Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo
Este trabalho discute as articulações entre Abstract
segregação residencial, posição social e ra- The paper discusses the articulation between
ça em Salvador, a terceira maior metrópole residential segregation, social position
brasileira, onde os negros tem uma presença and race in Salvador, Bahia, the third
particularmente expressiva na população. largest Bralizian metropolis, where Afro-
Para isto ele discute o caráter, a relevância descendants constitute a very significant
e as diversas manifestações da segregação, population.
abordando sua complexidade no caso brasi- It discusses the character, relevance and the
leiro e suas características no tecido urbano variety of types of segregation related to
de Salvador. Fundamentando-se empirica- the Brazilian complexity and to the urban
mente em dados censitários espacializados, o characteristics of Salvador. The study deals
texto constata que a raça não constitui uma with census data. The findings indicate that
categoria insignificante para a análise dos race is a significant category of analysis
processos de segregação residencial urbana, regarding urban residential segregation,
embora não tenha um caráter auto-evidente although it does not have a self-evident
e, no caso de Salvador, assuma uma dimen- character in the case of Salvador. Indeed,
são moderada, acentuando-se nas áreas re- it assumes a moderate form that is more
sidenciais superiores mas se reduzindo bas- intense in upgrading residential areas, but it
tante nas áreas populares, onde pobres e is reduced in popular neighborhoods where
negros estão concentrados. blacks an whites are concentrated.
Palavras-chave: segregação residencial; Keywords: residential segregation; race;
raça; desigualdades sociais e raciais; regiões racial and social inequalities; metropolitan
metropolitanas; Salvador. areas; Salvador.
AEDs População
Tipologia socioespacial
nº % nº %
Superior 7 7,95 154.134 6,31
Média superior 15 17,05 337.062 13,80
Média 28 31,82 902.007 36,92
Popular 10 11,36 307.040 12,57
Popular inferior 27 30,68 685.829 28,07
Popular-operário-agrícola 1 1,14 57.035 2,33
Total 88 100,00 2.443.107 100,00
Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000.
261
60,1 – 100,0
262
limite municipal
29 - 42 %
sistema viário 43 - 62
63 - 74
lagos, lagoas
75 - 83
84 - 90
263
limite municipal
4,5 - 10 %
sistema viário 10 - 15
15 - 20
lagos, lagoas
20 - 25
25 - 30
Popular Inferior
Águas claras / Cajazeiras 11,9 68,2 18,0 98,1
Alagados 11,7 59,2 28,1 99,0
Alto de Santa Terezinha 11,6 68,7 18,3 98,7
Bairro da Paz 11,7 65,4 22,3 98,5
Boa Vista do Lobato 14,4 62,8 21,1 98,2
Cajazeiras 14,4 62,6 21,6 98,6 265
Cajazeiras IV / VI 15,9 58,8 23,8 98,5
Canabrava 15,9 55,0 25,7 96,5
Centro Administrativo da Bahia 14,8 59,8 22,9 97,5
Coutos 12,4 65,2 20,4 98,0
Engomadeira / Cabula IV 17,4 57,1 24,2 98,7
Fazenda Coutos 12,9 62,1 22,5 97,5
Jardim das Margaridas 15,4 58,4 24,4 98,1
Mata Escura / Calabetão 15,0 55,0 26,4 96,4
Nordeste 8,8 58,5 30,7 97,9
Nova Brasília 17,3 53,8 27,1 98,2
Pau da Lima 14,4 62,6 21,9 98,9
Península do Joanes 15,4 61,0 20,9 97,3
Periperi 10,3 63,6 20,8 94,8
Plataforma 14,2 65,7 17,9 97,9
Praia Grande 11,3 65,5 20,4 97,2
Santa Cruz 12,9 56,7 28,6 98,2
São Cristovão 14,0 57,5 27,2 98,7
São João 11,7 63,8 21,6 97,1
Tancredo Neves 14,1 60,1 24,4 98,6
Arenoso 14,1 57,9 24,2 96,1
Valéria 12,0 68,6 17,5 98,1
Fonte: IBGE, Censo demográfico, 2000.
* Abstraídos ou outros e não declarados
Itaigara/ Caminho das Árvores/Iguatemi de residentes nas áreas superiores esses va-
com 4,3% e da Graça com 3,8%, entre as lores alcançavam, respectivamente, 30,5%
mais expressivas. e 57,8%. Além disso, as desigualdades so-
No outro extremo, onde se encontram cioeconômicas existentes entre brancos e
os menores índices de dissimilaridade – ou negros, e sua expressão territorializada
seja, aqueles bairros que apresentam pre- também transparece através do Índice de
sença de brancos e negros compatíveis com Desenvolvimento Humanos – IDH consta-
o seu peso e representatividade no conjunto tado em nível intramunicipal em Salvador,
da população –, os dados revelam o quanto uma vez que
é baixa a contribuição das áreas do tipo po-
pular e popular inferior, com as 37 AEDS/ Em 2000, a Unidade de Desenvolvi-
mento Humano – UDH com IDH – Ín-
bairros aportando 29,9% ao índice, contra
dice de Desenvolvimento Humano mais
24,6% aportado pelas 7 superiores.
alto em Salvador – Ba, supera a Norue-
Como já foi assinalado, nem todos os
ga, cujo IGH é o maior entre os paí-
negros encontrados nas áreas do tipo su-
ses, segundo o Relatório da ONU. Por
perior ou média superior desempenham as
outro lado, nas UDHs com os índices
ocupações de alta renda e prestígio típi-
mais baixos, estes se aproximam do da
cas da maioria de residentes nessas áreas.
Bolívia. Tal disparidade é maior que a
Além disso, mesmo aqueles que lograram verificada entre os municípios da Bahia.
romper a barreira da cor não desfrutam (Conder, 2006)
266 das mesmas condições de vida dos morado-
res brancos; uma análise da variância7 dos E é exatamente entre ás áreas/bair-
rendimentos das pessoas por raça permite ros com maior presença de brancos e que
constatar que brancos, pardos e pretos nas aportam maior contribuição ao padrão de
zonas “nobres” de Salvador apresentam mé- desigualdade racial que se encontram os
dias de rendimento mensal bastante diversas maiores valores da UDH: Itaigara logra o
e decrescentes: R$2.009,43, R$1.160,78 e valor elevado de 0,971, 8 superior ao da
R$618,48, respectivamente, resultados es- Noruega; Pituba e Caminho das Árvores
ses estatisticamente significativos. (responsáveis pelas maiores contribuições
Essa desigualdade fica ainda mais evi- ao Índice de Dissimilaridade) têm valores
dente quando se trata do contingente de muito próximos e assim sucedem-se todos
grandes empregadores, dirigentes e “inte- os bairros com baixa presença da popula-
lectuais”, onde a média de rendimentos de ção negra.
todos os trabalhos soma R$5.211,96 entre No outro extremo encontramos os in-
os brancos, R$4.703,94 entre os pardos e dicadores mais baixos, similares aos padrões
R$2.185,23 entre os pretos. Nesse univer- de paises com maiores graus de pobreza do
so, a média de rendimento dos pardos re- mundo. E são eles bairros negros, com par-
presenta 90% da que se refere aos brancos, ticipação, em todos eles, superior a 85% de
mas a média de rendimentos dos pretos não negros, corroborando o quadro detectado
vai além de 41% daquele valor. No conjunto pela análise do Índice de Dissemelhança.
% % %
% % %
Brancos Pardos Pretos
% % Brancos Pardos Pretos
Bairros Descrição na AED/ na AED/ na AED/
Contrib. Acum. na na na
Brancos Pardos Pretos
AED AED AED
Total Total Total
Pituba Superior 7,94 7,94 7,94 7,94 7,94 7,94 7,94 7,94
Itaigara
Caminho das Árvores Superior 4,32 4,32 4,32 4,32 4,32 4,32 4,32 4,32
Iguatemi
Graça Superior 3,81 3,81 3,81 3,81 3,81 3,81 3,81 3,81
Stiep Médio 3,19 3,19 3,19 3,19 3,19 3,19 3,19 3,19
Costa Azul superior
Barra Superior 2,67 2,67 2,67 2,67 2,67 2,67 2,67 2,67
Campo Grande Superior 2,46 2,46 2,46 2,46 2,46 2,46 2,46 2,46
Canela
Imbuí Médio 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30
superior
Fazenda Grande Média 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 267
Paripe Popular-
Ilha de Maré Operário- 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25 2,25
Ilha dos Frades Agrícola
Barra Avenida Superior 2,08 2,08 2,08 2,08 2,08 2,08 2,08 2,08
Índice de Desenvolvimento
UDH
Humano Municipal, 2000
Itaigara 0,971
Caminho das Árvores/Pituba-Rodoviária, Lot Aquárius 0,968
Brotas-Santiago de Compostela 0,968
Caminho das Árvores-Iguatemi 0,968
Pituba-Av. Paulo VI, Pq. Nossa Senhora da Luz 0,965
Pituba 0,956
Amaralina-Ubaranas 0,956
Canela/Graça/Vitória 0,956
Campo Grande/Garcia-Politeama 0,956
Barra/Barra Avenida 0,949
Índice de Desenvolvimento
UDH
Humano Municipal, 2000
Coutos-Fazenda Coutos, Felicidade 0,659
Bairro da Paz/Itapuã-Parque de Exposições 0,664
Coutos/Periperi-Nova Constituinte 0,668
Paripe- São Tomé Paripe, Tubarão 0,673
Ilhas Maré, Frades-Bom Jesus dos Passos, Paramana 0,673
Fonte: Conder, Atlas do Desenvolvimento Humano na RM Salvador
Vanda Sá Barreto
Socióloga, Especialista em Políticas Públicas para a População Negra.
vandasa@yahoo.com.br
270
Notas
(1) Reúne as categorias estatísticas de pretos e pardos, utilizadas pelo IBGE.
(2) Villaça, por exemplo, reporta-se à concentração de orientais e de judeus nos bairros da Li-
berdade e Higienópolis, respectivamente, em São Paulo, e a distribuição racial da população
nas áreas metropolitanas está sendo mapeada pelo Observatório das Metrópoles.
(4) Segundo o autor, dadas as especificidades do racismo brasileiro, os brancos não fariam maior
objeção à proximidade residencial de pardos e negros, embora possam evitar relações mais
próximas e intensas com eles.
(5) Um estudo referencial é o de Rolnik (1989), sobre São Paulo e Rio de Janeiro.
(6) Cajazeiras por exemplo, começou a ser ocupada por conjuntos habitacionais de “classe mé-
dia baixa”, implantados nas suas cumeadas na fase áurea do BNH, sendo a maior parte da
área considerada como “não edificável” por sua elevada declividade. Ainda assim o bairro
se expandiu com a ocupação dessas escarpas por um grande número de pessoas pobres e
negras.
(7) Essa técnica visa indicar se as diferenças de médias encontradas entre os grupos analisados
são significantes.
(8) O IDH varia entre 0 a 1. Entre 0 a 0,49 é considerado Baixo Desenvolvimento Humano.
(9) Estudo recente promovido pela Unesco sobre a juventude brasileira constatou que o princi-
pal meio utilizado para encontrar trabalho é o recurso a amigos e conhecidos, notadamente
entre os jovens mais pobres (52,8%), pardos (49,2%) e negros (55,3%) (Abramovay e Castro,
2006).
Referências
ABRAMOVAY, M. e CASTRO, M. G. (coord.). (2006). Juventude, juventudes. O que une e o que
separa. Brasília, Unesco.
ANDREWS, G. R. (1992). Desigualdade Racial no Brasil e nos Estados Unidos: uma comparação
estatística. Estudos Afro-Asiáticos, n. 22, set.
271
CALDEIRA, T. P. do R. (2000). Cidade dos muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo.
São Paulo, Edusp.
CARVALHO, A. P. C. de. (2004). Emergência de Etnicidade: dos Territórios Negros aos "Quilom-
bos Urbanos". Disponível em: http://www.koinonia.org.br/oq/pop_ensaio5.htm
FRANCO, A.; SANTOS, E. e GABRIELLI, L. (1998). Salvador dos novos horizontes. Força de
trabalho e emprego. Salvador, v. 5 (maio/ago), n. 2, pp. 21-29.
LEITE, I. B. (1990). Territórios de negros em área rural e urbana: algumas questões. Terras e ter-
ritórios de negros no Brasil. Textos e debates. n. 2. NUER. SC.
MARCUSE. P. (2004). Enclaves sim; guetos não: a segregação e o Estado. Espaço & Debates.
Revista de Estudos Regionais e Urbanos, v. 24 (jan/jun), n. 45, pp. 24-33.
ROLNIK, R. (1989). Territórios negros nas cidades brasileiras (Etnicidade e cidade em São Paulo
e no Rio de Janeiro). Estudos Afro-Asiáticos, n. 17.
SABATINE, F.; CÁCERES, G. e CERDA, J. (2004). Segregação residencial nas principais cidades
chilenas: tendências das três últimas décadas e possíveis cursos de ação. Espaço & Debates.
Revista de Estudos Regionais e Urbanos, v. 24 (jan/jun), n. 45, pp. 64-74.
SASSEN, S. (1991). The Global City: New York, London, Tokyo. New Jersey, Princeton, University
Press.
TELLES, E.E. (1993). Cor da pele e segregação residencial no Brasil. Estudos Afro-Asiáticos, n. 24
_________ (2003). Racismo à Brasileira. Uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro, Re-
lume Dumará/Fundação Ford.
Recebido em ago/2007
Aprovado em out/2007
273