Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Luizir de Oliveira1
Faço parte desses leitores de Schopenhauer que, desde que leram a primeira
página escrita por ele, sabem com certeza que lerão todas as outras e ouvirão
com atenção cada palavra que tenha sido dita. A confiança que deposito nele
foi imediata e ainda é a mesma que tinha há nove anos. Compreendo-o como
se ele tivesse escrito para mim, para me expressar de maneira inteligível, mas
imodesta e loucamente3.
1
Professor adjunto II de Filosofia da Universidade Federal do Piauí. Contato: luizir@hotmail.com.
2
Organização e ensaio de Franco Volpi. Tradução Marion Fleischer (alemão) e Eduardo Brandão
(italiano). Revsão da tradução de Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
3
NIETZSCHE, F. Unzeitgemässe Betrachtungen. Drittes Stück: Schopenhauer als Erzieher. Krtitische
Studienausgabe. Herausgegeben von Giorgio Colli uns Mazzino Montinari. Berlin: Walter de Gruyter,
1999, p. 346, 20-26. Tradução minha
2
4
A título de curiosidade, pode-se encontrar ao longo de O mundo como vontade e representação
referências diretas a Sêneca: cf. pp. 50, 108, 260, 381, 387, 447 e 654 da edição brasileira na tradução de
Jair Barboza. Mas não somente. O diálogo com o autor romano estabelece-se para além de O mundo...:
Cf. SCHOPENHAUER, Arthur. Sämtliche Werke. Textkritisch bearbeitet und herausgegeben von
Wolfgang Frhr. von Löhneysen. Frankfurt am Main: Suhrkamp Taschenbuch Verlag, 1986: I, 38, 103,
272, 405, 412, 478, 705; II, 5, 86, 192, 193, 196, 203, 204, 206, 302, 307; III, 7, 419, 575, 605, 667, 781,
786, 791; IV, 185, 189, 195, 225, 255, 395, 405, 442, 451, 469, 496, 514, 524, 541, 546, 564; V, 7, 77,
283, 364, 546, 585 (volume e página respectivamente). Cito apenas as referências mais diretas, embora
discussões acerca de temas e teses senequianos possam ser depreendidos em inúmeras outras passagens,
especialmente no que se refere ao meu propósito imediato, qual seja, o cuidado de si.
4
pensada não apenas como um ideal a ser atingido, mas como uma possibilidade efetiva
hic et nunc. Contudo, não se trata de uma mera justaposição de ideias. Schopenhauer é
um autor cuidadoso. Mais do que apenas pensar os antigos, pensa com eles, o que lhe
permite construir um discurso filosófico fundamentado numa escolha de vida, numa
opção existencial que lhe permite tornar a reflexão não apenas um exercício de
pensamento rigoroso, radical e profundo, mas sobretudo, justificador das escolhas que
os homens fazemos cotidianamente, e que incentive à “conversão” do espírito que se
empenha em encontrar um modo de ser e viver adequado a si mesmo.
5
Não desenvolvo aqui uma discussão acerca dessa rotulagem que lhe é frequentemente aposta posto fugir
ao escopo da minha reflexão, mas gostaria de deixar marcado que não aceito tacitamente a adjetivação,
simplificadora demais para um pensador que oferece inúmeras e inspiradoras páginas acerca da
possibilidade de “bem viver”!
6
Isto nos levaria para o campo de uma ética normativa que, no meu entender, não constitui a ocupação
central de ambos os pensadores.
7
Selecionar um ponto de vista, uma escolha por um determinado modo de vida em detrimento de outros
tantos disponíveis, parece acarretar a necessidade de se buscar uma aproximação entre o discurso
filosófico e esse modo de vida a que ele atende, posto participar dele indissociavelmente. Extrair dentre
tantos conceitos e noções aquele que permita alinhavar vida e pensamento é o exercício constante na e da
Seelenführung ou Seelenleitung7, uma tarefa exigente. Para este ponto segue sendo fundamental o
trabalho de Ilsetraut Hadot, Seneca und die griechisch-römische Tradition der Seelenleitung.
5
8
Cf. O mundo como vontade e como representação, Livro I, § 1.
9
Para uma discussão mais aprofundada pode-se consultar ATWELL, John E. Schopenhauer on the
character of the world: the metaphysics of Will. Berkeley and Los Angeles: university of California Press,
1995. Também MANNION, Gerard. Schopenhauer, religion and morality. The humble path to ethics.
Aldershot/UK, 2003.
6
Para não prolongar mais tempo cada coisa, em todas me segue essa
inconstância da boa intenção, inconstância em que temo escorregar pouco a
pouco, ou, o que é mais inquietante, pender sempre como quem vai cair – e
me pergunto ‘então’ se talvez este meu caso seja mais grave do que eu
próprio reconheço. [...] Assim então rogo, se tens algum remédio com que
cesses essa minha flutuação [fluctuationem meam], digno me julgues de
dever-te a tranquilidade. [...] para que eu te exprima em correta comparação o
de que me queixo, digo-te que não agitado pela tempestade, mas pela náusea
[sed náusea]10.
Querer [Wollen] e esforçar-se [Streben] são sua [da natureza] única essência,
comparável a uma sede insaciável [einem unlöschbaren Durst]. A base de
todo querer, entretanto, é necessidade [Bedürfitgkeit], carência [Mangel],
logo, sofrimento [Schmerz], ao qual consequentemente o homem está
destinado originariamente pelo seu ser. Quando lhe falta o objeto do querer,
retirado pela rápida e fácil satisfação, assaltam-lhe vazio e tédio aterradores,
// isto é, seu ser [sein Wesen] e sua existência [sein Dasein] mesma se lhe
tornam um fardo insuportável. Sua vida, portanto, oscila como um pêndulo,
para aqui e para acolá, entre a dor e o tédio, os quais em realidade são seus
componentes básicos11.
10
Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, notas e apresentação de José Rodrigues Seabra Filho. São
Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 19.
11
O mundo vontade e como representação. Tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. São
Paulo: UNESP, 2005. pp. 401-2.
12
Tomo emprestada a metáfora a Marco Aurélio (Meditações, VIII, 48).
7
13
Cf. Aécio, 4.12.1-5 (SVF 2.54).
14
Cf. O mundo como vontade e representação, II, § 19 (“do primado da vontade na consciência de si”).
15
Cf. CALDWELL, William. Schopenhauer’s system in its philosophical significance. New York:
Charles Scribner’s Sons, 1896, p. 130 et seq.
8
16
Cf. O mundo como vontade e como representação, livro IV, §63, §64, §66. Também Mannion, op.cit
passim, e BERGER, Douglas L. “The veil of Mâyâ”. Schopenhauer’s system and early Indian thought.
Binghamton/NY: Global Academic Publishing, 2004.
17
É de interesse também o recente trabalho de Gretchen Reydams-Schils, The Roman stoics. Self,
responsibility, and affection. A autora ressalta que, em sua vertente romana, o estoicismo avançou as teses
9
do antigo Pórtico: a teorização daquilo que chamaríamos de uma noção de self avant la lettre aliada a
uma atenção consistente às questões da ética prática não deveria ser interpretada como um mero endosso
das condições sociais de seu tempo. Tratava-se, antes de tudo, de colocar a nobreza da alma acima da
nobreza do nascimento, de apontar que homens e mulheres possuem igual capacidade para a razão. Os
romanos transcenderam a moralidade convencional de sua sociedade. Sêneca, Epiteto, Marco Aurélio,
Musônio Rufo, dentre outros, propõem um difícil, desafiador e exigente processo de equilíbrio entre o
cuidado de si e o envolvimento com os outros, ideais filosóficos e circunstâncias cotidianas, reserva moral
e afeição pessoal, em suma, uma busca ativa, e não baseada no estereótipo do estoico como frio,
desapegado, passivo.
18
Cf. SCHOPENHAUER, A. Sobre o uso prático da nossa razão e sobre o Estoicismo. O mundo como
vontade e como representação, volume II, capítulo 16.
10
que esses assaltos perturbem nossa frágil harmonia interior. O mundo exterior adquire
tamanho poder sobre a mente por conta da sua proximidade e da sua “imediatez”. E
neste ponto Schopenhauer introduz uma de suas muitas metáforas ilustrativas: do
mesmo modo como uma bússola pode ter a sua agulha desviada pela proximidade de
um pedaço qualquer de metal, que a impede de continuar cumprindo sua missão
orientadora, a resolução mais deliberada pode-se tornar uma irresolução momentânea
por um contra-motivo insignificante, mas imediatamente presente. Lição que ele parece
ter aprendido de suas muitas leituras de Sêneca. O filósofo romano também ressalta o
efeito deletério que uma emoção (animi perturbatio) exerce sobre uma mente
descuidada. Como nos adverte nas páginas iniciais do De ira, esse tipo de distúrbio tem
sua origem no fato de que uma representação, agindo do exterior sobre nossa vontade,
aproxima-se tanto de nós que esconde de nós tudo o mais, e nos torna incapazes de ver
qualquer outra coisa que não ela.
Haveria um lenitivo, ou um remédio para tais estados de alma? Schopenhauer
ensina-nos um caminho possível: considerar o presente como se fosse passado, e assim,
acostumar nossa apercepção, bem ao estilo epistolar dos romanos. Por outro lado,
convém ressaltar, também somos capazes de viver em função do passado, e trazer de
volta emoções como se seus motivos estivessem efetivamente presentes. Se
mantivéssemos claro que o homem é a criatura mais necessitada e abandonada,
diariamente, e hora após hora, deixado aos grandes e pequenos infortúnios sem conta, e
que tem de viver em constante medo e cuidado19, talvez fosse possível amenizar os
efeitos desses desajustes interpretativos. Neste sentido, há que se tentar uma conciliação
entre a realidade aparente e a essencial, como as duas faces de uma mesma moeda: o
desejar não pode advir de um estado que não seja de insatisfação, de não-
contentamento. Deste modo, a satisfação só ocorre num ser que sofreu alguma privação,
que teve de abrir mão de uma série de escolhas em nome de uma única, a do momento,
posto ser a única de que dispõe. Assim, toda satisfação é negativa; só o sofrimento é
positivo. Esse “pessimismo desbragado”, contudo, não constitui um olhar meramente
mal-humorado com relação ao mundo, mas como aquilo que constitui em si mesma a
essência do indivíduo deixado no mundo20: imaginar uma existência sem sofrimento é
19
A imagem é emprestada por Schopenhauer de Heródoto, História, I, 32.
20
Cf. JANAWAY, C. Self and world in Schopenhauer’s philosophy. Oxford: Clarendon Press, 1999.
11
21
Epístola 37, 4.
22
Ibidem. O grifo é meu. Também. Aristóteles, Ét. nic., VII, 12.
23
Interessante ressaltar que Schopenhauer parece resgatar a “teoria das virtudes” de um modo muito
particular. Cf. MANNION, op. cit., cap. 6.
24
As referências aos antigos são muitas: Agostinho, De civ. Dei, XIX, 1; Aristóteles, Magna moralia, I,
4; Ét. Nic. I, 5; Cícero, Tusc., V, 1; Plutarco, De repugn. Stoic., c. 18, c. 26; Estobeu, Ecl., II, 7; Epicteto,
Disc., I, 4; Sêneca, Epist. 90; 108; De tranq., VIII; Diógenes Laércio, VI, 2.
25
Schopenhauer tem em mente não apenas os estoicos, mas também os cínicos Diógenes, Antístenes e
Crates.
26
Ilusão, engano, miragem, “fantasma”. Para um estudioso do estoicismo a explicação de Aécio (SVF, II,
54; DDG, p. 401, 14) vem imediatamente à tona: diferente da imaginação (phantastikòn), um movimento
vão, uma afecção que se produz na alma sem que haja um objeto que a produza, a representação
(phantasía) tem um objeto por substrato (phantastòn) enquanto que a imaginação repousa sobre nada, é
atraída pelo imaginário (phantasma). Tal como a luz (phôs), a representação manifesta-se por si mesma a
12
profunda, mais correta porque não-individuante, e que se traduz na expressão tat tvam
asi (tu és isto)27. O ponto de vista a ser adotado é o da universalidade da Vontade, do
fundamento único do mundo.
Os cínicos surgem como uma complementação às ilustrações que Schopenhauer
oferece porque de algum modo parecem apontar para o mesmo objetivo. Embora
distintamente diferente da postura dos santos e saniâsis, mantinham como estes a firme
convicção de que é mais fácil reduzir nossos desejos e necessidades ao mínimo do que
obter sua máxima satisfação; aliás, esta é mesmo impossível, uma vez que, com a
satisfação, os desejos e as necessidades crescem ao infinito! Contudo, como bem
relembra Schopenhauer, para os cínicos, a humildade, essencial aos ascetas, era
estranha. Tinham orgulho e desdém por todos os outros homens28. Neste ponto, embora
em grande medida inspirados no cinismo, os estoicos talvez fossem mais fáceis de se
seguir porque preferem trocar o prático pelo teórico: dispensar tudo que pode ser
descartado, de modo real, não é necessário. É suficiente que saibamos que as posses e a
fruição são dispensáveis, posto estarem nas mãos da Fortuna. A privação real, se
acontecer, não seria inesperada, tampouco seria um fardo: podemos, em todas as
circunstâncias, possuir e fruir as coisas; só temos de ter em mente sua inutilidade e
dispensabilidade, de um lado, e sua incerteza e desgaste, de outro. O homem tem de
lidar com essas coisas a fim de não se deixar mover por elas, demonstrar tê-las como
boas em seu coração, mas saber ser necessário colocá-las distantes para que não caia na
tentação de buscá-las. O sábio, por outro lado, sabe que não boas, mas
insignificantes/indiferentes (adiáphora) ou, no máximo proegména (preferíveis), a
serem escolhidas de modo muito pontual.
Schopenhauer argumenta que os estoicos aperfeiçoaram a teoria da
equanimidade e da independência sacrificando a prática, e reduzindo tudo a um
processo mental. Fazendo isto, contudo, deixaram de lado o fato de que tudo aquilo a
que nos acostumamos torna-se uma necessidade e, por esta razão, só pode ser
descartado por meio da dor. A crítica de Schopenhauer tem um foco bem específico: a
Vontade não pode ser menosprezada; os homens não conseguem desfrutar os prazeres
sem que se apeguem a eles. Entre o desejo e sua renúncia não há meio-termo. O
fundamento último dessa equanimidade inabalável que constantemente se espera de nós
está no conhecimento de que o curso do mundo é inteiramente independente da nossa
vontade, e conseqüentemente, o “mal” que cai sobre nós é inevitável. Ecos daquilo que
encontramos em Epiteto, aquilo que é ouk eph’ hemin (que não depende de nós)
também é imediatamente ou prós hemas (não concerne a nós).
Espera-se que nos livremos disso tudo que é sem valor por meio do correto uso
da razão, em virtude da qual não consideramos essas coisas como nossas, mas apenas
como emprestadas a nós por um tempo indefinido; só assim nunca as perderemos.
Sêneca é enfático neste ponto29, e Schopenhauer adensa e aprofunda seus conselhos. Se
o homem percebe a embusteira ilusão da felicidade por um momento e então usa sua
faculdade da razão, tem de reconhecer a rápida mudança dos dados, bem como a
intrínseca inutilidade das fichas que usa para suas apostas, e deve, assim, ficar imóvel,
impassível, indiferente. Nosso sofrimento sempre surge de uma incompatibilidade entre
nossos desejos e o curso do mundo e das coisas30. Um deles tem de mudar e se adaptar
ao outro. Contudo, só a vontade é eph’ hemin – katá physin zein31. Ou melhor, como
corrigirá Schopenhauer, somente sobre aquela parcela mínima do querer-fazer aquilo
que já está determinado pelo querer tornado “objetidade da Vontade” pelo principium
indivituationis abre espaço para um controle refletido.
O exercício está nos modos como nosso caráter empírico é desenvolvido a fim
de se alcançar um estado em que aquilo em que nos tornamos, ou seja, nosso caráter
adquirido esteja minimamente em consonância com o restante do mundo que não pode
ser modificado. Via uma bem cuidada áskesis pode-se chegar a compreender a si
mesmo, ao próximo e, por extensão, o mundo todo, mesmo que de modo sempre
limitado, posto individual. O que importa, contudo, é chegar a perceber, por meio desse
cuidado esforço que aquilo que faz parte de mim também faz parte de toda a realidade
circundante. Ao redimensionarmos nosso olhar, enxergamos para além das aparências
do mundo fenomênico, descortinando-se o que subjaz a todos nós: o pulso inexorável da
Vontade.
29
Epíst., 98; De tranq., XI. Cf. também Diógenes Laércio, VII, 87; Arriano, Disc., III, 24, 84-89; IV,
1.42; Marco Aurélio, IV, 29.
30
Cf. O mundo como vontade e representação §56.
31
Segue Schopenhauer em suas ilustrações: Arriano, Disc., II, 17, 21, 22; IV, 1, 175; Sêneca, Epíst., 31;
74; 92; 119; Cícero, Tusc., IV, 26.
14
As conclusões que se podem extrair dessas breves considerações que faço acerca
do diálogo entre Schopenhauer e o estoicismo levam-nos a compreender que somente
no momento em que formos capazes de nos conscientizar de que cada ser humano é
apenas um aspecto do único ato de Vontade que é a humanidade em si mesma,
conseguiremos perceber que a diferença entre aquilo que nos atormenta e nosso estado
atormentado é apenas ilusória. De fato, é o mesmo olho da humanidade que olha por
cada pessoa. Cuidar de si, então, torna-se um exercício diário de auto e
altercompreensão, uma vez que cada indivíduo traz em si todos os sofrimentos do
mundo, posto tratar-se da mesma natureza humana interior que suporta toda a dor e toda
a “culpa”33.
Não só a individuação, quando somos colocados no espaço-tempo em busca do
conhecimento, fragmenta o mundo, como também o princípio de razão; ambos geram a
ilusão de que estamos essencialmente separados, individualizados. As condições do
32
Cf. O mundo como vontade e representação §68. Cf também ATWELL, op.cit. cap. 7.
33
O mundo como vontade e representação §63 e §64.
15
34
É a imagem da árvore inabalável cujas gerações de folhas caem a cada estação (Homero, Ilíada, VI).
Os exemplos de que se utiliza Schopenhauer em O mundo... são eloqüentes: Francisco de Assis, §68, e
Jesus, §70, protótipos desse estilo de vida iluminado.
16
aponta para uma diferença marcante entre a filosofia platônica, o pensamento cristão e
mesmo as propostas da sabedoria indiana, de inspiração hinduísta ou budista: não há
nenhuma tendência metafísica, nenhum fim transcendente, mas um fim que é totalmente
imanente e alcançável nesta vida. A imperturbabilidade (ataraxía) pode ser encontrada
nos simples endurecimento e insensibilidade aos golpes do destino. Basta que
mantenhamos em mente a brevidade da vida, a vacuidade dos prazeres, a instabilidade
das satisfações. A diferença entre a felicidade e a infelicidade é muito menor do que
nossa antecipação de ambas costuma nos forçar a crer. Talvez este seja um dos segredos
do cuidado de si.
Referências bibliográficas
ATWELL, John E. Schopenhauer on the character of the world: the metaphysics of
Will. Berkeley and Los Angeles: university of California Press, 1995.
BERGER, Douglas L. “The veil of Mâyâ”. Schopenhauer’s system and early Indian
thought. Binghamton/NY: Global Academic Publishing, 2004.
CALDWELL, William. Schopenhauer’s system in its philosophical significance. New
York: Charles Scribner’s Sons, 1896.
JANAWAY, C. Self and world in Schopenhauer’s philosophy. Oxford: Clarendon
Press, 1999.
MANNION, Gerard. Schopenhauer, religion and morality. The humble path to ethics.
Aldershot/UK, 2003.
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. Tradução,
apresentação, notas e índice de Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2005.
______________________ El mundo como voluntad y representación II. Tercera
edición. Traducción, introducción y notas de Pilar López de Santa María. Madrid:
Editorail Trotta, 2009.
_____________________ Sämtliche Werke. Textkritisch bearbeitet und herausgegeben
von Wolfgang Frhr. von Löhneysen. Frankfurt am Main: Suhrkamp Taschenbuch
Verlag, 1986.
______________________ A arte de conhecer a si mesmo. Organização e ensaio de
Franco Volpi. Tradução Jair Barboza (alemão) e Silvana Cobucci Leite (italiano).
Revisão da tradução de Eurides Avance de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
SÊNECA, L. A. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, notas e apresentação de José
Rodrigues Seabra Filho. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
_____________ Cartas a Lucílio. Tradução, prefácio e notas de J. A. Segurado e
Campos. Lisboa: Fundação Calouste-Gulbenkian, 1991.