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1.1. INTRODUÇÃO
A superfície terrestre está envolta por uma camada de ar cuja mistura gasosa é
aproximadamente formada pela seguinte composição:
78,0084% de nitrogênio
20,946% de oxigênio
0,934% de argônio
0,036% de outros gases
Além da composição predominante formada por nitrogênio e oxigênio, o ar atmosférico
contém resíduos de outros gases, como o dióxido de carbono, argônio, hidrogênio, neônio, hélio,
criptônio, xenônio, etc.
Apesar de insípido, inodoro, incolor e de reduzida massa específica, o ar exerce influência na
movimentação dos corpos. Por exemplo, um pára-quedista em queda livre sofre a influência da
resistência do ar durante a queda, sendo esta tanto maior quanto maior for a velocidade de descida.
O mesmo efeito também é observado em aeronaves e automóveis, os quais são projetados com base
nos fundamentos de aerodinâmica visando minimizar o efeito do atrito do ar.
Como qualquer matéria, o ar atmosférico também possui massa e, conseqüentemente, peso.
Para se ter uma noção, o volume de um litro de ar, a 0C e ao nível do mar, pesa Par = 1,293.103 kg.
As camadas inferiores da superfície terrestre estão submetidas a um peso maior do ar e, por isso, são
mais comprimidas do que as camadas superiores. Conclui-se, portanto, que o volume de ar à pressão
normal (ou atmosférica) é mais pesado quando comparado ao volume de ar de altitudes acima do
nível do mar, sendo esta diferença uma conseqüência da variação da massa específica do ar ar.
A atmosfera exerce sobre nós uma força equivalente ao peso de uma coluna de ar de seção
unitária e de altura que se estende desde um ponto de referência até a altura total da coluna de ar,
que corresponde a altura total das camadas atmosféricas. Esta “força” é quantificada pela pressão
local. A pressão atmosférica não é constante, mas muda de acordo com a situação geográfica e as
condições atmosféricas. Ao nível do mar a pressão local é de 1 atmosfera. Abaixo de uma
determinada linha imaginária que corresponde à pressão atmosférica, existe uma região cuja pressão
é inferior à pressão atmosférica, denominada zona de depressão, e uma segunda região localizada
acima da linha da pressão atmosférica, chamada de zona sobre-pressão (Figura 1).
Tanto a zona de depressão como a região de sobre-pressão, adotam como referência à
pressão atmosférica. Isto significa que quando uma pressão for medida, deve-se considerar a
influência da pressão atmosférica, ou seja, a medida realizada quantificará a diferença entre a
pressão real e a pressão atmosférica. Na prática, a maioria dos instrumentos utilizados para medição
da pressão somente mede a sobre-pressão de determinado ambiente ou equipamento. A pressão
medida é denominada de pressão manométrica p man. e o instrumento convencional de medição
manômetro. A pressão real é denominada de pressão absoluta p abs. e pode ser expressa por:
Pressão (bar)
Pressão manométrica
Sobre-pressão
Pressão absoluta
1,013 bar
O cálculo da pressão atmosférica utiliza o princípio de coluna de líquido, cuja altura do líquido
em um tubo graduado, com pressão interna praticamente nula (vácuo) e submetido à pressão local
determina a pressão em questão, isto é:
kg m (1.3)
patm. .g.h 13.596 3
.9,81 .0,76 m 100 kPa 1 atm
m s2
Onde:
(Hg) = 13.596 kg/m³ (massa específica)
g = 9,81 m/s² (aceleração da gravidade)
h = 0,76 m ao nível do mar (altura da coluna de líquido).
1.2.1. Trabalho
O trabalho é usualmente definido como sendo uma força F que produz um deslocamento x no
sentido da força F, isto é,
2
W F dx
1
(1.4)
W (1.5)
P W
dt
Dada à definição de trabalho, vamos agora considerar o trabalho realizado pelo movimento
de fronteira de um sistema compressível durante um processo quase-estático.
Consideremos como sistema, um gás contido num cilindro de êmbolo, como mostrado na
Figura 2. Vamos retirar um dos pesos do êmbolo, provocando um movimento para cima, de uma
distância dL. A força total sobre o êmbolo é p.A, onde p é a pressão do gás e A é a área do êmbolo.
Portanto o trabalho W é:
W p A dL (1.6)
W p dV (1.7)
O trabalho realizado, portanto, é obtido pela integração da Equação (1.7). Entretanto, essa
integração pode somente ser efetuada se for conhecida a relação entre p e V durante o processo.
dL
gás
dV
b a V
V2 V1
F
2 2
1W 2
1
W 1W 2 p dV
1
(1.8)
O símbolo 1W2 deve ser interpretado como sendo o trabalho realizado durante o processo
realizado do estado 1 ao 2, o qual é representado pela área sob a curva 1-2, ou seja, a área a-1-2-b-
a.
O diagrama p-V da Figura 4, ainda nos permite verificar que é possível ir do estado 1 ao
estado 2 por caminhos diferentes A, B, C. Como a área sob cada curva representa o trabalho para
cada processo, torna-se evidente que o trabalho envolvido é uma função não somente dos estados
finais do processo, mas depende também do caminho que se percorre para se ir de um estado a
outro. Por esta razão, o trabalho é chamado de função de linha, ou em linguagem matemática, W é
uma diferencial inexata.
p 2
C
B
A 1
b a V
1.2.2. Calor
O calor é definido como sendo uma forma de energia transferida através da fronteira de um
sistema, numa dada temperatura, a um outro sistema numa temperatura inferior em virtude da
diferença de temperatura entre os dois sistemas.
O calor pode somente ser identificado quando atravessa a fronteira, sendo caracterizado
como um fenômeno transitório. Quando o calor é transferido para um sistema, ele é considerado
positivo. De igual forma, quando o calor é transferido do sistema, ele é considerado negativo. Um
processo sem troca de calor é denominado adiabático (Q = 0).
Do ponto de vista matemático, o calor (e o trabalho), é uma função de linha e é definido como
sendo uma diferencial inexata, isto é, a quantidade de calor transferida quando um sistema sofre uma
mudança de um estado para outro depende do caminho que o sistema percorre durante a mudança
de estado. Na integração escrevemos
1 Q2 Q
1
(1.9)
dQ (1.10)
C = capacidade térmica =
dT
As condições de transferência de calor devem ser especificadas para haver uma definição
correta do calor específico. Na prática, são particularmente importantes às transformações a volume
ou a pressão constante, o que permite que, por meio de tabelas e gráficos termodinâmicos, sejam
fornecidos os valores dos calores específicos cp e cv, a pressão e volume constante respectivamente.
O calor específico, de acordo com o sistema internacional, é dado em J/kg K ou ainda em J/kg mol.K
denominado de calor específico molar.
Os calores específicos do ar a pressão e volume constantes nas CNTP são:
cp = 1004 J/kg K cv = 717,4 J/kg K kar = 1,40
A capacidade térmica e o calor específico dos materiais não são constantes, mas dependem
do intervalo de temperatura considerado. Para as temperaturas usuais na pneumática, os calores
específicos normalmente são considerados constantes.
A quantidade de calor que deve ser transferida a um corpo de massa m, cujo material tem um
calor específico c, para elevar sua temperatura deste Ti até Tf é,
Tf
Qm c dT
Ti
(1.12)
Q W (1.13)
A aplicação da 1a. Lei da Termodinâmica para um processo que sofre uma mudança de
estado necessita da introdução de uma nova propriedade, a energia, a qual é dada pelo símbolo E.
Consideremos um sistema que percorre um ciclo, mudando do estado 1 para estado o estado 2 pelo
processo A e voltando do estado 2 para o estado 1 pelo processo B. Esse ciclo é mostrado na Figura
5 num diagrama pressão – volume.
p (Pa)
2
A
B
1
C
V (m3)
2A 1B 2A 1B
1A
Q
2B
Q
1A
W W
2B
(1.14)
Agora consideremos um outro ciclo, com o sistema mudando do estado 1 ao estado 2 pelo
processo A e retornando ao estado 1 pelo processo C. Para esse ciclo podemos escrever
2A 1C 2A 1C
1A
Q
2C
Q
1A
W W
2C
(1.15)
1B 1C 1B 1C
Q Q W W
2B 2C 2B 2C
(1.16)
Reordenando
1B 1C
Q W Q W
2B 2C
(1.17)
dE Q W (1.18)
ou
Q dE W (1.19)
1 Q2 E 2 E1 1W 2 (1.20)
Onde 1Q2 é o calor transferido para o sistema durante o processo do estado 1 ao estado 2, E1
e E2 são os valores inicial e final da energia E e 1W2 é o trabalho efetuado pelo sistema durante o
processo.
O significado físico da propriedade E é o de representar toda a energia de um sistema em um
dado estado. Essa energia pode estar presente numa multiplicidade de formas, tal como a energia
cinética ou a energia potencial do sistema com relação a um sistema de coordenadas, a energia
associada com o movimento e posição das moléculas, a energia associada a um capacitor carregado,
ou sob qualquer outra das várias formas existentes. No estudo da termodinâmica, é conveniente
considerarem-se separadamente as energias cinética e potencial e considerar todas as outras formas
de energia do sistema numa única propriedade, a qual é chamada de energia interna representada
pelo símbolo U. Assim, pode-se escrever,
E = Energia Interna + Energia Cinética + Energia Potencial
ou
E = U + EC + EP
A justificativa para esta separação é que as energias cinética e potencial estão associadas ao
sistema de coordenadas escolhido e podem ser determinadas por parâmetros macroscópicos como
massa, velocidade e elevação. A energia interna U inclui todas as outras formas de energia do
sistema e está associada ao estado termodinâmico do sistema. Como cada um dos termos é uma
função de ponto, podemos escrever,
ou
1 Q2 U 2 U1
2
m v 2 v1
2
mg Z 2 Z1 1W2 (1.22)
2
Em outras palavras, a Equação (1.22) estabelece que quando um sistema passa por uma
mudança de estado, a energia pode cruzar a fronteira em forma de calor ou trabalho, e cada um
destes termos pode ser positivo ou negativo. Além disso, a energia do sistema pode variar por
qualquer uma das três formas, a saber, por uma variação de energia interna, energia cinética ou
energia potencial.
A forma de representação da Equação (1.22) corresponde ao enunciado da Lei de
Conservação de Energia, ou seja, “a variação líquida de energia do sistema é sempre igual à
transferência líquida de energia através da fronteira do sistema, na forma de calor e trabalho”.
Onde
m = massa (kg)
dU Q W (1.23)
1
Q
gás
Assumimos também que não ocorram variações das energias cinética e potencial e que o
único trabalho realizado durante o processo é aquele associado ao movimento da fronteira do
sistema. Considerando o gás como o sistema e aplicando a 1 a. Lei da Termodinâmica,
1 Q2 U 2 U1 1W2 (1.24)
1W 2 p dV p V
1
2 V1 (1.25)
Portanto
Verificamos que para este caso, a transferência de calor durante o processo é dada em
termos da variação da quantidade U + pV entre os estados inicial e final. Como todos os elementos
dessa expressão são propriedades termodinâmicas, funções apenas do estado do sistema, a
combinações dos mesmos deve, obrigatoriamente, ter as mesmas características. Define-se, então,
uma nova propriedade extensiva chamada entalpia,
H = U + pV (1.27)
h = u + pv (1.28)
Ou ainda,
u = h pv (1.29)
em gases regidas pelas leis da termodinâmica. De acordo com as variáveis envolvidas nas mudanças
de estado do ar, vamos inicialmente ver três tipos de transformações:
Isobárica: transformação que se processa a pressão constante.
Isométrica ou isocórica: transformação que se processa a volume constante.
Isotérmica: transformação que se processa a temperatura constante.
Embora o ar comprimido não obedeça com exatidão à Lei dos Gases Perfeitos, pode-se
estimar com boa aproximação o comportamento do ar por meio do emprego das equações que serão
deduzidas na seqüência aplicadas aos gases ideais.
F1 = 0 F2
T, V1, T, V2,
p1 p2
Q
1 V 1 v (1.31)
cons tan te
V t p v t p
1 p (1.32)
cons tan te
p t V
dv v dt (1.33)
v dv v v dt v 1 dt (1.34)
Assim, o volume v1 de um gás a uma temperatura t1 pode ser calculado em função de seu
volume vo a temperatura t0 de 0C, ou seja,
v 1 v o v v o 1 dt1 (1.35)
v 2 v o v v o 1 dt 2 (1.36)
t1
1
v1
273 t1 273 (1.37)
v2 t t 2 273
1 2
273
Definindo
t + 273,15 = T
Faz-se referência a temperatura absoluta definida em graus Kelvin, isto é,
v 1 V1 T1
(1.38)
v 2 V2 T2
De onde se define que “os volumes ocupados pelos gases a uma pressão constante são
diretamente proporcionais as suas temperaturas absolutas” (Figura 8).
Assim, a variação do volume do ar V em um invólucro fechado pode ser dada por:
T2 T1
V V1 (1.39)
T1
V1
V2 V1 T2 T1 (1.40)
T1
V1
V2 V1 T2 T1 (1.41)
273,15 T1
material
p, V2, isolante
p, V1, T2
T1
calor Q
A 2a. lei de Gay Lussac se refere a uma transformação isométrica. Se um gás for confinado
em um recipiente, mantendo-se o volume constante e ocorrer uma variação na temperatura, a
pressão exercida pelo gás também apresentará variações.
A expressão do coeficiente de tensão, dada na Equação (1.32) nos fornece:
dp p dt (1.42)
p dp p p dt p (1 dt ) (1.43)
t1
1
p1 1 t1 273 t1 273 T1
(1.44)
p2 1 t 2 t t 2 273 T2
1 2
273
Que pode ser enunciada da seguinte forma: “as pressões suportadas pelos gases que
ocupam um mesmo volume são diretamente proporcionais as suas temperaturas absolutas”, ou seja,
f p, v , T 0 (1.46)
Assim, se a partir das condições iniciais p 1, v1 e T1 aquecermos um gás até uma temperatura
T2, conservando constante a pressão p 1, o volume v’ resultante, de acordo com a lei de Gay Lussac,
será:
v 1 T2
v' (1.47)
T1
Se a partir deste estado a pressão p 1 for alterada para p2, conservando-se a temperatura T2
constante, de acordo com a Lei de Boyle-Mariotte,
v1 .T2
p1 . p2 .v 2 (1.49)
T1
Rearranjando
p1 .v 1 p .v
2 2 = constante para uma massa fixa de gás (1.50)
T1 T2
A relação dada pela Eq. (1.50) entre o produto da pressão pelo volume específico de um gás
e a sua temperatura absoluta recebe o nome de constante do gás considerado e é designada
usualmente por R.
Portanto,
pv RT (1.51)
A Equação (1.51) recebe o nome de equação geral de estado dos gases perfeitos, a qual também
pode ser escrita como:
pv RT (1.52)
Onde
p = pressão do gás (Pa)
v = volume específico à base molecular (m³/kmol)
m = massa (kg)
T = temperatura (K)
R = constante universal dos gases = 8314,4 J/kg-mol.K
A partir da Eq. (1.51) podemos definir um gás ideal como aquele que obedece a esta relação
sob quaisquer condições.
Sendo:
v R (1.53)
v e R
M M
V (m 3 ) (1.54)
v
m (kg )
pV mRT (1.55)
V
m1 n M1 1 V (1.56)
v1
Semelhantemente
V
m2 n M 2 2 V (1.57)
v2
M1 1 v 2
(1.58)
M 2 2 v1
Generalizando
M1 v 1 M 2 v 2 Vm = constante (1.59)
Conclui-se que “os volumes correspondentes aos pesos moleculares dos diversos gases, nas
mesmas condições de temperatura e pressão, são iguais e recebem o nome de volume molar Vm”.
Nas condições normais de temperatura e pressão CNTP, 0C e 1 atmosfera (101.325
Pa), para um peso molecular dado em kg, o volume molar equivale 22,41 m³/kmol. Substituindo estes
valores na equação geral dos gases perfeitos:
pv p Vm R T (1.60)
Rearranjando em função de R ,
m3
p Vm 101325 Pa 22,4138 kmol = 8314,4 J/kmol.K (1.61)
R
T 273,15 K
p.v (1.62)
Z
R.T
Onde B(T), C(T), D(T) são funções da temperatura e denominadas de coeficientes viriais.
O segundo coeficiente virial B(T) pode ser considerado como a correção de primeira ordem
quando se trabalha com um gás não-perfeito. Assim, a Equação (1.63) pode ser simplificada para:
T
T (1.65)
k
B(T )
B (T ) (1.66)
bo
Solução do problema:
Dados do problema:
T = 40C = 313,15 K p = 12 bar = 12.105 Pa R = 8.314,4 J/ kg-mol.K
vR B(T ) (1.64-b)
1 0
vi vR
Rearranjando,
2 (1.64-c)
v R v i .v R B(T ).v i 0
Que é uma equação do 2o. grau, cujas raízes de v R são facilmente obtidas pela Equação de
Báscara, sendo v i = volume específico de um gás perfeito e v R é o volume específico do ar sob
condições reais (m³/kg-mol).
Tabela 1 – Constante de força para o potencial de Lennard-Jones a partir de dados experimentais dos
coeficientes viriais (Van Wylen e Sonntag, 1976).
T B (T ) T B (T )
T 313,15 K
T 2,6315 (1.65)
k 119 K
m3 m3
B(T ) 0,25327 .0,0502 0,01271415
kg.mol kg.mol
B(T )
Z 1 0,9941
vR
que equivale a um desvio de 0,0059 ou um erro de 0,59% com relação a um gás perfeito de
volume específico v i .
Solução do problema:
a.) A massa de ar comprimido nas condições atmosféricas
De acordo com a equação dos gases perfeitos
pV mRT
ou rearranjando a equação em função da massa de ar,
po .V 1,013.10 5 Pa 0,25 m 3
mar 0,3 kg
R ar .T 287 J / kg.K 293,15 K
pV 15 .10 5 Pa 0,25 m 3
mar 4,043 kg
R ar .T 287 J / kg.K 323,15 K
u f T (1.67)
Isto significa que um gás perfeito a uma dada temperatura tem uma energia interna específica
u definida, qualquer que seja a pressão.
Em 1843, Joule demonstrou este fato ao efetuar a seguinte experiência: dois vasos de
pressão (Figura 9), ligados entre si por um tubo contendo uma válvula, eram imersos num banho de
água. Inicialmente o vaso A continha ar a 22 atm e o vaso estava submetido a um alto vácuo. Quando
era atingido o equilíbrio térmico, a válvula era aberta permitindo a equalização de pressões entre A e
B. Nenhuma variação de temperatura foi detectada durando ou após o processo, o que levou Joule a
concluir que nenhum calor havia sido transferido para o ar. Como o trabalho também era nulo ele
concluiu, a partir da primeira lei da termodinâmica, que não houve variação de energia interna do gás.
Como a pressão e o volume haviam sofrido variação durante o processo, pôde-se concluir que a
energia interna não é função da pressão e do volume.
O ar não se enquadra perfeitamente na definição de um gás perfeito e por isso uma pequena
variação de temperatura será detectada quando se realizaram medições de precisão na experiência
de Joule.
A B
água
A relação entre a energia interna u e a temperatura pode, então, ser estabelecida, usando-se
a definição de calor específico a volume constante dada pela Eq. (1.12).
qV c v dT (1.68)
dQv dU (1.69)
du
m m
Assim
u (1.70)
cv
T
Como a energia interna de um gás perfeito não é função do volume, podemos escrever para
um gás perfeito,
du (1.71)
c vo
dT
ou
du c vo dT (1.72)
onde o índice “o” indica calor específico de um gás perfeito. Para uma dada massa m
dU m c vo dT (1.73)
h f T (1.75)
dQ p (1.76)
q P dh c p dT
m
Onde:
q P du dw du pdv dh (1.77)
dh c po dT (1.78)
dH m c po dT (1.79)
c vo f T ; c po f T ; (1.80)
dh = du + R.dT (1.81)
c po dT c vo dT R dT (1.82)
Portanto,
c po c vo R (1.84)
Esta equação nos diz que a diferença entre os calores específicos à pressão e a volume
constante de um gás perfeito é sempre constante, embora ambos sejam funções da temperatura.
A relação entre o calor específico à pressão constante e o calor específico a volume
constante é designada normalmente pela letra “k” e assume importância fundamental no estudo das
transformações dos gases. O valor de k varia com a temperatura, podendo ser aproximado, para
gases biatômicos com temperatura inferior a 200 C, por:
cp
k 1,4 (1.85)
cv
As relações das pelas Equações (1.83) e (1.85) nos permitem calcular os calores específicos
cv e cp dos gases, a partir de suas grandezas características R e k.
Assim,
c p cv k cv cv R (1.86)
Reordenando em função de cv
R (1.87)
cv
k 1
e ainda
kR (1.88)
c p k cv
k 1
Para determinadas faixas de temperaturas, os calores específicos de um gás ideal podem ser
tratados como constantes para a maioria dos cálculos normais de engenharia. Nestas condições:
cv dT c v T2 T1
u2 T2
u 2 u1
u1
du
T1
(1.89)
c p dT c p T2 T1
h2 T2
h2 h1
h1
dh
T1
(1.90)
Estas equações podem, portanto, ser usadas para simplificar a análise de problemas.
Q Q
S rev T
ou dS
T rev
(1.91)
Q
T
0 (1.92)
Como uma conseqüência da segunda lei, estes resultados podem ser estendidos para,
Q (1.93)
dS ou T dS Q
T
Q (1.94)
T ds (processo reversível)
m
Q (1.95)
T ds (processo irreversível)
m
T ds du p dv (1.98)
Esta é uma relação entre propriedades válida para todos os processos entre os estados de
equilíbrio. Uma forma alternativa da Eq. (1.98) pode ser obtida substituindo-se
du d h pv dh p dv v dp (1.99)
Para obter
T ds dh v dp (1.100)
Para um gás ideal, a variação da entropia pode avaliada por meio das Equações (1.98) e
(1.100), isto é,
du p dT dv (1.101)
ds dv cv R
T T T v
dh v dT dp (1.102)
ds dp c p R
T T T p
Para calores específicos constantes, estas equações podem ser integradas fornecendo,
T2 v
s 2 s1 c v ln R ln 2 (1.103)
T1 v1
T2 p
s 2 s1 c p ln R ln 2 (1.104)
T1 p1
0 du p dv cv dT p dv (1.105)
0 dh v dp c p dT v dp (1.106)
v dp p dv
dT (1.107)
cp cv
ou
dp c p dv dp dv (1.108)
k 0
p cv v p v
ln p k ln v ln c (1.109)
p v k constante (1.110)
ou
p (1.111)
constante
k
p R (1.112)
constante
T v
Ou seja, “as pressões suportadas pelos gases são diretamente proporcionais às suas
temperaturas absolutas” (Lei de Charles Gay Lussac).
A equação da primeira lei da termodinâmica aplicada a um sistema em repouso, a volume
constante e de massa unitária, fornece:
dQv (1.113)
dq v du v
m
dq v du v du c v dT f (T ) (1.114)
p
2
p2 T2
1
p1 T1
0 v1 = v 2 v
v dp R dT (1.115)
v dp (1.116)
dq v c v dT c v
R
R (1.87)
cv
k 1
Substituindo
1 (1.117)
dq v v dp
k 1
Integrando
1
qv v p2 p1 (1.118)
k 1
1
Qv J ou kcal V p2 p1 (1.119)
k 1
v R (1.120)
constante
T p
A qual foi anteriormente enunciada como a Lei de Gay Lussac. A transformação isobárica
segundo a 1a. Lei da Termodinâmica é dada por:
dQ p dU dW (1.121)
dq p du dw (1.122)
c p dT c v dT p dv (1.123)
p dv R dT (1.124)
c p dT c v dT R dT (1.125)
c p cv R (1.83)
dq p c p dT (1.126)
p dv (1.127)
dT
R
Substituindo
cp p (1.128)
dq p dv
R
kR (1.88)
cp
k 1
k (1.129)
dq p p dv
k 1
k
Qp J p V2 V1 (1.130)
k 1
( T1 ) ( T2 )
p1 = p2
W
V
V1 V2
Qp F
p v = R T = constante (1.131)
Durante a evolução da transformação, a energia interna do gás também não varia, pois, dU =
cv dT = 0
Da 1a. lei da termodinâmica,
dqT = du + dw = p dv (1.132)
qT p dv (1.133)
1
RT
Fazendo p , a integral torna-se,
v
2
1 v2
qT R T v dv R T ln v
1 1
(1.134)
v 2 p1
Mas considerando que , a Equação (1.134) pode ser escrita como
v 1 p2
p1
qT R T ln (1.135)
p2
dq S c v dT p dv 0 (1.136)
p dv v dp R dT (1.137)
Ou
p dv v dp (1.138)
dT
R
p dv v dp (1.139)
cv p dv 0
R
c v p dv c v v dp R p dv 0 (1.140)
c v v dp c p p dv 0 (1.141)
cp
Dividindo (1.141) por cv e lembrando que k obtém-se,
cv
v dp k p dv 0 (1.142)
Reordenando
k p dv v dp (1.143)
ou
dv dp (1.144)
k
v p
v2 p2 p1
dv dp dp
k
v1
v
p1
p
p2
p
(1.145)
v2 p
k ln ln 1 (1.146)
v1 p2
ou
k
v2 p (1.147)
1
v1 p2
ou ainda
1
p1 k v (1.148)
2
p2 v1
k k (1.149)
p1 v 1 p2 v 2 p v k = constante
Equação conhecida como Equação de Poisson, cuja inclinação em relação ao eixo das
abscissas pode ser dada por:
dp p
tan k (1.150)
dv v
T2 p2 v 2
(1.151)
T1 p1 v 1
k 1
T2 v 2 v1 p p1 (1.152)
2 k
T1 v 1 v2 p1 p2
k 1
1 k
T2 v p k
(1.153)
2 2
T1 v1 p1
A 1a. lei também nos permite calcular o trabalho mecânico absoluto realizado em uma
transformação isentrópica na sua forma infinitesimal,
dw p dv c v dT (1.154)
R (1.87)
cv
k 1
R R
w dT T2 T1 em Joule/ kg (1.155)
k 1 k 1
Fazendo
R T1 p1 v 1 e
R T2 p 2 v 2
O trabalho absoluto também pode ser escrito como:
1
w RT2 RT1 1 p1v 1 p2 v 2 (1.156)
k 1 k 1
1 k
k 1
R T1 T2 R T1 v2 R T1 p2
1
k
w 1 1 (1.157)
k 1
T
1 k 1
v1
k 1
p1
dq (1.158)
C = constante
dT
dq du dw (1.159)
Onde
dq C dT (1.160)
du c v dT (1.161)
dw p dv (1.162)
C dT c v dT p dv (1.163)
C cv dT p dv (1.164)
p dv v dp R dT (1.165)
ou
p dv v dp (1.166)
dT
R
p dv v dp
C cv p dv (1.167)
R
C c v p dv v dp R p dv c p cv p dv (1.168)
Reordenando
cv C
v dp p dv 0 (1.169)
cp C
c v C dp dv
0 (1.170)
cp C p v
ou
c p C dv dp
0 (1.171)
cv C v p
Fazendo
cp C
= constante (1.171-a)
cv C
dv dp (1.172)
0
v p
v2 p2
dv dp
v1
v
p1
p (1.173)
v v p p (1.174)
ln 2 ln 2 ln 2 ln 1
v1 v1 p1 p2
Portanto
v2 p (1.175)
1
v1 p2
ou
1
v 2 p1 (1.176)
v 1 p2
T2 p 2 v 2
(1.177)
T1 p1 v 1
1
T2 v 1 v 2 v 2 v2 v2 (1.178)
T1 v 2 v 1 v 1 v 1 v 1
1 1 1
T2 p1 p2 p2 p 2 p2
(1.179)
T1 p2 p1 p1 p1 p1
p1 v 1 p2 v 2 p v constante (1.180)
Onde o coeficiente , assumido como sendo uma constante, depende basicamente do valor
do calor específico C da própria transformação, o qual, com base na Eq. (1.171) pode ser calculado
por:
cp C
(1.171)
cv C
cv C c p C (1.181-a)
c v c p C 1 (1.181-b)
cp
Mas k
cv
Assim,
c v k c v C 1 (1.182-a)
c v k C 1 (1.182-b)
cv k (1.182-c)
C
1
cv k (1.183)
dq C dT dT
1
dw p dv dq du C dT c v dT (C c v ) dT (1.184-a)
k 1k (1.184-b)
dw (C c v ) dT 1 c v dT c v dT
1 1
R (1.87)
cv
k 1
Aplicando em (1.184):
1k R R R (1.185)
dw dT dT dT
1 k 1 1 1
R
T2
R R T1 T2
w
1 dT 1 T
T1
2
T1
1
T1
1
(1.186)
1
T2 v 2 (1.178)
T1 v 1
R T1 v 2
1
dw
1 v 1
1
(1.187)
1
T2 p
(1.179)
2
T1 p1
1
R T1 p 2
w 1 (1.188)
1 p1
R
w T2 T1 (1.186)
1
Considerando-se que:
p 1 v1 = R T 1
p 2 v2 = R T 2
p2 v 2 p1 v 1 (1.189)
w
1
cp C cp 0 cp
k (1.190)
cv C cv 0 cv
Verificamos que a equação politrópica torna-se uma transformação isentrópica, uma vez que
o calor específico da transformação é nulo.
cp C c p cv
(1.191)
cv C cv cv
1
v 2 p1 (1.176)
v 1 p2
ou
1 1
(1.192)
p1 v1 p2 v 2
1 1
(1.193)
p
v p v v = constante
cp cp 0
0 (1.194)
cv c p cv c p
p v p v 0 p = constante (1.195)
dQ dQ (1.196)
C
dT 0
Substituindo C em (1.171-a):
cp cp
cp C 1 1
C 1 (1.197)
cv C cv cv
1 1
C
p v p v 1 p v constante (1.198)
Solução do problema:
A. Cálculo do trabalho realizado w e da quantidade de calor transferida qT
Como neste problema o ar comprimido sofre uma transformação isotérmica, o trabalho
realizado, bem como a quantidade de calor transferida para o ambiente serão dados pela Eq. (1.135).
Assim,
p1
w qT R AR T ln (1.135)
p2
Substituindo os valores fornecidos pelo problema,
J 1,013 J
w qT 287 298 K ln 187.032,7
kg K 9,013 kg
qV 1 q m v 1
qV 2 q m v 2
O volume específico pode ser obtido a partir da equação de estado dos gases perfeitos. De
acordo com a Lei de Gay Lussac, Eq. (1.38),
v 0 T0
(1.38)
v 1 T1
T1 v 0
v1
T0
298,15 K 1 m3
v1 0,844
273,15 K kg kg
1,2933
m3
ou
1 1 kg kg
1 1,185 3
v 1 0,844 m 3 m
p1 1,013 m3 m3
v2 v1 bar 0,844 0,09486
p2 9,013 kg kg
ou
1 1 kg kg
2 10,542 3
v 2 0,09486 m 3
m
kg m3 m3
qV 1 1 0,844 0,844 50.640 lpm
s kg s
kg m3 m3
qV 2 q m v 2 1 0,09486 0,09486 5.691 lpm
s kg s
C. A taxa de compressão i.
A taxa de compressão para um escoamento compressível isotérmico é dada pela relação
entre as pressões de aspiração e descarga. Assim,
qV 1 p 2 2 v 1
i
qV 2 p1 1 v 2
Substituindo os valores numéricos,
9,013
i bar 8,9
1,013
Desta forma, todo calor gerado durante o processo de compressão é dissipado permitindo a
obtenção da compressão do ar sem a necessidade de um resfriamento posterior (sistema ideal).
Solução do problema:
A. O trabalho realizado w por unidade de massa:
O trabalho realizado para transformações politrópicas é dado pela Eq. (1.188):
1
R T1 p 2
w 1 (1.188)
1 p1
J
287 298,15 K 1, 25 1
kg K
9,013 1, 25
J
w 1 187 .666
1 1,25 1,013 kg
cv k
q POLITRÓPIA T2 T1 (1.183)
1
Mas como,
J
287
R kg K J (1.87)
cv 717,5
k 1 1,4 1 kg K
J
717 ,5 1,25 1,4
kg K
q 461,6 298,15 K 70.365 J
1,25 1 kg
p1 .v 1 p .v
2 2 (1.50)
T1 T2
ou em termos de v2,
m3
1,013 bar 0,844 461,6K
p1 .v 1 T2 kg m3
v2 0,1469
T1 p 2 298,15K 9,013 bar kg
e
1 kg
2 6,81 3
v2 m
kg m3 m3
qV 2 q m v 2 1 0,1469 0,1469 8812,2 lpm
s kg s
T3 m 3 323,15 K m3
v3 v2 0,1469 0,10284
T2 kg 461,6 K kg
Portanto,
kg m3 m3
qV 3 q m v 3 1 0,10284 0,10284 6170,4 lpm
s kg s
O calor da quantidade de calor transferida por unidade de massa sob condições isobáricas é:
k
qP p v 3 v 2 (1.130)
k 1
Então,
1,4 m3 J
qP 9,013.10 5 Pa 0,10284 0,1469 138.989,5
1,4 1 kg kg
Solução do problema:
A. O trabalho realizado w por unidade de massa:
O trabalho realizado para transformações isentrópicas é dado pela Eq. (1.157):
k 1
R T1 p 2 k
w 1 (1.157)
k 1 p1
J
287 298,15 K 1, 4 1
kg K 9,013 J
1, 4
w 1 185.538
1 1,4 1,013 kg
p k
(1.153)
T2 T1 2
p1
Assim,
1, 4 1
9,013 1, 4
T2 298,15 K 556,74 K 283,6 C
1,013
1 kg
2 3,12 3
v2 m
kg m3 m3
qV 2 q m v 2 1 0,3207 0,3207 19242 lpm
s kg s
D. A vazão volumétrica qV3 na saída do resfriador posterior sob condições isobáricas caso a
temperatura do ar seja reduzida de T2T3, sendo T3 = 50 C:
Aplicando a lei dos gases, de acordo com a Eq. (1.38),
T3 m 3 323,15 K m3
v3 v2 0,3207 0,1861
T2 kg 556,74 K kg
Portanto,
kg m3 m3
qV 3 q m v 3 1 0,1861 0,1861 11 .169 lpm
s kg s
A vazão qV3 calculada é a máxima vazão volumétrica que pode ser obtida com a manutenção
da pressão constante na saída do compressor. Se o objetivo fosse manter a vazão volumétrica
constante, o processo de transformação seria isométrico, o qual ocorreria em detrimento da redução
da pressão de regime.
k
qP p v 3 v 2 (1.130)
k 1
Então,
1,4 m3 J
qP 9,013.10 5 Pa 0,1861 0,3207 424.602
1,4 1 kg kg
Num fluido em repouso, a diferença de pressão entre dois pontos é função da diferença entre
a massa específica para cada ponto. Logo, se a pressão em um ponto variar, ocorrerá igual
variação em todos os outros pontos, desde que a massa específica não se altere.
A massa específica do ar em CNTP é de 1,205 kg/m³. Entretanto, seu valor é
significativamente alterado para ar = 6,5 kg/m³ a uma temperatura de 0C e pressão de 50 atm. Isto
significa que a massa específica dos gases é muito sensível a variações de temperatura e pressão.
Um fluido confinado está sujeito, além da pressão produzida pelo seu próprio peso, à pressão
adicional devida à aplicação de uma força externa, isto é, a pressão num ponto é o somatório das
pressões da coluna líquida e da força aplicada sobre uma área. Em sistemas pneumáticos, as
pressões devidas às forças externas são muito maiores do que as geradas pelo próprio peso do ar.
Segundo o princípio de Pascal, “se uma força externa for aplicada sobre uma parcela de área
de um fluido confinado, a pressão decorrente será transmitida instantaneamente a todo o fluido e a
área do recipiente que o contém”. Este princípio pode ser estendido para demonstrar a transmissão e
multiplicação de forças, conforme mostrado na Figura 12, onde a aplicação de uma força F 1 de baixa
magnitude é capaz de fazer com que seja suportada uma força F 2 de maior magnitude.
Sempre que um circuito estiver em estado de equilíbrio, isto é, os êmbolos estiverem
parados, a pressão estará igualmente distribuída em todo o fluido de modo que:
F1 F
p 2 = constante (1.199)
A1 A2
F2 (N)
F1 (N)
A2 (m2)
p (N/m2)
A1 (m2)
Fonte Atuador
Como os sistemas pneumáticos têm por objetivo fundamental a geração de uma forca ou
torque através de uma haste ou eixo, o circuito apresentado na Figura 12 pode ser considerado a
essência dos circuitos pneumáticos reais, onde um compressor transfere fluido através de tubulações
e válvulas de controle para um atuador, seja linear ou rotativo.
A lei de Pascal é valida quando se desconsidera o peso próprio do fluido, o que é
perfeitamente válido para a maioria das aplicações em pneumática, sendo aplicável para fluidos
compressíveis e incompressíveis, desde que se aguarde tempo suficiente para que seja atingido o
equilíbrio de pressão em todo o sistema. Entretanto, nos fluidos compressíveis as variações locais de
pressão propagam-se através do fluido por uma onda com velocidade igual à velocidade do som no
fluido, até que o equilíbrio seja restabelecido. Isso significa que, nestas condições, haverá um
comportamento dinâmico do fluido entre dois estados de equilíbrio, onde o Princípio de Pascal não é
aplicável.
Quando se estudam os sistemas que utilizam ar comprimido, o fluido é tratado como sendo
não-viscoso, isto é, não é requerido nenhum esforço para movimentar uma placa de fluido em
relação à outra independentemente da velocidade desta placa.
Observa-se que alguns fluidos sofrem pequena variação da massa especifica mesmo com
grandes variações de pressão, sendo tratados como incompressíveis. Estes fluidos apresentam-se
permanentemente no estado líquido. Quando não se pode considerar a massa especifica constante,
como em um gás, o fluido é denominado compressível.
Como a massa específica é dada pela relação entre a massa de fluido e o volume que este
ocupa, isto é,
m (1.200)
V
a sua variação implica que em um mesmo volume pode conter diferentes massas.
Considerando-se o efeito da compressibilidade na Figura 13, a redução do volume V1, devido a um
aumento na força F1 não provoca um aumento equivalente no volume V2, mesmo quando atingida
uma pressão p uniforme e constante.
F1 (N)
F2 (N)
y2
A1 y1
Vazão (lpm) A2
V1 V2
dp (1.201)
d
ou
m t t mt
m E mS
0 (1.204)
t t
p Fronteira da sistema
AE
mE
pE
Superfície de
controle
vE m v t AS
AE
mS
vS
m v t t
AS pS
Fazendo-se t tender a zero, determina-se o limite de cada termo a fim de obter a Eq. (1.204)
em termos de vazão mássica, ou seja,
mS
lim m
S (1.205-b)
t
t 0
m E
lim m
E (1.205-c)
t 0
t
Onde:
mVC = massa no interior do volume de controle.
E = vazão mássica que entra no volume de controle através da área AE.
m
S = vazão mássica que sai do volume de controle através da área AS.
m
Na prática, podem existir diversas áreas na superfície de controle através das quais ocorra o
fluxo. Este fato pode ser representado incluindo-se somatórios, o que caracteriza implicitamente a
soma de fluxos pelas diversas áreas existentes. Para esta condição,
dmVC
m
S m
E 0 (1.206)
dt
Embora esta forma de equação seja suficiente para a maioria das aplicações, muitas vezes é
necessário expressar cada uma das quantidades de massa em termos das propriedades locais do
fluido. O estado da matéria dentro do volume de controle não é necessariamente uniforme no
decorrer do tempo. No entanto, pode-se dividir o volume de controle em elementos de volume V
arbitrariamente pequenos, contendo a massa V, sendo a massa específica local. Desse modo, a
massa total dentro do volume de controle em qualquer instante será,
mVC V
dV (1.207)
m
A
v dA v A (1.208)
d (1.209)
dt
V
dV
A
v dA 0
d
dF dt v dm (1.210)
Onde dF é o vetor soma de todas as forças externas que agem sobre o elemento, como
forças de atrito, pressão, gravidade, etc.
Reescrevendo a Eq. (1.210) para a direção x temos
d
F x
m Vx (1.211)
dt
p0
pE mE
TE
vE
(vr )E
m v t
m v t t
mS (vr )s
ps
Ts
vs
m Vx m V m Vx 1
F x
t
x 2
t
(1.212)
m V m V m V
x 2 x 1 x t t m Vx t v x s ms v x e me (1.213)
m V x t t
m Vx t v x dV
(1.214)
V
m V m Vx t
v dV
x t t
(1.215)
t t
x
V
v
x s
ms v x e me v x v r cos dA t (1.216)
A m
Dividindo por t, obtemos a razão média na qual a quantidade de movimento cruza a
superfície de controle durante t.
v
x s ms v x e me
v x v r cos dA (1.217)
t A m
F V v dV v v cos dA
(1.218)
t
x m x x r
A m
lim
t 0
F x m F x
(1.219-a)
d
lim
t 0
t v
V
x
dV
dt v
V
x
dV (1.219-b)
lim v x v r cos dA
t 0 v x
v r cos dA (1.219-c)
A m A
F v dV v x v r cos dA (1.220)
t
x x
V A
F x
v s x v e x
m (1.221)
Equações semelhantes à Eq. (1.221) também podem ser obtidas para as direções y e z.
v2 (1.222)
h h0
2
O estado de estagnação real é o estado encontrado depois de uma desaceleração real até a
velocidade nula, cujo processo de desaceleração pode ser considerado irreversível. Entretanto, o
termo, propriedade de estagnação é, algumas vezes, reservado para as propriedades associadas ao
estado real e o termo propriedade total é usado para o estado isentrópico de estagnação.
A entalpia é a mesma para ambos os estados real e isentrópico (admitindo que o processo
real seja adiabático). Entretanto, para um gás perfeito, a temperatura de estagnação real é a mesma
que a temperatura de estagnação isentrópica. Contudo, a pressão de estagnação real pode ser
menor que a pressão de estagnação isentrópica, e por esta razão é atribuída à pressão de
estagnação isentrópica o termo pressão total.
Linha de fluxo
Ponto de estagnação
p
c 2 (1.223)
S
Quando um gás perfeito sofre uma mudança isentrópica de estado, pode-se mostrar que para
este processo, desde que o calor específico seja constante, que
p (1.111)
constante
k
ln p k ln ln constante (1.224)
e diferenciando
dp d (1.225)
k 0
p
1
O processo pode ser considerado isentrópico porque as variações de massa específica, pressão e temperatura são
infinitesimais durante a propagação da onda.
ou
p p
k (1.226)
S
Substituindo a Eq. (1.226) na Eq. (1.223), obtemos a velocidade do som em um gás perfeito:
p (1.227)
c2 k
p
Mas como R T , esta equação também pode ser escrita como:
c k RT (1.228)
Observa-se que uma característica importante da velocidade de propagação de som num gás
ideal, é que esta depende somente da temperatura.
De acordo com a definição do módulo de compressibilidade dado pela Eq. (1.201), a
velocidade do som pode ainda ser escrita como,
(1.229)
c
v REAL (1.230)
M
c
dp p
(1.201)
k
d S
k p ABS (1.231)
= p ABS (1.232)
v2 (1.222)
h h0
2
De onde obtemos
v 2 2 h0 h c p T0 T (1.233)
kR (1.88)
cp
k 1
k 1
T0 p k
(1.153)
0
T p
ou ainda
k 1
p k
(1.234-a)
T T0
p
0
k 1
p k
T T 0 T0 1 (1.234-b)
p0
k 1
p k
T0 T T0 1 (1.234-c)
p0
k 1
2 k R T0 p k
v 2
1 (1.235)
k 1 p
0
A 01
0 v1 1
1 (1.236)
p0 p1 1 v 1
2
qm 01 1 A01 v 1 (1.237)
A Eq. (1.235) pode ser substituída na Eq. (1.237). Entretanto, é conveniente expressar 1 em
termos de pressão total e temperatura total. Da equação dos gases perfeitos:
p0
0 (1.238)
R T0
p0 k v (1.148)
1 0
p1 v 0 1
1 1
p k p0 p1 k (1.239)
1 0 1
p0 R T0 p0
1
2 k 1
2
A01 p0 2k p1 p
k k
qm 01 1 (1.240)
p0
T0 R (k 1) p0
A Equação (1.240) é válida para cálculo da vazão mássica em qualquer ponto do duto, não
sendo específica para orifícios, o que fatalmente irá ocasionar diferenças entre os resultados obtidos
teórica e experimentalmente. Assim, quando se trabalha com orifícios, fato que ocorre na maioria das
aplicações práticas, deve-se utilizar o coeficiente de correção experimental denominado coeficiente
de descarga CD (DE NEGRI, 2001).
É importante ainda observar que quando a compressibilidade do fluido é considerada no
escoamento, a vazão mássica torna-se uma função da razão das pressões através do duto ou orifício
em questão, não sendo mais uma função do diferencial de pressões, como é a relação válida para o
escoamento considerado incompressível.
p
p + dp v + dv
v
T T + dT
d
Superfície de
controle
h
v2
h dh
v dv 2
(1.241-a)
2 2
dh v dv 0 (1.241-b)
Da Eq. (1.100),
dp (1.242)
T ds dh v dp dh 0
Da equação da continuidade:
v A constante
qm m (1.208)
Derivando,
d v A A v d v dA A dv 0 (1.243-a)
d dA dv (1.243-b)
0
A v
dp (1.244-a)
dh v dv
Reordenando
dp (1.244-b)
dv
v
dA d dv d dp dp dp 1 1 (1.245)
2
A v dp v 2
d / dp v
dp v2 (1.246)
c2 2
d M
dA dp M2 1 dp
2 2 1 M 2 (1.247)
A v v v
2
A obtenção da Eq. (1.247) nos permite verificar que, para a condição em que M = 1, dA = 0.
Esta condição representa o escoamento na região de área mais estreita do bocal, denominada de
garganta.
Na seqüência, são desenvolvidas algumas relações importantes entre as propriedades reais,
as propriedades de estagnação e o número de Mach, as quais são influenciadas pelas condições
verificadas na garganta. Essas relações são bastante úteis em se tratando de escoamento isentrópico
de um gás perfeito em um bocal ou canalização.
Assim, a partir das Equações (1.153) e (1.235),
2 k RT T0 (1.248)
v2 1
k 1 T
2 c2 T0 (1.249-a)
v2 1
k 1 T
v2 2 T0 (1.249-b)
M2 1
c 2
k 1 T
T0 k 1 (1.249-c)
M2 1
T 2
k 1
T0 k 1
p0 T0 k 1
0
, (1.153)
T p T
Portanto,
k
p0 k 1 k 1
(1.250)
M 2 1
p 2
1
0 k 1 k 1
(1.251)
M 2 1
2
Os valores de p/p0, /0 e T/T0 são dados em função de M nas tabelas termodinâmicas para
gases de acordo com o valor de k. A Tabela 3 fornece estes valores para um gás ideal com k = 1,4.
As condições na garganta podem, portanto, ser encontradas observando que, neste caso,
M = 1 (ver Eq. 1.247). As propriedades na garganta estão indicadas com o sub-índice “ crítico ou * ”,
que correspondem à condição de escoamento sônico. Estas propriedades são frequentemente
chamadas de pressão crítica, temperatura crítica e massa específica crítica e as relações dadas pelas
Equações (1.252), (1.253) e (1.254) são chamadas de relação crítica de pressão, temperatura e
massa específica (Van WILEY e SONNTAG, 1976).
Assim,
1
CRIT 2 k 1
(1.252)
0 k 1
k
pCRIT 2 k 1
(1.253)
p0 k 1
TCRIT 2 (1.254)
T k 1
A p T
M M
A p0 0 T0
V1
p0
v 0 p1 p2
T0
restrição
regulável
p
p0
a
b
c
d
b
m b
a
0 pCRIT 1 p2
p0 p0
Figura 20 – Comportamento da vazão mássica e da relação de pressão para um bocal com variação
na pressão de saída.
Quando p2/p0 = 1 (ponto a da Figura 20-b), a vazão é nula. Se a pressão p 2 for reduzida até
p2 p
ao ponto indicado pelo ponto b de tal forma que CRIT , a vazão de descarga terá determinado
p0 p0
valor m b e p1 = p2. Nesta condição, o número de Mach é menor do que 1. Se a pressão p 2 for
novamente reduzida até a pressão crítica, indicada pelo ponto c. O número de Mach na saída do
bocal torna-se igual a unidade e p1 = p2. Se a pressão a jusante p2 tornar-se inferior à pressão crítica
indicada pelo ponto d, não haverá posterior aumento na vazão mássica de descarga e p 1 permanece
constante com um valor igual ao da pressão crítica e o número de Mach na saída, unitário. A queda
de pressão de p1 a p2 ocorre externamente à seção de saída do bocal e o escoamento torna-se
saturado, o que significa que, para as condições de estagnação dadas, a vazão através do bocal é
máxima.
Podemos chegar a uma conclusão semelhante à obtida no parágrafo anterior se aplicarmos a
relação crítica de pressão obtida através da Eq. (1.253) na Eq. (1.235), ou seja,
k 1
k 1
2 k R T0 p k 2 k R T0 2 k 1
k k
v 2
1 1 (1.235)
k 1 p k 1 k 1
0
que resulta em
1
2 k R T0 2
(1.255)
v
k 1
k 1
k 1
T p k 2 k 1
k k
(1.153)
T0 p
k 1
0
resulta,
2 (1.256)
T T0
k 1
Substituindo agora a Eq. (1.256) na Eq. (1.255), obtém-se novamente a Eq. (1.228), que
corresponde à velocidade do som à temperatura T.
2
v CRIT . c 2 k R T (1.228)
Por causa deste comportamento dos gases, no caso do ar a relação crítica de pressão é
particularmente importante, pois a mesma indica a relação teórica entre as pressões a montante e a
jusante de um bocal ou orifício em que ocorre saturação no componente pneumático, ou seja, a
relação que provoca a máxima vazão mássica de um fluido compressível, sendo este um dos
principais critérios para o dimensionamento de componentes pneumáticos, especialmente válvulas.
Logo, a máxima vazão mássica que pode escoar através de qualquer área ocorre à
velocidade do som local. Com isto, conclui-se que,
p 2 p2
Faixa subsônica
p1 p1 CRIT .
p2 p2
Faixa sônica
p1 p1 CRIT .
p2 p2
Faixa supersônica
p1 p1 CRIT .
1
K 1
2
A p1 k 2 K 1 (1.258)
qmCRIT .
T1 R K 1
k p 2 p
k k
2 (1.259)
p1
( k 1) p1
2 (1.260)
qm A p1
R T1
De acordo com ANDERSEN (1967), para razões de pressões inferiores à razão de pressões
crítica a vazão mássica decresce apesar da velocidade do escoamento continuar aumentando com a
progressiva redução da razão de pressões. Esta redução ocorre tendo em vista que a massa
específica do fluido decresce a uma taxa superior à do aumento da velocidade, conforme Eq. (1.239).
A12
1 2
A0
A0 = CC A12 (1.261)
CD = CC CV (1.262)
1
2 k 1
2
CD A0 p1 2 k p2 p
k k
qmORIFÍCIO 2 (1.263)
p1
T1 R ( k 1) p1
qmORIFÍCIO C D A0 2 2 p (1.264)
ou
2 p2 p
qmORIFÍCIO C D A0 (1.265)
R T2
Sendo
3 p
1
2 p1 (1.266)
p
1
p1
qm (1.267)
qVi
i
C D A0
qmORIFÍCIO 2 2 p (1.268)
i
ou
pi
qmORIFÍCIO C D A0 2 2 p (1.269)
R Ti
Solução do problema:
Dados adicionais para o ar
k = 1,4
p
0,528 Relação crítica de pressão para o ar
p0 CRÍTICO
(a). Para uma pressão a jusante p = 5,6 bar, a relação de pressões será,
p 5,6
0,8
p0 7,0
T
Da Tabela 3, M = 0,573 e 0,938
T0
A temperatura de estagnação do ar é T0 = 100 C. A temperatura de descarga do ar T1 é,
portanto,
T1 T0 0,938 373 K 0,938 349,87 K
A velocidade de escoamento na saída pode ser dada por:
v
M
c
Mas a velocidade do som, de acordo com as condições locais é,
J
c k R T1 1,4 287 349,87 K 374,94 m / s
kg K
Assim,
v 1 M c 0,573 375 m / s 215 m / s
A massa específica pode ser encontrada por meio da equação de estado dos gases perfeitos.
Então,
p1 5,6 10 5 Pa kg
1 5,58 3
R ar T1 J m
287 349,87 K
kg K
Substituindo estes valores na Eq. da vazão de descarga,
(b). Quando a pressão a jusante for igual a 3,7 bar, a relação entre as pressões de
estagnação e a pressão do bocal será,
3,7
0,528 ,M = 1
7,0 CRÍTICO
o que implica que o bocal está “bloqueado”. Isto significa que, mesmo que haja diminuição na
pressão de saída, não haverá aumento ulterior na vazão de descarga.
O calculo da vazão mássica de descarga segue as mesmas observadas no cálculo anterior,
ou seja,
1 v 1 A1
qm m
Para o cálculo de qm é necessário encontrar v1 e 1, os quais estão operando na condição
crítica.
Da Tabela 3,
T
0,833
T0
A temperatura de descarga do ar T1 é, portanto,
T1 T0 0,833 373 K 0,833 311 K
A velocidade de escoamento na saída pode ser dada, considerando a condição de
escoamento sônico:
v
M 1
c
De acordo com as condições locais é,
J
v c k R T1 1,4 287 311 K 353,5 m / s
kg K
A massa específica pode ser encontrada por meio da equação de estado dos gases perfeitos,
p1 3,7 10 5 Pa kg
1 4,15 3
R ar T1 J m
287 311 K
kg K
Substituindo estes valores na Eq. da vazão de descarga,
kg m kg
qm m
4,15
3
353,5 6 10 4 m 2 0,88
m s s
(c). Para uma pressão a jusante menor do que a pressão crítica, o bocal está bloqueado e a
vazão não aumenta. Portanto, para uma pressão de saída de 2,1 bar, a vazão mássica de descarga
é de 0,88 kg/s.
dmVC
dt
2
m
1
m
Solução do problema:
De acordo com a Equação da Continuidade,
d (1.209)
dt
V
dV
A
v dA 0
dm d V d d dp (1.209-a)
V V m
1 m
2
dt dt dt dp dt
dp (1.201)
d
Assim, a Eq. (1.209-a) pode ser reescrita como:
V 1 dp (1.209-b)
m
1 m
2
dt
p
RT
O módulo de compressibilidade para o escoamento isentrópico é:
k p ABS (1.231)
V dp (1.209-b)
m
1 m
2
k R T1 dt
ou
dp k R T1
m1 m 2 (1.209-c)
dt V
k R T1
p t m1 m 2 dt k R T1 m 1 m 2 t c (1.209-d)
V V
Considerando como condição inicial, p 0 p0 , a equação (1.209-b) pode ser escrita como:
k R T1
p t m1 m 2 t p0 (1.209-e)
V
J kg
1,4 287 313,15 K 0,05
kg K s
7.10 Pa
5
(1.209-f)
t 1,013 .10 5
Pa
0,5 m 3
Que resulta em
t = 47,6 segundos.