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DICIONÁRIO GRAMSCIANO

“A morte acabou – disse a si mesmo.


Não existe mais”.

[Tolstói, A morte de Ivan Ilitch]

Tornar-se parte da cultura é um dos processos ontológicos sobre o qual teóricos e


teorias mais se detiveram no último século, destacadamente entre as correntes
críticas do pensamento social. Gramsci tornou-se cultura. Faz parte
obrigatoriamente do mundo contemporâneo que viveu tão intensamente.
Qualquer fotografia do século XX, para além do álbum marxista, assim como
todo balanço crítico da política e da cultura no século de hoje, não podem
prescindir da perspectiva gramsciana, utilizada por arcabouços teóricos os mais
distintos. O marxista da Sardenha tornou-se conhecido até entre aqueles que não
leram seus livros, tornando-se parte de nosso universo cultural, como apontou
Eric Hobsbawm num de seus últimos escritos. Assim como Marx, Gramsci
conseguiu tornar presente o materialismo histórico nas assembleias sindicais, nos
protestos de rua, mas também nas conversas fortuitas, nos balanços midiáticos,
nas discussões familiares, nas revisões eclesiásticas, nas análises futebolísticas,
nos silêncios diante do que parece não ter explicação.

A tradução do Dicionário Gramsciano para o português, dois anos após a


fundação da International Gramsci Society Brasil (IGS/Brasil), nos oitenta anos
da morte de Gramsci e num contexto tão adverso para as classes populares, para
a esquerda, para os intelectuais orgânicos aos subalternos, significa muito. Para
os gramscianos daqui representa uma nova conquista, um instrumento teórico
indispensável nos embates da filosofia da práxis, fruto de vínculos inapagáveis
com os gramscianos da terra de nosso Antonio, como Guido Liguori e Pasquale
Voza, organizadores/autores da versão italiana do Dicionário e interlocutores que
reforçam os laços entre os dois lados do Atlântico.

Uma vez que é impossível dicionarizar a cultura, empreendamos a tentativa de


radiografá-la, ainda que sempre parcialmente, a partir dos instrumentos
conceituais legados pelos grandes pensadores, pelos não indiferentes. O
dicionário de um pensamento desempenha uma função social que deve ser
ressaltada: popularizar a obra de um autor, dissolvendo mitos e situando-o na
cultura da maneira mais próxima possível do que e de quem ele realmente foi.
O próprio Liguori, em Roteiros para Gramsci, reproduz um trecho da carta de
Gramsci à cunhada Tania Schucht, em 19 de fevereiro de 1927, onde o filósofo
cita a constante confusão que a pronúncia de seu nome causava (e que ainda hoje
causa!), sendo chamado de “Granusci”, “Granísci”, “Gramasci” etc. No
documento, Gramsci relata de maneira bem-humorada um encontro que teve em
Palermo com um operário anarquista de Turim conhecido como “Único”. Ao
serem apresentados o homem pouco amistoso indagou se ele era “Gramsci,
Antonio”. Ao obter a confirmação disse: – Não pode ser, porque Antonio deve
ser um gigante e não um homem tão pequenino.

Não é sempre que a dimensão intelectual de um autor pode ser medida pelo
tamanho físico de enciclopédias produzidas a partir de suas reflexões. Contudo, a
associação se materializa nesta que a Boitempo acaba de lançar no país onde a
obra de Gramsci fecundou da maneira mais inventiva. Possui mais de seiscentos
verbetes, com 832 páginas, num formato ampliado e tendo sido minuciosamente
elaborada por notáveis pesquisadores, de países diversos, atestando a amplitude e
o vigor de suas análises.

Como no clássico livro de Tolstói, a morte pode anteceder a morte. E


acrescentamos: é possível existir após ambas, sobretudo quando se é gigante.

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