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Ementa: Conceito de Ética. Ética dos valores.

Fundamentos éticos nas relações


pessoais e profissionais. Doutrinas éticas fundamentais. Noções sobre Ética
Ambiental e Bioética.

Ética, Moral: conjunto de conceitos.

Ao pensarmos que todo ser humano tem comportamento diferenciado e


único, percebemos que a ética faz parte da vida de todos nós. Partindo desse
pressuposto, entendemos, então, que a ética é um princípio que cada indivíduo traz
consigo desde a infância, ou seja, um valor adquirido na sua relação familiar e no
cotidiano de sua existência. Segundo Arduini (2007), o ser humano é chamado a
estruturar, desde cedo, o sentido de sua personalidade. A pessoa constrói-se
através de fases, desde a fecundação genética até a ida ao túmulo.
Partindo desse princípio, Fromm (1996) afirma que:

O Homem não é uma folha de papel em branco em que a cultura pode


escrever seu texto: É uma entidade com sua carga própria de energia
estruturada de determinadas formas, que, ao ajustar-se, reage de maneira
especifica e verificável as condições exteriores. (FROMM: 1996, p. 30).

Assim, através dos valores, que podem ser entendidos como princípios
morais, o homem adquire um comportamento ético, que rege sua vida em
sociedade, bem como as suas. Esse comportamento ético conduz o homem a fazer
o que considerar importante em sua vida.
Para Vásquez (1984), a moral é definida da seguinte forma:

A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são


regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a
comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter
histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma
convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal.
(VASQUEZ, 1984, p. 69).

Entendemos nessa premissa que cada pessoa possui valores individuais


e intransferíveis, dando a consciência do certo ou errado, dentro de um conjunto de
idéias, convicções, opiniões sobre os bens materiais e as pessoas e bens materiais,
que influenciam e manifestam nos relacionamentos sociais. Assim como não existe
uma verdade absoluta, o que é certo para um pode ser errado para o outro, porque
os valores são trazidos a partir das primeiras relações que a criança estabelece com
o mundo. Na infância, os pais ensinam as primeiras palavras, os primeiros passos,
no desenvolvimento da existência vão evoluindo, adquirindo a personalidade que o
amadurecimento possibilita.
Percebemos, então, que os primeiros valores são constituídos na relação
familiar; no significante de amor, segurança e felicidade, ou o contrário, dependendo
da qualidade da relação estabelecida.
Essas relações familiares são entendidas para Durant (1965) como
sendo:

[...] A família é a primeira unidade social em que os indivíduos aprendem a


lealdade e a obediência; e o desenvolvimento moral do individuo se resume
em ir ampliando a órbita dessa lealdade e dessa obediência ate atingir as
fronteiras da pátria. Mas logo que deixa a terra firme do lar a juventude
mergulha no mal da concorrência e perde a boa vontade cooperante,
adquirida na família. E a idade madura, próspera, porém infeliz, muitas vezes
se volta para o velho lar com um suspiro de alivio - encontrando nele uma
serena ilhota comunística. (DURANT, 1965, p. 94).

A partir da infância até o caminho de construção da maturidade, o


indivíduo vai adquirindo novos costumes que vão surgindo com a convivência social,
grupo de amigos, escola e trabalho.
Independe o tipo de família a qual o indivíduo pertença, sendo ela rica
pobre, preta, branca, indígena ou de outras etnias, condições financeira e religião,
eles terão suas crenças e princípios morais, transmitidos por aqueles que
representam o seu núcleo familiar, sendo eles pais ou não, dessa forma esses
valores são transferidos para as futuras gerações.
Ao falar dos indivíduos associados, Kanaane (2008) nos chama a
atenção:

O conjunto de indivíduos associados forma a base da sociedade,


fundamentada nos valores, normas e sistemas de comunicação. Inicialmente,
pode-se considerar que o pensamento social se caracteriza por
representações individuais que gradativamente vão constituir as
representações sociais. (KANAANE, 2008, p. 97)

Os princípios adquiridos na família, dentro e fora dela estarão presentes


na relação do homem com os seus pares. A educação, cultura, tradição e o
cotidiano se interligam pelo conjunto de normas regulamentadoras rege o
comportamento ético em sociedade. Todo o saber aprendido na infância objetiva
formar um indivíduo que preze pela honestidade, humildade, moral, pelo respeito às
leis e ao próximo, que tenha práticas de solidariedade e interaja de maneira
sustentável com o meio ambiente. Para Vásquez (1984), o indivíduo, enquanto ser
social, faz parte de diversos grupos sociais. O primeiro ao qual pertence e cuja
influência sente, sobretudo na primeira fase da sua vida (infância e adolescência), é
a família.
Assim, o ser ético é ser responsável por suas atitudes, sempre
procurando meios em que possa contribuir para uma sociedade melhor, seja no
reconhecimento dos seus erros, bem como nas suas atitudes de honestidade ou em
qualquer situação recorrente da sua natureza humana.
O entendimento de Arduini (2007) nos aponta que:

É hora de abraçar o sentido da ética em favor da sociedade livre e fraterna.


A ética é solida e não apenas uma forma transitória. A ética é paixão que
não se cansa, paixão que enxerga vasta formas de ética. Há um tecido
consistente que elabora múltiplas faces de ética. São éticas fertilizantes que
não podem ser dispensadas. (ARDUINI, 2007, p. 42).

Em consonância a ideia supracitada, Araújo (2008) afirma que as


oportunidades variam de indivíduo para indivíduo e também a forma que cada
pessoa vê as oportunidades e ameaças no ambiente externo. Onde cada indivíduo,
de acordo com a sua convivência familiar, cria a sua capacidade para melhorar a
sua realidade de vida. Alguns criam possibilidades e alimentam esperanças de
mudanças e descobrem melhores caminhos para um futuro promissor. Outros
transformam as dificuldades em possibilidades e mudam o rumo dos seus destinos.
Ainda segundo a autora, quando o indivíduo busca aprendizagem e
conhecimentos, procuram ambientes em que todos tenham o mesmo objetivo, como
as escolas. Alguns podem encontrar mais dificuldades para alcançar o que almejam.
Outros possuem ou encontram mais oportunidades de crescimento.
O comportamento humano demonstra que alguns analisam tudo o que
lhes cercam, adquirem o que pode ser bom para o seu crescimento e desprezam o
que não lhes acrescenta. O indivíduo tem uma maneira de reconhecer as
oportunidades e de saber aproveitá-las. Essa maturidade lhe trará bons resultados
ou não, vai depender do seu modo e dos seus hábitos de vida. Segundo Fromm
(1968), o homem só tem um interesse verdadeiro e este é o seu desenvolvimento
total de suas potencialidades como ser humano.
Outro aspecto relevante é a questão cultural. Compreendemos que a
cultura é o diferencial dos povos, e a ética é relativa a cada cultura em tempos e
espaços diferenciados.
Sobre cultura, Bonder (2006) afirma que:

[...] Quando pensamos na palavra "cultura", imaginamos um sistema externo


a nós que nos impõe regras e direcionamentos. No entanto, esse sistema
nasceu da própria experiência humana da existência. Poderíamos dizer que
cada indivíduo constrói sua pequena cultura individual por meio do processo
de experiência e do histórico de seu existir no mundo. [...] (BONDER, 2006, p.
15).

A capacidade de reflexão provocativa do ser humano, em qualquer que


seja a cultura, denominamos ética, onde esse reflete sobre a sua ação, o que pode
torná-lo mais sensível, sensato e consciente de suas práticas e o que essas
influenciam no seu cotidiano. A atitude de olhar o próximo, as ações solidárias
tomadas, depende da experiência de vida de cada um. O compromisso ético parte
da crítica que cada indivíduo faz e o torna sujeito de uma sociedade. Para Arduini
(2007, p.50), “ética é o valor fundamental na vida humana. A ética existe para valer e
não para enganar a verdade. Onde há ser humano, deve sempre prevalecer o
respeito pessoal. [...]”.
Araújo (2017) afirma que o equilíbrio de uma sociedade depende de três
fatores: governo, família e empresa. Então, o futuro das nações está nas mãos das
pessoas. Porém, muito há que se refletir porque muito se diz que pouco se pode
esperar do governo, que falta ética aos políticos que cada um elegeu para ser o
representante da sociedade. Afirma-se muito que a família está se destruindo,
perdendo, dessa forma, os valores culturais e morais aprendidos por tradição e
perecidos pela falta de respeito aos pais.
As Doutrinas Éticas Fundamentais

A Ética Sofista

Apesar de Sócrates ter sido o primeiro a chegar a uma concepção


adequada dos problemas da conduta, a germe inicial da teoria ética não surgiu com
ele. A reação natural contra o dogmatismo metafísico e ético dos antigos
pensadores havia alcançado o seu clímax com os sofistas.
A ideia de teoria geral da vida não era o objetivo da educação oferecida
pelos sofistas, a proposta era ensinar administrar os negócios públicos e a arte de
lidar com os assuntos mundanos. Em suma, às virtudes do bom cidadão, apontaram
o caráter prudente da justiça como meio de obtenção de prazer e forma de evitar a
dor.
A vida do cidadão livre consistia principalmente em suas funções
públicas, na concepção grega de sociedade. Não se considerava a virtude como
valor intrínseco, mas como virtude do cidadão, assim como o político teria virtude de
utilizar-se bem da retórica. Daí entendemos que, além das outras atividades da
época, havia-se a necessidade de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo
diretamente a assuntos práticos; assim como a música, a arte da guerra, o exercício
da cidadania como inovação e exigência moderna.
Dessa maneira, com o auxílio de sua famosa "dialética", Sócrates
primeiramente chegou ao resultado negativo de que os pretensos mestres do povo
eram tão ignorantes quanto ele mesmo afirmava ser. Assim como demonstrava
claramente a dificuldade de adquirir conhecimento, Sócrates estava convencido de
que somente o conhecimento poderia ser a fonte de um sistema coerente da virtude,
assim como o erro estava na origem do mal.
Sócrates, então, propõe, pela primeira vez na história do pensamento,
uma lei científica positiva de conduta: a virtude é conhecimento.
Esse princípio envolvia o paralelo de que a pessoa que sabe o que é o
bem não pratica o mal. Defendia-se as ideias de que: "Toda a pessoa deseja o seu
próprio bem e obtê-lo-ia se pudesse" e "Ninguém negaria que a justiça e a virtude
em geral são bens; e entre todos, os melhores". Todas as virtudes, portanto, estão
sintetizadas no conhecimento do bem. Mas esse bem, para Sócrates, não é um
dever que se opõe ao interesse próprio. A força resultando desse paradoxo depende
de uma fusão do dever e do interesse numa única noção de bem, uma fusão que era
prevalecente no modo de pensar da época. Estimava-se, então, uma vida rica de
virtude e sabedoria, mesmo que para alcançá-la devesse viver a penúria, em
detrimento a uma vida de luxo e satisfação.
Segundo Walkker (2017), o sentido da base teórica clássica pode ser
sintetizado da seguinte maneira:

(1) uma busca apaixonada por um conhecimento que não está disponível em
lugar algum, mas que, se encontrado, aperfeiçoará a conduta humana; (2)
simultaneamente, uma exigência de que os homens deveriam agir na medida
do possível conforme uma teoria coerente; (3) uma adesão provisória à
concepção recebida sobre o que é bom, com toda a sua complexidade e
incoerência, e uma prontidão permanente em sustentar a harmonia de seus
diversos elementos, e em demonstrar a superioridade da virtude mediante um
apelo ao padrão do interesse próprio; (4) firmeza pessoal em adotar essas
convicções práticas. É só quando se tem em vista todos esses pontos que se
pode compreender como, das conversações socráticas, brotaram as
diferentes correntes do pensamento ético grego. (WALKKER, 2017, p. 15).

As teorias e práticas éticas têm sido aplicadas nos mais distintos espaços,
envolvendo política, economia e ciência política, como forma de condução a muitos
distintos e não-relacionados campos de ética aplicada, incluindo: ética nos negócios
e Marxismo. Assim como nos ambientes laborais, os princípios éticos têm sido
aplicados à estrutura da família, à sexualidade e como a sociedade vê o papel dos
indivíduos, conduzindo a campos da ética muito diferentes e que não se co-
relacionam, como o feminismo e a guerra, por exemplo.
Segundo a autora, a visão descritiva da ética é moderna e, de muitas
maneiras, mais empírica sob a filosofia Grega Clássica, especialmente Aristóteles.
Inicialmente, é necessário definir uma sentença ética, também conhecida como uma
afirmativa normativa. Trata-se de um juízo positivo ou negativo (em termos morais)
de alguma coisa. Sentenças éticas são frases que usam palavras como bom, mau,
certo, errado, moral, imoral, etc. (WALKKER, 2017).

Ética nas relações de trabalho

Compreendemos as organizações como o lugar em que muitas pessoas


passam a maior parte do seu tempo. Entendemos, também, que o trabalho é uma
necessidade da vida, essencial à sobrevivência e pode proporcionar melhores
condições de vida ao homem. Assim, por meio de treinamento, as empresas podem
tornar os seus colaboradores mais inteligentes e hábeis. Neste viés, vemos que as
modificações existentes no mundo do trabalho, do conhecimento e desenvolvimento
de habilidade podem melhorar a vida do homem, mas a qualidade de vida e onde
entram nessas situações as questões éticas, levantamos o questionamento.
Nesse contexto, vejamos o posicionamento de alguns autores a respeito
da ética nas relações de trabalho. Para Arduini (2007):

A ética é valida quando articulada com as pessoas, Pois ética não é adorno
nem passatempo, é expressão da personalidade. A ética não é estranha ao
ser humano, mais é componente da vida antropológica. A ética suscita a
maturação pessoal. (ARDUINI, 2007, p.45).

O posicionamento de Kanaane (2008) não difere do supracitado,


complementando-o quando diz da dinâmica das relações de poder.

O trabalho quer como fonte de satisfação e realização, quer como fonte de


sobrevivência, insere-se numa categoria mais ampla que reflete, entre outros
pontos, a dicotomia entre o prazer e a sobrevivência. O trabalho, enquanto
categoria de mediação das relações entre sujeitos de diferentes contextos e
classes sociais estabelece a dinâmica as relações de poder e autoridade
presentes nas organizações e na sociedade como um todo. (KANAANE,
2008, p.99).

Cabe ao próprio homem prezar pela sua ética nata ou adquirida, bem
como pelos seus valores morais e, também, assumir a responsabilidade das suas
ações e as consequências das mesmas. Em uma organização de trabalho, objetiva-
se então não só o seu desenvolvimento como pessoa, mas eticamente o
desenvolvimento do conjunto de sujeitos da organização, do seu desenvolvimento e
das suas atitudes sociais. É de suma importância o sujeito individual e o sujeito
coletivo pensar no sentido de ser uma organização que preze pela conscientização e
conservação do ambiente que se insere, assim como do planeta que habita porque
as ações reagem de forma positiva ou negativa, dependendo das atitudes tomadas.
Martins (2017), ao citar Mário Sérgio Cortella, aponta que “ética é o
conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes
questões da vida: (1) quero?; (2) devo?; (3) posso?”. Dessa forma, podemos
interpretar tais questões no âmbito profissional; para o ambiente de trabalho a
questão da ética é compreendida como um conjunto de boas atitudes que o
profissional tem com seus colegas.
É nítida a percepção de que a organização é beneficiada quando as
empresas têm profissionais comprometidos com a ética no ambiente de trabalho.
Podemos aferir que os resultados das tarefas executadas são mais ágeis, resultado
de um ambiente de trabalho onde a tranquilidade e o respeito são pontos fortes
entre os colegas.

Bioética

Para desenvolver nossas considerações a respeito da bioética,


apresentamos uma resenha dos autores Claudio Cohen e Gisele Gobbetti, da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, publicada em arquivo eletrônico como
material da disciplina: Fundamentos da Ética, ministrada pela professora Maristela
Rosso Walker no ano de 2015. Elencamos esse material, pois, após pesquisa,
aferimos ser o mais sucinto e completo que podemos apresentar para os nossos
estudos.

Bioética da vida cotidiana

Claudio Cohen e Gisele Gobbetti

Entendemos que nós seres humanos não nascemos nem éticos e nem
competentes para as nossas funções sociais, pois tanto uma como outra serão
incorporadas no processo de humanização por meio da elaboração do pacto
edípico. Entendemos, também, que exercer a eticidade seja a possibilidade de
pensar a ética e a moral. Esse pensamento não deve conter apenas os conflitos
entre a emoção e a razão, mas, também, permitir que o indivíduo se relacione com
os mundos interno e externo. Lidar com tais conflitos causa-nos um mal-estar, que é
inerente à inserção na cultura e ao desenvolvimento humano.
O ser bioético deve lidar com o outro, devendo integrar sua biologia com
sua biografia, que o tornará competente para exercer sua cidadania. A bioética da
vida cotidiana visa pensar as questões mais simples do nosso dia a dia, ou seja,
uma reflexão ética das relações, para não ter que pensar apenas nas grandes
questões da bioética que implicam em mudança de valores, como por exemplo a
eutanásia, fertilização in vitro, os transgênicos, alocação de recursos em saúde etc.
DESENVOLVIMENTO HUMANO – A humanidade tende a repetir suas experiências,
porém delas o ser humano aprende muito pouco.

Para exemplificar, retomaremos o movimento artístico e científico


conhecido como Renascimento dos séculos XV e XVI que pode ser caracterizado
pelo renascer da cultura grega clássica. Essa cultura caracterizou-se pela sua visão
antropocêntrica do mundo, ou seja, ela entendia que o ser humano era o fator
central ou, pelo menos, o mais significativo do universo. Com o renascer dessa
compreensão humanista, existe a retomada de uma ética orientada para o ser
humano, para o desenvolvimento das suas faculdades criadoras e para o máximo
proveito dos recursos naturais. Devido ao salto qualitativo proveniente do atual
conhecimento em espaço, tempo e cultura, entendo que estamos experimentando
um período revolucionário, que posso compará-lo ao período renascentista. Porém,
como no passado, os conflitos éticos que esse tipo de conhecimento nos traz são
inúmeros, e é por este motivo que entendo que devamos retomar uma ética que
esteja vinculada a valores humanistas, pois foi ela quem ajudou a lidar com estes
conflitos, durante o período do Renascimento.
O novo conhecimento científico coloca uma questão ética central: o que é
a "vida"? A questão pode ser subdividida em o que deva a ser considerado "estar
vivo", como, por exemplo, os embriões congelados ou o genoma mínimo, e o que
venha a ser considerado "ser vivo", por exemplo, o que fazer com os seres e plantas
transgênicas. O ressurgimento desse pensamento renascentista pode ser observado
através de certas equivalências históricas, como o que ocorreu na divulgação do
conhecimento. Gutemberg, inventor do tipógrafo, em 1440 imprimiu o primeiro livro,
a Bíblia, permitindo que as pessoas comuns pudessem ter acesso a esse
conhecimento humano. Mantidas as proporções, é fácil de se observar a
semelhança existente no que o Bill Gates nos oferece com seus softwares ou na
velocidade da divulgação do conhecimento que a internet nos proporciona. Se
pensarmos nos espaços geográficos, em 1492, Cristóvão Colombo, graças ao
patrocínio da rainha da Espanha, descobre as Américas.
Atualmente, graças ao patrocínio dos Estados Unidos, o ser humano
pisou na Lua, chegamos a Marte e se for confirmada a presença de água lá,
seguramente ela poderá ser colonizada por nós, terráqueos. Espero que, dessa vez,
possamos utilizar as experiências passadas e não cometer, novamente, as mesmas
imprudências que os antigos colonizadores realizaram com suas colônias. Também
existe uma certa analogia frente ao conhecimento biológico que temos atualmente,
ao do período renascentista: a descoberta da anatomia do corpo humano, realizada
por Leonardo da Vinci (1452-1519), foi obtida através da dissecação de cadáveres e
considerada antiética; o atual mapeamento do genoma humano também está sendo
encarado por algumas pessoas de forma similar aos métodos do gênio
renascentista. Essa desconfiança surge da ideia de que iremos fazer um mau uso do
nosso conhecimento, pois estamos prontos a modificar a seleção natural, o que
poderá ter consequências catastróficas. Posso dizer que as descobertas
renascentistas não trouxeram. Finalmente, podemos observar o fio condutor desse
pensamento humanista através de nossa história, em Sófocles (cultura grega
clássica) que escreve a tragédia de Édipo, em Shakespeare (renascentista) que
retoma essa tragédia edipiana em Hamlet. Sendo revisto por Freud (contemporâneo)
quando identifica a universalidade desse desejo nas pessoas, e o denomina de
Complexo de Édipo.
Atualmente, será a bioética, a ética da vida, quem irá se ocupar do que
venha ser certo ou errado frente aos conflitos provocados pela nossa evolução
científica, pois será esta ética que nos permitirá pensar certos conceitos propostos
pela ciência como, por exemplo, o que é morte. A ciência nos trouxe o conceito de
morte cerebral, que foi internacionalmente aceito, mas que surgiu como uma
necessidade para poder realizar os transplantes. Assim sendo, devemos pensar nas
questões bioéticas provocadas pela biotecnologia, como a clonagem de seres
humanos ou outros avanços genômicos, e as questões bioéticas provocadas pela
"bioeconomia", tais como o patenteamento de genes ou do genoma e a sua possível
comercialização.
O físico italiano Galileu Galilei (1564-1642), iniciador do método científico,
também foi considerado herético por defender o sistema Copérnico, que afirmava
ser a Terra quem girava em torno do Sol. Atualmente, devemos entender que
Galileu foi tão revolucionário quanto Einstein, com sua teoria da relatividade, ou tão
transformador quanto a descoberta da mecânica quântica para a física. Os cientistas
que estão pesquisando o genoma humano poderão ser considerados heréticos por
algumas pessoas, mas também poderão ser vistos como renascentistas por outras.
A ciência não deve se tornar a nova religião dizendo o que venha ser
herético ou não. Será a sociedade, como um todo e de forma democrática, quem
deverá discutir essas questões bioéticas. Gostaríamos de salientar que o
conhecimento da anatomia humana não nos permitiu localizar qual é a parte do
corpo onde se localiza a nossa alma. Do mesmo modo, não será o mapeamento do
genoma que nos transformará em diabos ou deuses, pois estas questões humanas
são muito complexas pela sua subjetividade. Dificilmente qualquer método científico
dará conta da subjetividade humana.

BIOÉTICA DAS RELAÇÕES – Seguramente, a ética é anterior aos gregos, mas


devemos a este povo a sua denominação enquanto uma filosofia do bem e do mal.
Acreditamos, porém, que, desde os primeiros ancestrais humanos, já existia uma
ética para as relações humanas, assim como já existiam leis para regulamentar o
comportamento humano antes da criação de códigos. Nós, seres humanos, criamos
os problemas éticos, pois eles emergem justamente das relações psicossociais, ou
seja, da percepção dos conflitos causados pela inserção do indivíduo na cultura.
Notamos que a bioética, teoria com princípios (autonomia, beneficência e justiça),
acaba sendo uma ética moralista, pois tenta encaixar os indivíduos em pressupostos
sociais, que nem sempre abarcam os valores individuais. Enquanto a ciência traz o
conhecimento, a bioética traz a reflexão sobre a utilização do conhecimento na
prática.
Embora, diferentemente da moral, a ética seja individual, na perspectiva
da bioética das relações, ela só pode surgir no confronto e no reconhecimento do
outro. Dentro dessa perspectiva, a autonomia do indivíduo só pode ser pensada na
relação, ou seja, nenhum indivíduo é totalmente autônomo, pois o limite de sua
liberdade se dará no contexto das relações com os mundos externo e interno. Por
outro lado, a autonomia do indivíduo traz uma outra angústia: a liberdade de poder
decidir por sua própria vida. Com o suporte de uma ética moralista (paternalista) ou
moral religiosa, o indivíduo não tinha que lidar com os conflitos frente à própria vida;
as questões eram sempre decididas por terceiros, como Deus ou a sociedade.
Assim, acreditamos que a Declaração Universal dos Direitos do Homem
traz esta nova percepção ética das relações humanas, que é o reconhecimento da
dignidade inerente a todos os indivíduos.

BIOÉTICA DA VIDA COTIDIANA – A bioética tem se ocupado de questões


fundamentais da humanidade que, seguramente, modificaram nossa sociedade e o
seu futuro, e que influenciam o comportamento do indivíduo. Por exemplo, como
lidar eticamente com as novas definições de início e de fim da vida humana ou da
qualidade de vida humana, o que pode ser realizado do ponto de vista ético em
experimentos científicos, como lidar eticamente com o meio ambiente. Porém,
entendo que a bioética dá pouca atenção ao cotidiano da vida.
A psicanálise, por sua vez, também lida com questões fundamentais da
humanidade só que desde o vértice do indivíduo, mas que seguramente modificaram
a sociedade. Por exemplo, a definição de inconsciente, do conceito de pulsões
diferenciando-as dos instintos ou do conceito de pulsão de morte. Considero, no
entanto, que a psicanálise dedicou pouca atenção a questões sociais. Tanto a
bioética quanto a psicanálise revolucionaram a humanidade; a primeira partindo de
uma percepção externa do ser humano e a outra, de sua percepção interna. O que
tentaremos elaborar neste artigo é uma integração da bioética com a psicanálise,
pois seguramente ambas têm em comum a preocupação ética das relações
humanas e são valorizadas a partir do vértice subjetivo. Neste esforço, poderá se
pensar o indivíduo e a sociedade de uma forma única, desde seu componente
externo ou moral e de seu componente interno ou ético. A psicanálise surgiu como
uma possibilidade de se entender o indivíduo, com suas características comuns,
mas também com suas características próprias.
O indivíduo em seu eterno conflito, entre o retorno do reprimido e a sua
necessidade de elaboração das pulsões para o convívio social, deverá processar
esse mal-estar da cultura. A psicanálise mostra-nos a importância das funções
familiares (pai, mãe) na estruturação psicossocial do indivíduo, mostrando o quanto
tais funções psíquicas permeiam as funções biológicas. Assim, o desejo incestuoso,
presente em todo ser humano, tem a função, através da mãe, de erotizar a criança.
O limite a esta erotização deve ser dado através da função do pai, que, no âmbito
mental, é o representante da Lei (proibição do incesto). Será graças a esta primeira
proibição social que a criança irá apreender o significado de limites, possibilitando
estruturar seu funcionamento mental e seu ingresso ético na cultura.
Como o indivíduo pode apreender a cultura e as pulsões para se
conhecer e lidar com os limites sociais? A proibição do incesto funciona como o
organizador mental e social quando propõe limites às pulsões, permitindo que o
indivíduo se relacione de outra forma frente ao mundo, deixando de ser dominado
por seus impulsos e passando a ser um sujeito capaz de organizar suas próprias
ações. Desse modo, a repressão das pulsões incestuosas permite a formação de
uma estrutura mental com id, ego e superego, que possibilita a introjeção de funções
psicossociais e o respeito ao outro, que são os fundamentos da bioética. Tendo este
conflito entre as instâncias do aparelho mental como base do desenvolvimento e do
funcionamento humanizado, pensamos na reflexão bioética como a extensão deste
conflito para as relações sociais. Esse processo, que se repetirá em cada indivíduo e
deverá ser elaborado durante toda a vida, é o desafio da bioética. Sabemos que a
compreensão do funcionamento mental do ser humano surgiu a partir da tentativa de
identificação e compreensão do funcionamento psicopatológico. Assim, Freud
elaborou uma teoria e uma prática do funcionamento humano; através do melhor
conhecimento dos sintomas de perturbações mentais, ele pode compreender os
"comportamentos sintomáticos" presentes na vida cotidiana, como os lapsos de
memória, os sonhos, atos falhos, desenvolvimento da sexualidade etc.
Percebemos que a bioética surgiu da necessidade de compreender e
repensar os "sintomas" da sociedade moderna. A reflexão bioética surgiu através da
percepção das mudanças das relações psicossociais ocasionadas pelos grandes
avanços científicos e tecnológicos, fazendo renascer o conflito entre ciências
biológicas e as ciências humanas. Isto pode ser observado, atualmente, quando se
relaciona a bioética à reflexão sobre temas como eutanásia, abortamento,
reprodução assistida, clonagem e terapias gênicas. Tais temas provocam conflitos
em valores pré-estabelecidos socialmente, com mudanças bruscas, como por
exemplo, nas definições de vida, saúde e morte. Tais valores, por serem novos,
necessitam da criação de parâmetros para serem incorporados na vida social e uma
elaboração individual.
Podemos pensar que tais temas são equivalentes aos sintomas das
doenças mentais e que, da mesma forma, a discussão e a reflexão sobre estes
podem trazer luz à discussão bioética das situações do cotidiano. Muitas pessoas
nunca terão um contato próximo com situações como eutanásia, clonagem e
transfusão de sangue em testemunhas de Jeová, e as discussões sobre esses
temas passam a ter para tais pessoas um cunho extremamente teórico. Mas, com
certeza, os aspectos bioéticos centrais dos temas estarão presentes em todas as
relações humanas, como o reconhecimento e o respeito à autonomia do outro e a
noção dos limites e funções humanas e sociais.
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