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Conselho editorial: Marcelo Bizar, Marco Trindade, Sônia Elã, Kátia Botelho
Secretária-geral: Sônia Elã
Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo qualquer
alteração pela revista.
Capa: Marcelo Bizar e Marco Trindade (sobre uma foto da estátua de Pixinguinha.
Autor:Ique Woitschach, em bronze, localizada na calçada do Bar da Portuguesa,
frequentado por Pixinguinha, ficando a poucos metros de sua antiga residência em
Ramos, subúrbio da Cidade do Rio de Janeiro.
Subúrbio é lugar de música. Está aí uma frase que ninguém poderá contestar,
a menos que nunca tenha pisado pelas bandas de cá, e desconheça por completo
as inúmeras e importantes manifestações da Música Popular brasileira que aqui
nasceram e continuam nascendo, tornando-se ao longo da história, grandes
referências no cenário nacional.
Dos longos bate-papos nas calçadas, os quais muitas das vezes resultam em
festejadas rodas de samba, naquele improviso maravilhoso, até mesmo o
surgimento e manutenção de respeitadas agremiações, o subúrbio sempre foi lugar
de muita música e de grandes artistas.
Num giro rápido, de supetão, só na Zona Norte da Cidade podemos afirmar
que estão situadas quatro das maiores e mais tradicionais Escolas de Samba do
nosso país, sendo que duas das quais estão separadas por uma caminhada de
poucos minutos. Reflitam em termos de criação, de grandes compositores, o quanto
que “Estação Primeira de Mangueira”, “Acadêmicos do Salgueiro”, “GRES Império
Serrano” e “GRES Portela”, somente citando estas quatro Escolas de Samba, nos
legaram...
Lembrem-se dos inúmeros pagodes, que tanto sucesso fizeram, num grande
encontro do nosso povo com sua arte.
É “Sovaco de Cobra”, reduto de respeitadíssimos Chorões, é “Cacique de
Ramos”, berço do Samba, é “Renascença Clube” palco da resistência negra e local
de difusão do que há de melhor na música brasileira, é "Clube do Samba", grande
trincheira de luta cultural frente à invasão da música estrangeira, são as Lonas
Culturais divulgando artistas, são os coletivos nas praças, nas ruas, nas calçadas,
nas feiras, nas pequenas livrarias e sebos, resistindo heroicamente.
Subúrbio é lugar de música, de violão, de seresta, de grandes poetas, de
muita inspiração, ou alguém ousaria dizer o contrário diante de nomes como
Pixinguinha, Luiz Carlos da Vila, João Nogueira, Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Keti,
somente para citar alguns dos maiores expoentes da nossa Música Popular.
O nosso desejo é que toda esta riqueza cultural nos sirva sempre de norte, na
busca dos melhores caminhos a serem seguidos...
SUMÁRIO
02 - Expediente
03 - Editorial
04 - Sumário
05 - É quem é de samba não se cansa
07 - Lendas do samba e da bola
08 - 70 horas dentro de um ônibus
10 - Ad urbem ou In civitate (consequentia)
12 - Círculo vicioso
15 - Uma pequena história do samba -
18 - 2068 - parte 3
19 - Catulo, o trovador do subúrbio
21 - Temposição das Almas Íncubas - Hojecanção
23 - O dia em que o futebol matou em Vista Alegre
26 - Joel
27 - O subúrbio e o trabalho doméstico no Brasil: um breve relato
30 - Domingo é fogo (relato de uma incerteza)
31- Estante suburbana
32 - Discoteca suburbana
33 - A namorada do bandido
35 - Comida di pé sujo
36 - Aluá de Lukni
38 - Mulher que me tornei
39 - Lógica de um folião de carnaval
42 - De dentro do quilombo - Pedra do Sal, quilombo patrimônio carioca
44 - Lembrando Deyer depois de um Dreher no subúrbio
46 - Blog do Tiziu
É … q u e m é d e s a mb a n ã o s e c a n s a !
Marcelo Bizar
Lendas do samba e da bola
Outro feitiço famoso empacou o Império Serrano nos anos sessenta. Mesmo
no auge do saudoso Silas de Oliveira (Aquarela Brasileira, em 1964, Cinco bailes da
história do Rio, com Ivone Lara e Bacalhau, 1965 e o inesquecível Heróis da
Liberdade, em parceria com Manoel Ferreira e Mano Décio, de 1969), a Serrinha
parecia afetada pela maldição do Timbó: alguém bateu cabeça errado e o azar só
foi sepultado no ano da morte de Silas, em 1972, quando Alô, alõ, Carmem Miranda
fez a escola quebrar o jejum de doze anos. Lendas do samba e da bola...
Jonatan Magella
Ad urbem ou In civitate
Por outro lado, entretanto, seguindo a veia latina deste artigo, as expressões
Ad urbem e In civitate definem-se, respectivamente, como “junto à cidade” e
“retorno à cidade”, contrapondo-se ao conceito da expressão latina presente no
primeiro parágrafo.
Retornando à ideia do texto Sub & Urbe, da 4ª edição, da Revista Sarau
Subúrbio, a proposta deste texto é rediscutir o valor intrínseco que há na palavra
subúrbio. Nessa linha, percebe-se, ao longo do tempo, que a sociedade urbana se
concentrou nas grandes cidades devido à busca por trabalho e moradia,
favorecendo (nessa condução criadora da urbe) o caos urbano e civilizatório.
Seguem, repetindo mais uma vez a 4ª edição, alguns versos da música
Subúrbio, de Chico Buarque, para ilustrar a posição poética dos trovadores
modernos diante do espetáculo que se abre na presença do subúrbio carioca:
“Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda.”
Leonardo Bruno
Círculo vicioso
Dois grandes amigos de longa data, há muitos anos sem se verem e tão
pouco se falarem, se encontram. Um deles, após os cumprimentos e as palavras de
praxe num momento como este, inicia, em tom de lamento, um desabafo.
— Amigo, esta dor veio mesmo para ficar!... Nunca mais vai passar!... Vou ter que
conviver o resto da vida com ela!...
— É mesmo?
— Com certeza!
— Bem! Se você está dizendo que ela não vai passar, é por que você quer que seja
assim. Quer conviver com ela até que a morte os separe.
— Como assim?
— Você está determinando a própria sentença!
— Continuo sem entender!
— Você está condenando-se à dor, enquanto viver.
— Hum!... Deixe-me esclarecer! Eu gostaria que ela passasse, mas sinto que ela vai
me incomodar até o meu último dia de vida.
— Você continua dando ênfase à dor!
— E eu continuo a não entender onde você quer chegar!
— Quando você diz que a dor não vai passar está alimentando-a para que fique.
— Mas a perda de qualquer coisa que revestimos como valorosa para nós e que
jamais poderemos reaver é irreparável.
— A perda, vista por este prisma, é determinante. Sou obrigado a concordar, mas!...
— Começamos a nos entender, então?
— Não! E vou continuar a insistir batendo na mesma tecla: é irreparável por que
você quer que seja assim!
— Conversar com você está muito complicado!
— É o que você acha?
— Acho! E já sei o que você vai dizer! Se você acha que é complicado, então é
complicado!
— Agora sim! Estamos começando a nos compreender.
— Você é louco! Porém um louco varrido e não um maluco beleza.
— É o que você acha?
— Pô cara! Você vai ficar muito tempo tirando onda com a minha cara? Minha
paciência tem limites!
— Calma meu amigo! Só estou tentando fazer com que você compreenda que: o
que você quer ser ou estar é você quem determina!
— Como assim?
— Estava forçando uma barra para que você percebesse onde eu quero chegar,
sem que tivesse que entrar em certos detalhes. E assim, talvez você enxergasse,
por iniciativa própria, outros ângulos na sua maneira de pensar.
— Como assim?
— Quando você diz: está dor nunca vai passar! Você está ditando para o seu
cérebro o que deseja que ele processe.
— Hum!... Acho que estou começando a entendê-lo. Mas como conviver com a dor
da perda de um ente querido.
— Você não é o primeiro e nem será o último. A morte é a única certeza de uma
vida, e encarar a partida de alguém é problema dos que ficam.
— Até aí morreu Neves!
— Compete a cada um dimensionar a amplitude da dor e do seu drama. Saudades!
Vamos sentir até chegar a nossa vez de partir, mas não convém eternizar a dor,
enquanto durarmos.
— Isto soa meio Vinícius, não? Soneto da Fidelidade.
— Só que Vinícius fala de um amor.
— Tudo bem, mas estamos fugindo do tema! Quero saber como eu vou conviver
com o meu problema.
— Basta dizer para si mesmo que a dor passou e quando a saudade vir bater a sua
porta deixe-a entrar só se for para lembrar dos momentos felizes. Assim você não
sofre.
— Mas lembrar dos momentos felizes vai me fazer triste!
— Vai fazê-lo triste, se assim você quiser!
— Lá vamos nós, mais uma vez, voltar a conversar em círculo! Falar, falar e falar!...
Até retornarmos ao ponto inicial.
— Se você não quer voltar ao mesmo ponto deve mudar o rumo e estabelecer onde
deseja chegar realmente.
— E como?
— Primeiro é preciso determinar o que você quer. Qual a sua real intenção! Pois
parece que você não está ciente dela.
— A minha intenção é não conviver com a dor.
— Bem! Você já tem o mapa da situação, agora é só se seguir os caminhos que
conduzem para onde você quer chegar.
— Mas não é tão simples assim como você está falando!
— Se você acha que não é simples é porque...
— Ah não! Pelo amor de Deus, não! Não me venha de novo com aquela lengalenga
inicial! Tchau!...
Kaju Filho
U m a p e q u e n a H i s tó r i a d o S a m b a
(sambas de terreiro ou de quadra?)
Onesio Meirelles
2068 ( p a r te 3 )
Rodolfo Caruso
Catulo, o trovador do subúrbio
*Escute a canção:
link: https://www.youtube.com/watch?v=4Ax9IsEgfSc
*Descoberto por Antônio Carlos Schittino trabalhando em trailer próprio em Vista Alegre, Liminha
contou esta história no boteco Papo de Esquina, Vila da Penha, em 2000.
J o el
Joel é músico,
Joel é música,
Joel já virou poesia,
E poesia é para sempre.
Marco Trindade
O subúrbio e o trabalho doméstico no Brasil: um breve relato!
Silvio Silva
Domingo é fogo! (relato de uma incerteza)
Al m a n a q u e d o s a m b a : a H i s tó r i a d o s a m b a , o q u e o u v i r , o q u e
l e r , o n d e c u r ti r
Sambistas e chorões
• Di s c o t e c a S u b u r b a n a
O s u b u r b a n o - Al m i r G u i n e to
Barão da Mata
COMIDA DI PÉ SUJO
C u b o s d e ta p i o c a c o m q u e i j o c o a l h o
Temos o cubo!
Estudamos
bastante em Geometria
Espacial! Trata-se de um
dos chamados "sólidos
de Platão... mas, essa é
uma História pra outro
momento... agora vamos
de "cubinhos de tapioca
com queijo coalho"...
vixe! É pô aperreio,
certinho!
INGREDIENTES:
Pra acompanhar:
1 pote de geleia agridoce de pimenta;
Algumas doses de uma cachaça pernambucana!
Mais ou menos assim: O leite aqueça numa panela e quando ele estiver bem
quentão... desligue o fogo. Então, adicione o queijo coalho ralado e mexa, mexa e
continue mexendo. Daí a pouco, adicione a farinha de tapioca granulada e
continue mexendo. Adicione o sal e pienta, ao seu gosto. E quando todos os
ingredientes estiverem bem misturados: pare de mexer!
Despeje em uma forma coberta com pvc (papel filme). Cubra por cima levando à
geladeira por duas horas.
Retire da geladeira, corte em CUBOS e frite, ou faça no forno (até dourar)!
Cachacinha pernambucana no copo! Delicie-se!
Herald Costa
Aluá de Lukni
A piscina não tinha nem cinco anos que foi construída. Via-se com gosto o
sangue que da grama escorria até as bordas de metal, couro, azulejos e mármore e
pingava na leve ondulação sobre as águas verde-azuis, formando pequenos
redemoinhos rosáceos no dissipar-se nas águas.
As pernas da moça se encontravam sobre o mármore gelado, sem nenhuma
importância agora pois se encontrava morta. Os braços se projetavam na grama. A
posição não tinha sentido algum, mas talvez fosse apenas coincidência.
O detetive Lourenço, quando chegou à casa em Vargem Grande, já tinha
colhido algumas informações do caso pelo celular. Ele sempre insistia muito sobre
todas as informações que pudesse ter quanto à posição do corpo.
"Não mexam no corpo pra nada... nada mesmo! Melhor até não fazerem nem
fotos!" Aliás, melhor não mexerem em nada! Em nada em toda casa!" Ele sempre
dizia.
Todos que trabalhavam com ele na polícia tinham conhecimento desse
cuidado, para muitos mania, superstição. Recordavam que o motivo era o 'Caso
Simeira'.
No homicídio ocorrido no início do ano 2000, a prostituta morta em
Copacabana foi encontrada na areia da praia. Seu corpo foi colocado
arbitrariamente numa posição que era um enigma proposto pelo assassino de
Simeira (ou Sissi, como era conhecida na noite carioca). Lourenço só percebeu isso
quando o criminoso já havia saído do Brasil pela ponte aérea.
Desde então o detetive Lourenço passou a ser um personagem meticuloso,
sério, de um humor único, que muitos acreditam ser na verdade seu mau humor
mesmo.
Seus colegas o chamam de 'O Eremita da Taquara’' pois ele vive isolado num
pequeno sítio no bairro da região de Jacarepaguá, na Zona Oeste da Cidade do Rio
de Janeiro.
Apesar de viver isolado ele não se sente solitário, pois, como ele mesmo diz:
"Quase não saio de casa mas tô ligado no mundo todo. Seja na 'web' e
mesmo na 'deep web'".
Trata-se de uma referência explícita às suas atividades virtuais, pesquisas e
investigações feitas no mundo virtual.
Mas, na verdade, não foi somente a depressão que teve após o 'Caso
Simeira’' que o levou ao isolamento, longe disso. Ele sempre foi muito quieto
mesmo. Deve-se muito às suas atividades como escritor e estudioso da Alquimia.
Mas, agora ele precisava investigar mais sobre a moça assassinada.
“Será que Lukni tem algo a me dizer? Vamos ouvi-la.”
O detetive olhou com cuidado o local e viu um copo perto da parede nos
fundos do terreno. Será que tinha algo no copo?
Dentro havia uma bebida amarelada
Lourenço levou com cuidado o copo para perto e cheirou. Tinha um leve
cheiro de abacaxi.
Separou com cuidado e entregou ao perito pedindo-lhe que tão logo
descobrissem do que se tratava que ele fosse informado.
Mas, nós já sabemos do que se tratava: aluá.
Antero Catan
Mulher que me tornei
Mostram a realidade
Sofrimento, liberdade
luta contra o opressor
Márcia Lopes
Lógica de um folião do carnaval
As horas passavam e no bar somente uns cinco foliões. Meu amigo não se
continha de tão feliz e se gabava que o bloco iria bombar.
Dali a pouco chegaram os músicos da banda. Aparentemente tinham vindo de
outro trabalho. Alguns estavam até suados. Será que correram
por acharem que já estavam atrasados? Mas, de folião mesmo não tinha quase
ninguém.
Perguntei a ele se havia feito divulgação pelo modo tradicional ou a nova
divulgação que todos fazem pelas redes sociais. Ou mesmo o tradicional boca-a-
boca.
"Divulgação nenhuma, amigo... mas vai bombar o bloco você vai ver só!"
Dei um desconto ao meu amigo. Ele achava que em menos de meia hora seu
bloco estaria cheio? Não tinha nenhuma lógica no que ele estava dizendo. Devia ser
por conta da animação do carnaval e do álcool claro.
A inauguração do bloco, pelo que tudo indicava, seria um fracasso. Mas,
iríamos nos divertir de qualquer jeito mesmo... pelo menos isso!
De repente um outro folião, também da diretoria do bloco do meu amigo
Gaspar, entra correndo no bar onde estávamos e grita:
"Tá na hora! Vamos pra rua! O bloco vai sair!"
Saímos do bar com nossos copos de cerveja na mão e fomos da rua pequena
onde estávamos para uma das rua principais do bairro de Irajá, subúrbio do Rio de
Janeiro.
De repente, para minha completa surpresa e incredulidade, olho pro lado e
noto que tem centenas de foliões na rua, cantando e dançando no bloco "Se você
for: Irá já", com a banda naquela algazarra, a marchinha eterna "Me dá um dinheiro
aí!" gravada na década de 60 por: Ivan, Homero e Glauco Ferreira e depois por
Moacir Franco, que foi quem a popularizou de vez.
Incrível, o bloco estava bombando mesmo! Meu amigo estava certo. Fiquei
desconcertado tentando entender o ocorrido. Não via nenhuma lógica naquilo.
Pulei, cantei, bebi e me diverti demais naquele bloco bombástico.
No dia seguinte, liguei pro amigo Gaspar. Isso bem depois do horário do
almoço por conta das ressacas.
Perguntei pra ele qual tinha sido o segredo do bloco ter bombado tanto, como
tinha tanta gente sem nenhuma divulgação!?
"Simples, Isaac, nosso bloco é de rebarba! Ou como se diria na gíria antiga:
de banda!
"Não entendi!? Como assim?"
Perguntei pra ele qual tinha sido o segredo do bloco ter bombado tanto, como
tinha tanta gente sem nenhuma divulgação!?
"Simples, Isaac, nosso bloco é de rebarba! Ou como se diria na gíria antiga:
de banda!
"Não entendi!? Como assim?"
"Tem um bloco tradicional no bairro que desfila numas ruas próximas de onde
o nosso bloco saiu. Não vou dizer nem o nome... mas o desfile deles é curto,
sempre foi! Só que os foliões, naquela empolgação que você já conhece, ficam com
gosto de 'quero mais'... então, pensei o seguinte: o desfile do outro bloco termina
exatamente na rua paralela à nossa, só que do outro lado da praça. Se do lado de
cá nós começarmos uma saída de bloco, com bastante empolgação, alguns minutos
depois que o desfile deles terminar os foliões correrão todos para o nosso lado! E o
nosso vai ficar cheio... 'de rebarba', 'de banda'!"
Ah tá! Agora sim eu entendi a lógica do meu amigo folião. De quebra acabei
aprendendo que podemos formar novas lógicas a todo momento! Até mesmo em
relação a um desfile de bloco de carnaval! Coisas do nosso subúrbio carioca!
Leitor amigo, é que existem várias lógicas em Matemática. A tradicional,
lembra, aquela do "sim/não", "verdadeiro/falso", a que todos estudamos na escola.
Alguns professores é que acabam esquecendo de mencionar que várias lógicas
existem e podem ser criadas.
Aliás, quem não é do ramo talvez não saiba, o Brasil é um país
respeitadíssimo na área da Lógica e um dos nossos maiores nomes é o de Newton
Carneiro Affonso da Costa.
Ele é matemático, lógico, filósofo e um dos pensadores brasileiros mais
reconhecidos internacionalmente.
O professor Newton teve seu reconhecimento principalmente pela formulação
da lógica paraconsistente. Pra se ter uma ideia de sua importância o Japão usa uma
aplicação da lógica paraconsistente, a do Professor Newton, para controle e
automatização das suas linhas de metrô.
Vamos fazer um breve resumo: a lógica paraconsistente consegue tratar
matematicamente as contradições.
Duas afirmações, ainda que contraditórias, podem ser verdadeiras ao mesmo
tempo, o que parece incrível e mágico, não!?
Uma das bases da lógica clássica é um princípio chamado de "Princípio da não
contradição". E a lógica paraconsistente coloca em xeque esta base, este pilar de
sustentação da lógica clássica.
No caso do bloco que bombou vimos isso: a lógica clássica, no caso a que eu
estava "usando" dizia que era impossível um bloco novo, de primeiro carnaval
'bombar' sem que ninguém fizesse divulgação nas redes socias, ou a divulgação
clássica: rádio, televisão, jornais, nem mesmo a divulgação do boca-a-boca.
E, seja sincero caro leitor, eu não tinha razão? Tinha, sim! Pela lógica clássica
o bloco iria ser o bloco do eu sozinho, o bloco dos esquecidos.
Mas, a lógica do folião se sobressaiu!
No caso do bloco que bombou vimos isso: a lógica clássica, no caso a que eu
estava "usando" dizia que era impossível um bloco novo, de primeiro carnaval
'bombar' sem que ninguém fizesse divulgação nas redes socias, ou a divulgação
clássica: rádio, televisão, jornais, nem mesmo a divulgação do boca-a-boca.
E, seja sincero caro leitor, eu não tinha razão? Tinha, sim! Pela lógica clássica
o bloco iria ser o bloco do eu sozinho, o bloco dos esquecidos.
Mas, a lógica do folião se sobressaiu!
Veja como a lógica pode nos trair: disse pros amigos editores da revista que
minha primeira coluna pra revista seria sobre Etnomatemática (que tem tudo a ver
com o subúrbio pois é a matemática que fazem os povos, matemática diferente da
academia, dos bancos escolares). Acabei falando sobre Lógicas! Vai entender essa
lógica do planejamento!?
E a lógica do meu amigo Gaspar, hein!? Ele tinha razão: o bloco "Se você for:
Irá já!" bombou! Foi um sucesso!
Meu amigo ainda se mostrou inteligentíssimo em matéria de Economia
Popular: seu bloco foi um sucesso e eles ainda economizaram tempo e dinheiro com
marketing e divulgação.
Mas, vamos voltar ao tema de "lógicas do povão". Mas prometo que na coluna
do mês que vem falaremos de Etnomatemática e juntos vamos construir, com
coisinhas que jogamos no lixo, um jogo africano chamado Kalaha, popular em
diversas sociedades africanas é um jogo que tem sido objeto de estudo da
Etnomatemática.
Pra encerrar a história do meu amigo Gaspar, vim a saber depois que os
músicos do novo bloco foram os mesmos que tocaram no bloco tradicional. E que
aceitaram tocar no bloco estreante por um cachê menor, pois segundo a lógica dos
músicos:
"Ah! Tá bom! A banda já está aqui mesmo! Aceitamos o cachê com este
desconto proposto."
Herald Costa
De dentro do Quilombo - Pedra do Sal, quilombo patrimônio carioca
Malkia Usiku
Lembrando Dreyer depois de um Dreher no subúrbio