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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – IFCH

FACULDADE DE HISTÓRIA – FAHIS

BELÉM – PA – 2017

Arqueologia Histórica e Cultura Material

Docente: Prof. Dr. Wesley Oliveira Kettle

Discente: Neydson Guilherme Silva Corrêa

Ensaio sobre o livro “O mundo perdido” de Arthur Conan Doyle

O livro “O mundo perdido” de Arthur Conan Doyle é uma obra ficcional


publicada originalmente no ano de 1992. Em sua narrativa é apresentado ao leitor os esforços
do professor George Challenger, um renomado pesquisador inglês, em guiar uma expedição à
América do Sul, na região amazônica, buscando comprovar que, em suas áreas montanhosas,
havia encontrado um platô contendo extraordinárias descobertas cientificas, certamente, um
marco para a história da humanidade, sobretudo pelo fato da descoberta da existência de uma
megafauna, há muito extinta – mas que naquele território ainda habitava.

Durante a expedição, Challenger é auxiliado por Edward Malone, um jovem


jornalista, que fica encarregado de fazer os registros das descobertas; Professor Summerlee –
outro cientista que eventualmente contesta as afirmações de Challenger; E por fim, Lord John
Roxton, um nobre, caçador e aventureiro que, por apresentar grande conhecimento das áreas
da américa do sul e interesse nas alegações de Challenger também acaba por juntar-se ao
grupo.

A obra de Doyle, por ter uma época e um contexto bem definidos, traz consigo
muito do pensamento de seu tempo. Nota-se durante toda a obra uma certa visão eurocêntrica
a respeito da América do sul e sobre a Amazônia como localidades atrasadas e retrogradas.
Tanto é, que, poder-se-á tomar o título “O Mundo Perdido”, evidentemente, que, com certo
cuidado – para não criar aqui uma generalização que postergue o foco literário de uma obra
ficcional – como uma analogia representando essa visão de lugares selvagens, localidades
que, de certo modo, estão estáticas no tempo e que se encontram submissas à Europa como
potência continental e que, terminantemente, necessitam da sua interferência para alcançar
qualquer status de relevância.

Ademais, Doyle, foi um indivíduo que, sobremaneira, absorveu as vicissitudes de


seu tempo e que, por vezes, transmitia para suas obras discussões sociais importantes de sua
contemporaneidade. Sendo que, em decorrência de sua formação acadêmica, muito interligada
às ciências, era uma homem com erudição bastante pulverizada entre as áreas de
conhecimento. De tal forma, que, mesmo de forma involuntária, Conan Doyle, através de sua
obra dá margem para o levantar de diversas abordagens teóricas, metodológicas e estudos
adentrando nas mais variadas áreas.

Neste caso, o presente ensaio terá como objetivo buscar pontos de conexão entre
trechos da presente obra “O Mundo Perdido” com a Arqueologia Histórica e também a cultura
material, demonstrando a aplicabilidade e a versatilidade dessas áreas em estudos e pesquisas,
tendo como aporte teórico-metodológico textos trabalhados dentro da disciplina “Arqueologia
histórica e cultura material.

Em certo grau, as áreas de estudo supracitadas, ou conceitos e particularidades


destas, são usadas de maneira despretensiosa – até mesmo inconsciente – pelos personagens e
pelo autor durante toda a narrativa. Ainda no início do livro é possível identificar a presença e
a importância da cultura material como uma forma de corroborar pesquisas e discursos
apresentados sobretudo se acompanhado de outras fontes – atribuindo mais credibilidade para
estes, quando necessário. Por exemplo, nota-se esta propriedade da cultura material, quando
Challenger apresenta ao público e, posteriormente a Malone, a história de sua primeira
expedição até o platô e suas descobertas e, a priori, seu relato é tido como estapafúrdio e
inventivo. Todavia, a este último (Malone), Challenger revela juntamente com seu relato oral
e as fontes iconográficas (as pinturas, fotos e desenhos de Mapple White e próprios), um osso
pertencente ao animal fantástico que havia encontrado narrando, também como havia se
apropriado do objeto. Sendo, então, esse um dos motivos que aparenta gerar consentimento de
Malone à história, até então, considerada um despautério de Challenger. Isso acaba
demostrando como as fontes, quando trabalhadas em conjunto, podem contribuir para uma
visão mais ampla de um determinado assunto. Sem, necessariamente, acabar substituindo
inutilmente uma hierarquia de fontes por outra (Cadiou et al. 2007, p. 124, apud Azevedo
Netto, 2010, p. 66). Pois, neste caso

[...] os vestígios arqueológicos ou as imagens não falam por si sós [...]. Para que
possam ser compreendidos, é necessário inseri-los em seu contexto, relacioná-los a
descobertas similares e confrontá-los a outros documentos [...]. Cadiou (2007, p. 124
apud Azevedo Netto, 2010, p. 66).1

Dando seguimento às discussões relevantes, cabe apresentar a relação que pode


ser apreciada entre a expedição investida pelos personagens e os gran tour – citados no texto
Estudos Clássicos II Arqueologia Clássica: os inicios – que eram, já no século XVIII e sob
influências iluministas, grandes viagens de descobertas que poderiam durar meses ou até
mesmo anos (FUNARI; 2013). Essas expedições geralmente centravam-se em escavações
arqueológicas focadas em regiões com relevante potencial arqueológico – principalmente as
ruínas Roma e Pompéia. Tais expedições tiveram ainda papel importante para sistematização
do trabalho arqueológico. Então, análogo ao exposto no texto supracitado, os personagens
investem o seu gran tour até os territórios Amazônicos, tendo a ambição de também encontrar
sua glória através das possíveis descobertas que aquele sítio os pudesse propiciar.

De maneira concomitante por meio de Langer2, pode-se apontar os interesses dos


personagens de Doyle como congênere ao dos colecionadores humanistas3, quando em suas
investidas em busca de artefatos em ruínas, almejavam restabelecer as glorias do período
clássico da história, no entanto restrito a grupos específicos das camadas de mais prestígios
social. Sendo que as expedições, coleções e escavações realizadas pelos humanistas foram de
grande valor para a formação do que viria a ser arqueologia propriamente dita (LANGER,
1999). Continua sobre a questão das ruinas e os lugares enigmáticos que fomentam o interesse
arqueológico: “O peculiar dessas ruinas é que ajudaram a instituir aspectos “misteriosos da
Arqueologia”, [...] relacionados a outras representações como as cavernas e as cidades
perdidas.” (LANGER, 1999, p. 97). Tem-se então a construção do imaginário da arqueologia
como “Ciência da aventura, do desconhecido e do temerário” como pode ilustrar um trecho da
obra de Conan Doyle, numa conversa entre o Jovem Malone e lorde Roxton – em que

1
DE AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier; DE SOUZA, Amilton Justo. A importância da cultura material e da
Arqueologia na construção da História. História Unisinos, v. 14, n. 1, p. 66, 2010.
2
LANGER, Johnni. As origens da Arqueologia Clássica. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, n. 9,
1999.
3
Aponta-se, pois, no início, Challenger, após ter suas ideias duramente descartadas pela comunidade cientifica,
projeta uma segunda excursão, mas desta vez carregado de seus interesses pessoais de provar que não era um
“charlatão”, de certo modo sendo conduzido por essa sua paixão imediata e pondo como plano de fundo os fins
científicos. Sendo estes retomados posteriormente.
tratavam dos preparativos para a expedição. É dito por lorde Roxton “Que os espaços abertos
e as terras misteriosas nos permitam a alegria da descoberta e que o perigo e a temeridade nos
façam merecer melhor a existência!” (DOYLE, 1999, p.46)4. Esse é uma das características
substanciais da Arqueologia e da História: o enfrentamento do desconhecido em busca da
verdade.

Langer é um autor que disserta sobre a crescente aceitação da arqueologia e da


cultura material à guisa de seu potencial para validação na história por propiciar essa
“palpabilidade”, uma aproximação com o objeto estudado. “A busca incessante pelo objeto,
pelo documento material torna-se cada vez mais suprema em relação ao documento escrito”
(LANGER, 1999, p. 98).

Durante a narrativa da obra, faz-se presente também, margens para outras


discussões pertinentes a arqueologia, como a Ecoarqueologia. Nota-se essa relação, por
exemplo, quando os personagens estão em sua jornada rumo ao “Mundo perdido” navegando
as aguas do rio amazonas e passam a observar as relações naturais e paisagísticas da região
em ressonância com a vida – humana e animal – que ali reside. Isso pode ser escrutado no
seguinte trecho narrado por Malone

De um lado e outro a paisagem era alucinante de riqueza e variedade. Notei também


espantosa multiplicidade de bichos de toda a espécie, que andavam pela água, pelas
margens ou pelos galhos, sem manifestar temor algum, como se estivessem
acostumados a ver homens. Jacarés, antas, macacos, tapires, tamanduás e até uma
onça parda esgueirando-se entre os arbustos, fitavam-nos com espanto ou
curiosidade, mas sem medo. [...] Perguntava-me por que os índios não haviam
ocupado essa região maravilhosa. (DOYLE, 1999, p. 57)
Constata-se aí, segundo Hardesty; 2002 e Fowler; 2002 citados por Costa; 2013,
que, “O valor dos estudos ecológicos e arqueológicos no período histórico está na inclusão
das interações entre os seres humanos e o ambiente em diversas escalas, sejam elas locais
regionais ou mundiais”5.
A dúvida deixada por Malone acaba sendo explicada por Gomez6 que diz que os
índios não habitam aquela região por temerem um espirito que rondava à área. Analisando tal
colocação, evidencia-se o fator cultural do imaginário e das crenças que envolve a formação

4
As referências de paginação, condizentes à obra O Mundo Perdido estará sendo baseada na numeração
disponível no material digitalizado em PDF, do ano de 1999, ed. Nova Alexandria, São Paulo.
5
COSTA, Diogo Menezes. Eco(arqueo)logia histórica nas lavras do abade: patrimônio cultural e natural.
Amazônica-Revista de Antropologia, v. 5, n. 1, p. 41; 42; 2013
6
Gomez é um dos ajudantes que se junta ao grupo da expedição quando os quatro personagens principais param
no Pará.
de um território e, por conseguinte, sua paisagem. Pois, quando entendemos que os índios
evitam de permanecer em um local por medo da presença de um espirito que constitui sua
cosmologia, presenciamos uma faceta do que o antropólogo francês Marc Augé define como
Lugar Antropológico; que seria, “a construção ao mesmo tempo concreta e simbólica do
espaço, servindo de referência para todos aqueles distintos indivíduos conviventes alí”. E
também, como ressalta Balée e Erickson; 2006, em citação de Costa a paisagem surge como
uma construção histórica que é um produto da colisão entre a natureza e a cultura e onde quer
que ela se dê ali se terá uma paisagem.
Notar-se-á, também, um pouco mais à despeito dessa relação de construção de
espaços-paisagens – avançando de maneira necessária na obra – quando são apresentados os
Indígenas e os Homens-Macaco que habitavam o platô. Os índios tinham suas habitações
alocados nas cavernas que tinham sido formadas em períodos anteriores, dada condições
naturais do platô e os Homens-Macaco viviam mais às margens do platô, em uma espécie de
aldeamento, junto de um pequeno bosque onde as árvores haviam sido trabalhadas para que
imitassem uma espécie de ninho7, onde estes abrigavam-se. Sobre estas disposições de
locação, não pode-se deixar de tomar à análise, alguns aspectos mobilizadores de suas
intenções. Sendo assim, é mister apontar fatores “[...] como as condições dos terrenos e a
proximidade de recursos hídricos; ou fatores, essencialmente culturais, como a centralização
de um poder militar, político, econômico, e religioso.” Benevolo, (1993, apud Costa, 2014, p.
49)8 na construção desses espaços. Isto é levantado mesmo dentro da narrativa da obra quando
é especulado por Challenger que
“Para os índios, a explicação é bem mais simples: sua imigração deu-se em período
mais recente. Talvez impulsionados pela fome ou obrigados a fugir de outras tribos
guerreiras, esses nativos deixaram a planície e vieram para cá.” (DOYLE, 1999, p.
110-111).
O que também pode ser analisado como o processo de ocupação sedentária,
realizado por condições privilegiadas por recursos aquáticos propiciados por mudanças
geográficas e climáticas após o período do holoceno apontado por Silveira M. I e Schaan, D.
P. 2005.9 No caso dos Homens-Macaco, as ordens apontadas por Benevolo tomam corpo sob

7
Nota-se aqui uma evidencia da ideia de Balée e Erickson sobre a transformação paisagem em causa do atrito
entre a cultura, o homem e a natureza.
8
COSTA, Diogo Menezes. O urbano e a arqueologia: uma fronteira transdisciplinar. Vestígios. Revista Latino-
Americana de Arqueologia Histórica, V 8, N. 2. 2014.
9
DA SILVEIRA, Maura Imazio; SCHAAN, Denise Pahl. Onde a Amazônia encontra o mar: estudando os
sambaquis do Pará. Revista de Arqueologia, v. 18, n. 1, 2005.
a organização dos aldeamentos dos H.M10, por meio dos aparatos de coerção agressivos que
possuíam, como a pratica de jogar os inimigos capturados em estacas de bamboo dispostas
logo abaixo o penhasco onde estavam, como forma manutenção política da imposição do
terror aos seu inimigos índios e também de “diversão”.11
No entanto, é preciso fixar que tais características dessas relações ecológicas,
arqueológicas culturais etc. tem necessidade de serem escrutadas com maior cuidado sobre o
olhar do longo período, que faz-se necessário para a coleta de informações confiáveis sobre as
mudanças na população, ecossistemas distúrbios e dinâmicas (Swetnam; 1999 Allen; 1999 e
Betancourt; 1999, apud Costa 2013).12
Sendo assim, descreve Sarah de Barros Viana Hissa que a temporalidade assume
esse imprescindível papel dentro das ciências, que trabalham com a ideia de tempo, como
uma espécie de “metrônomo” dos fenômenos. As questões cientificas são fomentadas em
torno dessa passagem do tempo, – como as eras distintas classificadas do planeta terra:
paleolítico e neolítico, pleistoceno, holoceno etc – o que possibilita a ordenação e arranjo
sequencial eventos e também da criação de ramos específicos dentro da arqueologia e também
das demais ciências para abordá-los dentro de seus intervalos específicos temporais,
facilitando divisões por estágios de evolução, e propiciando uma separação das vicissitudes de
eventos e da materialidade. Desse modo a questão tempo sendo fator de legitimidade tanto a
arqueologia como às demais áreas das ciências que analisem as atividades humanas e da
natureza em lugar e tempo específicos. (HISSA, 2013).13
Por fim, nota-se como já explanado na introdução do presente ensaio as múltiplas
facetas e a aplicabilidade tanto da arqueologia como da cultura material demonstrada por
meio de conexões entre a obra de Conan Doyle e textos teórico-metodológicos que
corroboram a tese apresentada da arqueologia e da cultura material como mister em
abordagem de pesquisas e estudos.

10
Por razões de conveniência passar-se-á à abreviar o termo Homens-Macaco por H.M
11
Nota-se o uso e construção de uma paisagem como meio de impor uma atitude de manutenção política e
cultural e afins.
12
COSTA, Diogo Menezes. Eco(arqueo)logia histórica nas lavras do abade: patrimônio cultural e natural.
Amazônica-Revista de Antropologia, v. 5, n. 1, p. 41; 42; 2013
13
HISSA, Sarah de Barros Viana. Dando tempo ao tempo, na arqueologia. Revista de Arqueologia, v. 29, n. 1,
2016.

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