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o PEQUENO DRAMA DE UMA VIDA
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POR TIA NEIVA

VALE DO AMANHECER

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"A CRIANÇA DE TIA NEIVA"

,
VENDA EM BENEFICIO DO LAR DAS CRIANÇAS DE
MATI LDES

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Meu Filho Jaguar,


Salve Deus:

Era urna tarde de sábado, tml dia de consultas e eu já previa meus pacientes.
Alencar, meu secretario, já estava indócil com tantas perguntas: "A Tia Neiva vem?
O Senhor me dá uma ficha? A que horas ela vem? Como a Tia está demorando: ..." Che
gou, então, a hora e eu me vi diante deste quadro, lembrei-me então de Pai Seta Bran-
ca, o qual nos vem advertindo que não devemos julgar, mui to menos anal izar os nossos'
irmãos quando estão errados, ou pensamos estarem errados. Esta passagem que vou ex-
plicar, graças a Deus, nos mostra quão mesquinho e o nosso julgamento.
Estava na minha frente, para ser consultada, uma bela senhora de 40 anos,
recentemente viúva de um suicida. Junto com ela estavmn sua sogra, tnn jovem de 18
anos, um belo rapaz com tml futuro prometedor e tmla jovenzinha leviana, porém, de bom
aspecto. Vi que se tratava de uma ÍélmÍlia.
Vej a o que pode fazer pela minha sogra, Tia Neiva. Vim para consolá-la
porque Lúcio se suicidou e ela está sofrendo muito. Lúcio era filho da anciã, ela es
tá me d3Jido mui to trabalho. vê se a faz esquecer, qualquer coisa qur~ me dê sossego.
- Sim, disse a anciã, a minha maior dor é saber que meu filho nao tem sal
va~ao. Foi tão bom, e não se como pôde fazer isto.
A viúva arrematou depressa e com desprezo peJo marido:
- Deixou-nos na pior situação, enfi~m, traumatizou todo mundo.
- Sim, disse o rapaz, o amor que meu pai tinha por nós, Tia Neiva, n30 foi
fácil entender o que ele fez e nem tão pouco para mim e minha pobre mãe viver sem ele.
Foi horrível o que eu passei, no fjm ele mostrou que não gostava mesmo era da gente,
Tia Neiva. Minha vo, coitada, pensa que ele irá penar. Isto eu não acredito muito,
sei que Deus não irá deixár, porque ele era bacana mesmo, compreendia a mim, mais do
que todo mundo. Eu não estava satisfeito com as coisas da mae e ele sempre me dizia
que o filho que não gosta da mãe, nunca se realiza. Era bacana, mesmo, nao sei como
foi tão fraco.
Depois, ficamos calados, ouvindo os soluços da vozinha.
- São os restos do carma, logo a senhora estará com ele; disse eu , com tr<:l~
quilidade e falando com carinho ã pobre senhora sogra, porque a viúva tagarelava sem
parar e sem qualquer sentimento de amor.
Como, Tia Neiva, a senhora não entende que ele se suicidou? Deu um tiro
nos miolos, e só Deus saberá onde anda meu filho, meu pobre Lúcio. Não sei, um .ho-
mem tão culto, quis ser médico e foi. Quis seguir a mesma profissão do pai, pobre pai,
pobre marido meu, que Deus o tenha, também, em bom lugar. Era como Lúcio seu filho,
wn homem bom, morreu do coração. Foi um golpe duro para mim, porém, não tão duro como
este do meu filho. Sim, Tia Neiva, o meu mal foi ter me casado com outro. Ao meu Lú-
cio não dei satisfação e este atual marido não combinava com ele. Por causa deste in
feliz, Lúcio esteve separado de mim. Lúcio saiu de casa e só voltou quando ele foi
embora. Será, Tia Neiva, que foi por isto que ele suicidou-se? Guardou, toda vida, es
ta mágoa?
- Foi pelo a tri to com Lúcio Junior? Pergemtei.
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- Não, respondeu a anciã, ele queria a grande herança de meu marido, Lúcio a 1

Lúcio, coitado, ficou decepcionado comigo. Sempre que podia, ele falava: "O Homem mm
ca pode pensar nos defeitos da mãe". Ele, porém, sempre me beij <l\."3., ria e ficava por is
to mesmo. Acredito que era só da boca para fora.
Terminado o diálogo, vi que o pobre suicidE fora para evitar desgraça maior,
pois o quadro era o pior possível, daquela gente. Somente o jovem era o sofredor,
dera o pai para se salvar.
Chamei o Tiago e recomendei um trabalho e fiquei observando se Lúcio se mani-
festava ali, porém, ele não veio. Obsessor? Pensei. Fui, então, encontrar-me com ele
no Canal Vennelho. Aproximei-me e disse: - Estive com sua família, seu filho, sua fi-
lha, dois filhos.
- Só tenho Fen1anda e Fernando. Que pensa Fernando de mim? A senhora sabe?
- Sei, respondi, como também sei o que o levou ao suicídio.
- Falou com ele? Perguntou-me desesperado.
Não, tenho um juramento na Terra, que me obriga a respeitar os sentimentos ,I
dos outros e, seria incapaz de demmciar alguém. I
- Fui suicida e, no entanto, aqui ninguém me condenou por isto.
- Sim, disse eu, foi aquilo que eu aprendi - respeitar os outros.
- E minha mãe?
Sua mãe, Lúcio, sentiu e sente a maior dor.
- Meu Deus: Gemeu Lúcio.
Lúcio, sua mãe opinou pelo homem que amou, quando você partiu pela primeira
vez, e a mãe não tem porque opinar, senão, pelo seu próprio filho.
\'iI - Sim, Tia Neiva, foi horrível no dia que meu padrasto, na frente de minha mae,
esbofeteou-me dizendo que ele ou eu ficaria naquela casa. E minha mãe disse: "Meu fi-
lho, vou te ,levar para a casa de sua avó, a mãe de meu falecido pai". Tive uma decepção
tão triste, que nunca mais me recuperei, apesar de toclocarinho de minha avó. Minha mãe
não me quis, preferiu estar ao lado do homem a quem amava. Mesmo traumatizado e cheio
de tristeza, casei-me. Minha esposa parecia amar-me muito. Tivemos dois filhos maravi-
lhosos, Fernando e Fernanda. Tudo corria, aparentemente, bem. Foi, então, que entran-
do na casa de Marcelo, meu maior amigo, ouvi a voz de Edna, minha esposa. Marcelo veio
ao meu encontro. PerbTuntei de quem era aquela voz, ele gaguejou e disse que 'não era ni~
guem. Desci e fiquei em frente à casa, até que saissem, e quem saiu foi ele, a própria
EcJna. Fiz urna viagem, porem, nao saía da minha cabeça. Pensei tudo o que lml homem traí
do em seu casamento pode pensar. Ela não se modificou e Marcelo também pers'istiu no
erro, e eu não quis mais ver o que estava acontecendo. Senti coragem e tive vontade de
ma tal'os dois, porém, decepcionar Fernando, com sua própria mãe., nao era possível; e
se eu morresse, ele nunca ficaria sabendo de sua traição. Pensei comigo, se tudo está
bem para Fen1ando, espero aqui o que Deus quiser. Deus há de me perdoar a minha pobre
incompreensão. Tenho certeza que urn dia Deus me perdoará.
B verdade, pensei. Fen1ando estava sem complexo, vivendo sua vida e amando
ainda mais sua mãe. Estávamos bem, quando ouvimos a campainha de chamada.
- Está olhando para onde irei? Perguntou-me Lúcio.
- Vai para o outro lado deste cànal, respondi.
Ele partiu e soube que tinha ido para reencarnar e pagar, na carne, o seu erro
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de se suicidar. E qual a sua pena? Voltará com lmla forte disritmia. Perguntei, então,
quem seria a sua mãe. Sua mãe será, novamente, a mesma velhinha, porque rejeitou o di
reito de criá-lo, fazendo assim o seu primeiro trauma, por ter preferido o homem que
amava, deixando que ele fosse para a casa de sua avó. O desequilíbrio de uma mãe desa
justa wna família.
No outro sábado, a família voltou para falar comigo e, sentados em minJ1a
frente, tive vontade de dizer tudo, que tinha me encontrado com Lúcio no Canal Venne
lho e que era ela a única responsável pela sua morte. Como sempre, me llJnito apenas
em proteger, porque entreguei meus olhos a Jesus, para nW1Ca escravisar ninguém com
palavras ou por insinuações e, muito menos, por julgaJnento. Fico frustrada pensando'
nas palavras de Pai Seta Branca. "Ajudar, comunicar sem participar, não dividir nem
tornar partido das pessoas".

Com carinho,

A Mãe em Cristo,

TIANEIVA

Vale do AmanJ1ecer, dezembro de 1979.


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