Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
DIREITO EMPRESARIAL
2. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
2.1. DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE: Momento em que se considera
dissolvida a sociedade empresária para fins de apuração de haveres – (Info 595)
Morte de um dos sócios: Quando um dos sócios morre, haverá também, pelo menos a
princípio, a dissolução parcial da sociedade. Isso porque pode acontecer de os demais
sócios quererem continuar a sociedade. Veja o que estabelece a regra do art. 1.028 do
CC, válida para as sociedades simples, mas que pode ser aplicada supletivamente às
sociedades limitadas (art. 1.053):
Apuração de haveres: O sócio que deixa uma sociedade tem direito de receber a sua
parte no patrimônio da sociedade. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a
sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres,
que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599 do CPC 2015. Da mesma forma, se
um dos sócios morre, haverá, como vimos, a dissolução parcial da sociedade, e os
herdeiros do sócio falecido terão direito de receber a parte que ele tinha na sociedade.
Isso é feito por meio da apuração de haveres.
No art. 600 do CPC 2015 estão listadas as pessoas que têm legitimidade para ingressar
com a ação de dissolução parcial de sociedade.
3. TRESPASSE
3.1. A cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva –
(Info 554) – IMPORTANTE!!!
4. SOCIEDADES
4.1. Quórum para exclusão judicial do sócio majoritário não inclui as suas quotas
– (Info 616) – Atenção! Juiz de Direito!
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição
durante o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da
empresa, por alienação de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do
benefício.
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76.
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015,
ele vendeu suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e
deliberou pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano
anterior (2014). Este indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato
de declaração do dividendo (data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do
quadro de acionistas da Companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 3/8/17 (Info 610).
OBS:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações
nominativas à pessoa que, na data do ato de declaração do
dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária
da ação.
4.3. Se parte das quotas do sócio retirante estão empenhadas (penhor), a apuração
dos haveres ficará limitada às quotas livres do ônus real – (Info 608)
A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio societatis pode ser
requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres às suas quotas livres
de ônus reais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1/6/17 (Info 608).
5. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO
5.1. Aplicação do art. 1.034 do CC para a sua dissolução judicial – (Info 554)
6. SOCIEDADE LIMITADA
6.1. O herdeiro necessário não possui legitimidade para ação de dissolução parcial
de sociedade, salvo se for em defesa de interesse do espólio – (Info 611)
6.2. Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas
de responsabilidade limitada – (Info 558)
Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após
março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606,
que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy
Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 3/3/15 (Info 558).
7. SOCIEDADE ANÔNIMA
7.1. Inventariante não pode votar em assembleia da sociedade anônima alterando
o controle da companhia e alienando bens do acervo patrimonial – (Info 612)
7.3. Definição do “valor justo de mercado” como critério a ser utilizado para o
cálculo do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante – (Info 611)
A definição do valor justo de mercado como critério a ser utilizado para o cálculo
do valor de reembolso das ações do acionista dissidente retirante, por ocasião da
incorporação da companhia controlada, não infringe o disposto no art. 45, § 1º, da
Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações).
A utilização do valor justo de mercado como parâmetro para indenizar as ações de
acionista retirante em caso de incorporação de companhias não fere a Lei das
Sociedades Anônimas, e é possível nos casos em que o valor do patrimônio líquido
contábil da empresa incorporada não reflita fielmente o valor daquelas ações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.572.648-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17
(Info 611).
7.4. Dissolução parcial da sociedade anônima que não está gerando lucros – (Info
595)
É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por
grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir
seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de
dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos
negócios da companhia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 6/12/16 (Info 595).
(TRF4-2013): Segundo a jurisprudência prevalente, é possível a dissolução parcial
de sociedade anônima com a retirada dos sócios dissidentes, após a apuração de
seus haveres.
1. APURAÇÃO DE HAVERES
1.1. Competência para julgar dissolução parcial de sociedade limitada com
apuração de haveres – (Info 566)
1. COOPERATIVAS
1.1. Alteração no CNPJ por transformação de sociedade cooperativa – (Info 568)
1. CONTRATO DE FRANQUIA
1.1. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser
observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!!
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim,
é um contrato de adesão.
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula
compromissória só terá eficácia se o aderente:
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de
consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º,
da Lei 9.307/96.
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de
franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
CONTRATO DE FRANQUIA: A franquia é um contrato por meio do qual uma
empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca
ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a
transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de
franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes
termos:
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um
franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou
patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou
semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente,
também ao direito de uso de tecnologia de implantação e
administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante
remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique
caracterizado vínculo empregatício.
2. FACTORING
2.1. Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem
legitimidade para figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto – (Info
608)
2.3. Faturizada responde caso o título cedido à faturizadora seja inexistente – (Info
535)
3. TÍTULOS DE CRÉDITO
3.1. Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa preste aval
em títulos de créditos típicos – (Info 604) – NOVIDADE!!!
O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente
pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de
bens for da separação absoluta).
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de
descaracterizar o aval como instituto cambiário.
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para
os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código
Civil.
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis
especiais, não precisam obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC.
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de
outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória,
cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/3/17
(Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/11/2016.
OBS:
No que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação
apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da
regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a
criação dos denominados títulos atípicos ou inominados.
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta
regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o
aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em
regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento
de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil.
Mesmo que tenha transcorrido esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua
força executiva (esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. O
beneficiário terá duas opções para cobrar o valor contido na nota promissória:
Dica: pelo fato de o art. 48 do Dec. 2044/08 prever uma ação específica para cobrar o
valor do título, não deve o autor ingressar com ação de enriquecimento sem causa
baseada no art. 884 do Código Civil. Isso porque a ação de enriquecimento sem causa
amparada no Código Civil não tem cabimento caso a lei já preveja outro meio
especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo. Veja a redação do art.
884: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros
meios para se ressarcir do prejuízo sofrido".
Qual é o prazo prescricional de que dispõe o autor para ajuizar essa ação de
locupletamento da nota promissória prescrita? 3 anos, contados do dia em que se
consumar a prescrição da ação executiva.
Como o Dec. 2044/08 não prevê prazo prescricional específico para o exercício dessa
pretensão, utiliza-se o prazo previsto no art. 206, § 3º, IV, do CC, de acordo com o qual
prescreve em "três anos" "a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa".
Cuidado:
Ação de locupletamento envolvendo NOTA PROMISSÓRIA (art. 48 do
Decreto nº 2.044/1908): prazo prescricional de 3 anos.
Ação de locupletamento envolvendo CHEQUE (art. 62 da Lei n.º 7.357/85):
prazo prescricional de 2 anos.
A pessoa que está obrigada a pagar o título de crédito poderá invocar exceções
pessoais que tenha contra o beneficiário original para evitar o pagamento mesmo
que este título tenha circulado e já se encontre nas mãos de terceiro? A pessoa, para
não pagar, pode alegar que o negócio subjacente não aconteceu?
• Regra: NÃO. Se o título circulou e se encontra nas mãos de terceiro de boa-fé, este
poderá cobrar o valor do devedor. O devedor, por seu turno, não poderá invocar
contra o portador exceções pessoais que tenha e que estejam relacionadas com o
beneficiário original.
• Exceção: Factoring. Se o título tiver sido cedido para uma empresa de factoring:
SIM. Na operação de factoring, há verdadeira cessão de crédito, e não mero
endosso, razão pela qual fica autorizada a discussão da causa debendi, conforme
prevê o art. 294 do CC. A faturizadora (factoring) não pode ser equiparada a um
terceiro de boa-fé porque ela tem uma relação mais profunda com a faturizada,
devendo fazer uma análise do crédito que lhe está sendo transferido.
O sacado pode opor à faturizadora a qual pretende lhe cobrar duplicata recebida
em operação de factoring exceções pessoais que seriam passíveis de contraposição
ao sacador, ainda que o sacado tenha eventualmente aceitado o título de crédito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.439.749-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
2/6/2015 (Info 564).
Após o pagamento do título protestado, o credor que foi pago tem a responsabilidade
de retirar o protesto lavrado?
NÃO. Após a quitação da dívida, incumbe ao DEVEDOR, providenciar o
cancelamento do protesto, salvo se foi combinado o contrário entre ele e o credor.
No regime próprio da Lei 9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito
ou outro documento de dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário,
incumbe ao devedor, após a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do
protesto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.339.436-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/9/2014 (recurso repetitivo) (Info 548).
4. PROTESTO
4.1. Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas cuja
dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios – (Info 616) – Atenção! Juiz de
Direito!
Personagens:
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
Título executivo: O cheque é título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC 2015).
Assim, se não for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra
o emitente e eventuais codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é
conhecida como “ação cambial”.
O que é o chamado “prazo de apresentação do cheque”? É o prazo de que dispõe o
portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de receber o valor
determinado na cártula. Ex: João passa um cheque de 2 mil reais para Eduardo. O
prazo de apresentação é o tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e
receber o valor. O prazo de apresentação começa a ser contado da data da emissão do
cheque.
Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da
execução do cheque.
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM.
Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
Diz-se que o cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o
beneficiário poderá cobrar o valor desse cheque por outros meios, quais sejam:
1) Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art.
61 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do dia
em que se consumar a prescrição da ação executiva.
3) Ação monitória.
Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado
do emitente por meio de ação monitória? SIM. O beneficiário do cheque poderá
ajuizar uma ação monitória para cobrar do emitente o valor consignado na cártula.
Existe até uma súmula que menciona isso: Súmula 299-STJ: É admissível a ação
monitória fundada em cheque prescrito.
O que é um protesto de título? É o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião,
com a finalidade de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação
constante de título de crédito ou de outros documentos de dívida.
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo
de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional
relativo à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o
prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior
devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da
expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta
no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do
cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título. Em
outras palavras, o art. 48 da Lei 7.357/85 trata apenas da possibilidade de cobrança
dos eventuais devedores indiretos (coobrigados), mas não do devedor principal
(emitente). O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de
apresentação, desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do
pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do
momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.
E quanto aos danos morais? João (devedor) deverá ser indenizado por danos morais?
NÃO. Isso porque o cheque, apesar de estar prescrito, ainda poderia ser cobrado por
outros meios. No âmbito do protesto irregular de título de crédito, o reconhecimento
do dano moral está diretamente relacionado com a ideia do abalo de crédito causado
pela publicidade do ato notarial que, naturalmente, faz associar ao devedor a pecha
de “mau pagador” perante a praça. Se houve um protesto irregular (porque o cheque
está prescrito), mas existem ainda outras vias alternativas para a cobrança da dívida,
entende-se que esse protesto indevido não gerou um abalo no crédito do devedor,
considerando que o emitente do título permanece na condição de devedor, estando,
de fato, impontual no pagamento. Com efeito, aquele que, efetivamente, insere-se na
condição de devedor, estando em atraso no pagamento de dívida regularmente por si
assumida, passível de cobrança por meios outros que não a execução, não pode se
sentir moralmente ofendido pelo protesto, mesmo sendo ele extemporâneo. No caso
concreto, mesmo estando o cheque prescrito, a empresa ainda tinha, à sua
disposição, três ações judiciais possíveis. Assim, embora indevido o protesto, João
permanecia na condição de devedor inadimplente, razão pela qual não está
caracterizado abalo de crédito apto a ensejar a caracterização de dano moral
indenizável.
Quais são as vantagens do credor realizar o protesto? Existem inúmeros efeitos que
decorrem do protesto; no entanto, as duas principais vantagens para o credor são as
seguintes:
a) serve como meio de provar que o devedor está inadimplente;
b) funciona como uma forma de coerção para que o devedor cumpra sua obrigação
sem que seja necessária uma ação judicial (como o protesto lavrado gera um abalo no
crédito do devedor, que é inscrito nos cadastros de inadimplentes, a doutrina afirma
que o receio de ter um título protestado serve como um meio de cobrança extrajudicial
do débito; ao ser intimado do protesto, o devedor encontra uma forma de quitar seu
débito).
Intimação: Como vimos acima, o tabelião irá determinar a intimação do devedor para
que, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a sustação do protesto antes de ele ser
lavrado. As regras da intimação estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.492/97.
Hipóteses de intimação por edital: A intimação será feita por edital se a pessoa
indicada para aceitar ou pagar (devedor) for:
a) desconhecida;
b) tiver sua localização incerta ou ignorada;
c) for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato; ou
d) caso ninguém se disponha a receber a intimação no endereço fornecido.
4.3. Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de crédito bancário
garantida por alienação fiduciária – (Info 579)
Diante desta diversidade de locais, indaga-se: onde deverá ser lavrado este protesto?
Em São Paulo (capital) ou em Campinas. Foi a tese fixada pelo STJ em recurso
repetitivo.
A determinação para que o protesto seja feito no local indicado pelo título como praça
de pagamento está prevista no art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908:
Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite
ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no
primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do
vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de três dias
úteis.
Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado
na letra para o aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a
letra para ser paga em outro domicílio que não o do sacado,
naquele domicílio deve ser tirado o protesto.
Também pode ser admitido que o protesto ocorra no domicílio do devedor porque
isso se mostra mais vantajoso para ele, de forma que não poderá invocar qualquer
nulidade no ato.
4.4. Não cancelamento do protesto pela prescrição do título cambial – (Info 562)
João não pagou uma nota promissória que emitiu em favor da empresa “XX”.
Diante disso, a empresa levou a nota promissória a protesto no Tabelionato de
Protesto. Quatro anos depois, a empresa ajuizou execução de título extrajudicial
contra João cobrando o valor estampado na nota promissória. A execução, contudo,
foi extinta porque o juiz constatou que houve prescrição da ação executiva. João
ajuizou ação de cancelamento do protesto, alegando que, como houve a prescrição
da execução, deveria automaticamente ocorrer o cancelamento do protesto
realizado. A tese de João está correta?
NÃO. A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o
cancelamento automático de anterior protesto regularmente lavrado e registrado. A
validade do protesto não está diretamente relacionada com a exequibilidade do
título ou de outro documento de dívida, mas sim com a inadimplência e o
descumprimento da obrigação representada nestes papéis.
A inadimplência e o descumprimento não desaparecem com a mera prescrição do
título executivo não quitado. Em outras palavras, o devedor continua sendo
inadimplente, apesar de o título não poder mais ser cobrado mediante execução.
Então, não pode o protesto ser cancelado simplesmente pelo fato de ele não poder
ser mais executado.
Vale lembrar que, mesmo havendo a prescrição da ação executiva, o credor ainda
poderá cobrar o valor da nota promissória por meio da ação monitória.
STJ. 4ª Turma. REsp 813.381-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/11/2014 (Info
562).
4.5. Simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que
de forma indevida, não gera dano moral
5. CHEQUE
5.1. Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque
– (Info 587)
Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja,
aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.
Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução
do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para
pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário
perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente
do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus
avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no
prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa
de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei 7.357/85).
Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM.
Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
Diz-se que o cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim, o
beneficiário poderá cobrar o valor desse cheque por outros meios, quais sejam:
Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no
art. 61 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos,
contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.
Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo
é de 5 anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, CC.
Ação monitória (Súmula 503-STJ): O prazo para ajuizamento de ação
monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a
contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula).
A dúvida que existia dizia respeito ao termo inicial desses juros e correção monetária.
Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que conta os juros a partir da citação
inicial.
Obs: a Lei do Cheque veda a cobrança de juros compensatórios (art. 10). Nesse sentido:
É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo
de apresentação? SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo
à ação cambial de execução.
Mas o art. 48 da Lei 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o
prazo de apresentação. Veja: “Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior
devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da
expiração do prazo de apresentação.” E agora? O STJ afirma que a exigência imposta
no art. 48 de que o protesto ocorra antes de expirado o prazo de apresentação do
cheque só vale para o protesto necessário, isto é, aquele feito contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.
O protesto pode ser feito contra o emitente mesmo após o prazo de apresentação,
desde que o cheque ainda não esteja prescrito.
Relembrando:
Prazo de apresentação do cheque: 30 dias, se ele for da mesma praça do
pagamento ou 60 dias, se for de praça diferente.
Prazo prescricional para a execução do cheque: 6 meses, contados a partir do
momento em que termina o prazo de apresentação do cheque.
Resumindo:
O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o
exercício do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado
o prazo de apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do
chamado protesto necessário.
O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer
mesmo depois do prazo de apresentação, desde que não
escoado o prazo prescricional. Esse é o protesto facultativo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de
Noronha, j. 24/2/15 (Info 556).
5.3. Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento – (Info 584)
– IMPORTANTE!!! – VIDE INFO 528 DO STJ!
Personagens
a) emitente (sacador): aquele que dá a ordem de pagamento;
b) sacado: aquele que recebe a ordem de pagamento (o banco);
c) beneficiário (tomador, portador): é o favorecido da ordem de pagamento, ou seja,
aquele que tem o direito de receber o valor escrito no cheque.
Então para que serve esse prazo de apresentação? A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução
do cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para
pagamento dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário
perde o direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente
do cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus
avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no
prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa
de pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei 7.357/85).
CHEQUE "PRÉ-DATADO"
Cheque “pré-datado” (ou “pós-datado”): Vimos que o cheque é uma ordem de
pagamento à vista. Isso está previsto na própria Lei do Cheque (Lei 7357/85):
Art. 32. O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita
qualquer menção em contrário.
Ocorre que há anos, adotou-se outra prática, qual seja, a de se colocar uma data futura
no cheque, com o objetivo de proporcionar que o emitente tenha um prazo maior para
pagamento. Ex: no dia 16/05, Maria queria fazer uma escova no salão de cabeleireiro.
Ocorre que ainda não havia recebido seu salário. Por isso, combinou com a dona do
salão de “passar” um cheque com data de 04/06, momento no qual a sua remuneração
já teria sido depositada.
O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação ajuizada
com o objetivo de reparar os prejuízos decorrentes da devolução de cheque sem
provisão de fundos emitido por correntista.
Ex: João emitiu um cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco tentar sacar a
quantia, mas o cheque foi recusado por falta de fundos. Paulo ajuizou ação de
indenização contra o banco alegando que houve má prestação do serviço bancário.
Isso porque a instituição financeira deveria ser mais cautelosa e diligente ao
fornecer talonário de cheques aos seus clientes, verificando se são bons pagadores,
se possuem renda suficiente, se já têm conta há muito tempo etc. Tal pedido não
encontra amparo na jurisprudência do STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.509.178-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
20/10/2015 (Info 574).
Resumindo...
Não há defeito na prestação do serviço bancário quando ocorre devolução de cheque
desprovido de fundos, sendo o emitente do cheque o único responsável pelo
pagamento da dívida.
5.5. Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não é pago
– (Info 564)
6. DUPLICATA
6.1. Emissão de duplicata com base em mais de uma nota fiscal – (Info 581)
A tese da empresa foi acolhida pelo STJ? Houve irregularidade no fato de a duplicata
se referir a mais de uma nota fiscal? NÃO.
O que é uma nota fiscal? É um "Documento fiscal a ser obrigatoriamente emitido por
comerciantes e industriais, sempre que promoverem a saída de mercadorias ou a
transmissão de sua propriedade." (LOPES DE SÁ, Antônio; LOPES DE SÁ, Ana Maria.
Dicionário de Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1994). A nota fiscal prova que houve a
realização de um negócio jurídico sujeito à fiscalização tributária. Faz prova da
entrada e saída de mercadorias de estabelecimentos empresariais, acompanhando a
sua entrega aos destinatários.
Duplicata e fatura são documentos diferentes: A fatura não é título de crédito. O título
é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura apenas prova a existência
do contrato.
Fatura pode abranger mais de uma nota: A duplicata só poder espelhar uma fatura,
ou seja, para cada fatura, uma duplicata. No entanto, a fatura pode corresponder à
soma de diversas notas parciais. A nota parcial é o documento representativo de uma
venda parcial ou de venda realizada dentro do lapso de um mês, que poderá ser
agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo comprador. Não há
proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso de um
determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura única ao seu
final.
6.2. Na duplicata mercantil o aceite não pode ser lançado em separado – (Info 580)
– IMPORTANTE!!!
Espécies de duplicata
Duplicata mercantil: emitida por causa da compra e venda mercantil;
Duplicata de serviços: emitida por causa da prestação de serviços.
Características da duplicata
a) Título causal: a duplicata só pode ser emitida para documentar o crédito decorrente
de dois negócios jurídicos: a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços.
Essa causa da duplicata é mencionada no próprio título. Por conta dessa característica,
alguns autores afirmam que se trata de um título impróprio. Obs: o contrário dos
títulos causais são os “não causais” ou “abstratos”, como o caso da nota promissória.
b) Ordem de pagamento.
c) Título de modelo vinculado (título formal): os padrões de emissão da duplicata são
fixados pelo Conselho Monetário Nacional. A duplicata somente produz efeitos
cambiais se observado o padrão exigido para a constituição do título.
Aceite: É o ato por meio do qual o sacado assina a cártula se obrigando a pagar, na
data do vencimento, o crédito que está descrito no título. O aceite existe em dois títulos
de crédito: na letra de câmbio e na duplicata. A diferença é que:
na letra de câmbio o aceite é facultativo;
e na duplicata, o aceite é obrigatório, somente podendo ser recusado nas
hipóteses legalmente previstas.
Quando o sacado promove o aceite no título, a dívida, que era somente obrigacional,
passa a ser também cambiária. Nasce o título de crédito que poderá ser executado
como título executivo extrajudicial (art. 15, I, da Lei nº 5.474/68).
Logo, o aceite lançado em documento que não seja a própria duplicata não possui
nenhuma eficácia cambiária.
Tipos de aceite:
a) aceite ordinário (expresso): ocorre quando o sacado (comprador ou tomador dos
serviços), não encontra nenhum problema em aceitar e, por isso, assina em um campo
próprio localizado na frente (anverso) do título, devolvendo-o em seguida.
b) aceite presumido: ocorre quando o sacado resolve não assinar ou não devolver a
duplicata assinada, no entanto, ao receber as mercadorias compradas, ele assinou o
comprovante de recebimento, sem fazer qualquer ressalva quanto aos bens
adquiridos. Ora, se ele recebeu normalmente as mercadorias é porque se presume que
o vendedor cumpriu sua obrigação contratual. Logo, esse comprador deveria ter feito
o aceite da duplicata. Nesses casos, o sacador deverá fazer o protesto do sacado por
falta de aceite ou por falta de pagamento. Diante disso, é admitido como aceite
presumido da duplicata: o comprovante de entrega das mercadorias assinado pelo
sacado acompanhado do instrumento do protesto do título por falta de aceite ou falta
de pagamento.
Dessa forma, no caso de aceite presumido, para que a duplicata possa ser um título
executivo extrajudicial, é necessário comprovar a entrega das mercadorias mais o
protesto. Se o vendedor não conseguir demonstrar isso, ainda assim ele poderá ajuizar
ação monitória ou mesmo ação de cobrança contra o devedor.
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não
é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser
analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto
(necessariedade e inevitabilidade – art. 393, parágrafo único, do Código Civil).
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da
propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da
obrigação. Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus
efeitos.
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o
MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão
constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios
de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16
(Info 589).
Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data
do pedido de recuperação judicial. Isso significa dizer que todos os créditos serão
necessariamente atualizados até a data do pedido de recuperação judicial. A partir de
então, poderá o plano deliberar modificação das condições originalmente contratadas,
impedindo a fluência de juros e correção monetária após o requerimento de
recuperação judicial.
O art. 9º, II, da Lei de Falências afirma expressamente que a atualização do valor do
crédito habilitado deverá ocorrer até a data do pedido de recuperação judicial.
Todos os créditos devem ser tratados de maneira igualitária, sejam eles fundados em
título judicial ou extrajudicial, sempre com vistas à formação harmoniosa do quadro
geral de credores e sua desejável realização prática a viabilizar o soerguimento da
empresa. Assim, todos os créditos deverão respeitar a regra do art. 9º, II.
Além disso, o art. 49, §2º, da Lei de Falências estabelece que “as obrigações anteriores à
recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei,
inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no
plano de recuperação judicial.”
Em habilitação de créditos na recuperação judicial, aceitar a incidência de juros de
mora e correção monetária em data posterior ao pedido da recuperação judicial
implica negativa de vigência ao art. 9º, II, da Lei de Falências. Esse entendimento não
representa violação da coisa julgada, significando apenas que está sendo feito um
“exercício de interpretação normativa própria da matriz axiológica que norteia o
instituto da recuperação judicial” (Min. Nancy Andrighi).
Deve-se lembrar, por fim, que o art. 59 da Lei de Falências dispõe que “o plano de
recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e
todos os credores a ele sujeitos”. A novação do crédito, oriundo de sentença condenatória
por reparação civil, permite o ajuste do cálculo da dívida na recuperação, sem que isso
implique violação da coisa julgada, pois a execução seguirá as condições pactuadas na
novação e não na obrigação extinta.
OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e
executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência.
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela
assembleia geral de credores.
Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor
apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo
aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação
de eventuais objeções. Os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não
concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores
apresentarem objeções é de 30 dias.
Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano
no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será
necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz
deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de
recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos
pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, §
1º).
“BONDHOLDERS”
Noções gerais: Tem sido cada vez mais comum que empresas brasileiras emitam
títulos (ou papeis representativos de dívida) no mercado internacional como uma
forma de captar recursos.
Assim, é como se fosse um “empréstimo” que a empresa obtém no exterior emitindo
títulos em favor dos investidores estrangeiros. Esses títulos de dívida são conhecidos
como bonds (“obrigação”) e os investidores que adquirem esses títulos são chamados
de bondholders (“obrigacionistas”). Assim, os bondholders são investidores que
adquiriram títulos de dívida (bonds) emitidos por companhias brasileiras que
buscaram financiar suas atividades no exterior. A emissão desses bonds é
instrumentalizada (formalizada) por meio de uma escritura (indenture), que deve
indicar o nome do agente fiduciário (indenture trustee) responsável por atuar em favor
dos investidores finais. Essa escritura (indenture) deverá estabelecer os direitos e
deveres dos titulares (bondholders), quais são emissores e os garantidores dos títulos e
também quem é o agente fiduciário (indenture trustee) que funciona como
representante dos interesses dos bondholders.
OBS:
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas
pelo juízo onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor
em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio
da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões
prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial,
insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens
da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação.
Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de
soerguimento judicial ou falimentar, como no presente caso,
não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo
diverso daquele da recuperação ou da falência.
STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
28/09/16.
Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei
expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido
que, embora as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação
dar seguimento a atos que envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial
do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a recuperação judicial, as
execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos pelo
juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da
recuperação judicial; todavia, fica definida a competência do
Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou
de alienação.
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j. 10/08/2016.
Uma vez deferido o pedido de recuperação judicial, fica obstada (proibida) a prática
de atos expropriatórios por juízo distinto daquele onde está tramitando o processo
recuperacional. Isso vale mesmo para créditos decorrentes de relação de consumo,
como no caso do exemplo acima dado.
Mesmo já tendo havido penhora, como no exemplo? SIM. Mesmo que a penhora já
tenha sido realizada em data anterior ao deferimento do pedido de recuperação
judicial, ainda assim os próximos atos de expropriação somente poderão ser decididos
pelo juízo da recuperação judicial:
A jurisprudência desta Corte assentou-se no sentido de que,
decretada a falência ou deferido o processamento da
recuperação judicial, as execuções contra o devedor não
podem prosseguir, ainda que exista prévia penhora. Na
hipótese de adjudicação posterior levada a efeito em juízo
diverso, o ato deve ser desfeito, em razão da competência do
juízo universal e da observância do princípio da preservação
da empresa.
STJ. 2ª Seção. CC 111.614/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
12/6/13.
Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes?
SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram
à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente
à homologação do acordo. Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa
determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina:
"Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de
recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do plano de
recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se
oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à
decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem
outra alternativa. Se no plano aprovado em juízo é prevista a
substituição de determinada garantia real por outra de menor
valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se
opor ao mérito dessa medida, por mais que considere seus
interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa.
Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de
Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236)
OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste em um processo judicial, no qual será construído e
executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência.
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções: Após o devedor
apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo
aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação
de eventuais objeções. Os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não
concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores
apresentarem objeções é de 30 dias.
Se não houver objeção dos credores: Caso nenhum credor apresente objeção ao plano
no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será
necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano.
Se houver objeção por parte dos credores: Havendo objeção de algum credor, o juiz
deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de
recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos
pertinentes, poderá:
a) aprovar o plano sem ressalvas;
b) aprovar o plano com alterações;
c) não aprovar o plano.
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, §
1º).
Se, após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha ocorrido o
encerramento da recuperação judicial, houver aprovação de novo plano de
recuperação judicial, o credor que discordar do novo acordo não tem direito a
receber o seu crédito com base em plano anterior aprovado pelo mesmo órgão.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.735-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17/3/2016 (Info 580).
OBS:
RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga
“concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do
devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam
preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será
construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em
vias de efetivamente ir à falência.
JUÍZO FALIMENTAR: A Lei 11.101/05, em seu art. 3º, prevê que é competente para
deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação
judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
Consequência dessa regra: Como vimos acima, tendo sido decretada a recuperação
judicial, os credores irão receber conforme o plano. Como consequência disso, em
regra, as ações e execuções que tramitam contra a empresa em recuperação são
suspensas para poder não atrapalhar a execução do plano. Veja:
Exceções à regra: A regra acima exposta (caput do art. 49) possui exceções que estão
elencadas nos §§ 3º e 4º. Dessa feita, nesses parágrafos estão previstos determinados
créditos que não se sujeitam aos efeitos da recuperação judicial.
Decisões sobre o patrimônio da empresa que está em recuperação deverão ser tomadas
pelo juízo onde tramita a recuperação: Além de as ações e execuções contra o devedor
em recuperação ficarem suspensas, o STJ afirma também que o destino do patrimônio
da sociedade em processo de recuperação judicial não pode ser atingido por decisões
prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o processo de reerguimento, sob
pena de violação ao princípio maior da preservação da atividade empresarial,
insculpido no art. 47 da LFRE. Em outras palavras, qualquer decisão que afete os bens
da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo onde tramita a recuperação.
Nesse sentido:
(...) o destino do patrimônio da empresa em processo de
soerguimento judicial ou falimentar, como no presente caso,
não pode ser atingido por decisões prolatadas por juízo
diverso daquele da recuperação ou da falência.
STJ. 2ª Seção. CC 137.178/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
28/09/16.
Vale ressaltar que, mesmo em processos de execução fiscal – hipóteses nas quais a lei
expressamente prevê a continuidade de tramitação (art. 6º, § 7º), o STJ tem entendido
que, embora as ações não se suspendam, compete ao juízo universal da recuperação
dar seguimento a atos que envolvam a expropriação de bens do acervo patrimonial
do devedor. Dito de outro modo, depois de deferida a recuperação judicial, as
execuções fiscais prosseguem, mas os atos de expropriação deverão ser decididos pelo
juízo onde tramita a recuperação judicial. Confira:
(...) A execução fiscal não se suspende com o deferimento da
recuperação judicial; todavia, fica definida a competência do
Juízo universal para dar seguimento aos atos constritivos ou
de alienação.
STJ. 2ª Seção. AgInt no CC 140.021/MT, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, j. 10/08/2016.
CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO
Plano aprovado: Imagine que o plano de recuperação tenha sido aprovado pelos
credores e, em razão disso, o juiz concedeu a recuperação judicial do devedor (art. 58).
Nesse cenário, a doutrina recente acena com a "teoria dos jogos" na recuperação
judicial. Segundo a teoria dos jogos, existe um relacionamento estratégica entre o
devedor e os credores, a fim de que se possa chegar a um consenso mínimo de ambas
as partes a respeito do plano de recuperação judicial. Essa negociação deve se pautar
pelo abandono de um olhar individualizado de cada crédito e um apego maior à
interação coletiva e organizada, já que isso evitaria consequências mais drásticas,
como a quebra da empresa.
O pedido dos credores deverá ser aceito? Estes créditos cedidos fiduciariamente pela
empresa para o banco deverão se submeter às regras da recuperação judicial? NÃO.
Estes créditos cedidos ao banco fiduciariamente como garantia da dívida não deverão
entrar na recuperação judicial, ou seja, estarão excluídos das regras da recuperação
judicial porque se tratam de uma exceção à regra do caput do art. 49, nos termos do §
3º do mesmo artigo. Veja:
Os credores argumentaram que esta cessão fiduciária dos créditos não teria validade
porque não foi registrada no cartório do Registro de Títulos e Documentos. Esta tese
foi acolhida pelo STJ? NÃO. Não é necessário que a cessão de crédito realizada tenha
sido registrada em cartório. Mesmo sem registro no RTD, esta cessão feita pela
sociedade empresária ao banco é válida. Foi o que decidiu o STJ. A alienação fiduciária
de bens móveis fungíveis, quando o credor fiduciário for instituição financeira, é
regida pelo art. 66-B da Lei nº 4.728/65. Esta Lei não exige o registro para que haja a
constituição da propriedade fiduciária.
O único efeito extra no caso de as partes decidirem fazer o registro do contrato é que,
com essa providência, ele passará a produzir efeitos em relação a terceiros, ampliando
a sua publicidade. No entanto, o contrato já é válido mesmo que celebrado apenas
entre as partes e sem registro.
Vale ressaltar, ainda, que o art. 42 da Lei nº 10.931/2004 prevê que "a validade e
eficácia da Cédula de Crédito Bancário não dependem de registro, mas as garantias
reais, por ela constituídas, ficam sujeitas, para valer contra terceiros, aos registros ou
averbações previstos na legislação aplicável, com as alterações introduzidas por esta
Lei."
No caso, a garantia dada não foi real, mas sim de bens móveis (títulos e direitos
creditícios). Logo, não era necessário registro ou averbação.
Os créditos que surgiram após o pedido de recuperação judicial não estão sujeitas
ao plano de recuperação judicial aprovado, independentemente da natureza do
crédito. Em outras palavras, o plano de recuperação abrange apenas as dívidas da
empresa que foram contraídas antes do pedido de recuperação. As dívidas
posteriores estão fora do plano.
Assim, se, após a empresa ter feito um pedido de recuperação judicial, surgiu contra
si um novo débito de honorários advocatícios sucumbenciais, o advogado que for
credor dessa dívida, para receber a quantia, não precisará habilitar esse crédito no
juízo universal da recuperação judicial. O credor poderá executar esses honorários
no juízo comum, não ficando a execução suspensa por força da recuperação judicial.
No entanto, apesar disso, o juízo universal da recuperação judicial deverá exercer
o controle sobre os atos de constrição ou expropriação patrimonial do devedor. O
juízo universal da recuperação pode decidir, por exemplo, que determinado bem
da empresa não deverá ser penhorado porque é essencial à atividade empresarial
e, se fosse expropriado, isso prejudicaria a sobrevivência da sociedade empresária
que está em recuperação. Ex: no juízo comum o credor pediu a penhora da principal
máquina da indústria que está em recuperação judicial; o juízo universal da
recuperação pode obstar que essa coisa seja penhorada porque se trata de bem de
capital essencial à atividade empresarial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.298.670-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/5/2015 (Info 564).
O CPC prevê que, quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais
autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os litisconsortes tenham advogados
diferentes, os seus prazos serão contados em dobro (art. 191 do CPC 1973 / art. 229
do CPC 2015).
Na recuperação judicial existe a possibilidade de litisconsórcio ativo. Ex: três
sociedades empresárias, integrantes do mesmo grupo econômico, estão em situação
de extrema dificuldade econômica e decidem pedir a recuperação judicial. Em caso
de litisconsórcio ativo, é possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC
2015).
Por outro lado, na recuperação judicial não existe a possibilidade de litisconsórcio
passivo. O motivo é muito simples: no processo de recuperação judicial não existem
réus. Os credores não são réus. Ocupam a posição de interessados. Portanto, não
havendo réus, não se pode falar que exista litisconsórcio passivo entre os credores
da recuperanda.
Assim, se no processo de recuperação judicial uma decisão desagradar aos credores
e eles decidirem recorrer, não terão prazo em dobro, mesmo que possuam
advogados diferentes. Em outras palavras, é inaplicável aos credores da sociedade
recuperanda o prazo em dobro para recorrer previsto no art. 191 do CPC 1973 (art.
229 do CPC 2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015
(Info 557).
11.19. Créditos que estão sujeitos e excluídos da recuperação judicial – (Info 550)
O juiz pode recusar-se a homologar o plano de recuperação judicial alegando que ele
não tem viabilidade econômica, mesmo já tendo sido aprovado em assembleia e
estando formalmente perfeito?
NÃO. Se o plano cumpriu as exigências legais e foi aprovado em assembleia, o juiz
deve homologá-lo e conceder a recuperação judicial do devedor, não sendo
permitido ao magistrado se imiscuir (intrometer) no aspecto da viabilidade
econômica da empresa.
O magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica do
plano de recuperação judicial.
O juiz deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação, analisando
se há fraude ou abuso de direito. No entanto, não cabe a ele fazer controle sobre a
viabilidade econômica do plano.
No mesmo sentido são os enunciados 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial do
CJF/STJ.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.319.311-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
9/9/2014 (Info 549).
11.21. Novação de dívidas por força de recuperação judicial não extingue as garantias
prestadas – (Info 540)
12. FALÊNCIA
12.1. Competência para julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa
falida – (Info 617)
b) Massa falida OBJETIVA (massa ativa): é o conjunto dos bens do falido que foram
arrecadados no processo falimentar.
Essa distinção acima é feita pela doutrina, não havendo tal diferenciação na lei.
A massa falida é administrada e representada pelo administrador judicial. O
administrador judicial é o que antigamente chamavam de “síndico da massa falida”,
tendo esta expressão sido abandonada pela Lei 11.101/05. A massa falida, embora seja
um ente despersonalizado (não é uma pessoa jurídica), tem capacidade de estar em
juízo como autora ou ré de processos judiciais. Em juízo, a massa falida é representada
pelo administrador judicial. Vale ressaltar que se alguém deseja ingressar com ação
contra o falido, deverá propor a demanda contra a massa falida.
A tese do Município foi acolhida pelo STJ? De quem é a competência para julgar
demanda cível ilíquida contra a massa falida, quando no polo passivo se encontra,
como litisconsorte passivo, pessoajurídica de direito público? SIM.
Assim, as ações que estiverem cobrando quantia ilíquida não precisam tramitar no juízo
universal da falência, podendo continuar ou serem propostas no juízo cível competente
segundo as leis de organização judiciária.
O que são ações que demandam quantia ilíquida? “A expressão usada pela lei não é
muito clara e deve ser interpretada como abrangendo as ações de conhecimento, nas
quais se discute a existência ou o valor de certos créditos.” (TOMAZETTE, Marlon.
Curso de Direito Empresarial. São Paulo: Atlas, 2017, p. 404).
O art. 6º, § 1º, fala em “prosseguimento”, ou seja, dando a entender que a ação já
havia sido proposta antes da falência. Se a ação cobrando quantia ilíquida for
proposta depois da falência, também será uma exceção ao juízo universal? SIM.
Tanto no caso de ações propostas antes como depois da decretação da falência, se
estas estiverem cobrando quantia ilíquida, não se submetem ao juízo universal da
falência, seguindo normalmente a competência estipulada na lei de organização
judiciária. Veja:
(...) A decretação da falência, a despeito de instaurar o juízo
universal falimentar, não acarreta a suspensão nem a atração
das ações que demandam quantia ilíquida: se elas já tinham
sido ajuizadas antes, continuam tramitando no juízo onde
foram propostas; se forem ajuizadas depois, serão
distribuídas normalmente segundo as regras gerais de
competência. Em ambos os casos, as ações tramitarão no juízo
respectivo até a eventual definição de crédito líquido. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.471.615/SP, Rel. Min. Marco
Buzzi, julgado em 16/9/2014.
A ação de indenização por danos morais se enquadra nesse conceito de “ação que
demandar quantia ilíquida”? SIM. Confira precedente nesse sentido:
(...) 3. A ação na qual se busca indenização por danos morais -
caso dos autos - é tida por "demanda ilíquida", pois cabe ao
magistrado avaliar a existência do evento danoso, bem como
determinar a extensão e o valor da reparação para o caso
concreto.
4. Tratando-se, portanto, de demanda cujos pedidos são
ilíquidos, a ação de conhecimento deverá prosseguir perante
o juízo na qual foi proposta, após o qual, sendo determinado
o valor do crédito, deverá ser habilitado no quadro geral de
credores da sociedade em recuperação judicial. Interpretação
do § 1º do art. 6º da Lei n. 11.101/2005. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.918/SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 7/4/2016.
Voltando ao exemplo dado: A ação proposta por João cobrava quantia ilíquida. Logo,
enquadrava-se no art. 6º, § 1º da Lei de Falências. Diante disso, o juízo da falência não
é competente para essa demanda, devendo a ação ser proposta na vara da Fazenda
Pública municipal, conforme previsão na lei de organização judiciária.
A Lei de Falências afirma que o credor terá direito de receber seu crédito do falido
com juros e correção monetária que são calculados até a “data da decretação da
falência”.
Quando a lei fala em “decretação da falência” deve-se considerar a data em ela foi
prolatada (não importando quando ocorreu a sua publicação).
Assim, no processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os
créditos habilitados deve ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data
da prolação da sentença (e não sua publicação).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/8/17 (Info 609).
OBS: Assim, o credor terá direito de receber seu crédito do falido com juros e correção
monetária que são calculados, contudo, até a data da decretação da falência. Após a
decretação, em regra, não correm mais juros e correção monetária mesmo que o
pagamento efetivo ainda demore para ser realizado.
12.3. A extinção das obrigações do falido não aproveita os codevedores – (Info 605)
A causa extintiva da obrigação prevista no art. 135, III, do Decreto-Lei nº 7.661/45 (art.
158, III, da Lei nº 11.101/2005) constitui-se em direito pessoal do falido, tratando-se,
deste modo, de exceção (exceção = meio de defesa) que não pode ser aproveitada pelos
demais codevedores, nos termos da parte final do art. 281 do CC/2002:
Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as
exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe
aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.
12.4. A extinção das obrigações do falido depende da quitação dos tributos? – (Info
601)
12.6. Credor trabalhista possui legitimidade ativa para pedir falência de devedor –
(Info 589)
I — o próprio devedor;
(Obs.: é a chamada autofalência.)
IV — qualquer credor.
(Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.)
Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 da Lei 11.101/05 prevê
que a falência poderá ser requerida em três hipóteses.
I — Impontualidade injustificada
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma
ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência.
Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada.
II — Execução frustrada
Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si
proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato
de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o
chamado critério da enumeração legal.
A empresa contestou o pedido alegando que o autor não tem legitimidade ativa nem
interesse de agir para requerer a falência, considerando que se trata de credor
trabalhista. Segundo a ré, o credor trabalhista dispõe de inúmeros instrumentos
processuais céleres e eficientes para a cobrança de seu crédito, de forma que não é
razoável que peça a falência da empresa, o que ocasionaria prejuízos à atividade
econômica, gerando desemprego e queda na arrecadação do país.
A tese da empresa foi aceita pelo STJ? O credor trabalhista é impedido de requerer a
falência da empresa por dispor de meios mais eficientes de cobrança do crédito? NÃO.
O fato de o crédito ser trabalhista não afasta o direito do autor de requerer falência,
uma vez que o inciso IV, do art. 97 da Lei de Falências afirma que qualquer credor
poderá formular o pedido, não havendo diferenciação entre os “tipos” de credores.
Confira:
O legislador foi enfático e utilizou a palavra “qualquer” como forma de deixar claro
que todas as espécies de credores podem requerer a falência do devedor, não
importando se titulares de créditos civis, comerciais ou trabalhistas.
O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou
a falência?
SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a
sentença transitada em julgado que decretou a sua falência.
Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui
personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa
falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis
diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais
envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo
assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido
apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a
iniciativa das ações com relação a bens da massa.
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a
situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na
desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único
interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto
falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente,
ainda que contrariamente à ordem legal.
Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura
de ações pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o
decreto falimentar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558).
12.11. Alienação extraordinária de ativo da falência e desnecessidade de prévia
publicação de edital – (Info 555)
12.13. Pedido feito com base no art. 94, I, não pode ser considerado abusivo mesmo
que a devedora possua grande capacidade econômica – (Info 550)
A falência do devedor poderá ser decretada quando ele, sem relevante razão de
direito, não pagar, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou
títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-
mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei 11.101/2005).
Para pedir a falência com base neste inciso não é necessário que o requerente tenha
tentado executar o título. Não se revela como exigência para a decretação da quebra
a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio ajuizamento de execução
forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do devedor.
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir
pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se o devedor
não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos é possível
que seja decretada a sua falência
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
26/8/2014 (Info 547).
Mesmo que já tenha sido decretada a indisponibilidade de bens, nos termos do art.
36 da Lei 6.024/74, o MP continua tendo interesse de agir para pedir o arrolamento
de bens do administrador da instituição financeira em liquidação extrajudicial.
Isso porque tais institutos possuem finalidades, limites e efeitos distintos.
O arrolamento tem por finalidade conservar bens ameaçados de dissipação e,
assim, garantir a responsabilidade do administrador de instituição financeira.
A prévia indisponibilidade visa salvaguardar o interesse público, em caso de
fraude ou ilícito no curso da liquidação extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.540-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/10/16 (Info 592).
Trade dress: O denominado trade dress, não disciplinado na legislação nacional atual,
tem por finalidade proteger o conjunto visual global de um produto ou a forma de
prestação de um serviço. Materializa-se, portanto, pela associação de variados
elementos que, conjugados, traduzem uma forma peculiar e suficientemente distintiva
de inserção do bem no mercado consumidor, vinculando-se à identidade visual dos
produtos ou serviços. Apesar de não haver legislação específica, a proteção do trade
dress é assegurada com fundamento no dever geral de garantia de livre mercado, ou
seja, no dever estatal de assegurar o funcionamento saudável do mercado, de forma a
expurgar condutas desleais tendentes a criar distorções de concorrência.
Violação ao trade dress: O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente
diversas características da marca concorrente (normalmente a líder do mercado) com
o objetivo de confundir o público e angariar vendas com base na fama da marca
copiada.
Exemplo de violação ao trade dress: Em um caso concreto, o TJSP entendeu que uma
empresa cuja marca era “Uai in box” teria violado a trade dress da “China in box”.
Além do nome parecido, a empresa “Uai in box” também oferecia comida em delivery
com pacotes iguais ao da “China in box”.
15.2. PATENTES: Para que o pedido seja arquivado ou a patente extinta por falta de
pagamento da retribuição, exige-se notificação prévia do depositante ou titular – (Info
608)
16. MARCA
16.1. Termo inicial do prazo prescricional de ação de abstenção de uso de marca –
(Info 593)
A pretensão de abstenção de uso de marca nasce para seu titular com a violação do
direito de utilização exclusiva.
No caso concreto, o titular da marca havia autorizado que terceiro a utilizasse até
determinada data. A pretensão inibitória nasceu a partir do momento em que este
terceiro desrespeitou a data assinalada como termo final de vigência da autorização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.874-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).
Requisitos: Para que um desenho possa ser registrado como "desenho industrial", ele
deverá preencher os seguintes requisitos:
Desse modo, de cinco em cinco anos o autor deverá pagar esta taxa.
16.3. Caducidade de marca (art. 143 da LPI) – (Info 563) – ATENÇÃO! CONCURSOS
FEDERAIS!
A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada:
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo
interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos,
ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique
alteração de seu caráter distintivo original, tal como constante do certificado de
registro.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui
no Brasil, mas ele só é vendido para o mercado externo, nunca sendo
comercializado aqui. Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso
I?
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o
produto em território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil,
merecendo toda proteção legal, pois aqui empreende, gerando produção, empregos
e riqueza, sendo indiferente que a mercadoria aqui produzida seja destinada ao
mercado interno ou exclusivamente ao externo. Produzir no País o produto com a
marca aqui registrada atende suficientemente ao requisito legal de “uso da marca
iniciado no Brasil”.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa
a fabricá-lo aqui no Brasil, mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca
de 70 pacotes do produto. Há risco de haver a caducidade da marca com base no
inciso II?
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em
um período de cinco anos, o valor e o volume de vendas do produto relacionado à
marca forem inexpressivos.
No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações
no mercado, foi considerado inexpressivo dentro da magnitude das operações
bilionárias realizadas pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e
comprovar o uso efetivo da marca.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 5/2/2015 (Info
563).
O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não
se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e
231 da Lei de Propriedade Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por
outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos
requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes
ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).
Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode
ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei
9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial – LPI), mas apenas por ausência de requisito
especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta de pagamento da
anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/10/14
(Info 550).
16.6. Direito exclusivo de uso de marca registrada – (Info 548) – ATENÇÃO!
CONCURSOS FEDERAIS!
16.7. Precedência de nome empresarial que não implica direito ao registro de marca
– (Info 548) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!
Em ação de nulidade de registro de marca a que o INPI não deu causa nem ofereceu
resistência direta, não cabe condenação do instituto em honorários advocatícios
sucumbenciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.699-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/6/16 (Info
585).
Na ação de nulidade de registro de marca em que o INPI foi indicado como réu ao
lado de sociedade empresária em virtude da concessão indevida do registro e do
não processamento do procedimento administrativo para anular o registro
indevidamente concedido, o Instituto responde solidariamente pelos honorários
advocatícios sucumbenciais, ainda que tenha reconhecido a procedência do pedido
formulado na Inicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/2/16 (Info
576).
Este julgado tratava sobre uma ação de nulidade de registro de marca proposta por
uma sociedade empresária ("A") contra o INPI e contra outra empresa concorrente
("B"), titular da marca questionada na demanda. A ação foi julgada procedente e
discutiu-se se o INPI deveria pagar honorários advocatícios, custas e despesas
processuais. Foram expostas três conclusões:
I - Na ação de nulidade de registro de marca o INPI foi indicado como réu ao lado
de sociedade empresária porque concedeu indevidamente o registro para a empresa
"B" mesmo gerando confusão com a marca da empresa "A" e também porque não
deu andamento ao pedido administrativo formulado pela empresa "A" para anular
o registro indevidamente concedido. Assim, diante disso, o referido Instituto deve
responder solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais mesmo
que, na ação proposta, ele tenha reconhecido a procedência do pedido formulada
na Inicial.
II - Em ação de nulidade de registro de marca, o INPI é isento de pagamento de
custas.
III - Em ação de nulidade de registro de marca em que o INPI for sucumbente, cabe
a ele reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte autora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
2/2/2016 (Info 576).
Pode-se dizer que a cláusula de raio é proibida pela Súmula 646 do STF ("Ofende o
princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área")? NÃO. A
Súmula 646 do STF não diz respeito às cláusulas contratuais estabelecidas em pactos
firmados entre locador e locatário. Ela se refere apenas a leis municipais, ou seja, a
situações em que o próprio poder público impede e inviabiliza a implementação do
princípio da livre concorrência. O enunciado não tem relação, portanto, com contratos
empresariais.
O pedido do sindicato foi aceito? SIM. A tarifa bancária pela emissão de boletos é algo
cobrado pelos bancos com base em um contrato firmado exclusivamente entre a
instituição financeira e o cedente do título, no caso, o fornecedor, com a finalidade de
remunerar pelo fato de este fornecedor estar se utilizado da rede bancária como um
mecanismo de arrecadação pela venda de seus produtos. Logo, considerando-se que
referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente (fornecedor/atacadista) e o banco,
não se pode perder de vista que a discussão aqui travada encontra-se no âmbito
específico da atividade bancária, matéria que, nos termos da Lei nº 4.595/64, rege-se
pelas disposições do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do
Brasil (BC). Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 3.919/2010, que estabeleceu o
seguinte:
Art. 1º (...)
§ 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou
de ressarcimento de despesas:
(...)
II - do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas
de cobrança, carnês e assemelhados.
Dessa forma, o referido dispositivo proíbe que seja cobrado do sacado o ressarcimento
das despesas realizadas com a emissão de boletos. Nesse contexto, não se afigura
razoável o repasse da cobrança de tarifa que, por força de Resolução do CMN, é
considerada ilegal e cuja pactuação não foi negociada com o sacado. A proibição
deste repasse ao sacado não fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade
e da boa-fé. Isso porque a matéria não é apenas contratual e está inserida também no
âmbito do sistema financeiro, especialmente no que tange à atividade de
intermediação financeira, de modo que a liberdade de contratar encontra limites que
se operam em prol da higidez e da estabilidade de todo o sistema. Vale ressaltar, por
fim, que os bancos não podem mais cobrar tarifas pela emissão de boletos, conforme
expresso em entendimento sumulado do STJ:
Vimos acima que, sob o ponto de vista patrimonial, o princípio societas distat a singulis
é aplicado de forma bem intensa. No entanto, sob a perspectiva do estabelecimento,
há uma mitigação do referido axioma latim. Quando falamos em estabelecimento
empresarial, existe uma absoluta sintonia de interesses da pessoa física com a jurídica,
interesses que estão diretamente ligados ao aviamento.
Aviamento é o conjunto de fatores pessoais, materiais e imateriais, que fazem com que
um estabelecimento dê certo e gere lucros.
O que se quer dizer com tudo isso é o seguinte: se a pretensão a ser defendida em juízo
diz respeito ao estabelecimento, neste caso, a ação poderá ser proposta não apenas
pela sociedade empresária (pessoa jurídica), mas também pelos seus sócios porque
estes, como também almejam os mesmos objetivos, possuem interesses juridicamente
protegidos capazes de habilitá-los como titulares de direito material, podendo,
eventualmente, deduzi-los em juízo.
Conceito de estabelecimento não abrange todos os bens da pessoa jurídica: O
estabelecimento não abrange necessariamente todos os bens pertencentes à pessoa
jurídica, mas apenas aqueles que estejam voltados para o exercício da atividade
empresarial. Nesse sentido:
"O estabelecimento, como conjunto de bens afetados ao
exercício da atividade do empresário, pode não abranger a
totalidade de seu patrimônio. É, tão somente, a parcela do
patrimônio do empresário composta por aqueles bens por ele
utilizados para o exercício de sua atividade. Outros bens que
integrem o patrimônio do empresário sem tal destinação, não
se enquadram na noção do estabelecimento.
Assim, não se considera pertencente ao estabelecimento a casa
de moradia do empresário individual, porque voltada para a
finalidade distinta. Da mesma forma, um imóvel de uma
sociedade empresária havido em pagamento de dívida e por
ela mantido sem utilização econômica ou com destinação
diversa daquela que diz respeito à sua atividade empresarial
não se inclui entre os bens do seu estabelecimento."
(GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de empresa:
comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. São
Paulo: RT, 2016, p. 647)
Isso significa que o sócio não teria legitimidade ativa para defender em juízo um bem
imóvel da pessoa jurídica que não compusesse o conceito de estabelecimento. De igual
forma, a sociedade empresária só teria legitimidade para ajuizar ação defendendo um
bem particular do sócio se este estivesse sendo utilizado para o exercício da atividade
empresarial.
Não é devida a verba atinente ao aviso prévio – um terço das comissões auferidas
pelo representante comercial nos três meses anteriores à resolução do contrato (art.
34 da Lei 4.886/1965) –, quando o fim do contrato de representação comercial se der
por justa causa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.190.425-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/9/14 (Info 546).
OBS:
O art. 34 da Lei 4.886/65 estabelece a seguinte regra:
Assim, o art. 34 da Lei 4.886⁄65 somente incide no caso de denúncia vazia (sem justa
causa) do contrato por qualquer das partes, não sendo aplicado nos casos em que uma
das partes toma a iniciativa de romper o contrato diante da existência de motivo justo,
conforme previsto na lei especial de regência.
Não se pode aceitar as máquinas do importador como caução idônea (garantia) para
liberar as mercadorias importadas e que estão sujeitas a direitos antidumping
provisórios.
Isso porque o art. 3º da Lei 9.019/95 prevê que a exigibilidade dos direitos
provisórios poderá ficar suspensa, até decisão final do processo, a critério da
CAMEX, desde que o importador ofereça garantia mediante: depósito em dinheiro
ou fiança bancária.
Essas hipóteses do art. 3º são taxativas e, portanto, não se admite como garantia o
oferecimento de maquinário.
A suspensão da exigibilidade do direito provisório é um benefício excepcional e,
portanto, não se pode permitir a interpretação extensiva do art. 3º para alcançar
outras formas de garantias nele não previstas, sob pena de o Poder Judiciário atuar
como legislador positivo e afrontar o princípio da separação dos poderes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.516.614-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 10/5/16 (Info 584).
OBS:
Dumping: "O dumping consiste na conduta dos agentes econômicos que vendem os
seus produtos fora do país abaixo do custo de produção e também por preço inferior
aos cobrados no país de origem." (MASSO, Fabiano Del. Direito Econômico
esquematizado. São Paulo: Método, 2ª ed., p. 283).
Trata-se de uma prática comercial predatória por meio da qual uma empresa exporta
seus produtos por preços inferiores ao custo com o objetivo de fazer com que as
indústrias do país importador não consigam competir e, assim, quebrem. Durante um
tempo, a empresa exportadora fica suportando o prejuízo de vender suas mercadorias
abaixo do custo. No entanto, depois de não ter mais concorrentes no mercado (já que
eles faliram por não acompanharem os preços), a empresa que praticou o dumping
aumenta absurdamente os preços de seus produtos, considerando que o público
consumidor não terá mais opções de outras empresas. É uma forma, portanto, de
eliminar a concorrência.