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O texto é a edição integral de uma palestra realizada pelo professor António Nóvoa
em outubro de 2016 no estado de São Paulo a convite do Sindicato dos Professores
(SinproSP). O tema foi “Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo”,
realizando uma reflexão especialmente acerca da crise de identidade da escola e dos
efeitos disso na concepção e na prática da atividade profissional docente.
O professor Nóvoa começa a palestra dizendo que está cansado do debate que
se tem feito na mídia a respeito da educação, que considera a maneira com que essas
discussões tem sido levadas levianas e até mesmo falsas, onde se mitificam a escola de
anos interiores, de uma maneira que nunca existiu. O professor então pretende para
colaborar com uma discussão construtiva sugerir três dilemas.
A escola centrada na aprendizagem deve saber ser inclusiva de fato, fazer com
que realmente todos os alunos tenham um patamar comum de conhecimentos. Deve
também colocar em prática mecanismos de diferenciação pedagógica, destacando a
cooperação entre alunos como instrumento para tal. E deve também, por fim, ser um
local em que as crianças aprendem a estudar e aprendem também a trabalhar.
Para mim, tudo que esteja a fechar as crianças, por uma ou outra razão, fechar
em comunidades onde as fronteiras estão muito definidas, é um erro. É um
dilema que terá de ser enfrentado no futuro dentro das discussões sobre as
políticas públicas de educação. As políticas de privatização e liberalização do
ensino, a idéia de que não se deve financiar as escolas e, sim, os pais, e eles
colocam as crianças na escola em que quiserem, vai certamente arrastar esse
princípio de que cada grupo social vai ter a sua própria escola, que vai ser mais
disciplinada, mais coerente, mais ordeira, mas vai ser uma escola infinitamente
mais pobre [do que] onde há um diálogo entre vários grupos. Defendo a escola
muito mais como sociedade do que [como] comunidade. Uma sociedade é
qualquer coisa que tem regras. Só se pode viver em sociedade com regras. Em
comunidades, no limite, é possível viver sem regras, a partir de tradições,
ligações simbólicas. Citando Philippe Meirieu, muito dos jovens que
designamos como problemáticos, pré-delinqüentes têm comunidade a mais.
Muitas vezes estão inseridos em gangues, onde há uma enorme solidariedade,
onde há uma liderança carismática. A escola tem que dar a esses jovens mais
sociedade, mais regras de vida em comum, mais regras do diálogo, de vida em
sociedade. A escola deve ser mais crítica a essa comunitarização. Isso se faz
com a escola como sociedade e não como comunidade. (Pg.11)
O terceiro dilema é: a escola como serviço ou como instituição? Onde advoga que
a escola precisa ser vista cada vez menos como um serviço que se presta às famílias e às
crianças e jovens e cada vez mais como uma instituição. Mas a escola é um lugar onde se
institui “a sociedade, a cultura, onde nos instituímos como pessoas, onde nos instituímos
dos nossos direitos próprios, e conseguirmos, a partir daí criar uma palavra livre,
autônoma nas sociedades contemporâneas”.
Ele também propõe que os professores tenham uma formação mais voltada para
as práticas e para a reflexão dessas práticas, considerando a atual excessivamente
teórica ou excessivamente metodológica. E que os professorem se organizem numa
“nova profissionalidade docente e que esteja também baseada numa forte pessoalidade”.
Pois é preciso conquistar a sociedade e participar mais ativamente do debate educativo.
Por fim, Nóvoa faz um panorama da escola nos próximos dez anos, pois nos
últimos integrou um grupo de intelectuais convidados pela Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), órgão ligado à ONU, para discutir cenários do
futuro para a educação. Chegou-se à definição de seis cenários, dos quais 90 % dos
professores de vários países acharam que eram desejáveis o 3º ou o 4º cenário, retomando
a sua tese de que a escola precisa estar centrada na aprendizagem: