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10/12/2017 ABRAPSO - Diálogos em Psicologia Social

ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO - RESUMO


ISSN 1981-4321

Tema: Sessões Temáticas - Educação

PICHAÇÃO E JUVENTUDE: UMA APROXIMAÇÃO À CULTURA ESCOLAR

Autor: JOAO BATISTA MARTINS, PRISCILA DE ANDRADE - UEL MARILANE DE


OLIVEIRA - UEL NATÁLIA LADEIRA FERREIRA DA SILVA - UEL MÁRCIA
CRISTINA ZAGO - UEL MARÍLIA B. CALZAVARA - UEL

Nossas observações do cotidiano esolar ao longo dos últimos anos têm nos
indicado que os estudantes vão para a escola em função do processo de
sociabilidade que ela lhes oferece. Considerando que o espaço escolar é um
lugar extremamente complexo, marcado por encontros e desencontros, e que
se circunscreve a partir de várias formas de comunicação, nos aproximamos
com esta pesquisa de uma forma de manifestação estudantil bastante comum,
qual seja, as marcas por eles deixadas nas carteiras, nas paredes, nos bancos,
etc... que denominamos aqui de pichações. Uma vez que as paredes e muros
têm como prinipal função o estabelecimento de limites e de "fronteiras", vemos
a prática da pichação como nova maneira de se estabelecer as funções para as
paredes (assim como para as mesas, carteiras, bancos etc.): tomando-as como
suporte para o estabelecimento de uma nova forma de comunicação. Mas esta
maneira de se comunicar tem sua especificidade uma vez que ela, ao mesmo
tempo que comunica, protege, não expõe aqueles envolvidos no sistema: é
uma comunicação em segredo pois cifrada, própria da cultura juvenil. Diante
dos escritos deixados nos banheiros, nas paredes, nos bancos, nas carteiras
vemos um movimento instituinte por parte dos estudantes, uma vez que esta
forma de expressão rompe o que está posto - a começar pela regra de
manutenção e preservação do edifício escolar. Participaram desta pesquisa três
escolas do Município de Londrina, uma localizada no Centro da cidade, uma na
Zona Oeste e outra na Zona Norte, todas oferecem o ensino fundamental e
ensino médio e funcionam nos três períodos- manhã, tarde e noite.
Encaminhamos a pesquisa através de registros fotográficos das manifestações
dos estudantes, através de entrevistas junto as administrações escolares e
junto aos estudantes (especialmente os da escola da Zona Norte, onde tivemos
mais acesso para desenvolver a pesquisa). Através das entrevistas com as
direções verificamos que o tratamento dado para a questão da pichação é
bastante heterogêneo - apesar de todas preverem em seus regimentos e
estatutos a necessidade de os alunos preservarem a instalações físicas das
escolas. A escola do centro trata a questão como uma ação depredatória, e
tenta solucionar o problema aplicando as normas da escola e realizando com
freqüência a limpeza nas paredes e nas carteiras (as carteiras desta escola são
de fórmica o que facilita sua manutenção e limpeza). As escolas da zona norte
e da zona oeste apesar de atribuir um sentido negativo para a prática - como
depredação - não criaram dispositivos de vigia e de coibição: uma das direções
repinta as paredes da escola e "lava" as carteiras (o que não resulta no
apagamento das marcas, pois as carteiras são de madeira); a outra direção
não toma providência alguma, pois não tem funcionários para limpar as
carteiras e justifica esta atitude em função da falta de envolvimento dos pais e
dos estudantes com a escola, que poderiam ajudar a administração na
manutenção do mobiliário (que também é de madeira e que, para estar limpa,
necessita ser lixada) e do espaço físico. Tal fato tem um desdobramento
interessante junto aos estudantes: os da escola central, na medida em que não
podem pichar dentro da escola o fazem (também) nos imóveis vizinhos, já os

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das outras escolas não picham os muros do entorno da escola - tal fato nos
sugere que estas escolas, na medida em que as direções "permitem" a
expressão dos alunos, estabelecem um dispositivo de acolhimento das
demandas vivenciadas pelos jovens. O registro fotográfico das marcas resultou
numa coleção de 654 fotos e, diante dela, vislumbramos a complexidade do
fenômeno, uma vez que ele diz respeito a várias dimensões da realidade dos
estudantes. Uma análise mais externa das marcas nos sugere que estamos
diante de um tipo de comunicação bastante específica, o que traz uma
dificuldade de interpretação para aqueles que não dominam o código que
sustenta tal sistema, ou seja, somente aqueles envolvidos no sistema
compreendem o que está expresso: tal fato se revela tanto na grafia de certas
marcas - as vezes cifrada -, como na forma de organização do sistema -
geralmente muito confuso pois muitas marcas juntas. A análise dos conteúdos
que são veiculados através das marcas nos sugere que elas estão relacionadas
com questões relativas ao processo de construção de identidade) vivenciado
pelos estudantes (aqui entendido tanto em seus aspectos individuais como
culturais. Assim são freqüentes os temas relativos: a) à sexualidade (ou ao
sexo) expresso ora por frases ora por desenhos (muito mais frequentes); b) ao
namoro e à paquera, caracterizados pelas frases fulano ama fulano ou pela
disputa de paqueras; c) a religião, geralmente expressos em desenhos; d) a
filiação à grupos de música, manifestado pela inscrição dos nomes dos grupos
nas carteiras (rock, hip-hop, etc.). Algumas marcas nos sugerem o
estabelecimento de fronteiras através da demarcação e afirmação territorial
(tipo Zona Norte 100%). Pudemos notar, em algumas marcas a expressão de
desejos que são influenciados por uma certa ideologia capitalista,
especialmente aquela dirigida a figura da mulher e sua inserção na realidade. É
muito freqüente também pichações que fazem apologia ao uso de drogas, o
que nos sugerem a presença de tráfico de drogas na vida desses estudantes.
Outras ainda nos remetem a situação de violência em que eles se inscrevem, o
que é expresso através de desenhos e frases. Apesar de estarmos no contexto
escolar encontramos poucas pichações que relativas à escola ou a seus
membros como professores, diretores etc... Por outro lado, muitas se
caracterizaram como lembretes ou colas, possivelmente usadas em situações
de prova. Ao longo do desenvolvimento da pesquisa tivemos a oportunidade de
conversar com alguns estudantes a respeito do estar na escola. Tal situação foi
efetivada na escola da zona norte uma vez que a direção permitiu a realização
destes encontros (Martins et all; 2006). Em nossas conversas com os
estudantes a questão da pichação aparece como algo que a direção que deve
cuidar, porém eles não sabem como parar esse movimento e que a situação
acabou se tornando incontrolável. Alguns confessaram que picham as carteiras
e os livros que recebem. Questionada sobre a pichação uma aluna do período
noturno responde: "... carteiras novas servem para registrar nossos
momentos... nossa historia...". Tal fala nos índica o quanto essa prática é
importante para esses jovens, uma vez que significa registro, história e, de
uma certa forma, reconhecimento (mesmo que efêmero). Sob essa perspectiva
a pichação nos permite uma aproximação à experiência escolar do estudante,
assim como a seu processo de construção de identidade e seus
desdobramentos no processo de inserção social. Além disso, uma vez que as
paredes, bancos, portas, etc. são tomados como suportes eles podem nos
revelar aspectos da cultura escolar e da juventude que freqüenta a escola, o
que nos permite, a partir destas informações, conhecer melhor a realidade dos
estudantes e encaminharmos propostas educacionais mais afinadas com as
demandas da população atendida pelas escolas.

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