Sei sulla pagina 1di 19

HANNIGAN, John A. Sociologia ambiental: a formação de uma perspectiva social.

Lisboa, Instituto
Piaget, 1997. [cap. 2, 4, 5 e 10].

John A. Hannigan

SOCIOLOGIA AMBIENTAL: A FORMAÇÃO DE UMA PERSPECTIVA SOCIAL

Capítulo 2

A construção social dos problemas ambientais

A abordagem construcionista dos problemas ambientais tem múltiplas origens, mas é melhor
compreendida se voltarmos ao início dos anos 1970 quando explicações convencionais para a existência dos
problemas sociais foram seriamente afrontados pela primeira vez.

Formulação dos problemas sociais

Há perto de um século, a sociologia dos problemas sociais começou a passar por um conflito
paradigmático fundamental com a aparição de um artigo seminal, de Malcolm Spector e John Kitsuse (1973)
intitulado «Social Problems: a reformulation». Aqui, e no livro subsequente (1977), Spector e Kitsuse
desafiavam, a abordagem «estruturalmente funcional» aos problemas sociais que até então tinham dominado
a área. O funcionalismo, tal como foi exemplificado pelo trabalho de Merton e Nisbet (1971), tomou por
certa a existência de problemas sociais (crime, divórcio, doenças mentais), os quais eram produtos directos
das condições objectivas prontamente identificáveis, distintas e visíveis. Os sociólogos eram vistos como
peritos que empregam métodos científicos para localizar e analisar estas violações morais e aconselhar os
fonnuladores de políticas na melhor forma de enfrentar a situação. Além disso, o papel dos sociólogos era
suscitar ao público leigo uma consciencialização e compreensão das condições preocupantes, especialmente
onde estas não eram prontamente evidentes (Gustfield 1984: 39).


47↑

Spector e Kitsuse argumentam que os problemas sociais não são condições estáticas, mas
«seqüências de acotecimentos» que se desenvolvem com base nas definições coletivas. Em conformidade
com esta teoria eles definiram os problemas sociais como «as atividades de grupos que fazem asserções de
agravos e reivindicações às organizações, agências e instituições sobre algumas condições aceitáveis» (1973:
146). Deste ponto de vista o processo de criação de exigências é tratado como mais importante, do que a
tarefa de avaliar se as estatísticas destas exigências são verdadeiramente válidas ou não. Por exemplo, em
vez de documentar o aumento do nível de criminalidade, o analista dos problemas sociais é impelido a
centrar-se na forma como este problema é «gerado e sustentado pelas acívidades de gupos de reclamação e
respostas institucionais a elas» (1973: 158).
Desde 1973 que a formulação social se tem direcionado cada vez mais no sentido do âmago da
teorização dos problemas sociais gerando uma massa crítica de contribuições teóricas e empíricas (ver
especialmente Best 1989a; Cusfield 1981; Holstein e Miller 1993; Loseke 1992; Schneider 1985; Schneider
e Kitsuse 1984). A formulação tem igualmente ganho atualidade noutras áreas de especialização curricuIar,
nomeadamente na ciência e tecnologia (Knorr-Cetina 1983: Latour e Woolgar 1986; Pinch e Bijker 1987),
relações de género (Laws e Schwartz 1977; Mackie 1987) e os estudos da comunicação social (Altheide
1976; Fishman 1980; Schlesinger 1978). Em cada caso, o que uma análise construcionista tem em comum é
uma preocupação com a forma como as pessoas determinam o significado do seu mundo (Best 1989b: 252).

Controvérsias

Apesar de a abordagem social construcionista ter transformado e revitalizado a sociologia dos


problemas sociais, não tem sido imune a controvérsias. Um debate central na análise construcionista diz
respeito à natureza relativa ou contingente dos problemas sociais. Os analistas dos problemas sociais avisam
que a construção corre o risco de negar a existência danosa de problemas graves da «vida real» - uma
acusação que está, de forma semelhante, ao nível da perspectiva social construcionista sobre o ambiente.
Fazem-no, reclamam eles, sujeitando estas condições aos caprichos da definição social. No outro lado do
espectro, outros críticos atribuem as tarefas dos construcionistas aos fracassos em abandonar integralmente
os resíduos objetivos da teoria funcionalista. De forma mais proeminente,

48

Woolgar e Pawluch (1985) acusam o construtivismo de se empenhar na estratégia do «enredo ontológico».


Querem eles dizer com isto que os autores construcionistas continuam a identificar arbitrariamente as
condições problemáticas ou comportamentos válidos para estudo, ao mesmo tempo que relativizam as
definições e exigências feitas sobre elas. Tipicamente, uma condição, como a da utilização de heroína, é
tratada como objetivamente real e constante ao longo do tempo, enquanto que a avaliação social deste estado
como problemático ou não varia de era para era. Segundo Woolgar e Pawluch isto é internamente
inconsistente, visto que faz a distinção entre um conjunto de estados fixos, tal como são identificados pelo
analista de problemas sociais, e um conjunto de estados contextuais que mudam, tal como é proposto pelos
participantes nos problemas sociais.
Os construcionistas sociais responderam a esta acusação de enredo ontológico de diversas formas.
Os «construcionistas rigorosos» mantêm a teoria de que temos de estar vigilantes ao fazer quaisquer
afirmações sobre as condições sociais. Em vez disso, defendem que adoptemos a perspectiva
etnometodológica, por forma a descobrir novas formas de escrever os textos da formulação social, os quais
se centram inteiramente na interpretação e práticas dos participantes no problema da construção social. Por
outro lado, os construcionistas contextuais argumentam que qualquer afirmação pode ser avaliada com base
na dura evidência de, por exemplo, estatísticas oficiais, ou questionários da opinião pública (Best 1989b:
247), mesmo que sejam, em si próprios, construções sociais. Por exemplo, Best (1993: 139) sugere que o
analista dos problemas sociais pode razoavelmente duvidar das reclamações relativas ao facto de os
satânicos sacrificarem 60000 vítimas anualmente enquanto aceitam números fornecidos pelos Centros para o
Controlo de Doenças para os números de vítimas americanas da SIDA. O investigador é particularmente
encorajado a ter em consideração o complexo histórico no âmbito dos quais as reclamações dos problemas
sociais foram formuladas, por forma a explicar o surgimento e avaliar a validade da sua reclamação (Rafter
1992).
A formulação social foi igualmente dividida em termos da utilidade da «história natural» dos
problemas sociais. A formulação original de Spector e Kitsuse continha quatro fases para o modelo de
história natural, no qual a criação das exigências vai desde as tentativas para transformar os problemas
privados em questões públicas através do reconhecimento oficial, a insatisfação com a forma como

49

as organizações burocráticas estão a lidar com as condições atribuídas, e finalmente, o desenvolvimento de


instituições paralelas ou as contra-instituições alternativas para procurar radicalmente as novas soluções para
os problemas percepcionados. Contudo, tal como Schneider (1985: 225) realçou, este tipo de modelo de
história natural encoraja-nos a exagerar a extensão dos tipos de atividades que ocorrem apenas em certas
fases no processo de criação das exigências. De fato, as fases propostas por Spector e Kitsuse tendem a
sobrepor (1981), em vez de seguir uma sucessão ordenada. Hilgartner e Bosk (1988) argumentam que é
agora tempo de ir para além dos modelos de história natural e propor um modelo de alternativa ecológica em
que a população dos potenciais problemas sociais compete pela atenção social no âmbito das áreas públicas.

Construcionismo como ferramenta analítica.

Best (1989b: 250) realçou que o constiucionismo não é apenas útil como uma posição teórica, mas
poderá ser igualmente útil como uma ferramenta analítica. A este respeito, ele sugere três focos para o
estudo dos problemas sociais a partir de uma perspectiva construcionista: as próprias exigências; os
formuladores das exigências e o processo de criação das exigências.
Natureza das Exigências

Tal como foi inicialmente conceptualizado por Spector e Kitsuse, as exigências foram exigências em
relação às condições sociais que os membros do grupo entenderam como ofensivo e indesejável. Segundo
Best (1989b: 250), existem várias questões a ser consideradas quando se analisa o conteúdo da exigência: O
que é dito sobre o problema? Como é que o problema está a ser tipificado? Qual é a retórica da criação das
exigências e como é que as exigências são apresentadas por forma a persuadir o seu público? Destas, foi a
terceira questão a que gerou mais interesse entre os analistas contemporâneos dos problemas sociais.
Utilizando o exemplo das «crianças desaparecidas», isto é das fugas, arrebatamento e rapto por
estranhos, Best (1987) analisa o conteúdo das exigências dos problemas sociais centrando-se na retórica da
criação das exigências. A retórica implica a utilização deliberada

50

da linguagem, por forma a persuadir. As afirmações retóricas contêm três componentes principais ou
categorias de afirmações: bases, garantias e conclusões.
As bases, ou dados, fornecem os fatos básicos que moldam o discurso subsequente da criação de
exigências. Existem três tipos principais de afirmações de base: definições, exemplos e estimativas
numéricas. As definições estabelecem as fronteiras ou domínio do problema, e dão-lhe orientação; isto é, um
guia da forma como a interpretamos. Os exemplos tornam mais fácil para os corpos públicos identificarem-
se com as pessoas afetadas pelo problema, especialmente quando se vêem a si próprias como vítimas
indefesas. As histórias de atrocidades são um tipo de exemplo particularmente efetivo. Através da estimativa
da magnitude do problema, os formuladores ele exigências estabelecem a sua importância, o seu potencial
para o crescimento e o seu alcance (muitas vezes de proporções epidémicas).
As garantias são justificações para exigir que seja levada a cabo uma ação. Estas podem incluir a
apresentação da vítima como inocente, realçando ligações com o passado histórico ou ligando as exigências
a direitos básicos e liberdades. Por exemplo, ao analisar a literatura profissional sobre o «abuso de idosos»,
Baumann (1989) identificou seis garantias primárias:

1) Os idosos são dependentes;


2) Os idosos são vulneráveis;
3) O abuso põe em perigo a vida;
4) Os idosos são incompetentes;
5) O envelhecimento provoca strees nas famílias;
6) O abuso dos idosos indica, muitas vezes, outros problemas familiares.

As conclusões tornam clara a ação que é necessária para aliviar ou erradicar um problema social. Isto
envolve frequentemente a formulação de novas políticas sociais de controle por instituições burocráticas
existentes ou a criação de novas agências para levar a cabo estas políticas.
Best propõe posteriormente dois temas retóricos ou tácticas que variam segundo a natureza do público
alvo. A retidão retórica (valores ou moralidade requerem que o problema receba atenção) é mais eficaz no
seu início numa campanha de criação de exigências em que os públicos são mais polarizados, os ativistas
têm menos experiência e a procura primária é um problema para ser visto de uma nova forma. Pelo
contrário, a retórica da racionalidode (ratificar uma exigência

51

dará ao público algum tipo de benefícios) funciona melhor nas últimas fases da construção dos problemas
sociais quando os formuladores de exigências são mais sofisticadas, quando a procura primária destina-se às
agendas políticas e os públicos são mais facilmente persuadidos. Rafter (1992: 27) juntou outra tática
retórica à lista de Best: a da formação do arquétipo. Os arquétipos são os modelos a partir dos quais os
estereótipos são inventados e têm, portanto, um poder persuasivo considerável como parte da campanha de
criação das exigências 1.
Um conjunto posterior de estratégias retóricas na criação das exigências foi proposto por Ibarra e
Kitsuse (1993) que esboçaram uma variedade de idiomas retóricos, motivos e estilos de criação de
exigências.
Os idiomas retóricas são grupos de imagens que oferecem à exigências um significado moral. Eles
incluem uma «retórica da perda» (da inocência, natureza, cultura, etc.); uma «retórica da insensatez» que
invoca imagens de manipulação e conspiração; uma «retórica da calamidade» (num mundo cheio de
condições deteriorantes, proporções epidêmicas são reclamadas por alguns; por exemplo, a SIDA ou o efeito
de estufa): uma «retórica de titularidade» (justiça e Jair play exigem que a condição, ou como Ibarra e
Kitsuse o designam, a «categoria-condição», seja reformulada), e a «retórica do perigo» (categorias-
condição põem riscos intoleráveis à saúde e segurança pessoais).
Os motivos retóricos são metáforas atuais e outras figuras de estilo (a SIDA como uma «praga», a
destruição da camada de ozono como uma «bomba relógio») que realçam algum aspecto de um problema
social e o impregnam de significado moral. Alguns motivos referem-se aos agentes morais, outros a práticas
e outros ainda a magnitudes (Ibarra e Kitsuse 1993: 47).
Os estilos de criação das exigências referem-se à forma de uma exigência, para que esteja em
sincronia com o público pretendido (corpos públicos, burocratas, etc.). Exemplos dos estilos de criação das
exigências incluem um estilo científico, um estilo cômico, um estilo teatral, um estilo cívico, um estilo legal
e um estilo subcultural. Os formuladores de exigências deverão combinar um estilo certo para a situação e
públicos certos.

Formuladores de exigências

Ao olhar para a identidade dos formuladores de exigências, Best (1989: 250) aconselha que
levantemos algumas questões. Os formuladores

1 Ibarra e Kitsuse (1993) realçam igualmente um conjunto de «estratégias anti-retóricas» que têm por objectivo bloquear as
tentativas dos reivindicadores pflra construir um problema e ou exigências de acção.

52

de exigências estão filiados em organizações específicas, movimentos sociais, profissões ou grupos de


interesse? Eles representam os seus próprios interesses ou de terceiros? Eles têm experiência ou são novatos
(como vimos, isto pode influenciar a escolha de tácticas retóricas)?
Muitos estudos que foram levados a cabo no modo de formulação social apontaram para a
importância do papel desempenhado pelos profissionais de medicina e cientistas na construção das
exigências dos problemas sociais. Outros observaram a importância das políticas e dos «empresários de
questões» - políticos, firmas de advocacia de interesse público, funcionários públicos cujas carreiras
dependem da criação de novas oportunidades, programas e fontes de financiamento, etc. Os formuladores de
exigências podem também estar presentes nos meios de comunicação social, especialmente visto que a
criação de notícias depende dos jornalistas, editores e produtores que encontram constantemente novas
tendências, formas e questões. O elenco dos formuladores de exigência que se combinam para promover um
problema social podem, por vezes, ser muito diversificados. Por exemplo, Kitsuse et al. (1984) identificam
três categorias principais de formuladores de exigências na identificação do problema de kikokushijo no
Japão, isto é, a vantagem educacional das crianças japonesas em idade escolar cujos pais as levaram para o
estrangeiro por fazerem parte de uma empresa ou do corpo diplomático: funcionários em agências
governamentais influentes e prestigiosas; grupos informalmente organizados de esposas de diplomatas ou
empresários; e o «meta» - um grupo de apoio de jovens adultos que foram vítimas da experiência do
kikokushijo.

Processo de criação de exigências

Wiener (1981) representou a definição coletiva dos problemas sociais como uma interação com
retrocesso entre os três subprocessos: animação do problema (estabelecimento de direitos territoriais,
desenvolvimento de eleitorados, limitação dos conselhos e revelação de capacidades e informação);
legitimação do problema (usar o conhecimento e prestígio de outrem, redefinir a sua abrangência por
exemplo, de uma questão moral, para uma questão legal, construir o respeito, manter uma identidade
separada); e demonstração do problema (competir pela atenção, combinar-se pela força, isto é,
estabelecendo alianças com outros formuladores de exigências, seleccionar dados

53

de apoio, convencer ideologias opostas, alargar as fronteiras da responsabilidade). Estas são sobreposições,
em vez de processos sequenciais que em conjunto resultam numa arena pública construída à volta dos
problemas sociais.
Hilgartner e Bosk (1988) identificaram estas arenas do discurso público como um excelente local
para a avaliação das definições dos problemas sociais. Contudo, em vez de examinar as fases do
desenvolvimento do problema, eles propõem um modelo que realça a competição entre potenciais problemas
sociais que requerem atenção, legitimidade e recursos sociais. Diz-se que os formuladores das exigências ou
«operadores» adaptam deliberadamente as suas exigências para os problemas sociais, por forma a que estes
se encaixem nos seus ambientes alvo; por exemplo, através da reunião das suas exigências num romance,
sob uma forma sucinta e dramática ou através da estruturação das exigências numa retórica politicamente
aceitável.
Best (1989b: 251) levanta um número de questões úteis sobre o processo de criação das exigências.
A quem é que os formuladores das exigências se dirigem? «Os outros formuladores de exigências
apresentaram exigências rivais?» Que preocupações e interesses é que o público dos formuladores de
exigências levantaram, e como é que moldaram as respostas dos públicos às exigências? Como é que a
natureza das exigências ou a identidade dos formuladores de exigências afetam a respostas dos públicos?

O Construcionismo Social e o Ambiente

Tal como observámos, os problemas ambientais são semelhante, em muítos formas, aos probemas
social em geral. Existem, contudo, algumas diferenças importantes, enquanto os problemas sociais passam
de um discurso médico para as áreas do discurso e ação públicas (Rittenhouse 1991: 412), eles, contudo, têm
como origem de muito do seu poder retórico os argumentos morais, em vez dos factuais. Por exemplo, a
recente elevação da «violação num encontro» ao estatuto de problema social deve-se provavelmente mais à
mudança da paisagem das relações entre sexos, do que à evidência científica que sugere um súbito impulso
na incidência desta condição. Pelo contrário, os problemas ambientais, como o envenenamento por
pesticidas ou o aquecimento global, enquanto moralmente condenados, são ligados mais diretamente as
descobertas e exigencias científicas (Yearley 1992: 117).

54

Além disso, embora eles sejam identificados com agentes humanos os problemas têm uma base física
mais impositiva do que os problemas sociais gue estão mais enraizados nos problemas sociais que se
converteram em questões públicas (Mills 1959).
Apesar de o ambiente nunca ter tido grande interesse para os investigadores sociais, recebeu alguma
atenção limitada, primeiramente nos textos de estudantes universitários sobre os problemas sociais.2 Quase
de modo uniforme, os problemas ambientais são representados como reais, identificáveis e intrinsecamente
danosos. Num texto do início dos anos 1980, os autores denominam inclusivamente uma seção do seu
capítulo ambiental «Dimensões objetivas do problema» e prosseguem discutindo a «extensão» da poluição
do ar, água e pesticidas (Wright e Weiss 1980). Um segundo texto dos problemas sociais, publicado no
mesmo ano, estrutura o seu capítulo no «Ambiente», em torno de quatro questões: Qual é a causa da crise
ambiental? Quais são os efeitos da poluição a longo prazo? Como é que podemos lidar com a diminuição
crescente dos recursos? Poder-se-á evitar um desastre ecológico? Os autores, referem-se aos sociólogos
americanos James Coleman e Donald Cressey, ilustram resumidamente a definição construtivista de um
problema social realçando que a «poluição não se tornou um problema social, até os ativistas ambientais
serem capazes de convencer outros a preocuparem-se com as condições que existiram na realidade durante
algum tempo». Contudo, eles enfraqueceram este princípio interrogando-se: «Se milhares de pessoas não
sabiam que estavam a ser envenenadas pela fuga de radiação de uma central nuclear, a poluição pela
radiação seria ainda um problema social?» (1980: 3-4).
Um dos poucos textos sobre os problemas sociais que tentou deliberadamente formular uma
perspectiva conctrucionista foi o livro de Armand Mauss de 1975, Social Problems as Social Movements.
Num capítulo, com a colaboração do sociólogo Stan Albrecht, Mauss lida brevemente com tópicos como
«definições culturais do meio ambiente» e «interesses políticos e científicos e públicos», embora grande
parte do resto do capítulo seja dedicado a uma história do movimento ambiental americano.

2 Um exemplo recente e notável disto é o capítulo de Riley Dunlap intitulado «Dos problemas ambientais aos problemas
ecológicos» in Calhoun e Ritzer (1993). Contudo, tal como foi discutido no capítulo 1, a análise de Dunlap tem as suas raízes
numa abordagem «ecológica» normativa dos problemas ambientais.

55

Enquanto os autores construtivistas sociais contemporâneos utilizam, por vezes, exemplos que se
relacionam com as questões e problemas ambientais (cf Ibarra e Kitsuse 1993), nenhum dos problemas
sociais principais editados que os leitores levaram a cabo a partir desta perspectiva incluem um artigo sobre
os problemas ambíentais. Em vez disso, o ímpeto para uma perspectiva social construcionista sobre o meio
ambiente tem, em grande parte, a sua origem na própria sociologia 3.
Diversos autores de renome neste campo apelaram para o desenvolvimento de um modelo
construcíonista que poderia ajudar a guiar futuras investigações para a criação e legitimação do
conhecimento e riscos ambientais, Freudenburg e Pastor realçaram uma perspectiva conceptual que incide
sobre a estrutura dos debates sobre os riscos, levados a cabo pelos atores institucíonaís. A sua «construção
social dos conflitos de risco» é justificada com base no fato de «criar riscos para a Sociologia, em vez de o
inverso, realçando em vez de esconder as lutas políticas e discursivas inseridas nos riscos tecnológicos»
(1992: 398). Numa linha semelhante, Buttel e Taylor argumentaram que a sociologia ambiental deve dar
mais atenção à construção social do conhecimento ambiental. A construção global das questões ambientais
é, argumentam eles, tanto ou mais uma questão de construção social e políticas de conhecimento da
produção, visto tratar-se de uma reflexão direta da realidade biofísica» (1992: 214). Um terceiro autor que
utiliza explicitamente um modelo construtivista é Stella Capek. Capek (1993) utiliza uma variedade de
fontes, desde a literatura sobre o movimento social e os problemas sociais incluindo Best, Gusfield e Spector
e Kitsuse para explicar a emergência de uma estrutura de «justiça ambiental» e o seu poder mobilizador nas
lutas comunitárias contra a contaminação tóxica no Sul dos Estados Unidos. Finalmente, Steven Yearley
(1992) que também utilizou os pensamentos de Spector e Kitsuse, examinou o «caso dos verdes», isto é, o
aumento da consciência ambiental e a sua ação ao longo dos dois últimos decénios, a partir de uma
perspectiva de empreendimento moral e de criação de exigências.
Empiricamente, o papel central das atividades de criação de exigências para moldar as agendas
ambientais, avaliações e políticas têm sido examinadas em análises de contaminações químicas

3 Isto inclui a «Sociologia do risco» com sobreposições significativas, mas não é contíguo com a sociologia ambiental (ver
Freudenburge Pastor 1992; Covello e Johnson 1987; Short 1992).

56

(Aronoff e Gunter 1992), mudança climática global (Hart e Victor 1993; Ungar 1992), cobertura dos meios
de comunicação social das questões ambientais e conflitos (Burgess e Harrisson 1993; Hansen 1991; Mazur
e Lee 1993; Schoenfeld ct aI. 1979) e as questões relacionadas com o risco e a segurança ( Spencer e Triche
1994; Stallings 1990).
Se a perspectiva social construcionista for compatível com qualquer outra abordagem do meio
ambiente, é provavelmente a da economia política. Tal como será observado de forma diversificada nas
próximas páginas, a forma como o conhecimento e risco ambientais são concetualizados e o relativo êxito
destas construções, são impelidas e canalizadas para as estruturas existentes do poder econômico e político.
Contudo, a economia política por si só não é suficiente para explicar os passos da carreira dos problemas
ambientais. A percepção é mais do que simplesmente uma função de poder; depende de um grande número
de outros fatores que se relacionam com a cultura e o conhecimento. É importante, portanto, abordar a
questão de Benton e Redclift:

Quais são os processos de comunicação, processamento discursivo, orientação normativa, «empreendimento


moral» através dos quais os antagonismos do debate ambiental são formados e transformados? (1994: 9)

Tarefas/processos fundamentais

Ao definir os problemas ambientais, despertando a atenção da sociedade e levando à ação, os


formuladores de exigências deverão empenhar-se numa variedade de atividades. Algumas destas atividades
dizem centralmente respeito à definição coletiva dos problemas potenciais, outras à ação coletiva necessária
para os minorar (Cracknell 1993:4). Isto não significa que os elementos da definição e ação não se inter-
relacionem constantemente. Contudo, os problemas ambientais seguem uma certa ordem temporal de
desenvolvimento, visto que progridem desde a descoberta inicial até à política de implementação.
Nesta seção do capítulo identifico três tarefas principais que caracterizam a construção dos
problemas ambientais. Ao fazer isso, utilizei dois modelos: os três processos de Carolyn Wiener (1981)

57

através dos quaís é construída uma área pública em torno de um problema social, e as três tarefas de William
Solesbury (1976) que são necessárias a uma questão ambiental para originar, desenvolver-se e crescer
poderosamente no âmbito do sistema político.
Tal como já foi observado anteriormente neste capítulo, no seu livro The Politics of Alcoholism,
Wiener representou a definição coletiva de problemas sociais como uma interação de retrocesso entre estes
três processos: animação, legitimização e demonstração do problema. Estes são apresentados como
sobrepostos, em vez de um processo sequencial; isto é, eles interagem um com o outro, em vez de operarem
independentemente.
O esquema de Solesbury está mais preocupado com o destino político das preocupações ambientais.
Ele observa que a «mudança contínua na agenda das questões ambientais», a qual pode ser parcialmente
justificada pelas mudanças na agenda do Estado do próprio meio ambiente (ver Ungar 1992) e parcialmente
através da mudança das visões do público em relação aos assuntos que são importantes e aos que não são.
Todas as questões ambientais, afirma ele devem passar por testes separados: liderar a atenção, exigir
legitimidade e apelar para a ação. Tal como Wiener, Solesbury afirma que estas tarefas devem ser realiza as
simultaneamente sem nenhuma ordem em particular (Cracknell 1993:5), embora fosse presumivelmente
difícil apelar para as mudanças de política antes de o problema ser reconhecido e legitimado.
Ao considerar a formulação social dos problemas ambientais, é impossível identificar três tarefas
fundamentais: reunião, apresentação e constestação das exigências (quadro 1, página 42)

Junção das exigências ambientais

A tarefa de reunir as exigências ambientais diz respeito à descoberta inicial e elaboração de um


problema inicial. Nesta fase, é necessário envolver-se numa variedade de atividades específicas: designar o
problema, distingui-Io em relação a outros problemas semelhantes ou mais abrangentes, determinar a base
legal, moral ou técnica de uma exigência e estimar quem é responsável por levar a cabo uma ação de
melhoria.
Os problemas ambientais são frequentemente originados no mínimo da ciência. Uma das razões para
isto e o fato das pessoas comuns não terem nem o conhecimento, nem os recursos para encontrar novos
problemas. Por exemplo, o conhecimento sobre a camada

58
de ozono não está ligado à nossa experiência diária; fica apenas disponível através da utilização das
investigações da alta tecnologia numa atmosfera acima das regiões polares (Yearley 1992: 116).
Alguns problemas, contudo, relacionam-se muito mais de perto com as nossas experiências de vida.
A preocupação com os resíduos tóxicos começa, muitas vezes, junto dos cidadãos locais que esboçaram uma
ligação causal entre a infiltração das lixeiras e um aumento da incidência de leucemia, abortos, defeitos de
nascimento e outros problemas. Isto foi o que aconteceu nas Cataratas do Niagara, no estado de Nova Iorque
onde Lois Gibbs e os seus vizinhos foram os primeiros a associar os seus problemas de saúde relacionados
com os resíduos químicos enterrados há trinta anos no abandonado Love Canal. Aqueles cujos trabalhos ou
objetivos os colocaram em contado próximo com a natureza diariamente (agricultores, funcionários que
trabalham com a vida selvagem) podem igualmente constituir a fonte inicial das exigências devido ao fato de
recolherem cedo os sinais ambientais de aviso, tais como os problemas reprodutivos no gado ou as mutações
no peixe. A chuva ácida surge pela primeira vez como um problema ambiental contemporâneo quando um
inspector das pescas numa área remota da Suécia telefonou para o investigador Svante Oden fazendo a
observação de que parecia haver uma ligação entre a subida da incidência de peixes mortos e um aumento na
acidez dos lagos e rios da área.
O conhecimento prático sobre o meio ambiente tem, muitas vezes, origem na experiência do
quotidiano dos aldeãos, pequenos agricultores nas sociedades do Sul. Sir Albert Howard, muitas vezes visto
como criador da agricultura orgânica, esboçou muitas das suas ideias a partir da consulta de camponeses
agricultores na Índia, a quem ele chamava os seus «catedráticos» (Howard 1953: 22), uma estratégia que foi
considerada revolucionária no contexto da administração colonial britânica. Mais recentemente, os ativistas
provenientes do povo nos países do Terceiro Mundo enfatizaram a importância do «conhecimento vulgar»
(Lindblom e Cohen 1979) que depende mais da observação perspicaz e do senso comum do que das técnicas
profissionais. Este conhecimento vulgar é acumulado nas redes do povo local através da respiração do ar,
beber água, lavrar o solo, colher as produções na floresta e pescar nos rios, lagos e oceanos (Breyman 1993:
131). De modo semelhante, os povos nativos nas sociedades do Norte acumulam conhecimento em primeira
mão sobre o meio ambiente que não poderá estar disponível para os

60

observadores não indígenas. Por exemplo, foi sugerido 4 que os biólogos que fazem a estimativa do efeito
dos megaprojetos sobre a ecologia dos rios no Norte do Canadá poderão omitir a existência de um número
de espécies de peixe simplesmente porque nunca se preocuparam em perguntar aos nativos residentes que
conhecem profundamente a terra (Richardson et al.·1993: 87).
Ao procurar as origens das exigências ambientais, é importante para o investigador perguntar de onde
é que vêm as exigências, a quem pertencem ou quem lida com elas, que interesses econômicos e políticos os
formuladores das exigências representam e que tipo de fontes elas trazem para o processo de criação das
exigências.
No início do movimento de conservação dos Estados Unidos, as exigências ambientais foram
apanágio de uma elite da costa Leste que utilizava uma rede de velhas amizades para assegurar o
financiamento e a ação política. Os amadores entusiásticos dominaram as direções dos jardins zoológicos, os
museus de história natural e outras instituições públicas a partir das quais foram capazes de dirigir
campanhas para salvar as sequélas, as aves migratórias, o bisonte americano e outras espécies e habitat em
perigo (Fox 1981). Da mesma forma, a ameaça aos pássaros britânicos, locais de vida selvagem e outros
elementos da natureza foram proclamados no final do século XIX e principio do século XX por um número
de grupos de conservação frequentados por membros de classe elevada (Evans 1992; Sheail 1976).
Contrastando com esta situação, é mais provável que os formuladores de exigências ambientais
atuais tornem a forma de movimentos sociais profissionais com pessoal administrativo e de investigação
pago. Programas de angariação de fundos fortes e sofisticados, ligações institucionalízadas em relação aos
meios de comunicação social e aos legisladores. Alguns grupos usam inclusivamente angariadores porta a
porta que são pagos à hora ou ganham uma percentagem das suas solicitações. As campanhas são planeadas
de antemão, muitas vezes de forma pseudomilitar. Não é encorajada a participação do povo para além do
«papel de membro» com controle centralizado nas mãos de um grupo central de ativistas a tempo inteiro. O
processo de reunião de uma cadeia de exigências
4 Isto foi sugerido nas audiências públicas sobre a proposta ela fábrica Alberta-Pacific de branqueamento ela pasta de papel por
Cindey Ciclay, dos Territórios do Nordeste, a única nativa (e mulher) presente no Alpac EIA Review Board (ver capítulo 5).

61

ambientais envolve, muitas vezes, uma divisão rude do trabalho. Enquanto existem excepções notáveis, os
cientistas que investigam estão normalmente limitados a uma combinação de advertências didáticas,
utilização excessiva do escalão técnico e inexperiêncía em lidar com os meios de comunicação social.
Consequentemente, uma descoberta importante pode permanecer incógnita durante decénios até ser
transformada numa exigência pelas organizações empresariais (Greenpeace, Friends of the Earth, Sierra
Club) ou individuais (Paul Ehrlich, Jeremy Rífkin). A atividade de formulação das exigências do
Greenpeace, por exemplo, não faz muito para ir para além da sua capacidade para construir problemas
ambientais inteiramente novos, mas para a partir do seu génio selecionar, estruturar e elaborar interpretações
científicas que teriam, de outra forma, passado despercebidas ou sido deliberadamente censuradas (Hansen
1993b: 171). Na verdade, a natureza da relação entre a comunicação social e os grupos de pressão ambiental
como o Greenpeace têm-se tornado suficientemente institucionalizada (Anderson 1993: 55), tornando-se
difícil para um problema emergente penetrar na área dos meios de comunicação social sem, pelo menos,
uma validação simbólica dos últimos. Na reunião de um problema ambiental nem todas as explicações são
criadas de igual forma. As exigências que permanecem com dificuldade em compreender os conceitos como
«entropia» têm muito menos possibilidades de se adaptar, do que aqueles que têm no seu núcleo construções
mais prontamente compreensíveis, por exemplo, «extinção» ou «excesso demográfico». Por vezes, a
explicação básica de uma exigência apenas se torna compreensível no contexto de uma «crise» política,
económica ou geográfica. Foi este o caso em 1973 quando a ação concertada da OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo), o cartel dos produtores de petróleo, criou uma crise de energia nas nações
industriais no Ocidente. De forma semelhante, o Verão anormalmente quente de 1988 deu ao problema do
aquecimento global um realce experimental visível.

Apresentação das exigências ambientais

Ao apresentar uma exigência ambiental os empresários têm um duplo formato: precisam liderar a
atenção e legitimar a sua exigência (Solesbury 1976). Enquanto não estiverem relacionadas, constituirão
duas tarefas bastante distintas. Como o modelo de Hilgartner e Bosk realça (1988), as áreas através das quais
os problemas sociais

62

vieram a ser definidos e transmitidos ao público são altamente competitivas. Para liderar a atenção, um
problema ambiental potencial deve ser visto como novidade, importante e compreensível - os mesmos
valores que caracterizam uma nova seleçâo em geral (Cans 1979). Um modo efetivo de liderar a atenção é
através da utilização pelos reivindicadores de figuras gráficas, verbalizações apelativas e figuras visuais.
Assim, a extrema redução da camada de ozono tornou-se muito mais «vendável» como problema ambiental
quando representada como um «buraco» que se expande; o entreterimento para crianças americana, Bill
Shontz, gravou inclusivamente uma canção de sucesso intitulada Buraco no Ozono. De forma semelhante, os
efeitos da chuva ácida foram dramatizados com êxito quando os ambientalistas alemães começaram a utilizar
o termo Waldsterben (morte das folhas da floresta). A linguagem visual pode ser especialmente poderosa em
levar a cabo esta tarefa. Por exemplo, os dados técnicos sobre o tamanho dos grupos de focas e dos stocks de
bacalhau perderam instantaneamente relevância quando Brian Davics e outros ativistas publicaram
fotografias, nos meios de comunicação social, de filhotes de focas a serem espancados até à morte nos
campos de gelo de Labrador. Não é invulgar, contudo, que estas imagens sejam expostas por forma a realçar
uma imagem central. Mazur e Lee (1993: 711) deram vários exemplos marcantes disto. As fotografias do
satélite da NASA da camada de ozono por cima da Antárctida tornaram-se um «logotipo» do problema,
transformou gradações contínuas na concentração real do ozono numa escala ordinal que é codificada com
cores, transmitindo a impressão errada de que um buraco discreto e identificável poderia na realidade estar
localizado na atmosfera por cima do Pólo Sul. Em Agosto de 1988, um artigo do New York Times sobre a
destruição da floresta tropical foi acompanhado por uma impressionante fotografia de satélite da Amazônia
em chamas e que foi criada por Alberto Setzer do Instituto Brasileiro de Investigação Espacial. A fotografia
mostrava o que pareciam ser cerca de 100.000 fogos; contudo, foi na realidade uma montagem de muitas
fotografias separadas e incluía fogos em áreas de crescimento da floresta secundária, assim como da floresta
virgem. As questões ambientais podem ser forçadas a tornarem-se proeminentes quando são exemplificadas
por acidentes particulares ou acontecimentos, por exemplo, os acidentes nucleares em Chernobyl e Three
Mile Island, o desastre químico de Bhopal, o naufrágio elos petroleiros Torreu Canyon e Exxon Valdez.
Acontecimentos dramáticos como estes são importantes porque ajudam à identificação política da natureza
de uma questão,

63

as situações a partir das quais surgem, as causas e os efeitos, a identidade das atividades e os grupos na
comunidade que estão envolvidos na questão (Solesbury 1976: 384-5). Staggenborg (1993) identificou seis
tipos principais de «acontecimentos críticos» que afec]tam os movimentos sociais como o movimento
ambiental. Os acontecimentos políticos e sócio-econômicos em larga escala como guerras, depressões e
eleições nacionais influenciam as oportunidades de ação coletiva devido à alteração da percepção das
queixas e às ameaças; por exemplo, a eleição do Presidente dos EUA Ronald Reagan, em 1980, conduziu ao
aumento dos membros em grupos ambientais 5, visto que aumentou o espectro da livre corrida empresarial
descontrolada nos parques nacionais e outros locais selvagens. Os desastres nacionais e as epidemias podem
representar um ponto de viragem no movimento, realçando as queixas e levando ao crescimento do
movimento. De forma semelhante, os acidentes nucleares e industriais podem ser potencialmente úteis no
movimento através da simples utilização de políticas e características da estrutura do poder que estão
normalmente escondidas; por exemplo, o poder das companhias de petróleo no derrame de petróleo em
Santa Bárbara (Molotch 1970). Encontros críticos envolvem interação frente a frente entre as autoridades e
outros actores dos movimentos centrando a sua atenção nas questões do movimento. Um exemplo recente
desta série de confrontações entre os protestantes e a polícia juntamente com o derrubada de árvores de
Clayoquot Sound na ilha de Vancôver. As iniciativas estratégicas são acontecimentos criados por ações
deliberadas levadas a cabo por apoiantes ou opositores dos movimentos avançados ou objetivos dos
contramovimentos. Os acontecimentos que tem lugar e são característicos das campanhas do Greenpeace são
disto exemplos, como a publicação de livros polêmicos como o de Paul Ehrlich The Population Bomb e o de
Jeremy Rifkin Befond Reef. Finalmente, os resultados das políticas são respostas oficiais à ação colectiva por
um movimento ou contramovimento - conjunturas críticas em que os movimentos são forçados a renegociar
as suas estratégias, táticas e objetivos em consequência das mudanças no ambiente político. A decisão da
administração de Roosevelt em 1914, de começar a construção da barragem de Hetch Hetch no Parque
Nacional de Yosemite, por forma a fornecer água ao oleoduto de São Francisco foi

5 O número total de membros das cerca de doze organizações ambientais nacionais nos EUA aumentou de quatro milhões em
1981 para, aproximadamente, sete milhões em 1988 (Bramble e Parker 1992: 317).

64

uma decisão desse géneto, visto que destruía qualquer possibilidade de uma aliança posterior entre a fonte
dos conservadores dos recursos representados por Gifford Pinchot e os preservaclores liderados por John
Muir. A discussão de Staggenborg dirigia-se primariamente às questões da mobilização e estratégias do
movimento social, mas a sua tipologia de acontecimentos é relevante para a representação das exigências
ambientais à medida que as organizações ambientais representam, muitas vezes, os formuladores primários
das exigências nesta fase da construção dos problemas ambientais. Claro que nem todos os acontecimentos
críticos são garantidos no sentido de gerar um problema de importância. Segundo Enloe (1975: 21), um
acontecimento dá origem a uma questão ambiental quando:

1) Estimula a atenção dos meios de comunicação social;


2) Envolve alguma arma do governo;
3) Exige uma decisão governamental;
4) Não é eliminado; pelo público como um fenômeno que acontece apenas uma vez; e
5) Relaciona-se com os interesse pessoais de um número significativo dos cidadãos.

Estes critérios são parcialmente uma função do próprio incidente, mas depende igualmente da
exploração com êxito do acontecimento pelos promotores ambientais. Ao apresentar as exigências
ambientais, os líderes do movimento entram no que Show et al. (1986) designou por processo de
«alinhamento estrutural», isto é, grupos ambientais inserem-se e manipulam as preocupações e percepções
públicas existentes: por forma a alargar o seu apelo. Por exemplo, o Greenpeace escolhe primariamente os
tópicos e organiza campanhas em áreas que podem emprestar a si próprias a maior ressonância pública
possível (Eyerman e Jamison 1989: 112) enquanto evitam aqueles que estão divididos. De forma
semelhante, os opositores dos movimentos ambientais tentam apelar a um público mais vasto através da
ligação de novas tecnologias ou programas a questões e causas populares. Assim, a indústria da
biotecnologia tem tido êxito em alimentar a imagem pública de uma tecnologia benigna e de incrementação,
o que é útil na promoção do desenvolvimento econômico (Plein 1991). Liderar a atenção não é, contudo,
suficiente para levantar uma nova questão na agenda para debate público (Solesbury 1979: 387). Em vez
disso, os problemas ambientais emergentes devem ser legitimados em múltiplas áreas - meios de
comunicação social, ciência e público. Uma forma para atingir esta legitimidade é através da utilização das

65

táticas e estratégias retóricas mencionadas por Best (1987) e Ibarra e JKitsuse (1993). Em vez de seguir uma
ordem cronológica, como sugere Best, a retórica ambiental tornou-se cada vez mais polarizada. As
ecofeministas, ecologistas profundos e outros críticos da sociedade pós-industrial têm tendência para adoptar
uma «retórica da retidão» que justifica a consideração os problemas ambientais sob bases estritamente
morais. Pelo contrário, os pragmáticos ambientais, que advogam diversas versões de «desenvolvimento
sustentável», têm tendência para uma retórica da racionalidade. O negócio «verde», por exemplo, é baseado
na premissa de que o ambientalismo pode ser socialmente útil e proveitoso. Esta clivagem pode ser ilustrada
no caso da perda da floresta tropical no Brasil, Malásia e Indonésia. Os pragmáticos argumentam que a perda
destas florestas tropicais é um grave problema visto conduzir à extinção de insetos, plantas e animais
indígenas raros que são valiosos para as companhias farmacêuticas como fontes de novas drogas milagrosas.
Os puristas ambientais, por outro lado, baseiam as suas exigências numa retórica que realça o valor espiritual
inerente a estes habitats em perigo 6.
As exigências ambientais podem igualmente ser legitimadas quando os seus patrocinadores se
tornam fontes de informação legitimas e proeminentes. Hansen (1993b) demonstrou que o Greenpeace
alcançou este tipo de êxito sustentado como formulador de exigências de diversas formas: agindo com uma
conduta para a disseminação de novos desenvolvimentos científicos entre a comunidade de investigadores e
os meios de comunicação social; tornando-se o «significado da estenografia» para tudo o que é ambiental -
cuidados com o ambiente, modos de vida ecológico, atitudes ambientais conscientes - e através da produção
de conhecimento e informação que pode ser utilizado nas arenas de debate público (ver Eyman e Jamison
1989). Por vezes é possível precisar um acontecimento que constitui o ponto de viragem para o problema
ambiental e quando entra na zona da legitimidade. Relativamente ao aquecimento global, isto aconteceu nas
audições do senado americano em 1988 quando o Dr. James Hansen fez a exigência de que ele estava 99 por
cento certo de que o aquecimento dos anos 1980 não se devia ao acaso, mas ao aquecimento global. No caso
da redução da camada de ozono, o acontecimento principal foi um relatório da NASA/NOAA de 1988 que
forneceu

6 Note-se, porém, que no decurso da angariação de fundos e lobbies, importantes organizações de conservacionistas têm tendência
a utilizar as duas retóricas, ancorando os seus apelos nos pressupostos morais e racionais (Yearley 1992: 26).

66

uma dura prova que implica pela primeira vez os CFC (Clorofluorocarbonetos) na destruição da camada de
ozono. Com as dioxinas das fábricas de papel, foi o lançamento do «estudo de 5 fábricas de papel» que
mostrou vestígios deste químico tóxico detectado em vários produtos de papel domésticos e que resultou na
história de primeira página no New York Times, lançando este problema nos Estados Unidos e, mais tarde,
no Canadá (Harrinson e Hoberg 1991). Contudo, as descobertas científicas e o seu testemunho não são
sempre suficientes para impulsionar um problema ambiental, para além do ponto de ruptura da legitimidade.
No caso do aquecimento global, o testemunho inicial ao senado do Dr. Hansen em 1986, onde ele previu que
o aquecimento global significativo poderia ser sentido dentro de cinco a quinze anos não atraiu uma
cobertura ou preocupações comparáveis. Isto só aconteceu dois anos mais tarde quando se deu uma mudança
significativa nas práticas dos meios de comunicação social e na atenção do público (Ungar 1992: 492). De
forma semelhante, a publicação por Molina e Rowland em 1984 no jornal Nature da sua teoria sobre a
destruição da camada de ozono pelos CFC apenas originou uma cobertura limitada na imprensa californiana.
Foi apenas mais tarde quando a questão se ligou a reclamações de que outros gases ele latas de aerossóis,
nomeadamente o cloreto de vinil, estavam ligados ao cancro da pele, que foi prestada uma ampla atenção e
legitimidade pelos meios de comunicação aos seus dados (Mazur e Lee 1993: 686).

Contestação das exigências ambientais

Mesmo se uma exigência ambiental emergente conseguir transcender o liminar da legitimidade, isto não
assegura automaticamente uma ação de melhoramento a ser tomada. Tal como Cold et al. (1993: 229)
realçaram, pode-se interpretar a história da proteção ambiental a partir da posição que os movimentos
ambientais têm sido muito mais bem sucedidos na entrada na ampla lista da agenda internacional, do que em
conseguir a institucionalização das suas políticas no âmbito desta agenda, especialmente onde estas políticas
possam requerer a recolocação de fontes longe de interesse de capitais em larga escala e atores burocráticos
do Estado. Solesbury (1976: 392-5) observou um número de fatores que podem contribuir para uma questão;
que se perca no ponto de decisão ou ação. Limitações externas importantes, tais como a instalação de uma
crise econômica nacional

67

podem conduzir a um problema que é adiado, e depois abanado no seu conjunto. Um problema pode ser
transformado numa questão política menos ameaçadora. Os opositores no âmbito das burocracias
governamentais podem utilizar um número de táticas - adiamento da discussão, recorrer de um item para
posterior investigação ou emenda - assegura que um problema não será imediatamente alvo de legislação.
Consequentemente, apelar para a ação numa exigência ambiental exige uma contestação em ação pelos seus
formuladores procurando efetuar uma mudança política e legal. Enquanto o apoio científico e atenção dos
meios de comunicação social continuam a constituir uma parte importante do pacote de exigências, o
problema é principalmente contestado no âmbito da arena política. Contestar um problema ambiental no
âmbito da corrente política é uma arte, dadas as pressões com que os legisladores se deparam.
Consideremos, por exemplo, um artigo recente (Geddes 1994) sobre grandes quantidades de
interesses em conflito que devem ser dirigidos pela ministra do Ambiente Sheila Copps, à medida que ela se
prepara para introduzir novos regulamentos controversos sobre a avaliação do ambiente federal. Se os
reguladores forem demasiado ambiciosos, Copps «recorrerá a uma serra circular» proveniente das províncias
do Quebeque e Alberta que interpretará isto como uma incursão nos seus poderes constitucionais. Se os
regulamentos forem demasiado rigorosos, os lobbies dos negócios, especialmente os setores do petróleo e do
gás, objetarão energicamente. Se ela fizer muito pouco, os grupos ambientais serão críticos, acusando-a de
fracassar para concretizar bem as promessas durante a eleição do Partido Liberal em introduzir regulamentos
muito mais duros do que os propostos pelo anterior governo conservador. Os empresários ambientais devem
guiar com destreza as suas propostas através de um aglomerado de grupos de interesse político, muitas vezes
conflituosos, a quem foi atribuída responsabilidade, sendo cada um deles capaz de impedir o trabalho ou
derrubar as propostas. Tal como observou Walker:

As políticas (ambientais) raramente resultam de um processo racional em que os problemas são identificados
com precisão e, depois, cuidadosamente ligados a soluções optimizadas. A maior parte das políticas emergem
duvidosamente, aos poucos a partir de uma complicada série de contratos e compromissos que refletem as tendências,
objetivos e necessidades de realce das agências estabelecidas, comunidades profissionais e empresários políticos
ambiciosos.
(981:90)

68
Kingdon (1980) observa que as propostas de políticos que sobrevivem nesta selva política satisfazem
geralmente este critério básico.
Primeiro, os legisladores devem ser convencidos de que uma proposta é tecnicamente exequível, isto
é, se decretada, a ideia resultará. Este poderá não ser o caso do que devia ter sido feito; por exemplo, a Lei
das Espécies em Perigo nos Estados Unidos resultou de forma muito menos perfeita na sua implementação
do que no papel. Contudo, uma proposta deve, pelo menos, inicialmente parecer ser cientificamente e
politicamente administrável.
Em segundo lugar, uma proposta que sobrevive na comunidade política deve ser compatível com os
valores dos formuladores de políticas. Visto que a maior parte dos burocratas e políticos não partilham as
visões ecocêntricas do vice-presidente americano AI Gore, isto significa que as soluções que refletem o
Novo Paradigma Ecológico têm fortes possibilidades de ir muito longe, a menos que exista uma percepção
generalizada de crise. Em vez disso, as soluções ambientais que parecem superficialmente ser neutrais têm
mais possibilidades de ser aceites, do que aquelas que parecem ideologicamente fracas. Além disso, os
problemas que são estruturados em termos utilitários vão, muitas vezes, mais além daqueles que não o são.
Isto significa que os argumentos feitos com interesses financeiros em mente - números e estatísticas
traduzidas em dólares (libras) - têm mais possibilidades de encontrar eco do que aqueles apresentados
unicamente com base nas justificações morais (Hunt et aI. 1994: 200-1).
A política ambiental não é, de forma nenhuma, uma empresa perfeitamente previsível e consistente.
Por exemplo, Milton (1991) sugeriu que o governo britânico adopta regularmente uma abordagem
contraditória em relação ao ambiente. Nas questões da poluição doméstica adopta uma posição rígida e
hierárquica que tende a retardar a mudança. Isto foi bastante evidente, por exemplo, na resposta britânica ao
problema das chuvas ácidas. Pelo contrário, nos problemas ambientais internacionais, tais como o
aquecimento global, o Reino Unido adotou uma abordagem «mais empresarial». Nas questões da vida
selvagem e de conservação é favorecida uma abordagem que constitui uma mistura hierárquica e
empresarial. Por vezes, levantar-se-á uma questão na agenda política por razões totalmente inesperadas. Isto
aconteceu com o efeito de estufa que inicialmente alcançou a expressão de gravidade, não em termos de
ameaça a longo prazo para o clima mundial, mas em relação ao que era basicamente uma questão
secundária: as implicações

69

ambientais do desenvolvimento em larga escala do avião de transporte supersónico (55T) no início dos anos
1970 (Hart e Victor 1993-4).

Assim, contestar com êxito em relação a uma exigência ambiental na arena política requer uma única
mistura de conhecimento, tempo e sorte. Este processo é, muitas vezes, pela condução dos acontecimentos
em relação a um desastre como o acidente nuclear de Three Mile Island que abriu as «janelas políticas»
(Kingdon 1984: 213) que, de outra forma, permaneceriam fechadas. Isto não significa que o estabelecimento
da agenda e a ação legislativa sejam totalmente casuais, mas que o processo é altamente casual segundo um
número de fatores internos e externos, muitos os quais não estão ligados aos momentos óbvios do caso.
Ao mesmo tempo, poderá existir igualmente concorrência em relação à «pertença» de um problema
ambiental. Isto pode tornar-se particularmente rancoroso quando uma das partes que contesta é afastada das
fileiras daqueles diretamente vitimados por um problema. Existem muitos exemplos disto no campo dos
problemas sociais, indo desde os «movimentos de liberação em relação aos padrões», tais como a campanha
dos direitos das «prostitutas americanas» (Jeness 1993; Weitzer 1991) até aos grupos de direitos de vítimas;
por exemplo, o que foi formado recentemente para as doentes de cancro da mama. Isto é menos comum em
relação aos problemas ambientais que geralmente têm um impacto mais difuso. Contudo, um exemplo
significativo é a atual disputa em relação à questão da pertença da «biodiversidade» como recurso e como
problema ambiental (ver capítulo 8). Esta luta opõe uma coligação de pequenos agricultores, ativistas
ecológicos e outros no Terceiro Mundo contra o estabelecimento da conservação: biólogos, burocratas de
organizações não governamentais e ministérios governamentais que lidam com o comércio e questões
ambientais.
Hawkins (1993) identificou três paradigmas de tipos ideais que ocupam cada vez mais o discurso
contestado sobre o futuro ambiental. A continuação do «paradigma de gestão global» advoga a detecção e
solução, dos problemas no povo em geral, através de uma configuração existente de Estados e organizações
internacionais apoiadas por peritos científicos e ambientalistas profissionais no âmbito das ONG
(Organizações Não Governamentais). Esta abordagem diminui o papel das percepções e definições locais
dos problemas, e poderá na ocasião culpar inclusivamente os pobres das

70

nações do Terceiro Mundo por causarem a degradação ambiental. O «paradigma do desenvolvimento


redistributivo» reconhece a necessidade de uma maior equidade nos assuntos relativos ao desenvolvimento
nos países do Sul. Propõe que tais desigualdades possam ser redefinidas através de um número de medidas
inovadoras, tais como o Fundo Verde no Banco Mundial ou as negociações em relação à natureza da dívida.
O «Novo paradigma da ordem de apoio internacional» apela a uma reestruturação fundamental da ordem
mundial, de tal forma que as nações do Terceiro Mundo exigem uma voz mais direta no estabelecimento do
equilíbrio entre o pacto económico e social.
Hawkins representa a construção do ambientalismo internacional como o reflexo de uma luta entre os
apoiantes destes três paradigmas. A disputa para a pertença da biodiversidade é uma manifestação recente
disto; o conflito relativo à mudança climática global é outro. Até mesmo a linguagem utilizada na definição
desta área contestada é em si própria socialmente construída. Por exemplo, os países do Norte adaptaram
uma linguagem «globalizada» para descrever a situação nas nações do Sul em que os «nossos» problemas
ambientais (mudança climática, destruição da camada de ozono) são causados pelos «seus» problemas de
desenvolvimento (perda da floresta, excesso demográfico), situação que é resolúvel apenas abraçando
estratégias de «desenvolvimento sustentáveis» (Redclift e Woodgate 1994: 64-5). Atualmente, os dois
primeiros paradigmas ainda predominam, mas o novo paradigma da ordem de apoio internacional parece
estar a fazer algumas incursões significativas.

Audiências para as exigências ambientais

Para além das capacidades dos formuladores de exigências e a gravidade da própria situação, o êxito
de uma exigência ambiental reconhecida pode também ligar-se à magnitude do público que é mobilizado em
torno da exigência, isto e, a onda de apoio do público, não marca apenas o aumento da consciência de um
problema, mas pode constituir também uma valiosa fonte para captar a atenção política
Para os sociólogos, o problema está na forma segura como pode medir o tamanho e influência do
público. Tal como Ungar

71

(1994: 298) realçou, o potencial para os formuladores de exigências ambientaís para utilizar a opinião
pública como fonte é paradoxalmente aumentada e limitada nos questionários levados a cabo. Isto é, os
questionários feitos ao público hoje em dia raramente representam o apoio às posições contestadas, optando,
em vez disso, por medidas mais abrangentes de preocupação ambiental, tais como a «Nova Escala do
Paradigma Ambiental» desenvolvida por Riley Dunlap e os seus colegas. Isto produz um barômetro tão vago
da opinião pública que virtualmente qualquer grupo do lado «pro-ambiental» pode exigir representá-Ia, mas,
ao mesmo tempo, torna difícil medir reações específicas a questões específicas. Alternativamente, poder-se-a
procurar por outros indicadores de apoio público - comportamento de reciclagem, consumo «verde»,
participação nos acontecimentos e mobilizações ambientais, mas estas são igualmente medi-à-as imperfeitas
da opinião pública.
Contudo, uma onda de opinião pública pode levar uma exigência até à agenda política, por vezes, de
um modo dramático. Na controvérsia de «Alar» nos Estados Unidos, por exemplo, os receios do público em
relação às toxinas, traduzidos no boicote a curto prazo do consumo das maçãs, embora os dados sobre os
riscos tenham mais tarde sido considerados menos seguros do que se pensou originalmente. De forma
semelhante, a preocupação pública com a «Doença das Vacas Loucas» na Grã-Bretanha foi suficientemente
séria para os governos terem agido de uma forma preventiva, nem sempre muito evidente no caso dos riscos
potenciais.
É claro que nem todas as exigências ambientais tiveram êxito no sentido de elevar a bandeira
vermelha para as preocupações do público. Algumas exigências são vistas como demasiado extremistas,
demasiado misantrópicas ou demasiado complexas. Outras, levantam-se contra poderosas contra-exigências.
Algumas fracassam devido ao fato de os mandatos de respostas mitigantes ou as condições preventivas
serem um sacrifício para a vida toda demasiado grande.
A o considerar a razão por que algumas exigências ambientais captam a atenção do público e outras
não, poderá ser útil olhar para a área da investigação publicitária. Num estudo comparativo recente em larga
escala que examinou as atitudes de 30 000 consumidores em 21 países, a agência nova-iorquina de
publicidade Young & Rubicon elaborou um modelo de marketing, o «Brand Asset Valuator» (avaliador de
produto) que isola quatro fatores

72

fundamentais que prevêem o impacto de um produto no mercado: exclusividade, relevância, estatura e


familiaridade (Escócia 1994).
No caso das exigências ambientais, o exclusivo ou particularização refere-se até que ponto o público
se apercebe de um problema como distinto de outros de natureza semelhante. Por exemplo, os formuladores
de exigências em relação às chuvas ácidas tiveram êxito na "distinção feita desta condição em relação a outra
categoria mais abrangente da poluição atmosférica. As estratégicas retóricas são aqui importantes, na criação
de classificações distintivas para os problemas emergentes, assim como para a invenção de códigos
simbólicos que se podem ligar a uma exigência, por forma a conferir uma identidade distintiva.
A relevância, refere-se ao grau de interesse de um determinado problema ambiental para o cidadão
comum. Isto nem sempre é fácil de demonstrar, mesmo quando o problema acontece nos próprios quintais
das pessoas. É especialmente difícil no caso dos problemas ambientais globais que têm as suas origens em
zonas distantes do mundo. Assim, a extensão das condições de seca nas nações pobres vida África tem pouca
relevância no Sudoeste dos Estados Unidos, contudo, as faltas de água a nível regional obrigando a que os
cidadãos locais deixem de regar os seus relvados e encher as piscinas, são bastante significativas.
A estatura denota o quanto um consumidor sente e pensa em relação a uma determinada marca. No
caso do ambiente, este refere-se às atitudes do público em relação ao local, pessoas ou espécies em perigo.
Não é casual o fato de o movimento de protecção da vida selvagem, mobilizado pela primeira vez no século
XIX, devido ao perigo em que se encontravam os nossos tão adorados pássaros canoros, por causa dos
caçadores e do comércio de penas. De forma semelhante, os parques nacionais e os monumentos - o Yellow
Stone Park nos Estados Unidos, o Lake District na Grã-Bretanha, o Great Barrier Reef na Austrália - têm
uma estatura simbólica considerável que virá ao de cima se estes lugares forem postos em perigo. Pelo
contrário, as comunidades negra e hispânica de baixo rendimento da América do Sul, que se deparam com
graves ameaças de poluentes tóxicos, foram de há muito consideradas de baixa estatura, especialmente pelo
público da classe média.
Finalmente, a familiaridade refere-se ao quanto um determinado problema é conhecido do público.
Os meios de comunicação social têm um papel importante na educação sobre o meio ambiente, espécies e
lugares que poderão ter estado para além do nosso domínio

73

ou experiência pessoal. Por exemplo, em 1992 foi anunciado que cientistas no Vietname central tinham
descoberto a sao Ia, um mamífero desconhecido até então do resto do mundo, e parecido com uma cabra.
Quase de um dia para o outro, a sao Ia tornou-se uma superestrela dos meios de comunicação social, em
consequência do frenesi dos meios de comunicação social motivados pelos cientistas, ambientalistas e
imprensa 7. Celebrizada nas páginas das revistas National Geographic e People, tornou-se «o equivalente
zoológico à descoberta de um novo planeta» (Shenon 1994). Em alguns casos, os ativistas ambientais podem
levar a cabo uma ação coletiva, por forma a familiarizar o público com a exigência. Por exemplo, as práticas
de destruição óbvia nas velhas florestas da British Columbia tornaram-se recentemente amplamente
conhecidas na Europa e América, em parte devido à extensa cobertura dos meios de comunicação social dos
protestos pelos ativistas ambientais nas estradas feitas com o derrube de árvores e relativos às ações da
legislatura provincial. Contudo, em vez de aumentar o desenvolvimento de uma exigência a familiaridade
pode, em última análise, produzir o cansaço por parte do público em geral, especialmente se não surgirem
novos desenvolvimentos. É este o caso mesmo que o problema seja distinto e relevante. De fato, o público
tem um sentido inerente de Jair play que dita que atividades como a insensível e «esmagadora poluição» são
inaceitáveis, mesmo que o criticismo seja devidamente merecido.
As exigências ambientais com êxito devem, pois, possuir elementos de vitalidade e desenvolvimento
que assegurem que eles não desapareceram num mar de desinteresse ou irrelevância.

Fatores necessários para a construção com êxito de um problema ambiental

É possível identificar seis fatores que são necessários para a construção com êxito de um problema
ambiental. São os seguintes:
Primeiro, um problema ambiental deve ter uma autoridade científica para a validação das suas
exigências. A ciência poderá muito bem
7 Infelizmente, a sao Ia ficou recentemente em perigo de extinção, devido ao facto de coleccionadores de todo o mundo tentarem
obter um exemplar, chegando a oferecer quantias até um milhão de dólares (Shenon 1994).

74

ser um «amigo incerto» para o movimento ambiental, tal como Yearley (1992) sugeriu, mas, apesar de tudo
é virtualmente impossível para uma condição ambiental ser transformada com êxito num problema sem um
corpo de dados de confirmação que tenha origem nas ciências físicas e da vida ...

1. Autoridade científica para a validação das exigências.


2. Existência de «propagadores» que possam estabelecer a ligação entre o ambientalismo e a ciência.
3. Atenção dos meios de comunicação social onde o problema é «estruturado» como novidade e
importante.
4. Dramatização do problema em termos simbólicos e visuais.
5. Incentivos económicos para tomar uma ação positiva.
6. Emergência de um patrocinador institucional que possa assegurar legitimidade e continuidade.

Isto acontece especialmente com os problemas ambientais mais recentes, aqueles cuja existência repousa
sobre uma construção científica nova (ver discussão da perda da bíodiversidade no capítulo 8).
Em segundo lugar, é crucial ter um ou mais propagadores científicos que possam transformar o que, de
outra forma, permaneceria uma investigação fascinante, mas esotérica numa exigência ambiental pro-ativa.
Em alguns casos (por exemplo, Edward Wilson, Paul Ehrlich, Barry Commoner), os propagadores podem
eles próprios ser empregues como cientistas; noutros (por exemplo, Jonathan Porrit, Jeremy Rifkin), eles são
autores ativistas cujo conhecimento científico vem em segundo lugar. Seja quais forem os seus antecedentes,
estes propagadores assumem um papel de empresários, reestruturando e construindo exigências, para que
possam apelar aos editores, jornalistas, líderes políticos e outros opinion-makers.
Em terceiro lugar, um problema ambiental esperado deve receber a atenção dos meios de comunicação
social, em que a exigência relevante é «estruturada» como real e importante. Tem sido este o caso em muitos
dos sobejamente conhecidos problemas do presente decénio; por exemplo, a destruição da camada de ozono,
a perda da biodiversidade, a destruição da floresta tropical, o aquecimento global. Pelo contrário, outros
problemas ambientais significativos fracassam em chegar até à agenda pública, devido ao fato de eles não
serem considerados especialmente válidos pra se tornarem notícia. Por

75

exemplo, em muitas cidades canadianas a falta de tratamento dos esgotos urbanos é endêmica, mas isto
recebeu uma cobertura exígua comparado com outros problemas de poluição. Tal como o diretor executivo
do Sierra Legal Defense Fund recentemente realçou, um volume de esgotos equivalente a trinta e dois
petroleiros do tamanho do Exxon Valdez são despejados todos os dias em rios ou baías locais, contudo, é
feito fora do alcance do público com virtualmente nenhuma atenção por parte dos meios de comunicação
social (Westell1994).
Em quarto lugar um problema ambiental potencial deverá ser dramatizado em termos altamente
simbólicos e visuais. A destruição da Camada de ozonio foi uma das candidatas à preocupação generalizada
do público até o declínio da concentração ter sido geograficamente representado como um buraco sobre a
Antártida. As práticas maliciosas das principais companhias florestais apenas se tornou um assunto de
afronta internacional quando o Greenpeace e outros grupos ambientais começaram a exibir fotografias
dramáticas de destruições óbvias na ilha de Vancôver, sendo a área designada por «Brasil do Norte».
Imagens como estas fornecem um tipo de atalho cognitivo comprimindo uma discussão complexa numa que
pode ser facilmente compreensível e eticamente estimulante.
Em quinto lugar, deverão existir incentivos econômicos víveis no sentido da ação sobre um
determinado problema ambiental. Isto acontece com cada uma das três historias detalhadas de casos que
serão apresentados em futuros capítulos deste volume. No caso das chuvas ácidas, uma variedade de grupos
de interesse, desde agricultores florestais a associações de caçadores da Floresta Negra no Sul da Alemanha
até aos produtores de xarope de bordo da Nova Inglaterra e Canadá oriental, apoiaram a afirmação dos
cientistas e ambientalistas de que as emissões de dióxido de enxofre das fundições e centrais elétricas
estavam a causar a destruição da floresta. O caso de agir corajosamente para parar a perda da biodiversidade
foi levantado com base na discussão de que as florestas tropicais continham uma riqueza de produtos
farmacêuticos que ainda não foram utilizados, e que desapareceria para sempre se nada fosse feito.
A campanha contra a hormona geneticamente gerada BST encontra um grande apoio nos agricultores
e legisladores em diversos Estados do Norte, nos quais os produtos derivados do leite enfrentam uma perda
de rendímento se a biotecnologia se tornar amplamente utilizada. Ao mesmo tempo, as exigências
ambientais que trazem consigo incentivos econômicos para um grupo, podem igualmente implicar custos
para outros, provocando assim uma severa oposição.

76

Este foi certamente o caso das chuvas ácidas; dos produtores de dióxido sulfúrico, como O Comité da
Central Geradora de Electricidade na Crã-Bretanha contestou vigorosamente a definição e os parâmetros do
problema, tal como foram apresentados pelos formuladores de exigências ambientais.
Finalmente, para um problema ambiental esperado ser completamente contestado com êxito, deveria
existir um patrocinador institucional que pudesse assegurar a legitimidade e continuidade. Isto é
especialmente importante quando o problema tenha feito a agenda política e se procure a legislação.
Internacionalmente, isto pode ser visto no importante papel desempenhado pelas agências e ONG associadas
às Nações Unidas.

Conclusão

Desenvolverei esta visão social construcionista do meio ambiente nos capítulos 3-6, começando pela
análise da natureza emergente e colaboradora dos riscos ambientais e do conhecimento. Eu sustento que o
conceito de ambientalismo é uma construção em si própria multifacetada que consolida um conjunto e
filosofias, ideologias, especialidades científicas e iniciativas políticas. Como parte desta discussão, são
dedicados capítulos separados ao papel central do discurso dos meios de comunicação social e ao da ciência
na interpretação e moldagem dos contextos, as condições e consequências da crise ambiental.
Apresento depois, três estudos de casos para ilustrar a dinâmica através da qual os problemas
ambientais são pressagiados, legitimados e contestados. O primeiro destes problemas são as chuvas ácidas, é
um problema ambiental maturo que tem sido alvo da atenção das pessoas há mais de um quarto de século.
Ao contrário do aquecimento global ou da destruição da camada de ozono, os seus efeitos têm sido mais
continentais, do que globais, embora provas da precipitação ácida tenham sido encontradas em sítios tão
distantes quanto a Antárctida. Um segundo e mais recente problema, a «perda da biodiversidade» tornou-se
um dos problemas mais proeminentes dos anos 1990, tal como é evidenciado pelas características do seu
desenvolvimento na Conferência do Rio em Junho de 1992. Não tem um impacto físico sobre todo o planeta
ao mesmo tempo, como acontece com outros problemas ambientais. Contudo, a política e a economia da
perda da biodiversidade são de tal forma que alcançam todo o

77
Norte e Sul, exigindo, assim, soluções no âmbito da arena política internacional. Um terceiro problema,
biotecnologicamente como risco ambiental, é examinado através do caso específico da somatotropina
recombinante bovina BST, uma hormonio formada pela bioengenharia que foi aprovada recentemente para
utilização na indústria americana do produtos lácteos. A controvérsia da BST 8 oferece um exemplo onde se
verifica que uma furiosa contestação continua a fazer parte das preocupações dos ambientalistas, ativistas
dos direitos dos animais e outros formuladores de exigências, quer esta seja julgada válida ou não. Embora,
tenha sido, até agora, limitada primariamente a um estabelecimento nacional, a natureza intrinsecamente
relacionada do sistema agro-alimentar global implica que pressões pró e contra a sua utilização na
agricultura transcendera inevitavelmente as fronteiras nacionais.
No último capítulo, a formulação social do risco e conhecimento ambiental é examinado no contexto
do debate teórico mais amplo no âmbito da Sociologia ao longo da trajetória das sociedades contemporâneas
no sentido de um futuro «da última modernidade» versus «pós-modemidade». Depois de analisar duas
tentativas para concetualizar as preocupações ecológicas no âmbito de um contexto social mais abrangente -
a teoria da «sociedade de risco» de Ulrich Beck a versão da «teoria da modernização ecológica» de MoI e
Spaargaren. Eu sugiro diversas formas onde a formulação ambiental e pós-moderna interagem. O livro
termina com algumas sugestões para o curso futuro da investigação do meio ambiente a partir de uma
perspectiva da formulação social.

8 Esta controvérsia é refletida nos diferentes acrónimos que são utilizados na discussão desta hormona formada pela
bioengenharia. Os opositores tentam distingui-Ia da sua forma natural designando-a de BST ou RBGH, enquanto a indústria e os
defensores reguladores que alegam que não existe qualquer diferença na utilização dos acrónimos BST ou BHG.

78

Capítulo 4

A ciência como atividade geradora de exigências ambientais


É raro encontrar um problema ambiental que não tenha origem num corpo de investigação científica.
As chuvas ácidas, a perda da biodiversidade, o aquecimento global, a destruição da camada de ozono, a
desertificação e envenenamento por dioxinas, são exemplos de problemas que começaram com um conjunto
de observações científicas. Em última instância, é o suporte científico destes problemas ambientais que os
segue acima de muitos outros problemas sociais que dependem mais de exigências de base moral (Yearley
1992:17)
Além disso, os investigadores científicos atuam como «porteiros», à procura de potenciais exigências
para lhes atribuir credibilidade. Em 1988, quando a organização ambiental britânica Ark, montou uma
campanha de publicidade em que alegava que o degelo das calotas glaciais devido ao aquecimento global
aumentaria o nível do mar cinco metros nos próximos sessenta anos, cobrindo assim a maior parte da Grã-
Bretanha com água, estimativas científicas mais sensatas que referiam menos de um metro de aumento do
nível rapidamente desacreditaram a iniciativa da Ark (Pearce 1991: 288-29). Contudo, paradoxalmente, a
própria ciência é frequentemente o alvo deste debate contemporâneo sobre a engenharia genética e os seus
efeitos potencialmente danosos sobre o meio ambiente (ver capítulo 9). Em casos como estes, os
formuladores de exigências rejeitam explicitamente a racionalidade técnica da ciência a favor de uma
alternativa de racionalidade cultural que apela ao «conhecimento do povo, grupos relacionados e tradições»
(Krimsky e Plough 1988: 107). A ciência é severamente criticada por intervir com a ordem natural, em vez
de admirada por emprestar a sua autoridade a uma exigência.

103

A ciência como atividade geradora de exigências

O perfil da ciência apresentado até agora pareceria sugerir que as descobertas científicas refletem a
realidade física do mundo natural de uma forma relativamente direta. A ciência pareceria, portanto, ser uma

Potrebbero piacerti anche