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Orientadora:
_______________________________________
Profa. Dra. Julieta Beatriz Ramos Desaulniers
________________________________________
Profa. Dra. Carmem Oliveira
________________________________________
Prof. Dr. Juremir Machado da Silva
________________________________________
Profa. Dra. Luiza Dalpiaz
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara” (livro dos
conselhos)
DEDICATÓRIA:
De modo especial:
Simone Bier, Leônia Bulla, Gleni Guimarães, Patrícia Grossi, Idilia Fernandes
e, Rosi, Zoraida, Nazira, Giorgina e Caroline;
Aos colegas e queridos amigos Alzira Lewgoy, Ana Lúcia Maciel, Chico
Kern, Jussara Mendes, Ivone Rheinheimer e Maria Palma Wolff, pelo apoio nas
horas mais difíceis dessa experiência;
À Alba Henkin, “Pacha Mama” Vera, Mauro Pozzati, meus gurus, que
deram a força emocional e espiritual para seguir em frente;
Considering that the shape of the text means its contents, metaphoric
resources had been used to construct this work, for example, „thesis-travel‟
figure, images, poetry‟s, songs and many other reflections made by different
14
1 Para FLIKINGER (1999, p.2), uma cultura estranha só se compreenderá se a tomarmos a sério como estranha, isto
é, se reconhecermos sua estranheza para nós. Querer compreender culturas estranhas exige a coragem de colocar em
cheque os próprios „pré-conceitos‟. Conseqüentemente, o compreender é um processo de gerar insegurança: processo
este que precisamos aprender a suportar.
17
2 Para CARVALHO(2001, p.02) “O momento da discussão sobre a realidade carcerária é freqüentemente precedido de
situações de enorme violência institucional.(...) E, não obstante, o modo, o local e os portadores dos discursos sobre
estes fatos são produto de construções políticas extremamente autoritárias, estruturadas em pressupostos
maniqueístas e segregadores, quando não belicistas e de (nova ) „defesa social‟.”
19
3 A pesquisa de campo junto ao Presídio Central (1999-2001) tornou-se o lugar privilegiado de investigação, dentre os
diferentes espaços de atuação (acadêmico e profissional) em que discuto a categoria „violência‟. Destaco também aqui:
a experiência com Supervisora de Serviço Social no Núcleo de Apoio às Vitimas de Violência/ULBRA (1999-00). Como
Professora da Disciplina: Desenvolvimento de Comunidade- Estudo exploratório sobre a Violência da Vila
Fátima/FSS/PUCRS(2000). Como membro do Conselho Penitenciário Estadual do Rio Grande do Sul. (em exercício
desde 2000). Como Diretora do Centro de Observação Criminológica da SUSEPE-SJS desde janeiro de 2001.
21
4 Para Morin (1977, 1991,1999) unidade complexa caracteriza-se como unidade global e não elementar, visto que é
constituído por partes diversas inter-relacionadas; unidade original, não originária, pois dispõe de qualidades próprias e
irredutíveis, mas tem de ser produzido, construído e organizado; unidade individual, não indivisível. Não podemos
reduzir nem o todo às partes, nem as partes ao todo. O sistema possui algo mais do que seus componente
considerados de modo isolados ou justapostos: a sua organização; a própria unidade global e as propriedades novas e
emergentes da organização e da unidade global (1977,p.103). Para isso estabelece alguns princípios como guias para
pensar a complexidade de um sistema: o organizacional, hologramático, anel retroativo, anel recursivo, auto-
organização; dialógica (1977, 1999).
22
fenômeno, o que possibilita captar a prisão, não somente como um espaço que
manifesta o excesso da força e do poder de punir - através do controle,
vigilância e disciplina - mas também, como espaço de auto-organização que
produz vida social, rupturas com o projeto idealizador da pena e outras
estratégias para combater a violência institucional. A potência da socialidade
dos sujeitos apenados, dos defensores dos direitos humanos e dos
abolicionistas seriam estratégias de não-violência à violência da própria pena
privativa da liberdade.
A trajetória dessa tese foi vivida como uma viagem, desde seu primeiro
desenho, ainda como projeto, até sua redação final, passando pela elaboração
das hipóteses e pelo processo tormentoso e hesitante das interpretações, com
as surpresas do aprendizado renovado, com a perplexidade sempre reiterada
de uma pesquisa sobre relações tão complexas e dolorosas, e com a angústia
asfixiante através da qual o universo do confinamento se oferece a seus
observadores cotidianos.
A problemática sentida
5 “Compreender o estranho significa compreender melhor a si mesmo. Pois toda a compreensão é marcada por um
processo reflexivo; o estranho faz-nos experimentar o outro de nós mesmos”. (FLIKINGER, 1999, p. 2).
28
filha Lúcia6. Depois, por três semanas, acompanhei o caso, enquanto a menina
esteve internada no Hospital Santo Antônio. Devido a uma gangrena, Lúcia
acabou perdendo o pé esquerdo porque, num ato de raiva, seu pai, que não
suportava escutar o seu choro, resolveu apertar ao máximo um dos sapatos
que protegiam seu pé. Lúcia foi retirada de seus pais e encaminhada à
FEBEM, para possível adoção.
Por noites, perguntava-me sobre quem iria adotar uma criança sem um
pé. Como estaria aquela mãe com a perda de sua filha? Que motivos levaram
aquele pai a cometer tal atrocidade com uma criança indefesa? Como estaria
Lúcia naquele lugar impessoal e frio ?
Na Faculdade, não foi por acaso que carreguei, por um tempo, o ideal de
trabalhar com as crianças vítimas do abandono social. Mas, por uma opção
dentre os diferentes campos de estágio oferecidos na época – 1984 -, acabei
escolhendo a Penitenciária Feminina Madre Pelletier para aprender a fazer o
Serviço Social. Foi uma experiência de dois anos, de possibilidades e limites,
Nos anos de 1987 e 1994, trabalhei por curtos períodos como Assistente
Social no sistema penitenciário, em diferentes esferas de atuação e
experiência. Mesmo que breves, foram duas experiências que me
possibilitaram, em primeiro lugar, uma intervenção direta com os apenados da
Penitenciária do Alto do Jacuí; em segundo, uma intervenção em nível de
planejamento nos setores da educação e trabalho prisional, no Departamento
de Execução Penal da Superintendência dos Serviços Penitenciários.
Assim, para enfrentar a crise do praticante9, fiz uma opção pela fuga,
direcionando-me exclusivamente para as temáticas que emergiam nos
7 A área penitenciária que teve seu auge dentre os campos da prática profissional do Serviço Social nas décadas de
60-70, passava, nessa época, por um processo de retração. Outras áreas, como a Assistência Social e Saúde,
figuravam como centrais junto à categoria, pois acompanhavam o fluxo das políticas sociais públicas na lógica dos
direitos sociais. Portanto, os campos que representavam a face controladora e higienista da profissão passavam por
um processo de superação, ou talvez negação, por parte daqueles que continuavam trabalhando nas instituições totais
punitivas- prisões e FEBEM.
8 Para DESAULNIERS (1999) desenvolver uma atitude como pesquisador “implica a instalação de rupturas através do processo
baseado nas disposições gerais que constituem o hábitus científico, para que o pesquisador seja capaz de se arriscar constantemente
desafiando o real, sem desconsiderar as relações de incongruência que estão na gênese da construção do conhecimento
científico”(p.04)
9 Desencadear e pensar sobre crise do praticante é o início do processo de delimitação do problema da pesquisa
(DALPIAZ,2000) .
30
10 A Questão Social é uma inflexão do processo de produção e reprodução das relações sociais inscritas num momento histórico,
trata-se da produção de condições de vida, de cultura e de riqueza. (ABESS, 1996, p. 12) Nesta perspectiva a Questão Social traduz-
se enquanto expressão: das desigualdades sociais, mas também, formas de pressão social e re-invenção do cotidiano dos sujeitos
excluídos socialmente. (IAMAMOTO, 1998, p.28)
32
1.1.1 A Bagagem I
11 O ideal ressocializador tem sido objeto de várias criticas nos debates sobre o sistema penal. Dentre as v árias
destaca-se:a) a impossibilidade de colocá-lo em prática pela falta de legitimidade (quem é o Estado para querer alterar
o comportamento de um sujeito)?) e de estrutura, já, que o índice de resultados não diminui reincidência criminal; b)
questiona-se o conotação político-ideológica da palavra ressocialização, que tem como premissa que o homem que
está preso é um ser desviante e que a sociedade sofre com isso, devendo, portanto, criar condições de controle e
tratamento para mudá-lo. Sobre esse tema ver: CARVALHO (2001), (BARATTA, 1997), (ANDRADE,1997),
(SANTORO, 1999) (CERVINI,1995).
12 Sobre o Movimento de Reconceituação no Brasil, ver: CARVALHO & IAMAMOTO (1993) e LIMA (1987).
35
13 Em levantamento realizado em março de 2001, verificou-se o desmonte das equipes técnicas, principalmente, no
Governo Antônio Britto (1995-1998). Das 49 Assistentes Sociais distribuídas em todo Estado, apenas 11 profissionais
ocuparam cargos de técnicos da SUSEPE ou do Quadro Geral do Estado. Os demais cargos técnicos eram ocupados
por profissionais em desvio de função (agentes penitenciários), Cargos de Comissão-6, cedidos de outras Secretarias
ou incorporados pelo Contrato Emergencial de 1994.
36
15 O processo de criminalização dá-se através da interação de mecanismos seletivos que agem no momento da
formação da lei penal (criminalização primária) e da aplicação da lei penal (criminalização secundária). Sobre esse
tema ver DIAS e ANDRADE(1984); BARATTA, A.(1997) ANDRADE (1997)
39
A ação junto aos sujeitos apenados poderia ser uma ação político-
cultural e sócio-educativa, visando à liberdade e, por isso mesmo, uma ação
dialógica, interativa e participante, isto é, compartilhada. A vulnerabilidade
emocional e social, fruto da situação concreta da dominação e exclusão em
que os apenados se encontram, gera uma visão ingênua e violenta que serve
para realimentar a dependência e a rejeição por parte de um mundo opressor,
identificando-se, nesse caso, o próprio contexto que exclui e estigmatiza o
apenado.
1.1.2. A Bagagem II
16 Para LAVILLE&DIONNE (1999,P.178) a “observação participante é uma técnica pelo qual o pesquisador integra-se
e participa na vida de um grupo para compreender-lhe o sentido de dentro”.
41
Criminal de Porto Alegre (Região Metropolitana que conta, em média, com seis
mil apenados).
17 Todo sujeito ao se “defrontar com a linguagem, vê nela uma realidade de abrangência universal.” Assim as
experiências que naturalizamos como normais, que tratamos como reais “estruturam-se sobre a realidade subjacente-
são filtradas através dela, organizadas por ela, entram em expansão através dela ou, ao contrário, por ela são
relegadas ao esquecimento- pois uma coisa sobre a qual não podemos falar deixa uma impressão muito vaga na
memória.”(BERGER&BERGER, s.d,p.195)
43
funciona, para produzir rupturas, mesmo que simbólicas, e para isso impõe-se
uma atitude de aceitação (MATURANA, 2001) e tolerância (MORIN,1997 e
SOARES, 1996) como pré-condição para enfrentamento do círculo da
vingança, da punição .
18 Para Morin, “... a ética do conhecer tende a ganhar prioridade e a opor-se a qualquer outro valor (...) sendo
necessário desintegrar as falsas certezas e as pseudo-respostas quando se quer encontrar as respostas adequadas”.
(MORIN, 1996, p.p. 121-122).
45
Não podia querer captar o todo do sistema prisional, sem saber das
partes que o compõem- Princípio Hologramático. Também não seria possível,
nessa viagem, querer ver tudo, como naquelas excursões de 13 dias que
prometem a visita a quatro países e onde se vê tudo e não se vê nada. Por
outro lado, não podia me vincular somente a uma “esquina” que me
19 Para Bachelard, a investigação do real decorre da elaboração de hipóteses que articulam dialeticamente a relação
entre o racional (pesquisador) e o real (fenômeno). Há um filtro que é oferecido pelas teorias que instrumentalizam o
olhar sobre o fenômeno, num movimento contínuo entre razão e experiência. (BACHELARD, 1996).
49
20 Para leitura dessa Organização que será tratada no capítulo 3, utilizei a perspectiva de MORGAN (1996) que
interpreta as organizações a partir de metáforas, comparando-as a imagens que permitem vê-las como máquinas,
cérebros, culturas sistema político, prisões psíquicas e instrumentos de dominação. O verdadeiro desafio foi aprender a
lidar com essa multidimensionalidade, o que possibilitou encontrar brechas, não só para novas formas de organização,
mas para enfrentar questões em nível estrutural.
50
21 Para Bachelard, a ciência opõe-se absolutamente à opinião. “A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades
em conhecimentos. Ao designar objetos pela utilidade, ela se impede de conhecê-los”. (BACHELARD, 1996, p. 18).
51
Por isso, o objeto violência na/da prisão tem como categoria de análise a
violência que, por ser um fenômeno complexo, poliforme e multirreferencial,
configura-se teoricamente em diferentes dimensões de representação do
social. Pode se expressar: na perspectiva de força, num ato de excesso,
presente nas relações de poder e controle, permeada por uma violência física
e/ou simbólica, que se exerce mediante a subjetivação dos agentes sociais
envolvidos na relação (FOUCAULT, 1979), na perspectiva discursiva que
revela a ambigüidade da critica sobre a falência da pena e inviabiliza e aniquila
qualquer possibilidade de intervenção pela falta de outras referências
57
Das Fontes22
Os dados não foram coletados de forma linear, ou seja, por etapas. Por
exemplo, enquanto se coletavam informações através dos questionários dos
funcionários, já estavam sendo tabulados e cruzados os dados dos sujeitos
presos, realizou-se entrevistas com os sujeitos “externos” vinculados ao PCPA,
enquanto outras já estavam sendo transcritas e pré-analisadas. As informações
foram coletadas nos diferentes contatos e observações e constantemente
registrados no diário de campo.
Foi promovida a discussão dos dados com os sujeitos que organizaram a vida
interna da prisão (sujeitos presos, guarda e técnicos);
Pressuposto teórico
Bagagem da complexidade
profissional e teórica sobre o
sistema prisional e violência
Indicadores da
Hipótese
violência no PCPA
Premissa 1
Premissa 2 Fontes:
Premissa 3 Documental
Premissa 4 Oral
Premissa 5 Escrita
“À maneira de um volume de água que avança,
corrói, se insinua, contorna obstáculos, passa por
cima desse mesmo obstáculo, em suma, por uma
estratégia de lentidão, pretendemos menos indicar
um lugar, demonstrar um lugar, do que abrir as
pistas num debate social poliformo(...).Trata-se de
pintar um quadro, ou uma série de quadros, que a
maneira das águas fortes progridem por
aprofundamentos sucessivos, ou então, como
iluminuras, recomeçam em minúsculos pormenores
do conjunto do quadro. Propomos peças de um
enigma que se imbricam, se completam e dão assim
os grandes contornos do visível na aparência de
nossas vidas” (Michel Maffesoli)
2 O CENÁRIO DA PESQUISA
23 A Constituição Federal de 1988 posterior a LEP, deveria ser instrumento maior do ordenamento jurídico, que
dedicou parte expressiva de seu texto aos direitos, garantias individuais e coletivas dos cidadãos brasileiros . Define os
direitos da pessoa humana e do cidadão em seu artigo 5º e seus 37 incisos, que orientam a legislação infra-
constitucional. Dos comandos constitucionais, todos importantes, alguns serão citados porque são adequados ao tema
da tese:
III – Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;XLVIII – A pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, idade e o sexo do apenado; XLIX – É assegurado aos
presos o respeito a integridade física e moral;LVII – Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória; LXII – A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
24 Nas décadas de 80 e 90, importantes instrumentos de proteção aos direitos humanos foram ratificados pelo País: a
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1989); a Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1989); a Convenção sobre os Direitos da Criança (1990); o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1992); o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(1992); a Convenção Americana dos Direitos Humanos (1992) e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher (1995). Em 1995 foram ratificadas pelo Brasil as Regras Mínimas para o
Tratamento de Reclusos, da Organização das Nações Unidas (ONU), através do Ministério da Justiça, sendo
incorporadas como "Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil”.
66
25Segundo TORRES (2001) no relatório enviado pela Pastoral Carcerária Nacional para a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara Federal e para várias entidades internacionais em 1999, eram relatados incidentes prisionais nos
estados do Rio Grande do Sul, Goiás, Espírito Santo, Ceará, Paraíba, e Rio Grande do Norte, por conta de haver
nestes estados, estabelecimentos penitenciários comandados pela Polícia Militar.
67
26 Conforme TORRES (2001) o requerimento de informação 428/99 solicitado pela Pastoral Carcerária e Comissão de
Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo junto à Secretaria de Administração Penitenciária
informou que, em dezembro de 1999, 57 funcionários da Casa de Detenção respondiam a processos criminais e
continuavam trabalhando na própria Casa de Detenção e em outras unidades. Respondiam a processos por roubo,
furto, homicídio, tráfico de drogas, porte de drogas, estelionato, lesão corporal, abuso de autoridade, concussão
(suborno), receptação de objeto roubado; e ainda, outros 42 funcionários sofriam sindicância por negócios com presos,
jogos ilícitos, suborno, apropriação de dinheiro de detento, facilitação de introdução de entorpecentes e de bebidas
alcoólicas, introdução de aparelhos telefônicos celulares, porte ilegal de arma de fogo, desvio de dinheiro de presos,
posse de maconha, crack e cocaína, facilitação de fugas, maus-tratos contra presos, destruição de propriedades de
presos e licença médica fraudulenta.
27 Segundo TORRES(2001), através de dados da Organização Mundial de Saúde, 70% dos presos brasileiros são
portadores do bacilo da tuberculose. O Censo Penitenciário nacional de 1995 contava com 12% da população
carcerária como portadora do vírus HIV, com ou sem manifestação da doença.
68
28 Aqui no Rio Grande do Sul, desde 1996 o Presídio Central de Porto Alegre está parcialmente interditado e
impossibilitado de receber novos condenados. O Instituto Psiquiátrico Forense foi interditado no primeiro semestre de
2001 por não apresentar as mínimas condições de um Hospital Psiquiátrico.
69
29 Em 02 de outubro de 1992, no trágico Massacre do Carandiru, 111 presos foram mortos pela Polícia Militar na Casa
de Detenção de São Paulo. Em 11/10/1992, pesquisa de opinião publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” relata
que “Massacre de presos divide população”.
30 Para a elaboração deste relatório, a Anistia visitou 33 presídios no Brasil, em 10 Estados: São Paulo, Rio de
Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Pará, Ceará, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
70
discussão teórica sobre o tema e ativando a memória daquilo que já tinha sido
vivido e estudado.
31 Durante o período de maio / 1999 até janeiro/2001 houve uma mudança na Chefia da Segurança e duas na Direção
Geral.
75
1a B-galeria 212 73
3A B-galeria 217 33
1A E-galeria 74 25
2A E-galeria 45 22
COZINHA 42 17
CONSERVAÇÃO/OBRAS 45 29
REFEITÓRIO FUNCIONÁRIOS 15 10
FAXINA GERAL 27 04
LAVANDERIA 08 06
3A D-galeria 209 66
32 Em 1995, devido aos problemas de rebeliões e de insegurança nas principais prisões da região metropolitana, a
Brigada Militar-BM assumiu o comando de cinco casas: Presídio Central de Porto Alegre, Hospital Penitenciário,
Penitenciária Estadual de Charqueadas, Penitenciária Estadual do Alto do Jacuí e Penitenciária de Alta Segurança de
Charqueadas.
79
33 Segundo GOFFMAN (1987, p.11): uma instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho
onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por
considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada.Essas instituições totais não
permitem qualquer contato entre o internado e o mundo exterior, até porque o objetivo é excluí-lo completamente do
mundo originário, a fim de que o internado absorva totalmente as regras internas, evitando-se comparações,
prejudiciais ao seu processo de “aprendizagem”
80
34 O sistema Penitenciário Gaúcho está sob o comando da Superintendência dos Serviços Penitenciários - SUSEPE - subordinada à
Secretaria da Justiça e Segurança, que atua como órgão público responsável pelo planejamento e execução da política penitenciária
do Estado do Rio Grande do Sul Os 89 estabelecimentos prisionais do Estado do Rio Grande do Sul atendem homens e mulheres em
cumprimento de pena privativa de liberdade, em regimes variados, bem como em cumprimento de penas alternativas (limitação de
final de semana), prisões civis e medidas de segurança. A SUSEPE abrange 14 estabelecimentos penais chamados de Casas
Especiais que estão localizadas em Porto Alegre, município de Charqueadas e Venâncio Aires, todos sob a jurisdição da Vara de
Execuções Criminais de Porto Alegre e abrigam 6.541 presos. Além destes estabelecimentos, no interior do Estado, existem 75
presídios de pequeno e médio porte que compõem as oito Delegacias Penitenciárias Regionais (DPR) que ao total abrigam 7.824
presos. Para atender homens e mulheres portadores de doença mental que estão em cumprimento de medida de segurança, há o
Instituto Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso que abriga 605 pacientes. (segundo dados do efetivo carcerário semanal de
23/04/2001).
82
35 Os dados apresentados nesse capítulo estão organizados em tabelas no anexo II, da página 313 a 344.
83
36 Os dados aqui apresentados são da fonte 01 documental- Relatório Anual da Chefia Operacional- Adminsitração
Brigada Militar - SUSEPE/SL, 1999.
89
37 É importante assinalar que, com a nova reforma, a fachada do Presídio está se modificando, bem como sua
estrutura interna. Contudo a descrição feita é baseada no período da pesquisa de 1999 a 2000.
90
38 No Núcleo de Orientação Educacional e Social – NOES- é oferecido curso de alfabetização e preparação para os
supletivos de 1o e 2o graus. Os professores, em numero de 06, são oriundos da Secretaria da Educação e Cultura -
SEC. Também a escola oferece uma média de dez vagas no curso de computação.
39 Desde abril de 2001 a cantina passou a ser terceirizada, pois anteriormente apresentava várias irregularidades
fiscais na comercialização dos mantimentos por ser de responsabilidade da administração interna.
40 A sala piloto é um lugar especial com oito cabines para receber, em 15 minutos, familiares com problemas de saúde
ou que estão chegando ao presídio pela primeira vez. Nesses casos, é o preso que passa pela revista íntima depois da
visita.
41 A valorização humana é um setor de trabalho que congrega: serigrafia, artesanato, escultura em pedra sabão e
alfaiataria .
94
abertas (pois as portas foram destruídas) sendo isolada por uma grade grande
na porta de entrada.
42 Durante o ano de 1999 foram feitas pela BM 205 revistas nos pavilhões em nível estrutural , onde se quebram
paredes, vasos sanitários e, 311 em nível geral onde são revistados todos os pertences dos sujeitos apenados.
95
Não existe atividade fixa de cunho cultural e de lazer (além dos jogos de
futebol). Ocorrem eventos que promovem aproximação com a família e
comunidade, bem como a visita de alguns conjuntos musicais em dias de Natal
e outras festividades. Há um auditório recém reformado mas que é pouco
utilizado por questões de segurança.
onde tem que se despir e fazer três agachamentos com as pernas abertas de
frente e depois três de costas na frente de uma policial. Depois, a visita tinha
que virar-se de costas para uma lâmpada e fazer o afastamento de suas
nádegas para que a policial pudesse verificar se existiria a presença de objetos
em seu canal vaginal. A visitante também tinha que sacudir seus cabelos,
mostrar o interior de sua boca e ter suas roupas revistadas, não havendo
contato físico com as policiais.
Das pessoas que mais fazem visita aos sujeitos apenados, 50% são as
companheiras e, em segundo lugar, 22% os parentes, seguidos das mães com
21%. Apenas 4% das visitas são do pai. Considerando a freqüência das visitas,
a companheira apresentou 88,9% de freqüência, posteriormente apareceram
os parentes e amigos (45%), seguidos da mãe com 37, 5% e, por último, o pai,
com somente 7,9% de freqüência.
44 Dados fornecidos pelo Relatório Anual da segurança do PCPA- Brigada Militar. Anexo 03.
45 Para melhor detalhamento e visualização dos dados quantitativos ver tabelas e gráficos no anexo 02.
101
OS FUNCIONÁRIOS
OS SUJEITOS APENADOS
afirmam com os que estão em dúvida o índice passa para 13,5%, o que
representaria, em cada galeria, contendo uma média de 250 presos, existirem
de 25 a 30 pessoas com HIV. Para o grupo de funcionários pesquisados,
quanto a essa questão, entre as doenças que mais assinalaram junto aos
presos destacam-se 39,2% AIDS, 24,6% tuberculose, 16,4% dependência
química e 19,9% outras.
uma fatalidade, 27,5% porque foram vítimas da sociedade, 25,5% por um erro
da justiça, 2,4% porque se consideravam uns marginais e 2,4% porque se
consideravam malandros.
Os papéis formais:
Os papéis informais:
A rede de comunicação:
b) não mentir, pois o valor de uma palavra tem alto preço e muitas vezes é
selada com a própria vida ;
Por outro lado, esse processo de vocalização dos sujeitos apenados foi
um dos fatores que contribuíram para organização mais complexa das facções
e, ao mesmo tempo, fortaleceu as relações de dominação do comando da BM.
Dar voz às necessidades de agrupamento e segurança do recém chegado
estimulou a distribuição dos sujeitos apenados em diferentes galerias com
diferentes comandos. Isso possibilitou o equilíbrio das diferentes forças dos
diferentes grupos. Essas forças contrárias eram referendadas pela gestão da
BM , garantindo que um grupo de presos que não se entrosasse com o outro
jamais ficariam próximos, “protegendo-os” da autodestruição e garantindo o
controle da ordem sob o comando da BM.
47 Segundo MOSCOVICI(1988) região luz de uma organização representa todos os aspectos concretos, físicos e
formais do ambiente e das dinâmicas grupais que podem ser observados e que são institucionalizados. Por exemplo,
objetivos do PCPA, Estrutura, funcionamentos, os recursos, a comunicação, as normas etc.
120
encontram na região sombra 48, ou seja, da violência. Para tanto foi importante
captar qual o significado desse fenômeno para os sujeitos pesquisados.
48 Segundo MOSCOVICI (1988) a região sombra concentra todas as minúsculas modulações da violência e os
aspectos subjacentes, que não são vistos mas estão presentes de tal maneira que sua ação tem força de impacto no
funcionamento dos aspectos mais aparentes. Tornam-se uma espécie de “força oculta” que quando não assumida
condensa-se na organização da prisão. Inserem por exemplo: sentimentos de rejeição, a espera, as projeções, os
medos, os códigos velados, o silêncio etc.
121
49 A noção de organização é circular, constitutiva de relações, formações, invariâncias que circularmente a constituem.
Por exemplo, a organização da pena privativa de liberdade deve ser analisada como organização de sua própria
organização(MORIN, 1977,p.129).
50 O termo cultura na ótica de GARLAND (1999) tem um sentido amplo, compreensivo de todos os fenômenos cognitivos, notados
como mentalidade (valores, categorias, sistemas de idéias, também daqueles relativos aos afetos, emoções, denominados
sensibilidade).
135
O Direito Penal entra então numa fase humanitária, quando passa a ser
instrumento de controle e manutenção da ordem e da segurança pública, com
a difusão dos ideais iluministas. Foi Marques de Beccaria que, nessa época,
tornou-se referência dos penalistas ao manifestar-se contra as penas cruéis e
imoderadas, o sistema legal, os julgamentos e a pena de morte (BECCARIA,
1959).
51 No talião material, havia a proporcionalidade entre delito cometido e pena imposta. Na fase do talião simbólico se
está diante de um avanço das penas que surge para atingir delitos não abrangidos pelo Talião Material, suas penas
eram menos rigorosas, porém de maior expressão. Nesta fase o criminoso poderia reparar o crime sem lhe ser imposta
uma pena, sendo esta substituída por uma multa a ser paga ao ofendido. Este período foi chamado de sentimental,
pois o sentimento era quem regia a justiça. (OLIVEIRA, 1996)
52 Para aprofundar a questão das teorias modernas do Direito Penal indica-se “Pena e societá moderna. Uno studio de
teoria sociale”, de David Garland (1989).
136
A Pena de Prisão
Por isso é que se deve ter o cuidado de se atribuir, por mais fontes que
se tenha, o momento histórico em que a prática da detenção legal passou a ser
exercida (PAVARINI, 1996).
53 Os dados históricos apresentados aqui são uma síntese do estudo elaborado pelo juiz de direito do Estado de
Rondônia “A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO BRASIL: SEU PASSADO, O PRESENTE E AS PERSPECTIVAS
PARA O FUTURO” (NAUJORKS NETO, Adolfo Theodoro)
140
O seu artigo primeiro deixa claro que a execução penal deveria cumprir
os ditames da sentença, mas também, "proporcionar condições para a
harmônica integração do condenado e do internado". Destaca a proteção de
"todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela Lei"
Essa crise do sistema prisional tornou-se tema corrente nos últimos vinte
anos. A leitura dessa crise (CIAPPI, 1997; TUMIM,1996; HERKENHOFF,1987)
vem normalmente vinculada ao fracasso das várias estratégias de
normalização que privilegiaram durante muito tempo a prática do seqüestro
social (PAVARINI, 1996) como um mal necessário.
54 Segundo Foucault (1997), na França, existem documentos datados de 1820 que constatam que a prisão longe de
modificar os sujeitos criminosos em sujeitos honestos, apenas aprimora o processo da criminalização.
155
55 Segundo PASSETI & SILVA (1997), a partir dos anos 60, dentro do Novo Paradigma “Labeling Approach”, surge um
grupo de pensadores que aprofunda a análise criminológica, ampliando a crítica ao sistema punitivo. Destaca-se que,
no bojo de propostas abolicionistas das prisões, encontram-se diversas posições: a abolição da prisão na forma que
existe atualmente e, a substituição da pena privativa de liberdade por outras alternativas punitivas.
156
56 O interacionismo simbólico surge na década de 60 como uma das teorias do novo Paradigma Labelling Approach,
onde rejeitam o pensamento determinista e os modelos estruturais estáticos. Vê a realidade social constituída por uma
infinidade de interações concretas. Portanto, a dinâmica das instituições sociais somente pode ser analisada em
termos de processos de interações. Destaca-se aqui a Escola dramatúrgica de Goffman e a etnometodologia. (DIAS &
ANDRADES, 1984).
157
Como exemplo, por grande parte deste século houve uma preocupação
com os “Res” (reeducação, ressocialização, reinserção), que constituíam-se em
elemento chave na ideologia oficial e na retórica institucional. Hoje o termo está
fora de uso. Constatando-se o quanto seu uso foi sonhador e conservador,
pode-se afirmar que os “Res” aparecem como problemáticos nos melhores dos
casos e inúteis nos piores. Em alguns locais, como no sistema penitenciário
gaúcho, tais termos estão sendo aos poucos abolidos do vocabulário oficial.
(GARLAND,1999) Por conseqüência, observa-se que o sistema prisional
sentiu-se privado de uma linguagem e da mitologia sobre as quais havia sido
fundada.
160
Muitas vezes os discursos sobre a violência são feitos sobre aquele que
pratica a ação violenta - sendo comum o uso da noção de força - ou a partir
daqueles que sofrem a ação-prevalência da noção de privação - onde
determinados direitos estão sendo negados e violados sem razão explícita.
(DIAS, 1996)
Não importava o êxito desse tratamento, mas o que fosse suficiente para
que a população marginalizada servisse de justificativa à tecnoestrutura
contemporânea. Esse controle social (COHEN,1988) operou no âmbito de um
monopólio administrativo e utilitário que se serviu de todos os recursos da
técnica e das ciências (MAFFESOLI, 1982).
57 Ricardo Tim Souza (1996) verifica em diferentes modelos teóricos - dentre estes destaca-se, Husserl, Heidegger, Bergson,
Luckas, Bachelar, Satre –uma atmosfera de desconforto, desinstalação, o que chama de “estágio de ruptura” (p.22-29)
170
Entretanto, sob esta aparente ruptura pode ser notada uma continuidade
e uma penetração extrema do espírito de mercantilização, em todas as esferas
da vida, que impulsionou a sociedade industrial. A questão de fundo não é,
portanto, a forma, mas os objetivos que orientam o crescimento econômico
que, por si só, é fator de desregramentos, atuando em todas as esferas da
vida, da biosfera à psicosfera (MORIN, 1995).
58 Ver estudo etnográfico sobre meninos de rua de Silva, H. & Milito, C. Vozes do meio fio, etnografia, 1995.
177
59 Sobre esta temática ver artigos de Bárbara Soares, Jaqueline Muniz e Maria Gregori. In: SOARES,LuisE. Et al. Violência e
política no Rio de Janeiro. 1996.
178
do Lugar
Conforme foi visto no Capítulo 3, a prisão no Brasil, dos anos 90, volta à
cena não somente simbolizando o aumento da pobreza e do caos social, mas
sinaliza, além de uma sociedade fraturada, uma nova forma de exclusão.
Essa perspectiva de apoio à violação dos direitos dos presos vem sendo
alimentada pela imagem de que o sistema penitenciário não é punitivo; imagem
de que, quem infringe a lei não tem condições de ser regenerado- discurso
despótico sobre violência.
185
sistema penal por uma socialidade com dominante empatia advinda da massa
carcerária.
Além disso, os atos de violência da massa têm por objetivo tirar a prisão
do seu estado de invisibilidade. Eles atingem indiferentemente sujeitos
representantes do sistema penal, dos grupos formais, e elementos anônimos
da massa.
60 Para MORIN(1999, 19970 a ética da compreensão é a arte de viver que nos demanda, em primeiro lugar, compreender de modo
desinteressado. e pede que se compreenda a incompreensão. o que favorece a compreensão é: o bem pensar, modo que permite
apreender em conjunto o texto e o contexto, o ser e seu meio ambiente, o local e o global, o multidimensional, o complexo, isto é, as
condições do comportamento humano; o auto-exame crítico que permite não assumirmos a posição de juiz de todas as coisas. para
tanto devemos assumir consciência da complexidade humana e desenvolver simpatia e tolerância.
A antropo-ética, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo individuo/sociedade/espécie e
instrui-nos a assumir a missão antropológica do milênio: trabalhar para humanização da humanidade; vida; alcançar a unidade
planetária na diversidade; respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a identidade quanto a si mesmo; desenvolver a ética da
solidariedade; desenvolver a ética da compreensão; exercitar a democracia pois favorece a relação rica e complexa
indivíduo/sociedade, em que os indivíduos e a sociedade podem ajudar-se, desenvolver-se, regular-se e controlar-se mutuamente. a
democracia é complexa envolve política, economia, sociologia, não pode ser definida de maneira simples. o desenvolvimento das
complexidades nutre os avanços da individualidade e esta se afirma em seus direitos e adquire liberdades existenciais. assim, todas
as características importantes da democracia têm um carater dialógico que une de modo complementar termos antagônicos:
consenso/conflito, liberdade/igualdade/fraternidade, comunidade nacional/ antagonismos sociais e ideológicos.
224
Não é, portanto, possível pensar numa análise social sobre a prisão que
não trabalhe os fenômenos culturais na ótica da sensibilidade (GARLAND,
1999) A questão é identificar a mudanças da sensibilidade e o caminho da
modalidade de punição que a sociedade contemporânea vem indicando. A
discussão sobre motivações e emoções são sempre inconclusivas e de difícil
demonstração. Por isso, para atribuir-se um valor - no processo da auto-
organização da prisão - a uma mudança na sensibilidade da população, pode-
se recorrer a vários argumentos manifestados pelos os observadores (esfera
do saber acadêmicos e institucional -jurídico e das ciências humano social) que
produzem significações.
“Contemporaneamente, a percepção e o
desenvolvimento de uma maior sensibilidade que
mostra em sua nudez execrável a visão da violência,
possibilita pensar uma antropologia na qual a
dignidade dos desprotegidos não esteja presente por
226
61 Estes indicadores foram elaborados para fins didáticos no Curso de Extensão SUSEPE /PCUS-FSS pelas Profas. Ma. Palma
Wolff e Miriam Guindani- 1997.
233
cotidiano da prática profissional. Não foi tarefa fácil, exigiu-nos muitas reuniões,
diagnósticos, planejamentos e seminários temáticos.
Com esta postura, além de tornar-se uma pessoa “não grata” pelos
diferentes agentes sociais do sistema penal- já que tudo gira em torno da
morosidade dos “exames” e da situação jurídica- desencadeava-se uma crise
de identidade e ética entre os próprios técnicos quanto à possibilidade de
finitude dessa função dentro do sistema punitivo atual. Pode-se ver
principalmente a discussão que vem sendo colocada na proposta do novo
Código Penal, de restrição da atuação técnica junto às decisões judiciais, no
que tange às progressões de regime.
Outro aspecto que se buscou foi romper com a função julgadora do perito,
pois que não era responsabilidade da perícia julgar, e sim auxiliar a decisão do
juiz, bem como subsidiar Acompanhamento Técnico que deveria ser oferecido,
ou seja, um Tratamento Penal mais digno e humano ao apenado, reduzindo os
níveis da vulnerabilidade psicossocial e da violência institucional.
Enfim, esse breve relato visa a ilustrar a ação de uma equipe que
acredita não ser mais possível sustentar discursos obscuros e menos ainda
ensaiar desculpas por não poder materializar tais objetivos que esses discursos
delineiam. Um discurso penitenciário racional e não violento poderia ser
construído sobre os alicerces que garantam que os danos da prisão sejam os
menores possíveis junto às pessoas que cumprem pena. Uma filosofia como
nos indica ZAFFARONI (1991, 1997) pautada num tratamento redutor de danos
institucionais e da vulnerabilidade penal. Ou seja, os esforços seriam
246
direcionados para que a prisão fosse o menos deteriorante possível, tanto para
os presos como para aqueles que lá trabalham.
“Isto sabemos.
Todas as coisas estão interligadas
Como sangue
Que une uma família...
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