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Anais do I Se minário de História do Ensino das Línguas
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O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA A TERCEIRA IDADE:
ENFOQUE EM ITALIANO LE

Alessandra Harumi Bonito Fukumoto - USP

RESUMO

Cada vez mais os cursos de língua estrangeira têm sido procurados por um público que
se encaixa na chamada terceira idade. Com a expectativa de vida em aumento, temos
uma porcentagem de nossa população que, após a aposentadoria, se depara com tempo
livre para fazer cursos e procurar atividades com as quais se identificam. É possível
identificar que, para este público em especial, os cursos de língua têm servido como um
meio de lazer, de manutenção da atividade intelectual, de volta aos estudos e
principalmente, como uma forma de reinserção social e um modo de “manter o contato
com o mundo” após a aposentadoria. O q ue leva esses idosos a procurar um curso de
língua estrangeira? Qual a importância desses cursos para eles e qual o impacto em suas
vidas? Como isso muda a dinâmica das aulas de língua? São essas algumas das perguntas
sobre as quais pretendemos refletir.

Palavras-chave: Ensino de Língua Estrangeira; Língua Italiana; Terceira Idade

Introdução
O que leva alguém a fazer um curso de língua estrangeira? Trabalho, viagem,
melhorar o currículo, prazer? Atualmente falar uma língua estrangeira é muito exigido
pelo mercado de trabalho, sendo que algumas línguas são mais comerciais do que outras.
É o caso, por exemplo, do inglês e do espanhol, as duas línguas mais valorizadas pelas
vagas de emprego. A língua italiana não é uma língua comercial e muitos de seus alunos
a estudam por um fator afetivo: são descendentes de italianos. Uma pesquisa feita só
com alunos principiantes no curso de Extensão da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo revelou que dentre os alunos que
freqüentam o curso de língua italiana, 40,3% o faziam por serem descendentes de
italiano.
Se, quando nos aposentamos e nos deparamos com o tempo livre, escolhermos
freqüentar um curso, a tendência será a de escolher aqueles que deixamos de fazer
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quando mais jovens – por falta de tempo, de dinheiro etc. – e dentre as opções estão
aqueles cursos que possuem uma ligação afetiva, cursos que tenham algum tipo de
relação com nossa identidade. Mas, antes de começarmos a falar da relação da língua
estrangeira com a terceira idade, vamos falar um pouco sobre esse público em particular
e suas relações com o mundo hoje.

A população idosa hoje

O mundo passa por um “envelhecimento populacional”. As estimativas apontam


que o Brasil será, em 2025, o sexto país com a maior população idosa do mundo.
Atualmente os idosos brasileiros já representam 10% da população.
É a partir da década de 1960 que os idosos começam a ganhar visibilidade, devido
a mudanças demográficas nas quais o número de idosos aumentou de forma tão
acelerada, que ficou impossível ignorá-los. E, atualmente, eles ganham cada vez mais
visibilidade por serem vistos como um mercado de consumo emergente.
Com todo esse crescimento e a visibilidade que o público idoso começa a ter, não é
raro vermos nos anúncios publicitários que buscam atingir esse público e até mesmo na
nossa própria linguagem, o uso de eufemismos para nos referirmos a essa época da vida.
Alguns exemplos são: “melhor idade”, “maior idade” e até mesmo o termo “terceira
idade” passa a ser usado para tirar a carga negativa que o termo “velho” carrega. Mas por
que precisamos de eufemismos para falar sobre a velhice?

Eufemis mos como 'terceira idade', 'melhor idade', 'maior idade', 'idade legal'
são subterfúgios semânticos, termos aparentemente bem soantes que no fundo
servem para mascarar a rejeição da velhice. Se não, qual o sentido em
denominá-la de outra forma? Por que precisamos buscar cognomes se o
léxico dispõe de palavras consagradas pelo uso para designar certos objetos?
(NERI, 2007a, p. 41).

Ao contrário do que ocorre com o termo “velho”, não procuramos eufemismos


quando o adjetivo utilizado é “jovem”. Ao se pensar em uma característica positiva para
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definir uma pessoa idosa, geralmente se usa o adjetivo “jovem”: “Minha avó tem um
espírito jovem”. Isso acontece porque vivemos em uma sociedade que supervaloriza o
que é novo, produtivo e a curto prazo. Ao mesmo tempo em que se fala em “velhice
saudável”, o que se prega como modelo de saúde é uma juventude que a idade não pode
mais alcançar. É o corpo jovem que é considerado belo, são as características jovens que
são tidas como saudáveis. Para que possamos entender a singularidade do s idosos,
precisamos parar de contrapô-la a do jovem. Vivemos em “busca da fonte da juventude”,
e, a cada dia, mais e mais fórmulas surgem para mascarar o envelhecimento físico. Anita
Liberalesso Neri levanta a pergunta: isso seria o desejo de uma velhice saudável ou a
negação da velhice?
Nossa sociedade é movida pelo capital, onde o passado e a tradição foram deixados
de lado. Só servimos para ela enquanto pudermos ser produtivos, e o deixamos de ser
quando nos aposentamos. É a figura do velho que justamente representa o passado, a
tradição. Antes, a velhice era vista como época de sabedoria. A partir do século XX,
abandonou-se a idéia de que o saber era algo cumulativo, passando a ser visto como algo
que, com o tempo, torna-se desqualificado e ultrapassado. A imagem do velho como
detentor de cultura e tradições e disseminador delas, desaparece.
A aposentadoria é um momento de mudança drástica na vida do trabalhador, pois
nossa identidade é construída dentro dos “campos sociais” que freqüentamos,
estabelecendo papéis representativos do “eu” (GONÇALVES, PASSOS e CAMARGO,
2007), e passamos grande parte de nossa vida trabalhando, ou seja, boa parte de nossa
identidade é construída nesse trabalho. Quando deixamos de trabalhar é como se
perdêssemos parte de nossa identidade. Um dia você está lá, desempenhando as mesmas
funções, conhecido como “Fulano de Tal, professor” ou “Sicrano, bancário” e, no dia
seguinte, tem todo o tempo livre e não sabe o que fazer com ele. Pouquíssimas pessoas
contam com uma preparação para a aposentadoria, como sugerida no Estatuto do Idoso.

Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:


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II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, co m antecedência
mínima de 1 (u m) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais,
conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de
cidadania1

Essa interrupção brusca da rotina, essa “perda” de parte da identidade e o fato de se


deparar com o tempo livre sem saber o que fazer com ele, muitas vezes levam os
aposentados a entrar em depressão. Gonçalves, Passos e Camargo (2007) falam do “Mito
da tríade”: envelhecimento, aposentadoria e morte. A apose ntadoria é temida, pois é um
dos indicadores de nosso envelhecimento e do fato de estarmos mais próximos da morte.
A velhice, além da aposentadoria, carrega outros fatores que podem levar os idosos ao
sentimento de exclusão social: a morte de amigos e familiares, o afastamento da família,
a perda do vigor físico, a sensação de ser “estrangeiro em seu próprio mundo”, em
decorrência, por exemplo, dos rápidos avanços tecnológicos e do preconceito sofrido por
serem idosos.
Boa parte da visibilidade atual dos idosos se deve ao fato de eles passarem a ser
vistos como um mercado de consumo emergente. Em uma pesquisa realizada pela
Fundação Perseu Abramo, em parceria com o SESC 2 , sobre os idosos no Brasil, os dados
levantados mostram que 85% dos idosos têm controle sobre o gasto do dinheiro que
recebem, sendo que somente 7% deles dispõem da aposentadoria para gastos com o
lazer. Mesmo esse percentual podendo ser considerado baixo, constatou-se que o público
idoso em cruzeiros marítimos hoje, por exemplo, chega a representar 60% do público
total nesse tipo de turismo 3 .

1
BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do idoso. Presidência da
República Federativa do Brasil. ,Casa Civ il, Legislação. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/2003/ L10.741.ht m>. Acesso em 04/2006.
2
NERI, Anita Liberalesso (org.). (2007). Idosos no Brasil : vivências, desafios e expectativas na terceira
idade. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo; Edições SESC-SP.
3
SANTELLA NO, Maria Terezinha. (2009).
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A procura por opções de lazer: os grupos para a Terceira Idade

Cada vez mais cresce a procura por modos de ocupar o tempo após a
aposentadoria, e a educação têm sido muito procurada. Um grande exemplo disso são os
cursos voltados para a terceira idade oferecidos pelas universidades brasileiras através do
programa de Universidades Abertas para a Terceira Idade (UATIs). Na Universidade de
São Paulo (USP), o projeto começa em 1993. Em 1994, eram 847 matriculados e, em
2008, o número de matrículas chegou a 9.065, o que representa um crescimento de
1070,24% em 14 anos.
Os cursos de língua são cada vez mais procurados pelo público idoso, tanto na
graduação 4 quanto nos cursos de extensão oferecidos pela Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Precisamos ter em mente que o lazer não traz a mesma sensação que o trabalho
traz: a de sentir-se útil para a sociedade. Como nos diz Johannes Doll (2007), para que a
atividade seja significativa, ela precisa ter algum tipo de vínculo com a identidade da
pessoa. O mesmo autor comenta as “barreiras do lazer”: 1. a sociedade, quando não
oferece as possibilidades de lazer aos idosos; 2. os impedimentos físicos decorrentes de
doenças ou idade avançada, impedindo-os de realizar certas atividades e; 3. as
resistências internas, advindas, muitas vezes, do próprio imaginário do idoso. No texto
de Andréa Alves (2007), vemos que muitos idosos não participam de grupos de Terceira
Idade pelo fato de não se sentirem velhos e/ou não quererem associar sua imagem à
velhice.
Dentre os idosos que procuram os cursos para a terceira idade, as mulheres são
maioria. Um estudo realizado por Mascarelo, Miorando e Portella (2007), revelou que,
nos grupos pesquisados, somente 20% dos estudantes eram homens. Isso se deve tanto à

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A UATI da USP se diferencia de outros programas de UATIs por permit ir ao aluno da terceira idade
freqüentar algumas discip linas da própria graduação.
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feminização da velhice 5 quanto ao fato de que os homens idosos da geração atual vêem a
aposentadoria como uma perda dos atributos que definem sua masculinidade, e muitos
encaram com preconceito os grupos de terceira idade.

A terceira idade e suas relações com a aula de língua estrangeira

Não mais sendo necessário freqüentar um curso devido ao trabalho ou por


obrigação, o idoso procura não só um curso que lhe traga prazer – e que provavelmente
já pensara em freqüentar anteriormente, mas por alguma razão não pôde –, mas que
também tenha alguma ligação com a sua identidade, o que provavelmente nos fornecerá
o fator afetivo. Devemos pensar que teremos, nas salas de aula, alunos que ou carregam
resistências internas decorrentes dos estereótipos sobre a velhice que a sociedade possui,
ou sofrem com o preconceito e os estereótipos do outro, sendo que este “outro” pode ser,
muitas vezes, o próprio professor.
Conseguimos nos reconhecer através do outro, e é a fala do próximo que nos faz
notar o nosso envelhecimento 6 , do contrário, continuaríamos a adiá- lo. É, muitas vezes,
na contraposição com o jovem que nos deparamos com nossa velhice. A pesquisa da
Fundação Perseu Abramo/ SESC mostra que as pessoas tendem a ver a chegada da
velhice cada vez mais tarde, de acordo com a idade que possuem: as pessoas de 16 a 24
anos em média. indicaram sua chegada aos 66 anos, enquanto que, as de 60 anos ou
mais, indicaram a chegada da velhice aos 70 anos.
Ruth Lopes (2007), analisando os resultados da pesquisa da Fundação Perseu
Abramo/SESC, revela que a imagem da velhice ainda é ligada a adjetivos negativos por
entrevistados idosos e não-idosos. Alguns dos adjetivos citados foram: “declinante, feio,
impotente, improdutivo, ranzinza, gagá”. Comentando resultados da mesma pesquisa,
Bokany e Venturi (2007) mostram que 88% dos idosos e 90% dos não- idosos associam a

5
Para saber mais sobre o assunto: NERI, Anita Liberalesso (2007b).
6
Beauvoir (1976a) e Neri (2007).
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chegada da velhice a aspectos negativos e que, quando perguntados sobre qual o pior
ponto em ser idoso, o mais citado foi a discriminação social.
O preconceito contra o idoso em algumas sociedades é tão forte quanto a racial. E a
discriminação é uma conseqüência do preconceito. Podemos quebrar estereótipos e
preconceitos, não nascemos com eles. Eles são “passados” para nós pela sociedade em
que vivemos, pelas pessoas com as quais convivemos, mas nada nos impede de não
interiorizá- los. Carvalho e Horiguela (2007) relatam como as crianças, por exemplo, não
possuem preconceitos em relação aos idosos, enxergando-os como outras pessoas
quaisquer, sem diferenciações.
Na pesquisa da Fundação Perseu Abramo/SESC, a percepção da velhice mais
apontada pelos jovens é a incapacidade. Marcos Emanuel Pereira, no livro A psicologia
social dos estereótipos 7 , fala de pesquisas que revelaram que sujeitos estereotipados
podem acabar assumindo o estereótipo, internalizando-o, e passam a agir de acordo com
eles. As pesquisas relatadas envolviam “grupos confiantes” que, quando crentes em seu
bom desempenho, em sua performance superior em determinada área, tinham resultados
coerentes com tal; enquanto que, quando colocados na situação de “ameaça” de serem
sujeitos estereotipados, seus desempenhos declinavam notavelmente. Podemos
exemplificar, utilizando um caso relatado por Beauvoir (1976a): os idosos, quando
colocados em teste sozinhos, tinham um resultado igual ou mesmo superior ao de adultos
mais jovens enquanto que, quando a eles era dito que estariam “competindo” com
alguém mais jovem, seus desempenhos decaíam, provavelmente por assumirem o
estereótipo de que a idade traz decadência cognitiva e de que jovens têm melhor
desempenho intelectual.
Os estereótipos acabam sendo barreiras tanto para a relação dos idosos com o
mundo quanto para a relação dos idosos com eles mesmos, sua auto-estima, seu
bemestar.

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PEREIRA, Marcos Emanuel. (2002).
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Nas aulas de língua é comum ouvir idosos dizendo que “não têm mais idade para
fazer tantos exercícios”, por não se considerarem mais rápidos como os jovens. Ou
mesmo frases do tipo: “na minha idade vai ser difícil aprender uma língua estrangeira”,
colocando a idade como uma barreira no processo de aquisição/aprendizagem da língua
estrangeira. O maior dos estereótipos a ser superado é o de que envelhecer significa,
necessariamente, declinar.
Estudos mostram que podemos frear o deterioramento das funções intelectuais
causadas pelo envelhecimento se o ambiente social oferecer os incentivos adequados. E
também mostram que a memória pode ser mantida, se exercitada, e se a pessoa se
mantiver intelectualmente ativa. Quando não é possível preservar as características
iniciais, idosos que se mantêm intelectualmente ativos acabam encontrando
“mecanismos de compensação”. Paiva e Del Maso (2007) e Sé (2007) falam da
“plasticidade do cérebro”, mostrando que com exercícios pode-se manter sua estrutura e
melhorar seu aproveitamento. É importante aqui ressaltar que, como dito no texto de
Sé,o desempenho da memória e outras funções cognitivas são influenciados pela saúde
física, escolaridade, relações sociais, situação sócio-econômica, personalidade, nível de
bem-estar emocional e auto-estima. Mais um indicativo de que os estereótipos negativos
em relação à velhice, a discriminação social sofrida pelos idosos podem afetar os níveis
de auto-estima e bemestar emocional, a ponto de interferir nas suas funções cognitivas.
A Pesquisa da Fundação Perseu Abramo/SESC mostra que 44% dos idosos
gostariam de freqüentar algum curso, mas somente 2% deles o fazem. A maior barreira
para a educação para a terceira idade está no preconceito, muitas vezes partido de
crenças indevidas em relação à velhice. E essas crenças podem tanto vir dos outros
quanto dos próprios idosos.
Aluns dos estereótipos sobre idosos constatados nos estudos de Casucci (1991)
São:

− “a velhice é por si só uma doença”


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− “o idoso é uma criança”
− “o idoso perde completamente a memória, repete sempre as mesmas coisas e
é, por isso, chato”
− “o idoso sempre 'decai' mentalmente
Juntamos a estes, os estereótipos levantados informalmente nos grupos de língua
italiana:
− “os idosos são lentos”
− “os idosos gostam de traduzir tudo”
− “os idosos gostam de 'contar histórias' e fogem do tema da aula”
− “os idosos pedem sempre que se repitam assuntos já tratados”

Pensemos, então, nos grupos de língua italiana. Dissemos acima que, para que seja
algo atraente para os idosos, que freqüentam cursos não mais por obrigação, deve existir
alguma ligação com a sua identidade. A pesquisa da Fundação Perseu Abramo/SESC
mostra que a segunda maior ascendência citada pelos idosos entrevistados é a italiana. A
demanda pelos cursos comprovam isso, como dissemos no início do texto, pois 40% da
procura pelo estudo de italiano se deve à ascendência italiana. Nos alunos da terceira
idade, os 3 motivos mais citados para a procura do curso são: por serem descendentes de
italiano, por acharem a língua bonita e porque pretendem viajar para a Itália.
Como os estereótipos acima mencionado podem interferir na aula de língua?
Dissemos, há pouco, que os grupos estereotipados tendem a internalizar os
estereótipos e agir de acordo com eles. Esses grupos acabam assumindo a imagem que a
sociedade faz deles e passam a ter baixas expectativas em relação ao próprio
desempenho, por serem considerados pela sociedade, de alguma forma, inferiores. Isso
também acontece com os idosos, estereotipados como pessoas lentas, em decadência
física e cognitiva, e, algumas vezes, se conformam com essas definições e as colocam
como uma forma de “desculpa” para as falhas no processo de aquisição/aprend izagem,
mesmo que essas falhas aconteçam com todos os outros alunos de idades diferentes.
Parte, também, de alguns professores, a crença no estereótipo. Acreditando na
imagem da sociedade de que os idosos são mais lentos e mais limitados cognitivamente,
alguns professores acabam tratando alunos da terceira idade de forma diferenciada,

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levando exercícios mais fáceis e atividades mais simples, não explorando o potencial de
alunos e até mesmo retardando o processo de aquisição/aprendizagem por acharem que o
ritmo precisa ser mais lento.
Beauvoir (1976a) fala que quando não pressionados pelo tempo, em atividades
cronometradas, o desempenho dos alunos idosos é igual ou superior ao dos alunos mais
jovens. Outro fator importante é o fato de muitos professores incorporarem a idéia de
que a velhice é uma segunda infância e acabar por tratar alunos de forma infantilizada,
com atividades que não condizem com suas expectativas e interesses. Os próprios idoso
assumem essa postura, mesmo que se cobrem uma que seja “mais adequada a sua
idade”, como nos mostra Pizzolatto (2008), tendo a aula um certo ar de indisciplina, que,
como frisa Pizzolatto, é aparente. Na verdade, a maioria dos alunos estão ali para se
socializare trocarem experiências.
Uma das questões levantadas no ensino em grupos de idosos é o fato deles
gostarem de contar experiências de vida na sala de aula. Dino Preti (1991), em um
estudo sobre a linguagem dos idosos, fala de como a fala dos idosos é marcada por
rememorações. Um modo de se aproveitar isso na aula de língua seria oferecendo
situações em que os alunos possam contar suas experiências de vida e suas opiniões
sobre o mundo atual utilizando o que sabem da língua estrangeira e fazendo daquele
momento uma oportunidade de conversação na língua estrangeira. A motivação está lá:
compartilhar experiências, mas a tendência inicial dos alunos idosos é fazer isso
utilizando a língua materna. Cabe ao professor conduzir aquele momento de forma a
fazê-lo incorporar a aula de língua estrangeira.
Da mesma forma como há estereótipos negativos em relação aos idosos em aulas
de língua, não podemos deixar de falar dos aspectos positivos constatados informalmente
em conversas com professores de língua italiana. Um deles é o de que os alunos idosos
são geralmente mais empenhados do que alunos mais jovens, sendo muito raro que eles
deixem de fazer algum exercício e a freqüência deles nos cursos é de quase sempre
100%. São também muito abertos às mais diversas atividades, sem medo de se exporem.
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E até mesmo o fato de estarem ali, muitas vezes, para se socializar, leva-os a promover
uma interação intensa entre o grupo e muito proveitosa para a aula de língua.

Considerações finais

Muitos estudos têm mostrado como as grupos para a terceira idade trazem
benefícios para essa faixa etária. Ferrigno (2003) traz em seu livro relatos de alguns
idosos que dizem ter deixado até mesmo de tomar anti-depressivos depois de começar a
participar de grupos para a terceira idade. O fato de poder “manter o contato com o
mundo”, conhecer pessoas novas, fazer novas amizades, trocar experiência e ainda
manter-se ativo intelectualmente trazem benefícios à auto-estima e ao bem-estar
emocional desses idosos.
Inevitavelmente convivemos com os estereótipos que nossa sociedade tem em
elação aos idosos, mas podemos escolher se os levaremos adiante ou não. O primeiro
passo é superar os estereótipos e estar pronto a lidar com um público que tem muito
interesse e vontade em aprender e para quem aquele curso representa muito mais do que
um conhecimento novo. Representa um modo de se sentir novamente parte da sociedade,
manter-se ativo e mostrar que a velhice é uma etapa da vida como qualquer outra.

REFERÊNCIAS

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