Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Discursos
Discurso do Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, no
Debate Aberto de Alto Nível do Conselho de Segurança das Nações
Unidas sobre a interdependência entre segurança e desenvolvimento
Nova York, Estados Unidos, 11 de fevereiro de 2011
Imprimir
Última atualização: 14/10/2014 | 16:56
Excelências,
Estou extremamente satisfeito com a reação tão positiva dos membros do Conselho ao
debate que propusemos sobre a interdependência entre paz, segurança e desenvolvimento.
Antes de examinar alguns dos desafios atuais e sugerir cursos de ação, gostaria de fazer
uma breve digressão histórica.
2. Estamos todos plenamente cientes de que a Organização das Nações Unidas foi
criada para poupar as gerações futuras da calamidade da guerra, evitando repetir os erros
cometidos após a I Guerra Mundial. Um aspecto importante dessa abordagem envolveu
iniciativas paralelas voltadas a criar melhores condições econômicas e sociais para a
recuperação dos países que haviam sofrido as devastações da II Guerra Mundial com mais
intensidade, quer tenham saído vitoriosos quer não. O Plano Marshall foi instrumental para
o êxito desses esforços, dando corpo à noção de que uma ordem internacional mais estável
e pacífica exigiria não apenas um sistema de segurança coletiva imbuído de credibilidade,
mas também uma “agenda de desenvolvimento”.
3. O termo “desenvolvimento” não era tão comum na época, mas a Carta das Nações
Unidas já incorporava a ideia da interdependência entre paz, segurança e desenvolvimento.
O Artigo 55, referente à “Cooperação Internacional Econômica e Social”, declara que “com o
fim de criar condições de estabilidade e bemestar, necessárias às relações pacíficas e
amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da
autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão: a) níveis mais altos de vida,
trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social…”
4. Nos anos posteriores, o conceito de desenvolvimento continuou a ser refinado na
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e na Primeira Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Na esteira do processo
de descolonização, as demandas por melhores termos de intercâmbio e maior assistência
ao desenvolvimento motivaram, na década de 1970, a adoção de uma resolução da AGNU
instando o estabelecimento de uma nova ordem econômica internacional. O direito ao
desenvolvimento foi reconhecido em uma Declaração da Assembleia Geral em 1986. No
ano 2000, a AGNU definiu os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, chamando assim
atenção à centralidade do combate à pobreza no contexto geral de nossa agenda.
5. Nas últimas duas décadas, os desafios à paz e à segurança apresentados a este
Conselho têm seguido novos padrões. Uma vez suplantada a rivalidade LesteOeste, muitas
situações examinadas pelo Conselho envolveram regiões do mundo em desenvolvimento
recémsaídas do colonialismo em condições de vulnerabilidade. Em alguns casos, suas
dificuldades foram exacerbadas pelas "guerras por procuração" do período bipolar.
6. Não estou sugerindo que as ameaças mais graves à paz encontramse hoje em
lugares comparativamente mais pobres e menos desenvolvidos. Essa seria uma leitura
muito equivocada tanto do cenário internacional atual como das tendências históricas.
Muitas situações de que somos convocados a tratar no Conselho de Segurança – de Timor
Leste ao Haiti, da Libéria à RDC – envolvem sociedades que, em si, não constituem uma
ameaça global à paz e à segurança. Mas são países que têm sofrido, em níveis diferentes,
com o conflito e a instabilidade no contexto de situações preexistentes de pobreza,
desemprego e fragilidade institucional, entre outras condições.
7. Estamos convictos de que estratégias puramente militares ou de segurança por si só
não serão capazes de lidar de forma adequada com a vasta maioria das situações de
conflito no mundo de hoje. O Conselho já reconheceu isso quando incluiu trabalhos de
reconstrução em alguns mandatos de manutenção da paz. Já em 2001, o Conselho de
Segurança observou a “necessidade de aprimorar as atividades de consolidação da paz com
a formulação de uma estratégia baseada na interdependência entre paz, segurança e
desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões” (PRST 2001/5). Mas o ponto
principal que gostaria de sublinhar em nosso debate hoje é que podemos fazer mais e que
devemos ter a capacidade para fazer melhor.
8. Não estamos propondo uma reconfiguração das responsabilidades dos vários
órgãos e agências da ONU nem a transformação deste Conselho em um programa de
desenvolvimento. Em nossa visão, o objetivo do debate de hoje será cumprido se contribuir
para aumentar a conscientização sobre a importância de associar o desenvolvimento às
estratégias de segurança que concebemos para alcançar uma paz sustentável. Essa questão
é relevante sobretudo quando tratamos de situações na África, no Oriente Médio e da única
situação nas Américas que consta de nossa agenda – ou seja, o Haiti. Desde os estágios
iniciais do desenvolvimento da MINUSTAH, com o inestimável apoio de nossos parceiros
latinoamericanos e outros países, o Brasil tem defendido mandatos que incorporem
atividades de reconstrução e consolidação da paz em paralelo a ações de manutenção da
paz. Embora os desafios no Haiti continuem a ser enormes, devemos perseverar nessa
abordagem e aprofundar suas raízes no país. A mesma percepção nos orienta na liderança,
nos últimos três anos, da configuração da CCP para a GuinéBissau, uma nação irmã
lusófona, onde o vínculo entre segurança e desenvolvimento é evidente.
Senhoras e senhores,
9. A paz sustentável implica uma abordagem abrangente de segurança. Sem
oportunidade econômica, desarmamento, desmobilização e reintegração como iniciativas
independentes, raramente os resultados desejados serão alcançados. As atividades de
consolidação da paz, como as de apoio ao emprego dos jovens e a prestação de serviços
básicos, desempenham um papel para ampliar o apoio às missões de manutenção da paz e,
portanto, afetam sua sustentabilidade política no terreno. Infelizmente, estamos todos
cientes dos níveis preocupantes de frustração que às vezes se associam à presença das
Nações Unidas em certas regiões do mundo. Acreditamos que essa situação poderia
melhorar se o Conselho também enfocasse os impactos positivos de uma estratégia
integrada e bem executada pelas agências, fundos, programas e instituições financeiras
internacionais.
10. Com essas considerações em mente, fica clara a necessidade de uma cooperação
reforçada deste Conselho com o Conselho Econômico e Social, assim como maior interação
entre este órgão e a Comissão de Consolidação da Paz. A CCP foi criada para preencher uma
lacuna institucional nas Nações Unidas. Resultou das várias lições amargas que a ONU
aprendeu com países que entram e recaem em conflito e instabilidade. Sua missão é a de
atuar como catalisadora ou coordenadora, dentro e fora do sistema da ONU, de apoio e
iniciativas específicas para a consolidação da paz e a promoção do desenvolvimento nos
países que emergem de conflitos – para além de seu mandato como fonte de
assessoramento quando há risco de conflito.
11. Espero que o debate de hoje aumente a capacidade das Nações Unidas, e em
particular deste Conselho, para ajudar as sociedades pósconflito a fazer a transição de um
círculo vicioso de conflito e instabilidade para um círculo virtuoso de paz, segurança e
desenvolvimento.
Obrigado.
Reportar erro
Pesquisa: