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Vimos um pouco da história dos batistas. Vimos também que, a rigor, não
temos um fundador da igreja batista, porque várias comunidades batistas
começaram a pipocar na época do surgimento da primeira igreja batista no
mundo. Nossa origem histórica pode remontar ao pastor John Smith e ao
advogado Thomas Helwys, mas eles não criaram nossos princípios e nossas
doutrinas. Vimos, também, certa confusão dos primeiros batistas
exatamente por causa de não termos uma origem numa pessoa, mas ao
redor de princípios. Os princípios já estavam lá e foram entendidos por
várias pessoas, em vários grupos. O que tornou difícil remontar a uma
origem proclamada num lugar, dia e mês, embora consideremos a igreja
fundada na Holanda, em 1609, como a primeira igreja batista. Mas
sabemos que há diferenças de interpretações, o que mostra não haver
unanimidade, embora a maioria opte como optei.
1. A LIBERDADE DE OPINIÃO
Expulso de Boston, num inverno rigoroso, e tendo sido salvo pelos índios,
Roger Williams fundou uma pequena colônia, na Baía de Narragansett,
com algumas de suas ex-ovelhas da Igreja Episcopal, que o
acompanharam. No documento de fundação da colônia se definiram como
postulados a tolerância religiosa e a liberdade de opinião. Isto é motivo de
satisfação para nós, ao mesmo que se torna um lembrete sobre como
devemos proceder. A primeira comunidade que estabeleceu como princípio
a liberdade religiosa absoluta foi fundada por um homem que veio a se
tornar batista e que, em 1639, fundou a primeira igreja batista em solo
americano. A liberdade de expressão é um fundamento muito caro aos
batistas. A riqueza da Igreja de Cristo está na sua diversidade. Isto se
verifica até mesmo na chamada dos doze, feita por Jesus. Eles eram
pessoas diferentes. Pescadores, cobradores de impostos, um guerrilheiro
(aceitando a tese de Oscar Cullman de que Judas Iscariotes quer dizer
“Judas, o homem do punhal”). Um colaboracionista com Roma, o poder
dominante, e um revolucionário, contra o poder dominante, portanto.
Ambos chamados por Jesus.
“Mas conheci muita gente que esteve na igreja e hoje está excluída!”, dirá
alguém. A antiga Confissão de Fé, substituída pela Declaração Doutrinária,
trazia o item XI, “Da Perseverança dos Santos”. Nele se diz: “Cremos que
só são crentes verdadeiros aqueles que perseveram até o fim; que a sua
ligação perseverante com Cristo é o grande sinal que os distingue dos que
professam superficialmente”. Um verdadeiro salvo persevera na fé:
“Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos
nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se
manifestasse que não são dos nossos” (1Jo 2.19).
O pastor não é um sacerdote. Sua oração vale tanto, aos olhos de Deus,
como a oração do zelador da igreja, desde que este seja crente. A oração do
crente é ouvida por causa da graça de Deus, da mediação de Jesus e da
intercessão que o Espírito faz por nós, junto à Trindade. A identidade
batista é fortemente marcada por esta concepção teológica: o sacerdócio
universal de todos os salvos, em conseqüência do livre acesso que todos
nós temos à presença divina.
No entanto, esta doutrina tão valiosa está sendo diluída em nosso meio.
Isto sucede por causa do entendimento de que temos um clero e um
laicato. Todos nós somos ministros, pois todos somos servos. E todos
somos leigos, porque todos somos povo (é este o sentido da palavra “leigo”,
alguém do povo). Não temos clero nem laicato, como batistas. Somos todos
ministros e somos, todos, povo. Mas isto tem sido esquecido, porque, cada
vez mais, a igreja mergulha no Antigo Testamento e não no Novo. Usamos
os termos do Novo com a conotação do Antigo. Muita gente prega o Antigo
Testamento sem analisá-lo pelo Novo Testamento. Assim, o pastor do
Novo Testamento passa a ter a conotação do sacerdote do Antigo
Testamento. É o “ungido”, o detentor de relação especial com Deus que os
outros não têm. Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como se fosse o
sacerdote do Antigo Testamento. Por exemplo, batismo e ceia só podem ser
celebrados por ele. Assumimos isto, mas não é uma exigência bíblica.
Convencionamos isto.
No meio carismático isto é mais forte. Os pastores tornam a igreja
dependente deles. Só eles têm a oração poderosa, a corrente de libertação
só pode ser feita por eles e na igreja, só eles quebram as maldições, etc. O
sentido teológico do sacerdote hebreu permeia o sentido teológico do
pastor neotestamentário. Isto convém ao pastor neopentecostal. Ele se
torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que deve ser
acatado. Tem uma autoridade espiritual que os outros não têm. Ele tem
uma linha vermelha com Deus. Ora, se há algo que aprendemos sobre a
liderança nos dois Testamentos, é que o Antigo elitiza a liderança e o Novo
a democratiza. Para o neopentecostal, o Novo Testamento, a mensagem da
graça e a eclesiologia simples, despida de objetos, palavras e gestual
sagrados não são interessantes. Assim, ele se refugia no Antigo
Testamento. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete braços e
estrelas de Davi no lugar da cruz. Outras desfraldam a bandeira de Israel (e
omitem a brasileira), guardam festas judaicas, e têm incensários em seus
salões de cultos. Há evangélicos que parecem frustrados por não serem
judeus. A liturgia pomposa do judaísmo é mais atraente e permite mais
manobra ao líder que se põe acima dos outros. E com isso, os membros da
igreja são os ajudantes do obreiro.
Não se pode negar a autonomia da igreja local, até mesmo porque o Novo
Testamento só mostra uma instituição, que é ela, e desconhece as que
criamos. O que criamos não é antibíblico, mas é abíblico. Não é errado,
mas existe para funcionalizar e vitalizar a igreja local. O que devemos fazer
é mostrar que as igrejas do Novo Testamento viviam em cooperação, que
se ajudavam, como Paulo mostra em suas cartas. Autonomia e cooperação
não são antônimos. As igrejas se engajavam em projetos comuns, mas tudo
partia delas. Até mesmo o envio de missionários. Os missionários eram
enviados pelas igrejas e eram missionários das igrejas e nunca enviados
por uma instituição. Sei que os tempos são outros, as circunstâncias
culturais são outras, mas me parece que muitas vezes olhamos pelo lado
errado do binóculo. A pedra de toque do processo batista é a igreja local.
Somos congregacionais desde nossa origem: o governo pertence à
congregação local e ela não está sujeita a nenhuma outra instância. E
cooperação, sim. Mas sacrifício ou abandono da autonomia da igreja local,
nunca!
Esta doutrina nos permite declarar que a maior e mais rica igreja batista
vale tanto quanto a menor e mais pobre. E o que se faz em nome dos
batistas precisa do aval moral das igrejas para ter credibilidade entre elas.
Não se trata apenas de autonomia da igreja local, mas de sua soberania. As
estruturas precisam se compatibilizar com as igrejas. Até mesmo por um
fator muito simples: precisam delas para sobreviver.
Este item amplia a liberdade da igreja. Ela não está subordinada ao Estado
e ela e o Estado têm esferas diferentes. A igreja é cidadã deste mundo e
sujeita-se a leis de justiça e de bom senso. Mas deve dizer: “Mas Pedro e
João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo diante de Deus
ouvir-nos antes a vós do que a Deus” (At 4.19). A lealdade última da igreja
é para com Deus e sua Palavra. Sua pátria mais amada é a celestial. O
Estado também está sob a lei da justiça divina. No Antigo Testamento,
Iahweh escolheu Israel, mas é Senhor de todas as nações e toda a terra.
Devemos nos lembrar disto.
CONCLUSÃO