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ECOLOGIA EM FOCO
ENSAIOS EM ECOLOGIA, CIÊNCIAS AMBIENTAIS E
QUALIDADE DE VIDA AMBIENTAL DIVULGADOS NO BLOG
www.ecologiaemfoco.blogspot.com de junho/2007 a setembro/2010
OBSERVAÇÕES:
1) Alguns assuntos estão na forma bilíngue
2) Os vídeos, anexos a alguns dos assuntos, somente poderão ser vistos no site do
blog
COMEÇANDO COM OS MAIS RECENTES

10/10/2010
MOSQUITOS "ANTI-DENGUE" VÃO SER SOLTOS NA AUSTRALIA
E VIETNAME
NEWSCIENTIST, 08/outubro/2010 (No. 2781)
BI-LINGUE:
INGLÊS: MOSQUITOES infected with bacteria that stop them transmitting the dengue
virus will be released into the wild next year.
PORTUGUÊS: Mosquitos infectados com bactérias que interromperão a transmissão do
virus da dengue serão soltos no ambiente silvestre no próximo ano.
ING.: Some 100 million people in the tropics get dengue fever each year, and 40,000
are killed by it. The virus's range is expanding, and last week France reported its first
locally acquired cases.
PORT.: Uns 100 milhões de pessoas nos trópicos adquirem a febre da dengue a cada
ano, e umas 40 mil morrem pela dengue. A faixa de alcance da dengue está se
expandindo, e na semana passada a França relatou seus primeiros casos contraídos
localmente.
ING.: Scott O'Neill of the University of Queensland in Brisbane, Australia, and
colleagues have found a fruit-fly bacterium called Wolbachia that infects Aedes
mosquitoes, and makes them less able to carry the dengue virus. It also halves their
lifespan - which is crucial, as only elderly insects transmit disease.
PORT.: Scott O'Neill da Universidade de Queensland em Brisbane, Australia e seus
colegas encontraram uma bactéria da mosca-da-fruta Wolbachia que infecta os
mosquitos Aedes e os fazem menos aptos a conduzir o virus da dengue. Ela [a bactéria]
também reduz à metade seu tempo de vida [do mosquito], o que se torna crucial, uma
vez que somente os insetos mais velhos é que transmitem a doença.
ING.: Wolbachia is passed on through the eggs of infected females, so only descendants
of the released mosquitoes will carry it, O'Neill says. But dengue-free descendants
should rapidly dominate, as Wolbachia-infected females have a competitive advantage:
they can reproduce with infected or wild males, and wild females cannot.
PORT.: Wolbachia é transmitida através dos ovos de fêmeas infectadas,e assim somente
os descendentes dos mosquitos liberados a conduzirão, afirma O'Neill. Mas os
descendentes livres de dengue, dominarão rapidamente, uma vez que as fêmeas
infectadas com Wolbachia têm uma vantagem competitiva: elas podem se reproduzir
com machos infectados ou silvestres, enquanto as fêmeas silvestres não podem.
ING.: Infected mosquitoes will be released in Australia and Vietnam.

 

PORT.: Mosquitos infectados serão soltos na Australia e Vietname.


OBSERVAÇÃO DO AUTOR DESTE BLOG: a fama histórica de revezes acontecidos
na Australia com animais e plantas introduzidos para solucionar problemas e que
posteriormente essas "soluções se transformaram em novos problemas", me
assusta!Plantas de pastagem e aguapé ou baronesa, são os principais exemplos, dentre
os vegetais introduzidos na Australia para solucionar diversos problemas e que no final
geraram mais problemas. O coelho que foi introduzido para eliminar "ervas daninhas"
em pastagens (e posteriormente um virus para eliminar o coelho, que se tornou uma
"praga"), assim como o dingo, uma sub-espécie de lobo originado da Ásia, são os
principais exemplos entre os animais. Será a solução pensada para a dengue um novo
EFEITO BUMERANGUE na Austrália?
[Ver no Glossário de Ecologia e Ciências Ambientais o que significa Efeito
Bumerangue]

30/09/2010
PONTA DO CABO BRANCO - II - A FALÁCIA: O MAR COMO
ÚNICO INIMIGO DA FALÉSIA

 

[...CONTINUAÇÃO DA POSTAGEM ANTERIOR]


Nesta outra sequência de fotos veremos algumas evidências de que não somente o mar
agride a falésia. O ser humano tem participação nos impactos negativos sobre ela. E,
talvez pior, parece estar adotando a estratégia: "deixar como está para ver como ficará".
Seguem-se as fotos numeradas e legendas:
7. Esta foto mostra trecho da Ponta do Cabo Branco que está sujeito aos impactos das
ondas que contornam a extremidade proeminente. A corrente marinha predominante,
vinda do sudeste, propicia esta situação. As rochas areno-ferruginosas são escassas
nesse trecho, criando assim ponto de vulnerabilidade às ondas.
8.Nesta foto vêem-se dois trechos diferenciados: o da esquerda, não tendo rochas no
sopé e nenhum outro obstáculo, torna-se vulnerável às ondas.
9. Nesta foto vê-se claramente que ocorreu desmoronamento a partir da parte superior
da falésia. A areia acumulada atrás das rochas propiciou o aparecimento de vegetação,
formando assim, no seu conjunto, um ponto de resistência aos impactos das marés.
Chamo a atenção para o possível fato de que as ações antrópicas na parte superior da
falésia possam estar contribuindo para seu desmoronamento (próximo à beira da falésia
passa uma rodovia asfaltada, com uma canaleta para coleta de água pluvial que em
chuvas fortes não consegue conduzir toda a água que recebe; a trepidação causada pelo
trânsito de veículos na via asfaltada poderá também estar comprometendo a sustentação
da areia).
10.Maré alta, de 2,8m, que ocorreu em 28/fevereiro/2006. As ondas castigam parte da
falésia sem proteção.
11. Um trecho da falésia fotografado em 2010, quatro anos após a maré alta. O da
esquerda, com rochas no sopé e vegetação, mostra-se mais protegido das ações das
ondas do que o trecho da direita.
12. Esta foto mostra trecho sem proteção e vulnerável aos impactos das ondas.
13. A ousadia humana: construir "bem pertinho do mar".
14. A obra ousada tem sua preservação comprometida pelo plantio de árvore
inadequada, transformando-se em "obra inútil" de grande impacto negativo paisagístico
e prejudicial aos frequentadores da praia do Cabo Branco.
CONCLUSÕES:
1. TEMOS LIDADO COM A FALÉSIA DA SEGUINTE FORMA: “EXERCENDO
PRESSÕES SOBRE SUA PARTE SUPERIOR E NADA FAZENDO PARA
PERMITIR QUE NO SOPÉ A PRÓPRIA NATUREZA POSSA SE DEFENDER DAS
AÇÕES DAS MARÉS”
2. ACREDITO MAIS NA SEGUINTE ESTRATÉGIA: “DEFENDERMO-NOS DO
MAR E NUNCA ATACÁ-LO, INVADINDO SEU ESPAÇO”

 

3. SUCESSIVAS OBSERVAÇÕES AO LONGO DOS ÚLTIMOS 20 ANOS FAZEM-


ME ACREDITAR QUE SUA DETERIORAÇÃO CONTINUARÁ OCORRENDO,
PODENDO NUM BREVE FUTURO SER NECESSÁRIO ADOTAR MEDIDAS QUE
DEMANDEM TRANSFORMAÇÕES RADICAIS DA PAISAGEM

29/09/2010
PONTA DO CABO BRANCO - I - PECULIARIDADES DA FALÉSIA

Ao longo de mais de duas décadas venho fotografando a falésia da ponta do


Cabo Branco, na tentativa de entender as consequências do tratamento que nós
paraibanos temos dado a esse importante marco geográfico nacional. Não tenho

 

nenhuma pretensão de apontar a causa principal da degradação da falésia, mas tão


somente alertar para o fato de que, tanto as ações do mar "por baixo" na falésia, como as
ações antrópicas "por cima" constituem-se em fatores que vem contribuindo, talvez com
igual intensidade, para sua degradação.
Comento brevemente sobre as peculiaridades deste importante marco geográfico
nacional, em duas postagens sucessivas: a primeira "PONTA DO CABO BRANCO - I -
PECULIARIDADES DA FALÉSIA"; e a segunda postagem "PONTA DO CABO
BRANCO - II - A FALÁCIA: O MAR COMO ÚNICO INIMIGO DA FALÉSIA". A
falésia do Cabo Branco é de origem sedimentar, da Formação Barreiras, originária do
período Quaternário. Estende-se do Amapá ao Rio de Janeiro. Seus principais
componentes são arenitos de cores variadas (vermelha, amarela, branca) intercalados
por siltitos e folhelhos. São por isso friáveis, desagregando-se com certa facilidade pela
ação de chuvas e ventos. A presença de vegetação é importante para sua sustentação.
Vejamos as fotos aqui anexadas, sendo as legendas numeradas na sequência das
mesmas
1. Vê-se ao fundo o pontal dos Seixas, o verdadeiro marco do "ponto extremo
oriental das américas".
2.Na zona entremarés do Cabo Branco formam-se as poças de marés,uma grande
diversidade de habitats para animais marinhos, muitos deles ainda em fase de larvas.
3. Esponjas (alaranjadas) e ascídias (pretas)alojadas em poça de maré.
4. Proeminência do Cabo Branco, que apesar de ser o ponto mais avançado no
mar, encontra-se bem preservado, com vegetação sobre a falésia e rochas na base.
5. As rochas areno-ferruginosas vistas nesta foto, constituem-se em local de
amortecimento de impactos das ondas do mar.
6. Nesta foto vê-se a camada superficial de vegetação no topo da falésia. Embora
a camada orgânica pareça ser somente de superfície (cerca de 1m de espessura), está
assinalada nesta foto que a penetração das raízes deixa marcas na falésia em
profundidade um pouco maior.
[CONTINUA NA POSTAGEM SUBSEQUENTE]

22/09/2010
MATA ATLÂNTICA: POR QUE CONSERVAR É A "PALAVRA-
CHAVE"
Vejamos inicialmente o que é dito sobre conservação, no Glossário de Ecologia e Ciências
Ambientais:
CONSERVAÇÃO
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (“IUCN − INTERNATIONAL
UNION FOR THE CONSERVATION OF NATURE”), “conservação é o manejo dos recursos
do ambiente, com o propósito de obter-se a mais alta qualidade sustentável de vida humana”.
Nesta conceituação, em que pese a forte conotação “antropocêntrica” com o uso da expressão
“vida humana”, entende-se que o ser humano para alcançar “a mais alta qualidade sustentável
de vida”, necessite preservar todos os componentes ambientais. A vida humana depende de sua

 
interação com os componentes estruturais da Natureza, respeitando suas funções. Como a
conservação é uma interação homem-Natureza, ela implica em atitudes inteligentes na utilização
dos ecossistemas terrestres e aquáticos e também de melhoria das condições ambientais sem que
esses ambientes percam sua originalidade.
Há ainda, na nossa cultura, muita dificuldade em se entender que a Natureza evoluiu
adotando mecanismos de autoproteção e autossustentação que se interferirmos sem respeitar tais
peculiaridades, o resultado será a temida degradação ambiental.
A floresta tropical, como a nossa mata atlântica costeira, armazena grande parte de seus
nutrientes na fitomassa ou matéria vegetal viva (ao contrário das florestas de regiões
temperadas, onde os nutrientes são armazenados predominantemente nos solos ricos), sendo por
isso importante, mantê-la densa. Ela está inteiramente adaptada às fortes chuvas dos trópicos e
apesar de sua exuberância, é um ecossistema frágil, ou seja, se a sua estrutura for mudada,
mesmo que seja em pequena escala (como por exemplo, a passagem por dentro dela de uma
rede elétrica ou de uma via de acesso asfaltada), serão muitas as conseqüências dessas
perturbações (quedas de árvores ao longo da rede elétrica, erosão ao longo da via de acesso…),
além de outras, imprevisíveis. O vídeo de curta duração aqui anexado, destaca a importância da
fitomassa na conservação desse rico ecossistema (este vídeo está disponível somente no
www.ecologiaemfoco.blogspot.com.

12/09/2010
NATUREZA EM AÇÃO: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA MATA
ATLÂNTICA
Os ecossistemas do bioma mata atlântica ocupam as encostas voltadas para o mar,
estendendo-se do litoral do Rio Grande do Norte ao do Rio Grande do Sul, beneficiando-se das
influências climáticas do oceano Atlântico, daí seu nome. Segundo vários autores, esses
ecossistemas são tão ricos em espécies vegetais quanto os da Amazônia, embora suas árvores
sejam um pouco mais baixas (20 ou 30 m).

Segundo informações da Fundação SOS Mata Atlântica, em 1 ha dessa mata no estado do


Espírito Santo(Estação Biológica de Sta. Lúcia), foram encontradas 476 espécies arbóreas,
pertencentes a 178 gêneros e 66 famílias; sendo este o recorde de biodiversidade de árvores de
florestas do mundo. Estima-se que, em relação ao que já existiu de Mata Atlântica na época do
descobrimento do Brasil, menos de 5% estão hoje representados ao longo da costa brasileira.
Em termos fitofisionômicos (fitofisionomia: aparência de certo tipo de vegetação,
independentemente de sua composição taxonômica, ou seja, refere-se à estruturação do
ecossistema, em termos de seus estratos vegetativos: estratos arbóreo, sub-arbóreo, arbustivo,
sub-arbustivo, herbáceo), observa-se que a Mata Atlântica tem uma "aparência caótica" típica
das florestas tropicais: grandes diversidade e adensamento dos vegetais. Com isso há uma
intensa competição pelo fator ecológico luz. Outra característica importante é que a riqueza
nutricional desse ecossistema concentra-se na camada superior do solo,fazendo com que as
plantas mantenham seu sistema radicular próximo à superfície. De maneira bastante resumida,
essas peculiaridades são mostradas no vídeo (consultar o www.ecologiaemfoco.blogspot.com).

 

07/09/2010

SANEAMENTO: ESGOTO SUBTERRÂNEO E LAGOA


FEDORENTA... GERAM VOTOS???

Nestes tempos de PAC (observem a coincidência: estas são as três primeiras


letras da palavra PACIÊNCIA), aqui estão alguns dados pouco animadores sobre esse
assunto, divulgados em O Estado de São Paulo ( "O Fracasso do Saneamento", O
Estadão, 21 de agosto de 2010. Este ensaio foi a mim enviado pelo Eng.Sanitarista,
MSc. Sérgio Rolim Mendonça (ex-consultor da OPS-Organização Panamericana de
Saúde e Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba).
Rede de esgotos, fundamental para a saúde e para o desenvolvimento
econômico, ainda é um luxo em quase metade das cidades brasileiras. Em menos de
meio século, a migração do campo para a cidade mudou radicalmente a distribuição
espacial da população. Pelo menos 85% dos brasileiros vivem hoje em cidades. Mais do
que nunca precisam de serviços públicos de saneamento. Em 2008, no entanto, só
55,2% dos municípios dispunham de coleta por meio de rede sanitária. A informação é
da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico divulgada na sexta-feira pelo IBGE. A
melhora foi mínima desde a virada do milênio. Em 2000, a proporção era de 52,2%. O
aumento foi de apenas 3 pontos porcentuais, embora o País tenha atravessado uma fase
de prosperidade. Nesse período, a receita de impostos e contribuições cresceu
rapidamente em todos os níveis de governo.
A média nacional de 55,2%, no entanto, ainda esconde situações dramáticas na
maior parte dos Estados e regiões. No Sudeste, em 2008, havia redes coletoras de
esgotos em 95,1% dos municípios. Em nenhuma outra região a proporção chegava a
50%. A melhor condição era a do Nordeste, com o serviço em 45,7% dos municípios.
O saneamento continuou precário mesmo nas áreas com redes coletoras. Nessas,
33,5% dos domicílios tinham acesso ao serviço em 2000. Oito anos depois eram 44%.
(Mais de metade, só no Sudeste, com a proporção de 69,8%.) Só três unidades da
Federação tinham números superiores a 50%: Distrito Federal (86,3%), São Paulo
(82,1%) e Minas Gerais (68,9%).
Vários fatores contribuíram para a persistência de condições tão ruins. A Lei do
Saneamento Básico só foi aprovada e sancionada em 2007, depois de quase dez anos de
discussões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só assinou o decreto de
regulamentação dessa lei há cerca de dois meses, no dia 21 de junho. Alguns Estados e
municípios dispõem há muito tempo de serviços bem estruturados e com boa base
técnica. Esses foram menos prejudicados pela demora na tramitação do projeto de lei.
Houve dificuldades, em muitas partes do Brasil, para a conclusão de contratos
entre o setor público e possíveis prestadoras de serviços de saneamento. Além disso,
muitos governos municipais foram incapazes, por falta de qualificação técnica, de
preparar os projetos necessários para o recebimento de recursos federais. Havia
dinheiro, mas faltavam condições técnicas e administrativas para a sua aplicação em
programas de saneamento.

 

Esse detalhe foi aparentemente menosprezado quando se elaborou o Programa


de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007. A participação dos governos estaduais e
municipais seria essencial para a realização de investimentos importantes, mas não
estavam preparados. O problema só foi percebido muito depois. Resultado: apenas 12%
das obras de saneamento previstas no PAC foram concluídas até abril deste ano,
segundo levantamento publicado na quinta-feira pela organização Contas Abertas,
especializada no acompanhamento das finanças e da gestão públicas. Os dados constam
de 27 relatórios estaduais do Comitê Gestor do PAC divulgados em junho.
Das 8.509 ações programadas para o período 2007-2010, só 1.058 foram
terminadas até abril. Estavam sendo executadas 2.627. As demais 4.824 continuavam
em licitação, contratação ou ação preparatória (no papel, portanto).
A Fundação Getúlio Vargas tem realizado pesquisas sobre os problemas de
saneamento e suas implicações econômicas e sociais. Segundo estudos citados num
desses trabalhos, cada R$ 1 aplicado em saneamento resulta em economias na faixa de
R$ 1,50 a R$ 4 em gastos com saúde. Além disso, há uma significativa redução nas
faltas à escola e ao trabalho e, portanto, menor desperdício de recursos e de
oportunidades. Um trabalhador com acesso à rede de esgotos tem produtividade cerca
de 13% maior que a de pessoas sem esse benefício. Tem maior possibilidade, portanto,
de ganhar mais e de elevar as condições de vida e as perspectivas de progresso da
família. Nesse caso, como no da educação, os efeitos tendem a multiplicar-se e os
benefícios vão muito além do indivíduo.
Em termos políticos fica a velha observação, brasileiríssima: “Alguém já viu
algum político ganhar voto por que inaugurou esgoto”?

06/09/2010
QUEIMADAS: HOJE E SEMPRE (?). VEJAM O MAPA DO FOGO
NOSSO DE CADA DIA

Visitem o site http://meioambiente.cptec.inpe.br/ do INPE-Instituto de Pesquisas


Espaciais e vejam o mapa diário num dos links ali disponíveis, o da Detecção de
Queimadas. Visitei-o hoje, 06/09/2010 e colhi a imagem aqui anexada.
Notícia divulgada no site www.ambientebrasil.com.br mostra mais um exemplo
do descaso e da impunidade no trato com nossos ambientes naturais. É impressionante a
ignorância relacionada a manejo de pastagens.Queimar pastagem nas regiões centro-
oeste e sudeste neste período de baixíssima umidade atmosférica é mais do que "falta de
bom senso". É uma irresponsabilidade sem limite!!! Veja a notícia divulgada por
"ambientebrasil": "Novos incêndios atingiram áreas florestais no Rio de Janeiro. No
Parque Estadual dos Três Picos, administrados pelo Instituto Estadual de Florestas,

 

Inea, cerca de 80 hectares de pastagens, florestas e campos rupestres foram atingidos. A


administração do parque acredita que o fogo teve início a partir de queimadas de
limpeza de pasto realizadas por proprietários rurais do entorno do parque. O fogo
alastrou-se ...para o parque devido às condições climáticas, com tempo seco e baixa
umidade.
Será apurada a responsabilidade dos suspeitos, que podem ser multados e responder a
processo por crime ambiental".

02/09/2010
O FOGO NO NOSSO PATRIMÔNIO NATURAL E A VALORAÇÃO
AMBIENTAL
SERVIÇOS DE SERVIÇOS SERVIÇOS
SUPRIMENTO REGULADORES CULTURAIS
Produtos obtidos dos Benefícios obtidos da Benefícios não-materiais
ecossistemas regulação dos processos dos obtidos dos ecossistemas
[Recursos ecossistemas [Potencial “adicional” da
disponibilizados pela [Condições Natureza, a ser explorado
Natureza] circunstanciais] pelo ser humano]
Alimento (1) Regulação climática (1) Espiritual/Religioso (1)
Água (1) Regulação de Recreação e Ecoturismo
doenças/pragas (1) (1)
Madeira/lenha (2) Regulação de água (1) Estético (1)
Fibra (2) Purificação de água (1) De inspiração (1)
Compostos Polinização (1) Educacional (1)
químicos/bioquímicos (1)
Recursos genéticos ... Senso de localização (1)
(biodiversidade) (1)
... Herança cultural (1)
SERVIÇOS DE SUPORTE
Necessários ao funcionamento dos demais serviços
Formação do solo ― Ciclagem dos nutrientes ― Produtividade primária

Com as notícias diárias vistas em diversos “sites” na “internet” (nalguns dos


“links” constantes neste “blog”) (Pôxa! Quanto anglicismo!!!), fui rever alguns dados
disponíveis sobre a questão da valoração ambiental. Vejamos inicialmente o que é dito
no Glossário de Ecologia e Ciências Ambientais, do autor deste “ecologiaemfoco”,
sobre:
VALORAÇÃO AMBIENTAL Trata-se, em economia ambiental, da atribuição de um
valor econômico a um recurso ambiental. Parte-se do princípio de que todo recurso
natural tem um valor intrínseco que lhe é atribuído pelo ser humano, na expectativa de
que tal recurso contribua para o bem estar social. Na verdade, segundo afirma ORTIZ
(2003), esse “valor” atribuído a um recurso natural qualquer reflete as “preferências das
pessoas”. Assim sendo, são também incluídos nessa valoração os valores morais e
éticos. Entre os diversos valores econômicos de recursos ambientais, citam-se como
exemplos: valor de uso direto: aquele que deriva da utilização ou consumo direto do
recurso (ex.: recursos hídricos); valor de uso indireto: aquele advindo das funções
ecológicas do recurso ambiental ou derivado de uso ex-situ ao ambiente do recurso em
consideração (ex.: qualidade da água, ar puro, conservação do solo, preservação de água
10 
 

subterrânea...); valor de opção: refere-se à quantia que as pessoas numa sociedade


estariam dispostas a pagar para manter o recurso ambiental para uso futuro (ex.:
manutenção de água em aquífero); valor de existência ou de não uso: implica em manter
certo recurso sem usá-lo, guardando-o para o futuro (ex.: reserva florestal). Os valores
de uso indireto, acima mencionados, configuram-se em:
SERVIÇOS AMBIENTAIS Atividades ou funções executadas pela Natureza e que têm
sido vistas recentemente, como de benefícios imprescindíveis à vida e que podem ser
submetidas a avaliações econômicas. Como sejam: o ar que todos respiram, a regulação
hídrica (o ciclo da água), o ciclo de nutrientes, produção de alimentos, recursos
genéticos (e recursos naturais em geral), regulação da temperatura atmosférica e das
águas, absorção e degradação natural de poluentes gerados pela humanidade etc. Este é
um dos importantes aspectos tratados em economia ambiental ou da Natureza. A
valoração ou estimativa econômica desses “serviços” pode ser vista em ODUM (1996),
que denominou esta área de estudo como contabilidade ambiental
No Quadro acima são destacadas as quatro categorias de serviços ambientais que
influenciam na manutenção dos ecossistemas e na economia de uma região (poderia ser
uma Unidade de Conservação)(reproduzido de documento da FAO, 2007).
Em estudo feito sobre a “Valoração Ambiental como Ferramenta de Gestão em Unidade
de Conservação”, os pesquisadores Ana Lucia CANPHORA e Peter Herman MAY
(MEGADIVERSIDADE | Volume 2 | Nº 1-2 | Dezembro 2006) divulgaram os seguintes
resultados de estudo realizado por MILKHAILOVA & BARBOSA (citados por eles),
com turistas, no Parque Estadual Rio Doce (36.000 ha; o maior remanescente de Mata
Atlântica de Minas Gerais): DAP-Disposição a Pagar,:pelos turistas, por SERVIÇOS
REGULADORES [a coluna do meio, no Quadro 1] = U$261 mil/ano e por SERVIÇOS
RECREATIVOS - TURISMO E LAZER [a coluna da direita, no Quadro 1] = U$938
mil/ano. Portanto, a percepção do ser humano pela importância que exerce os
ecossistemas na qualidade de vida ambiental (incluindo a própria sociedade humana, é
claro!), é ÍNFIMA.
Os dados divulgados pelo INPE (ver “link” neste “blog”) de que em agosto/2010 foram
registrados 26.968 focos de incêndio, um aumento de 260% em relação a agosto/2009,
não parece que causarão muita comoção entre nosso povo!!!
Dados recentes, divulgados sobre as queimadas: 1) O Ibama aplicou em um só dia R$
14,5 milhões em multas no município de Extrema (a 340 km de Porto Velho) por causa
de queimadas [multas aplicadas pelo Ibama, em área de pastagem R$1.000,00 por ha e
em área de conservação R$5.000,00]. 2) As queimadas autorizadas, não podem ser
feitas quando a umidade estiver abaixo de 20% [estima-se que o ar seco se prolongará
até no mínimo setembro/2010]. 3) Uma estimativa do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mostra que os incêndios já consumiram cerca
de 500 mil ha (= 5.000 km2) de vegetação de reservas e que no Parque Nacional das
Emas (sudoeste de Goiás) o fogo destruiu 80% dos seus 136 mil ha.
Finalizando, estima-se que seria necessário INVESTIR APENAS U$4 bilhões por ano
na conservação de ampla rede mundial de áreas protegidas. Eu destaquei o APENAS,
por que: 1) Orçamento do Depto. de Defesa dos Estados Unidos em 2010: U$636
bilhões. 2) Custo da corrupção no Brasil: U$23 bilhões anuais (= R$41,5 bilhões de
nossos reais. 3) Custo do nosso Congresso Nacional (Senado e Câmara Federal): R$6,1
bilhões (exatamente a mesma quantia destinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia).
E vamos nós “repetir a dose” neste “novo” governo que se aproxima!!!
11 
 

07/08/2010
... E AINDA SOBRE AS MUDANÇAS NO CÓDIGO FLORESTAL
O subtítulo deste ensaio poderia ser: “Vejam o que estamos planejando fazer no
ANO INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE”.
Em continuidade a uma das postagens anteriores deste “ecologiaemfoco” (em
10/07/2010), vejamos mais alguns aspectos, resumidamente, que merecem atenção para
julgarmos melhor as mudanças propostas para o código florestal brasileiro.
Entrevista. Tenho acompanhado as discussões sobre este assunto e aqui faço
alguns comentários sobre vídeo que assisti no Globo News, em que o repórter Tonico
Ferreira coordena um debate com o Deputado Aldo Rebelo (relator no Congresso, das
mudanças no Código Florestal e defensor das alterações), o biólogo João Paulo Ribeiro
Capobianco (ex-Secretário no Ministério do Meio Ambiente; e opositor das mudanças)
e André Nassar, um representante do agronegócio, uma Instituição denominada Ícone
(obviamente, defensor das mudanças).
O deputado Aldo Rebelo não faz restrições ao que deve ser mudado, chegando a
(no meu ponto de vista) exagerar, ao dizer que “o novo código é muito rigoroso... e
reduzirá o desmatamento” ... Ele acredita que a moratória de 5 anos proibindo abertura
de novas áreas, sendo as reservas legais intocáveis, ajudará a recuperação de mais de
90% das propriedades que estão hoje na ilegalidade.
Observações sobre as devastações. Chamo a atenção dos leitores para a
inversão das prioridades: a prioridade número 1 é alterar o código para ampliar a
devastação daqui a 5 anos (fato que, após essa curta moratória de “zero desmatamento”,
seguramente vai ocorrer) e que a recuperação do que já foi devastado, naturalmente
levará mais tempo, pois um ambiente leva décadas para se regenerar (mas para destruí-
lo bastam, além de mudança no código florestal, algumas poucas horas, com uma “boa
motosserra ou um bom incêndio”).
Quanto às reservas legais, entenda (se puder!): o bioma mais devastado no nosso
país, a Mata Atlântica (mas que se localiza “praticamente dentro dos maiores centros
consumidores, na faixa litorânea”), é justamente o que tem menor percentual que deve
ser preservado: 20%. O outro importante bioma e que também é muito próximo dos
centros consumidores, o Cerrado, tem percentual de preservação de 35% (o Cerrado
amazônico, especialmente). E o bioma de maior dimensão, mas que fica distante dos
maiores centros consumidores, o da Amazônia, tem o maior percentual de preservação:
80%.
O papel dos Estados e Municípios. Voltando aos entrevistados. O deputado
afirma que haverá melhora na preservação quando houver engajamento dos Estados e
municípios, conforme previsto na mudança do Código Florestal. Chega ele até a dizer
que: “se fomos incapazes de proteger as (nossas) florestas apesar da legislação, isso não
significa que seremos incapazes depois, porque o engajamento dos Estados”... Destaca
ele então o estabelecimento de programas de extensão e orientação para os agricultores
e suas famílias, o engajamento das escolas etc... TUDO será melhorado nesses próximos
5 anos. E acrescento eu: HAJA FÉ!!!
Observações. Pessoalmente, eu duvido que alguns Estados estejam ávidos pela
mudança, como o de Santa Catarina, com o propósito de melhorar o processo de
preservação!!! De acordo com o deputado Aldo Rebelo, os mais de 5 mil municípios
que se engajarão, representarão uma melhora no processo de preservação. E eu lembro
aos leitores que se o tão falado Plano Diretor dos municípios, de vital importância ao
desenvolvimento sustentável, somente foi implantado efetivamente em alguns deles,
fico a imaginar quando os municípios implantarão seus zoneamentos agroecológicos e
planos de bacias hidrográficas?! Se é que farão?! O próprio representante do
12 
 

agronegócio no debate, o agrônomo André Nassar, disse: “está correto transferir a


responsabilidade da preservação para os Estados... mas se eles estão aparelhados para
tal... isso é outra coisa”!!!
Alguns fatos relacionados à redução de mata ciliar. A polêmica maior no
referido debate girou em torno das limitações de preservação da mata ciliar, onde se
enfatiza que a lei atual inviabiliza a expansão de cultivos nas pequenas propriedades,
caso permaneçam as limitações atuais. A redução de 30 m para 15 m das APPs nas
margens dos riachos (com até 5 m de largura), que compõem 90% da malha
hidrográfica nacional, é um dos pontos críticos dessa reforma do código.
Chamo a atenção para o fato de que mesmo com as supostas grandes áreas de
mata ciliar hoje sob proteção, os desastres ecológicos tem se sucedido de maneira
catastrófica, como nos mostraram as recentes enchentes ocorridas em Alagoas e
Pernambuco. Tais catástrofes são resultantes de assoreamento em rios, decorrentes
principalmente de desmatamento em suas margens. A realidade é que o agronegócio
não é o prejudicado maior em tais situações. As plantações são destruídas e depois que
as águas baixam, os solos de várzeas se enriquecem e novos plantios se sucedem.
Porém, as populações ribeirinhas, instaladas de maneira inconsequente nas margens
desses rios assoreados e sob a complacência das autoridades, sofrem com perdas de vida
e amplos danos materiais. Não seria sarcasmo nem sadismo dizer: “se as populações
humanas não se estabelecessem nas margens de rios, as grandes enchentes até que seria
um bom negócio para o agronegócio”!!! Só não se sabe por quanto tempo assim seria!
Benefícios da preservação para os “serviços ambientais”. Ainda na referida
entrevista o Dr. Capobianco falou muito rapidamente sobre os benefícios ambientais
gerados pela existência de mata natural, como por exemplo a preservação da
biodiversidade (com indiferença total dos demais participantes do debate, inclusive o
entrevistador/mediador). Vejamos alguns poucos exemplos: 1. "Em São Paulo, 45 das
66 espécies de peixes de água doce ameaçadas de extinção estão justamente nos
riachos", segundo a bióloga Lilian Casatti, da Unesp. 2. Répteis e anfíbios, que vivem
em regiões alagadas, também sofrerão impactos, com menos vegetação às margens dos
pequenos rios ("Onde há menos proteção de APPs pelo novo código é onde há mais
biodiversidade", destaca o biólogo Luis Felipe Toledo, da Unicamp, em entrevista à
Folha de São Paulo). 3. No caso dos répteis, o novo código atua negativamente sobre
outro habitat natural: as montanhas. Isso porque áreas acima de 1.800 m deixam de ser
consideradas APPs e recebem permissão legal para serem desmatadas.
Em todas essas matas naturais existem espécies que se constituem nos tão
aclamados “inimigos naturais de pragas que atacam os cultivos” (nunca é demais
relembrar: “não existem pragas, mas sim desequilíbrio ecológico”). O desmatamento
elimina tais predadores naturais de pragas, aumentando a demanda por agrotóxicos.
Ainda teria muito a comentar sobre as modificações que se propõem no que diz
respeito aos topos de morros e encostas. Quanto a tudo que foi dito até agora, concluo: é
INACREDITÁVEL que no nosso país, com dimensões continentais (todos assim o
dizem) tenhamos que INVADIR áreas restritas de tamponamento (proteção de riachos,
córregos...) para ampliar o agronegócio!!! É também inacreditável que se tomem as
pequenas propriedades e agricultura familiar como justificativas para devastar as matas
ciliares. Justamente esses pequenos agricultores são “varridos do mapa pelas enxurradas
e enchentes desastrosas”.
Apenas para ilustrar a importância da dimensão de um fragmento florestal na
preservação da biodiversidade, convido os leitores para um desafio: observem o gráfico
acima e respondam a seguinte pergunta: “em qual fragmento a extinção de espécies
ocorre mais rápido: no fragmento grande ou no pequeno”???
13 
 

03/08/2010
... E A DEVASTAÇÃO CONTINUA... SOB A ÉGIDE DO SISTEMA
Será puramente devido à falha da lei? A impunidade tornou-se "rotina" na vida
brasileira. No ano internacional da biodiversidade (2010) continuamos mostrando ao
mundo que por aqui a "coisa é diferente". Insiste-se nos crimes contra os ambientes e
seus "moradores naturais" e mais cedo ou mais tarde, os mesmos crimes e muitas vezes
os mesmos infratores voltam a depredar.
[Obs.: os dois vídeos transcritos do programa de TV, Globo Rural,
documentando episódios de depredação ambiental num dos mais preciosos biomas do
mundo, o Pantanal, somente podem ser vistos no próprio blog
www.ecologiaemfoco.blogspost.com]

14/07/2010
ECOTURISMO OU “ECONEGÓCIO” SUSTENTÁVEL:
MAMIRAUÁ COMO PRIMEIRO EXEMPLO
As transformações no sentido de abrir mentes para alternativas além do tão
propalado agronegócio são muito lentas aqui no Brasil. É uma lástima, porque
principalmente, os ecossistemas com características naturais e extensão suficientes para
se praticar ambas as atividades (o agronegócio e o econegócio, ou ecoturismo) se
reduzem a cada dia. Na postagem anterior neste “ecologiaemfoco” vimos uma fazenda
em Mato Grosso onde o ecoturismo responde por 30% da sua renda. É um modelo
simples, de conservação dos recursos naturais (preservação e explotação,
simultaneamente) e que poderia ser adotado por muitos outros empreendimentos rurais.
O primeiro exemplo no Brasil introduzindo atividades de explotação em perfeita
harmonia com o ecoturismo, constituindo-se assim num modelo de desenvolvimento
sustentável, é o da Reserva do Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, na Amazônia
central, entre os rios Solimões e Japurá. É a maior reserva florestal de várzea da
Amazônia brasileira, constituída de ecossistemas terrestres e aquáticos espalhados por
cerca de 1,124 milhões de hectares (= 11.240 mil km2). As populações humanas locais
participam da conservação e preservação da reserva, envolvendo-se nas atividades de
pesquisa, extensão e manejo; assim como na sua vigilância. O desejo da sociedade
(Instituições de governo e não-governamentais) de realizar algo nesse sentido foi o
ponto-chave de sua concretização. Foi reconhecida como Reserva de Desenvolvimento
Sustentável, pelo governo do estado do Amazonas, em 1996. A garantia de preservação
de cerca de 300 espécies de peixes, outro tanto de espécies de aves e mais de 40
espécies de mamíferos dá-nos uma idéia de seu importante papel de manutenção da
biodiversidade amazônica.
Mas no Brasil há, além do bioma da Amazônia, outros biomas que necessitam de
projeto semelhante, tais como os biomas de Mata Atlântica, do Cerrado, da Caatinga,do
Pantanal, dos Campos Sulinos e o bioma Costeiro. O agro e o econegócio podem ser
inseridos juntos nesses sistemas naturais.

11/07/2010
AGRONEGÓCIOS EXCLUSIVAMENTE!? POR QUE NÃO
TAMBÉM "ECONEGÓCIOS"???
Houve tempo em que caçar era meio de sobrevivência e posteriormente meio de
vida comum a muitos povos. Depois surgiram os tempos modernos, em que a caça
transformou-se em esporte ou seja, diversão (por incrível que pareça!). Países do antigo
terceiro mundo, hoje países em desenvolvimento, atraíram milhares de turistas que se
14 
 

divertiam com matanças da fauna local, como acontecia nos países africanos. Lembro-
me de um fato pitoresco (para não dizer grotesco!) envolvendo um empresário
brasileiro. Existe uma marca de produtos de tomate, fabricados em São Paulo, cujo
símbolo era (ou ainda é?) a figura de um elefante. Explica-se: o empresário era
“fanático por elefantes”, ou melhor dizendo, costumava fazer safáris na África para
matá-los e colecionar troféus em sua casa!!!
O chamado “turismo de vida selvagem”, hoje mais conhecido como ecoturismo,
passou a ser uma saída inteligente para muitos países, principalmente os africanos.
Destaco um dos melhores exemplos, que nos é dado pelo Quênia, país do leste africano.
A caça ao leão gerava U$1 mil dólares pela pele de cada animal morto. A mudança para
o ecoturismo passou a render cerca de U$500 mil dólares por cada ano de vida do leão,
cuja longevidade alcança os sete anos. E, ainda no Quênia, no caso do elefante, cada
animal gera no ecoturismo uma renda anual de U$20 mil dólares. Acrescente-se a essa
renda os cerca de 20 mil elefantes lá existentes. No final, estima-se que o ecoturismo
com o elefante propicie uma renda, ao longo dos 60 anos de vida desse animal, de cerca
de U$1 milhão de dólares.
E agora a situação brasileira. Muito se fala atualmente em agronegócios.
Deposita-se nessa atividade econômica a esperança de fonte de renda chave do país,
com uma conotação preocupante: na maioria das regiões os governos locais querem
priorizar esse tipo de atividade. Mesmo em locais com baixo potencial para
agropecuária, solos de terra-firme na Amazônia é o exemplo maior, o agronegócio é
prioritário. Ao ecoturismo é reservado um papel secundário (quando muito!). Situação
similar ocorre com relação ao pantanal. Não é difícil antever problemas ambientais se o
agronegócio se generalizar no pantanal. E o econegócio lá existe, conforme pode ser
visto no vídeo aqui anexado (obtido de Globo Rural). Este exemplo penso ser suficiente
por si só, para demonstrar o potencial rentável do ecoturismo no pantanal.

10/07/2010
MODIFICAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL: UMA
CONTRIBUIÇÃO DOS NOSSOS LEGISLADORES AO
DESENVOLVIMENTO “INSUSTENTÁVEL”
Componentes da bancada ruralista no Congresso Nacional ao se digladiarem
com ambientalistas na sessão para discutir as modificações no Código Florestal,
despertaram-me a responsabilidade, como professor de ecologia, de tecer alguns
comentários sobre o que me parece ser o único objetivo do agronegócio: produzir o
máximo possível a qualquer custo. Daí vem os ambientalistas e se opõem fortemente
com o seu lema: preservar a qualquer custo. E quando “ambientalistas exacerbados e
ruralistas cabeças-de-cofre se peitam”, resta aos adeptos da ciência e do bom senso
apenas assistir impotentes à mutilação desse importante instrumento de proteção ao
nosso patrimônio natural, que é o Código Florestal.
Vivemos num país onde as leis ambientais, em muitas situações, não se
fundamentam em princípios ecológicos e econômico-sociais; e a política ambiental
chega a ignorar ambas estas etapas sobre as quais deveria se fundamentar. Donde
pergunto, mesmo correndo o risco de ser taxado de satírico: pra que se “gastar” tanto
dinheiro com a formação de cientistas? Pra que tanto “desperdício” com ciência?
Ignorância é bem mais barato!!!
É impressionante observar como nossos legisladores, achando-se defensores do
progresso econômico do país e ignorando totalmente as informações geradas pelo
conhecimento científico, modificam leis que tinham sido introduzidas com priorização
15 
 

para a conservação de importantes recursos da Natureza, baseadas no conhecimento


científico. Exemplos práticos: 1) a obrigatoriedade de proteção nas margens de rios
(mata ciliar), que ora se propõe reduzir; 2) várzeas e altos e encostas de morros estão se
transformando em áreas onde não é necessário preservar a vegetação nativa. Em todas
essas situações as supostas novas leis contrariam o que o conhecimento científico tem
mostrado a esse respeito.
A chamada “classe produtora” prioriza o agronegócio negligenciando a ordem
natural de qualquer ação no processo produtivo: o desenvolvimento ecológico antecede
o desenvolvimento econômico, que por sua vez antecede o desenvolvimento social.
Portanto, somente é possível garantir produção ao longo do tempo mantendo-se o
potencial natural dos ecossistemas.
As tragédias que temos vivenciado no caso recente dos deslizamentos nos
morros em Santa Catarina e Rio de Janeiro e no caso das enchentes dos rios e grandes
destruições de cidades que estamos hoje vivenciando nos estados de Alagoas e
Pernambuco, não servem de alerta para aqueles que acham simples expandir as áreas
produtivas, invadindo-se margens de rios e acelerando-se a erosão nos altos e encostas
de morros. Tais atitudes condicionam deslizamentos e assoreamento dos rios. E
depois... lamentam-se as enchentes, culpando-se a Natureza pelos excessos de chuva. Já
são fatos por demais conhecidos que altos e encostas de morros, assim como margens
de rios, são ambientes que devem ter PERMANENTEMENTE densa vegetação nativa.
É FUNDAMENTAL que a mata ciliar seja densa e com largura suficiente devido ao
efeito de borda (susceptibilidade das bordas de sofrerem ação externa de degradação).
São locais tidos como de acentuada fragilidade, com baixa resistência a modificações e
com baixa resiliência, ou seja, baixa capacidade de retornarem à condição natural após
serem alterados. Para reduzir a largura da área a ser preservada, com segurança, seria
necessário estudar-se cada caso; aspecto este geralmente não admitido em leis.
E o povo, de baixo poder aquisitivo, principalmente aquele instalado às margens
de rios, nas encostas e sopés de morros, cada dia mais acostumado a viver de “caridade
de governo”, acredita que tal expansão de áreas para cultivo e/ou ocupação urbana, lhes
trarão vantagens financeiras que, se ocorrerem, são efêmeras e que JAMAIS farão parte
de processo de desenvolvimento sustentável. Mas os legisladores defensores de “lobby”
ruralista e não de real desenvolvimento sustentável, continuam utilizando esse jargão
que facilmente engana a maioria, que não tem culpa de desconhecer a gravidade das
modificações ora propostas no código florestal.
Expansão e intensificação de uso de solo são termos que geram conseqüências
muito distintas quando se trata de atividade agropecuária e crescimento urbano. A
expansão agropecuária e o crescimento urbano horizontal implicam em custo muito alto
em termos de conservação e preservação ambiental. A intensificação de atividade
agropecuária se realizada com bases científicas e aplicação de tecnologia apropriada,
assim como o crescimento vertical urbano, se implantado com base em conhecimento
provido por bons profissionais, poderão caracterizar um desenvolvimento sustentável
real.

22 de junho de 2010
MINISTÉRIOS: OS QUATRO GIGANTES DO CRESCIMENTO
ECONÔMICO VERSUS OS QUATRO ANÕES DO
DESENVOVOLVIMENTO HUMANO
Já é do conhecimento de muitos brasileiros cientes e conscientes de nossos
entraves sócio-econômicos, que sucessivos governos sempre priorizam os quatro
16 
 

seguintes grandes e poderosos Ministérios: Fazenda, Planejamento, Energia e


Transporte. Observação similar foi destacada por C. Cavalcanti na notável publicação
sob sua coordenação “Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas
Públicas. (2004) 4ª. Ed., São Paulo e Recife, Edit. Cortez e Fundação Joaquim Nabuco,
436p.” Estes Ministérios, “consumidores de gordas fatias do bolo” financeiro nacional
conduzem os destinos dos recursos disponíveis e consequentemente, ditam as regras do
presente e traçam os destinos do nosso país. Ninguém, em sã consciência, seria capaz de
negar a importância desses Ministérios, imprescindíveis ao desenvolvimento, melhor
dizendo, ao crescimento, para ser coerente com as intenções das ações exercidas por
esses gigantes. Nesta linha de intenções em se alcançar o objetivo maior, crescimento
sempre mais crescimento!... seus adeptos poderiam dizer que “os quatro gigantes são
necessários porque carregam os quatro anões”. Pura falácia!!!
Os quatro Ministérios nanicos em seus papéis nas decisões políticas, quais sejam
Educação, Meio Ambiente, Agropecuária e Saúde, mas que alicerçam o
desenvolvimento sócio-econômico do nosso país, se não ocuparem seus espaços nas
decisões nacionais, minarão os recursos orçamentários, por mais vultosos que sejam,
rendendo pouquíssimo em termos de desenvolvimento humano. A lógica ligando estes
Ministérios ao desenvolvimento é simples: “povo detentor de conhecimento técnico-
científico e com sólida formação educacional vai saber explorar os recursos naturais do
país de maneira duradoura, utilizando-os, manejando-os e manufaturando e usando seus
produtos sabiamente, alcançando boa qualidade de vida, como um todo”. Resultado
maior, bem provável: alto índice de desenvolvimento humano. Assim bem o disse C.
Cavalcanti na obra acima citada: “... a ciência econômica convencional não considera a
base ecológica do sistema econômico dentro de seu arcabouço analítico, levando assim
à crença no crescimento ilimitado. A ideia de sustentabilidade, por sua vez, implica
uma limitação definida nas possibilidades de crescimento. É sobre esse fundamento que
é indispensável agregar preocupações ecológicas (ou ecossociais) às políticas públicas
no Brasil”.
Observando-se o orçamento da União de 2010 (DOU de 27/janeiro/2010) chego
à conclusão de que, apesar dos gigantes terem elevadas dotações financeiras, não são
unicamente os números que parecem ser cruciais, mas sim as decisões políticas tomadas
no âmbito dos Ministérios. Assim vejamos:
Ministério de Minas e Energia: R$87,4 bilhões
Ministério da Saúde: R$66,7 bilhões
Ministério da Educação: R$50,9 bilhões
Ministério da Fazenda: R$19,1 bilhões
Ministério dos Transportes: R$17,6 bilhões
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: R$8,9 bilhões
Ministério da Ciência e Tecnologia: R$5,6 bilhões
Algumas observações importantes: 1) Os orçamentos se reduzem
substancialmente nos Ministérios da Agropecuária e da Ciência e Tecnologia. 2) Se há
vultosos orçamentos nos Ministérios da Saúde e da Educação e os resultados deles
obtidos são lastimáveis, há certamente erros cruciais nas suas ações. 3) É digno de nota
que o Congresso Nacional custa aos cofres públicos R$6,8 bilhões (Câmara dos
Deputados: R$3,8 e Senado: R$3,0 bilhões). Valor este superior ao destinado à Ciência
e Tecnologia. 4) É também de importância vital ficar sabendo que no nosso país estima-
se que a corrupção “surrupia” R$41,5 bilhões, atualmente, dos cobres públicos.
17 
 

16 de junho de 2010
AGRONEGÓCIO SUBINDO… CERRADO SUMINDO
[Obs.: o vídeo somente poderá ser visto no site deste blog]
Segundo a Conservação Internacional (ou “Conservation International”, ONG
internacional com atuação no Brasil) dos 204 milhões de hectares (= 2.040.000 km2)
originais do bioma cerrado, 57% já foram completamente destruídos e a metade das
áreas remanescentes estão bastante alteradas, podendo não mais servir à conservação da
biodiversidade. A taxa anual de desmatamento no bioma é alarmante, chegando a 1,5%,
ou 3 milhões de hectares (= 30.000 km2)/ano. Estima-se que essa taxa de desmatamento
seja 10 vezes maior do que a da mata atlântica.
As principais pressões sobre o Cerrado são a expansão da fronteira agrícola, as
queimadas e o crescimento não planejado das áreas urbanas. A degradação é maior nos
estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, no Triângulo Mineiro e no oeste
da Bahia, segundo estudo feito a partir de imagens de satélites. Junto com a
biodiversidade (possivelmente a maior do mundo, entre as de savanas) estão
desaparecendo ainda as possibilidades de uso sustentável de muitos recursos, como
plantas medicinais e espécies frutíferas. Segundo o Centro de Recursos Genéticos e
Biotecnologia da EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, já foram
catalogadas mais de 330 espécies de cerrado de uso na medicina popular. Arnica
(Lychnophora ericoides), barbatimão (Stryphnodendron adstringens), sucupira
(Bowdichia sp.), mentrasto (Ageratum conyzoide) e velame (Macrosiphonia velame) são
alguns exemplos. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, uma
área de vegetação nativa superior à do estado do Mato Grosso já cedeu lugar para
plantações de soja, pecuária e exploração de madeira. Para evitar a abertura de novas
áreas, a pesquisa agropecuária aponta alternativas viáveis que podem ser adotadas na
região para associar a conservação do Cerrado à produção. Uma delas é a integração
lavoura-pecuária, estudada há mais de 20 anos pela EMBRAPA. Esse sistema permite a
intensificação do uso das áreas já abertas pela pecuária e lavouras de grãos. A rotação
entre áreas de pasto e de lavoura resulta em ganhos de produtividade. Isso é
especialmente interessante para os pastos, que hoje estão, em sua maioria, degradados
principalmente devido à deficiência de nutrientes. Pesquisadores do Centro de Pesquisas
Agropecuárias do Cerrado, da EMBRAPA, afirmam que atualmente a taxa de lotação
média no cerrado é de uma cabeça de gado por hectare e se esse número for aumentado
para 1,4 cabeças, 11 milhões de hectares (= 110 mil km2) poderão ser alocados para
outros usos, segundo afirmam esses pesquisadores (ou, como prefiro dizer,
alternativamente: destinados à regeneração da vegetação nativa). Lembro aos leitores
que em postagem anterior neste blog “ecologiaemfoco”, foi mostrada que uma taxa de
lotação média de 1,4 cabeças é igual à da Amazônia (enquanto a do sul do Brasil é
superior a 4). São citados ainda como benefícios oriundos dessa integração lavoura-
pecuária: a melhoria na qualidade química, física e biológica do solo (com a utilização
de plantio direto e de calcário e gesso para corrigir o pH do solo); a quebra no ciclo de
pragas e doenças nas lavouras; e a diminuição dos riscos de produção e de preço, pois
há diversificação de atividades, podendo o produtor investir em diversas alternativas
simultaneamente.
Preocupa, em termos de desenvolvimento sustentável, a extensa devastação e
ações diminutas de regeneração ou revitalização de áreas degradadas do cerrado. E,
mais grave ainda em amplitude, o fato de que é em regiões de cerrado que nascem rios
de bacias hidrográficas de importância vital para o país, como o Tocantins, São
Francisco e Alto Paraguai. Notícia veiculada no site do Ministério do Meio Ambiente
em 15/06/2010 informa que R$42 milhões serão aplicados na conservação do cerrado,
18 
 

prevendo-se criação de novas UCs (Unidades de Conservação) e expansão das já


existentes. Tudo isso nos próximos quatro anos. Vamos aguardar e acompanhar as
ações! O vídeo aqui anexado, extraído de Globo Vídeos, do programa de TV Globo
Rural, ilustra a problemática da conservação do bioma cerrado.

15 de junho de 2010
PROJETO MANDALLA: UM EXEMPLO DE MINI-
AGRONEGÓCIO AUTOSSUSTENTÁVEL
[Obs.: o vídeo somente poderá ser visto no site deste blog]
Eis um exemplo de sistema de produção integrada simples e que vem
funcionando. Conforme é mostrado no vídeo do GLOBO RURAL, aqui anexado, esse
projeto iniciou na Paraíba, sendo hoje utilizado em outros Estados. Chamo a atenção
para os seguintes destaques: 1. Observação inicial muito importante: a assistência
técnica é imprescindível. Esta é uma alternativa de produção possível de ser executada
em áreas de pequena dimensão. A área utilizada tem menos de 2.000m2 e o custo de
manutenção é de cerca de R$300,00/mês. A área reduzida traz economia de tempo e
dinheiro. Observe-se no vídeo que a preservação no entorno do projeto praticamente
inexiste. 2. A microrregião onde esse projeto foi inicialmente implantado é zona do
brejo paraibano, onde há água em abundância (não-salina). Pode ser utilizada água
trazida por carro-pipa, como é dito no vídeo sobre o projeto. 3. O centro do “universo da
Mandalla” é obviamente, a fonte de água, circundada por nove círculos. Nessa fonte são
criados peixes e mantidos patos, gansos... . O esterco dessas aves é utilizado para
fertilizar o solo, onde são cultivadas hortaliças, fruteiras etc. A energia alternativa, para
o bombeamento da água, é de origem do “esforço humano”, utilizando-se bicicleta. O
custo de equipamento alternativo é estimado em torno de R$350,00 para uma área de
500 a 1.000m2. 4. Alguns animais se alimentam de insetos, exercendo assim um
controle sobre esses fitófagos (ou possíveis futuras “pragas”). A biodiversidade cresce,
aparecendo alguns répteis, aves, abelhas... provendo “serviços ambientais”. 5. Os
excedentes da produção são comercializados pelos próprios produtores (dispensando os
intermediários ou “atravessadores”), gerando renda. Enfim, um exemplo de
sustentabilidade num mini-agronegócio. É mais do que mera subsistência.

12 de junho de 2010
AGRICULTURA FAMILIAR VERSUS AGRONEGÓCIO: NESSA
CONTENDA O PAÍS PODERÁ SER O PERDEDOR
Vou começar fazendo algumas considerações sobre “nosso comportamento quanto à
linguagem utilizada por muitas pessoas”. Parece ser de uso corrente, em todas as
sociedades, linguagem inadequada refletindo talvez inconscientemente (ou causando?)
diferentes atitudes comportamentais nos seus diversos segmentos. Às vezes escutamos:
“o mundo é dividido em mundo masculino e mundo feminino”; e, com referência às
raças humanas: “o povo brasileiro está dividido em diferentes raças”; e na questão da
exploração de recursos naturais (agropecuária, por exemplo) “a cadeia produtiva está
dividida entre grandes e pequenos produtores”. Outras expressões similares são
praticadas, dando-nos a impressão de que tal divisão seja “normal” nas sociedades
humanas. É melhor substituir essa expressão, um tanto quanto discriminatória, por
formado(a) e formação!!! E assim, tudo que existe nas sociedades (de bom e de ruim)
se somam.
19 
 

No que diz respeito à cadeia produtiva, tal “somatória” deve ser levada em conta
quando se trata de grandes e pequenos produtores. Refiro-me à recente querela: “Estudo
da FGV – Fundação Getúlio Vargas comprova: IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística errou no Censo Agropecuário 2006 ao dizer que a agricultura
familiar, sozinha, é quem alimenta o Brasil” conforme alardeou a CNA - Confederação
Nacional da Agricultura, na pessoa de sua Presidente, a senadora Kátia Abreu. Ela
afirmou que o IBGE equivocou-se nos resultados do Censo Agropecuário 2006,
dividindo [grifo meu] o campo entre pequenos e grandes produtores e criando a ilusão
de que somente os agricultores familiares são responsáveis por alimentar a população
brasileira. Afirmou ela ainda: “Estamos perdendo tempo discutindo uma coisa que é
menor, a divisão [grifo meu] entre pequenos e grandes em dimensão de terra. Temos
que discutir é quem tem renda ou não para viver com dignidade”. Os dados dessa nova
publicação são resultado de um trabalho realizado pela FGV, a partir dos mesmos
microdados utilizados no Censo Agropecuário 2006 do IBGE. “A diferença é que essa
nova análise foi realizada exclusivamente sob critérios técnicos, excluindo
interpretações ideológicas e tendenciosas”, disse a senadora, destacando as falhas do
IBGE quanto à ampliação do grupo da agricultura familiar em detrimento da agricultura
comercial e citando regulamentação do Banco Central com relação ao conceito de
agricultura familiar. Afirmou ainda a Presidente da CNA que a leitura equivocada do
IBGE aponta o agronegócio brasileiro como voltado somente para as exportações. Disse
ela: “Temos, no Brasil, pequenos, médios e grandes produtores que abastecem a mesa
do brasileiro e também geram alimentos que são vendidos para outros países”. Os dados
que refletem o posicionamento da CNA (do estudo da FGV) frente à estatística do
IBGE, podem ser vistos em (http://www.canaldoprodutor.com.br/). Nas duas séries
de vídeos que o “ecologiaemfoco” ora reproduz (nesta e na próxima postagem), o leitor
poderá observar que, antes de tudo, somar é bom, como parece ser a idéia principal das
colocações da Presidente da CNA. A primeira série é iniciada com a apresentação de
vídeo do programa televisivo Globo Rural, sobre a agricultura familiar, denominado “A
Força da Agricultura Familiar Revelada pelo Censo Agropecuário”. E na postagem
seguinte será reproduzido vídeo, também do Globo Rural, sobre o Projeto Mandala.

04 de junho de 2010
CONCILIAÇÃO DA PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE COM
O CRESCIMENTO POPULACIONAL HUMANO:
IMPROBABILIDADES
[Vídeo reproduzindo palestra que dei, por convite da SUDEMA-Superintendência
de Administração do Meio Ambiente, em João Pessoa, em comemoração ao Dia
Mundial do Meio Ambiente (5/junho) e Ano Internacional da Biodiversidade (2010)]
[Obs.: o vídeo somente poderá ser visto no próprio site do blog]
ALGUNS DESTAQUES PARA REFLEXÃO/DISCUSSÃO: 1. Duas correntes
principais de discussão sobre os efeitos do crescimento populacional humano na
preservação da biodiversidade (e conservação dos ecossistemas, em geral): a) O
problema principal não é o aumento da população humana; b) Mas sim a maneira como
20 
 

os seres humanos procedem na explotação (utilização dos recursos) dos ecossistemas.


Nesta última, é importante não esquecer que: quanto maior for a população humana,
maiores serão as dificuldades para educar as sociedades humanas e consequentemente,
evitar a degradação ambiental. 2. Dos 6 fatores principais causadores da extinção das
espécies no nosso planeta, o homem é responsável diretamente por 5 deles; e no sexto
fator (mudanças climáticas) ele atua fortemente. 3. Na história evolutiva da vida na
Terra, já ocorreram 5 grandes extinções, dizimando pelo menos 90% das espécies de
seres vivos existentes; pergunta-se agora se estamos a caminho da sexta grande
extinção, desta vez causada só por um componente da Natureza: o homem. 4. Para citar
apenas um exemplo de que preservar não é exclusivamente uma questão de ética, nem
tampouco de atitude de "ecologista ou ambientalista", mas é essencialmente uma
questão de ECONOMIA AMBIENTAL (ou sobrevivência de todos e qualidade de vida
ambiental), na Amazônia compromete-se a existência de uma castanheira (derrubando-
se a mata em volta dela ela reduzirá sua produção em menos de 20 anos) e que produz
1000 kg de castanha-do-brasil por ano, para se introduzir pastagem para bovinos que
produzirão apenas 85 kg de carne/ha por ano, enquanto no sul do Brasil alcança 450
kg/ha por ano. A capacidade de suporte dessa pastagem (ou taxa de ocupação do gado) é
de 1,4 cabeça/ha em oposição a 4,5 cabeças/ha no sul do país. 5. Observa-se num
exemplo desse (acima) que no Brasil não se pratica sustentabilidade "começando pelo
alicerce", na seguinte ordem lógica: 1) Bases ecológicas e socio-econômicas do meio
ambiente a ser conservado/explorado; seguindo-se então 2) Legislação ambiental; e 3)
Política ambiental. Todo desenvolvimento sustentável deve obedecer a seguinte ordem
de prioridade: Desenvolvimento sustentável ecológico; Desenvolvimento sustentável
econômico; Desenvolvimento sustentável social. 6. É muito importante que as
sociedades humanas se sensibilizem e se conscientizem de que não é somente o governo
que tem responsabilidades: o trabalho individual é de fundamental importância. Povo
educado (bem informado) saberá então escolher seus governantes, considerando aqueles
que conhecem e se comprometem em praticar a sustentabilidade fundamentada na
ordem acima explicitada, que se constituem nos pontos-chave da boa governança
ambiental mundial.

03 de junho de 2010
FLUORETAÇÃO DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO - Capítulo II
[...em continuação à contribuição para este blog, dada pelo Engenheiro Sanitarista
SÉRGIO ROLIM MENDONÇA, consultor aposentado da OPS-Organização
Panamericana de Saúde e Professor Emérito da UFPB]

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A legislação que rege a fluoretação no Brasil: PORTARIA N.º 518, DE 25 DE


MARÇO DE 2004 Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao
controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade, e dá outras providências
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/portaria518_25_03_04.pdf)
PORTARIA n.º 22 de 20 Dezembro de 1989 Assegurar qualidade e eficácia a produtos
dentifrícios e enxaguatórios bucais, comercializados no país
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/portaria22_20_12_89.pdf)
PORTARIA N° 635/Bsb, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1975 Aprova as Normas e
Padrões sobre a fluoretação da água dos sistemas públicos de abastecimento, destinada
21 
 

ao consumo humano
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/portaria635_26_12_75.pdf)
DECRETO N. 76.872 DE 22 DE DEZEMBRO DE 1975 Regulamenta a Lei n. 6.050,
de 24 de maio de 1974, que dispõe sobre a fluoretação da água em sistemas públicos de
abastecimento
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/decreto76842_22_12_75.pdf)
LEI N.º 6.050 DE 24 DE MAIO DE 1974 Dispõe sobre a fluoretação da água em
sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/lei6050_24_05_74.pdf) LEI
5.081 DE 24 DE AGOSTO DE 1966 Regula o Exercício da Odontologia
(http://dtr2004.saude.gov.br/dab/saudebucal/legislacao/lei5081_24_08_96.pdf)Projetos
de Lei Três projetos de lei em que foi feita a tentativa de proibição de adição do flúor na
água de abastecimento público: A primeira foi o Projeto de Lei nº 510/03 da câmara dos
deputados propondo a revogação da Lei Federal nº 6.050, de 24 de maio de 1974. O PL
é de autoria do Deputado Carlos Souza (Partido Liberal – Amazonas). A Lei 6.050/74
“dispõe sobre a fluoretação da água em sistemas de abastecimento quando existir
estação de tratamento”. O segundo Projeto de Lei foi no Senado sob o nº 297, de 2005,
apresentado pelo Senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que logo em seguida
pediu a retirada do projeto de lei de sua autoria. A terceira tentativa é o Projeto de Lei
95/07 do mesmo deputado Carlos Souza (PP-AM) propondo mais uma vez a revogação
da Lei Federal nº 6.050, de 24 de maio de 1974. Ainda em andamento. Vejamos a seguir
o mais recente desses projetos. Projeto de Lei 95/07 Proposição: PL-95/2007 - Íntegra
disponível em formato pdf. Autor: Carlos Souza – PP / AM Data de Apresentação:
08/02/2007 Apreciação: Proposição Sujeita à Apreciação Conclusiva pelas Comissões -
Art. 24 II Regime de tramitação: Ordinária Situação: CSSF: Pronta para Pauta. Ementa:
Revoga a Lei nº 6.050, de 24 de maio de 1974, que "dispõe sobre a fluoretação da água
em sistemas de abastecimento quando existir estação de tratamento". Indexação:
Revogação, Lei de Fluoretação da Água, acréscimo, fluor, sistema de abastecimento,
abastecimento de água. Despacho: 5/3/2007 - Às Comissões de Seguridade Social e
Família e Constituição e Justiça e de Cidadania (Art. 54 RICD) - Proposição Sujeita à
Apreciação Conclusiva pelas Comissões - Art. 24 II Regime de Tramitação: Ordinária

24 de maio de 2010
FLUORETAÇÃO DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO - Capítulo I
[Contribuição do Engenheiro Sanitarista, MSc Sérgio Rolim Mendonça Consultor
aposentado da OPAS/OMS Professor Emérito da UFPB]
Tabela 1 Status de decaimento, falta e dentes obturados (DFDO) em crianças de 12
anos por país (Fonte: WHO Oral Health Country/Área Profile Programme Department
of Noncommunicable Diseases Surveillance/Oral Health WHO Collaborating Centre,
Malmo University, Sweden, http://www.whocollab.od.mah.se/euro.html )
22 
 

Tabela 2 – Lista de 14 ganhadores de Prêmio Nobel que não concordam ou têm


reservas em relação à fluoretação de águas para abastecimento público (Fonte: Fifty
reasons to oppose fluoridation, Paul H. Connett, Medical Veritas, 1 (2004) 70-80, Saint
Lawrence University, Nova Iorque.* Fluoruros y Salud, P. Adler et al, OMS, Genebra,
1972)

INTRODUÇÃO
A fluoretação das águas de abastecimento com a adição de compostos contendo flúor
para produzir concentração final da ordem de 1 mg/L foi um esforço para prevenção do
decaimento dos dentes nas crianças. Esta tentativa teve início nos Estados Unidos no
começo da década de quarenta do século XX.
Entretanto, nos países que não se entusiasmaram pela aplicação de flúor nas águas
de abastecimento, foi verificado muitos anos depois que os dentes dos habitantes desses
países continuavam tão bons quanto os dos países que usavam flúor na água. A Tabela 1
apresenta essa comparação.
(Ver acima: Tabela 1 – Status de decaimento, falta e dentes obturados (DFDO) em
crianças de 12 anos por país)
DOENÇAS RELACIONADAS COM INGESTÃO POR EXCESSO DE FLÚOR
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)*, os principais efeitos tóxicos na
saúde devido a grandes doses de flúor são: efeitos crônicos sobre o órgão do esmalte,
sistema ósseo, rins, tiróides e intoxicação geral e visceral. Além disso, o flúor é um
veneno cumulativo. Em média, somente 50% do flúor que ingerimos cada dia é
excretado através dos rins. Em alguns estudos, quando altas doses de flúor (média de 26
mg/L) foram usadas para tratar pacientes com osteoporose em um esforço para
fortalecer seus ossos e reduzir taxa de fraturas, particularmente fraturas de bacia, na
realidade, a incidência de fraturas aumentou.Além disso, os produtos químicos usados
nos Estados Unidos para fluoretar águas de abastecimento não possuem nenhuma
classificação farmacêutica. São originários de sistemas úmidos de depuração (operação
de retirada de partículas ou gases poluentes do ar contaminado) da indústria de
fertilizantes superfosfato. Estes produtos químicos (90% dos quais são sódio
fluorosilicato e ácido fluorosilícico) são classificados como resíduos perigosos
23 
 

contaminados com várias impurezas. Testes recentes efetuados pela National Sanitation
Foundation sugerem que os níveis de arsênio nesses compostos químicos são
relativamente altos (até 1ppb depois de diluição para ser adicionado em abastecimento
público de água) e portanto, de preocupação potencial (ver acima, a Tabela 2, que
apresenta relação de cientistas que se opõem à adição de flúor nas águas de
abastecimento público). [Próxima postagem: Capítulo II-Legislação brasileira, sobre o
assunto)

26 de abril de 2010
ECONOMIA AMBIENTAL: SUBSÍDIOS ENERGÉTICOS EM ECO
E AGROSSISTEMAS

A fonte e a qualidade da energia envolvida no processo produtivo de um


ecossistema (ou sistema ecológico natural: florestas, oceanos, lagos...) ou de um
agrossistema (ou sistema introduzido e mantido pelo homem: agricultura, pecuária,
aqüicultura...), são fatores determinantes da biodiversidade, assim como também dos
padrões de processos funcionais que ali existem (cadeia alimentar, ciclagem dos
nutrientes, ciclo hidrológico...) e, no final, da qualidade de vida ambiental que pode ser
usufruída pelos seres humanos.
Embora a maior preocupação das sociedades humanas seja principalmente os
custos envolvidos na quantidade de “matéria” que somos capazes de obter dum eco ou
agrossistema (quantos metros cúbicos de madeira, quantas toneladas de feijão, arroz,
batata, milho... carne bovina, peixe etc.), há que se considerar em todos esses sistemas
agroecológicos de produção um denominador comum, básico, fundamental: ENERGIA.
Na Natureza dispomos de quatro tipos básicos de ambientes inteiramente dependentes
deste importante fator ecológico:
24 
 

I - Ecossistemas potencializados por energia solar, sem qualquer outro tipo de


subsídio energético. Exemplos: oceanos, florestas (geralmente de altitude, relativamente
isoladas), pastagens naturais, grandes lagos (geralmente profundos). A capacidade de
suporte desses ecossistemas, ou seja, a produção necessária para manter populações
humanas, é limitada. Mas sua biodiversidade evoluiu adaptando-se a tais limites e assim
esses ecossistemas prestam “serviços ambientais” imprescindíveis à humanidade.
II - Ecossistemas potencializados por energia solar, mas subsidiados por outras
energias naturais. Exemplos: ecossistemas costeiros, como estuários, recifes de corais,
lagunas costeiras... e algumas florestas pluviais. Os estuários e os recifes de corais, por
exemplo, são potencializados por outras fontes de energia natural: movimento das
marés, correntes marinhas e ventos. Com isso são muito dinâmicos, recebem nutrientes
de outros locais, tornando-se altamente produtivos.
III - Agrossistemas potencializados por energia solar e subsidiados por energia
gerada pelo homem. Exemplos: agricultura (cultivos em terra: alimento, fibras, lenha...)
e aqüicultura (criação em viveiros: camarões, peixes, ostras...). Grande insumo
energético (fertilizantes, melhoramento genético, controle de pragas, mecanização,
irrigação...).
IV - Tecnossistemas urbano-industriais potencializados por combustíveis
processados pelo homem (fósseis, de origem nuclear ou mesmo de origem orgânica...) e
por outras formas de energia obtidas pelo homem (hidro e termoelétricas...). São
sistemas que consomem produtos vindos de fora (alimento, água etc.) e que talvez
estejam prestes a incluir a captação de energia da Natureza (solar, eólica...), além da
hidro e termoelétricas e nuclear já em extenso e intenso uso.
Nesses quatro tipos de sistemas ecológicos há forte participação do “capital
natural”, destacando-se o “capital humano” no tipo IV. Donde podemos concluir que
“ainda dependemos muito da Natureza, para viver”).
Confrontando os tipos de ambientes acima descritos com os quatro princípios
básicos da sustentabilidade (produção; biogeociclagem; biodiversidade; controle
populacional), podemos concluir que: nossa capacidade de observação e racionalidade
de uso e conservação dos recursos acima citados determinará se estaremos aptos a
alcançar o tão almejado desenvolvimento sustentável. E tudo será inútil se não
atentarmos para o último dos quatro princípios da sustentabilidade: CONTROLE
POPULACIONAL (vejam as fotos aqui inclusas).

1o de março de 2010
DESASTRE...CATÁSTROFE... de acordo com o GLOSSÁRIO DE
ECOLOGIA
DESASTRE (“DESASTRE NATURAL” e “DESASTRE ECOLÓGICO”) Transcrito
do GLOSSÁRIO DE ECOLOGIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS (3ª.ed., revisada em
fevereiro de 2010).
Bastante discutível o uso das expressões “desastre natural” e “desastre
ecológico”. Geralmente não temos dúvida quando nos referimos à palavra “desastre”
como sinônimo de “calamidade, infortúnio, algo ruinoso (acarretando ruína, perda ou
25 
 

destruição) e que causa sofrimento e prejuízo material”. O termo “desastre natural”,


quando utilizado para definir eventos naturais com conseqüências de grande impacto
sobre o ambiente onde o ser humano habita, embora de uso corrente, gera entre muitos
ecólogos, uma inaceitação. A maioria dos fenômenos da Natureza (terremotos,
vendavais, tufões, ciclones, erupções vulcânicas...) são reações que sempre ocorreram e
provavelmente ocorrerão. O fato de que boa parte das conseqüências sofridas pelos
seres humanos seja catastrófica, advém mais da maneira como vivemos; como por
exemplo, com adensamento populacional em habitações inapropriadas para conviver
com tais eventos naturais, grande proximidade de habitações e atividades humanas ao
alcance das ações do mar, dos vulcões etc. Algumas de tais conseqüências são
catastróficas graças (provavelmente) à contribuição humana, como por exemplo, os
tufões e ciclones ganham mais força à medida que vão encontrando águas oceânicas
mais quentes devido ao aquecimento global.
O termo “desastre ecológico”, por sua vez, também gera controvérsia,
principalmente quando aplicado, por exemplo, a eventos que acontecem com freqüência
em alguns ecossistemas, como o fogo no cerrado e a seca na caatinga. Tais eventos
podem exercer pressão seletiva, sendo registrado no processo evolutivo. E talvez por
isso não devesse ser chamado de “desastre”. Alguns acidentes, por suas repercussões
negativas, são classificados simplesmente como “desastres”, como alguns referenciados
neste glossário, como os de Bhopal, Chernobyl e o “Dust Bowl”, todos provenientes de
atividades humanas inconseqüentes ou irresponsáveis. Talvez fosse melhor denominá-
los de catástrofes antrópicas. Da mesma maneira, quando o ser humano constrói suas
habitações em locais suscetíveis a deslizamentos/escorregamentos, o termo mais
apropriado quando da ocorrência desse evento seria “catástrofe antrópica”.
(Ver CATÁSTROFE; DISTÚRBIO; ESTRESSE; e GENOCÍDIO versus
CATACLISMOS)

28 de fevereiro de 2010
HABITAÇÃO EM CONTÊINERES
Surge discussão sobre a situação no Haiti de como resolver o problema de
moradia das vítimas do terremoto de 12/01/2010 e outros menores subseqüentes.
Segundo artigo publicado no “Science Daily” (EUA) o Professor Doug Hecker propõe
que os desabrigados sejam alojados em contêineres (ou “containers”). Embora soluções
desse tipo, conhecidas como “top down solutions”, ou seja, planejadas sem a
participação daqueles que “sofrem na pele” as conseqüências, não sejam aconselháveis,
há relatos de profissionais da arquitetura de que tais construções funcionam, conforme
foram testadas durante quatro anos pelos próprios idealizadores, após o furacão Katrina,
na Louisiana (EUA).
O ser humano urbano, acostumado a ter tudo à mão, alimento, água, materiais
diversos de que usufrui, vindo de lugares que muitos desconhecem "onde", nem "como"
foram obtidos... passa a vida mergulhado nos seus afazeres e... de repente... vem uma
catástrofe ou cataclismo provocados pela Natureza e, se escapou vivo... não tem a
mínima idéia de como resolver o problema, por vezes destruidor e gerador de situação
caótica. Parte então para soluções paliativas. Somente quando acontecem tais impactos
extremos é que volta a pensar em soluções. O sistema preventivo em todas as áreas de
26 
 

atividade humana, quando funciona, é precário. Há muito tempo que moradias do tipo
em contêineres deveriam ter sido testadas. As construções de uso coletivo, prédios
públicos, deveriam ser todas à prova de abalos sísmicos. Em qualquer lugar do mundo
há miseráveis sem-teto que com certeza topariam usufruir de um tal contêiner para
testá-lo, acompanhados de perto pelos seus idealizadores. Desumano? E deixá-los à
míngua, no calor do sol ou no frio e na chuva... é humano? Será que "plástico"
funcionaria? E se combinado a material natural existente no local, como bambu? Será
duradouro e permanente? E o que é permanente nas regiões suscetíveis a movimentos
tectônicos? Estarei dizendo isso tudo só porque eu moro em lugar seguro? Seguro
porque segundo a ciência, não moro em "área de risco" e minha habitação ainda não foi
testada por um cataclismo! Depois do tsunami de 2004 no sudeste da Ásia
(principalmente Indonésia) que matou 220 mil pessoas, o terremoto de 2008 na China
que matou 70 mil... este agora com mais de 200 mil mortos e outros que virão... não
servem como lição??? Imagine se fôssemos falar sobre os nossos deslizamentos e
vítimas de soterramento!!!
...E a propósito de DESASTRE, CATÁSTROFE... ver a próxima postagem neste blog.

19 agosto de 2009
IPTU ECOLOGICAMENTE CORRETO
Mais ou menos com este título, divulga-se na mídia que na cidade de São Carlos,
interior de São Paulo, a prefeitura introduziu incentivo para que pessoas plantem
árvores nos seus quintais e obtenham redução no IPTU ─ Imposto Predial e Territorial
Urbano.
Lembrei-me imediatamente que em 1998, ao atender convite para proferir
palestra num encontro realizado em João Pessoa, por iniciativa da Fundação Pedroso
Horta, do PMDB, escolhi o tema EDUCAÇÃO AMBIENTAL AUTOSSUSTENTÁVEL:
SUBSÍDIOS PARA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE AÇÃO NA PARAÍBA. E
nele, dentre os três processos que sugeri para implantação do programa, destaco aqui os
INCENTIVOS FISCAIS, cuja proposta explicito como segue (em resumo):

É impressionante a nossa reduzida (para não dizer “totalmente inexistente”)


capacidade em estabelecer distinções nas arrecadações de “impostos”, no que diz
respeito às diferentes características dos imóveis, conforme sejam eles “ambientalmente
adequados ou não”. Projetos inteligentes/criativos, que contemplem medidas que
estimulem economias de água e energia, e beneficiem os recursos naturais, devem
receber incentivos, no que diz respeito aos impostos. São sugeridos aqui alguns
elementos que podem ser usados no estabelecimento de diferentes classes de IPTU: A)
Economia de água e energia (reutilização de água residuária; captação e retenção de
água pluvial; uso da energia solar, eficiência na luminosidade natural). B) Eficiência na
ventilação; arborização eficiente (a arborização, diferentemente dos jardins, é mais
econômica quanto ao uso de água de rega e manutenção em geral); fruteiras geram
alimento. Leguminosas eficientes na fixação biológica de nitrogênio dispensam uso de
adubo nitrogenado e fornecem madeira para consumo energético e outros). C)
“Geradores de poluentes, impostos diferentes”. D) Existe construção anti-ecológica?
Claro que sim! Geralmente são prédios e casas luxuosas onde: (d.1) há muitos
ambientes fechados (com ventilação e luminosidade naturais precárias) visando o uso de
27 
 

ar condicionado; (d.2) como conseqüência há uso excessivo de iluminação artificial;


(d.3) piscina que não reutiliza a água (para outros fins), quando renovada; (d.4) material
não produzido na região ou material em escassez na região; (d.5) água de precipitação
pluvial (que cai sobre área calçada) conduzida para o esgoto sanitário. E) Terrenos
baldios. Em termos ambientais (ou ecológicos) um terreno arborizado é mais benéfico
ao meio, do que um terreno abandonado. Portanto, se a sua localização vale um imposto
“x”, a do abandonado deveria ser “x+1”.

... E outros aspectos que comentei naquela palestra e que foram divulgados pela
referida Fundação. A cooptação de parcerias, o “querer fazer” e a decisão para
implantar um programa fundamentado em incentivos fiscais, certamente renderiam
frutos que realimentaria o processo de autossustentabilidade.

Finalizando: a formação de uma consciência coletiva voltada para a melhoria da


qualidade de vida ambiental requer (inclusive) incentivo financeiro. Mesmo que seja
somente pela redução de impostos! A demora em visualizar e implementar melhorias a
partir de medidas simples, como esse exemplo de São Carlos e como vários exemplos já
há tempo praticados em Curitiba, é desanimador! Acho que vou me aposentar
novamente e, desta vez, DEFINITIVAMENTE.

29 de julho de 2009
HORMÔNIOS NA ÁGUA DE BEBER
(Notícia extraída da revista Scientific American, de 28 de julho de 2009)
NÃO SE ASSUSTEM!!! AINDA NÃO É AQUI NO BRASIL.
Quantidades-traço de medicamentos sob prescrição médica têm sido encontradas em
várias unidades de tratamento de água, podendo atingir cerca de 46 milhões de pessoas
em nove Estados nos Estados Unidos, segundo investigações do “U.S. Geological
Survey” (Levantamento Geológico dos Estados Unidos) feitas em 2008. Foram
detectadas 85 substâncias produzidas pelas indústrias, estando entre elas
anticoncepcionais.
Atualmente discute-se se tais substâncias se apresentam em níveis que possam
causar preocupações. E discute-se também se há efeitos somatórios (sinergísticos)
dessas substâncias em quantidades-traço; ou seja: “quantidades-traço de uma substância
mais as de outra resultam em quê”???. Alguns pesquisadores afirmam que mesmo em
concentrações diluídas, alguns resíduos de medicamentos causam danos em peixes,
anfíbios e algumas outras espécies aquáticas; e que em laboratório foram feitos testes
que demonstraram efeitos prejudiciais em células humanas. Um exemplo: estrogênio,
expelido na urina de mulheres tomando anticoncepcionais e encontrado em esgotos,
atuaram sobre reprodução de peixes, produzindo descendentes inférteis, segundo
pesquisas na Universidade de Pittsburgh; e também mostraram que células cancerosas
de seio humano cresceram duas vezes mais rápido quando expostas a estrogênio
extraído de peixes-gato capturados próximos a locais inundados com esgotos não-
tratados. A preocupação reside no fato de que há pessoas com tendências naturais a ter
28 
 

câncer causado por estrogênio (segundo o líder da equipe de pesquisa, Dr. Conrad
Volz).
A filtração de tais substâncias somente tem se mostrado positiva nos casos em que
se aplica o sistema de “osmose reversa” (passagem por uma membrana ultrafina semi-
permeável, deixando passar somente a água). O uso de filtro de carvão ativado ainda
gera dúvidas quanto à eficiência. Alguns sugerem que talvez o ideal seja o uso
simultâneo desses dois sistemas de filtração.
Uma agência não-governamental internacional de saúde (“NSF International”; site:
www.nsf.org) sugere que resíduos de medicamentos não devem ser jogados no sistema
de esgoto sanitário, mas sim descartados no lixo normal, sendo posteriormente jogados
nos aterros sanitários apropriados.

10 de julho de 2009
“BIOCHAR”: SOLUÇÃO DA GEOENGENHARIA OU PRETEXTO
PARA CONTINUAR POLUINDO?!

Este termo “biochar” resulta de “biomass + charcoal” (biomassa + carvão, em


inglês). Surgiu da observação da existência da nossa “terra preta dos índios”, solo da
Amazônia central. Trata-se de trecho de latossolo caolinítico amarelo (originariamente
pobre em nutrientes) onde se supõe que ao longo do tempo os índios foram acumulando
matéria orgânica, tornando-o muito fértil. É considerado um epipedon antropogênico,
ou seja, um horizonte superficial originado de atividades humanas. O processo de
produção do “biochar” consta basicamente, de pirólise de biomassa (400 a 500oC) em
atmosfera quase sem oxigênio, formando-se assim carvão, com emanação de alguns
gases do efeito estufa. A foto acima (da revista “Nature”) mostra um forno de
microondas para produzir “biochar” em escala industrial, na Nova Zelândia.
29 
 

Defensores desse “carvão com nome sofisticado”, como o pesquisador Johannes


Lehmann, professor da Universidade de Cornell, E.U.A., visualizam grandes benefícios
para o nosso planeta no aspecto relacionado ao seqüestro de carbono. Calcula-se que
anualmente são emitidos para a atmosfera de 8 a 10 bilhões de toneladas de carbono.
Admitindo-se que mais ou menos metade seja adsorvida pelos oceanos e ecossistemas
terrestres, cerca de 4 bilhões permanecem na atmosfera. As plantas verdes, no entanto,
são capazes de absorverem mais de 60 bilhões de toneladas pela fotossíntese. Mas como
as próprias plantas emitem gás carbônico em grandes quantidades para a atmosfera, pela
respiração, o armazenamento de carbono no solo poderia ser um meio eficiente de tirá-
lo de circulação. Calcula-se ainda que uns 10% dessas 60 bilhões de toneladas de
carbono terminem no ambiente como resíduos (de cultivos, das florestas, dos
animais...); ou seja, 6 bilhões de toneladas, metade das quais, ou 3 bilhões de toneladas
de carbono, poderiam ser submetidas a pirólise e transformadas em “biochar”.
Defensores desse produto ainda consideram que a própria biomassa geraria a
energia suficiente para a pirólise e que um terço da biomassa seria biocombustível.
Florestas seriam introduzidas nos 900 milhões de hectares de terra degradada, no
mundo. Idéia esta melhor do que a de outros pesquisadores, que sugerem que florestas
sejam derrubadas para produzir “biochar” e depois replantadas... e assim por diante!
Johannes Lehmann, seu principal defensor, sugere que muitos solos melhorariam sua
produtividade. Haveria adição de alguns nutrientes, como fósforo, potássio, zinco,
cálcio. Isto certamente não seria aconselhado a ser feito nos latossolos da Amazônia,
pois o cultivo itinerante ali praticado pelos indígenas (e até hoje imitado por muitos dos
exploradores da Amazônia) mostrou ser improdutivo (o solo se beneficia em curto
espaço de tempo com o acréscimo desses nutrientes, que são absorvidos pelos plantios e
levados do local em forma de produtos alimentícios ou fibras, e o restante é facilmente
lixiviado pela alta precipitação pluvial local).
Os críticos do “biochar” advertem que enterrá-lo no solo poderá significar que
ali ele ficará por milhares de anos. Talvez não fique, se não for enterrado muito
profundo. Pesquisa de um cientista sueco (Wardle, D. A. Science 320, 629 (2008))
mostrou que pelo menos em floresta boreal na Suécia o carvão, quando misturado ao
húmus, se decompõe mais rápido do que se supunha. Mas há quem aponte problemas
ambientais outros, como Almuth Ernsting, um pesquisador de organização britânica
ambiental (“Biofuelwatch”): o seqüestro de (modestos) 1 bilhão de toneladas de
carbono, por esse processo, requereria 500 milhões de hectares de terra, enquanto as
florestas remanescentes tropicais representam hoje cerca de 1,5 bilhão de hectares.
Em se tratando do “biochar” e o aquecimento global, em solos tropicais, eu vou
um pouquinho mais adiante! Em experimentos que realizei na Estação Experimental de
Rothamsted (Inglaterra), comparando reações dos microrganismos ao aumento de
temperatura [trabalhos publicados em Soil Biology and Biochemistry (1997) 30 (10/11):
1309-1315; e na Revista de Microbiologia (1997) 28(1): 5-10)] observei que: o total de
carbono respirado pela microbiota dos solos tropicais mantidos a 35oC ao longo de 150
dias de incubação, foi na faixa de 2,6 a 4,5 vezes o C presente inicialmente na biomassa
microbiana; e a faixa correspondente dos solos temperados foi de 3,2 a 9,7 vezes.
Algumas conclusões: (a) a microbiota de ambos os conjuntos de solos consumiram não
30 
 

somente o carbono da matéria orgânica neles existentes, mas também alimentaram-se


dos microrganismos mortos, emanando carbono pela respiração; (b) em ambos os solos
os microrganismos mostraram que com o aquecimento global, eles contribuirão com
mais carbono para a atmosfera (os solos temperados mais do que os tropicais).
Em termos do que vai acontecer com um “biochar” nos nossos solos tropicais,
ainda ficam algumas perguntas que precisam ser respondidas, como por exemplo: (i)
como se comportarão os microrganismos com o aumento da relação carbono:nitrogênio
(se for muito alta, a microbiota poderá consumir o pouco nitrogênio disponível, não
liberando-o para as plantas); (ii) que tipo de conseqüências poderá o “biochar” no solo
causar aos demais escassos nutrientes, abaixo dos 15 cm superiores mais férteis dos
nossos latossolos da floresta amazônica e da mata atlântica, por exemplo; (iii) em
termos físico-químicos, quais serão as conseqüências... e outros questionamentos que
certamente pedólogos, edafólogos, agrônomos e agricultores experientes saberão melhor
formular do que eu.
Talvez possa se pensar que solos desprovidos de necromassa de superfície (solos
provenientes de mineração, por exemplo) possam se beneficiar com a adição do
“biochar”. Mas, em todos os casos, é melhor investigar com mais precisão sobre TODO
esse procedimento, antes que queiram generalizá-lo e... (o que é muito pior!) antes de
acharmos que esse produto é “um santo remédio” da geoengenharia e assim não
precisaremos reduzir a emissão de gases do aquecimento global... e nem precisaremos
nos preocuparmos em preservar nossas florestas!!!

05 de julho de 2009
COMER MAIS (E MELHOR) E MATAR MENOS: O DILEMA “CARNE
OU CEREAIS”???
Tenho me deparado recentemente com publicações e discussões sobre criação e
proliferação de gado bovino e as questões relacionadas principalmente à economia e
preservação ambiental (incluindo aqui a legislação ambiental), sócio-economia e saúde
humana. Tenho observado que a corrente de opinião pró-ingestão de carne apresenta
pontos positivamente justificáveis, mas também explicações frágeis ou contestáveis. Em
termos ambientais, que me diz respeito como profissional da ecologia, devo ater-me aos
aspectos que contribuam para se traçar uma política ambiental que inclua a obtenção da
carne bovina num planejamento fundamentado em bases científicas agro-ecológicas,
sócio-econômicas e em respeito às leis ambientais, nesta seqüência (que dão suporte ao
estabelecimento de uma política ambiental que vise sustentabilidade).
31 
 

Unidade Alcatra1 Lombo suíno Peito de frango

Energia Kcal 191 164 165

Proteína g 30,4 28,1 31

Gordura g 6,8 4,8 3,6

Minerais

Ferro mg 3,4 1,5 1

Magnésio mg 32 28 29

Fósforo mg 244 259 228

Potássio mg 403 437 256

Zinco mg 6,5 2,6 1

Selênio mg 32,9 48,1 27,6

Vitaminas

Tiamina (B1) mg 0,13 0,94 0,07

Riboflavina (B2) mg 0,29 0,39 0,11

Niacina mg 4,28 4,71 13,71

Ácido pantotênico mg 0,39 0,69 0,96

Folacina mg 10 6 4

Vitamina B6 mg 0,45 0,42 0,60

Vitamina B12 mg 2,85 0,55 0,34

Ácidos graxos

Saturados g 2,65 1,66 1,01

Monossaturados g 2,90 1,93 1,24

Poliinsaturados g 0,26 0,41 0,77

Colesterol mg 89 79 85

Em termos de saúde humana encontramos na literatura mundial sobre alimentos,


que a carne bovina tem propriedades incontestavelmente positivas (veja o quadro acima
sobre a composição nutricional de carnes de animais, reproduzido de “Gado de Corte
Divulga” (Campo Grande, MS, dez. 2000 no 41 ISSN 1516-5558, por Ezequiel
Rodrigues do Valle). O balanço benefício-malefício da carne bovina (e/ou das carnes
vermelhas em geral) se chocam, ao afirmar-se por exemplo que: “ela possui altas
concentrações de ácido linoléico conjugado (CLA), composto associado à prevenção e
combate de determinados tipos de câncer”; e ao mesmo tempo “seu consumo está
relacionado com certas degenerações cardíacas”... e outras informações que fazem o
consumidor de carne vermelha ou tornar-se fisicamente forte e resistente ou mais um
paciente de uma clínica ou hospital! Se os consumidores de carnes vermelhas e
embutidos (carnes processadas) lerem o artigo recentemente publicado no “Archives of
Internal Medicine” (Arch Intern Med. 2009 Mar 23;169(6):562-71), sob título “Meat
32 
 

intake and mortality: a prospective study of over half a million people” = Ingestão de
carne e mortalidade: um estudo prospectivo de mais de meio milhão de pessoas) os
comedores de carne provavelmente se sentirão “aliviados” com a conclusão dos autores:
“ingestão de carnes vermelhas e carnes processadas foram associadas a aumentos
modestos com a mortalidade total, mortalidade por câncer e mortalidade por doença
cardiovascular”. Eu, pessoalmente continuo com receio de ser incluído nesse aumento
modesto!
As vantagens do rebanho bovino vão mais além quando avaliamos sua contribuição
em termos de produção de leite. Embora, neste aspecto, algumas pessoas saibam que,
em termos naturalistas, digamos assim, “o leite de um mamífero foi criado pela
Natureza para alimentar o filhote daquele próprio mamífero”. Há indícios de que está se
tornando mais freqüente nas populações humanas, o aparecimento de crianças que
sejam intolerantes a leite animal (que não seja o da própria mãe). Eu, continuo
consumidor moderado de leite de vaca. Um dos meus filhos, hoje com 16 anos de idade,
nunca pôde consumi-lo. Após a amamentação materna, ele teve que passar a consumir
leite de soja; e tem tanta ou mais saúde, do que os outros que consomem leite animal!
Portanto, não me parece ser este um problema com que devamos nos preocupar. Quem
puder consumi-lo, que o faça.
Em termos ambientais... aí sim, há muito que ser avaliado e discutido. Privilegiar a
produção de cereais ou a de carne? Resgato inicialmente um escrito de Robert Goodland
que figura na destacada publicação “CAVALCANTI, C. (org.) (2002) Meio Ambiente,
Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas, 4ª.ed., São Paulo, Cortez Edit. e
Fundação Joaquim Nabuco, 436p.”, sob título: Sustentabilidade Ambiental: Comer
Melhor e Matar Menos (expressão esta que tomei emprestada para título deste ensaio).
Nessa contribuição R. Goodland discorre sobre valores nutricionais de cereais e carnes,
política alimentar, aspectos ecológicos e filosóficos em geral, assim como sobre valores
relacionados à saúde humana e crença religiosa. Em termos de sustentabilidade
ambiental vejamos alguns pontos de destaque dessa publicação, principalmente na
comparação entre produção de cereais e de carne animal: 1) o gado de corte durante a
engorda consome sete quilos de cereal para produzir um único quilograma de peso em
pé, ou produto em pé em sua expressão ecológica (comentário meu sob o aspecto
ecológico: sugiro aos leitores que consultem, num livro de ecologia ou no meu
Glossário de Ecologia e Ciências Ambientais, o gráfico de ODUM representativo da
transferência de energia através da cadeia alimentar e vejam quanto de energia se
evitaria perder “se fôssemos mais herbívoros”); 2) o porco consome quase quatro quilos
de grãos para cada quilo de peso em pé; 3) frango e peixe (mais eficientes na conversão)
consomem dois quilos de grãos para cada quilo de peso em pé; 4) produção de queijo: 3
quilos de grãos para cada quilo desse produto; e produção de ovos: 2,6 quilos de cereais
por quilo desse produto. Segundo avaliação de Lester Brown, pesquisador em
sustentabilidade ambiental, os países que lideram essa “transformação de cereais em
carne” são Estados Unidos e China. Robert Goodland então pergunta: “Se os indivíduos
mais prósperos do mundo aceitassem simplificar sua alimentação (por razões de saúde
ou ética ou economia, ou religião...) liberariam os cereais assim poupados e os
distribuiriam para prevenir a fome e a desnutrição onde e quando necessário”?
33 
 

Em termos econômicos, apenas alguns comentários de quem passa “marginalmente”


pelo conhecimento dessa problemática. Os pobres normalmente gastam 70% e às vezes
mais, de sua renda com alimento. Os ricos, cerca de 20%. Partindo do princípio de que
um hectare de terra com plantio de grãos possa produzir de duas a 10 vezes mais do que
um hectare destinado à produção de carne bovina e que um hectare de legumes pode
produzir de 10 a 20 vezes mais proteínas do que o mesmo hectare voltado para a carne
de boi (segundo o artigo de R. Goodland acima citado), antes de decidirmos por uma
política pró-gado bovino, precisamos observar se no local objeto da ocupação não
haveria maior retorno se optássemos por produção de cereais. Priorizar tal decisão
exclusivamente por razões econômicas (carne bovina é “artigo para exportação”), ou
por razões de preferência alimentar, deixando de lado outras questões, como
conservação/preservação ambiental e sócio-economia ambiental, se contrapõe ao que
hoje se entende por desenvolvimento sustentável.
Em termos ambientais há muito a se considerar. Obviamente há de se levar em conta
a região ou microrregião onde se pretenda estabelecer a atividade pecuarista, devendo-
se observar principalmente o clima e o solo. Se tal local for sujeito a variações
climáticas extremas, como seca freqüente por exemplo, devemos nos lembrar que
pastagem demanda 10 vezes mais água de irrigação para produzir um quilo de carne do
que plantio de soja para produzir um quilo de grãos. Se no local a ser explorado a água
não é problema, a emissão de gás metano (forte característica dos ruminantes) não
deveria ser objeto de preocupações ecológicas por “ecologistas e ambientalistas” (por
favor, não me incluam nessa classificação; eu sou ECÓLOGO). Por que na atmosfera há
muito mais metano emanado de zonas pantanosas, brejos, arrozais e muitos mais outros
gases do aquecimento global emanados de veículos automotores. Vejamos ainda os
seguintes números: o total de metano gerado anualmente nas Usinas Hidroelétricas do
norte, Tucuruí, Samuel, Curuá-Una e Balbina, equivale ao total anual emitido na cidade
de Sâo Paulo (obs.: uma tonelada de metano é igual a 25 toneladas de dióxido de
carbono como potencial do aquecimento global).
Com respeito à expansão de novas fronteiras da pecuária bovina, no nosso caso a
Amazônia, no documento “O Reino do Gado: uma Nova Fase na Pecuarização da
Amazônia Brasileira” (documento de Amigos da Terra/2008, divulgação em PDF no
site http://www.amazonia.org.br/) alguns aspectos merecem ser destacados e sobre eles
devemos refletir cuidadosamente: 1) em 2007 ocorreram mais de 10 milhões de abates
bovinos, tendo o rebanho da Amazônia representado 36% do rebanho nacional (Brasil
maior produtor mundial de carne bovina); 2) modelo predominante atual: a venda da
madeira financiando a derrubada da floresta, a queima e a introdução de pastagem; 3)
baixo custo da terra: muitas terras públicas passíveis de serem apropriadas ilícita e
impunemente; 4) agravantes: carência de políticas públicas na área fundiária (com
impunidade na apropriação indevida) e crédito sem restrição para atividades ilegais; 5)
baixo investimento na recuperação de pastagens: dados da Embrapa revelam que desde
os anos de 1990 o custo de recuperação de pastagens pode ser quatro vezes maior do
que o da utilização de novas terras; 6) baixa capacidade de suporte ou lotação média:
1,4 cabeça por hectare; 7) falta de zoneamento agro-ecológico e falta de incentivo fiscal
para converter sistemas de produção extensivos em intensivos sustentáveis (com
34 
 

adequação à legislação, tecnologias, gerenciamento...); 8) predominância de grandes


grupos financeiros, sendo os pequenos produtores esquecidos. Alguns pontos positivos
que vêm ocorrendo devem ser observados e incentivados: a) geração de tecnologias de
intensificação e manejo de pastagens apropriadas; b) condições boas para a raça Zebu;
c) adoção de pecuária com gestão empresarial.
Alguns outros fatos negativos têm ocorrido nos Estados de MT, PA, AC e RO,
segundo o citado documento de Amigos da Terra/2008, como por exemplo: (i) maioria
dos 200 frigoríficos operando ilegalmente; (ii) 73% dos frigoríficos adquirindo carne de
fazendas com trabalho escravo (2006-07). Esses fatos contribuíram para as medidas
recentes de certificação que o governo federal intenciona implantar para controle da
produção de carne na Amazônia e que vem gerando protestos de pecuaristas.
Aqui, como conclusão, é bom observarmos o que revelou uma pesquisa do
DataFolha, em abril/2009: “Brasileiro aceita pagar mais para produto com
certificação socioambiental” (81% dos entrevistados disseram que dariam preferência,
mesmo com preço um pouco superior, a produtos com certificação florestal) [ver
pesquisa completa em www.amazonia.org.br/arquivos/311527.pdf]. É impressionante,
segundo o DataFolha, que em 2006 o conhecimento do brasileiro sobre o “FSC – Forest
Stewardship Council” era nulo; e que agora, um quinto da população entrevistada (com
pequenas variações regionais) já tenha conhecimento do que se trata. E você, leitor(a) se
ainda não sabe o que esse certificado significa, é só ler o que extraí do Glossário de
Ecologia e Ciências Ambientais:
CERTIFICAÇÃO DE MATERIAL DE FLORESTAS Documento ou
certificado concedido aos explotadores de recursos florestais. O “FSC – Forest
Stewardship Council” (literalmente, em inglês, Conselho de Procuradoria (ou
Intendência) de Florestas) é a primeira instituição credenciadora de certificadores na
área florestal. É uma entidade não-governamental (sem fins lucrativos) internacional,
sediada em Oaxaca, México, tendo sido fundada em 1993, com o objetivo de promover
a conservação cuidando do credenciamento e monitoramento de certificadores de
florestas que estejam submetidas a práticas de bom manejo. O FSC recebe apoio do
setor ambientalista e pouco a pouco, também do setor empresarial e de governos de
diferentes países.
Acredito que muitas discussões virão sobre esta problemática: “comer ou não
comer carne não é só uma questão de princípios; e se for motivo de preocupação
sócio-econômica é bom lembrar que todo desenvolvimento sustentável somente
pode ser efetivado na seguinte ordem: desenvolvimento sustentável ecológico,
econômico e social”. Minha opção, como ecólogo e cidadão brasileiro: a carne bovina
não faz parte da minha alimentação.
35 
 

04 de julho de 2009
CARNEIRO NA ESCÓCIA DIMINUINDO DE TAMANHO COMO
INDICADOR ECOLÓGICO DE AQUECIMENTO GLOBAL

Newscientist, 02 de julho de 2009

Esta divulgação da revista semanal inglesa Newscientist informa que ao longo de 20


anos os invernos mais curtos causados pela mudança climática são responsabilizados
pelo encolhimento (redução de tamanho) de carneiro Soay (raça primitiva resultante de
cruzamento com o carneiro de raça doméstica; ver foto acima). Esta espécie vem sendo
estudada desde 1955, na ilha Hirta, no arquipélago de Santa Kilda, oeste da Escócia.
Pesquisadores do Imperial College (Londres), modificando a equação de Price
(referente a uma descrição matemática da evolução e seleção natural) exploraram os
efeitos de mudança ambiental e seleção natural procurando observar como tais
mudanças na seleção natural modificam uma população de uma geração para outra.
Nesse estudo os pesquisadores modificaram a equação de Price de maneira que ela
reproduzisse os efeitos de variáveis ambientais, como por exemplo o tempo (estado
atmosférico) e as estações do ano, na tentativa de observar como tais variáveis têm
mudado de ano para ano. Modificaram-na também de maneira que ela pudesse separar a
população em diferentes grupos de idade e que pudesse descrever as mudanças neles
ocorridas, separadamente. E isso lhes permitiu descobrir quais fatores têm afetado o
tamanho dos carneiros. A tendência num processo de seleção natural é de que os
carneiros gerem descendentes maiores, partindo do princípio de que os menores não
consigam sobreviver aos invernos rigorosos. Mas, segundo os pesquisadores, isso não
tem ocorrido devido ao que eles chamaram de “efeito da mãe jovem”, ou seja, uma
tendência para que no primeiro cruzamento a mãe gere um filhote menor do que ela
própria era quando nasceu.
Além disso, o modelo dos pesquisadores revelou que um dos fatores de maior
influência no tamanho foi o aumento gradual do aquecimento climático causado pelas
mudanças das correntes marinhas no fenômeno da Oscilação do Atlântico Norte, que
36 
 

têm produzido invernos mais curtos na ilha. E com isso, os carneiros menores se
beneficiam, sobrevivendo com facilidade nos invernos menos rigorosos.

04 de julho de 2009
BEBÊS CHINESAS VENDIDAS PARA ADOÇÃO (EM CONTINUAÇÃO
À POSTAGEM ANTERIOR)

BILINGÜE
BBC NEWS, 02 de julho de 2009

Esta nota, divulgada no site da BBC (Londres) mostra a situação caótica-desumana "a
que teremos nos acostumar" ao longo deste tão falado século XXI, o século das
conquistas tecnológicas e transformações.

INGLÊS: Rural couples are allowed two children under China's family planning laws.
Dozens of baby girls in southern China have reportedly been taken from parents who
broke family-planning laws, and then sold for adoption overseas.
PORTUGUÊS: Casais de zonas rurais são permitidos ter, sob as leis de planejamento
familiar na China, dois filhos. Dezenas de bebês meninas, no sul da China têm sido,
segundo se noticia, tomadas dos pais que quebraram as leis de planejamento familiar e
foram vendidas para adoção no exterior.
INGL.: An investigation by the state-owned Southern Metropolis News found that
about 80 girls in one county had been sold for $3,000 (£1,800).
PORT.: Investigação do "Soutrhern Metropolis News" [jornal] de propriedade do
Estado, descobriu que cerca de 80 meninas em um condado foram vendidas por
U$3.000,00 (ou 1.800 libras).
INGL.: The babies were taken when the parents could not pay the steep fines imposed
for having too many children.
PORT.: Os bebês foram tomados porque os pais não puderam pagar a multa exagerada
imposta por terem muitos filhos.
INGL.: Local officials may have forged papers to complete the deals, the report said.
PORT.: Autoridades locais podem ter forjado documentos para completar as
negociações, afirma o relatório.
INGL.:Unpopular policy
PORT.: Política impopular
37 
 

INGL.: Parents in rural areas are allowed two children, unlike urban dwellers who are
allowed one. But if they have more than that, they face a fine of about $3,000 -several
times many farmers' annual income.
PORT.: Os pais das zonas rurais são permitidos ter dois filhos, diferentemente dos
habitantes das zonas urbanas a quem são permitidos apenas um filho. Mas se eles têm
mais do que isso, têm que enfrentar uma penalidade de cerca de U$3.000,00 - valor
muitas vezes superior à renda anual de muitos fazendeiros.
INGL.: The policy is deeply unpopular among rural residents, says the BBC's Quentin
Somerville in Beijing.
PORT.: Essa política é profundamente impopular entre os residentes das zonas rurais,
afirma Quentin Somerville da BBC, em Beijing (Pequim).
INGL.: Nearly 80 baby girls in a county in Guizhou province, in the south of the
country, were confiscated from their families when their parents could not or would not
pay the fine, Southern Metropolis News said.
PORT.: Aproximadamente 80 bebês meninas num condado na província de Guizhou, no
sul do país, foram confiscadas de suas famílias uma vez que seus pais não podiam ou
não pagariam a multa, afirmou o "Southern Metropolis News".
INGL.: The girls were taken into orphanages and then adopted by couples from the
United States and a number of European countries. The adoption fee was split between
the orphanages and local officials, the newspaper said.
PORT.: As meninas foram levadas para orfanatos e daí foram adotadas por casais dos
Estados Unidos e vários paísis europeus. A taxa de adoção foi repartida entre os
orfanatos e autoridades locais, afirmou o jornal.
INGL.: Child trafficking is widespread. A tightening of adoption rules for foreigners in
2006 has proved ineffective in the face of local corruption.
PORT.: O tráfico de criança está se disseminando. Um aperto nas regras de adoção para
estrangeiros em 2006 provou ser ineficiente face à corrupção local.

05 de maio de 2009
SUPERPOPULAÇÃO: COMPROMETE A SUSTENTABILIDADE???
"Optimum Population Trust" "Towards environmentally sustainable
populations"
6.836.207.421
6.836.278.034
Os números que vemos acima foram registrados a partir do “tic-tac” do Relógio da
População Mundial: o primeiro foi registrado às 10 horas e oito minutos, na manhã
deste domingo, 17 de maio de 2009; e o segundo, ainda no domingo, mas às 17 horas e
26 minutos. Esta contagem refere-se ao crescimento da população humana no nosso
planeta, sendo mostrada em tempo real no site http://www.optimumpopulation.org/.
Este é mantido pela “Optimum Population Trust” “towards environmentally sustainable
populations”, que significa literalmente, Fundação da População Ótima, direcionada a
populações ambientalmente sustentáveis. A velocidade com que os números aumentam
impressiona tanto quanto a velocidade com que nos deparamos diariamente com os
38 
 

problemas mundiais. Acrescentem-se aos problemas da rotina diária mundial da luta


pela sobrevivência, os impactos ambientais (os “acidentes de percurso”) que nos
acostumamos a chamar de tragédias: secas, tempestades de neve, chuvas torrenciais,
enchentes, terremotos, incêndios em florestas, furacões etc. E no meio dos eventos
geoclimáticos, o ser humano que “quando escapa com vida de tais tragédias”, corre o
risco cada vez maior de morrer de fome ou como vítima da assistência precária de
governos para amenizar seu sofrimento. Pelo menos é isso que acontece com a maioria,
pobre. Fatos estes aos quais também nos acostumamos. Isto sem falar da má qualidade
de vida, que a cada dia atinge parcelas maiores da população mundial.
Nossos recursos naturais (a fonte de vida do planeta) estão sendo consumidos em
taxas que vêm se tornando difícil serem mantidas nos “níveis sustentáveis”. O consumo
dos recursos aumenta nas classes sociais de maior poder aquisitivo. A parte melhor
desses recursos: para os ricos. A sobra: para pobres e miseráveis. A má distribuição de
renda e o aumento no número de pessoas ditas pobres (se não miseráveis), que
consomem apenas um mínimo, formam o quadro geral da dificuldade em se manter a
sustentabilidade com boa qualidade de vida (é bom não esquecermos!). Um paradoxo:
estatísticas mundiais revelam que as taxas de natalidade vêm caindo espontaneamente.
Estima-se que dois terços dos casais nos países em desenvolvimento utilizam controle
de natalidade. Bangladesh e Irã são exemplos de que se for dada oportunidade às
pessoas, estas terão menos filhos. Ações coercivas de controle da natalidade, como a
praticada na China, em que as pessoas são pagas para não terem filhos, vêm sendo
abandonadas devido a resultados duvidosos e por gerarem conseqüências trágicas (um
exemplo: bebês do sexo feminino abandonados por representarem “prejuízos como
força de trabalho”).
Segundo a especialista Debora Mackenzie, consultora da revista inglesa New
Scientist, na Ásia e América Latina cada mulher gera, em média, 2,5 bebês. A maioria
das mulheres afirma que gostaria de ter menos filhos. Um em cada cinco nascimentos e
36 milhões de abortos nos países em desenvolvimento não aconteceriam se às mulheres
fosse dada a chance para que tal não acontecesse.
A ONU prevê que no ano 2050 a população mundial atingirá 9,2 bilhões. Mesmo
que cada mulher venha a gerar a partir de agora, apenas duas crianças, a população
mundial será de 8,5 bilhões. Um excesso às condições de sustentabilidade com boa
qualidade de vida. Em alguns países, como na África, calamidades como a AIDS têm
levado famílias a aumentarem sua prole, uma vez que mais filhos significam
compensação pelas que morreram e maior ajuda na sobrevivência no campo. SE as
meninas de países em desenvolvimento tivessem maior e melhor acesso à educação, é
bem possível que os excessos de nascimentos pudessem ser controlados; ou seja,
meninas teriam a oportunidade de entender melhor seu papel na sociedade, igualando-se
à força de trabalho masculina, não gerando filhos precocemente (no início da
puberdade, como muito acontece hoje) e gerando menos filhos. Quisera Deus que tal
acontecesse na África, Ásia e América Latina!!!
O órgão das Nações Unidas “UNFPA” (Fundo das Nações Unidas para a
População) prevê que alimento e água são temas críticos para os países em
desenvolvimento, devido principalmente à pobreza, instabilidade política, e ineficiência
39 
 

econômica e desigualdade social. Especialmente para os países subsaarianos. A “FAO –


Food and Agricultural Organization” (organização para alimentos, também ligada à
ONU) prevê que até 2020 a produção de alimentos tenha que duplicar para atender à
crescente população mundial.
Educação, planejamento familiar, além de distribuição mais justa da renda, em
suma, justiça social, são pontos essenciais para se começar a pensar em controle
populacional humano. Enquanto isso não acontece, a observância aos outros aspectos
fundamentais da sustentabilidade, como a capacidade suporte dos ecossistemas, deve ser
praticada. Antes que seja tarde!

03 de maio de 2009
AQUECIMENTO GLOBAL E SAÚDE
Em sua edição eletrônica de março/2009, a revista norte-americana “Scientific
American Earth 3.0” (assim denominada), divulga artigo da Dra. Katherine Shea, Prof.
Adjunto de saúde materna e da criança, da Universidade da Carolina do Norte, sob o
título “Global Warming and your Health” (Aquecimento Global e sua Saúde). Este
assunto, segundo a própria autora, é “uma ladainha dos impactos diretos associados à
mudança global”. Esta autora trata sobre a incidência de asma e alergias, ambas ligadas
a problemas respiratórios. Associar aquecimento global a doenças torna-se necessário
considerar os seguintes ângulos de abordagem: (i) prevalência de doenças como essas
estudadas por SHEA, asma e alergias respiratórias, e (ii) disseminação de doenças
infecciosas, como foi abordado por “LAFFERTY, K.D. (2009) The ecology of climate
change and infectious diseases. Ecology, 90 (4): 888–900”.

Comecemos por este último aspecto, abordado por LAFFERTY (2009), que
analisa com significativo número de citações bibliográficas, as relações entre clima e
ocorrência e dispersão de doenças infecciosas. Ele considera que enquanto as projeções
iniciais sugerem aumentos dramáticos futuros na faixa geográfica das doenças
infecciosas, modelos recentes prevêem mudanças nas faixas de distribuição de doenças
com pouco aumento na área de distribuição. E uma vez que muitos fatores podem atuar
sobre doenças infecciosas, alguns poderão obscurecer os efeitos advindos do clima. Mas
é importante observar a afirmação de LAFFERTY, de que a alta diversidade de doenças
infecciosas nos trópicos poderia ser resultante da alta diversidade de seus vetores. E
ainda: a inabilidade de doenças tropicais de seres humanos em disseminar, a partir dos
trópicos para as regiões temperadas pode se dever à alta proporção de doenças tropicais
que têm vetores específicos (80% tropicais versus 13% temperados) e/ou reservatórios
animais silvestres (80% tropicais versus 20% temperados). Muitos trabalhos são citados
por LAFFERTY (2009) reportando sobre aumento de temperatura beneficiando os
vetores de doenças, como por exemplo: experimento com a esquistossomose, causada
pelo parasita trematódeo, mostrou que as cercarias são sensíveis ao aumento de
temperatura (conforme relatado por “POULIN, R. (2006) Global warming and
temperature-mediated increases in cercarial emergence in trematode parasites.
Parasitology, 132: 143–151”).
40 
 

Os insetos vetores de doenças, como os mosquitos da malária e das febres


amarela e dengue, são bastante sensíveis às condições meteorológicas (conforme
relatado por “BRAASCH, G. (2007) Earth Under Fire: How Global Warming is
Changing the World. Berkeley, University of California Press, 267p.” e já comentado
numa das postagens mais antigas neste blog de ecologia). Apenas um exemplo mais
recente: uma ressurgência da dengue na América Latina atingiu Buenos Aires. Em
09/04/2009 foram confirmados mais de 150 casos nessa capital (segundo divulgação
“online” de NATURE (2009)).

E agora, alguns trechos do artigo objeto desta postagem. Vejamos o que afirma a
Dra. SHEA sobre a asma e alergias associadas ao aquecimento global: (a) as pessoas
mais vulneráveis a esses dois males são os idosos, as crianças e os enfermos; (b) esses
males são epidêmicos nos países desenvolvidos, cujo número de afetados é crescente;
(c) somente nos EUA pelo menos 50 milhões de pessoas sofrem de alergias, a um custo
anual de U$18 bilhões ao sistema de saúde; (d) a asma afeta um em cada 14 americanos
adultos e um em 10 crianças, sendo neste caso a principal responsável pelas ausências
escolares; (e) quanto mais expostas as pessoas estão ao ar poluído e grãos de polens,
piores são os sintomas, aumentando a probabilidade de desenvolverem processos
alérgicos. Observa ainda a Dra. SHEA: a mudança climática tem se mostrado (por
diversos pesquisadores) como causadora do aumento nas concentrações de poluentes
atmosféricos que desencadeiam essas doenças, principalmente o ozônio e os grãos de
polens. O ozônio é o componente primário do “smog” ("smoke" + "fog" ou seja, fumaça
+ nevoeiro, comuns em cidades como Los Angeles (EUA) e Londres (Inglaterra). A
exposição ao ozônio durante a infância pode retardar o crescimento e desenvolvimento
pulmonar e contribuir para novo aparecimento de asma, que pode surgir em qualquer
idade. A maioria dos precursores do ozônio provém da queima de petróleo e carvão
mineral, surgindo da ação dos raios solares atuando sobre esses poluentes.

Sobre as ações dos grãos de polens a Dra. SHEA relata que a “febre do feno”
potencializa ataques de asma e que há vários estudos apontando que o aumento global
de temperatura provoca antecipação e alongamento da estação de produção de polens. E
ainda: há certas plantas, como a erva-de-santiago ou tasneira (“ragweed”) que produz
substâncias alergênicas em quantidades mais elevadas, agravando-se a asma em pessoas
mais sensíveis, estando no ar concentrações mais elevadas de dióxido de carbono (um
dos gases mais eficientes do aquecimento global). Conclui ela: não há dúvida de que o
aquecimento global promove sofrimento respiratório. Pessoas em risco devem evitar
sair de casa e evitar esforços físicos nos dias críticos, quando há informações sobre ar
poluído e “infestado” com grãos de polens. Orientação às pessoas sobre como entender
os índices divulgados sobre poluição e agentes da febre do feno, e ainda, e não menos
importante sobre atendimento e medicação adequada é fundamental.

Não há exagero em lembrar que a onda de calor que atingiu a Europa tenha coincidido
com a morte de umas 52 mil pessoas no verão de 2003; na França, mais de 10 mil, onde
em Paris a temperatura alcançou 40 graus Celsius; e quase outras tantas na Itália.
41 
 

Sabemos que o aquecimento global tem se mostrado como fator de preocupação


maior no hemisfério norte, principalmente nas grandes latitudes. E nós que vivemos em
latitudes mais baixas, mais próximo do equador e numa região naturalmente mais
quente, estariamos imunes a efeitos desse tipo, com o aquecimento global???
Precisamos realizar estudos, antes de responder!

06 de abril de 2009
ALGUMAS PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A “GRIPE SUÍNA”
[New Scientist, 26 de abril de 2009]
Pergunta: Posso comer carne de porco?
Resposta: De início é bom esclarecer que a denominação “gripe suína” NÃO quer dizer
que seja um vírus que infecta suínos, mas sim pela semelhança de uma de suas proteínas
com as proteínas de vírus que geralmente infecta esses animais. Tal vírus ainda não foi
detectado em porco, mas sim em seres humanos.
P.: Quem deve se preocupar?
R.: Há motivos para preocupações ao se observar que dentre as 81 pessoas afetadas,
com várias mortes (até 26/abril/2009) com essa gripe no México, a maioria era jovens
adultos. Portanto, seu potencial mortal pode ser grande. Resta saber quão severo é seu
potencial de disseminação.
P.: Poderá se disseminar para outros países, podendo chegar ao Brasil?
R.: As viagens internacionais, hoje, são muito comuns e freqüentes. Há informações de
que alguns países já estão utilizando câmeras de raios infravermelhos, nos aeroportos,
para detectar pessoas com febre e que estejam vindo de locais conhecidamente afetados
(do México e Estados Unidos).
P.: E qual é seu potencial de disseminação?
R.: Como as pessoas infectadas nos Estados Unidos não entraram em contato com
porcos, nem comeram carne de porco, e nem tiveram contato umas com as outras, sabe-
se que esse vírus é transmitido entre seres humanos, suspeitando-se que foram
necessárias algumas semanas para que isso acontecesse. Investiga-se agora que tipo de
contato essas pessoas tiveram com outras possivelmente infectadas; e daí podermos
ficar sabendo sobre quão facilmente (ou não) o vírus se dissemina.
P.: Há medicamento e vacina contra a gripe suína?
R.: Não há vacina disponível. A gripe tem se mostrado suscetível ao medicamento
antiviral “Tamiflu”; sem se saber por quanto tempo permanecerá assim ou se
desenvolverá resistência.
P.: Qual seria então o motivo para tanta preocupação? Há risco de pandemia?
R.: É possível. Principalmente porque é mais um “novo vírus”. E como vírus de gripe
está sempre “evoluindo”, ou seja, a maioria sofre modificações estruturais nas proteínas
de sua superfície (do envelope), cada novo vírus dispõe de mecanismos para “enganar”
as defesas de nosso sistema imunológico. Conhecem-se hoje 16 diferentes famílias de
vírus com diferentes proteínas de superfície; além do fato de que os vírus trocam entre
si genes. Um exemplo de possível resultado: proteínas de superfície de vírus de porco
ou de vírus da gripe aviária poderão circular entre pessoas. Daí, uma pandemia poderia
ocorrer. O vírus da gripe suína é da família de vírus H1N1; a mesma família de vírus da
pandemia de 1918, a gripe espanhola que matou cerca de 50 milhões de pessoas.
Observações: 1) a gripe aviária, vírus da família H5N1, segundo a OMS –
Organização Mundial de Saúde, matou 257 pessoas em 2003, das 421 infectadas (de 15
42 
 

países); 2) gripes estacionais (ou sazonais) matam a cada ano no mundo, entre 250 mil e
500 mil pessoas; e a cada poucas décadas surge uma nova linhagem de gripe que pode
ser pandêmica.

09 de abril de 2009
NA ANTÁRTICA A PERDA E O GANHO DE GELO COMPROVAM
AQUECIMENTO GLOBAL

PERDA DE GELO. A notícia já percorre o mundo, via “cyberspace”: uma ponte


de gelo (Wilkins) ligando duas ilhas na Antártica, Charcot e Latady, rompeu-se. As
fotos acima (imagens do “Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer – MODIS”,
instalado no satélite Aqua, da NASA) mostram o rompimento. Na imagem da esquerda
(de 31/março/2009) vê-se a ponte ainda intacta, apresentando a aparência “lisa”, sem
quebras. Poucos dias depois (em 06/abril/2009) foi obtida outra imagem, a foto da
direita, em que a ponte aparece despedaçando-se. Desde 2008 a “European Space
Agency” vem acompanhando a existência e quebra da ponte de Wilkins. A ponte
Wilkins é a décima, das maiores plataformas, a sofrer colapso nos anos recentes. Uma
prova de que há elevação de temperatura perturbando o frágil equilíbrio da criosfera do
nosso planeta.
Embora o colapso dessa ponte de 13 mil km quadrados não exerça ação direta no
aumento do nível do oceano, sua desintegração indiretamente reduzirá a estabilidade das
geleiras que “a alimentam”. Christian Lambrechts, do departamento de advertências e
estudos da “UNEP – United Nations Environment Programme” (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente) afirma que tal colapso exporá nova área da superfície do
43 
 

oceano, que assim absorverá mais radiação solar, contribuindo para o contínuo e
acelerado aquecimento da região. A lição maior aprendida com esse fato é de que as
modificações na Antártica estão ocorrendo mais rápido do que se pensava. No início da
década de 1990 estimava-se que em 30 anos ocorreriam fenômenos como esse. E ainda,
segundo a pesquisadora Angelika Humbert, do Instituto de Geofísica da Universidade
Münster, Alemanha, isso serve como advertência de que as plataformas de gelo da
Antártica são potencialmente instáveis em escalas curtas de tempo.
GANHO DE GELO. A revista inglesa “New Scientist” já divulgara em
01/junho/2002, em artigo intitulado: “Está mais quente mas, há mais gelo”, que apesar
das notícias sobre colapso de plataformas de gelo, há acréscimos de uns 200 mil
quilômetros de gelo na Antártica. Mas os céticos do aquecimento global talvez
concordem (ou não) com a seguinte possível explicação: um aumento da precipitação de
neve vem ocorrendo como resultante de maior umidade proveniente da evaporação da
água devido ao aumento da temperatura. Com isso, análises de dados obtidos nos
últimos 20 anos de observação das imagens de satélite contradizem as previsões de que
metade do mar de gelo da Antártica desaparecerá no século vindouro. Ou seja, as
precipitações extras de neve superariam o derretimento das geleiras pelo aumento da
temperatura atmosférica (do aquecimento global). Estima-se que o mar de Ross tenha
mais 13% de gelo do que em 1979. Mas há observações de que tal crescimento em
geleiras é localizado; e que em algumas áreas o derretimento supera o acréscimo de
geleiras. Algumas geleiras, como a de Larsen, tem ciclos de acréscimo e derretimento.
Mais geleiras mais água doce no oceano e daí... com esse aumento o oceano
torna-se mais estável, reduzindo-se a transferência de calor proveniente de sua zona
mais profunda. Isso facilita o congelamento da água, que assim refletirá mais a radiação
solar incidente, contribuindo para reduzir (vagarosamente) o efeito do aquecimento
global. Essa situação na Antártica está em contraste gritante com a região Ártica, onde
já vêm sendo registradas perdas de 40% da camada de gelo de verão nos últimos 50
anos.

07 de abril de 2009
“OVOS DE CHOCOLATE” SOB CRESCENTE AMEAÇA DA
VASSOURA DE BRUXA (NO BRASIL) E DE VIRUS (NA ÁFRICA) [ou
RISCOS DA MONOCULTURA]

Newscientist, 08/abril/2009
Chegou a época novamente, dos ovos de chocolate e as vendas desse símbolo, pagão
e cristão do renascimento, estão mais fortes do que nunca. Mas a “caçada” por ovos de
páscoa pode realmente acontecer no próximo ano, porque os cacaueiros estarão em
44 
 

maus lençóis. O vírus do cancro caulinar (em inglês “cocoa swollen shoot vírus –
CSSV”) poderá matar as árvores e ameaçar derrubar a produção da primavera deste ano,
em um terço, num dos maiores produtores mundiais de cacau: a Costa do Marfim (oeste
da África, região responsável por 70% da produção mundial). Enquanto isso, o fungo
“vassoura de bruxa” (Crinipellis perniciosa) faz o mesmo no Brasil. Pesquisadores do
“CRIG – Cocoa Research Institute of Ghana” ao tempo em que se apressam em
seqüenciar o genoma do cacaueiro para encontrar genes que possam resistir ao “CSSV”,
encontraram variedades com resistência parcial ao vírus. Ray Schnell e colegas, de
laboratório do “US Department of Agriculture” em Miami, Florida, tentam apressar o
processo mapeando o gene (e afirmam que isso seria bem mais fácil se o genoma do
cacaueiro já tivesse sido mapeado). E assim, se tentará obter por cruzamento, linhagens
de cacaueiros que possam resistir ao vírus. Enquanto isso, só resta aos fazendeiros da
região (desprovidos de recursos), queimar os cacaueiros contaminados e expandir o
cultivo para novas áreas.
É praticamente impossível evitar que os cacaueiros se contaminem porque o vírus,
endêmico, provém de árvores nativas (algumas delas importantes para sombrear os
cacaueiros), de onde surgem e se disseminam através de um vetor, um inseto, a
cochonilha (Maconellicoccus sp) [conhecido.em inglês como “mealy bug”, literalmente,
bicho farináceo]. Segundo o pesquisador inglês Paul Hadley, da Universidade de
Reading, um fator que promove a disseminação dessa praga é o fato de que o cacaueiro
(originário da úmida Amazônia) vem sendo cultivado em extensos plantios
(monocultura) em regiões secas da África, onde as árvores sob estresse hídrico são
menos aptas a resistir à praga. A carência de recursos para uso de fertilizantes agrava a
situação. Embora novos estoques genéticos de cacaueiros da América do Sul estejam
sendo selecionados para a África, medidas de precaução, como uma quarentena de dois
anos e mais hum ano experimental, retardarão em três anos para que se inicie a
contornar tal problema. Se obtido resultado positivo desse procedimento, será produzido
um “kit” que poderá ser usado pelos fazendeiros africanos para selecionar plantas
resistentes ao “CSSV”. Já se usa no centro de pesquisas de Gana (no “CRIG”), um “kit”
semelhante para combater o fungo da podridão parda (Phytophthora sp).

05 de abril de 2009
ÁGUA: O GRANDE DESAFIO DESTE MILÊNIO
45 
 

[Contribuição de SANDRA LIMA - ver endereço no final do texto - fotos: rio Paraguai]
Comemoramos o “dia mundial da água” marcado pela tomada de consciência diante
do quadro em que se encontram os recursos hídricos. A sensibilização geral já vem
acontecendo durante décadas, mas com os cenários projetados torna-se imprescindível
que cada habitante se conscientize acerca do uso e da disponibilidade real da água no
mundo.
Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) seguindo as recomendações da
Eco-92, conferência realizada no Rio de Janeiro, estiveram nas pautas anuais, além dos
vários estudos e discussões, temáticas como vida, saúde, escassez, saneamento,
disponibilidade, ações e cuidados, questões de gênero, águas subterrâneas, entre outros.
A “Declaração Universal dos Direitos da Água” caracteriza este precioso bem ambiental
como seiva do planeta, patrimônio da humanidade, direito fundamental, condição
essencial de sobrevivência, bem de valor econômico e recurso insubstituível. Deve ser
utilizado racionalmente com precaução e parcimônia, determinando responsabilidades
para conservação e preservação em águas superficiais ou subterrâneas, tanto do
indivíduo quanto dos governos.
A sobrevivência dos seres vivos traduz a necessidade de uma gestão consciente, pois
atualmente a prática de uso extrapola os limites recomendados de 40 litros dia/habitante
(nas regiões em que o consumo ainda é possível). Estima-se que são gastos em média
200 litros no Brasil, enquanto que dados da ONU confirmam que nos EUA a média é de
575 litros e em Moçambique 10 litros por cada pessoa. Milhões de pessoas já sofrem
com a ausência desse recurso estratégico de governança e essencial à vida.
Considerando que o ciclo hidrológico continua o mesmo há milhares de anos, em
contraste com previsões de que a água pode desaparecer do planeta, torna-se urgente a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9433/97) que
estabelece a gestão integrada da água em todas as suas características, destacando a
formação dos Comitês de Bacias Hidrográficas como parlamento de discussão e adoção
46 
 

de medidas pertinentes. A qualidade e a quantidade de água potável vêm diminuindo a


cada dia e consequências como a transmissão de doenças, queda na produção de
alimentos e conflitos entre nações já estão “naturalizadas” no cotidiano das pessoas.
Dentre as causas, estão os problemas como enchentes, abastecimento precário, acúmulo
de resíduos doméstico/industriais nos mananciais, além do desmatamento das florestas e
das matas ciliares.
As águas transfronteiriças, as compartilhadas por Estados e países, como é o rio
Paraguai é o tema principal de 2009. Para isso as nações devem promover as
oportunidades de cooperação na gestão e garantir que gerações presentes e futuras
possam compartilhar desse bem, pois não importa em qual trecho do rio vivemos,
estamos todos no mesmo barco. A região pantaneira precisa desmistificar “a pseudo
abundância” dos recursos hídricos, presente nos discursos políticos e acadêmicos, já que
realidades como a falta de água nos assentamentos; ausência de saneamento ambiental;
falta de controle e fiscalização da geração, destinação e tratamento dos resíduos;
contaminação do agronegócio e outras atividades humanas; assoreamento dos rios e
extinção das nascentes contribuem para o agravamento da situação e devem ser
discutidos por todos em busca de ações e soluções.
Vivenciamos o Decênio Internacional para a Ação Água (2005-2015) e a
conservação e preservação é responsabilidade de todos. A população pode ajudar a
diminuir esses impactos, seja evitando o desperdício ou ainda cobrando dos governos
políticas de recuperação, revegetação e preservação dos mananciais e regularização do
uso e ocupação do solo. Será que realmente pensamos na falta que a água faz em nossas
vidas?
Sandra Lima é Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade do Estado de
Mato Grosso. Contato: Sanlima11@hotmail.com

12 de março de 2009
A SUSTENTABILIDADE EM CAPÍTULOS: III – BREVES
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SERVIÇOS AMBIENTAIS MARINHOS
47 
 

Durante séculos o mar foi objeto de desafios para o ser humano. De caminhos para
as descobertas de novas terras, no desejo humano de expandir seus domínios, passando
por palco de batalhas, sustento de civilizações, chegando até a servir como o maior
receptor de produtos e subprodutos gerados e rejeitados pela humanidade, em toda sua
existência na Terra ao longo de seus 10.000 anos de processo civilizatório.
Proporcionalmente à imensidão de suas dimensões seriam os assuntos ou temas para
estudos e discussões que os oceanos geram. Vejamos uma “micro-amostra” de tais
assuntos.
O capital natural dos oceanos. O petróleo. Refere-se este capital aos recursos de
que dispõem os oceanos e que vêm sendo utilizados pelo homem. O petróleo, por
exemplo, é um desses recursos, resultante de 100 – 500 milhões de anos, em que
vegetais e animais após morrerem se degradaram em grandes profundidades, tanto na
terra como nos sedimentos dos oceanos. O petróleo depois de extraído e refinado torna-
se um capital produzido pelo homem.
Após beneficiar-se desse gigantesco capital natural pergunta-se: que retorno o ser
humano propicia à Natureza como “pagamento por tal serviço”? [veja “Serviços
Ambientais” numa das postagens anteriores neste blog]. Não tenho conhecimento da
existência de alguma ação positiva nesse sentido! Até os vazamentos e derrames de
petróleo no mar são tratados com pouca eficiência. Problemas ambientais causados pela
Petrobrás no Rio de Janeiro e no Paraná nos fazem crer que mesmo as grandes
empresas, com grandes lucros financeiros, não se interessam em investir na preservação
de possíveis "acidentes" e parecem preferir correr riscos em causar danos à Natureza.
No site http://www.veja.com/ foi anunciado em 11/11/2008 que a Petrobrás teve, nesse
ano, um lucro líquido de R$26,56 bilhões. A complacência das autoridades aliada ao
descaso da sociedade, que logo esquece o que ocorreu, deixa-nos simplesmente à espera
da próxima tragédia.
Potencial pesqueiro. O crescimento populacional humano, ajudado pelo
desenvolvimento da tecnologia aplicada à pesca, vem aumentando o consumo de peixes,
ostras, mamíferos aquáticos e outros organismos consumíveis, de maneira assustadora.
Estima-se que certa espécie de peixe que venha a tornar-se alvo principal da indústria
pesqueira, sofrerá baixas em seu estoque em cerca de 80% dentro de 10 a 15 anos.
Pesquisadores estimam que o “fishprint” (ou pegada ecológica do peixe, poderíamos
assim traduzir), que se define como a área do oceano necessária ao consumo de pescado
por uma pessoa ou nação ou o mundo, vem atingindo o percentual insustentável de
157%, devido à explotação conjunta das nações.
O que o avanço tecnológico vem causando aos estoques? Eis um modelo simples do
comportamento da relação PREDADOR ─ PRESA (ver figura acima). O predador é o
homem; e a presa é o peixe. No quadrante superior esquerdo observa-se que ambos
estão em equilíbrio (sinal positivo); segue-se a esta situação o que está representado no
quadrante superior direito, em que a presa, sendo capturada em grande quantidade pelo
predador, tem seu estoque reduzido; e assim o predador continua positivo tornando-se a
presa negativa. Seria natural, nesta circunstância desse quadrante, que o homem se
retirasse do local (seria o quadrante inferior direito, em que predador e presa têm sinal
negativo). Mas a tecnologia oferece ao homem recursos tecnológicos avançados (radar,
48 
 

sonar, avião localizador de cardumes... e eficiente equipamento de captura) sendo ele


assim capaz de localizar e capturar cardumes escondidos nas profundezas do mar ou
atrás de rochas submersas etc. Na Natureza, o predador ao se retirar, propicia a
recuperação da presa (quadrante inferior esquerdo). E assim a situação voltaria ao ponto
inicial (quadrante superior esquerdo). Mas com o uso da tecnologia atual a presa corre
risco de extinção.
Os equipamentos atuais de pesca, como a gigantesca rede de arrasto (com dimensão
suficiente para “engolir 12 jatos jumbo”), variados tipos de “gaiolas” destinadas à
aqüicultura em águas rasas e profundas, são alguns dos artifícios modernos que vêm
contribuindo em larga escala para a redução dos estoques de peixes.
Japão e Noruega desafiam a Comissão Baleeira Internacional quando capturam
anualmente (cada um desses países) 1000 baleias mink, alegando propósitos científicos.
Islândia e Rússia também reivindicam tal procedimento, explicando tratar-se de nações
que têm tradição cultural e econômica em utilizar esses cetáceos. No Japão, no famoso
restaurante Kujiraya, em Tóquio, que serve entre 200 e 300 refeições com carne de
baleia, um prato desta iguaria custa em média 1300 ienes (ou U$10.30). A 54ª. Reunião
da CBI, a realizar-se em maio/2009, “no próprio Japão”, receberá mais pressões desse
país para liberar a caça à baleia.
A estatística mostra que “para cada pessoa morta por tubarão, 1 milhão desses
animais são mortos por pessoas”. A barbatana desse animal, usada em países asiáticos
para preparar sopa e remédio para um “sem-número” de doenças, alcança no mercado o
preço médio de U$10 mil (dólares americanos) (já foram detectados níveis tóxicos de
mercúrio em barbatanas de tubarão). Há mais de 400 milhões de anos que esse animal
existe. A redução do estoque de tubarões vem causando aumento na população de raias
(arraias), das quais eles se alimentam.

10 de março de 2009
A SUSTENTABILIDADE EM CAPÍTULOS: II – ECOSSISTEMAS
MARINHOS: POUCO ESTUDADOS E MAL COMPREENDIDOS
49 
 

MANGUEZAL, Rhizophora mangle - Bragança-PA

Diagrama representativo de um manguezal, com


alguns dos seus principais componentes bióticos

Componentes bióticos do manguezal representado


no diagrama anterior
50 
 

Lista dos componentes bióticos do manguezal


representado nos diagramas anteriores
1- Spartina brasiliensis (gramínea)
2- Usnea barbata (barba-de-velho)
3- líquen incrustante
4- Rhizophora mangle (mangue-vermelho ou bravo)
5- Avicenia schaueriana (mangue-seriba ou seriúba)
6- Laguncularia racemosa (mangue-branco)
7- Hibiscus tiliaceus (hibisco ou algodãozinho-da-
praia)
8- Acrosticum aureum (samambaia do mangue)
9- Ardea cocoi (garça-cinzenta)
10- Ardea alba (garça-branca-grande)
11- Eudocimus ruber (guará)
12- Aramides mangle (saracura-do-mangue)
13- Cardisoma guanhumi (guaiamu)
14- Ucides cordatus (caranguejo-uçá)
15- Goniopsis cruentata (maria-mulata ou aratu)
16- Callinectes sp. (siri-azul)
17- Uca uruguayensis (chama-maré)
18- ninho de termita (cupinzeiro)
19- Crassostrea rhizophora (ostra-do-mangue)

Mar aberto, fundo do oceano e zona costeira, constituem-se nas três grandes zonas
de ¾ da superfície do nosso planeta. Estima-se que gerem produtos e serviços
superiores a U$12 trilhões (dólares americanos) por ano. Uma cifra aproximadamente
igual ao PIB dos Estados Unidos. E sobre a maioria dos ecossistemas que fazem parte
do sistema marinho, continuamos tendo uma visão limitada, se não bastante distorcida.
Tais ecossistemas são reservatórios de imensurável biodiversidade; e conhecê-los com
profundidade requereria recursos humanos e tecnológicos de que ainda estamos longe
de dispor.
A elevada produtividade da zona costeira. Do ponto em que as altas marés
atingem nas costas dos continentes e ilhas até o declive suave da plataforma continental
marinha, situa-se a zona costeira; que embora seja apenas 10% da área oceânica
mundial contém 90% de todas as espécies marinhas, sendo o centro da produção
pesqueira comercial. Seus principais ecossistemas são: estuários, com “salt marshes”
(brejos salinos) nas regiões temperadas e manguezais nos trópicos; recifes de corais; e
lagunas costeiras e brejos flúvio-marinhos. A maioria é detentora de alta produtividade
primária líquida. Vejamos alguns destaques desses ecossistemas.
Os estuários. Nos locais onde os rios despejam suas águas no mar, formam-se os
estuários. Caracterizam-se os estuários por grande diversidade de habitats, concentrando
altos valores de entrada de nutrientes (viabilizada pela convergência de fluxos de águas
fluviais, correntes marinhas, lixiviação de solos circunvizinhos os mais diversos),
ventos, precipitação pluvial abundante, além de intensa radiação solar penetrando
facilmente nas suas águas rasas... todos esses fatores possibilitando elevada riqueza de
biodiversidade. Tais ambientes propiciam condições favoráveis à reprodução de várias
espécies que vivem sua fase adulta no mar. As figuras acima ilustram sua grande
complexidade, em termos de habitats e biodiversidade [esquemas reproduzidos de
divulgação do Instituto de Biociências da USP].
Dezenas de espécies de algas marinhas, rica concentração de espécies do
fitoplâncton (algas microscópicas) e do zooplâncton (animais microscópicos) formam a
51 
 

base da cadeia alimentar e variados tipos de teia alimentar que tornam os estuários um
ecossistema de elevada produtividade ecológica. Um exemplo: nos manguezais do rio
Paraíba, principalmente no município de Várzea Nova (na “grande João Pessoa”), a
produção de carne de caranguejo alcança cerca de 600 kg por hectare por ano.
Além da produção de alimentos, os manguezais nos estuários provêem importantes
serviços ambientais (ecológicos e econômicos). Filtram os poluentes provenientes da
lixiviação ocorrida nas margens dos rios (agrotóxicos, fertilizantes) e resíduos de
despejos industriais e de águas residuárias em geral. Atuam também como zonas de
amortecimento de impactos causados por enxurradas, vendavais, furacões, picos de
marés muito elevadas...; e têm também, historicamente, servido como fornecedores de
lenha para vários usos.
Estimativa da FAO (“Food and Agricultural Organization”), da ONU, revela que de
1980 a 2005 nosso planeta perdeu pelo menos 1/5 dos manguezais, principalmente pelas
ações antrópicas.
Um estudo de caso de degradação de estuários: Chesapeake Bay, nos E.U.A.
Vimos no capítulo anterior (da série “A Sustentabilidade em Capítulos”, neste blog) que
o quarto princípio científico da sustentabilidade é o CONTROLE POPULACIONAL. A
população humana vivendo nas proximidades dessa baía (formada a sudoeste de
Washington, D.C., na costa atlântica entre os estados de Delaware e Maryland) foi dado
em 1940 como sendo de 3,7 milhões de pessoas; e em 2007 atingiu 16,6 milhões. O
estuário recebe água residuária de uma bacia de drenagem composta por 9 rios e 141
riachos e córregos provenientes de seis Estados americanos. São comuns ali ocorrências
de “algal bloom” (explosões, de crescimento, de populações de algas) devido às altas
concentrações de fosfato e nitrato nas suas águas poluídas. A produção de ostras,
caranguejos e peixes caiu muito desde os anos de 1960. As ostras são eficientes
filtradores, retendo o excesso desses compostos responsáveis pela dita explosão de
algas. Portanto, a pressão antrópica sobre a Baía de Chesapeake é certamente o principal
causador de sua degradação.
Projeção catastrófica. Em 2006 viviam nas áreas costeiras 45% da população
humana mundial; em 2040 há expectativa de que tal população seja de 80%.

07 de março de 2009
A SUSTENTABILIDADE EM CAPÍTULOS: I - OS 4 PRINCÍPIOS
CIENTÍFICOS DA SUSTENTABILIDADE
52 
 

Percentuais 
de: 

População 

Crescimento 
populacional 

Expectativa  anos
de vida  anos

Riqueza e 
renda 

Uso de 
recursos 

Poluição e 
resíduos 
gerados 

Países  Países em 
desenvolvidos desenvolvimento   

1. Produção (vegetal e animal) a partir da energia solar e dos elementos químicos


(terrestres e aquáticos).
2. Biodiversidade (ou diversidade biológica).
3. Biogeociclagem.
4. Controle populacional.
Nossa condição atual de vida na Terra resulta de cerca de 3,5 bilhões de anos de
existência evolutiva. Percorremos um longo caminho até o período atual em que o
homem vem começando a compreender sua função (ou nicho ecológico) na Natureza.
Os 4 princípios científicos da sustentabilidade acima enumerados, constituem-se no
que hoje entendemos como a base dos três tipos de desenvolvimento sustentável: o
ecológico, seguido do desenvolvimento econômico, que potencializa o desenvolvimento
sustentável social. Exatamente nesta ordem. Nessa listagem acima, observamos que o
ponto inicial é um recurso natural tido como abundante e inesgotável: a energia solar,
que adicionada dos elementos químicos existentes nos solos e nas águas, potencializam
a produção. O item seguinte, a biodiversidade, é um potencial cuja existência (e
disponibilidade de uso pelo ser humano) depende não somente das condições naturais
(geoclimáticas) mas também, e fortemente, das ações antrópicas (causadas pelo
53 
 

homem). A biogeociclagem é um processo regulador natural, que vem sofrendo


influências antrópicas crescentes.
O crescimento populacional humano vem contribuindo para um aumento
exponencial do papel do homem na vida na Terra. Por sua vez, o crescimento
econômico passou a ser o fator-chave do desenvolvimento. De acordo com o documento
da ONU (2005) “Millenium Ecosystem Assessment” ou seja, uma Avaliação de
Ecossistemas do Milênio, feito por 1300 especialistas de 95 países, as atividades
humanas já degradaram ou super-utilizaram cerca de 62% dos serviços naturais da Terra
[ver Serviços Ambientais numa das postagens anteriores deste blog]. A pressão atual
sobre nosso planeta compromete a sustentabilidade das gerações futuras, que correm o
risco de não conseguirem ter “nem o mínimo” para seu sustento. Ou seja, o capital
natural (recursos naturais e serviços ambientais) comprometem ou melhor, fragilizam a
biodiversidade e a disponibilidade dos nutrientes necessários à produção, providos pela
biogeociclagem.
Desde os anos de 1900 o crescimento econômico mundial aumentou em cerca de 40
vezes até a época atual. No entanto, convivemos com os seguintes dados alarmantes e
deprimentes: a) mais da metade das pessoas no mundo vive em extrema pobreza,
tentando sobreviver com uma renda diária inferior a U$2 (dólares americanos); b) e um
sexto das pessoas luta desesperadamente para sobreviver com uma renda diária inferior
a U$1. Com relação ao controle populacional, vejamos alguns fatos preocupantes: 1)
dos 6,7 bilhões de seres humanos do planeta, 1,2 bilhões vivem nos países
desenvolvidos (E.U.A., Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia e a maioria dos países
europeus); 2) 5,5 bilhões estão nos países em desenvolvimento (principalmente na
China, Índia, Brasil, Turquia, Tailândia, México; e nos demais países da África, Ásia e
América Latina).
A figura acima mostra uma visão geral desses dois grandes grupos de países,
segundo a ONU e o Banco Mundial (reproduzido de "MILLER & SPOOLMAN (2009)
Living in the Environment. Belmont, Brooks Cole, 563p. + Apêndices"). Os dados são
em porcentagem.
Já faz bastante tempo que saímos da fase de “dominar a Natureza” para sobreviver;
passamos pela fase de aumento do poder econômico “destruindo a Natureza”; e agora
estamos entrando na fase de reconhecimento do que fizemos e do que precisamos fazer
para "reconstruir a Natureza". Antes que seja tarde.
54 
 

02 de março de 2009
REPRESAS E TERREMOTOS: NÃO PODEMOS ESQUECER OS 70
MIL CHINESES MORTOS

[Baseado em artigo publicado em Newscientist, 31 de janeiro/2009 e assinado por A. C.


Grayling, filósofo de Birkbeck, University of London]

Em 12 de maio de 2008 ocorreu um terremoto de 7,9 na escala Richter na província


de Sichuan, na China. Cerca de 70 mil pessoas morreram; 5 milhões de desabrigados,
rios bloqueados e o risco de que 300 represas se rompessem, foram contabilizados nesse
evento de grandes proporções e maiores preocupações. Se alguma grande represa
tivesse se rompido o desastre teria uma dimensão catastrófica difícil de ser imaginada.
O terremoto foi sentido em locais distantes, como Índia, Taiwan e Mongólia. A
causa residiu na falha existente entre o alto platô do Tibete e a crosta por baixo da bacia
de Sichuan e o sudeste da China. A sismologia nos ensina que terremoto ocorre quando
estresse tectônico acumulado ao longo de falhas atinge um ponto crítico e de repente há
uma liberação de tensão, ocorrendo então o terremoto. Há sempre especulações a
respeito do que precipita o processo em si. É óbvio que uma causa natural sempre seja
apontada como responsável; mas... e se a verdadeira causa for ação ou ações
antrópicas?!
Seismólogos têm sugerido recentemente que uma nova represa de Sichuan, a
Zipingku, localizada no rio Min perto de Dujiangyan e concluída em 2006, possa ter
sido responsável por ação desse tipo. A imensa carga de água retida no reservatório da
represa pode ter sido o estopim da liberação catastrófica do estresse existente sobre a
“falha de Longmenshan”. Os seismólogos sustentam que advertiram sobre os riscos de
terremotos nesse local.
55 
 

Sichuan é uma região com muitas represas, tendo a maioria sido construída nas
décadas recentes. A maior delas já é mundialmente conhecida: a represa das Três
Gargantas, no rio Yangtze. É a maior represa do mundo, distando 550 km a leste do
epicentro do terremoto de Sichuan. A ocorrência desse terremoto apressou os
engenheiros a verificarem a segurança das Três Gargantas. O inverso, ou seja, checar as
possibilidades de terremotos ou outras implicações ambientais na região, antes que
ocorram, já não é objeto de urgência por parte de engenheiros envolvidos num
alucinante processo de busca por crescimento econômico; como aliás deveriam ter feito
para a represa de Zipingku antes de ser construída.
Algumas características da represa das Três Gargantas. A parede de concreto tem
cerca de 2309 m de comprimento, 101 m de altura, medindo 115 m de espessura na base
e 40 m no topo. Foram utilizados 27.200.000 m3 de concreto, 463.000 toneladas de aço
(suficientes para construir 63 torres Eiffel); e foram mobilizados 102.600.000 m3 de
terra durante a construção. Quando o nível de água atingir o máximo, estará a 91 m
acima do nível do rio, tendo o represamento um comprimento total de 660 km e uma
largura média de 1,12 km contendo um volume total de água de 39,3 km3. O
reservatório cobrirá uma área total de 1045 km2. Quando essa área é comparada à do
reservatório de Itaipu (1350 km2) percebe-se que há maior concentração de volume de
água nas Três Gargantas.
Numa das fotos acima vê-se a câmara elevatória de navios, capaz de elevar 12.800
toneladas a uma altura de 113 m.
O terremoto de Sichuan teve conotações especialmente trágicas pelo fato de que
muitas mortes ocorreram entre crianças nas escolas, onde os tetos desabaram sobre elas.
Esta é uma combinação “perversa”: a correria para construir represas e escolas de
estruturas precárias; ou seja, resultado de falta de cuidado, valores distorcidos e
insensatez.
Surge assim com esse exemplo do mundo oriental em transformação, um
questionamento muito sério a respeito de ciência e tecnologia. Além disso, essa
gigantesca represa constitui-se num “grande reservatório de controvérsias” (política,
econômica, ambiental, social; assunto extenso demais, que demandaria um próximo
capítulo).
56 
 

24 de fevereiro de 2009
EM ESPECIAL PARA QUEM GOSTA DE PERGUNTAR: PARA QUE
SERVE ESSE BICHO???

[BILINGÜE]
Mole rats may hold secret to long life
Ratos-toupeira podem possuir o segredo da longa vida
[NEWSCIENTIST, 23 February 2009]
INGLÊS: they may not be the prettiest creatures, but naked mole rats may hold the
secret to longevity. They can live for nearly 30 years longer than any other rodent.
PORTUGUÊS: eles podem não ser as criaturas mais bonitas, mas os ratos-toupeira
pelados [Heterocephalus glaber; do leste da África] podem possuir o segredo da
longevidade. Eles podem viver por aproximadamente 30 anos mais do que qualquer
outro roedor.
INGL.: Ageing is often blamed on the oxidising compounds we produce in our bodies,
which gradually wear down DNA and proteins. These damaged molecules then go on to
wreak havoc in cells.
PORT.: Freqüentemente atribui-se culpa pelo envelhecimento aos compostos oxidantes
que nós produzimos em nossos corpos, os quais gradualmente desgastam o DNA e as
proteínas. Estas moléculas danificadas progridem, para arrasar células.
INGL.: [...] To investigate, Rochelle Buffenstein of the University of Texas Health
Science Center in San Antonio and colleagues extracted liver tissue from both species
and treated it with chemicals that "unravel" proteins to reveal damage. They found twice
as many undamaged proteins in naked mole rats as in mice. What's more, the rats'
protein recycling machinery was exceptionally active.
PORT.: [...] Para investigar, Rochelle Buffenstein do Centro de Ciência da Saúde da
Universidade do Texas em San Antonio, e seus colegas, extraíram tecido do fígado de
ambas as espécies [do rato-toupeira e do rato comum] e o trataram com substâncias que
“separam” proteínas para revelar o dano. Eles encontraram duas vezes mais proteínas
não danificadas nos ratos-toupeira-pelados do que nos ratos comuns. E ainda, o
mecanismo de reciclagem de proteínas dos ratos[-toupeira] era excepcionalmente ativo.
57 
 

INGL.: The team suspects that naked mole rats manufacture extra quantities of
molecules that are responsible for labelling damaged proteins that need to be recycled
quickly to minimise their effect on cells. The researchers hope to identify these
molecules and test if it is possible to use them to treat age-related disease in humans.
PORT.: A equipe suspeita que os ratos-toupeira-pelados fabricam quantidades extras de
moléculas que são responsáveis por rotularem as proteínas danificadas que necessitam
ser recicladas rapidamente para minimizar seus efeitos sobre as células. Os
pesquisadores esperam identificar estas moléculas e testar seu possível uso no
tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento nos seres humanos.

19 de fevereiro de 2009
A RADIAÇÃO UV E O CÂNCER MAIS PROVÁVEL QUE VOCÊ
VENHA A TER
Numerosas pesquisas indicam que anos de exposição à radiação ionizante UV-B
da luz solar, são a causa primária de câncer de pele dos tipos célula escamosa e célula
basal, os quais são responsáveis por até 95% de todos os tipos de câncer de pele. Há,
tipicamente, um interstício de 15 a 40 anos entre exposição aos raios UV e o
aparecimento desse tipo de câncer.
Crianças e adolescentes de origem caucasiana (com pele branca) que têm uma
única queimadura solar grave duplicam suas chances de vir a ter tais tipos de câncer de
pele. De 90 a 95% desses tipos podem ser curados se detectados o bastante cedo,
embora sua remoção possa deixar cicatrizes desfigurantes. Esses tipos de câncer matam
somente de 1 a 2% de suas vítimas, o que, nos Estados Unidos por exemplo,
representam 2.300 mortes por ano.
Um terceiro tipo de câncer de pele, o melanoma maligno, ocorre em áreas
pigmentadas da superfície do corpo, como nos sinais. Este tipo pode espalhar-se
rapidamente (dentro de poucos meses) para outros órgãos, incluindo fígado e cérebro, e
mata cerca de um quarto de suas vítimas (a maioria abaixo dos 40 anos) dentro de cinco
anos, mesmo considerando que possam submeter-se à cirurgia ou quimioterapia e
radioterapia. Todo ano este tipo de câncer mata cerca de 100.000 pessoas (nos Estados
Unidos, 6.900 pessoas em 1994), a maioria caucasiana, mas pode também ser curado se
detectado bastante cedo. O tempo decorrido entre a exposição à radiação UV (raios UV-
A e UV-B) e a ocorrência de melanoma é de 15 a 25 anos. No Brasil estima-se que 25%
da população branca tem algum tipo de câncer de pele.
Uma outra forma de carcinoma que comumente ocorre em pessoas de cor branca
que vivem nos trópicos (Brasil e Austrália, por exemplo) é a doença de Bowen. Este
carcinoma é uma forma benigna, mas ocasionalmente pode se tornar invasiva, podendo
ser tratada com crioterapia ou excisão cirúrgica.
São conhecidos os efeitos da radiação ultravioleta no sistema imunológico. Por
exemplo, herpes labial ocorre freqüentemente no começo do verão devido ao efeito
imuno-supressivo da radiação UV na pele, resultando na ativação do vírus herpes. É
possível que a susceptibilidade a certas infecções da pele tais como leishmaniose e
lepra, aumentaria com uma maior exposição à luz UV, uma vez que a expressão dessas
doenças depende de resposta da célula mediada pelo sistema imunológico. A radiação
58 
 

UV induz à formação de células-T supressoras as quais inibem a resposta anti-tumoral


normal e permitem o surgimento e a progressão de tumores.
Há evidências de que pessoas, especialmente caucasianas, que sofrem tres ou
mais queimaduras solares com formação de bolhas antes dos 20 anos de idade,
subseqüentemente são cinco vezes mais suscetíveis a desenvolverem melanoma
maligno do que aquelas que nunca tiveram queimaduras graves. Cerca de 10% das
pessoas que têm melanoma maligno herdaram gene que as tornam especialmente
suscetíveis a esta doença.
Para proteger-se eficientemente, o procedimento mais seguro é não tomar sol
especialmente entre 10 horas da manhã e 3 horas da tarde, quando os níveis de UV estão
mais altos, e evitar o uso de bronzeadores. Use roupas e chapéu de aba larga ou boné e
óculos para sol com proteção contra UV (os óculos ordinários sem tal proteção
promovem maior dilatação da pupila, de maneira que mais raios UV atingirão a retina).
Como os raios UV penetram através das nuvens, um dia nublado não significa que você
estará totalmente protegido(a); nem tampouco a sombra lhe protegerá, uma vez que os
raios UV refletem-se facilmente na areia, na água (na neve) e nas superfícies
cimentadas, como pátios, paredes etc. (nas superfícies brancas em geral). Pessoas que
estejam tomando antibióticos e mulheres que estejam tomando pílulas anticoncepcionais
são mais suscetíveis a danos causados por UV. Há estimativas do "buraco" da camada
de ozônio sobre a Antártica já ter atingido a dimensão de 24 milhões de km2, ou quase
tres vezes o tamanho do Brasil.
O FPS - Fator de Proteção Solar (derivado do inglês “SPF – Sun Protector
Factor”) é uma taxa relativa padronizada pelo “FDA – Food and Drug Administration”,
dos EUA com as seguintes características: admitindo-se que a pele humana queima após
10 minutos de exposição ao sol, quando ela for protegida por um protetor solar com
FPS 15 isto significará que uma queimadura similar levará 15 vezes mais tempo para
acontecer e se for protegida por um FPS 30 significará que uma queimadura será
retardada por um tempo 30 vezes mais longo; e assim por diante ... . Aplique protetor
solar com fator 15 ou 30 (ou mais, se tiver pele clara) cada vez que for ao sol (aqui nos
trópicos, diariamente); reaplique-o quando suar ou tomar banho (de mar, piscina,
chuveiro...). Como há possibilidade de que raios UV-A e UV-B possam causar
melanoma maligno, é importante usar protetor solar de espectro mais amplo, que filtre
UV-A e UV-B. Crianças que usaram protetor solar com fator 15 toda vez que iam ao
sol, desde que nasceram até os 18 anos de idade, diminuíram sua chance de ter câncer
em 80%. Bebês com menos de um ano de idade devem tomar sol somente de manhã
cedo (que é importante para a sintetização de vitamina D) e nunca entre 10 horas da
manhã e 3 horas da tarde.
Familiarize-se com os seus sinais, verrugas e sardas (e de seus filhos também).
Os sinais visíveis de um câncer de pele são suas mudanças de tamanho, forma ou cor. O
aparecimento repentino de pequenas manchas escuras na pele ou um pequeno ponto
dolorido que coce ou sangre ou uma ferida ou descascamento que não cicatrize, são
sinais suficientes para que você procure imediatamente um dermatologista.
No site http://satelite.cptec.inpe.br/uv/, o INPE divulga os índices de UV no Brasil
(veja postagem anterior, de 18/fevereiro/2009, neste blog).
59 
 

18 de fevereiro de 2009
RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA: COMO FICAR DE OLHO NELA!

Inicialmente vejamos o significado de ozonosfera, segundo o Glossário de


Ecologia e Ciências Ambientais:
OZONOSFERA
Camada de ozônio, geralmente situada na estratosfera (a mais ou menos 30 km
de altitude) que se constitui em importante filtro da radiação ultravioleta. No site do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (http://satelite.cptec.inpe.br/uv/) são
mostradas as medições da radiação UV feitas nas regiões e Estados brasileiros. A
ozonosfera é formada a partir da cisão da molécula de O2, pela energia solar, na
seguinte reação fotoquímica:
O2 + hv « 2
[oxigênio molecular + energia solar = átomos de oxigênio]
em seguida o oxigênio combina-se com o O2 formando o ozônio:
O2 + O « O3
[ozônio]
Há evidências de que alguns compostos, principalmente o clorofluorcarbono
(CFC) e o metano (CH4) contribuem para a destruição da ozonosfera, formando o
60 
 

popularmente conhecido “buraco da camada de ozônio ou da ozonosfera”. O


conhecimento sobre tal buraco remonta ao final da década de 1920, quando foi
sintetizado o CFC. No início da década de 1970 os químicos americanos Mario José
Molina (de origem mexicana) e Sherwood Rowland identificaram teoricamente a
ameaça à deterioração da ozonosfera pelos CFCs. Em 1983, cientistas do “British
Antartic Survey” (do Levantamento Britânico da Antártica) confirmaram então a
existência de um “buraco” acima do pólo sul.
Veja nas figuras acima: na figura superior, os índices de UV registrados na região
Nordeste no dia 18/fevereiro/2009; observe que em toda a região Nordeste a cor única é
violeta, e que de acordo com a Tabela do Índice UV (mostrada na figura inferior), os
índices representados com a cor violeta estão entre 11 e 14 (valores máximos da escala,
que vai de 0 a 14) [de acordo com divulgação feita no site do INPE].

06 de fevereiro de 2009
AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: V – MEGADIVERSIDADE É UM DOS
NOSSOS MAIORES PATRIMÔNIOS

Mogno, Swietenia macrophylla

Praticamente
desaparecido do PA,
MT e RO. Incluído no
Anexo II da convenção
do CITES

Phyllobates terribilis
61 
 

Polpa do fruto da andiroba, utilizada em vários produtos


(cosméticos, antisséptico, cicatrizante, repelente de insetos...)

Pau-rosa (Aniba rosaeodora), fam. Lauraceae: e a


produção do “Chanel n. 5”

Onça-pintada - Panthera onca


62 
 

Envenenando o dardo em P. terribilis

Megadiversidade O ecólogo Russell Mittermeier quando pesquisava sobre


primatas, observou que 75% das espécies desses “macacos e assemelhados”
concentravam-se em quatro países: Brasil, Congo, Indonésia e Madagascar. E concluiu
que, à maneira do grupo dos sete grandes países do mundo que formavam o G7, havia o
grupo G17, os dezessete países que tinham a maior variedade de espécies de organismos
superiores, ou seja, países que ostentavam a MEGADIVERSIDADE. E assim a
“Conservation International”, organização voltada para a conservação da Natureza,
passou a usar a expressão País da Megadiversidade. Entre os principais critérios para
considerar um País de Megadiversidade há: número de plantas endêmicas (originadas
do próprio local), e número total de mamíferos, pássaros, répteis e anfíbios. O site da
“Conservation International” http://www.conservation.org.br/ disponibiliza em PDF, a
revista semestral, Megadiversidade, que divulga artigos de pesquisadores da
biodiversidade de nossos maiores biomas. Lembrete: biomas são grandes ecossistemas,
que dispõem de clima, condições de solo, flora e fauna próprios; ecossistemas são
sistemas ecológicos naturais, com componentes vivos (bióticos) e não-vivos (abióticos)
em interação e interdependência.
Os 17 países megadiversos estão distribuídos nos quatro continentes ricos em
habitats naturais; são eles: Brasil, Colômbia, México, Venezuela, Equador, Peru,
Estados Unidos, África do Sul, Madagascar, República Democrática do Congo,
Indonésia, China, Papua Nova Guiné, Índia, Malásia, Filipinas e Austália.
Em termos de biodiversidade de ambientes terrestres, o Brasil é o “campeão
absoluto”, reunindo quase 12% de toda a vida natural do planeta. Concentra 55 mil
espécies de plantas superiores (22% de todas as que existem no mundo), muitas delas
endêmicas; 524 espécies de mamíferos; mais de 3 mil espécies de peixes de água doce;
entre 10 e 15 milhões de insetos (a grande maioria ainda por ser descrita); e mais de 70
espécies de psitacídeos (araras, papagaios e periquitos) (esses números estão sempre
aumentando). Numa classificação entre os maiores, o Brasil ocupa o primeiro lugar em
abrigar uma maior variedade de anfíbios (516 espécies), terceiro em aves (1622
espécies) e quarto em mamíferos (428 espécies) e répteis (467) (segundo dados de
63 
 

“Global Diversity - Status of the Earth's Living Resources”). Quatro dos biomas mais
ricos do planeta estão no Brasil: Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia e Pantanal.
Secretaria de Biodiversidade e Florestas O MMA – Ministério do Meio
Ambiente dispõe no seu site http://www.mma.gov.br/ de informações sobre políticas e
estratégias de ações para as “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e
Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira /2006”. Ainda o MMA
estabeleceu o “Processo de Atualização das Áreas Prioritárias para Conservação, Uso
Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”. Novecentas áreas
foram reconhecidas, devendo essa lista ser revista até no máximo dez anos pela
CONABIO – Comissão Nacional de Biodiversidade. Em tal processo estão
mencionados (e como temos siglas!): o PNAP – Plano Nacional de Áreas Protegidas e o
PAN-Bio no qual constam as “Diretrizes e Prioridades do Plano de Ação para
Implementação da Política Nacional de Biodiversidade” (sobre Políticas Públicas ver o
que o autor deste blog divulgou a respeito, numa das postagens anteriores: POLÍTICAS
PÚBLICAS: A TEORIA, NA PRÁTICA É...UM SONHO).
O Brasil participa da CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica (desde
1992). Como é dito no site do MMA: “O desafio da CDB é conciliar o desenvolvimento
com a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica. Esta tarefa não
terá êxito, no entanto, sem a ajuda tecnológica e financeira dos países economicamente
desenvolvidos [...].”. Donde eu concluo que: (1) embora na divulgação dessa Secretaria
não seja dito que não é somente devido às dimensões do nosso país, mas também pelo
fato de nós mesmos não priorizarmos ações para preservação de nossos ambientes, não
investirmos na formação e contratação de pesquisadores... etc. ... teremos que depender
de ações de outros países (os ricos) para agirmos em favor dos quatro biomas mais ricos
do planeta (e que são nossos, como foi dito acima). (2) E como vamos convencer esses
países a “colaborarem”: (a) sensibilizando-os (?), (b) negociando (?)... ou (c) talvez até
“chantageando”: ou participa com o recurso financeiro ou nós destruímos tudo!
Certamente não será pesquisando, obtendo patentes (até o cupuaçu não é patente nossa!
é o "cupulate" dos japoneses; e dizem que até a rapadura também não!). (3) Em termos
de planejamento e ações, acredito que no Brasil muitas coisas são feitas de uma das
seguintes maneiras: em curto prazo (= talvez seja feito na gestão de um governo), médio
prazo (= poderá ser feito na próxima gestão; se houver!) e em longo prazo (= será feito
na “próxima encarnação”!!!).
E a conservação da Megadiversidade? Enquanto a tecnocracia e a burocracia
brasileiras discutem “o quê, onde e como” proteger... vejamos um pouquinho sobre o
potencial da biodiversidade amazônica. As fotos acima ilustram as plantas e os animais
seguintes:
Mogno (Swietenia macrophylla): altura de 25 a 30 m, com tronco de 50-80 cm
de diâmetro. Está incluída no CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional de
Espécies Ameaçadas. Para sua preservação faz-se necessária (entre outros aspectos),
obedecer à certificação do “FSC – Forest Stewardship Council” (Conselho de Manejo
Florestal).
Andiroba (Carapa guianensis): árvore de uns 30 m de altura. Os frutos
produzem sementes (“andi-roba”, em tupi-guarani quer dizer semente amarga). O óleo e
64 
 

a gordura são utilizados pelos amazônidas (ver foto acima e finalidades).


Pau-rosa (Aniba rosaeodora): há manejo atualmente, que evita a destruição desta
árvore da qual se extrai uma fragrância famosa por ter sido usada na produção do
perfume francês Chanel n. 5 (detalhes no site
http://www.inova.unicamp.br/inventabrasil/paurosa.htm).
Rã (Phyllobates terribilis): em duas fotos, em que numa delas um índio, com
cuidado para não tocar seus dedos nela, esfrega a ponta do dardo, que se impregna com
seu veneno; e com isso, o dardo é usado para caçar por um longo tempo (sem
necessidade de nova impregnação). De 1 a 2 microgramas por quilo da batracotoxina da
pele viscosa dessa rã são suficientes para matar uma pessoa pesando uns 70 kg, se esta
tocar em sua pele e que tenha algum ferimento. É 15 vezes mais potente do que o
curare, atuando nos neurônios do sistema nervoso (central e periférico) e nas
musculaturas estriadas e cardíaca. Há grande potencial para usos anestésico e analgésico
(mais potente do que a morfina) e ainda contra arritmias, e como anti-convulsivo e anti-
depressivo.
Onça-pintada (Panthera onca): no maior parque de florestas tropicais do
mundo, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (3,8 milhões de hectares ou 38
mil km2) encontra-se onça-pintada. Sua dieta bastante variada e sua demanda por
grande espaço natural (cerca de 60 km2) implicam forçosamente na conservação do seu
habitat. É um animal ameaçado de extinção.
Muito mais informações podem ser vistas em “CAPOBIANCO e colaboradores
(2001) Biodiversidade na Amazônia Brasileira. São Paulo, Estação Liberdade (Instituto
Socioambiental), 540p”.

04 de fevereiro de 2009
AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: IV – BREVE INTRODUÇÃO DE
ECONOMIA AMBIENTAL A PARTIR DA BIODIVERSIDADE

Floresta, vista aérea

 
65 
 

Igapó

Victoria amazonica

ICTIOFAUNA: um universo de peixes


Pirarucu, Arapaima gigas, um dos mais consumidos

Como valorar a biodiversidade - A biodiversidade é o resultado de 3 bilhões (ou


mais) de anos de evolução, e aplicar uma simples aproximação de mercado a ela, é
uma visão extremamente reducionista de seu valor real, ecológico. Por outro lado, a
avaliação energética considera contribuições da Natureza não identificadas pelo sistema
66 
 

econômico (RODRIGUES, G.S. (2001) Impacto das Atividades Agrícolas sobre a


Biodiversidade: Causas e Conseqüências. In: GARAY, I. & DIAS. B. Conservação da
Biodiversidade em Ecossistemas Florestais. Petrópolis, Edit. vozes, pp 128-139). O
conhecido ecólogo norte-americano H.T. Odum (1996, Environmental Accountability.
Emergy and Environmental Decision Making. New York, John Wiley & Sons, 370p),
sugeriu o termo “eMergia” solar, para valorar a biodiversidade. Esta “eMergia”
(palavra que esse autor obteve de “energy memory”) equivalendo à energia solar
utilizada direta ou indiretamente para ser gerado na Natureza um serviço ou produto
(conhecidos hoje no seu conjunto como “serviços ambientais”; ver postagem mais
antiga neste blog), utiliza como unidade o “solar emjoule” (ou “sej”, em inglês). H.T.
Odum atribuiu um valor monetário macroeconômico (ou valor monetário energético)
que denominou de EM$ (“eMergy dollar”), em inglês e estabeleceu os seguintes
pressupostos:

a) A energia solar incidente total no planeta é estimada em 9,44 E 24 sej/ano [Obs.: a


letra E significa “exponencial”, ou elevado à potência...]

b) O resultado final desse processo (desenvolvido ao longo de 3 bilhões de anos) [ou 3,0
E 9] é estimado em 5 milhões de espécies geradas pela Natureza [ou 5,0 E 6] [este
número é apenas uma estimativa das espécies até hoje identificadas]

c) Para a conversão de valor de energia em valor monetário energético usa-se a


equivalência: EM$ 1 = 1,5 E 12 sej, donde então 1 sej = 6,7 E−13 EM$.

A energia incidente total que é acumulada na biodiversidade atual é [vamos


checando com os valores acima já obtidos]:

9,44 E 24 sej/ano multiplicado pelo total de anos de evolução 3,0 E 9 anos = 2,83 E
34 sej, energia esta acumulada em toda a biodiversidade atual. E o valor energético
acumulado em cada espécie é: 2,83 E 34 sej divididos pelas 5,0 E 6 espécies do nosso
planeta, resultando então: 5,7 E 27 sej.

Vamos calcular agora o valor monetário energético por espécie:

6,7 E−13 EM$ por cada sej, multiplicados pelo valor de cada espécie em sej: 5,7 E
27 resultarão no valor monetário energético seguinte: 3,8 E 15 EM$ por espécie.

E como há na biodiversidade total 5 milhões de espécies, o valor monetário


energético da biodiversidade total será finalmente:

3,8 E 15 EM$/espécie multiplicados pelo total de espécies que é 5,0 E 6 resultando


em 1,9 E 22 EM$.

Em sua análise conclusiva, H.T.Odum comparou este valor da biodiversidade atual


(EM$ 1,9 E 22) com o valor da infra-estrutura mundial criada pelo homem (pontes,
estradas, cidades etc.) que ele estimou em EM$ 6,3 E 14 e com o valor da informação
cultural e tecnológica da humanidade que é de EM$ 6,3 E 16, cujos tempos de
reposição seriam respectivamente de 100 anos e 4.000 anos, frente aos 3 bilhões de anos
de criação da biodiversidade!
67 
 

E após tantos números e cálculos, vamos dar uma olhada nas fotos acima, que
ilustram a diversidade de ambientes (habitats) do bioma da Amazônia, gerando a
MEGADIVERSIDADE, cujo potencial será visto (em parte) no próximo capítulo...

02 de fevereiro de 2009
AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: III – É POSSÍVEL PROGREDIR SEM
DESTRUIR?
Madeira cortada de mata de várzea, aguardando a cheia para
ser transportada (sujeita à biodegradação)

Tucurui: 2,5 milhões de metros cúbicos de


madeira inundados (U$900 o métrico cúbico)

A farsa da conservação: castanheiras “programadas


para morrer”
68 
 

Castanheira (“protegida por lei”) em campo


preparado para plantio de soja

“Ecologistas/ambientalistas”, defensores irredutíveis da preservação ambiental


são incompreendidos quando afirmam que é possível progredir sem desmatar. Seus
oponentes, os progressistas (no outro extremo) acham utópica essa pretensão dos
ambientalistas. E se lançam na destruição. Em ecologia, nós sabemos que há dois
processos distintos: conservação e preservação ambiental. Estes dois processos se
distinguem pelo fato primordial de que: na conservação, pode-se utilizar determinado
recurso natural (ou recursos), mantendo-se as características estruturais e funcionais do
meio ambiente; enquanto na preservação, a Natureza é mantida intocada.
No caso da região amazônica mostra-se óbvio para a maioria dos pesquisadores,
que há locais da floresta onde se deve manter o ecossistema intocado; e há locais que
devem ser explotados em benefício das populações humanas que ali vivem (14,6
milhões na região Norte). Solos de terra-firme com floresta densa (53,63% da
Amazônia), assim como muitas áreas de florestas abertas (25,48%) estão entre as áreas
com priorização de preservação, pois estão esses ecossistemas sobre latossolos
originalmente pobres em nutrientes. Mas há locais com solos férteis, propícios à
implantação de projetos de desenvolvimento sustentável.
Na correria do progresso a qualquer custo, atropela-se, destrói-se, desperdiça-se
e com isso, há sérios comprometimentos ao tão propalado desenvolvimento sustentável.
A ânsia (e ganância) em obter lucros conduz a conquistas ilegítimas e utilizações
inapropriadas dos recursos. Vamos inicialmente tomar dois exemplos: exploração
madeireira e potencial hidrelétrico. Os dois estão intimamente relacionados, porque a
instalação de UHE (Usinas Hidrelétricas) causa antes de tudo, grandes impactos sobre a
floresta, comprometendo a preservação da biodiversidade e (se não for bem planejado)
impedindo a explotação racional do recurso madeireiro. Vamos relembrar o caso
Tucuruí (ilustrado na foto acima), no rio Tocantins, a 250 km de sua foz. É bem
possível que desde sua inauguração (em 1984, pelo então presidente João Batista
Figueiredo) até os dias de hoje, ainda se retire madeira que permaneceu após inundação
da área do reservatório. Estima-se uma perda de 2,5 milhões de metros cúbicos de
madeira (multiplique por uma média de U$900 o metro cúbico e verás o prejuízo!).
Problemas de cunho social são apontados desde sua construção no município de
Tucuruí, hoje com 100 mil habitantes.
69 
 

Com relação ao potencial madeireiro da Amazônia, volto a citar um dos números


especiais da revista Scientific American Brasil (2008), em que os autores do artigo
“Biodegradação e Preservação de Madeiras” (Ceci S. da G. Campos e colaboradores)
apresentam alguns dados que mostram a situação da explotação desse fabuloso recurso
natural. Vejamos alguns: (1) Potencial madeireiro: o INPA – Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia já identificou 2.750 espécies de árvores; (2) das 2 mil espécies
de árvores com potencial econômico, as madeireiras só se utilizam de 60; (3) são
priorizadas as madeiras nobres e o restante é queimado; (4) a perda por deterioração,
principalmente biodegradação, supera os 60% (ver foto de madeira a ser transportada
boiando nos rios); (5) um grande potencial da própria floresta, preservantes naturais
para conservar as madeiras menos nobres, perde-se por falta de pesquisas. Dados
mostrados por André Trigueiro, no seu livro “Mundo Sustentável” (2005, Edit. Globo,
São Paulo) dão conta de que a indústria moveleira utiliza 20% da madeira de uma
árvore, desperdiçando 80%.
É muito comum a inversão de prioridades no que diz respeito às duas
alternativas seguintes: (1) substituição da floresta por sistema que se tradicionalizou
como rentável, como pastagens para o gado bovino (mas não na Amazônia; ver
Capítulo II nesta série) ou (2) manutenção do ecossistema original, procurando-se
explorar seu potencial natural. Tal é o caso por exemplo, da castanheira. Esta árvore é
capaz de produzir centenas de toneladas de castanha-do-brasil (ou castanha-da-
amazônia, ou castanha-do-pará) por ano. O preço médio dessa castanha nos nossos
supermercados alcança até R$40,00 por quilo. É uma iguaria altamente procurada entre
os consumidores europeus e norte-americanos, principalmente nos chocolates.
Descoberta recente de seu alto teor em selênio (estimulante de enzimas que combatem
os radicais livres, relacionados ao envelhecimento celular) aumentou sua procura. A
preservação da castanheira prevista em lei leva a situações como a mostrada na foto
acima. Essa árvore não consegue sobreviver sem a floresta por mais de uma dúzia de
anos.
Neste ponto é bom lembrar a experiência do Quênia, na África, com o
ecoturismo relacionado ao leão. Esta forma de turismo substituiu a caça ao leão. O
ecoturismo rende por um período de sete anos de vida adulta de um leão, U$500 mil
dólares; enquanto a caça ao leão rendia por sua pele, não mais do que U$1 mil dólares
(segundo Miller,G.T. (1996) “Living in the Environment”). Transferindo tal situação
para a Amazônia: não tenho nenhuma dúvida de que “a floresta em pé” renderá mais
dividendos (eco-econômico-social) do que ela queimada! O ecoturismo é
indubitavelmente um grande potencial pouco e mal explorado na Amazônia.
As reservas extrativistas (aspectos positivos mostrados em Emperaire, L.(2000)
“A Floresta em Jogo: o Extrativismo na Amazônia Central”) não têm sido valorizadas
como modelo de sustentabilidade.
Reservas de Desenvolvimento Sustentável como Mamirauá (1.124.000 ha = 11.240
km2, situada nas margens do rio Solimões no Alto Amazonas), assim como a de Amanã
(2.350.000 ha = 23.500 km2 entre o rio Negro e os rios Japurá e Solimões na região
central do estado do Amazonas), são provas vivas de desenvolvimento sustentável. Elas
mostram o aspecto positivo do envolvimento das populações humanas locais como
70 
 

participantes ativos do manejo dos recursos naturais (em Mamirauá mais de 300
espécies de peixes, 400 de aves e 45 de mamíferos) e na vigilância da reserva.
Vários outros exemplos poderiam ser citados, como o descrito por André Trigueiro
(acima citado): uma floresta pública em regime de operação comercial, no Acre,
envolvendo seringueiros, organizados em cooperativas, que retiram madeira (média de 2
árvores/ha) sem comprometer a capacidade da floresta se recompor. Estudos de solos,
bacias, seringais nativos, levantamento socioeconômico das populações humanas,
precedem a explotação. A Secretaria de Florestas do Acre estimou geração anual de
riqueza com tal explotação, da ordem de U$1 bilhão por ano.
Não dispomos aqui neste “ecologiaemfoco” de espaço para um desfile de
desencontros referentes a todas as questões levantadas sobre desmatamento. Ampla
informação existe no documento “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil
2008” disponibilizado em PDF no site http://www.ibge.gov.br/ (ver Dimensão
Ambiental - Terra, nesse documento). E muitas informações (e notícias recentes do
Fórum Social Mundial) estão disponíveis no site http://www.amazonia.org.br/. Em
destaque o documento em PDF divulgado nesse site, intitulado “O Rastro da Pecuária
na Amazônia: MT o estado da destruição”. Um reforço ao que vimos no Capítulo II,
desta série. Esse Estado tem 35% do seu território inserido no bioma Pantanal e o
restante no bioma Amazônia. Mas seu governo prefere priorizar o agronegócio e
manter-se como líder da devastação da Amazônia. O Pará ocupa o segundo lugar.

31 de janeiro de 2009
AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: II – O GADO AVANÇA... E COM ELE,
ALGUNS MOTIVOS PARA COMEMORAÇÕES E MUITOS PARA
INQUIETAÇÕES

Derrubada sem critérios leva à destruição


71 
 

Perda da umidade de solo

Comemorações Em 2007 pela primeira vez a Amazônia Legal ultrapassou uma


marca histórica: 10 milhões de abates bovinos. O rebanho atingiu aproximadamente 74
milhões de cabeças de gado (3,3/habitante), ou seja, o triplo da média nacional
(documento “O Reino do Gado: uma Nova Fase na Pecuarização da Amazônia
Brasileira”, em PDF, de http://www.amigosdaterra.org.br/). As médias maiores são de
Mato Grosso (9,3) e Rondônia (7,7). Os investimentos provêm principalmente de
grandes grupos financeiros; os pequenos produtores são esquecidos. Um exemplo: o
grupo Banco Opportunity, do ora famoso banqueiro Daniel Dantas, adquiriu fazendas
de grande porte em sete municípios do sul do Pará.
Em 2006 o Brasil exportou U$2,2 bilhões de carne bovina, figurando entre os 10
primeiros itens de maior exportação do país. A participação da Amazônia nas
exportações de carne cresceu expressivamente entre 2000 e 2006, passando de 6% (10
mil toneladas) para 22 % do total (263,7 mil toneladas); em parte, “graças à febre
aftosa” que atingiu gado em MS e PR, principalmente. MT foi o principal exportador.
Alguns fatores apontados como responsáveis pelo crescimento da pecuária na
região: (1) baixo custo da terra (terras públicas passíveis de serem ocupadas ilícita e
impunemente); (2) a pecuária antes praticada no sul do país sendo empurrada para o
norte devido ao aumento da pressão por terras para plantios de cana-de-açúcar e soja;
(3) geração de tecnologias de intensificação e manejo (com vários aspectos: introdução
de espécies de gramíneas e leguminosas melhor adaptadas; pecuária com gestão
empresarial; inseminação artificial para melhoramento genético do gado principalmente
do zebu; formulação para suplementação de alimentação mineral adequada; etc.).
Inquietações Em documento do IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente
da Amazônia (2008) (disponibilizado em PDF, em http://www.imazon.org.br/), sob
título “A Pecuária e o Desmatamento na Amazônia na Era das Mudanças Climáticas”,
os autores P. Barreto, R. Pereira e E. Arima apontam diversos fatores que conduziram
ao desmatamento acelerado na Amazônia entre 1990 e 2006: foram desmatados 30,6
milhões de hectares (= 306.000 km2) na região, conforme estimativas do INPE -
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2007). Descontados dessa área os 5,3
milhões de hectares (ou 53.000 km2) destinados à agricultura e reflorestamento (de
acordo com dados do IBGE/2007), aqueles autores estimam que cerca de 25,3 milhões
de hectares (ou 253.000 km2) foram potencialmente ocupados por pastos entre 1990 e
2006. Outro fator apontado como importante no desmatamento foram os subsídios
72 
 

financeiros públicos para a pecuária. “Grilagem” (ilegalidade de títulos de terras


públicas) é um terceiro fator (cerca de 70 milhões de hectares ou 700 mil km2 nessa
situação; isso somente em 2001). Já em 2003, segundo o primeiro autor acima citado
(em outro de seus trabalhos), havia 42 milhões de hectares ou 420.000 km2 de posses
ilegais (equivalentes à soma dos territórios de cinco Estados brasileiros: SP, RJ, ES, PB
e SE).
Outros dados estatísticos importantes são apresentados pelos autores do artigo de
divulgação do IMAZON, acima citado; incluindo as medidas tomadas pelo governo
federal (como a redução de 50% para 20% a área que poderia ser desmatada; emissão de
multas contra ações ilegais; investigações contra a corrupção para o licenciamento
ambiental...) ... e apesar disso tudo, o desmatamento aumentou. O que “regulou” o
desmatamento foram os preços da soja e do gado, que arrastaram para baixo os dados do
desmatamento. O capitalismo é assim mesmo! Está acima, até mesmo do senso de
preservação da vida!
Nesse documento do IMAZON os autores concluem, com respeito ao uso do crédito
rural: “O crédito rural subsidiado para a Amazônia deveria excluir a agropecuária, pois
indiretamente estimula o desmatamento. Se for para manter algum tipo de subsídio para
a região, que seja direcionado para atividades que produzam benefícios públicos como
os serviços ambientais e ecológicos – por exemplo, o reflorestamento que estimula a
conservação da biodiversidade e o seqüestro de carbono”.
A taxa de lotação, ou seja, número de cabeças de gado por área de pastagem
aumentou entre 1995 e 2006 de 0,7 cabeça por hectare para 0,96 cabeça por hectare. A
média regional é 1,4. Depende tal variação de alguns fatores, como: condições de
fertilidade e de manejo do solo, seu uso anterior, manejo do pasto, proveniência
genética do gado e do seu próprio manejo. É digno de destaque (do documento “O
Reino do Gado”...) o fato de que “os pastos recentemente convertidos de florestas
possuem a maior fertilidade, um fator que contribui para estimular a expansão da
fronteira pecuária”, observação esta reforçada pelo documento do IMAZON: “os pastos
novos podem ter até o dobro da lotação de pastos antigos não-renovados”. Daí é fácil
concluir: mais trechos de floresta serão derrubados. O modelo amazônico parece se
perpetuar: venda da madeira financiando a derrubada da floresta, queima e introdução
de pastagens.
Vários outros aspectos geram mais preocupações: (1) pastagens implantadas em
áreas inapropriadas (algumas abandonadas posteriormente); (2) baixo investimento na
recuperação de pastagens; (3) dado da Embrapa (desde os anos 90): o custo de
recuperação de pastagens pode ser quatro vezes maior do que o da utilização de novas
terras; (4) redução da umidade do solo (ver foto acima); (5) carência de políticas
públicas na área fundiária: impunidade na apropriação indevida; (6) crédito sem
restrição para atividades ilegais; (7) falta de zoneamento agroecológico. E ainda: dos
mais de 200 frigoríficos existentes, somente 87 operam com base de legalidade (com o
SIF – Sistema de Inspeção Federal); mais de 73% dos frigoríficos exportadores
adquiriram carne de fazendas com trabalho escravo em 2006-7; falta de incentivo fiscal
para converter sistemas de produção extensivos em intensivos sustentáveis (com
adequação à legislação, tecnologias, gerenciamento...).
73 
 

A Amazônia Legal (área delimitada para fins de planejamento, contendo a floresta


amazônica, cobre superfície de 5.217.423 km2 = 61% do território brasileiro),
compreende nove Estados: RR, AP, AM, PA, MA, AC, RO, MT e TO. A área
desmatada acumulada na Amazônia Legal atingiu em 2007, cerca de 720.000 km2. O
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente revela agora em
janeiro/2009 que 17% da floresta (=857 mil km²), incluindo cinco dos países onde ela
existe, já foram devastados (exceções: na Venezuela e Peru).
E agora a pergunta: é fácil continuarmos na defesa peremptória de que a Amazônia é
nossa e assim, cabe somente a nós dizer o quê deve ser feito dela??? Mais capítulos
virão neste “blog”, antes que “como ecólogo, e o agravante de ser brasileiro” eu
responda a tal pergunta.

29 de janeiro de 2009
AMAZÔNIA EM CAPÍTULOS: I – FORUM ECONÔMICO DE DAVOS
versus FORUM SOCIAL MUNDIAL DE BELÉM

Altlamira a Rurópolis: estradas vicinais facilitando


acesso para devastações (100 mil km de estradas
clandestinas)

Desmatamento / PRODES-INPE (taxa anual, km2 /ano)

ESTADOS e  1991‐94 1995‐98 1999‐2002 2003‐06 2007‐...


ANO
AC 1.744 2.535 2.290 2.796 184
AM 2.519 4.396 2.851 4.353 610
AP 446 57 7 134 39
MA 2.549 4.227 4.267 3.321 613
MT 19.954 28.671 28.927 33.697 2.678
PA 16.135 23.948 24.343 26.753 5.425
RO 8.565 11.189 10.595 12.748 1.611
RR 1.181 841 902 1.114 309
TO 1.515 1.966 861 709 63
Amazônia  54.608 77.830 75.044 85.625 11.532
Legal

Obs.: 1995-98 (1 gov. FHC); 1999-2002 (2 gov. FHC)


2003-06 (1 gov. LULA) ; 2007-10 (2 gov. LULA)
74 
 

METADE DA FLORESTA DESTRUÍDA ATÉ O


ANO 2050???

“GRANDÕES DO PRIMEIRO MUNDO versus


ANÕES DO TERCEIRO” Subtítulo adequado para os participantes de dois encontros
que estão acontecendo agora, no final de janeiro/2009. Com várias distinções: os
primeiros são conhecidos pelo eufemismo “atores decisivos da sociedade” e os “outros”
certamente, nem serão lembrados que existem! Os “grandões” estão reunidos em Davos,
na Suiça; e os “outros” em Belém/PA, Brasil. O debate no encontro dos líderes
mundiais e seus convidados especiais será unicamente a crise financeira mundial; daí a
presença entre os 2500 convidados, de executivos “seniors” dos maiores bancos do
mundo. E os “outros” estarão discutindo sobre a destruição da Amazônia.
DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA Sendo este o tópico principal das discussões no
Fórum Social Mundial em Belém, começaremos com ele os capítulos desta série
resumida (aqui neste "ecologiaemfoco") sobre a maior floresta tropical contínua do
mundo. Em três sucessivas edições especiais, a revista Scientific American Brasil
publicou no final de 2008 artigos sobre as “Origens, os Tesouros e os Destinos” da
Amazônia. São impressionantes e preocupantes os dados sobre a devastação já
perpetrada e as previsões para o futuro desse fabuloso patrimônio natural. Na edição
“Destinos” o ecólogo Philip Fearnside (que tem dezenas de anos de experiência de
estudos na região) e o especialista em detecção da devastação (por satélite), Paulo
Maurício L. de A. Graça (ambos pesquisadores do INPA – Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia), no artigo “Veias que Sangram”, enfatizam os efeitos
decorrentes da expansão das rodovias na devastação da Amazônia, tendo começado com
a BR-364 (originada em Cabedelo/PB), dirigindo-se para a região centro-oeste,
passando em Cuiabá/MT até atingir Porto Velho/RO. Vieram em seguida: a
Transamazônica (de Altamira/PA a Porto Velho), depois a BR-163 (de Santarém/PA a
Cuiabá/MT) e mais recentemente a BR-174 (de Boa Vista/AP a Manaus/AM),
75 
 

continuada pela BR-319 (de Manaus a Porto Velho). A conservação dessas estradas em
locais onde a precipitação pluvial média anual é de 2200 mm, seria apenas mais um dos
detalhes que mereceriam destaque.
Não podemos esquecer o desastre da migração para Rondônia, incentivada pelo
governo estadual na “Década da Destruição” (1980-90), quando quase 200.000 pessoas
migraram anualmente para aquela região, para tomar posse de terras imprestáveis para a
agropecuária. Tudo graças à BR-364 e uma outra rodovia chamada de “Estrada de
Penetração 429”, construída com financiamento do Banco Mundial (que levou anos para
reconhecer o erro e pedir desculpas ao povo brasileiro).
O ambiente sem lei e a impunidade permeiam toda a atividade econômica e os
grupos sociais na região; afirmam os referidos autores acima. E ainda: “o caráter “fora-
da-lei”, significa que boas intenções por parte de planejadores do governo têm pouca
relevância na maneira como o desmatamento, exploração madeireira e o fogo podem se
expandir na prática”. As estradas vicinais que surgem e surgirão ao longo dessas
rodovias exercem efeito devastador difícil de ser controlado (ver foto, acima). Esta
histórica opção brasileira pelo sistema “transporte rodoviário” gera conseqüências
devastadoras imprevisíveis. Ao contrário de ferrovias, que gerariam efeitos pontuais, ou
seja, na dependência das estações ferroviárias (que poderiam ter longas distâncias entre
si), podendo assim a exploração na Amazônia ser melhor controlada.
Surge no Brasil amazônico a expressão “Arco do Desmatamento” (ou “Arco de
Fogo”) uma imensa área de devastação da Amazônia, em forma de meia-lua
estendendo-se da Belém-Brasília na Amazônia oriental, atravessando toda a região
florestal em contato com o cerrado em Mato Grosso, continuando ao longo da BR-364
até a parte oriental do Acre. A outra foto acima mostra o que “nos espera” no futuro
próximo. Esta imagem está sendo reproduzida constantemente em muitas fontes de
informação, parecendo-me até que há intenção de nos tornar acostumados a esse “novo
panorama da Amazônia”; ou seja, a verdadeira floresta se reduzirá a uma porção no
noroeste da região, que poderá escapar da destruição; principalmente por encontrar-se
distante das rotas de escoamento da produção e de grandes centros consumidores. A
cidade de Porto Velho, por outro lado, situa-se em melhor condição para o escoamento
da produção (soja, minérios...), inclusive estando mais próxima de rota pelo Pacífico.
Daí ser essa cidade destino final dessas rodovias. E também não é à toa que lá estão
sendo construídas duas hidrelétricas (Jirau e Santo Antonio no rio Madeira; esta última
multada recentemente pelo IBAMA pela morte de 11 toneladas de peixe). Este é um
pequeno exemplo do descaso dos empreendedores com a Natureza. Pessoas que pensam
sobre a Amazônia como uma "commodity" estão no Fórum Econômico, em Davos. E
aquelas que sofrem diretamente as conseqüências, estão no Fórum Social, em Belém.
Alguns detalhes das reservas criadas nas áreas do “Arco do Desmatamento”, que
teoricamente escapariam da destruição total, assim como os “furos” já em andamento
nas “APAs – Áreas de Proteção Ambiental”, detectados pelo Landsat, podem ser vistos
no artigo de P. Fearnside e P.M. Graça.
A manipulação política das notícias veiculadas na mídia, do tipo “A Devastação da
Amazônia Está se Reduzindo”, tem a intenção de camuflar o malefício maior: a
76 
 

somatória da devastação já ocorrida, ao longo dos dois governos FHC e (agora) dos dois
governos Lula. Veja o quadro acima.
Enquanto os “grandões” decidem tudo, os “anões” apenas apresentam manisfetações
de sua existência. Pela foto divulgada internacionalmente na mídia sobre o Forum
Mundial Social no Pará (ver acima), talvez tenha ele repercussão de caráter mais
folclórico do que eco-sócio-econômico.
Penso eu que um dia a humanidade (principalmente nós brasileiros) lamentará sua
omissão diante de tais atrocidades praticadas contra a Natureza.

26 de janeiro de 2009
“A TRAGÉDIA DOS COMUNS” ESTÁ CAINDO NO ESQUECIMENTO

“Controverso como somente ele soube ser”, o ecólogo americano Garret Hardin
(nascido no Texas em 1915), criou fama não somente pelo seu livro “The Tragedy of
the Commons” (A Tragédia dos Comuns), mas também pelos seus ataques ao iminente
desastre da superpopulação humana e sua defesa ao best seller “The Bell Curve” (R.
Herrnstein e Charles Murray, de 1994) (“A Curva do Sino”, expressão da estatística).
Neste livro os autores preconizam que “aqueles muito inteligentes, a chamada elite
cognitiva se separará da população de inteligência abaixo da média (uma tendência
social perigosa); e discutem ainda sobre as diferenças raciais quanto à inteligência”,
conforme sugere o subtítulo desse livro: “Estrutura de Classe e Inteligência na Vida
Americana”. Acreditando que cabia ao próprio indivíduo a livre escolha do tempo em
deveria morrer, Garret Hardin cometeu suicídio em sua casa, junto com a esposa, em
setembro de 2003, aos 88 anos de idade (e sua esposa aos 81 anos). Teve ele sua
“própria tragédia”.
Em que pese dúvidas sobre o caráter humanitário de seus pensamentos, nesta sua
obra (de 1968) este autor descreve com certa antecipação histórica um dilema sempre
presente em nossas ações: “pessoas praticando ações em interesse próprio, destruindo
recursos que deveria compartilhar com as demais pessoas, mesmo que esteja
perfeitamente claro que tais ações jamais deveriam ser perpetradas”. Na Tragédia dos
Comuns, Garret Hardin utilizou-se da expressão “Efeito Catraca” exemplificando com a
ajuda em alimentos que é dada a certos povos que morreriam de fome e que, se
continuam vivos, se multiplicarão durante os tempos de bonança e assim, tornarão
maiores as novas crises que surgirem, uma vez que o suprimento de alimentos não terá
77 
 

crescido. Alguns diriam: raciocínio perverso, mas real. E outros diriam o inverso. Não é
à toa a controvérsia que esse autor gerou com suas idéias.
Tal expressão, que nós brasileiros preferimos chamar de “Efeito Cascata”, pode ser
ilustrada em termos gerais, pelo fato de que nossas conquistas tecnológicas e de
domínio sobre a Natureza nos levam à dúvida sobre se tais conquistas são realmente
importantes para o bem-estar humano e uma boa qualidade de vida, ou se simplesmente
só fazem aumentar o seu consumo e o lucro para quem as produzem (?). Alguns poucos
exemplos: carrões potentes (caminhonetas do tipo Veículo Utilitário Esportivo) que são
grandes consumidores de combustível são indispensáveis (?); construir novas
hidrelétricas substituindo florestas para atender demanda energética direcionada para
aumentar conforto ambiental em casa e no trabalho (ar condicionado, inúmeros
aparelhos elétricos...) ou específica para produzir certo produto hoje tido como prático-
indispensável (como as latinhas de alumínio, feitas graças à energia gerada por uma
usina, como a de Tucuruí) é mais importante do que reavaliar atitudes de uso e
redimensionar o sistema energético (?); expandir cultivos, intensificar e comprometer
uso de solo de boa qualidade para produzir biocombustíveis é tão (ou mais) importante
do que garantir sua perpetuidade para produção de alimentos (?); queimar cultivos para
facilitar e reduzir custos [foto acima, à direita] continuará prevalecendo por quanto
tempo sobre a colheita natural e plantio direto (que preservam as propriedades naturais
do solo) [foto acima, à esquerda] (?); condomínios privados/fechados, granjas, resorts,
shopping centers, campos de golfe, serviços personalizados os mais diversos... vêm
tomando espaço e recursos do convencional popular que contemplaria a maioria (o
comércio de rua, as casas e vilas populares...) (?); as piscinas serão o refúgio inevitável
dos que procuram lazer saudável e seguro em detrimento dos ambientes naturais (praias,
lagos/lagoas e rios) (?) ...
Iríamos longe numa listagem desse tipo. Infelizmente nós demoramos muito em
reavaliar nossos procedimentos diante da nossa rápida evolução em explorar recursos.
Eis um exemplo desta nossa lenta evolução cultural, colhido no site do Ministério do
Meio Ambiente neste final de janeiro de 2009:
“O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, informou nesta quarta-feira
(21/jan/09) que o plano de Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, a ser
anunciado em fevereiro, virá acompanhado de uma novidade: uma lei nacional para a
redução progressiva de queimadas de palha nos 7 milhões de hectares de lavouras... .
O Brasil estará 100% livre de queimadas em 2020", disse Minc. "Esse é um ganho
muito importante porque, na queimada, se elimina matéria orgânica, com perda de
biomassa que geraria energia, se emite CO2 e se agride o pulmão dos trabalhadores."
A decisão foi anunciada após reunião do ministro com o presidente Lula. Participaram
do encontro também os ministros Reinhold Stephanes e Dilma Rousseff, entre outros.
Diante de tanta sabedoria, oriunda de tão eminentes “retardários” (ou seriam
“retardados” mesmo???), concluo que esta é a nossa TRAGÉDIA DOS COMUNS.
Alguns vão se aproveitando... enquanto Brás é tesoureiro... e quem vier depois que se
arranje. De vez em quando é emocionante cutucar o diabo com a vara curta. Pelo menos
somos ricos em chistes.
78 
 

24 de janeiro de 2009
... E HAJA SAQUE AOS NOSSOS RECURSOS NATURAIS!!! (OU:
A PRÁTICA DO “ANTI-DESENVOLVIMENTO
INSUSTENTÁVEL”)

Foto de Gabriel Pedra (em Google Imagens)

No final da década dos anos 90 (do século próximo passado) quando fui a Porto
Velho (RO) ministrar aulas na disciplina Proteção do Meio Ambiente, no curso de pós-
graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, tive a oportunidade de visitar um
campo de mineração da cassiterita, donde se extrai o estanho. Ficava o campo de lavra
desse minério a algumas dezenas de quilômetros de Porto Velho, sendo explorado por
conhecida multinacional de origem canadense. Fiquei estarrecido ao presenciar a
operação de destruição do solo e subsolo onde antes existia exuberante floresta,
utilizando-se de fortes jatos de água. O conjunto solo/subsolo era submetido a
peneiramento para extrair a cassiterita e a enorme quantidade de lama assim gerada era
conduzida para a floresta remanescente. Ao perguntar aos responsáveis por esse
procedimento sobre como seria feita a recomposição daquele local, antes com densa
floresta e agora com enorme buraco, recebia como resposta: “Não é necessária a
recomposição. Este local vai se transformar numa lagoa; com peixes”. Era muito difícil
imaginar como seria isso possível e se possível, se isto compensaria o que foi perdido!
E a floresta de terra-firme ao redor, que em toda sua existência jamais sentira a presença
de lama, certamente sofreria conseqüências de degradação pela ação desse novo efeito
invasor.
Lembrei-me do que disse o economista ecológico Clóvis Cavalcanti (in
CAVALCANTI,C. org. 2002. Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas
públicas. 4ª ed. São Paulo/Cortez Edit. e Recife/Fund.Joaquim Nabuco, pp21-40): “No
passado, os recursos naturais no país foram tradicionalmente explorados à exaustão”.
Ilustrou esse autor com o caso da explotação do manganês no Amapá: a jazida de 42
milhões de toneladas de manganês foi explorada de 1957 a meados da década dos anos
90, gerando 40 milhões de dólares à Bethlehem Steel Co. que nos pagava 1,4% de
royalties. Após o esgotamento da reserva de manganês, dos 25 km2 de floresta
destruídos, só metade foi recuperada e nenhum programa sócio-econômico foi
proporcionado à população local. E concluiu o autor acima citado: “Claramente, uma
79 
 

estratégia de desenvolvimento não pode se basear em tal forma predatória de uso da


Natureza...”.
Mas a mesma história continua...E depois do ouro e outros minérios... agora é a vez
da torianita, um material radioativo que tem 75% de tório, 7,5% de urânio e 10% de
óxido de chumbo em sua composição. O urânio pode ser usado como combustível
atômico na conversão em plutônio nos reatores nucleares; e o tório é usado para fabricar
diversos instrumentos, como lentes, lâmpadas, instrumentos científicos...e componentes
de armas nucleares. O chumbo também é utilizado para fins nucleares. A maior
concentração das minas de torianita está na região central do Amapá, num triângulo
formado pelos municípios de Porto Grande, Serra do Navio e Pedra Branca.
Desde 2004 que jornais do norte do país (Diário do Amapá, Folha do Amapá...), do
Correio Brasiliense e do site http://www.amazonia.org.br/ vêm denunciando o
contrabando desse importante minério que tem sido apreendido pela Polícia Federal. E,
como não poderia deixar de ser (conforme denunciado pela revista Isto É em 2006), há
indícios de que o roubo desse patrimônio natural existe há uns 15 anos e que atualmente
envolve senador, deputado federal, deputado estadual, procurador, prefeito, funcionário
do setor responsável pelo controle da produção mineral... e assim por diante. Aliás,
como é de praxe neste nosso país. Só em fevereiro de 2008 a PF tinha apreendido 1,1
tonelada (um copo de 250 ml contendo torianita pesa 2,5 kg e o quilo de torianita é
vendido de U$200 a U$300; imaginem o “peso do lucro”). Seu peso/valor faz com que
os saqueadores o chamem de “ouro negro”. Há suspeitas de que o contrabando saia pela
Guiana Francesa, indo para a Europa e Ásia (provavelmente Coréia do Norte).
Recentemente a PF recorreu à Justiça para obrigar a CNEN – Comissão Nacional de
Energia Nuclear a responsabilizar-se pela guarda do material apreendido (esse órgão diz
não lhe caber tal atribuição). Sou capaz de garantir que tais políticos, melhor dizendo,
tais “asseclas da caterva de marginais dos poderes legislativo, executivo e judiciário”
costumam utilizar nos seus discursos a expressão “desenvolvimento sustentável”,
quando na verdade praticam o “anti-desenvolvimento insustentável”; e de quebra...
vociferam o lema da moda: “sou brasileiro e não desisto nunca”.

10 de janeiro/2009
AQUECIMENTO GLOBAL: MERECE PREOCUPAÇÕES?
Toda vez que vem à tona este assunto, aproveito a oportunidade para relembrar
fatos e evidências que nos conduzem a pensar no aforismo do dramaturgo alemão
Bertolt Brecht: O VERDADEIRO PAPEL DA CIÊNCIA NÃO É O DE ABRIR
PORTA PARA A SABEDORIA INFINITA, MAS SIM ESTABELECER LIMITE
PARA O ERRO INFINITO. E isto nos estimula a meditar, questionar e discutir as
observações científicas e os paradigmas da ciência, visando esclarecer nossa
compreensão sobre a Natureza, sua estrutura e seus processos. Tudo em busca de boa
qualidade de vida...ambiental!
No que diz respeito ao conhecimento humano sobre o aquecimento global,
muitas têm sido as publicações que nos trazem informações sobre o que está
acontecendo com o clima da Terra e as conseqüências para a biota (o conjunto de todos
80 
 

os seres vivos, terrestres e aquáticos). Farei breves comentários sobre algumas


publicações e divulgações científicas em geral, sobre esse assunto. Começo com um
climatologista brasileiro que considera ser esta estória de aquecimento global um
instrumento político-econômico do “primeiro mundo” e que as mudanças climáticas
decorrem muito mais de alterações geradas pelas águas do oceano Pacífico do que das
atividades humanas. Falou ele também, em breve artigo publicado em Ciência Hoje,
sobre os gases emanados dos vulcões difusivos, que eram mais importantes (para a
camada de ozônio) do que os gerados pelas atividades dos seres humanos. Mas ele não
comenta nada sobre a lixiviação dessas emanações vulcânicas pela ação das chuvas, que
evita que tais gases cheguem à estratosfera e assim, venham a atuar sobre a ozonosfera e
gerar aquecimento.
Em ecologia costumamos observar os indicadores ecológicos, que são reações
naturais dos seres vivos às condições ambientais. Precisamos aprender mais a observar a
Natureza. Muitos exemplos são mostrados na bibliografia concernente; cito apenas uma
obra que merece ser lida: “BRAASCH, GARY (2007) Earth under fire. How global
warming is changing the world Berkeley, University of California Press, 267p” [= A
Terra em fogo. Como o aquecimento global está mudando o mundo]. Há neste livro
ampla documentação fotográfica e dados mostrando fatos bioecológicos das mudanças.
Em minhas aulas abordando esse assunto, costumo dizer aos alunos que: “SE
para nós é impossível evitar que a própria Natureza dê sua contribuição para o
aumento da temperatura atmosférica mundial (aquecimento das águas do oceano
Pacífico, gases dos vulcões difusivos e explosivos, metano emanado de pântanos,
manguezais, "wetlands" ou brejos, emanações provenientes dos ruminantes e
flatulência dos animais; devendo ainda considerar a crescente emanação de metano
dos arrozais, principalmente da China e Índia que continuam com suas populações
aumentando...)... MAS SE podemos reduzir a contribuição proveniente das atividades
humanas, acredito que a posição mais sensata é procurar estabelecer limites a partir
desta segunda alternativa, que está ao nosso alcance".
Eu acredito que os fatos bioecológicos comprovadores do aumento da
temperatura atmosférica e do efeito maléfico do aumento da incidência dos raios UV
(ultravioleta, que são naturalmente filtrados pela ozonosfera, situada a uns 15 km de
altitude) sobre a biota no nosso planeta são muitos. Eis um brevíssimo "mostruário"
(baseado em referências bibliográficas): (1) o mosquito da malária está se deslocando
para regiões antes consideradas como de características de clima temperado; (2) o da
dengue chegou na Argentina; (3) anfíbios, seus girinos principalmente, sensíveis à UV
estão sofrendo processos de extinção; (4) há evidências experimentais de que
propágulos de animais que vivem nos recifes de corais são sensíveis à UV (o
branqueamento dos corais vem ocorrendo devido a esse aspecto e ao aumento de
temperatura); (5) redução das geleiras do pólo Ártico; (6) derretimento de geleiras na
Antártica; (7) plantas herbáceas "escalando" os Alpes em busca de locais mais frios; (8)
estação da primavera se antecipando em 1,2 dias por década, em Wisconsin, EUA, a
partir de registros feitos desde Aldo Leopold (nos anos 30 e 40) e continuados por sua
filha, a botânica Nina Bradley (nos anos 80 e 90); (9) dentre 100 espécies de plantas
com flores estudadas em Washington, EUA., 89 delas tiveram floração antecipada (uma
81 
 

delas floresceu 46 dias mais cedo); (10) a marmota-de-barriga-amarela (da família dos
esquilos) do Colorado, EUA., está saindo da hibernação 38 dias mais cedo do que saía
há 25 anos atrás (explicação: a temperatura média em abril é 1,4oC mais elevada do que
no ano de 1976); (11) o "permafrost" está derretendo; (12) há formações de "desertos"
nos oceanos, devido principalmente à formação de zonas com baixa oxigenação [veja
postagens anteriores destes dois últimos assuntos, neste blog de ecologia]; etc. ... etc. ...
Explico que boa parte desses estudos tem sido efetuada nas regiões temperadas,
onde são esperados os maiores efeitos do aquecimento global. Exemplo: em estudo que
efetuei na Inglaterra, comparando solos daquele país com solos brasileiros observei que
os microrganismos dos solos ingleses aumentam sua respiração a 35oC em valores bem
mais elevados do que os microrganismos de nossos solos. Explico ainda que o fato de
certos animais despertarem mais cedo de sua hibernação implica em conseqüências
várias, como por exemplo saber se ao acontecer isso esse animal terá acesso fácil a
alimento (este alimento também “sofre as conseqüências da antecipação e assim estará
disponível?”).
Mas é preciso considerar que nessa mudança climática prevêem-se contradições:
ver "Warming will bring more rain, study claims" [= “Aquecimento trará mais chuva,
estudo alega”; reproduzido de New Scientist, 01/06/2007] (divulgado sob forma
bilíngüe neste blog de ecologia; e encontrado mais adiante). Alguns exemplos: algumas
geleiras na Antártica estão aumentando, em decorrência da poluição; alguns cataclismos
aumentam de intensidade e alguns de freqüência (furacões, como o Katrina); em
resumo: se há chuva, é chuva forte; se há nevascas, são também "exageradas"; os fatores
que atuam em termos climáticos são muitos; a maioria de difícil previsão. A revista
americana Science (em 2005) divulgou que o número de furacões das Categorias 4 e 5
tem quase que duplicado nos últimos 35 anos (18 por ano, a partir de 1990). O fato de
que as tempestades tropicais retiram energia da água oceânica para ganhar força, tem
levado os cientistas a hipotetisar que o aquecimento global e as águas mais quentes a ele
associadas poderiam levar a furacões mais fortes.
Confesso que sinto dificuldade em condenar aqueles que criticam o crescimento
de China e Índia, pelas expectativas de se tornarem potências mundiais. Refiro-me às
críticas feitas por americanos e europeus. Mas é assustador ver que dentre as 20 cidades
mais poluídas do mundo, 16 delas estão na China. Assusta-me o fato de que a China
detém uma das maiores reservas de carvão mineral (poluidor extremo) do mundo,
juntamente com Índia, Rússia, Austrália e EUA (este último país detentor das maiores
reservas); e que os chineses estão utilizando-o como fonte principal de energia. A
reserva mundial é estimada em 1 trilhão de toneladas. Nos EUA 90% de óxidos de
nitrogênio e enxofre, 37% de dióxido de carbono e 33% de mercúrio lançados na
atmosfera provêm da queima do carvão mineral. Na Austrália, 80% da energia elétrica
gerada provêm da queima do carvão mineral; é bem possível que seja por isso que
naquele país haja maior emanação de CO2 per capita do que nos EUA. China é
responsável pela metade do consumo mundial de cimento, que demanda bastante
energia na sua fabricação. Muitos chineses estão trocando suas bicicletas por carros
(caminho inverso ao caminho que muitos ocidentais estão pensando em começar a
trilhar). Imagine se tudo isso for somado e nada for feito!!!
82 
 

Muitos acreditam firmemente que a tecnologia resolverá tais possíveis impasses.


Como exemplo, quando o ecólogo Paul R. Ehrlich perdeu a aposta feita com o
economista Julian L. Simon: o primeiro “profetizou” que as reservas mundiais de
minérios se esgotariam até final do século passado; enquanto o segundo afirmava que a
ciência e a tecnologia trariam soluções e isso não aconteceria; como de fato não
aconteceu. Seus respectivos pontos de vista foram apresentados na ótima obra de
“MILLER Jr., G.T. (1996) Living in the environment. Principles, connections, and
solutions. 9th ed. Belmont, Wadsworth Publishing, 727p.”. Alguns citam o biodiesel e
combustíveis similares, como solução (este é outro importante “capítulo” para discussão
posterior). É bom lembrar o que disse o ecólogo norte-americano Amory Lovins,
especialista em questões de energia: “Tecnologia é a resposta. Mas... qual é mesmo a
pergunta???”
Forte abraço aos leitores e FELIZ 2009... RESPIRÁVEL!!!

06 de janeiro/2009
POLÍTICAS PÚBLICAS: A TEORIA, NA PRÁTICA É...UM SONHO
Há alguns meses lecionei a disciplina POLÍTICA AMBIENTAL E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL num curso de especialização em Direito
Administrativo e Gestão Pública, no Centro Universitário UNIPÊ, em João Pessoa. A
maioria da “clientela” era formada em Direito. Lembro-me que na preleção falei “que
a LEI não era por si só suficiente, nem eficiente para solucionar nossos maiores
problemas”, justificando (ou meramente explicando) que no Brasil havia mais de 175
mil leis federais e que a nossa legislação ambiental, por exemplo, é considerada a mais
avançada do mundo! No entanto, estamos entre os maiores do mundo em destruição,
poluição e descaso com o nosso patrimônio natural (também um dos maiores do
mundo), em total desrespeito à lei, estando os infratores impunes às penalizações nela
previstas. Isto sem falar na nossa irresponsabilidade quanto às gerações futuras! Na
pausa para o cafezinho uma aluna, bacharela em Direito, aproximou-se de mim e disse
que “a turma tinha ficado chocada” diante do meu ceticismo ou descrédito com
relação à LEI. Como venho trabalhando com questões ambientais há dezenas de anos,
aqui no Brasil em Universidades e Instituições de pesquisa (e também alguns anos na
Inglaterra), procurei mostrar aos decepcionados pupilos que o tempo e os fatos
convenceram-me de que nossa sociedade carecia muito mais de uma mudança profunda
na sua estrutura e que o temor à lei, nem a coerção, jamais surtiriam os efeitos que
realmente necessitamos.
E eis que chega ao meu conhecimento um ensaio de J.R. Guzzo (publicado na
revista Veja de 07/jan/2009) sob o título “Ideias mortas”. Transcrevo aqui alguns
trechos desse ensaio, contendo afirmações que “bem que gostaria que fossem minhas”:
Os países desenvolvidos do mundo podem estar na frente do Brasil em muita
coisa, mas perdem de longe em pelo menos uma: nossa capacidade de criar “políticas
públicas”. Faltam ao Brasil redes de esgoto, água tratada, coleta de lixo, transporte
público, portos, ferrovias e estradas asfaltadas. Faltam aparelhos de raios X em
hospitais, sistemas para conter enchentes e escolas capazes de ensinar a prova dos
83 
 

noves. Não temos confiança em políticos, juízes e autoridades em geral. Não temos um
serviço público capaz de prestar serviços ao público. Mas se há alguma coisa que temos
de sobra, em praticamente qualquer área da atividade humana, são “políticas públicas”,
quase sempre descritas como as “mais avançadas do mundo”; é difícil entender,
francamente, por que os demais 190 países que repartem a Terra conosco ainda não
copiaram todas elas.
Ninguém ignora que o Brasil conta com o que há de mais moderno no planeta
em matéria de proteção ao menor abandonado, direitos humanos (nossos assassinos, por
exemplo, têm o direito de cumprir apenas um sexto das penas a que forem condenados),
defesa do meio ambiente e legislação de trânsito. ... Não há quem nos supere em leis de
proteção ao trabalhador, ao deficiente físico e aos direitos do consumidor ─ e por aí
afora, numa lista que não acaba mais. É verdade que...os menores começam a matar
gente cada vez mais cedo e que o trânsito nas grandes cidades é uma piada. Mas aí
também já seria querer demais ─ não se pode exigir que este país, depois de toda a
trabalheira que teve para montar políticas tão admiráveis, seja também obrigado a
mostrar que elas produzem resultados práticos.
O ano de 2008 se encerrou com mais dois grandes momentos na história da
criação de “políticas públicas” para o Brasil. O primeiro...é a Estratégia Nacional de
Defesa...a idéia de melhorar as Forças Armadas...a transformação do Brasil em potência
militar...e até um submarino nuclear, no qual a Marinha trabalha desde 1979 e que ficará
pronto...no remoto ano de 1924. ... O segundo grande momento foi a finalização do
Plano Nacional de Cultura, que, segundo o governo, vai desenvolver as “políticas
culturais” do Brasil nos próximos dez anos... Mas, segundo o Ministro da Cultura, Juca
Ferreira, o plano se baseia em “300 diretrizes”... Não existe neste mundo projeto algum
que precise de 300 diretrizes para funcionar e, caso existisse, não haveria governo capaz
de aplicá-las. Não o brasileiro, com certeza. ...
Eu acredito que não tenha cometido nenhum exagero com o que afirmei em sala
de aula. Não foi à toa que o senador e historiador romano Tacitus (entre os anos 56 e
117 d.C) disse: “Corruptissima republica, plurimae leges” (Quanto mais corrupta é a
nação, mais leis ela tem).
A todos, FELIZ 2009

30 de dezembro de 2008
BRASILEIROS MAIS RICOS TÊM IDH MAIS ALTO DO MUNDO
PNUD - Brasil (Brasília, 22/12/2008)

Rico do Brasil supera o da Suécia em IDH. A elite brasileira lidera lista de 32


países analisados em estudo; os 20% mais pobres têm IDH pior do que os 20% mais
pobres de Vietnã e Paraguai.
O IDH do Brasil cresceu e o país é septuagésimo no ranking mundial. Os
brasileiros mais pobres vivem em condições de desenvolvimento humano comparáveis
às da Índia, enquanto os 20% mais ricos vivem em situação melhor que a fatia mais rica
da população da Suécia, Alemanha, Canadá e França (informações do relatório do
PNUD que analisa os números recentes do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH)
84 
 

e cita um estudo europeu que conclui que países que atingiram alto desenvolvimento
humano (IDH maior que 0,800) nos últimos anos, como o Brasil, ainda têm parte da
população sofrendo privações comuns às de países do fim da lista.
No Brasil, a fatia mais rica tem um IDH de 0,997, próximo do máximo
(1,000). O número é maior que o IDH do país que encabeça o último ranking obtido, a
Islândia (IDH de 0,968); e supera o valor correspondente aos 20% mais ricos de todos
os outros países calculados, incluindo o do Canadá (0,967) e o da Suécia (0,959),
terceiro e sétimo lugar na lista, respectivamente.
O atual IDH do Brasil, uma média de todo o país, é de 0,807, mas os mais
pobres estariam sujeitos a condições correspondentes a um IDH de 0,610, ficando
abaixo do segmento dos mais pobres: Indonésia (0,613), Vietnã (0,626), Paraguai
(0,644) e Colômbia (0,662). O IDH dos mais pobres brasileiros é comparável ao IDH da
Índia (0,609).
"Os resultados mostram que a desigualdade no desenvolvimento humano foi
bastante alta, e maior ainda em países em desenvolvimento”, afirma o relatório do
PNUD. O texto acrescenta que a América Latina é o continente que apresenta as
maiores desigualdades. No Brasil e em países como Guatemala e Peru, a diferença do
IDH dos 20% mais pobres para o IDH dos 20% mais ricos só não é superior à de alguns
países da África, como Madagascar e Guiné.
O relatório do PNUD ainda destaca outras formas de desigualdade. Segundo o
documento, uma criança que nasce em algum dos 20 países do topo do ranking pode
viver até os 80 anos, mas se ela nascer nos países de IDH mais baixo, sua expectativa de
vida não é maior que 49 anos.
... NOSSAS DIFERENÇAS SOCIAIS ESTÃO SENDO MINIMIZADAS... NO
TOPO DO RANKING !!!

06 de dezembro de 2008
DESLIZAMENTOS / ESCORREGAMENTOS: CONCEITOS
[Eis os conceitos, transcritos do GLOSSÁRIO DE ECOLOGIA E CIÊNCIAS
AMBIENTAIS - 3a. edição, 5a. Impressão - em CD/PDF]:
DESLIZAMENTOS / ESCORREGAMENTOS Em geologia, deslizamentos e
escorregamentos são tidos como movimentos de massa, que são deslocamentos de solo,
rochas, detritos diversos (incluindo materiais orgânicos) e cobertura vegetal geralmente
existente em encosta com declive suficiente para permitir desmoronamento sob ação da
gravidade. O conjunto “materiais inconsolidados (areia, silte, argila), ou seja, soltos e
não-cimentados (nem compactados), existente em encosta, adicionados de quantidade
de água tal que permita que a força da gravidade supere o atrito entre os componentes
do solo”, proporciona as condições que conduzem a um deslizamento (ou
escorregamento). Alguns autores usam o termo deslizamento para designar movimentos
de massa lentos.
Vários fatores contribuem para desencadear esse movimento de massa numa
encosta, quais sejam: a) existência de material inconsolidado; b) declive; c) vegetação
que, por razão natural (sistema radicular pouco profundo) ou por ação antrópica (por
desmatamento ou queima) não condicione estabilidade à massa de terra; d) possível
existência de substrato (subjacente) impermeável que sob ação da água nas camadas
sobrepostas faça-o atuar como “lubrificante” e conseqüentemente facilite o
85 
 

deslizamento; e) água retida em quantidade tal que permita que a força da gravidade
supere a força de atrito atuante nos componentes da encosta; f) eventualmente, tremor
de terra.
São inúmeros os registros de deslizamentos que ocorrem anualmente em várias
partes do mundo, causando muitas mortes de pessoas e grandes prejuízos materiais. Em
1999, nas montanhas Ávila, na Venezuela, um gigantesco deslizamento de lama, rochas
e árvores, causou a morte de 30 mil pessoas e destruição de mais de 20 mil casas. No
Brasil, as chuvas de 500 mm que caíram no Vale do Itajaí em Santa Catarina, entre 21 e
23 de novembro/2008 causaram deslizamentos que mataram mais de 120 pessoas,
desabrigaram e desalojaram 78 mil pessoas, com vultosos prejuízos materiais (40% da
população vivem em encostas; portanto, ricos e pobres foram atingidos). Alguns países
mantêm programa de prevenção de deslizamentos, com ações contínuas. Nos Estados
Unidos há o “LHP ─ Landslide Hazard Program” (Programa de Riscos de
Deslizamentos). Naquele país calculam-se os prejuízos anuais com deslizamentos entre
U$1 e U$2 bilhões e mais de 25 mortes. Muitas cidades brasileiras enfrentam problema
similar, que requer contínuo acompanhamento por estudos de Geologia, Engenharia
Geotécnica, com confecção de cartas de riscos, tais como as cidades de: Rio de Janeiro,
Petrópolis, Nova Friburgo, Belo Horizonte, Ouro Preto, São Paulo, Salvador, Recife,
Campos do Jordão, Santos, Caraguatatuba, Guarujá e outras.
Em termos ecológicos os deslizamentos, escorregamentos, desmoronamentos,
são considerados desastres ecológicos. Em geral, são computados os prejuízos materiais
e as perdas de vida humana. Mas desastres ecológicos como esses implicam em
prejuízos à vida ambiental como um todo, com resultados (negativos) geralmente
imprevisíveis. No estado de Santa Catarina certamente, faz-se necessária atenção
especial à legislação ambiental vigente, mormente as que se referem a licenças
ambientais e criação de áreas de preservação.

30 de novembro/2008
SANTA CATARINA: CATÁSTROFE DA NATUREZA ALIADA A
(DESASTROSAS) ATITUDES HUMANAS

ATÉ A IMPREVISIBILIDADE DA NATUREZA já vem se tornando


previsível!!! Este paradoxo aplica-se a muitas ações da Natureza em diversas regiões do
86 
 

mundo. Alguns poucos exemplos: a tsunami que em 27 de dezembro de 2004 destruiu


ocupações humanas litorâneas da Indonésia, Índia... matando cerca de 220.000 pessoas
(numa região que já se sabe ser suscetível a terremotos, por sua proximidade a locais
com placas tectônicas que se movimentam, o ser humano aproxima suas edificações
precárias o máximo possível às ações do mar); o furacão Katrina (que encontrou um
ambiente vulnerável a suas ações, devido ao fato de que o ser humano tomou o espaço
do "agente de tamponamento" ou defesa natural, que são os pantanais na Louisiana,
região no golfo do México altamente suscetível a tais fenômenos da Natureza); em
Bangladesh os desastres tornaram-se rotineiros (uma combinação de cataclismos
naturais com desflorestamento, degradação e erosão do solo) ; e inúmeros outros
exemplos relacionados à ocupação humana em ambientes suscetíveis a cataclismos...
E agora é a nossa vez! Já não bastam os históricos períodos de seca no
nordeste... vêm as cheias no sul. Nas costas do estado de Santa Catarina são comuns
ocorrências como as que ora vêm acontecendo (há registros de tais ocorrências desde o
ano de 1852). Na década de 1970 ocorreu catástrofe similar, com quase 200 mortos. E
agora as mortes já passam de 110.
A Natureza participa dessa catástrofe com os anticiclones que são sistemas de
alta pressão que, no Hemisfério Sul, originam ventos em sentido anti-horário. Eles são
comuns no litoral catarinense e no gaúcho, de onde sopram ventos do Oceano Atlântico
em direção ao continente. Isolados, não têm a força de causar grandes estragos e sua
duração numa mesma região não costuma ultrapassar três dias. Só que, desta vez, por
causa de um bloqueio atmosférico, isso não ocorreu. Até sexta-feira, o anticiclone
permanecia no mesmo lugar. Ainda que extraordinária, sua longa permanência não teria
causado a tragédia não fosse o fato de um segundo fenômeno: o vórtice ciclônico, que
ocorreu simultaneamente. Ao contrário do anticiclone, o vórtice ciclônico é um sistema
de baixa pressão que atrai ventos e gira no sentido horário. Como indica o nome, ele
funciona como um redemoinho em altitudes médias, e também não é um fenômeno
estranho à região. O problema surgiu da combinação com o anticiclone: o vórtice
ciclônico suga os ventos imediatamente abaixo dele, levando-os para cima, resfriando-
os e provocando novas chuvas. Foi assim, por meio da ação extraordinariamente
simultânea de dois fenômenos ordinários, que os índices pluviométricos na região
atingiram patamares de dilúvio.
E agora outro componente agravador da catástrofe: a atitude humana perante as
características da Natureza: o solo do Vale do Itajaí, a região mais afetada pelas
chuvas, é de composição argilosa, o que faz com que se desloque mais facilmente.
Encharcada pela chuva forte e constante, essa camada ficou mais pesada. Somem-se a
isso a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas e o
resultado são deslizamentos destruidores, o principal causador das mortes no litoral
catarinense e no Vale do Itajaí. Como 40% da população local reside em encostas, todas
as classes sociais foram afetadas.
E assim estamos sempre dizendo: isso aconteceria em qualquer lugar do
mundo!!! Vamos nos resignar!!!
87 
 

06 de novembro de 2008
NOVA RESOLUÇÃO DO CONAMA PARA VENDEDORES E
FABRICANTES DE PILHAS E BATERIAS
Divulgação do AMBIENTE BRASIL (http://www.ambientebrasil.com.br/), de
06/11/2008

Entra em vigor resolução do CONAMA sobre pilhas e baterias A partir desta


quarta-feira (5) todos os pontos de venda de pilhas e baterias do País terão dois anos
para oferecer aos consumidores postos de coleta para receber os produtos descartados.
Caberá ao comércio varejista encaminhar o material recolhido aos fabricantes e
importadores que, por sua vez, serão responsáveis pela reciclagem, ou, quando não for
possível, pelo descarte definitivo em aterros sanitários licenciados.O Diário Oficial da
União desta quarta-feira traz publicada a resolução nº 401 que estabelece os limites
máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no
território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente
adequado.A norma prevê ainda que nos materiais publicitários e nas embalagens de
pilhas e baterias, fabricadas no País ou importadas, deverão constar de forma clara,
visível e em língua portuguesa, a simbologia indicativa da destinação adequada, as
advertências sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, bem como a
necessidade de, após seu uso, serem encaminhadas aos revendedores ou à rede de
assistência técnica autorizada.Os fabricantes e importadores de produtos que
incorporem pilhas e baterias também deverão informar aos consumidores sobre como
proceder quanto à remoção destas pilhas e baterias após a sua utilização, possibilitando
sua destinação separadamente dos aparelhos.
Para as pilhas e baterias não contempladas na nova norma, fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes e poder público deverão implementar
programas de coleta seletiva também no prazo de dois anos previsto na resolução.
(Fonte: MMA)

OBSERVAÇÃO: Ainda estamos muito distantes para cumprirmos normas ou


recomendações criadas pelo nosso CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
(CONAMA); um exemplo: tentei depositar pilhas e baterias usadas num coletor de
pilhas e baterias existente no Centro de Vivência da Universidade Federal da Paraíba
(coletor este proporcionado pelo Diretório Central dos Estudantes) e, para minha
decepção, não consegui: estava entupido de resíduos sólidos outros (ou se preferem a
designação antiga: LIXO). Campanhas de esclarecimento, ou mesmo educação pura e
simples, ainda são indispensáveis para preceder ou acompanhar atos da lei.
88 
 

28 de setembro de 2008
SERVIÇOS AMBIENTAIS NA ECONOMIA DA NATUREZA
SERVIÇOS DE SERVIÇOS REGULADORES SERVIÇOS CULTURAIS
SUPRIMENTO Benefícios obtidos da regulação Benefícios não-materiais
Produtos obtidos dos dos processos dos ecossistemas obtidos dos ecossistemas
ecossistemas [Condições circunstanciais] [Potencial “adicional” da
[Recursos disponibilizados Natureza, a ser explorado pelo
pela Natureza] ser humano]
Alimento (1) Regulação climática (1) Espiritual/Religioso (1)
Água (1) Regulação de doenças/pragas (1) Recreação e Ecoturismo (1)
Madeira/lenha (2) Regulação de água (1) Estético (1)
Fibra (2) Purificação de água (1) De inspiração (1)
Compostos Polinização (1) Educacional (1)
químicos/bioquímicos (1)
Recursos genéticos ... Senso de localização (1)
(biodiversidade) (1)
... Herança cultural (1)
SERVIÇOS DE SUPORTE
Necessários ao funcionamento dos demais serviços
Formação do solo ― Ciclagem dos nutrientes ― Produtividade primária

Adaptado de Ecosystems and human well-being: a framework for assessment by the Millennium
Ecosystem Assessment. Copyright © 2003 World Resources Institute (FAO, 2007).
Observações ─ válidas para a Mata do Buraquinho:
Estão assinalados no quadro acima:

1. O QUE EXISTE NA MATA:


(1) EXISTENTE NA MATA ─ ESTANDO EM UTILIZAÇÃO E/OU COM
POTENCIAL A SER UTILIZADO
(2) EXISTENTE NA MATA E NÃO DEVE SER UTILIZADO

2. O SIGNIFICADO DE UTILIZAÇÃO:
A visão de utilização tem aqui a conotação ECOCÊNTRICA e não antropocêntrica.
Portanto, citando como exemplo alimento: este é um recurso ou “serviço de suprimento”
utilizado por inúmeros animais, incluindo-se o HOMEM, que se beneficia do mel
produzido por abelhas que visitam as flores da mata

ECONOMIA DA NATUREZA OU ECONOMIA AMBIENTAL:


Trata-se de um direcionamento dos estudos e investigações da ecologia e das
ciências ambientais para aspectos econômicos de explotação, ou seja, de exploração dos
recursos naturais, de maneira sustentável. Atualmente tem sido dada ênfase aos serviços
ambientais, que a Natureza presta aos seres humanos (e suas sociedades).
SERVIÇOS AMBIENTAIS: Atividades ou funções executadas pela Natureza e
que têm sido vistas recentemente, como de benefícios imprescindíveis à vida e que
podem ser submetidas a avaliações econômicas. Como sejam: o ar que todos respiram, a
regulação hídrica (o ciclo da água), o ciclo de nutrientes, produção de alimentos,
recursos genéticos (e recursos naturais em geral), regulação da temperatura atmosférica
e das águas, absorção e degradação natural de poluentes gerados pela humanidade etc.
No quadro acima, à esquerda, observam-se os Serviços Ambientais prestados à
sociedade por uma mata preservada, como a Mata do Buraquinho, em João Pessoa. No
quadro, os números entre parênteses significam: (1) EXISTENTE NA MATA
PODENDO SER UTILIZADO (2) EXISTENTE MAS NÃO DEVE SER UTILIZADO
89 
 

— Um exemplo da importância dos valores dos serviços prestados pela Natureza ao


homem: a expansão de uma ampla rede de áreas protegidas custaria à humanidade cerca
de U$4 bilhões por ano, representando assim uma “pechincha” se comparados aos U$38
trilhões atribuídos aos serviços prestados pela Natureza (este valor equivale à soma do
PIB de todos os países do mundo).
OS ECOSSISTEMAS PROVÊM UMA GRANDE VARIEDADE DE
PRODUTOS E SERVIÇOS QUE GARANTEM SUSTENTABILIDADE COM BOA
QUALIDADE DE VIDA. — EXEMPLO: “Uma floresta, além de fornecer
madeira/lenha, facilita ou intensifica a retenção de solo e a qualidade da água (filtrando
os contaminantes da água à medida que esta flui através das raízes e do solo), controla
as enchentes (regulando o movimento da água através dessa bacia hidrográfica), a
polinização (proporcionada pelos polinizadores que habitam a periferia da floresta), o
seqüestro do carbono (na forma de biomassa adicional), a conservação da
biodiversidade (incluindo o habitat da floresta e a ampla faixa de espécies que ela
abriga) e a estética da paisagem”.
EXTERNALIDADES: — Conseqüências não intencionais da produção e que,
diferentemente da economia de mercado em que o consumidor paga pelos insumos
influenciando, portanto, na produção, tais externalidades não são valoradas, não se lhe
atribuindo nenhum valor econômico e daí não há “feedback” (ou realimentação) da
produção.
ALGUMAS CONCLUSÕES: — Uma empresa, seja estatal ou privada, que
explore um recurso, água por exemplo, e que este recurso para que possa estar
disponível e de boa qualidade necessita de uma mata preservada e de um curso d’água
(externalidades) deve ela aplicar parte dos seus lucros na preservação desses
componentes ambientais vitais.
Um bom exercício mental: vamos pensar no caso da Mata do Buraquinho, com
seus 500 hectares e sua localização urbana (em João Pessoa), como uma fonte de
serviços ambientais.

05 de setembro/2008
USINA GERADORA DE ELECTRICIDADE COM "CARVÃO LIMPO"
USANDO "OXYFUEL" (OXICOMBUSTÍVEL)
[Scientific American, 04/09/2008]

Os Estados Unidos produzem metade de sua eletricidade a partir da queima de


carvão mineral, a qual emite para a atmosfera mais de 40% de todas as emissões de
CO2 daquele país. Na Suécia, a companhia Vattenfall tem problema similar; embora a
maioria da eletricidade daquele país provenha de hidrelétricas e usinas nucleares. Na
antiga Alemanha Oriental essa mesma companhia sueca produz energia elétrica a partir
de processos antigos de queima de carvão. Nesta usina é queimada uma das mais
"sujas" formas de carvão mineral: a lignita.
Em assim sendo, a Vattenfall decidiu construir um projeto demonstrativo em que
é queimado o "oxyfuel" (literalmente, oxicombustível). Trata-se da queima da lignita
numa atmosfera rica em oxigênio puro e CO2, ao invés de ar normal. Estando o
90 
 

ambiente da queima de carvão completamente livre de nitrogênio e outros gases,


produz-se nessa queima um CO2 quase puro e vapor d'água. O problema principal é que
para livrar-se do nitrogênio (78% do ar que respiramos é nitrogênio) há necessidade de
grande gasto da própria energia gerada. Esta tecnologia do oxicombustível já é utilizada
nas indústrias do aço e alumínio, podendo ser economicamente viável para gerar energia
elétrica, a depender da demanda, podendo atingir 1.000 MW produzidos pelas usinas
convencionais.
O CO2, como subproduto da queima do carvão, é colocado em "containers" e
bombeado para locais subterrâneos de onde há muito tempo se esteja extraindo gas
metano, facilitando assim a saída do restante desse gas.
Ainda neste mes de setembro a usina, de U$100 milhões, estará entrando em
operação demonstrativa. Resta saber no entanto, quão seguro será o processo de
retenção do CO2 nos vazios subterrâneos.

28 de agosto de 2008
O "PERMAFROST" NO AQUECIMENTO GLOBAL

[SCIENTIFIC AMERICAN, 26/agosto/2008]


“PERMAFROST” Solo com água, quase permanentemente congelada, estando
sob a forma líquida em período muito curto do ano, típico da região ártica, sobre o qual
ocorre a tundra.
Segundo o pesquisador David Lawrence do National Center for Atmospheric
Research no Colorado, E.U.A., os 335 cm (= 3,35 m) superiores do solo no polo Ártico
continuam a derreter. Buracos de escoamento se formam, rodovias se curvam, florestas
e casas sofrem inclinações, "como se estivessem descarregando seu ódio sobre a
paisagem, sobre a vida selvagem e cidades". Estima-se que as áreas de permafrost
cairão dos 10.359.000 km2 atuais para 1.035.000 km2, fato este previsto para ocorrer
até o ano 2100. Na foto acima vê-se em azul claro a área do Ártico onde hoje existe o
permafrost e em azul escuro a área futura.
Os rios do Ártico já estão carregando mais 7% de água doce para o oceano do
que carregavam nos anos de 1930.
91 
 

E o mais preocupante: essa camada de permafrost contém algo entre 20 e 60%


de todo o carbono aprisionado em solos do mundo. Seu derretimento, portanto,
conduziria a um maciço sistema positivo de realimentação que elevaria mais ainda a
concentração dos gases do efeito estufa. Tais gases, dióxido de carbono e metano,
seriam liberados pela decomposição da matéria orgânica hoje aprisionada no permafrost
congelado.

22 de julho de 2008
FOZ DO RIO AMAZONAS: EFICIENTE DRENO DE CARBONO
ATMOSFÉRICO
Divulgação na revista inglesa New Scientist mostra resultado de pesquisa por
oceanógrafo norte-americano demonstrando a grande importância do fitoplâncton do
oceano Atlântico na captação de carbono atmosférico. Veja o verbete FONTE e
DRENO, extraído do Glossário de Ecologia e Ciências Ambientais (Autor: Breno
Machado Grisi; 3a.ed., 4a.impressão, 2008) e entenda o por quê deste potencial do rio
Amazonas para a redução do aquecimento global:
FONTE E DRENO (ou CAPTOR) Referem-se estes termos respectivamente, ao
componente ambiental de onde se origina um nutriente (ou elemento químico
participante da biogeociclagem) e ao componente que absorve ou fixa tal nutriente
(tirando-o momentaneamente do processo de ciclagem).
As florestas, ao tempo em que atuam como dreno ou captor de carbono,
absorvendo-o da atmosfera e fixando-o na sua fitomassa, elas também atuam como
fonte, uma vez que emitem carbono a partir de sua respiração. Além disso, a queima de
uma floresta representa uma grande fonte de carbono e outros gases do efeito estufa.
Seu manejo adequado, com replantios constantes, é uma garantia de que uma floresta
atue mais como dreno ou captor de carbono do que fonte; além de ser uma grande fonte
de oxigênio, quando em crescimento.
Pesquisas recentes divulgadas em New Scientist (www.newscientist.co.uk)
mostraram que “explosão estacional” de fitoplâncton do oceano Atlântico quando
fertilizado pelo rio Amazonas, constitui-se em dreno altamente eficiente de carbono da
atmosfera. As pesquisas foram realizadas na foz do Amazonas. O fitoplâncton mostrou-
se ser ainda, grande fixador de nitrogênio da atmosfera, enriquecendo assim a água
oceânica. Esta forma de armazenamento é muito eficiente pelo fato de que os principais
organismos fotossintetizadores são diatomáceas, que têm proteção externa silicosa,
fazendo com que após sua morte, elas afundem, levando consigo cerca de 20 milhões de
megagramas (ou toneladas) de carbono por ano (segundo estimativa dos pesquisadores).
É possível que na foz de outros grandes rios, como o Congo e o Orinoco, possa também
existir tal eficiente dreno de carbono.
92 
 

12 de julho de 2008
ESTAÇÃO CIÊNCIA: INICIATIVA CERTA EM LOCAL ERRADO!!!

Quem sou eu para não apoiar uma iniciativa pró-ciência?! Na juventude, eu


procurava conhecer tudo sobre ciência que me chegasse ao alcance dos olhos e ouvidos
(filmes e notícias de rádio e um pouquinho mais tarde, pela TV) e ao alcance do bolso
(até em Seleções do Reader’s Digest!); e algumas vezes filava leituras nas revistas
americanas Times e Newsweek. Optei na graduação e pós-graduação em buscar
conhecimentos em ecologia. O governo brasileiro, mais precisamente, o povo brasileiro,
investiu muito recurso na minha formação científica, feita no sul do Brasil e no exterior.
Ciência tornou-se a essência da minha atividade profissional. Somente no doutorado, já
com 35 anos de idade, pude conhecer um local onde se vê, se sente, se vive um
ambiente científico, disponível à visitação pública (um sonho em minha juventude!); foi
nos Museu Britânico e Museu de História Natural, ambos em Londres.
Sempre tive a consciência de que era meu dever proporcionar retôrno à
sociedade; pesquisando sobre nossos ambientes, ensinando e participando da formação
de bons profissionais e, desejavelmente, participando de ações em questões ambientais
relevantes. Mas, entre o que deveria ser feito e o que é realizado de fato, existe o nó
górdio: governantes e políticos. Os desencontros foram tantos, que desisti de continuar
realizando estudos de impactos ambientais, onde no final, eu somente servia para
legitimar as ações desejadas pelos empreendedores! Muitas delas maléficas à Natureza.
Mas sempre continuei à disposição para discutir ações que governos intencionassem
perpetrar. Aliás, é um direito de qualquer cidadão participar de discussões sobre
projetos em sua cidade.
Disso tudo, tiro algumas conclusões práticas sobre a implantação e construção
de uma Estação Ciência, aqui em João Pessoa. LOUVÁVEL a iniciativa de uma obra
desse porte. REPROVÁVEL o local específico escolhido para sua construção. Não me
compete discutir aspectos relativos à prioridade (ou não) de cunho sócio-econômico,
93 
 

custo-benefício e outros... Nem tampouco sobre a exposição do equipamento ali


instalado aos efeitos dos aerossóis marinhos (os borrifos, a maresia), pela grande
proximidade à linha costeira e ausência de vegetação protetora (a restinga). A falésia do
Cabo Branco, da formação Barreiras (costeira, terciária), de arenitos friáveis,
caracteriza-se como área que, num critério ecológico passível de interferência humana
receberia um sinal “vermelho”: nenhuma interferência humana deve aí ocorrer. Até
algumas dezenas de metros adentrando o continente, o sinal seria “amarelo”: não é
aconselhável interferência. Somente após os 100 m surgiria o sinal “verde”: apropriado
a alguns tipos de interferência. O local onde foi construída a Estação Ciência situa-se na
interface “vermelho-amarelo”, local este que encanta governantes e atrai turistas. Este
último, infelizmente, critério prioritário de julgamento. Acrescentem-se nas
interferências, as vias de acesso e o movimento para ali atraído. Alguns efeitos
negativos: trepidação, aumento de fluxo de água pluvial e sua condução nem sempre
perfeita, subtração de vegetação natural (redutora de impactos e fixadora do solo).
Há mais de duas décadas que observo e fotografo a falésia do Cabo Branco, que
dizem estar sendo destruída pelo avanço do mar. Ledo engano! Há sinais de que a
destruição vem ocorrendo de cima p’ra baixo! No sopé da barreira, atingida pelo mar, a
Natureza se recompõe. Se dermos “uma mãozinha” a esse fenômeno natural, a falésia
será preservada. Mas no topo dela, o homem vem comprometendo sua sustentação. As
fotos acima ilustram os fatos: todas as fotos mostram que no sopé da barreira, a
existência de rochas e ajuntamento de areia proporcionaram um ambiente propício ao
aparecimento de vegetação natural, resistindo à ação do mar; a deposição de areia
resulta do desmoronamento no topo da barreira (onde passa uma via asfaltada com
trânsito de veículos); a foto inferior na direita foi tirada exatamente na altura da
localização do farol, onde os turistas param para observar a paisagem. São fatos ou
serão só argumentos?!
De qualquer forma, é uma lástima que no nosso meio, iniciativa tão relevante
não seja precedida por discussão de mesmo porte!!!

06 de julho de 2008
AQUECIMENTO GLOBAL: ESTÁ CADA VEZ MAIS COMPLICADO!!!
[BILINGÜE]
New Scientist, 02/julho/2008
INGLÊS: TV boom may boost greenhouse effect
PORTUGUÊS: Incremento [na fabricação] de TV [tela plana] pode elevar o efeito
estufa
INGL.: An industrial chemical being used in ever larger quantities to make flat-screen
TVs may be making global warming worse. However, because it's not covered by the
Kyoto protocol, nobody knows by how much.
PORT.: Um produto químico industrializado que está sendo usado em quantidades cada
vez maiores para fabricar TVs com tela plana pode piorar o efeito global. Entretanto,
por não ter sido contemplado pelo protocolo de Kyoto, ninguém sabe o quanto ele
contribui.
94 
 

INGL.: The gas is nitrogen trifluoride (NF3). As a greenhouse gas it is 17,000 times
as potent as carbon dioxide, molecule-for-molecule, yet is not covered by Kyoto
because it was made in tiny amounts when the protocol was agreed in 1997.
PORT.: O gas é o trifluoreto de nitrogênio (NF3). Como gas do efeito estufa ele é
17.000 vezes mais potente do que o dióxido de carbono, molécula-a-molécula, mas
ainda não foi contemplado por Kyoto porque ele ainda era produzido em quantidades
diminutas por ocasião do acordo em 1997.
INGL.: Even today, no one is measuring how much reaches the atmosphere. The one
certainty is that it is accumulating. In a new study, Michael Prather of the University of
California, Irvine, calculates that it has a half-life in the atmosphere of 550 years.
PORT.: Mesmo hoje, ninguém está medindo quanto alcança a atmosfera. A única
certeza é que ele está se acumulando. Em novo estudo, Michael Prather da Universidade
da California, em Irvine, calcula que ele tem meia-vida na atmosfera de 550 anos.

20 de junho de 2008
...E TOME-LHE LENHA NA FOGUEIRA!!!
...na fogueira das discussões, é óbvio!

Tenho observado que grande parte das pessoas que defendem a perpetuidade da
queima livre e desmedida de lenha, nas celebrações juninas, utilizam-se muito do
argumento da manutenção das nossas tradições culturais e pouquíssimo dos fatos
ambientais. Eu não sou contra tal tradição cultural, contanto que nela seja inserida uma
limitação consciente, com preocupações para não alimentar a tão disseminada “cultura
do desperdício”, que viceja no nosso país. Já nos basta a barbárie da perda de um terço
do alimento produzido no Brasil, do local de sua produção até a mesa do consumidor.
Numa análise muito resumida, dois aspectos vêm se sobressaindo entre aqueles
que, incontinente, defendem a manutenção dessa tradição, sem nenhum reparo: 1) A
manutenção das fogueiras por tratar-se de uma tradição cultural (a comida típica, a
dança e as brincadeiras em torno da fogueira...), manifestação religiosa (relembrando o
ato de Isabel avisando à N.Sra. que tinha dado à luz, o devoto pisando em brasa...); tudo
isso sob a óptica dos cristãos católicos, até há pouco tempo uma massa cristã
dominante! 2) A contribuição ínfima desse ato de queima, ao aquecimento global ou
efeito estufa.
Como ecólogo, não me atrevo a comentar sobre tradições religiosas, nem sobre a
importância das manifestações de fé, ou mesmo diversão, uma das pouquíssimas de que
dispõe o residente no sertão nessa curta época do ano, argumentam alguns. Atenho-me a
comentar um pouco sobre o segundo aspecto dessa questão: a problemática ambiental.
Àqueles que priorizam a defesa das tradições, lembro-lhes que muitas outras
tiveram que ser abandonadas por serem reconhecidamente “fora dos tempos atuais” ou
impossíveis de serem praticadas, algumas em termos puramente ambientais, outras por
princípios humanitários e outras por tudo isso e mais por terem sido adotadas práticas
de maior avanço tecnológico e conseqüentemente, maior rendimento, conforto etc.
Vejamos algumas: (1) tenho amigos que relatam com saudade os tempos em que saíam
para o mar e traziam dezenas de quilos de lagosta, camarão e peixe (observação quase
95 
 

inútil: lembro-me que a última vez que comi lagosta, foi comprada pela minha mãe na
porta de casa, nos anos 1967-69); (2) conheço senhores que relembram quando “se
divertiam” nos fins de semana, saindo para caçar e seus filhos também praticavam
matança similar com suas atiradeiras abatendo passarinhos, lagartixas e outros pobres
animais; (3) quando em 1949 morei em Patos, bravio sertão paraibano, tinhamos
energia elétrica até o começo da noite, gerada por queima de lenha (em João Pessoa e
muitas outras cidades também foi assim, antes de mudar para queima de óleo e a partir
da década de 1950 para geração hidrelétrica); (4) donde concluímos que a madeira era
abundante (outra observação quase inútil: nos anos 1973-76 morei em Ilhéus, na Bahia,
numa casa com o assoalho de quartos e salas taqueado com jacarandá, e hoje
relembrando, acho que vou rir, porque se chorar, os móveis de minha casa, todos em
aglomerado, se esfacelarão aos pingos de lágrima!).
E a contribuição das fogueiras ao efeito estufa? Grande parte dos processos na
Natureza, mormente os deletérios, se somam. Se pudermos evitar a redução de gases do
carbono emanados de atividades passíveis de contrôle, que o façamos. Não poderemos
evitar que gás metano (do efeito estufa) seja emanado dos arrozais e da ruminação de
bovinos, pois a população humana em breve chegará aos 10 bilhões e a expansão desse
cultivo e de pastagens é inevitável. Os manguezais nos estuários também emanam tais
gases, mas são responsáveis por uma das maiores produções de alimento do mundo.
Mas podemos reduzir emanação de gases do efeito estufa, optando por carros
econômicos (enquanto um “SUV-Sport Utility Vehicle”, essas caminhonetonas,
percorrem uma média de 5 km com 1 litro de gasolina, o meu carrinho percorre 14 km);
podemos abolir a queima de florestas; e está ao nosso alcance atos simples, mas que
contribuem positivamente, como a fogueira comunitária. Um lembrete importante: o
São João é, antes de tudo, uma festa comunitária, bem lembrado pelo amigo agrônomo,
pedólogo, Luiz Ferreira.

18 de junho de 2008
A POLÊMICA DAS FOGUEIRAS
Conta-se que certo indivíduo tentou convencer outros, de diversas
nacionalidades, a pularem num precipício. Ao inglês, convenceu-o dizendo que era um
“pedido da rainha”; ao italiano, dizendo que lá embaixo “lhe esperava a Sophia Loren”;
ao francês, “que era pela glória da França” e este despencou aos gritos de “Vive la
France”!; ao americano dissuadiu-o dizendo que ele iria lá encontrar “1 milhão de
dólares”; e ao brasileiro ... colocando uma placa É PROIBIDO PULAR.
Como professor de ecologia e pesquisador, nunca fui muito simpatizante do
“proibir” e talvez por isso, nunca me atraiu a advocacia. Optei pela educação. Esta me
parece ter bases mais construtivas e duradouras. Gostamos de dizer que muitos povos
respeitam a lei, enquanto nós a tememos! É fato conhecido que nós aqui no Brasil
dispomos das mais completas leis de proteção ambiental do mundo. E é também fato
conhecido que nós estamos entre os maiores destruidores da Natureza, no mundo.
Donde concluo que sensibilizar nosso povo para a necessidade de nos adaptarmos à
mudança dos tempos e conscientizá-lo para a urgência em agir, em benefício das
gerações futuras, é um imperativo incontestável. Enxergar muito mais adiante do que
96 
 

somente algumas poucas gerações à frente, como costumamos fazer ao dizermos “isto é
para os meus filhos e netos”, faz-se necessário e urgente. Nossa responsabilidade é
deixarmos a Natureza para as gerações futuras (sem limite), no mínimo, com os
recursos que encontramos. Muitos ecólogos e outros profissionais que lidam com as
questões ambientais, acham que temos o dever de deixar o nosso planeta em condições
melhores até! Um dos fortes motivos para isso: a cada dia que se passa dispomos de
mais conhecimento e melhores condições tecnológicas para assim fazê-lo.
Conservar a Natureza envolve muitas atitudes e procedimentos. Um deles, que
sempre vem à tona nesta época do ano por suas conseqüências negativas é a queima
desenfreada de lenha. Em alguns locais de nossa maravilhosa região nordeste existe até
concurso para ver quem monta a maior fogueira! Oh meu Deus! Só me vem à mente
esta expressão. Não gosto de sair de casa na véspera do São João para não ter que ver e
sentir tamanho desperdício, principalmente porque tenho certeza que tal recurso natural
renovável, não será renovado. Se assim o fosse, respeitando-se o uso adequado do solo,
este lado negativo de nossas tradições se reduziria.
Reconheço e respeito as nossas tradições culturais da nossa festa do milho e de
manifestação religiosa. Assar o milho numa fogueirinha e brincar em torno dela não é
nenhuma tragédia ambiental. Mas soltar balão pode ser uma tragédia! O aquecimento
global, a poluição atmosférica com gases do efeito estufa e partículas sólidas não
sofrerão grandes acréscimos por causa disso. Mas, ainda sonho com o dia em que nesse
momento de celebração, possamos reduzir o gasto com este recurso natural que ainda é
de ampla utilidade para nós. A lenha ainda é o combustível para cozer alimento de
muitas pessoas pobres; alimenta fornalhas de padarias, olarias e outros processos de
produção. Quando estou em sala de aula, trabalhando com futuros pedagogos, insisto
em que eles tentem convencer as pessoas das ruas em que moram, ou seus familiares,
para fazerem apenas uma fogueirinha ou uma fogueira comunitária. Ao invés de 10
fogueiras por rua, 1 só fogueira já reduziria em 90% o gasto de lenha.
A consciência ecológica do agir localmente é um trabalho de formiguinha que só
aparecerá globalmente se a prática dos 3 Rs (reduzir, reutilizar, reciclar) tornar-se rotina
no dia-a-dia nas escolas e na nossa vida. Por isso, só acredito na EDUCAÇÃO.

20 de maio de 2008
ALIMENTOS versus BIOCOMBUSTÍVEIS
Antes dessa crise de alimentos, o Eng.Agrôn. LUIZ FERREIRA (ex-pesquisador
da CEPLAC) publicou na Agência de Notícias- http://www.r2cpress.com.br/ - a
seguinte crônica, que achei ser útil aqui divulgar.
A ENERGIA PRIORITÁRIA Informações da FAO (Organização das Nações
Unidas para a agricultura e alimentação) dão conta que, no ano 2010, deverão existir
650 milhões de famintos, com base no declínio agrícola mundial dos últimos 30 anos.
Por outro lado, enquanto os países ricos têm investido na produção de alimentos,
sobretudo depois da crise do petróleo, com a aplicação de tecnologias, existindo hoje
excesso de oferta, os países pobres, sempre na contramão da história, continuam a
aumentar a sua indigência rural. Essa estratégia das Nações desenvolvidas se deveu ao
simples fato de que petróleo não se come, aliado à constatação de que os árabes são
97 
 

carentes em agricultura, daí se ter projetada a hegemonia do alimento sobre o produto


fóssil, como salvaguarda.
Enquanto isso, sete milhões de hectares de terrenos são perdidos pelo mau uso
do solo estimando-se que 250 milhões outros, poderão perder o seu valor agrícola em 20
anos.
Dessa forma, o desafio, especialmente para os países subdesenvolvidos, é
incrementar urgente a produção de grãos, raízes, tubérculos e frutas, além da proteína
animal, utilizando tecnologias compatíveis à natureza de seus solos, de modo a não
degradar as suas terras. Adicionalmente, é fundamental que se produza em lugar certo,
com a vinculação do homem do campo à cidadania econômica.
Isso significa dizer: (a) o solo tem que ser manejado, como se fora um legado
usufruto, de modo a que passe às gerações futuras com sua capacidade produtiva; e (b)
os alimentos devem ser produzidos em áreas descentralizadas, contemplando o pequeno
agricultor, de maneira a que o alimento chegue às populações carentes, seja como auto-
subsistência, ao nível das feiras, sem intermediários, etc. possibilitando acabar com a
fome no campo.
Dentro dessa visão, é fundamental a participação da pequena produção, não
como unidades isoladas e operacionalizadas com a enxada, a “matraca”, etc., mas sob
sistemas cooperativos ou de empresas associativas, dentro de um programa abrangente
de governo, que contemple desde a organização da produção ao associativismo,
possibilitando ao pequeno agricultor produzir com tecnologias, ter garantias
mercadológicas, acesso aos insumos e, em última análise, ser um empresário vinculado
à economia de mercado.
E aí estão os sem-terra, que poderiam prestar uma contribuição fantástica ao
país, tanto no que concerne a acabar com os famintos, como evitar a miséria urbana.
Isso se, além da terra, o governo pensasse em desenvolvimento rural integrado e, não
simplesmente, como parece ser o caso, apenas assentar sob pressão, para “inglês ver”,
como se estivesse interessado em mantê-los no campo, evitando que a miséria se
desloque para os grandes centros.
Em reforço, não basta uma produção de 200 ou mais milhões de toneladas de
grãos, se ela não permite que mais de 20 milhões de pessoas tenham acesso à comida,
significando dizer que há algo de errado neste modelo de desenvolvimento econômico
brasileiro.
E a tendência é se agravar com o enfoque exagerado “agroenergético”,
substitutivo do petróleo, numa inconseqüente expansão descontrolada da cana-de-
açúcar, ”atropelando” as culturas de subsistência, como já mostra estudos em São Paulo,
por mais que o governo negue, reduzindo os seus plantios e/ou elevando os seus preços,
quando os alimentos são a mais importante fonte energética humana.
Não se deve esquecer o fiasco da mamona, fazendo com que o governo para
cantar de galo, como grande produtor de biodiesel, tem recorrido à soja, uma fonte
alimentar sem igual.
E por falar nisso, como tudo que acontece no nosso país - vale mais o efeito
político e que se dane o planejamento - o etanol tão decantado pelo governo, poderá se
transformar em dor de cabeça futura, pelo descontrole, haja vista o investimento
98 
 

mundial em produzi-lo com outros cultivos e, sobretudo, através da hidrólise da


celulose. Neste último caso, a cana perderia a sua prevalência, provavelmente.
Num país, como o Brasil, rico em solos, clima, relevo, altitude, bacias hídricas,
mão de obra ociosa, etc. podendo-se plantar desde a batata doce à maçã, nada justifica o
brasileiro passar fome, a não ser a incompetência dos homens que mandam nessa
Nação, incluindo o poder público e a elite burra, sem antevisão de futuro, sem
patriotismo e, por que não dizer, destituída de espírito cristão.
Mais fácil e lucrativo tem sido para todos os governos, a distribuição de esmolas
(apelidadas, hoje, de bolsas), faturando na boca da urna, do que investir no meio rural,
implementando uma política integrada de aproveitamento dos recursos da terra, na qual
o homem do campo seria o epicentro do sistema.

16 de maio de 2008
NOVO MINISTRO DO MEIO AMBIENTE, NOVOS PROBLEMAS???
Vale a pena ler artigo de O ECO, divulgação do site
http://www.portaldomeioambiente.org.br/

Saída calculada: análise sobre a saída de Marina (16/5/2008) Muita gente


apostou que ela sairia quando a Lei de Biossegurança foi aprovada, liberando o plantio
de transgênicos sem estudos de impacto ambiental. Outros diziam que, quando o
governo Lula aprovasse as grandes obras de infra-estrutura para Amazônia, a ministra
do Meio Ambiente pediria as contas. Mas vieram rodovias na floresta, o licenciamento
das usinas hidrelétricas do rio Madeira, e Marina Silva não arredou pé. Porém, foi nesta
terça-feira 13 de maio, Dia da Abolição, que a acreana Maria Osmarina Marina da
Silva, abandonou o governo de seu aliado de longa data Luis Inácio Lula da Silva. Mas
por que só agora, depois de engolir tanto desaforo?
Engana-se quem acha que Marina Silva resolveu sair do ministério do Meio
Ambiente ao saber que o presidente Lula entregaria a coordenação do PAS (Plano
Amazônia Sustentável) ao ministro Mangabeira Unger. A ministra começou a
amadurecer essa decisão bem antes do lançamento do programa na última quinta-feira,
em Brasília. Há cerca de seis semanas, ela avisou a um grupo muito próximo de
assessores que talvez fosse hora de começar a se preparar para voltar ao Senado. Disse,
no entanto, que não faria nada precipitadamente e que sua saída do ministério, se
realmente ocorresse, aconteceria lá para fins de julho, início de agosto.
Marina não contou a ninguém, mas na época, começou a achar que o presidente
estava agindo no sentido de desmoralizá-la lenta e gradualmente. Para começar, Lula
fez coro com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, questionando os números do
Inpe, corroborados por dados levantados pelo Imazon, de que o desmatamento na
Amazônia estava recrudescendo. O presidente tampouco reagiu quando as ações da
Polícia Federal viraram alvo de críticas dos ruralistas, que pediam mais cerimônia das
autoridades no combate ao desmatamento nos 36 municípios considerados os mais
críticos da região.
Existem indícios de que mais uma indisposição entre o governador Blairo Maggi
e Marina Silva – durante o lançamento do PAS, na semana passada – tenham motivado
99 
 

sua saída. Procurada pela reportagem de O Eco, a assessoria do governador de Mato


Grosso não quis responder.
Lula também não se mexeu quando foi alertado por Marina e seus assessores no
ministério do Meio Ambiente que os ruralistas estavam se mexendo para passar no
Congresso o projeto de lei do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), conhecido pelas
alcunhas de ‘Floresta Zero’ e ‘Estatuto do Desmatamento’, que prevê a redução da
reserva legal em fazendas na Amazônia de 80% para 50%. A ministra também sentiu
que no Planalto não havia muito apoio para uma medida adotada no início de março
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), impedindo bancos públicos e privados de
concederem crédito a fazendas que não estejam cadastradas nos órgãos ambientais e
com um plano de recuperação de suas reservas legais registrado nos órgãos
competentes.
Cortes no PAS A medida tomada pelo CMN, para a qual a Casa Civil e o
ministério da Agricultura torciam o nariz, poderia muito bem secar um bom naco do
crédito que financia o corte de árvores na região Norte. Os fazendeiros resistiram
frontalmente a ela, evitando fazer o cadastramento e pressionando seus representantes
em Brasília a pedir o adiamento de sua entrada em vigor, marcada para primeiro de
julho. A falta de uma palavra pública do Planalto em favor da medida, sinalizou a
Marina que ela talvez estivesse natimorta, dando a então ministra mais motivos para ir
embora.
O silêncio do Planalto sobre os ataques do ministério da Agricultura contra a
lista de propriedades embargadas por problemas ambientais que o Ibama colocou na
Internet, foi outro sinal de que talvez tivesse chegado a hora de partir. As razões finais
para pedir o boné, no entanto, vieram na quarta-feira da semana passada. No fim da
noite, às vésperas do lançamento do PAS, Marina descobriu que o programa que ela
levara para a análise do Planalto tinha sido reduzido a trapos pelas tesouras da Casa
Civil da Presidência da República.
Das duas dezenas de decretos de criação de Unidades de Conservação que estão
engavetadas desde o início do ano passado na escrivaninha de Erenice Guerra,
secretária-executiva de Dilma Roussef, apenas 3 foram liberadas. E entre elas não
estava a unidade mais cara à ministra, a Reserva Extrativista do Médio Xingu. De fora
do anúncio, ficaram também as propostas sobre pagamentos por serviços ambientais
prestados por áreas cobertas com floresta e um pacote de medidas para forçar a
regularização fundiária na região. Foi demais para Marina.
Máquina do Planalto No fim de semana, ela revelou a alguns assessores que
provavelmente sairia do governo antes do que imaginava. Mas foi só na segunda-feira
de manhã que ela tomou a decisão, avisada a amigos e auxiliares próximos através de
uma mensagem de texto enviada para seus celulares, marcando sua despedida oficial
para o dia seguinte. Na segunda de noite, reuniu 13 assessores diretos e pediu que eles
permanecessem em seus cargos a espera da indicação de um novo ministro. A quem
quis uma explicação sobre sua decisão, Marina respondeu que era impossível ficar
depois de tantas demonstrações de falta de apoio presidencial.
Na terça-feira, Marina ainda teve o dissabor de ter de enfrentar a máquina de
comunicação do Planalto. Em silêncio, ela viu o palácio vazar a sua carta de demissão,
100 
 

um texto escrito por ela apenas para os olhos do presidente, e soltar uma série de boatos
sem qualquer fundamento. O primeiro dizia que Lula já esperava a demissão há dois
meses e tinha convidado Carlos Minc, secretário de meio ambiente do Estado do Rio,
para assumir o cargo.
Outro garantia que o presidente tinha sido tomado de surpresa e estava irritado
com a decisão de Marina, o que ele em nenhum momento externou para a ex-ministra.
No fim do dia, o Planalto soltou que o seu substituto seria Jorge Vianna, ex-governador
do Acre. Finalmente empurrou um terceiro nome para a disputa, José machado, petista,
ex-prefeito de Piracicaba e atual diretor da Agência Nacional de Águas.
Repercussão Se são uma, duas ou mais razões imediatas que forçaram a saída
da ministra, o mais importante nessa discussão é que, há anos, Marina Silva falava
sozinha. Como lembra a jornalista Miriam Leitão em seu blog, a ministra engoliu
muitos desaforos e foi diversas vezes desrespeitada dentro do governo, como a viagem
do ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos para planejar ações na Amazônia,
coisa que ele já demonstrou ser inapto, para dizer o mínimo. A saída demorou desde a
época em que Marina Silva disse que perdia o pescoço, mas não o juízo.
Para Adriana Ramos, do ISA – Instituto Socioambiental, a saída de Marina Silva
mostra que todos os esforços do Ministério do Meio Ambiente foram em vão,
demonstra claramente que a política da cúpula do governo federal não está alinhada
com nada ligado à preservação. “Sua saída é muito ruim para o Brasil e para o governo.
O impacto internacional será grande, ainda mais às vésperas da Conferência da ONU
sobre a Biodiversidade”, avalia. Segundo a ambientalista, Marina Silva sempre
defendeu o presidente Lula e o governo, mesmo quando isso trazia perdas a sua pasta.
“Ela chegou a um limite, pela pressão do PAC, pela da falta de disposição do governo
em acatar e implementar as medidas propostas pelo MMA. É compreensível que isso
tenha acontecido”, diz.
Que a demissão da ministra foi uma clara sinalização de que ela não estava, há
muito, se sentindo apoiada o suficiente dentro do governo pouca gente duvida. O
desafio é saber se o que foi avançado até agora na política ambiental não sofrerá
retrocessos. “Um recuo agora não seria bom pro governo, nem mesmo para o setor da
agricultura”, opina Sergio Guimarães, membro do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) e coordenador do Instituto Centro de Vida (ICV). Segundo ele, um
recuo neste momento poderia comprometer a política de biocombustíveis em nível
internacional. “A Marina é conhecida e bem vista internacionalmente. De certa forma,
ela dava aval ao governo Lula na área ambiental", diz.
A saída da ministra Marina Silva começou a ser comemorada cedo em Mato
Grosso. A Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), que sempre se queixou que a
área ambiental do governo travava o desenvolvimento do estado, declarou que espera
um novo ministro de meio ambiente menos radical do que Marina. O presidente da
entidade, Rui Prado, defendeu, segundo sua assessoria, que “a ministra é uma pessoa
extremamente comprometida com a causa ambiental e com a comunidade internacional
sem se preocupar com o Brasil e com os brasileiros”.
A demissão de Marina Silva também acarreta dúvidas dentro dos órgãos
ambientais do governo. De acordo com um analista ambiental do Ibama que preferiu
101 
 

não se identificar, o sentimento é de que tempos piores virão. Para ele, o poder
desenvolvimentista dentro de Brasília ganha cada vez mais força, o que indica a escolha
de uma nova cúpula para o ministério totalmente atrelada a interesses econômicos . Até
agora, Lula conseguiu emplacar todas as obras prioritárias do PAC. Os funcionários
temem que o meio ambiente, a partir de agora, fique relegado ao décimo plano.
*Aldem Bourscheit, Andreia Fanzeres, Felipe Lobo, Gustavo Faleiros e Manoel
Francisco Brito. Fonte: O Eco.

10 de maio de 2008
MEIO AMBIENTE E INDIOS NO BRASIL
Como participante do "Grupo Brasil", criado por iniciativa de ex-colega do
Centro de Pesquisas do Cacau (na Bahia), o experiente e competente engenheiro
agrônomo, pedólogo, Luiz Ferreira da Silva, dei minha contribuição às discussões sobre
a causa indígena, escrevendo o ensaio que segue.
GIGA-ZOOLÓGICO HUMANO Confesso sentir-me obrigado a dizer que em pleno
século das esperanças de mudanças, continuamos com as mesmas atitudes de séculos
anteriores. Mormente com referência às relações homem-Natureza preocupa-me o fato
de que ainda há brasileiros (e muitos) que pensam que vivemos num país com recursos
inesgotáveis. E em assim sendo, continuamos, sob a égide governamental, tratando
nossos recursos naturais como filho de rico que não sabe (ou nem quer saber!) o que
herdou e “torra tudo”. As leis (ah! As Leis) são, só da União, milhares. As nossas leis
concernentes ao meio ambiente são tidas como as mais avançadas do mundo. Mas,
como disse Tacitus Publius Cornelius, no ano de nascimento de Cristo, "Corruptissima
republica, plurimae leges” = Quanto mais leis tem um país, mais corrupto ele é. Por
isso, penso que logicamente elas devem existir, mas desacompanhadas como são, de um
processo educativo efetivo e eficiente, é de insignificante valia. Empresários e povo,
continuam desrespeitando-as, atropelando os direitos alheios, subornando e, entre tantos
outros mais desmazê-los, praticando sutil, dissimulada e ardilosamente preconceitos
sociais e raciais. Este é o caso dos nossos índios, penso eu. Assim vejamos alguns
aspectos.
À medida que avançamos no tempo, as necessidades de qualquer povo, mudam.
Seria insanidade negarmos que qualquer índio hoje não deseje ter acesso às facilidades
descobertas pelo Homo economicus moderno, como uma boa geladeira para estocar
alimentos (produzidos por tecnologia viável, como bem afirma nosso estimado amigo
Luiz Ferreira em suas apreciações no Grupo Brasil), televisão para se atualizar, telefonia
para comunicar-se nas distâncias deste imenso país, além dos elementos estruturais
fundamentais de uma sociedade, como educação, assistência médico-hospitalar,
sanitarismo etc. que se constituem no que hoje chamamos de boa qualidade de vida.
Ao invés disso, fazemos de conta que estamos preocupados em preservar a
cultura indígena e reservamos para eles, espaços gigantescos (confundindo santuário
ecológico com terra indígena, segundo o indigenista “Zeca Cabelo-de-Milho”)
(observação importante: como ecólogo, e não “ecologista”, odeio este termo
“santuário”, que é irreal, utópico mas é a paixão de “ecologistas”, grupo este com o qual
NÃO me identifico). De novo cito nosso amigo Luiz Ferreira em seus escritos: “cultura,
102 
 

tradição e folclore, podem ser preservados sem atrasar ninguém”. E de novo cito o Zeca,
que acertadamente analisa que “os índios querem se integrar, produzir, terem acesso à
informação, estão sedentos de conhecimento” (apud Revista IstoÉ 30/04/2008). Espaço
para eles há em excesso: 46% do território do estado de Roraima, ou “mais do que um
Portugal”, para se viver na cadeia alimentar primitiva: “plantas naturais crescendo,
herbívoros devorando-as e índios predadores comendo os herbívoros e mantendo o
equilíbrio ecológico; pois se herbívoros não existissem o planeta Terra seria só mata; e
se os índios não existissem, os herbívoros se excederiam em número e devorariam todas
as plantas... e se extinguiria a vida na biosfera terrestre”. Ao afirmar isto, sinto-me em
plena sala de aula explicando para leigos como funciona este modelo simples de um
ecossistema em homeostase, ou equilíbrio dinâmico ... e nada mais do que isso!
Quanto à nossa política indigenista, insiste-se em manter este importante
segmento do nosso povo, marginalizado em “giga-zoológicos”. E enquanto a integração
não acontece, lá vivem eles praticando igualzinho ao que ocorre no resto do país:
corrupção, posse de bens alheios, alcoolismo ... e até infanticídio (tradição cultural
deles; omissão nossa). Indiozinho com deformação física, com perna aleijada, não serve
para caçar, mas poderia ser um excelente profissional em diversas áreas da sociedade
moderna (educação, engenharias, medicina, informática e muitas outras...). Índios
adultos são facilmente cooptados a fazer o que não se deve, como plantar maconha,
matar seres humanos ... . Pela lei, não se lhes pode imputar responsabilidades. Até
quando serão considerados “incapazes”?
Agricultura itinerante, plantios sem técnicas adequadas, contrabando de
madeira... são delapidações que nos fazem perder a oportunidade de gerar divisas
produtivamente, ganhar “créditos de carbono” e usufruir da rica biodiversidade tropical.
Em termos de avaliação política não é a toa que surgiram expressões brasileiras
referentes a político honesto (raríssimo): “esse é tão ruim, que nem parente ele ajuda” e
a político desonesto (comuníssimo): “esse rouba mas faz”. Bandalheira: sempre existiu,
dizem os “otimistas”, mas se agrava em perpetuidade, digo eu “pessimista”. Nossa
“pobre-marionete” do Ministério do Meio Ambiente não tem presença significativa no
governo. Sinto mais pena dela do que revolta! Precisaríamos de espaço aqui para
descrever as atrocidades cometidas contra nosso maior patrimônio (e o maior do mundo,
sem medo de errar): a amazônia.

03 de maio de 2008
"DESERTOS EM OCEANOS" ESTÃO CRESCENDO
[BILINGÜE] [Nature, 01/05/2008]

INGLÊS Low-oxygen regions have expanded over the past half-century.


PORTUGUÊS Regiões com baixa oxigenação têm se expandido nos últimos 50 anos
INGL. Low-oxygen 'underwater deserts' in the tropical oceans have expanded over the
past 50 years, according to new measurements. The most likely cause of the change is
global warming, and climate models predict that the trend will continue, potentially
threatening marine ecosystems.
103 
 

PORT. “Desertos debaixo d’água” com baixo (teor de) oxigênio têm se expandido ao
longo dos últimos 50 anos, de acordo com medições. A causa mais provável dessa
mudança é o aquecimento global, e modelos climáticos prevêem que essa tendência
continuará, ameaçando potencialmente os ecossistemas marinhos.
INGL. The discovery concerns a layer of the ocean called the 'oxygen-minimum zone',
where concentrations of dissolved oxygen are particularly low. The new study shows
that this zone has been expanding both upwards and downwards into the adjacent layers
in tropical waters. Researchers led by Lothar Stramma of the University of Kiel,
Germany, measured the oxygenation of the oceans at depths of between 300 and 700
metres during a series of observation cruises in tropical regions of the world's three
main oceans.
PORT. A descoberta diz respeito a uma camada do oceano chamada de “zona de
oxigênio mínimo”, onde concentrações de oxigênio dissolvido são particularmente
baixas. O novo estudo mostra que esta zona tem estado se expandindo tanto para cima
como para baixo para as camadas adjacentes, em águas tropicais. Pesquisadores
liderados por Lothar Stramma da Universidade de Kiel, Alemanha, mediram a
oxigenação dos oceanos nas profundidades entre 300 e 700 metros durante uma série de
viagens de observação, nas regiões tropicais dos três principais oceanos do mundo.
INGL. Climate models predict that warming of the sea's surface as a result of human
activity will hamper the mixing of oceanic waters, preventing dissolved oxygen from
mixing evenly through the water column. The new results suggest that this process has
already begun.
PORT. Modelos climáticos prevêem que o aquecimento da superfície do mar como
resultado da atividade humana dificultará a mistura das águas oceânicas, evitando o
oxigênio dissolvido de misturar-se igualmente na coluna de água. Esses novos
resultados sugerem que esse processo já começou.
INGL. In suboxic waters, nitrogen cannot react with oxygen to form biologically
available nitrate. This means that organisms at the base of food chains, such as
plankton, do not get enough nutrients to survive.
PORT. Em águas com deficiência de oxigênio, o nitrogênio não poderá reagir com ele
para formar nitrato biologicamente disponível. Isto significa que organismos da base da
cadeia alimentar, como o plâncton, não obterão nutrientes que sejam o bastante para sua
sobrevivência.
INGL. The ultimate effect on commercially important ecosystems such as fisheries are
difficult to predict. "There are many complicated mechanisms involved that we need to
understand better to predict changes for the future," he says. "I see our results as a
starting point to be able some day to tell what changes in biogeochemistry, biology and
fisheries we have to expect."
PORT. O efeito final sobre os ecossistemas comercialmente importantes como os
pesqueiros, são difíceis de serem previstos. “Há muitos mecanismos complicados
envolvidos e que nós precisamos entender melhor para prever mudanças no futuro”
[afirma o pesquisador]. “Eu vejo nossos resultados como um ponto de partida que será
capaz de algum dia dizer que mudanças na biogeoquímica, biologia e indústria
pesqueira possamos esperar”.
104 
 

INGL. Laurence Mee, director of the Marine Institute at the University of Plymouth,
UK says: "When you start to mess around with the food chain, it has all kinds of knock-
on effects that we don't know about yet".
PORT.: Laurence Mee, diretor do Instituto Marinho da Universidade de Plymouth, no
Reino Unido, diz: “Quando você começa a bagunçar a cadeia alimentar, acontecem
todos os tipos de efeitos atordoantes sobre os quais ainda nada conhecemos”.
INGL. Any effect on fisheries is likely to be indirect, because these low-oxygen zones
are far from the coastal waters that host most commercial fishing, suggests Andrew
Solow, director of the Marine Policy Center at Woods Hole Oceanographic Institution
in Massachusetts. "I don't know many fisheries that take place between 300 and 700
metres in the tropical ocean," he says.
PORT. Qualquer efeito sobre zonas pesqueiras é provável que seja indireto, porque
estas baixas zonas de oxigênio estão longe das águas costeiras que hospedam a maioria
dos pescados comerciais, sugere Andrew Solow, diretor do Centro de Política Marinha
da “Woods Hole Oceanographic Intitution” em Massachusetts. “Eu não conheço muitas
zonas pesqueiras que ocorram entre 300 e 700 metros nos oceanos tropicais”, diz ele.
[Referência: Stramma, L., Johnson, G. C., Sprintall, J. & Mohrholz, V. Science 320,
655-658 (2008)]

20 de abril de 2008
SEXO DE ALGA PODERIA GERAR VACINA DA MALÁRIA
[BILINGÜE]

INGLÊS Algal sex could spawn malaria vaccine


PORTUGUÊS Sexo de alga poderia gerar vacina da malária
20 de abril de 2008 [New Scientist, no 2652]
INGL. WHAT could the sex lives of algae have to do with finding a vaccine for malaria
and other parasitic diseases? Quite a lot, it seems, because pond algae and the mosquito-
borne Plasmodium parasite that causes malaria turn out to use the same protein to fuse
their male and female gametes during sexual reproduction.
PORT. O QUÊ vida sexual de algas tem a ver com descobrir vacina contra maláira e
outras doenças parasitárias? Um bocado, parece, porque algas de lagoas e o parasita
Plasmodium originado no mosquito que causa a malária, demonstram usar a mesma
proteína que fundem os gametas masculino e feminino durante a reprodução sexual.
INGL. William Snell at the University of Texas Southwestern Medical Center in Dallas
and colleagues discovered that gamete fusion in an alga called Chlamydomonas requires
a protein called HAP2. Plasmodium also carries the HAP2 gene so Snell teamed up with
malaria specialists at Imperial College London to discover if the resemblance goes
deeper. Sure enough, they found that when HAP2 was knocked out in Plasmodium,
mosquitoes failed to spread malaria between mice (Genes and Development, DOI:
10.1101/gad.1656508).
PORT. William Snell no Centro Médico Sudoeste, na Universidade do Texas, em
Dallas e seus colegas, descobriram que essa fusão de gametas numa alga denominada
Chlamydomonas requer uma proteína denominada de HAP2. Plasmodium também
105 
 

conduz o gene HAP2, e assim Snell trabalha em equipe com especialistas em malária no
Imperial College de Londres, para descobrir se tal semelhança “vai mais fundo”.
Certamente, eles encontraram que, quando HAP2 foi repentinamente introduzido no
Plasmodium, os mosquitos falharam em disseminar malária entre ratos [artigo publicado
em “Genes and Development”].
INGL. A vaccine designed to block HAP2 could break Plasmodium's reproductive cycle
in people infected with malaria and so prevent its transmission to others, as the protein
works when the parasite breeds in the mosquito's gut. Parasites transmitting African
sleeping sickness, leishmaniasis and some tick-borne diseases also carry HAP2, and
could succumb to similar vaccines.
PORT. Uma vacina delineada para bloquear a HAP2 poderia quebrar o ciclo
reprodutivo do Plasmodium em pessoas infectadas com malária e assim, evitar sua
transmissão para outras pessoas uma vez que a proteína trabalha quando o parasita
reproduz-se no trato digestivo do mosquito. Parasitas transmissores da doença africana
do sono, da leishmaniose e algumas doenças originárias de carrapato também conduzem
a HAP2, e poderiam sucumbir a vacinas similares.

06 de abril de 2008
“EFEITO BORBOLETA”: MOSQUITOS, DESEQUILÍBRIO
ECOLÓGICO, AUTORIDADES INCOMPETENTES, CRIANÇAS
MORTAS
Acredito que o nosso drama atual, o caso da dengue, mereça algumas
considerações sob os aspectos ambiental e socio-político-cultural. Aliás,
desenvolvimento sustentável (expressão sempre presente na verborragia de muitos
políticos) só se faz com os três tipos de desenvolvimento: ecológico, econômico e
social; que só podem ser praticados se fundamentados num processo educativo eficiente
e efetivo. Em ecologia, o “efeito borboleta” é uma alusão à possibilidade de que o
simples bater das asas de uma borboleta poderá iniciar uma “cascata de mudanças
altamente imprevisíveis num ecossistema inteiro ou até mesmo em todo o planeta”.
Embora não se possa afirmar que haja uma relação direta, vale a pena pensarmos um
pouco sobre os quatro elementos do título acima, numa analogia com o “efeito
borboleta”.
Vamos começar com os mosquitos. Hoje, poucos cientistas duvidam que a
atmosfera do nosso planeta está se aquecendo. Os insetos vetores de doenças, como os
mosquitos da malária e das febres amarela e dengue, são bastante sensíveis às condições
meteorológicas. O mosquito Anopheles, transmissor do parasita da malária (o
protozoário Plasmodium falciparum) causa surtos da doença somente nos locais onde a
temperatura comumente exceda os 15oC. Da mesma maneira, o Aedes aegypti, da febre
amarela e da dengue, transmite os respectivos vírus, nos locais onde a temperatura
raramente cai abaixo dos 10oC. Os mosquitos proliferam mais rápido e picam mais,
quando o ar é mais quente. Ao mesmo tempo, o calor mais intenso acelera a taxa em
que os agentes patogênicos se reproduzem e amadurecem. Exemplo: a 20oC o
protozoário da malária leva 26 dias para se desenvolver completamente, mas a 25oC ele
só precisa de 13 dias para o seu completo desenvolvimento. Para os mosquitos e
106 
 

respectivos agentes causadores de doenças, protozoário da malária e virus da dengue, o


Brasil “é um paraíso tropical”. Será que o mosquito fixou residência permanente no
nosso meio??? Do jeito como procedemos, penso que a resposta é SIM.
Estima-se que a dengue aflige entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas nos
trópicos e subtrópicos, principalmente nas áreas urbanas e suas periferias. Nos últimos
10 anos ela vem aumentando seu raio de ocorrência nas Américas e já alcançou Buenos
Aires no final dos anos de 1990.
Agora, o desequilíbrio ecológico. Sapos e rãs, importantes predadores naturais
dos mosquitos, vêm sofrendo reduções em suas populações em diversos ecossistemas de
nosso planeta. Causas maiores: 1) destruição de seus habitats naturais, determinada pelo
avanço do ser humano nas expansões urbanas e ocupações desordenadas decorrentes da
expansão agrícola e 2) mortandade dos seus embriões; há observações comprovadas de
que eles são extremamente sensíveis à ação da luz ultravioleta, que nos atinge,
penetrando através do buraco da ozonosfera (o homem tornou-se poderoso: aquece o
mundo e destroi a camada de ozônio). Somem-se a isso, as barbáries cometidas pelo ser
humano, como na nossa cultura popular, que sempre considerou esses anfíbios como
sendo “bichos nojentos”, principalmente o sapo, caçado, perseguido por crianças com
suas atiradeiras, enxotado dos jardins e quintais e até trucidado na macumba e bruxaria,
onde era utilizado (será que ainda o fazem???) para amaldiçoar alguém, cujo nome era
escrito num pedacinho de papel que era colocado dentro de sua boca e esta costurada!!!
Ou despejar sal em suas costas, até vê-lo morrer! Muitos sapos e rãs foram capturados,
para deles extrair-se as peles e serem industrializadas; das rãs come-se a carne. Nunca
se divulgou na nossa cultura que sapos e rãs são os maiores predadores de insetos que a
Natureza criou! Lagartos, lagartixas e aves, também participam dessa tarefa de predação
de insetos.
Surtos de insetos têm sido registrados periodicamente no Brasil, como a praga de
gafanhotos nos canaviais de Alagoas e Pernambuco (seus predadores, siriema e tejus e
tejuassus, vêm sendo dizimados para saciar a fome de pessoas desassistidas das zonas
rurais); o potó (inseto coleóptero que causa queimadura na nossa pele) já causou
problemas em algumas cidades de Pernambuco; nos quintais não se criam mais
galinhas, eficientes predadores de escorpiões. Fatos estes que corroboram um princípio
em ecologia: “não existem pragas, mas sim, desequilíbrio ecológico”.
Esta “seleção negativa” tende a se agravar, pois o ser humano, espécie
egocêntrica (ele, só ele; acima de tudo e de todos) não se conscientiza em reservar
espaço nem recursos para seus demais companheiros de convivência ambiental; mesmo
que estes lhes sejam benéficos! Até gatos e cães sofrem amargamente nos nossos
ambientes urbanizados!
E last but not least, algumas poucas palavras sobre nossas autoridades. Nossa
zona rural vive entregue à própria sorte há muitos anos. O homem do campo agora é
favelado da periferia urbana; misturando-se com o lixo, ajudando os mosquitos a
proliferarem descontroladamente; e ele próprio, pagando com a baixa qualidade de vida
e a morte, o descaso gerado pelos governantes. Se estes dizem que estão tomando as
“devidas providências” mas o problema não se resolve, a interpretação fatídica é: são
incompetentes.
107 
 

Penso ser importante que se preparem professores capazes de formar nas nossas
escolas, alunos conscientes de que todo brasileiro tem direito a uma qualidade de vida
digna de ser humano. Um direito, que está muito acima do contentar-se com auxílios
com fins eleitoreiros. Seja no caso da dengue, da malária, da leptospirose, das doenças
veiculadas pela água etc, o tão falado desenvolvimento sócio-econômico de nosso país
implica em se praticar eficientes sistemas de educação, conservação ambiental,
vigilância sanitária e saúde pública. Pelo menos isso! Bases consistentes para se
alcançar um futuro com qualidade.
É uma lástima que nossas autoridades não tenham aprendido que meio ambiente
e vetores de muitas doenças se interrelacionam. Lástima maior é o fato de que entra
governo-sai-governo e a saúde pública, incluindo a medicina preventiva, e a educação
nunca foram prioridade neste belo país tropical (sem terremotos, sem tsunamis, sem
furacões, mas ainda com muita ignorância e muitos mosquitos!!!). É deprimente ter que
admitir que agora, só nos resta esperar que apareça algum “iluminado” que enxergue
tudo isso e invista nesses setores. O retorno, viria com o tempo, formando-se uma
sociedade que SABERÁ EVITAR QUE SUAS CRIANÇAS MORRAM POR CAUSA
DE UM MOSQUITO.
E o “efeito borboleta”? É esta brasileiríssima equação simples: ignorância +
autoridades incompetentes = crianças mortas.

14 de março de 2008
REVITALIZAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: PROJETO DE
CRUCIAL IMPORTÂNCIA
Caros amigos "antenados" com os programas de governo e em especial do rio
São Francisco:
Li e relí, observando detalhes, anotando e "até sonhando´" que tudo que está
descrito no RELATÓRIO/2007 do PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DO RIO
SÃO FRANCISCO, tenha sido realizado conforme programado e que continue sendo,
conforme planejado. Baixei este relatório do site do Ministério da Integração
(http://www.integracao.gov.br/), disponibilizado em PDF (5,3Mb; 44 pág.).
Algumas observações do programa ou projeto: 1) A revitalização pretende
contemplar um IMENSO MOSAICO DE OBRAS E ATIVIDADES, que já deveriam
ter sido implantadas HÁ MUITOS ANOS, ANTES de se pensar em exploração
adicional dos recursos do rio São Francisco. 2) Alguns exemplos das intenções do
projeto: contenção de erosões; drenagem; adutoras; abastecimento de água; esgotamento
sanitário; desenvolvimento florestal da bacia; tratamento de resíduo sólido; recuperação
de áreas degradadas (incluindo as de assentamentos); tratamento (armazenamento de
embalagens de agrotóxicos); triagem de animais silvestres; melhoria da hidrovia... etc.
Tudo isso ao longo do rio que atravessa grandes extensões (mais de 2.700 km) dos
estados de MG, BA, AL, PE e SE. 3) As intenções são tão amplas, que até preocupação
com a manutenção de equipamentos para manter "nível de ruído aceitável" (de acordo
com especificações do fabricante do equipamento), será ou é, contemplado no projeto.
Assim como também o contrôle da emissão de gases! Meus amigos: isto é "primeiro
mundo" autêntico!!! 4) No programa de comunicação social e de educação ambiental,
108 
 

prevêem-se treinamentos com preocupações para coleta de germoplasma e salvamento


de patrimônio arqueológico. 5) Os recursos alocados para os 36 Programas Ambientais
listados, alguns executados, outros em execução e vários em fase de planejamento,
foram da ordem de R$194 milhões em 2004-06, R$365 milhões em 2007, e serão
R$575 milhões e 398 mil para 2008-10. Se tais recursos são suficientes, eu
particularmente, não sei fazer o mínimo julgamento. O que mais me impressiona, é "o
que se tem por fazer". Nunca se fez praticamente nada em termos de revitalização do rio
e agora, temos que correr contra o tempo.
Tive a oportunidade de passar diversas vezes por vários trechos do rio,
principalmente nos trechos próximos a Joazeiro/Petrolina e Penedo/Propriá. Não é
preciso ser especialista para perceber que muito há por se fazer para a revitalização
deste rio, entregue à própria sorte, desde a colonização. Tenho curiosidade em saber o
que será necessário se fazer nos trechos em direção à nascente (MG). Se o trabalho de
revitalização não for bem feito a montante, o que vier a ser feito a jusante será um
desperdício! De fato, a maior parte do recurso previsto para o triênio 2008-10, destina-
se a obras no estado de Minas Gerais (mais de R$216 milhões), de acordo com o
relatório.
Sentí-me feliz com o que lí no relatório; mas ao mesmo tempo, um tanto quanto
cético, vez que tenho plena consciência de que no Brasil, nem sempre tudo que é
planejado, é realizado. Quem fiscalizará??? Se o recurso alocado proviesse de agente
financiador internacional, que certamente o proveria por cumprimento de etapas de
execução, haveria um mínimo de garantia em suas realizações. Mas, será que é assim?
Se descobrirem informações que me ajudem a avaliar melhor sobre esta
problemática, favor informar-me. Gosto de utilizar diversas fontes de informação nas
minhas aulas (políticas ambientais, desenvolvimento sustentável ...).

12 de março de 2008
ATENÇÃO CRIADORES DE ANIMAIS SILVESTRES!!!
Divulgado no PORTAL DO MEIO AMBIENTE [REBIA - REDE BRASILEIRA DE
INFORMÇÃO AMBIENTAL, em 11/03/2008]
Consulta Pública definirá espécies da fauna como animais de estimação
Brasília - O Ibama disponibilizou para Consulta Pública a lista prévia de espécies da
fauna silvestre nativa que poderão ser criadas e comercializadas como animais de
estimação, conforme determina o Art. 3º da Resolução Conama nº 394 de 6 de
novembro de 2007.
A consulta pública estará disponível até o dia 6 de abril de 2008 no site do
Ibama. Ao término deste prazo, o Ibama fará a análise de todo o conteúdo, objetivando
editar uma lista que atenda aos anseios da sociedade brasileira.
As contribuições devem ser enviadas para o e-mail: fauna.sede@ibama.gov.br
com as espécies a serem incluídas ou excluídas devidamente justificadas com base nos
critérios estabelecidos pela Resolução Conama nº 394/2007. Somente serão analisadas
as contribuições que estiverem dentro dos critérios estabelecidos.
109 
 

Segundo o diretor de Uso sustentável da Biodiversidade e Florestas, Antônio


Carlos Hummel, o Ibama utilizou os critérios indicados na Resolução para preparar a
lista.

09 de março de 2008
PLANO DE COMBATE AO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA:
CONTINUA DIFÍCIL
Governo cumpre menos da metade do Plano de Combate ao Desmatamento na
Amazônia, diz relatório - 06/03/2008 Local: São Paulo - SP Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br
Segundo estudo divulgado hoje pelo Greenpeace, o maior motivo foi a falta de
coordenação adequada.
Das 162 ações listadas pelo Plano de Prevenção e Combate Desmatamento na
Amazônia Legal (PPCDAM), apenas 31% foram cumpridas. As informações são do
relatório denominado "O Leão Acordou" divulgado pelo Greenpeace, que analisa o
plano desde seu inicio em 2004 até julho de 2007.
O documento aponta que a não realização das ações previstas pelo governo seria
uma das causas do aumento do desmatamento no segundo semestre do ano passado. As
ações, divididas em três eixos: Ordenamento Territorial e Fundiário, Monitoramento e
Controle e Fomento às Atividades Sustentáveis, tiveram baixo índices de execuções.
Sendo que Monitoramento foi o eixo que obteve mais resultados, tendo de sete ações
previstas, duas executadas e três parcialmente executadas.
Marcelo Marquesine, do Greenpeace afirma que uma das principais causas do
baixo número de ações "foi a própria falta de coordenação da Casa Civil que permitiu
que os ministérios não se integrassem. Dos 13 ministérios que compunham o plano,
apenas quatro integraram o controle e prevenção do desmatamento em suas políticas, o
Ministério do Meio Ambiente, o Ministério do Desenvolvimento, Ministério da Justiças
e o Ministério de Ciência e Tecnologia. Os demais não trabalharam".
O estudo também destaca a dificuldade em se obter os dados para análise. O
programa, que tinha como premissa "promover a transparência e possibilitar o controle
social quanto ao andamento de suas ações", não atualiza suas informações desde abril
de 2005. Somente após a organização iniciar os questionamentos algumas atualizações
voltaram a ser realizadas.

04 de março de 2008
BIOPRECIPITAÇÃO (PLUVIAL): DESCOBERTA CAUSA
MICROBIANA
[BILINGÜE]
INGLÊS Airborne bacteria may play large role in precipitation.

PORTUGÊS Bactérias de origem atmosférica podem desempenhar grande papel na


precipitação.
110 
 

INGL. A Montana State University professor and his colleagues have found evidence
suggesting that airborne bacteria are globally distributed in the atmosphere and may
play a large role in the cycle of precipitation.

PORT. Um Professor da Universidade Estadual de Montana [E.U.A.] e seus colegas


descobriram evidência de que bactérias de origem atmosférica, estão amplamente
distribuídas na atmosfera e podem desempenhar grande papel no ciclo da precipitação.

INGL. The research of David Sands, MSU professor of plant sciences and plant
pathology, along with his colleagues Christine Foreman, an MSU professor of land
resources and environmental sciences, Brent Christner from Louisiana State University
and Cindy Morris, will be published in the journal "Science."
PORT. A pesquisa de David Sands, Professor da MSU, de ciências de botânica e
fitopatologia, junto com seus colegas Christine Foreman, Professor de recursos da terra
e ciências ambientais, Brent Christner da Universidade Estadual da Louisiana e Cindy
Morris, será publicada no periódico "Science".
INGL. These research findings could potentially supply knowledge that could help
reduce drought from Montana to Africa, Sands said.
PORT. Estas descobertas da pesquisa, podem potencialmente fornecer conhecimento
que poderia ajudar a reduzir a seca, de Montana à África, afirmou Sands.
INGL. Sands, Foreman, Morris, and Christner -- who did post-doctorate work at MSU -
- examined precipitation from locations as close as Montana and as far away as Russia
to show that the most active ice nuclei are actually biological in origin. Nuclei are the
seeds around which ice is formed. Snow and most rain begins with the formation of ice
in clouds. Dust and soot can also serve as ice nuclei. But biological ice nuclei are
different from dust and soot nuclei because only these biological nuclei can cause
freezing at warmer temperatures.
PORT. Sands, Foreman, Morris, e Christner -- que fez seu trabalho de pós-doutrorado
na MSU -- investigaram a precipitação de locais tão perto como Montana e tão distante
quanto a Rússia, para mostrar que os núcleos mais ativos [na formação] do gelo, são na
verdade de origem biológica. Os núcleos são sementes ao redor das quais o gelo é
formado. A neve e a maioria da chuva começa com a formação de gelo nas nuvens.
Poeira e fuligem [partículas sólidas provenientes de queima de materiais diversos]
também atuam como núcleos de gelo. Mas os núcleos biológicos de gelo são diferentes
dos núcleos de poeira e de fuligem, porque somente os núcleos biológicos podem causar
congelamento em temperaturas mais quentes.
INGL. Biological precipitation, or the "bio-precipitation" cycle, as Sands calls it,
basically is this: bacteria form little groups on the surface of plants. Wind then sweeps
the bacteria into the atmosphere, and ice crystals form around them. Water clumps on to
the crystals, making them bigger and bigger. The ice crystals turn into rain and fall to
the ground. When precipitation occurs, then, the bacteria have the opportunity to make
it back down to the ground. If even one bacterium lands on a plant, it can multiply and
form groups, thus causing the cycle to repeat itself.
PORT. Precipitação biológica, ou o ciclo de "bio-precipitação", como Sands a
denomina, é basicamente isto: bactérias que formam pequenos grupos na superfície de
111 
 

plantas. O vento varre as bactérias para a atmosfera, e formam-se cristais de gelo ao seu
redor. Água acumula-se sobre os cristais tornando-os cada vez maiores. Os cristais de
gelo transformam-se em chuva e caem na terra. Quando a precipitação ocorre, então as
bactérias têm a oportunidade de retornarem à terra. Se até mesmo uma única bactéria
aterrissa sobre a planta, ela poderá multiplicar-se e formar grupos, garantindo a
continuidade do ciclo.
INGL. "I want people to be fascinated by the interconnection of things going on in the
environment," Sands said. "It's all interconnected."
PORT. "Eu quero ver as pessoas fascinadas com a interligação das coisas que
acontecem no ambiente", afirmou Sands. "Tudo está interligado".

1o de março de 2008
FTALATO: PODE SER PREJUDICIAL (OU NÃO???)
Trecho reproduzido de notícia veiculada pela Internet, proveniente do jornal O Estado
de São Paulo:
Faber-Castell recolhe borracha com substância tóxica A Faber-Castell, uma
das maiores fabricantes brasileiras de material escolar, começou a substituir as
borrachas TK Plast fabricadas antes de 13 de setembro do ano passado por outras. A
iniciativa começou após uma entidade de defesa do Consumidor, a Pro Teste, divulgar
que a borracha, modelos branco com embalagem azul e amarelo com embalagem
amarela, apresentavam a substância química FTALATO em sua composição. Os
consumidores que compraram o produto antes de 13 de setembro de 2007 ou têm
dúvidas sobre as borrachas que possuem em casa, devem entrar em contato com a
Faber-Castell pelo telefone 0800-7720025, entre 8 horas e 18 horas. A ligação é
gratuita. A empresa, no entanto, não caracterizou a ação como um recall. "Não existem
estudos conclusivos sobre os riscos à saúde decorrentes do uso de FTALATO, sendo
que nos EUA ainda não há uma legislação de restrição ao seu uso, e a Comunidade
Européia, como medida preventiva, determinou a retirada desse componente", afirma a
empresa, em comunicado. Mas há suspeitas de que ele possa causar danos à saúde.
"Na Europa, o nível de ftalato presente em um produto não pode ser superior a 0,1%",
explica Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste. "Nas borrachas da Faber-Castell,
havia 50 vezes mais FTALATO do que o permitido."
O QUE É O FTALATO (="phthalate", em inglês): informações obtidas da
Wikipedia, mostram que o FTALATO quando adicionado a plásticos, permite que
longas moléculas de polivinil deslizem umas sobre as outras. Há vários tipos dessa
substância, produzidos em milhares de toneladas e adicionados aos mais diversos
plásticos (principalmente na fabricação do PVC), com muitas finalidades (esmaltes-
polidores de unha; adesivos; pigmentos de tintas; isca para pesca; solventes de perfumes
e pesticidas; "borrachas gelatinosas"; calefação; na eletrônica, como em iPhone, iPod,
computadores ... e até em "artigos eróticos" ou sex toys). O FTALATO tem tido seu uso
banido de brinquedos para crianças.
RISCOS À SAÚDE: estudos mostram que a maioria dos americanos que tiveram
sua urina testada, estão expostos ao FTALATO. Esta substância, em altas doses em
ratos, influenciaram atividade hormonal. Há estudos (ainda em discussão) de que em
112 
 

seres humanos, no período de gestação, o FTALATO altera a "distância anogenital" em


meninos, encurtando-a. Alguns pesquisadores suspeitam que até criptorquidia possa
ocorrer em conseqüência de sua ingestão adicionada de pesticidas anti-androgênicos.

15 de fevereiro de 2008
MUDANÇA CLIMÁTICA PODE SER MEDIDA POR GPS
BILINGÜE [www.newscientist.com.uk] – 15/fevereiro/2008
INGLÊS GPS 'thermometer' could flag up climate change.
PORTUGUÊS “Termômetro” de GPS poderia sinalizar mudança climática
INGL.The Global Positioning System could be used as a global thermometer and used
to monitor climate change, say UK meteorologists.
PORT. O Sistema de Posicionamento Global (GPS) poderia ser usado como um
termômetro global e usado para monitorar a mudança climática, dizem meteorologistas
do Reino Unido.
INGL. The idea rests on a relatively new technique for taking atmospheric
measurements, called GPS radio occultation.
PORT. A idéia apoia-se numa técnica relativamente nova para se tomar medições
atmosféricas, chamada de ocultação de radio do GPS.
INGL. This involves using a satellite in low-Earth orbit to receive signals from GPS
satellites. As the signals pass through the atmosphere, they are refracted slightly, with
the angle of refraction depending on temperature and the amount of water vapour in the
atmosphere.
PORT. Esta (técnica) envolve usar um satélite em baixa órbita sobre a Terra, para
receber sinais dos satélites do GPS. À medida que os sinais passam através da
atmosfera, eles são ligeiramente refratados, dependendo o ângulo de refração da
temperatura e da quantidade de vapor d’água na atmosfera.
INGL. Instruments on a number of research satellites measure GPS signals in this way,
including the German CHAMP mission, and the joint US/Taiwan COSMIC mission.
PORT. Instrumentos num certo número de satélites de pesquisa, medem sinais de GPS
desta maneira, incluindo a missão alemã Champ, e a missão Cósmica conjunta Estados
Unidos/Taiwan.
INGL. These measurements are already used to help calculate the amount of water in
the atmosphere, as well as temperature and density, which are useful in weather
forecasting.
PORT. Estas medições já são usadas para ajudar a calcular a quantidade de água na
atmosfera, assim como temperatura e densidade, que são úteis na previsão de tempo.

20 de janeiro de 2008
TERRORISMO CLIMÁTICO??? AINDA ASSIM, É MELHOR DO QUE
CRUZAR OS BRAÇOS
SOBRE UMA ENTREVISTA DO DR. L.C. MOLION (CLIMATÓLOGO) À REVISTA
ISTOÉ:
113 
 

É preciso mais do que paciência para entender e aceitar os contrasensos do Dr.


L.C. Molion. Lembro-me que certa vez ele afirmou, em Ciência Hoje, que a emissão de
gases destruidores da ozonosfera pelos vulcões (difusivos, principalmente) eram mais
importantes do que os lançamentos feitos pelo homem (CFC). Mas, não mencionou que
os provenientes dos vulcões eram, em grande parte, lixiviados na troposfera (pelas
chuvas) antes de atingirem a ozonosfera. E nem comentou que o poder de difusão do
CFC era muito mais eficiente. Além do mais, se já existe emissão natural de gases
destruidores da ozonosfera, proveniente dos vulcões (difusivos e explosivos) e que não
podemos evitar, mas se podemos limitar as emissões humanas, o bom senso manda que
a única opção viável de contrôle é esta última! O mesmo acontece com a emissão do
metano (gás dos pântanos), que afeta a temperatura global, juntamente com o CO2. Não
podemos evitar a emissão do metano de pântanos e dos arrozais (da China e Índia,
principalmente). Mas podemos limitar a emissão de CO2.
E agora ele reaparece com essa de dizer que o IPCC (iniciativa ligada à UNEP-
United Nations Envrionmental Programme, da ONU e constituída por mais de uma
centena de cientistas de TODO O MUNDO) é formado por membros de países que não
querem ver o desenvolvimento dos emergentes!!! Paciência!!! Assim vejamos seus
dirigentes (e respectivos países de origem): o "Chairman" (Presidente) do IPCC é
Rajendra K. Pachauri (India) ; "Vice-chairs": Richard Odingo (Quênia), Mohan
Munasinghe (Sri Lanka) e Yuri A. Izrael (Rússia). Alguns dos principais componentes
do Grupo I (Bases Científicas) são dos seguintes países: China, Argentina, Serra Leoa,
Brasil (Thelma Krug), E.U.A., Reino Unido, Holanda, Japão, Gâmbia, Marrocos,
Sudão, Tailândia, Canadá, Arábia Saudita, Venezuela, México, Peru e outros ...
A idéia de CO2 lançado na atmosfera ser igual a desenvolvimento é
extremamente perigosa aqui no Brasil. Se Lula ficar sabendo, ele manda "torrar o resto
da amazônia" para "desenvolver o nosso país"!!! Muitos governantes de países em
desenvolvimento assim pensam, ou seja: desenvolvimento só se consegue com
destruição da Natureza!
Se o Pacífico tem toda essa importância no clima mundial, como aponta o Dr.
L.C. Molion, realmente os estudos sobre as influências da amazônia no clima, estão
todos errados ... e são inúteis. Afirmar que os dados sobre produção de gás carbônico
referem-se a apenas alguns locais, principalmente no hemisfério norte e por isso não
devem ser "generalizados ou globalizados" não justifica que devamos esperar que os
mesmos sejam coletados no mundo inteiro, para daí então começarmos a pensar em
ações.
Acho também ser muito importante observarmos diversos outros indicadores
ambientais relacionados à mudança climática. Sugiro observar um estudo realizado
sobre a sêca no Sahel (feito por um climatologista alemão e um australiano). Esta região
sub-saariana sofre devido a problemas causados pela poluição gerada nos E.U.A. e
Canadá. Os poluentes gerados por esses países fazem com que as nuvens formadas
nessas regiões e que antes migravam para a África, se precipitem ... e assim, o Sahel
tem sua situação piorada a cada ano.
No que diz respeito às pesquisas mundiais reveladas pelos periódicos mais
difundidos, não parece haver dúvidas de que a concentração de CO2 na atmosfera está
114 
 

aumentando; e quando este gás aumenta, a temperatura global também aumenta, com
diversas conseqüências para os seres vivos. Indicadores bio-ecológicos, não devem ser
desprezados. Insetos vetores de doenças tropicais, estão conquistando novos habitats,
em locais onde eles não ocorriam por serem considerados "frios". O estádio de
desenvolvimento de crescimento e maturação sexual desses insetos é encurtado em
temperatura mais elevada. Até os microrganismos de solo, principalmente de regiões
temperadas, emitem mais CO2 em temperatura mais elevadas, do que os
microgarnismos de região tropical (estes foram os resultados de meu trabalho de pós-
doutorado, publicados no Brasil, no Brazilian Journal of Microbiology e na Inglaterra,
em Soil Biology and Biochemistry). Larvas de animais componentes de corais, têm se
mostrado ser sensíveis às ações de luz UV; daí a possível causa do branqueamento dos
corais.
Algumas geleiras na Antártica vêm aumentando como conseqüência do aumento
da poluição; um efeito indireto do aquecimento global; ou seja: o aumento da
temperatura da água aumenta a evaporação, resultando num aumento da precipitação de
neve. A capa de gelo (água doce) assim formada reduz a transferência de calor das
águas mais profundas do oceano, facilitando assim o congelamento da água e o
crescimento localizado de geleiras. Esta camada de gelo extra, reflete mais a luz solar
do que as águas escuras do oceano. Tomara que o L.C.Molion não diga que isso é prova
de que a glaciação já chegou!!!
Salvo melhor juízo, o L.C. Molion parece se sentir injustiçado por não lhe darem
ouvidos!!! Se existem pressões dos "grandes contra os pequenos", como ele sugere, eu
acredito que tal tipo de comportamento sempre existiu e existirá; mas eu não penso que
toda essa discussão em torno dessa problemática do aquecimento global se deva
exclusivamente a tal pressão. Será que temos que "esperar p'ra ver"?!
Feliz jornada a todos que navegam no planeta Terra!

27 de novembro de 2007
Termo do GLOSSÁRIO DE ECOLOGIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS:
AMBIENTALISMO DA EMANCIPAÇÃO
Talvez seja esta expressão a mais adequada para traduzir a expressão norte-
americana “emancipatory environmentalism” ou ecologia do bem-estar humano; é uma
aproximação de caráter mais ambientalista, holística, para o planejamento econômico,
professado pelo ecólogo norte-americano Barry Commoner e pelo economista alemão
Ernst Friedrich Schumacher. Estes, enfatizaram a necessidade de se introduzir processos
produtivos que trabalhassem com a Natureza e não contra ela, priorizando o uso de
produtos orgânicos e os recicláveis.

18 de novembro de 2007
iPhone da Apple: "mais marrom do que verde" (segundo o Greenpeace)
[Scientific American, outubro/2007]
115 
 

Segundo o Greenpeace, a Apple não fez nenhum progresso quando afirmou que
iria abolir o uso de substâncias tóxicas no seu "campeão de vendas": 1 milhão de
aparelhos iPhones já vendidos nos E.U.A. Esses aparelhos, segundo o Greenpeace, não
são "ecofriendly" (amigos do ambiente), pois neles são usados BFRs ("Brominated
Flame Retardants"), retardadores de chamas (contra possível incêndio causado por
corrente elétrica, no aparelho) e PVC ("Polyvinyl Chlolride"). O BFR produz dioxinas
brominadas e furanas (irritantes da pele e trato respiratório, se aquecidas em alta
temperatura) e o PVC contém plastificante de ftalato tóxico, que se suspeita ser
carcinogênico. A maior preocupação surge a partir do momento em que o aparelho seja
descartado.

21 de outubro de 2007
"HOTSPOT" [termo do Glossário]
“HOTSPOT”

Literalmente significa, em inglês, “uma mancha (lugar, ponto, local) que é


quente”. São muito diversos os usos desta expressão em ciência e tecnologia. Em
biologia molecular, por exemplo, o “hotspot” é uma região de um polinucleotídeo que
sofre uma alta freqüência de mutação ou transposição. Em ciências ambientais usa-se
esta expressão quando se deseja se referir a uma área ou situação (ou condição) que se
apresenta com determinadas características “acentuadas ou elevadas”, de maneira que as
façam distintas das demais, similares. Fala-se então, por exemplo, em: “hotspot” de
biodiversidade (os reservatórios mais ricos e mais ameaçados de plantas e animais do
nosso planeta; ver site www.biodiversityhotspot.org, da “Conservation International”)
(no Brasil, os biomas do cerrado e da mata atlântica estão entre os mais importantes
“hotspots” do “Center for Applied Biodiversity Science” da “Conservation
International”); “hotspot” de espécies em risco de extinção (áreas em condição tal que
certas espécies que ali vivem estão em situação mais de risco do que a de outras áreas)
“hotspot” biogeoquímico (locais onde processos biogeoquímicos, com taxas de
armazenamento e biogeociclagem, ocorrem de modo mais acentuado do que em outras
áreas similares).

21 de outubro de 2007
... E AINDA ACHAMOS QUE CONHECEMOS TUDO... E POR ISSO,
HAJA DESTRUIÇÃO!!!
BIODIVERSITY HOTSPOT - CONSERVATION INTERNATIONAL
[BILINGÜE]
INGLÊS New lizard species discovered in Brazilian Cerrado
PORTUGUÊS Novas espécies de lagartos descobertos no cerrado brasileiro.
INGL. A recent herpetological survey in Brazil has yielded two reptile species new to
science. The lizard species Stenocercus quinarius and Stenocercus squarrosus were
116 
 

described last December in the latest issue of the South American Journal of
Herpetology.
PORT. Um recente levantamento no Brasil produziu duas espécies de répteis, novas
para a ciência. As espécies de lagarto Stenocercus quinarius e Stenocercus squarrosus
foram descritas em dezembro passado, no último número da South American Journal of
Herpetology.
INGL. Measuring no more than fourteen centimeters from head to tail, these small
creatures resemble miniature dragons. They live mostly near the ground, on tree trunks
and in small cavities, and they use their disruptive colors and cryptic behavior as
camouflage in the dense and dry savannas.
PORT. Medindo não mais do que 14 cm da cabeça à cauda, estas pequenas criaturas
lembram dragões em miniatura. Vivem principalmente próximos ao solo, sobre troncos
de árvores e em pequenas cavidades; e eles usam suas cores em disrupção [=em
descontinuidade] e comportamento de se esconder, como camuflagem nas savanas sêcas
e densas.
INGL. The two new species have relatively restricted ranges separated by at least 500
km, found in scattered localities in the eastern portion of the Cerrado Hotspot.
PORT. As duas novas espécies têm relativamente, alcances restritos, separadas por pelo
menos 500 km, sendo encontradas em localidades dispersas na porção leste do "Cerrado
hotspot". [VER ACIMA, TERMO "HOTSPOT" EXTRAÍDO DO GLOSSÁRIO]

20 de outubro de 2007
PEIXE DE PÂNTANO QUE ADORA VIVER EM ÁRVORES
[BILINGÜE] [New Scientist, 19/out/2007]
INGLÊS Something fishy is happening in the mangrove forests of the western Atlantic.
A fish is living in the trees.
PORTUGUÊS Algo suspeito está acontecendo nas florestas de mangues no atlântico
ocidental. Um peixe vivendo em árvores.
INGL. The mangrove killifish (Kryptolebias marmoratus) is a tiny fish that lives in
ephemeral pools of water around the roots of mangroves. When these dry up the 100-
milligram fish can survive for months in moist spots on land. Being stranded high and
dry makes it hard to find a mate, but fortunately the killifish doesn't need a partner to
reproduce. It is the only known hermaphrodite vertebrate that is self-fertilising.
PORT. O "killifish" de manguezal (Kryptolebias marmoratus) é um peixe minúsculo
que vive em poças efêmeras de água ao redor de raízes de mangue. Quando elas secam,
o peixe de 100 mg pode sobreviver por meses em locais úmidos na terra. Ficando
retidos no sêco torna-se difícil encontrar um par para cruzar, mas felizmente o "killifish"
não precisa de um par para reproduzir-se. Ele é o único vertebrado hermafrodita
conhecido que é auto-fertilizador.
INGL. Now biologists wading through muddy mangrove swamps in Belize and Florida
have discovered another exceptional adaptation. Near dried-up pools, they found
hundreds of killifish lined up end to end, like peas in a pod, inside the tracks carved out
by insects in rotting logs.
117 
 

PORT. Agora, biólogos vagando pelos pântanos lamacentos de manguezais de Belize e


da Flórida, descobriram uma outra excepcional adaptação. Próximo a poças sêcas, eles
encontraram centenas de "killifish" alinhados extremidades a extremidades, como
ervilhas numa vagem, dentro de sulcos escavados por insetos em madeira em
apodrecimento.
INGL. "They really don't meet standard behavioural criteria for fish," says Scott Taylor.
PORT. "Eles realmente não sastifazem os critérios padrões de peixes", afirma Scott
Taylor.

13 de outubro de 2007
TERMO EXTRAÍDO DO GLOSSÁRIO
BIODIESEL

O biodiesel é um combustível alternativo ao diesel (este último obtido do petróleo), a


ser usado em veículos com motores do tipo diesel. É considerado como recurso natural
renovável e biodegradável, uma vez que é obtido de reação química de óleos (vegetais)
ou gorduras (de animais) com um álcool e na presença de um catalisador; sendo esta
reação denominada de “transesterificação”. Os óleos de girassol, soja e mamona vêm
sendo apontados como as principais fontes de biodiesel.
Conforme revelado em New Scientist (13/07/06), pesquisadores da Universidade de
Minnesota (E.U.A.) observaram que o etanol reduziria em 12% a emissão de gases do
efeito estufa, em comparação com o petróleo; enquanto o biodiesel reduziria as
emissões em até 41% em relação ao diesel comum. Mas eles estimam que nos E.U.A. o
biodiesel obtido de todo o milho e soja que lá são produzidos, cobriria menos de 5% da
demanda atual por combustível naquele país.

13 de outubro de 2007
ENERGIA NUCLEAR: TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (???)
[BILINGÜE] [NEW SCIENTIST, 13/outubro/2007]
INGLÊS Go nuclear for a third industrial revolution, says EC.
PORTUGUÊS Energia nuclear: terceira revolução industrial, afirma a CE-Comissão
Européia.
INGL. We are on the brink of the "third industrial revolution", according to José
Manuel Barroso, president of the European Commission - who believes it means nations
may have to embrace nuclear power.
PORT. Estamos prestes a entrar na "terceira revolução industrial", de acordo com José
Manuel Barroso, presidente da Comissão Européia - o qual acredita que isso significa
que as nações tenham que aceitar a energia nuclear.
INGL. Europe's "low-carbon age" is the revolution Barroso spoke of last week at an
energy conference in Madrid, Spain. "Member states cannot avoid the question of
nuclear energy," he said, following the commission's announcement last month of a new
research initiative for nuclear energy. The European Union should contribute to
research, Barroso said.
118 
 

PORT. A "idade do baixo-nível-de-carbono da Europa" é a revolução de que Barroso


falou na semana passada, numa conferência sobre energia, em Madrid, Espanha. "Os
Estados membros não podem evitar a questão da energia nuclear", disse ele, após o
anúncio da comissão no mes passado sobre a iniciativa de nova pesquisa sobre energia
nuclear. A União Européia deveria contribuir para tal pesquisa, disse Barroso.
INGL. However, not all of Europe shares his view. At a separate nuclear energy
conference in Vienna last week, environment ministers from Austria, Germany, Ireland,
Latvia, Norway and Italy declared that global growth in nuclear power would severely
increase the risks of nuclear proliferation. "Some European countries are almost
religiously opposed to nuclear power," says Hans-Holger Rogner of the International
Atomic Energy Agency in Vienna.
PORT. Entretanto, nem toda a Europa compartilha do seu ponto de vista. Numa distinta
conferência sobre energia nuclear em Viena na semana passada, ministros do meio
ambiente da Austria, Alemanha, Irlanda, Letônia, Noruega e Itália declararam que o
crescimento global em energia nuclear aumentaria seriamente os riscos de proliferação
nuclear. "Alguns países europeus estão quase que devotadamente opostos à energia
nuclear", disse Hans-Holger Rogner da Agência Internacional de Energia Atômica, em
Viena.

23 de agosto de 2007
VIRUS MARBURG TRANSMITIDO POR MORCÊGOS, NA ÁFRICA
[BILINGÜE] [SCIENTIFIC AMERICAN, 22/agosto/2007]
INGLÊS Fruit bats that roost in caves are apparently the source of Marburg virus, which
causes a deadly hemorrhagic fever related to Ebola virus.
PORTUGUÊS Morcêgos frugívoros que se abrigam em cavernas são claras fontes do
virus Marburg, que causa febre hemorrágica mortal, aparentado do virus Ebola.
INGL. Tests of 1,100 bats of various species turned up the virus in only one common
species of fruit bats, Rousettus aegyptiacus, the team at the U.S. Centers for Disease
Control and Prevention, at the Medical Research Institute in Franceville, Gabon, and
elsewhere reported. "These Marburg virus-positive bats represent the first naturally
infected non-primate animals identified," they wrote.
PORT. Testes com 1.100 morcêgos de várias espécies revelaram o virus em somente
uma espécie comum de morcêgos frugívoros, segundo reportado pela equipe dos
Centros dos EE.UU. para Contrôle e Prevenção de Doenças, do Instituto de Pesquisa
Médica, em Franceville, Gabão. “EsteS morcêgos "virus-Marburg positivos"
representam os primeiros animais identificados não-primatas, infectados”, disseram os
pesquisadores.
INGL. The study, published in the Public Library of Science journal PLoS ONE,
suggests that Marburg may be more common than previously thought. "Furthermore,
this is the first report of Marburg virus being present in this area of Africa, thus
extending the known range of the virus," the researchers wrote.
PORT. O estudo, publicado no periódico PLoS ONE da Biblioteca Pública de Ciência,
sugere que Marburg possa ser mais comum do que antes se pensava. “Além disso, este é
119 
 

o primeiro relato do virus Marburg estando presente nesta área da África, portanto
estendendo o alcance conhecido do virus”, afirmaram os pesquisadores.
INGL. The World Health Organization said last week that Uganda had contained an
outbreak of Marburg fever among gold miners there after two men became infected and
one died.
PORT A Organização Mundial de Saúde disse na semana passada, que em Uganda
tinha ocorrido um surto de febre de Marburg entre mineiros, após dois mineiros da
mineração do ouro, terem se infectado e um deles ter morrido.
INGL. A major outbreak of Marburg occurred among gold miners in the Democratic
Republic of Congo between 1998 and 2000, killing 128 of 154 people infected. An
outbreak that started in Uige, Angola, in 2004-05 killed 348 people out of 386 cases.
PORT. Um surto maior de Marburg ocorreu entre mineiros da mineração do ouro na
República Democrática do Congo, entre 1998 e 2000, matando 128 das 154 pessoas
infectadas. Um surto que começou em Uige, Angola, em 2004-05, matou 348 pessoas
entre 386 casos.
INGL. There is no vaccine or specific treatment for either disease, which cause a severe
headache and fever followed by rapid debilitation. Death can follow within eight to nine
days. The study suggests that controlling these bats may help reduce the threat.
PORT. Não há vacina nem tratamento específico para qualquer dessas doenças
[Marburg e Ebola], que causam uma dor de cabeça violenta e febre, seguido de rápida
debilitação. Morte pode vir em seguida, dentre de oito ou nove dias. O estudo sugere
que controlando-se estes morcêgos poderá ajudar a reduzir essa ameaça.

22 de agosto de 2007
GEOENGENHARIA: REDUÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL
(SOLUÇÃO OU PROBLEMA)
[BILINGÜE] [NewScientist, 02/agosto/2007]
INGLÊS 'Sunshade' for global warming could cause drought
PORTUGUÊS “Sombra do sol” para aquecimento global pode causar sêca
INGL. Pumping sulphur particles into the atmosphere to mimic the cooling effect of a
large volcanic eruption has been proposed as a last-ditch solution to combating climate
change – but doing so would cause problems of its own, including potentially
catastrophic drought, say researchers.
PORT. Bombear partículas de enxofre para a atmosfera para imitar o efeito de
resfriamento de uma grande erupção vulcânica tem sido proposto como último recurso
para combater a mudança climática — mas assim fazendo-se, causaria problemas em si,
incluindo uma potencialmente catastrófica sêca, dizem os pesquisadores.
INGL. Sulphur "sunshades" are just one example of a "geo-engineering" solution to
climate change. Such solutions involve artificially modifying our climate to counteract
the effects of human greenhouse gas emission. Other examples include space mirrors
and iron fertilisation of the ocean.
PORT. “Sombras do sol” de enxofre são apenas um exemplo de uma solução de
“geoengenharia” para contrabalançar os efeitos da emissão do gás estufa pelos seres
120 
 

humanos. Outros exemplos incluem espelhos solares e fertilização dos oceanos com
ferro.
INGL. However, a study, led by Ken Caldeira of the Carnegie Institution of Washington
in the US, warned that failing to correctly deploy or maintain such a scheme would
result in sudden warming – which would be worse than the long-term warming that had
been avoided because of its swiftness.
PORT. No entanto, um estudo liderado por Ken Caldeira, do Carnegie Institution of
Washington, nos EE.UU., advertem que uma falha para corrigir efetivamente ou
manter-se tal esquema, resultaria em aquecimento repentino — que seria pior do que o
aquecimento de longo-termo que tinha se evitado, por causa de sua rapidez.
INGL. Cooling cloud
PORT. Nuvem de resfriamento
INGL. Sulphur sunshades are inspired by the cooling effects of large volcanic eruptions,
which blast sulphate particles into the stratosphere. The particles reflect part of the Sun's
radiation back into space, reducing the amount of heat that reaches the Earth. In 1991,
the eruption of Mount Pinatubo in the Philippines cooled Earth by a few tenths of a
degree for several years.
PORT. Sombras do sol, de enxofre, inspiram-se nos efeitos de resfriamento de grandes
erupções vulcânicas que lançam partículas de sulfato na estratosfera. As partículas
refletem parte da radiação solar de volta ao espaço, reduzindo a quantidade de calor que
atinge a Terra. Em 1991 a erupção do Monte Pinatubo nas Filipinas, resfriou a Terra por
uns poucos décimos de grau por vários anos.
INGL. To study the effects that sulphur sunshades might have on rainfall, Trenberth and
Dai [National Center for Atmospheric Research in Colorado, US] looked at trends in
precipitation and continental run-off from 1950 to 2004 to try to detect the impact of the
eruptions of Mount Agung in Indonesia 1963, El Chichón in Mexico in 1982, and
Pinatubo in 1991. After this, a marked decrease in rainfall and run-off in the year after
the Pinatubo eruption was clear.
PORT. Para estudar os efeitos que as sombras de sol de enxofre poderiam exercer sobre
a chuva, Trenberth and Daí [National Center for Atmospheric Research, EE.UU.]
observaram as tendências na precipitação e escorrimento de água continental, de 1950 a
2004, para tentar detectar o impacto das erupção do Monte Agung na Indonésia em
1963, do El Chichón no México em 1982 e o Pinatubo em 1991. Após isso, um
decréscimo marcante foi observado na chuva e água de escorrimento, no ano após a
erupção do Pinatubo.
INGL. Dai and Trenberth say their results suggest that artificially putting large amounts
of sulphate particles into the atmosphere in order to decrease solar radiation could have
catastrophic effects on the planet's water cycle. "Creating a risk of widespread drought
and reduced freshwater resources does not seem like an appropriate fix," they say.
PORT. Dai e Trenberth dizem que seus resultados sugerem que colocar artificialmente
grandes quantidades de partículas de sulfato na atmosfera para reduzir a radiação solar,
poderia ter efeitos catastróficos sobre o ciclo da água do planeta. “Criar-se um risco de
disseminar sêca e reduzir os recursos hídricos de água doce não parece um conserto
apropriado”, afirmam eles.
121 
 

INGL. They note that the negative effects experienced after Pinatubo erupted were
harshest in the tropics.
PORT. Eles notaram que os efeitos negativos vividos após a erupção do Pinatubo foram
mais severos nos trópicos.

03 de junho de 2007
Warming will bring more rain, study claims
[BILINGÜE] [New Scientist, 01/junho/2007]
AQUECIMENTO TRARÁ MAIS CHUVA, ESTUDO ALEGA
INGLÊS Climate experts have cast doubt on the conclusions of a new study predicting
that a warmer world would lead to more rainfall - a contradiction of the prediction of
most climate change models - which was based on just 20 years of data.
PORTUGUÊS Especialistas em clima lançam dúvida sobre conclusões de novo estudo
prevendo que um mundo mais quente levará a mais chuva – uma contradição da
previsão da maioria dos modelos de mudança climática – a qual se baseia em apenas 20
anos de dados.
INGL. Climate models predict that as the planet warms, more water will be suspended
in the atmosphere, because hotter air can retain more humidity.
PORT. Modelos de clima prevêem que à medida que o planeta se aquece, mais água
será suspensa na atmosfera porque o ar mais quente pode reter mais umidade.
INGL. However, this will not be accompanied by an equal increase in rainfall,
according to the same models: for every degree of warming, atmospheric humidity will
increase by about 7%, while precipitation will only go up by between 1% and 3%.
PORT. Entretanto, isto não será acompanhado por igual aumento na precipitação, de
acordo com esses mesmos modelos: para cada grau de aquecimento, a umidade
atmosférica aumentará cerca de 7%, enquanto a precipitação irá subir até entre 1% e
3%.
INGL. Frank Wentz and colleagues at Remote Sensing Systems in California, US,
looked at satellite records from between 1986 and 2005 […] During that time, average
temperatures increased by 0.4°C. […] They found that over the two decades, both
factors increased by between 1.1% and 1.2% - or roughly 6.5% for each degree of
warming.
PORT. Franz Wentz e colegas do Remote Sensing Systems da California, E.U.A.,
observaram registros de satélite entre 1986 e 2005 [...] Durante esse tempo,
temperaturas médias aumentaram em 0,4oC. [...] Eles encontraram que ao longo das
duas décadas, ambos os fatores aumentaram entre 1,1% e 1,2% – ou aproximadamente
6,5% para cada grau de aquecimento.
INGL. "The satellite data for the last 20 years shows an increase in rainfall that is three
times what the models predicted," says Wentz. "This represents one of the first tests of
the models used for the predictions of the Intergovernmental Panel on Climate Change.
The results show a significant discrepancy between model and observations."
PORT.“Os dados do satélite dos últimos 20 anos mostraram um aumento na
precipitação que é três vezes aquele previsto nos modelos”, disse Wentz. “Isto
representa um dos primeiros testes dos modelos usados para as previsões do
122 
 

Intergovernmental Panel on Climate Change. Os resultados mostram uma discrepância


significativa entre modelo e observações”. [...]
INGL. Roy Spencer of the University of Alabama in Huntsville, US, who was not
involved in the study, is familiar with the satellite instruments used by Wentz. "It is not
clear that the trend they are measuring is rainfall," he says. The instrument measures the
total amount of liquid water in the atmosphere, but does not give an indication of its
altitude. If you don't know if it is falling, how do you know it is rain, asks Spencer. […]
"I think this is probably the most accurate measurement of liquid water ever made,"
says Spencer, "but I question the physical interpretation" that there has been more
precipitation.
PORT. Roy Spencer da Universidade do Alabama em Huntsville, E.U.A., que não
estava envolvido no estudo, está familiarizado com os instrumentos do satélite usado
por Wentz. “Não está claro que o que eles estejam medindo seja chuva”, ele diz. "O
instrumento mede a quantidade total de água líquida na atmosfera, mas não dá uma
indicação de sua altitude. Se você não sabe se ela está caindo, como você sabe que é
chuva"? [...] “Eu acho que esta é provavelmente a medição mais exata da água líquida
jamais feita”, diz Spencer, “mas eu questiono a interpretação física” de que tenha sido
mais precipitação”.

1o de junho de 2007
Pegada ecológica
AVALIE SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O AQUECIMENTO GLOGAL: faça sua
pegada ecológica, a partir de dois sites na internet:
http://ecofoot.org (com acesso ao "earthdaynetwork") e www.bp.com
(bp="beyond petroleum", a antiga "british petroleum"); neste último site você deve
inserir no "search" (=busca) a expressão "carbon footprint calculator" e daí selecione
um país com certas semelhanças climáticas com o Brasil (Austrália ou África do Sul
darão o mesmo resultado). Você verá então qual a sua contribuição em termos de CO2
para o aquecimento global. No cálculo para quilometragem percorrida, veja que 1 milha
= 1,6 km (ou precisamente 1.609 m).
RESULTADOS: eu, Prof. Breno Grisi, vivendo numa casa com o total de 5
pessoas, obtive os seguintes resultados: no primeiro site obtive que seriam necessários
mais de 2 planetas Terra para que eu continue mantendo o meu atual padrão de vida; no
site da "beyond petroleum" obtive como resultado 5 toneladas (ou 5 Mg*) de CO2/ano;
bem abaixo das médias da Austrália e África do Sul. Ainda para você ter uma idéia
comparativa, a média do cidadão dos E.U.A. é de 18,58 toneladas de CO2/ano.
*Obs.: no SI ou sistema métrico internacional, a tonelada métrica é chamada
hoje de MEGAGRAMA; portanto, 1 t = 1 Mg = 1.000 kg = 1.000.000 de gramas.

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