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Um clássico, no fim das contas, talvez seja isso: uma obra capaz de tocar os
corações e as mentes de homens e mulheres de diferentes épocas, com diferentes
culturas e configurações existenciais. Não só tocá-los, mas trazer-lhes um senso de
orientação, aproximar-lhes do sentido da vida. Como é possível que um clássico
ultrapasse as barreiras do tempo e das culturas e continue dizendo algo que importa? A
razão disso, a meu ver, é que o clássico transmite algo de universal. Mas talvez
transmitir não seja a palavra mais exata; um clássico desperta a lei íntima que está
inscrita no coração de todo homem, desde o princípio dos tempos. É por isso que, à luz
dos clássicos, eu me reconecto mais a mim mesmo, eu des-cubro minha intimidade;
também é por isso que, à luz dos clássicos, os homens reconhecem-se uns aos outros,
pois contemplam realidade comum: os valores fundamentais, alicerces de sua
humanidade. Por essa razão, os clássicos chegaram até aqui: comoveram e despertaram
nossos antepassados ao ponto de serem preservados como tesouros. Trouxeram, e
continuam trazendo, “a palavra essencial no tempo”.
Além do mais, a maioria dos clássicos foi escrito por pessoas já mortas. Por um
lado isso é fúnebre, por outro é uma possibilidade fascinante: ler os clássicos é
conversar com mortos! Na medida em que respondo àquilo que leio, estou conversando
com o texto; na medida em que o autor do texto já está morto, estou conversando com
mortos! Dos mortos que venho conversando, Platão é um dos meus favoritos. Afinal de
contas, ele me apresentou Sócrates.
Em relação à burrice perante a existência, Platão não traz afagos: ela é incurável. A
ignorância humana é incurável. Contudo, é possível adotar duas atitudes. Reconhecer ou
não essa ignorância. É possível permanecer um ignorante, sem aguniar-se muito com
isso. É possível adotar a atitude do filósofo, amar a Sabedoria ( aqui podemos lembrar
de Pitágoras, a sabedoria é um atributo do Ser Supremo, Deus). e as três dimensões na
qual ela se apresenta: a Beleza, a Bondade e a Justiça. Assim que adota a atitude de
amante da sabedoria, o filósofo estará a caça dos sinais (esses sinais do Ser desse Ser
Supremo, estará a caça dos sinais da Beleza.
Aplicação
A partir dessa dualidade, a ascensão pode ser compreendida: ela é o liame entre
o patamar inferior e o superior, os limites materiais e o Sol espiritual, o mentiroso e o
autêntico. A ascensão pode ser entendida como o sacrifício do ego-farsante, em busca
de acessar o eu-verdadeiro. Os degraus da escada são porções suportáveis de esforço, ou
seja, porções suportáveis de sacrifício.
Negação essa que ganha o caráter de sacrifício, pois o filósofo abre mão,
voluntariamente, de uma vida superior e aceita viver uma vida inferior. Aliás, é
precisamente por esse motivo, isto é, por conhecerem uma realidade infinitamente
superior àquela da caverna, com suas riquezas materiais e suas intrigas políticas, que
o filósofo será capaz de bem administrar a pólis. Pois o filósofo irá ao serviço
público, tendo sacrificado uma vida superior (i.e. a vida contemplativa), com o
espírito de serviço e doação abnegada. Por essa razão é que Sócrates diz:
Topo-logia filosófica
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Rep., 520 e – 521 a.