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A partir do século XX, o rol dos direitos fundamentais passou a incluir os direitos
sociais, de inspiração socialista, voltados para a dimensão social do ser humano,
implicando ações do Estado destinadas à garantia de condições materiais de vida para
todos os cidadãos. Ao contrário dos direitos individuais, que constituem direitos a
abstenções do Estado, os direitos sociais são direitos a prestações do Estado, impondo a
realização de políticas públicas, ou seja, de um conjunto sistematizado de programas de
ação governamental.
Outrossim, a leitura combinada dos arts. 194, 196 e 198 da Constituição permite a
definição dos seguintes princípios informadores da política pública de saúde:
a) universalidade (art. 194, I; art. 196, caput): como direito de todos, a saúde não requer
nenhum requisito para sua fruição, devendo ser universal e igualitário o acesso às ações
e serviços de saúde;
c) atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais (art. 198, II): a integralidade do atendimento significa que o
sistema de saúde deve garantir acesso a ações de promoção, que buscam eliminar ou
controlar as causas das doenças e agravos, envolvendo também as ações em outras
áreas, como habitação, meio ambiente, educação etc.; de proteção, que visam à
prevenção de riscos e exposições a doenças, incluindo ações de saneamento básico,
imunizações, ações coletivas e preventivas, vigilância à saúde e sanitária; de
recuperação, ou seja, atendimento médico, tratamento e reabilitação para doentes;
Deveras, com a definição da saúde como direito fundamental, abriu- se o caminho para
que todos os cidadãos brasileiros dela possam usufruir, tendo em vista que a saúde
passou a constituir um direito público subjetivo, garantido pela existência do Sistema
Único de Saúde (SUS).
Como os demais direitos a prestações positivas por parte do Estado, o direito à saúde
coloca problemas particulares para sua efetivação.
Aqui, cabe referir que não houve omissão legislativa, dada a vigência da Lei nº
8.080/90, que materializou os princípios constitucionais informadores do direito à
saúde.
Neste diapasão, o direito à saúde deve ser empregado como o critério norteador de um
juízo de ponderação de bens e interesses para se aferir a constitucionalidade e legalidade
da restrição de outros preceitos constitucionais ou infraconstitucionais, como a livre
iniciativa e outros direitos de cunho econômico.
Outrossim, o atendimento dos direitos sociais implica custo para o Estado, desprovido
amiúde dos meios financeiros necessários. A realização desses direitos estaria sujeita à
‘reserva do possível’, o que reforça o papel do legislador e do executor na definição de
prioridades diante de recursos escassos.
Sem negar a autoridade desses argumentos, cabe não tomá-los de modo absoluto, sob
pena de se reduzir a eficácia do direito constitucional à saúde.
O que não se pode admitir é que o direito à saúde, direito fundamental social, torne-se,
pela inércia do legislador, pela insuficiência momentânea ou crônica de fundos estatais,
ou pela incompetência gerencial dos agentes públicos, pretensão perenemente
irrealizada no tocante à efetividade almejada pela Carta Magna.
*Juiz Federal