montagem das exposições. bilidade para que o resultado da avaliação
possa definir as metas e estreteçias cujos ob-
Entre essas publicações. destaca-se a edi- jetivos sejam o de melhorar as condições de
ção Temas de Museoloçia. Museus e Acessi- acesso e acolhimento do museu. como tam-
bi!idade do IPM - Instituto Português de Mu- bém abrir espaço para novas possibilidades
seus (2004) que destaca: "Acessibilidade é de leitura e uma participação mais efetiva
aqui entendida num sentido lato. Começa dessas pessoas nas exposições.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

É claro. também. que a concretização das tações visando à eliminação das barreiras
metas incluem as mudanças de mentalidade arquitetônicas. Nos museus. os obstáculos
e atitudes dos profissionais de museus. tanto podem se iniciar no lado externo do edifí-
no que se refere ao conhecimento e consci- cio. nas entradas e saídas. continuar na cir-
entizeção das necessidades do público alvo. culação interna vertical (escadas e falta de
como o de se propor projetos dentro de uma alternativas às escadas). horizontal (corredo-
perspectiva inclusiva. baseados em uma di- res. vãos portas. dificuldades para efetuar
nâmica de trabalho mais flexível. o que pres- manobras. manusear botões. maçanetas ou
supõe um trabalho de equipe mais sistemáti- equipamentos. pisos escorreçadíos ou altura
co e díaloqante entre os vários profissionais inadequada de balcões e mesas) e se comple-
envolvidos - museóloços, pesquisadores. tar com a má localização dos objetos em
educadores. arquitetos. entre outros - não se exposição (colocados em painéis. vitrines e
esquecendo também. da importante partici- bases com iluminação e altura inadequadas
pação de pessoas com deficiência. órqãos e ou expostos de forma a facilitar acidentes).
instituições que as representam.
Barreiras Sensoriais
Compreende-se. portanto. que ao se pre-
tender elaborar um dieumostico sobre acessi- As barreiras sensoriais dizem respeito às
bilidade em espaços museoíóqícos, há de se questões comunicacionais. isto é. o acesso à
ter como parâmetro a eliminação de diver- informação. que deve se iniciar desde a fa-
sas barreiras que levem em consideração chada de entrada do museu com orienta-
tanto os aspectos Iisicos. sensoriais. coçnitt- ções e indicações sobre os espaços existentes
vos como atitudinois, especificados a sequír (s:Juichês.balcões de informações. banheiros.
lojas. restaurantes. biblioteca. espaços admi-
Barreiras físicas nistrativos e exposítívos).

Os espaços museolóqícos são em s:Jeral Quanto aos aspectos de comunicação es-


projetados e concebidos de forma padroni- crita. visual e áudio-visua! das exposições
zada, não levando em consideração as varia- (etiquetas. textos. vídeos. Iotoçraftas,
ções físicas. intelectuais e eventuais outras multimídia e áudío-quíes). devem-se levar
diferenças existentes entre os indivíduos. em consideração as diferenças de altura e de
como por exemplo. as diferentes idades. al- compreensão visual e intelectual dos visitan-
turas. os diversos níveis coçnítívos assim tes. sendo este último. muito importante.
como os diversos s:Jrausde comprometimen- pois consiste em diferenciar o nível de per-
to da mobilidade física que afetam as pessoas cepção e compreensão de obras e objetos
em um ou outro momento da sua vida. Os expostos.
inúmeros obstáculos presentes em um espa-
ço público prejudicam a circulação. utiliza- A maioria das exposições empresa textos
ção dos serviços disponibilizados. conforto. com Iínçuaçem especializada e complexa.
bem-estar e fruição do espaço museolóqíco partindo do princípio sequndo de que todos
por parte do público com comprometimen- os visitantes terão condições de lê-Ias e
tos em sua mobilidade física. temporária ou compreendê-Ios. Uma exposição de caráter
permanente. Além disso. s:Jrande parte dos inclusivo deverá. portanto. oferecer o mes-
edifícios que abríqam museus são constru- mo conteúdo adaptado aos diferentes níveis
ções antíqas, muitas delas tombadas pelo pa- de compreensão e leitura e. no caso de pes-
trimônio histórico nacional. o que dificulta soas com deficiências sensoriais (auditivas
ainda mais a realização de reformas e adap- ou visuais). adaptar os textos para a escrita
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

BrailIe assim como na projeção de vídeos. do de acessar uma exposição. Participantes


adicionar Ieqendas ou írnaçens com intér- com essas deficiências aproveitam muito
pretes de Iínqua dos sinais. quaisquer oportunidades de tocar objetos
(ou réplicas) e sentem que isso faz uma visita
Ao se conceber uma exposição. importa ao museu valer à pena. "12
também prever que muitos públicos terão li-
mitações de visão ou de compreensão da Iin- Barreiras Atitudinais
IJuaIJem oral e/ou escrita. o que levará à ne-
cessidade de incluir objetos. caixas sensoriais. Como se afirmou anteriormente. as barrei-
jOIJosou equipamentos ínteratívos, "Essas op- ras atitudinais estão intrinsecamente relacio-
ções. essenciais para alIJuns. serão aproveita- nadas com as questões da inclusão das pes-
das por todos. porque a comunicação pode soas com deficiência na sociedade e conse-
estabelecer-se de forma mais completa e qüentemente com a necessidade da consci-
enrlquecedora. as pessoas passam a escolher entização dos indivíduos da necessidade de
entre ler e ouvir a informação. entre simples- se obter um maior conhecimento e convívio
mente ver ou ver e tocar um objecto." 11 com as diferenças físicas e sensoriais dos se-
res humanos.
Outro fator importante diz respeito às opi-
niões e recomendações feitas pelo próprio Em outras palavras. conviver com a di-
público especial. que deve ser ouvido fre- versidade é tratar todo ser humano com
qüentemente. pois é para ele que adaptações diIJnidade. Por esse princípio é que as insti-
a serem realizadas nas exposições se desti- tuições museolóqícas devem se pautar. ori-
nam. Nas avaliações sobre a freqüência de entando todas as ações nelas desenvolvidas.
públicos especiais apresentadas nas publica- Para que essa atitude seja a de todos os fun-
ções consultadas. bem como. nos comentári- cionários da instituição. é preciso promo-
os e avaliações informais do público alvo ver encontros de senstbiiização e conscien-
participante do Proçrama Bducetivo Públi- tização sobre as diferenças existentes na so-
cos Especiais da Pinacoteca do Estado. são ciedade em IJeral. e. em particular. dentro
enfatizados os resultados positivos obtidos da comunidade das pessoas com deficiên-
pela utilização de recursos de apoio multis- cias orientando-os sobre como se relacio-
sensoriais. bem como todas as formas de nar. conduzir e orientar esse público alvo
mediação, direta ou indireta, elaboradas nos dentro da instituição.
projetos de comunicação museoíóçíca dos
museus. o que também se comprova nos re- As diversas áreas e equipes de trabalho
latos de experiências e preferências aponta- devem ter também uma postura inclusiva ao
das pelos públicos especiais. principalmente desenvolver seus projetos e atividades. den-
pessoas com deficiências visuais. participan- tro de suas especificidades. sendo que. essa
tes das pesquisas realizadas nos museus aus- postura permitirá uma maior flexibilidade
tralianos (Australian Museum e National de projetos interdisciplinares e conseqüente-
Museum of Austrália): 'Foi detectado que ex- mente a uma melhor otimização e dinamiza-
periências táteis ou multissensoriais melho- ção de ações favorecendo tanto os profissio-
ram siqnííícattvamente a experiência no mu- nais envolvidos como a instituição como um
seu. oferecem maior acessibilidade ao con- todo. Ao considerar a relação e a dinâmica
teúdo exposítívo e representam uma parte profissional dentro do processo de inclusão
muito aIJradável da visita. Para os ceqos ou social. cabe a toda instituição cultural incluir
para aqueles que possuem baixa visão. essas também em seu quadro de funcionários.
experiências representam o principal méto- profissionais com deficiências.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

As questões atitudinais inerentes às instituições Nas diversas avaliações. entrevistas e pes-


museolóçícas perpassam o público visitante. tan- quisas realizadas com públicos especiais",
to Qeral como aquele com necessidades espe- constatou-se que o acesso, a independência
ciais. Uma política cultural inclusiva deve ser e a escolha são os pontos chaves mais valori-
perceptível a todos os visitantes - as questões zados. Isto quer dizer que. como qualquer vi-
de acessibilidade física dos espaços e equipa- sitante. as pessoas com necessidades especi-
mentos. a forma de comunicação desses espa- ais querem fazer valer o seu direito à autono-
ços e dos conteúdos das exposições e. finalmen- mia. assim como procurar os serviços de
te. as atitudes de todos os seus funcionários. atendimento especializado quando lhes con-
vir. O direito à escolha tem sido reclamado
Para tanto. é necessário também conside- pelo público freqüentador dos museus e é
rar as necessidades e recomendações apon- um fator importante para a efetívação de
tadas pelo público alvo. convidando-os a fa- mudanças sensoriais e atitudinais. Da mesma
zer parte de comissões e assessorias. além de forma. esse público quer opinar quanto ao
oferecer outras oportunidades. não somente conteúdo das diretrizes elaboradas pelas po-
de freqüentar e usufruir as exposições. como líticas culturais das instituições. que deman-
também de poder participar de eventos e dam reestruturações em todas as áreas muse-
outras proçramações adaptadas. olóçícas. principalmente na área comunica-
ciona! Aliás. a área comunicacional é a que
o museu pode ampliar essas ações ofere- tem por função conceber exposições basea-
cendo cursos de formação ou orientações das no modelo etnerçente, baseadas em pro-
aos profissionais. parentes e acompanhantes postas mais interativas com os objetos e com
das pessoas com deficiências. com o intuito os diferentes níveis de informação sobre os
de melhorar sua participação e fruição nes- conteúdos nelas apresentados. ao levar em
sas instituições. consideração os diversos Qraus de compreen-
são e de diversidade dos públicos visitantes.
Para finalizar. cumpre não perder de vista
que a iQualdade entre as pessoas é direito de Entre as muitas respostas dos públicos espe-
todos e que se concretiza mediante políticas ciais a esse respeito. destaca-se a pesquisa
que. ao tratar a todos iQualmente. reconheça publicada na edição Museus e Acessibüidede
também as suas diferenças. oferecendo as da coleção Temas de Museoloçie do Instituto
oportunidades necessárias para que todos Portuçués de Museus, relatando um importan-
possam desenvolver as suas potencialidades te aspecto de ordem atitudinal da política
e serem atendidos em suas necessidades cultural do museu. ao oferecer uma maior
também como cidadãos independentes. variedade de opções de escolha e formas de
participação desses públicos. "Os espaços e
o museu tem também a missão social de equipamentos para uso público devem estar
fazer o seu espaço um espaço da diversida- sempre disponíveis. independentemente dos
de. onde as diferenças sejam respeitadas e o dias da semana ou da presença de um deter-
direito de usufruir do patrimônio cultural é minado funcionário. No caso específico dos
dado a todos. Essa questão entreabre abre museus. as pessoas com deficiência devem
uma reflexão polêmica. pois. para muitas poder efectuar a sua visita sozinhas sem a
pessoas. a institucionalização da reqra de necessidade de marcação prévia e não depen-
não se tocarem obras e objetos. por questões der de Qrupos especialmente orçanízados. O
de seçurança e preservação do patrimônio. visitante deve-se sentir bem-vindo em qualquer
quando não limita. impede - as de usufruir altura. e não estar sujeito a um serviço que lhe
totalmente dos espaços museolóçícos. é disponibilizado extraordinariamente."14
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO

Por outro lado. observam-se também pes-


SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

número de elementos que servirão como sub-


-
soas com necessidades especiais. principal- sídio para a elaboração de um projeto a ser
mente com deficiências auditivas e mentais. implantado em uma determinada instituição.
apontando a sua preferência por visitas ori-
entadas por educadores. metodologia de tra- No caso das instituições museoloçicas e.
balho que melhor disponibilizaria as infor- mais especificamente. de projetos para im-
mações e conhecimentos. podendo também plantação de programas de acessibilidades e
proporcionar. na mesma ocasião. um bom ação educetiva inclusiva, todos os dados a se-
momento de convívio social e lazer. rem coletados deverão estar baseados nos as-
pectos Iisicos. sensoriais e atitudinais. como
Entretanto. as pessoas favoráveis a esse forma de identificar barreiras e as ações ne-
tipo de visita fazem uma recomendação per- cessárias para mínímízá-Ias e/ou suplantá-Ias.
tinente - que os educadores selecionados
para essas atividades sejam capacitados. atu- A coleta de dados deverá ser realizada. pre-
ando com experiência no relacionamento e ferencialmente. por profissionais pertencen-
reconhecimento das necessidades e especifi- tes à instituição ou por um profissional espe-
cidades para cada tipo de público e da natu- cializado em realizar auditorias nessa área.
reza de sua limitação. Optam também por sendo. portanto. muito importante a experi-
visitas organizadas com um número restrito ência. vivência ou vínculação desse responsá-
de participantes. Há ainda aquelas que prefe- vel na instituição. já que caberá a ele coorde-
rem que essas visitas sejam realizadas fora nar o diagnóstico desde a sua aplicação até a
dos horários regulares de abertura do museu. análise e interpretação desses dados.
ou mesmo. em horários em que esses espa-
ços estejam menos movimentados. Para a apresentação dos estudos de caso
desenvolvidos nesta pesquisa. foram analisa-
Essas considerações nos dão as referências das fichas diagnósticos sobre acessibilidade
necessárias para o planejamento de uma ficha aplicadas em museus portugueses e australi-
diaçnostico cuja função é a de orientar e iden- anos. bem como o estudo de caso sobre Aná-
tificar barreiras de acessibilidade analisando e lise da Acessibilidade na Pinacoteca do Esta-
definindo as metas para a implantação de polí- do de São Paulo apresentado na tese de dou-
ticas culturais inclusivas nas instituições. torado da arquiteta Maria Elisabete Lopes
(FAU-USP).Foi incluído também um questio-
Ficha diagnóstico nário elaborado pela autora deste artigo. sín-
tese das análises desenvolvidas em sua dis-
Os principais objetivos para a concepção sertação de mestrado. aplicado em cursos de
e aplicação de um diagnóstico são os de po- formação para profissionais de museus. mi-
der" identificar pontos fortes e fracos na es- nistrados em diversas instituições do país."
trutura e no funcionamento da orçaruzaçâo,
compreender a natureza e as causas dos pro- Esses documentos. assim como as visitas
blemas ou desafios apresentados; descobrir técnicas feitas aos quatro museus paulistas
formas de solucionar esses problemas; e me- selecionados. resultaram na concepção de
lhorar a eficiência e eficácia orçanizecio- uma ficha diaçnôstico adaptada à realidade.
nais". como informa AImeida (2005. p. 53). bem como às necessidades mais prementes
identificadas nessas instituições. cujos dados
Uma ficha dtaçnástico deve conter. portan- principais sobre as questões de acessibilida-
to. todos os dados relevantes que deverão ser de museoláçice são descritos no seguinte
coletados. como forma de se obter o maior quadro:
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

FICHA DIAGNÓSTICO
[Síntese)
ACESSIBILIDADE FíSICA E SENSDRIALDE MUSEUS E INSTITUIÇÕES CULTURAIS
I. ACESSIBILIDADE FíSICA
ÁREAS EXTERNAS Estaciooamento

Pátios

Circulação Horizontal _

__ ~~ __·Uü~~reatL----------------------------~

EXPOGRAFIA

Apresentação de obras elou objetos


Segurança

11. ACESSIBILIDADE SENSORIAL


Informações

Legendas/Etiqueta
Itim•••
íd•••
ia _

.AÇÃO EOUCAtlVAJNCUISIVA II-.Jmlilelta.,!~OIfJ!lllS.JlLPerclursos


Multissensoriai

1~_~-1~e~uçõesJ~JmfimmumlwnawiSL-~;;;;;;;;;;~~==~
f í--lUJ.liJoy ,Jlisitas Orientadas ---~

I 1---- ~ientizaçãnIunciona'LI -------


AssessoriaL _

------ - Parceri

111. CONSIDERAÇÕES FINAIS

MUSEU OU INSTITUJÇÃn
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

Estudos de caso A partir do levantamento preliminar. ini-


ciou-se a coleta dos dados, incluindo do-
Os estudos de caso apresentados a seçuír cumentação fotográfíca, finalizada por
foram realizados pela autora nos sequíntes uma reunião de avaliação com a equipe
museus do interior do Estado de São Paulo: do museu ou com o profissional responsá-
vel pelo acompanhamento da pesquisado-
1. Museu Casa de Portinari - Brodowski ra no museu.

2. Museu Histórico e Pedaqóçíco (MHP) Todo o material colhido foi concluído por
Bernardino de Campos - Amparo um parecer. entreçue à diretora técnica do
Grupo de Preservação do Patrimônio Muse-
3. M. H. P Conselheiro RodriSJues Alves - otoçico. assim como uma avaliação quanti-
Guaratínçuetá tativa baseada nos resultados obtidos entre as
quatro instituições. com o objetivo de escla-
4. M. H. P Índia Vanuíre - Tupã recer a situação atual em que se encontra-
vam as questões de acessibilidade dessas ins-
o critério de seleção desses museus obe- tituições. como forma de estabelecer metas e
deceu às indicações feitas pela Diretora Téc- prioridades para implantação de proçramas
nica do Grupo de Preservação do Patrimô- de acessibilidade. principalmente nos mu-
nio Museoloçico, Beatriz Auçusta Corre a da seus do interior do Estado, pertencentes a
Cruz. por considerar que essas instituições. essa Unidade.
pela relevância de seus acervos e de sua arti-
culação cultural com a comunidade local.
poderão atuar como futuros pólos multipli- Avaliação de Acessibilidade Física e
cadores de proçremes de acessiõilidade e Sensorial de Museus
ação educativa inclusiva em outros museus.
principalmente aqueles credenciados pelo Orientando-se pelos dados proporciona-
Sistema de Museus do Estado de São Paulo. dos pelas fichas diaçnostico, como também
das avaliações quantitativas contendo os re-
Além do critério acima apresentado. foi sultados individuais e comparativos dos qua-
acrescentado também o critério da localiza- tro museus selecionados. foi possível elabo-
ção dos museus. situados em pontos estratéçí- rar uma avaliação qualitativa das condições
cos das reçíóes oeste. norte e leste do Estado. de acessibilidade existentes nessas institui-
ções. apontando. nos itens relacionados às
A aplicação da ficha dtaçnostico. realizada barreiras físicas, sensoriais e stitudineis. quais
durante as visitas técnicas da autora aos locais são os pontos iortes e os pontos fracos. sendo
pré-determinados. acompanhada pelos dire- que esses últimos receberão maior atenção
tores ou coordenadores das referidas institui- nos projetos de acessibilidade que deverão
ções. consistiu primeiramente em um levan- ser implantados.
tamento. compreendendo barreiras físicas e
sensoriais existentes nos espaços museolóçí- Enfim. a ficha diaçnóstíco pode ser con-
coso atendimentos reçulares ocorridos nos úl- siderada também como um çuia de acessi-
timos anos com públicos especiais. bem bilidade em museus. cuja função é a de ser-
como outras formas de atividades. contatos vir às mais diversas instituições. como for-
ou parcerias realizadas com instituições ma da elaboração de planejamentos de
educatívas ou especializadas visando o aten- proçramas de acessibilidade individuais ou
dimento desse público alvo nos museus. em rede.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

No caso específico dos museus avaliados. a prática das estruturas é um conjunto coor-
obteve-se em escala decrescente de nível de denado de ações e proqrarnas que de forma
acessibilidade" a seçuínte relação: planejada dinamize as instituições existen-
tes. O que dá real sentido à norma reçula-
- Museus com maior Indice de acessibili- mentar é uma política pública que sirva de
dade - Museu Casa de Portinari e M.H.P. orientação para o alJir institucional e seus res-
Índia V'anuíre; ponsáveis. Em não havendo essa orientação.
o que de fato passa a prevalecer é um
- Museus com menor Indice de acessibili- votuntarismo. muitas vezes animado pela me-
dade - M.H.P. Bernardino de Campos e lhor das intenções. mas que. em termos
M.H.P.Conselheiro RodrilJues Alves. lJerenciais. é de reduzídíssima eficácia. Even-
tualmente haverá um ou outro museu que.
Deve-se levar em consideração. porém. mercê dos préstimos de seu dirigente e de
que os resultados do diaçnóstíco que se ex- seus quadros técnicos. tenha um bom desem-
traem dos estudos de caso realizados não penho. transformando-se em ilhas de exce-
será completo se não transcender o exame lência. Mas. definitivamente. não se tratará de
individualizado das questões de acessibilida- uma reqra e sim de uma excepcionalidade.
de de cada uma das instituições.
Cabe. portanto. à Secretaria da Cultura e à
Com efeito. a análise dos trabalhos empre- Unidede de Preservação do Patrimônio Museo-
endidos pelos quatro museus citados mostra Ioçico (UPPM).diante do quadro apresentado.
limitações em termos de ação coordenada e príorízar a formulação de políticas públicas cul-
proçramada. capaz de denotar um sistema turais que objetívem a inclusão do público espe-
inteçrando os diferentes museus. Realmente. cial. políticas essas que ao mesmo tempo orien-
o que se percebe é um alJir isolado. depen- tarão seus quadros profissionais. seçundo os cri-
dente de eventuais virtudes de pessoas deter- térios museolóçícos de lJestão adequados à fun-
minadas. As carências são compreendidas ção do museu. investindo em questões com uni-
nos limites isolados de cada um dos museus. cacionais. de capacitação funcional. preserva-
É curioso notar que os reclamos (verbas. pes- ção e proteção do patrimônio.
soal especializado etc.) dos responsáveis pe-
los diferentes museus sempre são deduzidos
na perspectiva das necessidades deste ou da- PLANEJAMENTO DE "POLíTICAS PÚBLICAS DE
quele museu específico e isto porque não se ACESSIBILIDADE E AÇÃO EDUCATIVA_ EM MU-
tem uma visão abrançente. seja do trabalho a SEUS DO INTERIOR DO ESTADO DE SAo PAULO
ser realizado. da área física a ser coberta. do
público a ser alcançado. Introdução

Do ponto de viste Institucional (requla- AlJora. é preciso cuidar da apresentação


mentação dos museus no Estado de São Pau- de uma proposta de concepção de políticas
lo). é nítida a preocupação em estruturar um públicas culturais de inclusão social de pú-
sistema que opere como tal. Sucede. no en- blicos especiais a partir de planejamento. se-
tanto. como assinalado anteriormente. que lJuindo o modelo de rede. tendo em vista a
na prática esse sistema não existe. não. pelo implantação de poltticas públicas de acessi-
menos. na sua plenitude. O porquê disso biiidsde e ação educetiva inclusiva em mu-
toca diretamente no cerne deste artigo. O seus. tema que vem sendo explorado ao lon-
que de fato possibilita que o sentido dos tex- lJo desta pesquisa a partir do reconhecimen-
tos normatívos e reçulamentares passe para to do importante papel sócio-cultural que os
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

museus e instituições culturais têm na atuali- refere à ~estão. São metodoloçías apoiadas
dade. de acolher adequadamente os diferen- na reciprocidade. na solidariedade, na parti-
tes tipos de públicos e. especialmente. os pú- lha e na articulação. o que vem contribuir
blicos com necessidades especiais. síçnífícetívemente para o amadurecimento
das instituições".
Para isso. no entanto. é necessário apre-
sentar alçumas considerações. iniciais a res- No entanto. é importante destacar que
peito de flestão sistémica ou em rede, como esse novo modelo de ~estão tem sido consi-
também a metodoloqia a partir da qual a derado mais um desafio para a museoloqía
proposta estará sendo estruturada. contemporânea. pois envolve uma nova po-
lítica de dinamização em vista de um mes-
Retomando as palavras de bruno". ao afir- mo objetivo. respeitando. porém. a diversi-
mar a necessidade da tmplanteçâo de novos dade própria de cada instituição.
modelos de çestão para os museus, conside-
rando a multipliceçâo de suas potencialida- Exemplos dessas iniciativas já podem
des de articulação púõlica. há de se conside- ser vistas. na proposta de implantação do
rar que a inclusão de modelos sistémicos ou Sistema Brasileiro de Museus, Sistema de
em rede muito contribuirá para a Museus do Estado de São Paulo, Sistema
museoloçia contemporânea. modelos que Municipal de Museus (São Paulo). Sisteme
não podem deixar de ser adotados ao se pre- Estadual de Museus (SEM - Rio Grande do
tender desenvolver uma proposta relaciona- Sul). no SIM - Sistema Inteçredo de Museus
da com proçremes de acessibilidade e ação (Pará). e também na Rede Portuçuess de
educa Uva inclusiva nessas instituições. Museus (RPM).

Bruno analisa o modelo de ~estão museo- Porém, em se tratando do planejamento de


Ióqíco baseado em sistemas ou redes como políticas públicas de acessibilidade e ação
sendo "uma proposta metodolóçíca para educatíva em museus. tendo como referência
propor. realizar. e avaliar os distintos proce- os museus do interior do Estado. pertencentes
dimentos museolóçícos de salvaçuarda ao Sistema de Museus. vinculado a UPPM da
(conservação e documentação) e comunica- Secretaria de Cultura de São Paulo. torna-se
ção (exposição e educação/ação cultural) imperativo conhecer os seus eixos de ação,
das referências patrimoniaís, coleções e assim como os objetivos por ele propostos.
acervos. a partir dos príncípíos de cadeia
operatória. de reciprocidade entre ações téc- Para Silvia Alice Antibas. coordenadora
nicas. científicas e administrativas e. especi- da Unidade de Preservação do Patrimônio
almente. no que tançe ao alcance do enqua- Museolóqíco (UPPM), "o Sistema de Museus
dramento patrimoniaI."'B do Estado de São Paulo já existe desde a dé-
cada de 80. Inicialmente concebido como
Fica claro. portanto. que. ao se optar por órção fomentador da política de museus.
esse modelo. as instituições museolóqícas te- está sendo reestruturado atualmente com
rão como objetivo a busca por excelência uma proposta de articulador de políticas pú-
técnica e maior a~i1idade administrativa. o blicas na área. com foco em quatro vertentes
que resultará no aprimoramento dos servi- principais: intormeção. formação, apoio téc-
ços prestados por essas instituições. nico e certtticeçâo. Estas quatro linhas de
atuação abrançern todas as típoloqías, orí-
Assim. como ressalta bruno". "as redes e ~ens e fiIiação dos museus, já que são ações
os sistemas têm ~randes atributos no que se "macro". de política pública. e com um foco
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

muito ~rande nas necessidades do interior rá, tendo em vista as etapas que deverão ser
paulista. Os museus da capital. alçuns de sequidas, seu acompanhamento e avaliação,
qualidade indiscutível. terão participação assim como as mudanças e adaptações ocor-
importante e servirão de base e modelo. "20 ridas durante e ao final do processo.

A autora citada apresenta também os prin- Sequndo Almeida (2005, p. 2);"0 planeja-
cipais objetivos do Sistema, como sendo "o mento não é um acontecimento, mas um
de implantar proqramas que estabeleçam processo contínuo, permanente e dinâmico,
padrões mínimos de desempenho para as que fixa objetivos, define linhas de ação, de-
instituições e estimulem o seu constante talha as etapas para atínçí-Ios e prevê os re-
aperfeiçoamento, habilitando-os inclusive a cursos necessários à consecução desses obje-
receber recursos públicos e ter credibilidade tivos. Com a incorporação dessa prática, re-
para obter patrocínios privados." duz-se o ~rau de incerteza dentro da orçaní-
zação, limitam-se ações arbitrárias, diminu-
Silvia Antibas jul~a que o Sistema de Mu- em-se riscos ao mesmo tempo em que se dá
seus do Estado terá mais fôleqo para desem- rentabilidade máxima aos recursos, tira-se
penhar as suas funções de órção articulador proveito de oportunidades, com a melhoria
e centralizar as suas ações nas políticas pú- da qualidade de serviços e produtos, e ~a-
blicas na exata medida em que se promova a rente-se a realização dos objetos visados."
progressiva implantação do novo modelo de
administração das instituições culturais, as Ao iniciar, portanto, a estrutura de orça-
Orçantzaçôes SOCÍaÍs. nízação de um planejamento, adequado às
questões de acessibtlidade e ação educstive
Dessa forma, fica patente a possibilidade inclusiva em museus, foram consideradas
de incluir nesse Sistema uma proposta artí- as sequíntes etapas que definem esse pro-
culadora de políticas públicas de acessibili- cesso".
dade e ação educatíva inclusiva, em concor-
dância com os objetivos acima apresentados 1. O objeto a ser estudado e o obiettvo
e que possa atuar, seçundo o modelo de desse estudo;
rede", isto é, desenvolvendo ações de inior-
mação, formação, apoio técnico e 2. O diaçnostico. coleta de informações
certtticaçâo de museus (aqui exemplificados que dará subsídio ao processo de avali-
por uma rede de museus estatais do interior ação do objeto;
paulista), mas com total abertura para ser
aplicado e adaptado a qualquer rede de mu- 3. O plano de ação. estruturado a partir
seus, públicos ou privados, pertencente às das diretrizes traçadas pelas políticas
reçíões ou estados do Brasil. públicas dos órgãos competentes (Siste-
ma de Museus do Estado, UPPM e Se-
cretaria de Estado);
Planejamento de Políticas Públicas
4. A definição de metas e prioridades. pre-
o exame de uma proposta de planeja- visões futuras, decisões sobre fins, meios
mento em rede com o objetivo de implantar e recursos;
Políticas Públicas de Acessibilidade e Ação
Educatíva Inclusiva em Museus do interior do 5. A tmptementaçâo do plano. formas de
Estado de São Paulo exíçe que se apresente, acompanhamento tendo em vista à
primeiramente, a metodoloçía que a orienta- consecução dos objetivos traçados e;
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS

6. A avaliação. processo que acompanha CONSIDERAÇÕES FINAIS


todas as etapas do planejamento (rela-
ção de interdependência) contribuindo o exame das experiências dos quatro mu-
inclusive para a implementação e ela- seus do interior paulista - Museu Casa de
boração de novos objetivos e metas en- Portinsrt, MHP Bernerdino de Campos. MHP
volvendo essas ações. Conselheiro Iêodrieues A/ves e MHP lndi«
VanuÍre- permite concluir que é perfeita-
- Etapas do Planejamento23 mente possível acreditar no desenvolvimen-
to de politicas púbtices de ecessibilidade e
tnctusão de públtcos especials em museus.
As quatro instituições. cada qual a sua ma-
neira. revelam. ao mesmo tempo. carências
em termos de acessibilidade e capacidade
de superá-Ias.

As políticas públicas. por sua vez. não po-


dem prescindir de ações planejadas e a sua
articulação. potencialização e otímízação
pressupõem uma rede de acessibilidsde inte-
SJrada por museus e por profissionais com a
função de formar. capacitar. acompanhar. di-
vulgar e avaliar permanentemente os pro-
SJramas de acessibilidade. desenvolvidos nas
FIGURA 1 instituições. além de obter os recursos neces-
Etapas do Planejamento sários para os apoios técnicos. a implemen-
Fonte: adaptação.AJfonso Ballestao a partir de Almeida (2005 p. ~ 10). tação dos proçrarnas envolvendo as diversas
áreas museolóçícas. em especial no que
concerne ao campo da comunicação. assim
É também importante ressaltar que o pla- como a ampliação do quadro de profissio-
nejamento faz parte das diretrizes de uma nais técnicos e especializados.
política cultural da instituição e dos órgãos a
ela subordinados e deverá estar não somente Dois pontos precisam aqui ser destacados.
de acordo. como também compartilhar essas Primeiramente. quando se fala de planeja-
diretrizes. mento. é preciso não perder de vista que o
caráter técnico especializado da ação de
Sendo assim. ao definir a aplicação desta planejar não pode comprometer a dimensão
estrutura de planejamento. para compor política inerente ao objetivo que se pretende
uma rede de ecessibilidsde e ação educstive atínqír. isto é. a inclusão social de públicos
inclusiva os quatro museus diaçnosticados especiais. Em sequndo IUSJar.a rede de aces-
no estudo de caso desta pesquisa. optou-se. sibilidede que se propõe tem esse papel fun-
além das bases previstas pelas diretrizes do damental de permitir compreender a políti-
Sistema Estadual de Museus. pelas fontes re- ca pública específica que ela está desenvol-
ferentes ao projeto de implantação da Rede vendo desde uma perspectiva macroscópi-
Portuçuese de Museus criada no ano 2000 ca. sem perder. contudo. de vista as exíçêncí-
pelo IPM4 (Instituto Português de Museus)." as locais e específicas de cada instituição.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

Por outro lado. em função das análises e mônio cultural do museu um poderoso ins-
reflexões feitas durante o desenvolvimento trumento de compreensão de sua própria
desta pesquisa. fica evidente que as diretrizes história.
apresentadas pelo Sistema Estadual de Mu-
seus do Estado demandam ainda. na sua to- Em seçundo IUQar. o conceito de rede
talidade. um esforço maior para serem pos- museotoçica instrumentaliza a inciusão sOCÍ-
tas em prática. promovendo um conjunto al. que há de ser a opção política primordial
mais coordenado de ações e programas, o acreditando que a política de compreensão
que. no caso de ações diríçidas às questões do museu como ençrenaqem de um sistema
de acessibilidade e inclusão de públicos es- maior decorre de uma opção política clara.
peciais em museus estatais. permite de fato pela afirmação de direitos fundamentais da
instituir uma politica de acessibilidade per- pessoa humana.
manente envolvendo o edifício. seus espa-
ços. serviços. atendimento ao público e a Por outro lado. quando se afirmou. no
formação de todo o corpo de funcionários. início deste texto. que seu objetivo maior
Essa estrutura deverá estar permanentemen- era confirmar a tese de que é possível e
te articulada e sustentada por uma rede de mesmo politicamente fundamental que o
imptenteçâo e quatiticsçâo em ecessibilids- museu e o patrimônio cultural nele presen-
de", subordinada à Unidade de Preservação te sejam tomados como instrumentos de
do Patrimônio Museolóqíco da Secretaria de politicas públicas culturais de inclusão sOCÍ-
Estado da Cultura de São Paulo. aI de públicos especiais, seja no plano indi-
vidual de uma instituição determinada. seja
A rede de implantação e qualificação em especialmente no contexto de um conjunto
acessibilidade não precisará se restrínqír aos sístêmíco de instituições públicas (estatais)
museus do interior e da capital paulista. po- e/ou privadas. o que se buscava era exata-
dendo. ao contrário. ir além. para. seçuíndo mente pensar um conceito de rede de im-
as diretrizes do Sistema de Museus do Esta- plantação e qualiiicaçâo em acessibilidade
do. acolher também outras entidades muse- que possibilitasse um sentido de
olóçícas. orçanícídade ao atuar nas instituições mu-
seolóqícas.
Note-se que os conceitos de rede museoló-
f/Íca e de inclusão social dialoçam perfeita- Por certo que as dificuldades estruturais e
mente entre si. primeiro porque a noção de funcionais que acometem o Estado brasileiro
rede não deixa de trazer em perspectiva o representam um enorme obstáculo. Todavia.
atuar cooperativo. solidário. articulado e es- a busca de sua superação. com a construção
pecialmente flexível. isto é. capaz de romper de um verdadeiro ambiente republicano.
o doçmetísmo das visões próprias do isola- não necessariamente estatal. marcado pro-
mento em que não raro e comodamente se fundamente pelo interesse público. também
posicionam as diferentes áreas do processo tem correspondido à história deste país. ten-
museolóqíco. Essa flexibilidade também são que. no limite. tem seu sentido positivo
ocorrerá a partir de outro eixo. aquele que na exata medida em que se compreenda que
ínterlíça o museu com os seus diferentes ti- a dinâmica social é alimentada não exclusi-
pos de público. É absolutamente fundamen- vamente pelo consenso. É curioso notar que
tal ter presente essa perspectiva. porque per- os próprios textos que re\Julamentam os mu-
mite que o discurso competente dos profissi- seus no Estado de São Paulo afirmem a ne-
onais tenha sempre em vista as reais necessi- cessidade de um atuar sístêmíco. orientado
dades do público. aquele que tem no patri- por macro politicas culturais.
ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E POLíTICAS PÚBLICAS 133 .

Mais uma vez. a noção de rede de implen- BIBLIOGRAFIA


tação e qualiiicação em scessibtlidade deno-
ta uma enorme utilidade funcional por abrir- ABNT NBR 9050:2004 - Acessibilidade a
se ela para a própria sociedade civil e suas edificações. mobiliário. espaços e equipa-
oroanizaçôes sOCÍaÍs. Esse tema é fundamen- mentos urbanos. Associação Brasileira de
tal. Realmente. quando do início deste traba- Normas Técnicas (ABNT). 2004. Disponível
lho se afirmou a enorme dificuldade opera- em: <http://www.mj.!6ov.brlsedh/ct/corde/
cional de pensar a inclusão social. enquanto dpdh/corde/normas _ abnt.asp >
substrato de políticas públicas culturais.
como parte da açenda positiva do Estado. o AIDAR,Gabriela. Museus e Inclusão Social. In.
encaminhamento proposto foi no sentido de Revista Ciências e Letras: Patrimônio e Edu-
que o espaço público não é obra exclusiva cação. Porto Alegre. Faculdade Porto Aleçrense
do Estado. de Educação. Ciências e Letras. 2002. n° 31.

É importante neste momento retomar a __ oArte e Cultura, Inclusão e Cidadania. ln.


idéia de que uma ação cultural. particular- Seminário "Inclusão da Pessoa com Defici-
mente aquela que tenha por objetivo a inclu- ência Visual - Uma ação compartilhada".
são social. somente se víabílízará se decorrer São Paulo: Laramara - Associação Brasileira de
de uma articuiaçâo dos espaços culturais. Assistência ao Deficiente Visual. 2003.
público (estatal) e privado. Afinal. o espaço
público não é uma questão de Estado. mas ALMEIDA Maria Christina Barbosa de. Pla-
da sociedade. nejamento de bibliotecas e serviços de
informação. Brasília, DF: Briquet de Lemos
Por outro lado. é preciso que se reconhe- Livros. 2005.
ça o que faz uma política ser pública não é
seu caráter estatal. mas o seu compromisso FÓRUM PERMANENTE.Museus de Arte. En-
material com a afirmação e concretízação trevista com Silvia Antibas e Cristina
dos direitos fundamentais como valor maior Br uno. < http://fo rum p e r m a n e n te.
do ser humano. incubadora.fapesp.br/portal/.painel/entrevis-
ta/s_ antibas_bruno>
É preciso compreender. de toda forma.
que nada do que se expôs valerá se não for GIL, Marta (orq.). O que as empresas podem
considerada a importância dos fatores fazer pela inclusão das pessoas com defici-
atitudinais na superação de todos os obstá- ência. São Paulo: Instituto Ethos, 2002.
culos identificados. Na verdade. esses fatores
atitudinais se traduzem na vontade política LOPES. Maria Elisabete. Metodologia de
de levar avante o projeto de inclusão social análise e implantação de acessibilidade
de públicos especiais. para pessoas com mobilidade reduzida e
dificuldades de comunicação. Tese (Dou-
Por essa razão é que se fala na necessida- torado em Arquitetura) - Faculdade de Ar-
de de uma postura Inclusive de todos os ato- quitetura e Urbanismo. Universidade de São
res envolvidos no processo. Esses fatores Paulo. São Paulo. 2005.
atitudinais estão enraizados na crença em
torno do príncípío de que os direitos cultu- Many voíces making cholces. museum
rais são realmente extensivos a todos. o que audiences with disabilities. Australian
leva ao respeito às diferenças e à obríçação Museum and National Museum of Australia
moral e política de atendê-Ios. AMARC, Australía. 2005.
AMANDA PINTO DA FONSECA TOJAL

Museoloçía. Roteiros Práticos - Acessibilida- ciais. bem como oferecer cursos sobre "Ensi-
no da Arte na Educação Especial e Inclusiva e
de. Resource: Conselho de Museus. Ar- Acessibilidade e Ação Educativa Inclusiva em
quivos e Bibliotecas. São Paulo: Edusp/Fun- Museus" para profissionais das áreas de mu-
dação Vitae. vol.s. 2005. seus. educação e saúde. Faz parte também
do objetivo deste programa pesquisar e intro-
duzir recursos de apoio multissensoriais facili-
Museus e Acessibilidade. Coleção Temas de tadores da compreensão de obras de arte
pelo público alvo. recursos estes. relaciona-
Museoloçía. Lisboa: Instituto Português de dos a obras de arte tanto do acervo como de
Museus (IPM). 2004. Disponível em: exposições temporárias realizadas pela Pina-
<www.ipmuseus.pt> coteca do Estado.
S Diretrizes previstas no Decreto n° 24.634. de
13 de Janeiro de 1986.
TOJAL. Amanda Pinto da Fonseca. Museu 6 A UPPM tem sob a sua responsabilidade 21
museus ( 13 na capital e 8 no interior do Esta-
de Arte e Públicos Especiais. Dissertação do) preservando um acervo de aproximada-
(Mestrado em Artes) - Escola de Comunica- mente 600.000 peças e totalizando uma
ções e Artes. Universidade de São Paulo. São visitação anual de aproximadamente
1.239.000 pessoas.
Paulo. 1999. 7 ABNT NBR 9050:2004. p.2.
8 Entre as publicações selecionadas encon-
tram-se os IJuias de acessibilidade "Museus e
. Políticas Públicas Culturais de In- Acessibilidade" (IPM.2004). "Many Voices
clusão de Públicos Especiais em Museus. MakinIJ Choices. Museum audiences with
Dísabilíties" (Australian Museum e National
Tese (Doutorado em Ciências da Informação)
Museum of Austrália. 2005) e Acessibilidade.
- Escola de Comunicações e Artes. Universi- Museoloçía - Roteiros Práticos. vol. 8 (EDUSP.
dade de São Paulo. São Paulo. 2007. Dispo- 2005).
9 Museus e Acessibilidade. Coleção Temas de
nível em: Museoloçla. Instituto Português de Museus
(IPM):Lisboa. 2004. p.17. Disponível em:
< http://www.teses.usp.br/teses/disponíveis/ <www.ipmuseus.pt>
10 Many Voices MakinIJ Choices Museum
27/27151/tde-19032008-183924/> audiences with disabilities. 2005. p.16. (tradu-
Uma política cultural para o estado de ção: Marina Falsetti).
" Museus e Acessibilidade. Instituto Portuquês
São Paulo. São Paulo: Secretaria de Estado de Museus (IPM). 2004. p. 29.
da Cultura. 2003. 12 Many Voices MakinIJ Choíces. Museum
audiences with disabilities. 2005. p.40. (tradu-
ção: Marina Falsetti).
NOTAS 13 Um exemplo de avaliação com públicos espe-
ciais em museus. entre eles pessoas com defi-
ciências visuais. foi realizado na Austrália. re-
Deficiência física: denominação dada às limi- sultando em uma publicação denominada
tações de locomoção e coordenação motora "Many Voices MakinIJ Choices. Museum
bem como às limitações dos sentidos da fala. Audiences with Dísabilítíes" (2005) em que os
audição. visão. entre outras. decorrentes entrevistados relatavam as suas experiências
principalmente de comprometimentos neuro- em museus e propunham melhorias. entre
Ióqícos. elas a de tornar os museus espaços cada vez
Deficiência motora. denominação dada às li- mais acessíveis e independentes para todos
mitações de locomoção ou a falta de um ou os frequentadores.
mais membros inferiores (pernas) ou superio- 14 Museus e Acessibilidade. Coleção Temas de
res (braços). Museoloçía. Instituto Português de Museus
Por esse códíço perpassam tanto a cultura (IPM):Lisboa. 2004.p.22.
erudita. a cultura popular como também a 15 Esse questionário foi aplicado em cursos rea-
cultura de massa que indistintamente neces- lizados pelo SIM (Sistema Integrado de Mu-
sitam ser compreendidas e "alfabetizadas" seus) em Belém (Pará) e pela Casa Andrade
por todas as instâncias da sociedade. Muricy (museus do Estado do Paraná) em
4 O Proçrama Educativo Públicos Especiais foi Curitiba. ambos ministrados pela autora.
implantado no ano de 2003 pelo Núcleo de 16 Para se obter uma análise completa dos re-
Ação Educatíva da Pinacoteca do Estado de sultados desta pesquisa vide. Tojal (2007). pp.
São Paulo. tendo a autora como coordenado- 252-258. disponível em: < http://www.teses.
ra. É um proqrama que tem por objetivo usp. br/teses/disponíveis/27/27151/tde-
atender de forma permanente públicos espe- 19032008-183924/>
17 Fórum Permanente: Museus de Arte. Entre- e uma breve descrição sobre o objetivo do
vista com Silvia Antibas e Cristina Bruno. Dis- Objeto de Estudo analisado .
ponível em: <http://forumpermanente. 25 Seçundo AImeida (2005. pp.9-10). "C..) o pla-
incubadora .fapesp. br/portal/, paínel/entrevts- nejamento é um processo cíclico. o que não
tais antibas Bruno. > si!6nifica que seja um processo linear; pelo
18 Idem. - contrário. é um processo dinâmico e
19 Idem. p.5. ínteratívo. Seçundo Ferreira (2002). as fases
ID Fórum Permanente: Museus de Arte. Entre- do planejamento se interpenetram. o que
vista com Silvia Antibas e Cristina Bruno. Dis- quer dizer que. embora se sucedam. não po-
ponível em: <http://forumpermanente. dem ser tratadas de maneira estritamente li-
incu badora. fa pesp. br /portal/, painel/en trevís- near. Na prática. há uma dinâmica que faz
tais antibas Bruno. > com que a elaboração do plano. por exem-
21 Se!6undo Cristína Bruno e Clara Camacho. há plo. já se conííçure como uma ação. à medi-
diferenças entre os termos designados para o da que repercute na ação propriamente dita
modelos Sistema e Rede em museus. O mo- que está sendo preparada. e na própria reali-
delo Sistêmico é aquele que articula elemen- dade em que o plano pretende intervir".
tos semelhantes. isto é. o conjunto de ele- \li Estrutura de Projecto Rede Portuguesa de
mentos i!6uais. coordenados entre si e intima- Museus. Disponível em: <wwwípmuseus.pt/
mente relacionados. O modelo de Rede é o pt/ípm >
que articula elementos distintos. isto é. uma 25 Para se obter uma descrição completa das
estrutura li!6ada a diversas unidades diferen- Etapas do Planejamento aplicado aos Museus
tes mas que passam a ser interdependentes do Estado de São Paulo víde. Tojal (2007) pp.
tendo em vista os mesmos objetivos. 263-270 disponível em: <http://www.teses.
22 Tendo como referência a pesquisa de usp. br/teses/disponíveis/27/27151/tde-
AImeida (2005 p.10) sobre as etapas do pro- 19032008-183924/>
cesso de um planejamento e. tendo em vista se A exemplo do GAM (Grupo de Acessibilidade
a necessidade de adaptação da metodoloçía em Museus) pertencente a RPM (Rede Portu-
apresentada para o planejamento que se !6uesa de Museus) e do proqrama de ação
pretende desenvolver. foram acrescentadas educativa inclusiva pertencente à rede de
uma nova etapa referente ao Plano de Ação museus da cidade de Estrasburço na França.

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