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A Jornada da Escrita

12 Passos fundamentais para escrever


um livro arrebatador
Equipe Carreira Literária
A Jornada da Escrita 12 Passos Fundamentais para Escrever um Livro Arrebatador

Apresentação Mesmo que você não queira ou consiga adotar todas elas, se-
ria bem interessante que soubesse que elas não servem como
um monte de regras ditatoriais para cercear sua criatividade –
A decisão de dedicar-se à ficção é geralmente um tanto solitá- são, pelo contrário, instrumentos de liberdade, de facilitação.
ria, e não costuma ser súbita. Convivemos muito tempo com
uma história, um personagem e nossas concepções a respeito Porque, se você é um autor iniciante, que já desenvolveu ao
menos algumas laudas do seu texto, já deve ter percebido que
do mundo antes de levar o projeto adiante. E quanto percebe-
a distância entre o que desejamos escrever e o que consegui-
mos que finalmente é hora de colocar em prática aquela vo-
mos precisa ser diminuída dia a dia. E não é preciso apenas
cação, impulso ou necessidade de escrever, não demoramos a mágica, mas um tanto de técnica.
perceber que precisamos de ajuda.
Esperamos que você termine a leitura motivado, sabendo que
Seria muita pretensão da parte de qualquer teórico ou profis- embora a sua narrativa seja única, o caminho trilhado por
sional do livro dizer que esgotou as ideias a respeito de como você já tem vários bons mapas pelos quais se conduzir.
seguir nessa jornada. Mas é claro que há recursos consagra-
dos, boas práticas que podem ser verificadas na grande maio- 1. Planejamento - Todo livro começa mais ou menos da
ria das carreiras literárias que chegaram à posteridade – o que mesma forma: percebemos que temos uma história que vale
não exclui as boas práticas de cada autor individualmente, a pena ser contada, personagens interessantes para vivê-la,
aqueles que ele mesmo cria, para adaptar-se ao seu tempo, e a impressão de que somos a pessoa certa para consolidar
seus recursos e sua personalidade. isso sobre a página. Os primeiros capítulos escritos, movidos
por essa convicção, estão cheios de energia e tiradas mara-
vilhosas. Sentimo-nos deuses, ou pelo menos habilidosos
Neste pequeno inventário de sugestões, estão 12 dessas práti-
artesãos. Isso porque os trechos que escrevemos já tinham
cas que consideramos mais importantes, mais fundamentais
previamente surgido, junto com nosso ímpeto de escrever.
para a trajetória de um autor que queira não apenas terminar
um livro, mas construir uma maneira sólida de colocar suas Mas quando nos deparamos com os necessários trechos no-
ideias em texto. vos, aqueles ainda não elaborados, porém necessários para a
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coerência e aprofundamento da narrativa, é comum que fi- leitor não necessariamente saberá tudo que está em seus dos-
quemos paralisados. A esmagadora maioria dos originais que siês, mas é proveitoso que o autor sempre os conheça muito
continuam inconclusos e engavetados não está assim por falta bem – em benefício, por exemplo, da coerência das reações
de talento, mas sim de planejamento. de seu personagem a um obstáculo que você tenha acabado de
incorporar ao plot.
A escaleta, que é uma organização cronológica, dividida em
cenas, é essencial para narrativas mais longas, que envolvam As ferramentas de planejamento são muito variadas, e prati-
um grupo maior de personagens e diferentes ambientações. camente cada autor sentirá a necessidade em algum momento
Sem esse tipo de ferramenta, embora no começo possa pare- de criar uma nova ou adaptar alguma das consagradas de uma
cer simples distribuir os personagens pelo tabuleiro do livro, forma que atenda-o pessoalmente. O que podemos ter certe-
conforme a trama se adensa, é muito, muito comum se con- za, no entanto, é de que é muito arriscado dar prosseguimento
fundir – com personagens em dois lugares ao mesmo tempo ao trabalho sem, ao menos, uma porcentagem significativa da
ou usando informações que não deveriam ter recebido. E isso sua atenção voltada para planejamento.
não acontece apenas com iniciantes – qualquer autor está su-
jeito a exibir alguma séria incoerência se não cuidar da sequ- 2. Leitor imaginário - Faz parte do paradigma de uma
ência de suas cenas. “escrita de qualidade” que ela não se prenda a preconcepções,
que seja livre e franca. Muitas vezes associamos essa máxima
Os dossiês também são instrumentos valiosos, pois tornam- a algo que frequentemente escutamos da boca de muitos po-
se o material de consulta para que o autor registre as carac- etas e narradores: “eu escrevo para mim mesmo, não para os
terísticas fundamentais de um personagem ou uma locação outros!”. Isso pode ser muito válido para o processo de escrita
(no caso do primeiro, inclusive quanto a questões de índole, em geral, quando ela tem quase uma função terapêutica para
intelectuais e espirituais0. Por mais que tenhamos a sensação o autor. Mas a partir do momento em que você busca a publi-
de que conhecemos nossos personagens e ambientação me- cação, mesmo que não esteja buscando fama e dinheiro, está,
lhor que qualquer pessoa, o fato é de que a forma como os ve- sim, tentando comunicar-se com um público.
mos pode mudar conforme a história progride. E, nesse caso,
é sempre ter um lugar onde estão as informações sobre sua Procure identificar antecipadamente as características co-
criação que vão além do que o próprio leitor terá acesso. Seu muns aos leitores que estariam interessados na sua história.
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Qual seria sua idade, gênero, hábitos, posições políticas? Será


que seriam mulheres heterossexuais entre 30 e 40 anos? Ou É compreensível: principalmente se passamos muito tempo
seriam empresários que têm como hobbie colecionar carros? em fase de elaboração, nossos personagens são um pouco
Para chegar a essas respostas, você pode verificar o público como se fossem nossa família ou amigos, e nossa ambienta-
consolidado dos autores que influenciaram sua própria for- ção é um pouco como nossa segunda casa. E é por isso que
ma de escrever, ou fazer um exercício mental para defini-lo, relutamos em fazê-los sofrer ou colocá-los em perigo. Assim,
mantendo sua liberdade para ajusta-lo conforme a imagem de muitos e muitos textos passam páginas e páginas tranquilas
quem ele é fique mas clara para você. de descrições, interações e memórias, sem qualquer evento e,
portanto, com mínimas chances de engajamento do leitor.
O importante é que este “leitor imaginário”, ou “leitor ideal”,
permaneça no seu foco de atenção, pelo menos nos momen- O conflito é o evento a partir do qual seus personagens se re-
tos-chave da confecção do seu texto. Atenção: isso não signifi- velam e transformam. Portanto, se você estiver com dificulda-
ca que você esteja acorrentado a ele! Trata-se de um guia, para de de estabelece-lo na trama, pense nas características de cada
que você possa identificar se sua linguagem, sensibilidades e um dos seus personagens que você gostaria de colocar em evi-
descrições estão numa frequência que possa ser rapidamente dência, e que tipo de lição você gostaria que eles terminassem
assimilada por ele. a narrativa tendo aprendido.

Quando seu texto estiver quase concluído, você perceberá que O conflito não precisa ser necessariamente violento ou trau-
ter tomado alguns minutos do seu dia para “conversar” com mático. Mas lembre-se que ele precisa ser proporcional à
este seu possível leitor terá dado mais consistência à sua pro- transformação pretendida para o personagem. Não é neces-
sa, assim como mais clareza sobre como e a quais editoras sário destruir uma cidade inteira com um terremoto para que
apresentar seu original. seu personagem aprenda, por exemplo, sobre altruísmo ou
demonstre heroísmo em suas ações.
3. Conflito – Algumas vezes nossos personagens nos pa-
recem tão incríveis, e nossa ambientação tão fascinante, que Tenha em mente, portanto, que sua narrativa não pode demo-
podemos nos esquecer de algo fundamental: que literatura é rar muito para entrar em movimento. Mesmo que seu mundo
conflito. e seus personagens sejam ótimos para você como estão, infe-
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lizmente você não pode contar que eles significarão a mesma


coisa para seus leitores sem uma boa dose de acontecimentos Para conseguir empatia, busque o que é essencial para o seu
com os quais engajar-se. personagem, quais são os limites que ele não cruzaria, as pes-
soas que importam em sua vida, a canção que ele escuta e que
4. Empatia – Não, isso não significa que seus protagonistas o leva às lágrimas etc. Não pense que mostrar apenas a dureza
tenham que ser bonzinhos e ter um enorme coração. Eles po- da casca de seu personagem bastará ou será o mais elegante:
dem inclusive ser pessoas terríveis, inclusive criminosos, sem mesmo o personagem mais sórdido e vil tem um coração (e
que isso prejudique a empatia e até a intensifique. pode ser melhor mostrá-lo).

A empatia com os personagens de um texto é realizada 5. Menos é mais - Na Literatura, assim como em qualquer
arte, é mais fácil pecar por excesso que por escassez. É mais
através da percepção clara das sua motivações, do que é
fácil que uma bela melodia fique irreconhecível ao ser execu-
importante para eles, do que não querem perder ou do que
tada por uma orquestra do que com maestria, por um único
precisam desesperadamente ganhar. Temos empatia pelos
violonista. É mais fácil discernir a beleza dos movimentos de
personagens de um livro quando os compreendemos, mes-
um único bailarino do que de todo um corpo de baile. Utili-
mo que não partilhemos dos seus valores. zar muitos elementos estilísticos e temas na execução de uma
obra de criação pode gerar resultados espetaculares, mas de-
É comum que autores iniciantes, na tentativa justa de não manda bastante estudo, exercício e reflexão – o que vale tanto
parecerem piegas, dispam seus personagens de quaisquer va- para o escritor quanto para o coreográfo e o arranjador. Acima
lores, fazendo com que eles se movam pelas páginas apenas de tudo, essa complexidade tem que ser necessária para o que
em obediência aos seus instintos mais elementares – fome, temos a contar. Não adianta querer fazer da sua história um
sexo, dinheiro... No entanto está provado que só continuamos festival de luzes e cores caso você tenha algo bem conciso, mas
a ler uma narrativa porque nos importamos com o destino potente, para trabalhar.
de quem vive o conflito diante de nós. Buscamos o desenlace
porque aquela vida passa a nos interessar. Dificilmente nos Assim sendo, menos realmente pode ser mais. Um livro nun-
interessaremos por quem, assumidamente, não parece inte- ca será melhor ou pior de acordo com sua extensão. “Bartleby,
ressar-se por nada ou ninguém. o Escrivão”, na sua concisão e aparente simplicidade, é tão im-
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portante na obra de Hermann Melville quanto o gigantesco Ao cuidar da sua ambientação, seja tão mais cuidadoso quan-
“Moby Dick”, e as menos de 80 páginas de “A Fera na Selva” de to mais distante ela estiver da realidade do seu público leitor.
Henry James nunca serão consideradas menos clássico que o Se seu leitor se concentra nas grandes cidades brasileiras, não
volumoso “Retrato de uma Senhora”. há porque descrever exaustivamente um bar que seja, sim-
plesmente, como qualquer outro (seu leitor já sabe como são
Assim, saiba fazer-se, com franqueza, essas perguntas: Há ex- os bares em geral). Se, no entanto, se você tiver que apresentar
cesso de temas? De descrições? De personagens que não di- a este mesmo leitor uma narrativa passada numa aldeia indí-
zem nada? De adjetivos e advérbios? Você pode já estar com gena na Amazônia, será preciso se aplicar um pouco mais nos
um plot simples e forte nas mãos e estar, desnecessariamente, detalhes para amplificar sua experiência.
criando adornos que em nada acrescentarão, ou lidando com
instrumentos que ainda não domina. Logo, assim como podemos deixar o leitor desamparado, sem
o bastante para se situar, podemos também exagerar nas des-
crições, deixando-o entediado e, em pouco tempo, desinteres-
6. Ambientação – Para que o leitor se engaje num texto
sado ou se sentindo subestimado. Equilibre as ações. Mante-
ficcional, é importante que se sinta aclimatado – que tenha
nha aquele “leitor imaginário” em mente para saber o quanto
elementos suficientes para poder colocar-se no lugar do per-
aplicar-se-á a ambientação, e lembre-se: descreva com mais
sonagem, sentir o calor ou o frio que o envolve, os odores detalhes apenas o que for exótico para o seu leitor.
que chegam às suas narinas, e todas as demais sensações que
tornam a literatura o consagrado mergulho dos sentidos em 7. Equilíbrio – O que seria uma narrativa desequilibrada?
outras realidades. Aquela em que o autor passa longos trechos elaborando a
trajetória de apenas um grupo de personagens, deixando um
Como autores, é comum que nos esqueçamos que temos acesso outro núcleo quase esquecido, até que torne-se quase que ape-
privilegiado aos ambientes onde se passam nossas narrativas, e nas uma vaga lembrança para o leitor; aquela em que há uma
assim enveredamos por diálogos extensos, tramas complexas longa sucessão de digressões, considerações e lembranças do
e mesmo dilemas morais antes mesmo do essencial: acomodar narrador, sucedida por uma súbita sucessão de acontecimen-
nosso leitor espacialmente. tos que deixa o leitor sem fôlego.
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A leitura de uma narrativa desequilibrada é como caminhar mente. Cada unidade narrativa representada pelo capítulo
em terreno pedregoso – tropeçando, avançando e regredindo tem que ser organicamente relevante para o todo, sempre con-
a cada passo. Assim como o andarilho que percorre esse traje- tendo algo de informação e algo de avanço do plot, além dos
to, o leitor que encara esta jornada fica mais desconfortável do demais elementos que lhe sejam característicos. Se seu livro
que entretido ou emocionado, preocupado que está em não tem, além dos elementos fundamentais da ficção, elementos
cair sobre as rochas. psicológicos, poéticos, ensaísticos ou filosóficos, é interes-
sante que cada um deles esteja representado em cada um dos
Não, sua narrativa não precisa ficar “quadrada”: o que é im- capítulos. O que significa que, via de regra, cada capítulo fun-
portante é que ela tenha uma respiração própria, bem distri- ciona melhor como microcosmo que espelhe o todo da obra.
buída entre tensão e repouso, informação e ação, conflito e
resolução. Mesmo que seu livro trate de um assunto aterrori- Evite, portanto, ter espalhados aleatoriamente, capítulos “ex-
zante, o leitor precisa sentir que está progredindo junto com clusivamente filosóficos”, ou “exclusivamente descritivos” ou,
o plot e que, se ele estiver acelerando, este mesmo leitor está ainda, contendo apenas diálogos e nada mais. Fazendo isso
convidado a acelerar seus batimentos cardíacos junto com os você estará dificultando o caminho para que seu leitor com-
do livro. O terror, neste caso, precisa vir do material da leitu- preenda sua obra como um todo.
ra, mas não do ato de ler.
9. Arco dramático - Os elementos do arco dramático mais
8. Estruturação dos capítulos - Capítulos são absolu- popular que temos hoje em dia, atribuído ao dramaturgo Gus-
tamente necessários? Depende do tamanho da sua narrativa, tav Freytag, são muitas vezes desprezados (ou até odiados) pe-
da forma como ela respira, dos seus objetivos com o livro. los autores de literatura. A idéia de que necessariamente há
Alguns grandes autores, como W.G. Sebald ou José Saramago “exposição”, “ação ascendente”, “clímax”, “ação descendente” e
não dividem suas obras propriamente em capítulos, e isso tem “desfecho” cheiram perigosamente a acorrentamento das pos-
a ver com a sensação de fluxo contínuo e ininterrupto que sibilidades do autor. E ninguém gosta de começar a escrever
pretendem para elas (e que se compromete a sustentar). se preocupando com esquemas! Mas saiba: ter noção de onde
cada parte da sua narrativa se encaixa pode salvar vidas...
Mas caso você estruture sua obra em capítulos, saiba que eles
mesmos, também, precisam ser bem estruturados interna-
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Sua história não precisa ter uma seção apenas de cada um dos A melhor forma de garantir que você estará sempre no rumo
seus elementos (pode haver mais de um clímax, mais de um certo com relação à adequação da sua linguagem perante seu
momento de exposição e algumas tantos momentos de ação público leitor é ter sempre a humildade de testar e adaptar. Se
ascendente), mas certamente cada um dos trechos que forem você estiver escrevendo um texto para o público jovem, de até
escritos poderão ser encaixados em uma dessas categorias. E 14 anos, não adianta revoltar-se com a pretensa constatação
perceber o movimento que sua história está fazendo (visual- de que são “um bando de ignorantes” por aparentarem não
mente, uma sequência mesmo de arcos que sobem e descem ter entendido nada do que você disse – eles provavelmente en-
de forma sinuosa) vai te ajudar a compreender a evolução da tenderam, sim, o que você disse; apenas não se conectaram...
leitura. Assim há menos riscos de que você sofra de um “clí-
max precoce” ou de uma “exposição exagerada”. Flexibilize-se e adapte-se, e você perceberá que há virtualmen-
te infinitas formas de contar uma boa história com o impacto
10. Linguagem - escrever bem não é escrever de forma que você pretende.
complicada. Muitas vezes, o escritor aprecia mostrar seus ar-
senal de sinônimos quase esotéricos e possibilidades de sinta- 11. O livro como projeto – A maturidade de um autor
chega quando ele toma consciência de que aquilo que ele está
xe extremamente refinadas. Há leitores que serão certamente
produzindo em seus cadernos, seu editor de texto ou mesmo
arrebatados, mas outros simplesmente sentirão um cansaço
na sua mente enquanto o livro está em elaboração certamente
inexplicável quando chegarem à sua décima consulta ao di-
não corresponderá ao livro consolidado.
cionário antes de tentar voltar a compreender o que está acon-
tecendo na trama.
É normal que apreciemos a ideia de que um livro como “Ulis-
ses”, de James Joyce, tenha saído diretamente das ideias ge-
Aqui, não nos referimos a usar a palavra precisa, incontorná- niais e perfeitamente fechadas de um gênio para as páginas
vel – o autor não deve precisar fugir da complexidade do que publicadas em 1922 sob os cuidados da mítica editora Sylvia
tem a dizer; nos referimos à complicação deliberada, aquela Beach. Essa é uma perspectiva romântica e acalentadora, mas,
desnecessária, e que acaba transparecendo como pretensiosa felizmente, ela não corresponde à realidade para nenhum dos
para o leitor, que ficará com a impressão desagradável de que textos que tanto amamos.
o autor tenta impor sua personalidade à história que tem para
contar.
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A maior parte dos livros que influenciaram a forma como es- Depois de ser arrebatado por um livro, dê uma segunda olha-
crevemos hoje passou por múltiplas recusas, sugestões, emen- da, e reflita, agora de forma mais técnica: o que foi feito na
das e ajustes que fazem com que a forma como originalmente construção dessa narrativa que eu gostaria de agregar aos
foram pensados nos pareça quase irreconhecível. E pode ter meus recursos? Como os personagens foram expostos, para
certeza de que a versão editada foi muito mais benéfica para o que eu tenha me engajado tão firmemente nos seus destinos?
resultado final do que a que idealizamos. Como a ambientação foi cuidada, para que eu me sentisse tão
completamente absorvido por ela? Como os parágrafos pro-
Seja receptivo ao trabalho de uma editora que se disponha a grediram para criar tensão, para que eu estivesse literalmente
ajustes no seu texto, principalmente se você já tiver tido uma suando frio quando um primeiro clímax se aproximava?
boa experiência com um livro publicado por esta mesma casa.
A primeira reação pode ser de ficar escandalizado, resistente O leitor/autor precisa fazer-se perguntas como essa, desapai-
até o fim, como se algo estivesse tentando ser tirado de você xonadamente, atrás de novas ferramentas e novas formas de
em nome do mero lucro e popularidade barata. Mas o fato é lidar com sua própria criação. E, por favor: não sinta que você
de que há sempre algo a aperfeiçoar que não estava claro para está roubando de ninguém ou renunciando à sua própria cria-
nós enquanto escrevíamos, sobre a própria estrutura do texto. tividade. A história que você tem para contar é somente sua
e somente você poderá decidir como conta-la, mas adquirir
Encare o livro, portanto, como um projeto em curso. E esteja
recursos de outras experiências certeiras é legítimo e só fará
sempre aberto às possibilidades. Porque até mesmo o autor
bem à fruição dos seus leitores.
mais genial se distrai às vezes...

12. Ler como um escritor - Um grande autor não é for- O Momento de Abandonar as Regras – Você não pre-
mado apenas escrevendo e escrevendo – ele é necessariamen- cisará ir muito longe nas suas leituras para encontrar clássicos
te também um bom leitor. A questão é que, se quando decidiu adorados e estudados exaustivamente que parecem jogar todas
aplicar-se a escrita, ele já era um leitor voraz, que se emocio- as regras sobre as quais falamos anteriormente no lixo. Uma
nava, se entregava e torcia pelo destino dos personagens com obra fantástica, como “Às Avessas”, de Joris-Karl Huysmans,
ardor, ele agora precisará criar um outro momento de apre- inauguradora do decadentismo francês, pode parecer por ve-
ciação dos textos que tocaram seu coração. zes uma obra na qual nenhuma ação acontece; ou o já mencio-
nado “Moby Dick” pode mostrar uma estrutura na qual os pi-
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cos de ação estão localizados perigosamente no começo e fim


da obra; “Grande Sertão Veredas” tem uma linguagem quase
hermética, e solicita do leitor praticamente aprender um novo
dialeto para navegar por suas páginas.

E isso pode te fazer pensar: mas, afinal, para que servem as


regras?

Para isso é importante notar a características fundamental


dessas obras que quebram paradigmas: são textos elaborados
tardiamente nas carreiras desses autores, o que significa que
1) representam um momento no qual já têm um público ca-
tivo, que está disposto a investir mais do seu tempo de leitu-
ra, mesmo que haja um estranhamento inicial; 2) estão num
ponto de suas produções em que já dominam amplamente a
técnica básica, e conseguem manejar inovações.

Por isso, aqui vai a boa notícia: escrevendo, publicando e re-


cebendo respostas de seu público constantemente, chegará o
momento em que será possível, e mesmo necessário, ousar. E
este pode ser justamente o momento no qual sua obra esta-
rá chegando à maturidade. Apenas tenha um pouco de paci-
ência e disciplina, porque o momento em que você fará suas
próprias regras chegará.

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