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Democrática na prática
Os caminhos e os obstáculos da Gestão Democrática na prática
Adriane Jung[1]
RESUMO
Este artigo discorre sobre as reflexões oriundas da pesquisa de campo, junto à escola
parceira, no que tange ao tema Gestão Democrática. Ele traz os entraves e as
possibilidades enfrentadas para a efetivação de uma Gestão Democrática efetiva. As
observações dos sujeitos entrevistados e suas colocações apresentam-se como
fundamentais para que a escola seja compreendida e para que os parâmetros entre teoria
e prática sejam evidenciados. A legislação que se refere ao tema Gestão Democrática é
mencionada de forma a traçar-se um comparativo entre o que ela estabelece e o que de
fato ocorre na prática da escola. Entre outros assuntos são abordados três itens
imprescindíveis para a concretização da Gestão Democrática, são eles: dialogicidade,
autonomia e participação. A dialogicidade é abordada no sentido de alcançar todos os
âmbitos escolares, como medida de identificação dos problemas, para possíveis soluções
qualificadas. Quanto à autonomia busca-se tornar os sujeitos da Comunidade Escolar,
“maduros”, capazes de contribuir positivamente para o desenvolvimento da escola,
potencializando o processo de ensino-aprendizagem. No que tange a participação há a
demonstração da importância do envolvimento dos membros da escola, fala-se em uma
participação mais efetiva e não puramente superficial. Através desses subsídios, conclui-
se que é necessária uma aproximação de todos os sujeitos da escola, de toda a comunidade
escolar. Isso com o objetivo de haver uma responsabilização coletiva, com a abdicação
da centralização, por parte do gestor.
1. INTRODUÇÃO
Durante as visitas feitas a escola foi desenvolvida uma pesquisa de campo que
proporcionou muitas conversas e questionamentos com os diferentes sujeitos que
compõem a escola. A escola parceira situa-se na zona norte da cidade e possui um entorno
com condições financeiras de classe média e baixa.
Com relação à gestão, quase a totalidade tem um bom relacionamento com a equipe
diretiva, contudo não há expressão de uma compreensão de gestão democrática e da
importância de cada um no processo decisório e de planejamento da escola.
Dessa forma, será exposto breve histórico da Gestão Democrática, bem como seus
entraves e suas possibilidades no cotidiano da escola parceira.
2. DESENVOLVIMENTO
Tais regras expressam princípios fundamentais para que se obtenha uma educação
de qualidade, fundamentados na Gestão Democrática, a qual proporciona autonomia aos
diversos sujeitos da escola.
Dessa forma, uma maior intervenção dos vários atores, expondo seus pontos de
vistas, atuando como agentes, com o intuito de que todos sejam beneficiados permite que
a escola cumpra seu verdadeiro papel. O verdadeiro papel da escola é valorizar os sujeitos
e seus parâmetros históricos e culturais, permitindo que através do processo ensino-
aprendizado entre si e com os educadores haja construção de novos conhecimentos e o
desenvolvimento de cidadãos dotados de consciência social. Essa função está
estabelecida no PPP, contudo ainda muito pouco perceptível na prática.
A escola está asfixiada pelas normas superiores que lhes traçam parâmetros impeditivos
de elaborar seu próprio trabalho, mantendo-a vinculada as normas gerais sem observância
de suas peculiaridades. A autogestão da escola, contemplada na legislação ainda não se
observa atuante, devido à necessidade que esta tem de adequar-se aquilo que o Estado
requer dela.
A educação deve proporcionar aos sujeitos os meios para se tornarem autônomos e para
que isso ocorra primeiro a escola precisa ter o direito e as condições para autogerir-
se. Autonomia do aluno segundo Kant:
Baseando-se nessa ideia de Kant, o sujeito precisa ser auxiliado para sair dessa
menoridade, ou seja, dependência, contudo para que esse processo desencadeie-se, é
necessário que a escola seja autônoma e proporcione autonomia aos seus educandos.
Para Freire (1983, p 32), essa busca incessante dos sujeitos pela liberdade é o que leva a
transformação e o alcance da autonomia. "A libertação a que não chegarão pelo acaso,
mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de
lutar por ela".
Observa-se que essa luta se desencadeia quando há a percepção por parte dos sujeitos da
sua importância como membros da comunidade escolar e isso em todos os âmbitos. A
libertação nesse caso diz respeito às capacidades dos sujeitos de ajudarem a construir um
ambiente escolar de qualidade, construindo conhecimentos e que se levem em conta as
visões de mundo proveniente de cada ser humano.
Sendo assim, para que haja a real aplicação desses princípios, os sujeitos necessitam de
conscientização da sua importância como membros ativos da escola, como atuantes e
participativos nas decisões e planejamentos da escola.
Conforme Paro (1997. p 16) “Democracia não se concede, se realiza.” Assim, aos atos
democráticos não se concede o direito de se impor algo a alguém, nesse pensamento pode-
se observar que a participação da comunidade escolar é fundamental e deve ocorrer de
forma espontânea.
Nesse sentido a escola precisa de meios para despertar sua comunidade escolar para essa
prática atuante e participativa, no qual o modelo já está elencado na legislação.
Assim, o gestor deve promover a interação dos sujeitos como base da autonomia da
escola, já que ela proporciona a dialogicidade, na qual se apontam as peculiaridades do
meio escolar, revelando suas qualidades e expondo suas precariedades. A partir disso, o
gestor terá condições de diagnosticar sua escola e promover atividades quer
proporcionem qualidade ao processo de ensino-aprendizagem.
Para isso observa-se a importância do envolvimento da comunidade com as causas da
escola, o que possibilita ao gestor oportunidade de conhecer suas dificuldades e
conjuntamente buscar os meios para dissolvê-los.
Na prática, o que se percebe é que as pessoas sentem-se bem na escola, e participam das
atividades promovidas pela mesma, contudo estão longe de ter uma participação ativa nas
decisões. Existe uma cultura de que é função da equipe diretiva organizar, controlar e
decidir as demandas escolares.
Nas falas que seguem, percebe-se a característica da escola (Diário de campo – Cachoeira
do Sul –RS outubro de 2014):
“Me sinto acolhido na escola, porque aqui tem gente bem mais
amiga”. (Aluno do 5º ano).
Percebe-se que os “bons olhos” com que os sujeitos enxergam a escola é fruto da boa
acolhida com que todos tem por parte dos funcionários da escola. Outra característica que
facilita a aproximação é o fato de seu entorno contar com a permanência de moradores
antigos, o que faz com que os filhos dos antigos alunos também sejam alunos. De acordo
com o exposto, Luckesi afirma:
Assim, as peculiaridades de cada escola estão diretamente ligadas ao seu entorno e aos
sujeitos que participam de suas ações pedagógicas. Por isso, a expressão dessas
peculiaridades vem através da dialogicidade dos diferentes setores, com suas percepções
e compreensões sobre o processo escolar e as possíveis formas de melhoramentos.
A citação a seguir expressa as necessidades observadas por um aluno, que não chegam ao
conhecimento da equipe diretiva por não haver momentos de diálogo entre todos os
membros da escola (Diário de campo – Cachoeira do Sul –RS outubro de 2014).
Essa fala expressa reivindicações simples que poderiam ser facilmente alcançadas, se
houvesse a oportunidade de tais sujeitos expressarem-se perante os membros da gestão
escolar.
Um entrave que se observa para esse diálogo comum entre todos os participantes da
escola é que os professores estão com muitas atividades, trabalhando em diversas escolas,
para cumprirem uma carga horária maior e obterem um salário mais adequado.
A citação que segue demonstra a preocupação com a falta de identidade dos professores
com a escola (Diário de campo – Cachoeira do Sul –RS outubro de 2014).
Essa prática prejudica a autonomia da escola, tendo em vista que, nesse caso, não há
identidade dos professores com o restante da comunidade escolar. Isso prejudica a
participação efetiva dos mesmos nas ações decisórias da escola, não há um envolvimento
genuíno e sim apenas o cumprimento de carga horária.
Nessa lógica, o que se observa é que a escola está perdendo sua autonomia também para
os direitos individuais. O extremismo como cada sujeito percebe somente os seus direitos,
em detrimento de seus deveres, está tendo um reflexo negativo dentro da escola. A escola
tem obrigação de manter o aluno frequente sob pena de ser advertida pelos órgãos
superiores, contudo como relata a secretária da escola, os próprios alunos e pais não estão
preocupados com a escola. (Diário de campo – Cachoeira do Sul –RS outubro de 2014).
Assim, a escola precisa ter cautela nas correções e exigências de cumprimento de deveres
já que os mesmos estão esquecidos. Esse prejuízo também ocorre por que a família que
tem o papel de educar e ensinar valores as suas crianças e adolescentes está passando esta
responsabilidade para a escola.
Conforme relato de uma professora aposentada que atua como vice-diretora (Diário de
campo – Cachoeira do Sul –RS outubro de 2014).
“Tem muito assistencialismo, além dos conhecimentos, a família
transmitiu para a escola toda a educação das crianças, os valores e tudo”.
(Professora aposentada e vice-diretora).
Nesse sentido, Paro (1997) contempla o interesse que precisa ser evidenciado e buscado
pela comunidade, junto à escola.
Assim para que a escola seja democrática é necessário que de fato a Gestão seja
Democrática e haja a descentralização da gestão, que o diretor seja um “organizador” do
processo, o qual conduz o sistema para que os sujeitos sejam contemplados da forma mais
qualitativa e o processo de ensino-aprendizagem seja efetivo.
3. CONCLUSÃO
Os três fundamentos para que uma gestão aconteça de forma democrática são: autonomia,
dialogicidade e participação. Essas permitem que cada sujeito encontre sua função na
escola, e dessa forma qualifique suas ações.
Assim, quando o gestor cria meios para alcançar a comunidade escolar, ele beneficia-se
com o apoio desses e a distribuição de tarefas torna a escola mais produtiva e qualificada
para atender as diferentes necessidades.
O texto traz reflexões sobre Gestão Democrática, como ela está estabelecida na forma
legal e como ela ocorre na prática. Isso levando em consideração as peculiaridades da
escola parceira, reveladas pelos seus sujeitos. A partir das reflexões, almeja-se que possa
haver estratégias geradoras de transformações.
Essas transformações estão ligadas à necessidade de que toda a comunidade escolar tome
conhecimento das etapas do processo escolar. Isso para a compreensão da importância de
cada etapa e o quanto todos os envolvidos precisam ter o mesmo foco na potencialização
do processo de ensino-aprendizagem.
Nota-se que a valorização desses sujeitos se dá à medida que eles percebem que suas
ideias e reivindicações são levadas em consideração pela equipe diretiva da escola. Sendo
assim, para que a gestão seja democrática são necessárias atividades que permitam aos
diferentes sujeitos exporem suas ideias, debaterem suas ações e pensarem juntos no que
é melhor para a escola.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 12ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1983.
PARO. Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 1997.
[5] Lei 10.576 de Novembro de 1995. Dispõe sobre a Gestão Democrática do Ensino
Público e dá outras providências.
[6] Lei 9.394 de Dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.