Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
BELÉM – PA – 2017
A obra de Doyle, por ter uma época e um contexto bem definidos, traz consigo
muito do pensamento de seu tempo. Nota-se durante toda a obra uma certa visão eurocêntrica
a respeito da América do sul e sobre a Amazônia como localidades atrasadas e retrogradas.
Tanto é, que, poder-se-á tomar o título “O Mundo Perdido”, evidentemente, que, com certo
cuidado – para não criar aqui uma generalização que postergue o foco literário de uma obra
ficcional – como uma analogia representando essa visão de lugares selvagens, localidades
que, de certo modo, estão estáticas no tempo e que se encontram submissas à Europa como
potência continental e que, terminantemente, necessitam da sua interferência para alcançar
qualquer status de relevância.
Neste caso, o presente ensaio terá como objetivo buscar pontos de conexão entre
trechos da presente obra “O Mundo Perdido” com a Arqueologia Histórica e também a cultura
material, demonstrando a aplicabilidade e a versatilidade dessas áreas em estudos e pesquisas,
tendo como aporte teórico-metodológico textos trabalhados dentro da disciplina “Arqueologia
histórica e cultura material.
[...] os vestígios arqueológicos ou as imagens não falam por si sós [...]. Para que
possam ser compreendidos, é necessário inseri-los em seu contexto, relacioná-los a
descobertas similares e confrontá-los a outros documentos [...]. Cadiou (2007, p. 124
apud Azevedo Netto, 2010, p. 66).1
1
DE AZEVEDO NETTO, Carlos Xavier; DE SOUZA, Amilton Justo. A importância da cultura material e da
Arqueologia na construção da História. História Unisinos, v. 14, n. 1, p. 66, 2010.
2
LANGER, Johnni. As origens da Arqueologia Clássica. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, n. 9,
1999.
3
Aponta-se, pois, no início, Challenger, após ter suas ideias duramente descartadas pela comunidade cientifica,
projeta uma segunda excursão, mas desta vez carregado de seus interesses pessoais de provar que não era um
“charlatão”, de certo modo sendo conduzido por essa sua paixão imediata e pondo como plano de fundo os fins
científicos. Sendo estes retomados posteriormente.
tratavam dos preparativos para a expedição. É dito por lorde Roxton “Que os espaços abertos
e as terras misteriosas nos permitam a alegria da descoberta e que o perigo e a temeridade nos
façam merecer melhor a existência!” (DOYLE, 1999, p.46)4. Esse é uma das características
substanciais da Arqueologia e da História: o enfrentamento do desconhecido em busca da
verdade.
4
As referências de paginação, condizentes à obra O Mundo Perdido estará sendo baseada na numeração
disponível no material digitalizado em PDF, do ano de 1999, ed. Nova Alexandria, São Paulo.
5
COSTA, Diogo Menezes. Eco(arqueo)logia histórica nas lavras do abade: patrimônio cultural e natural.
Amazônica-Revista de Antropologia, v. 5, n. 1, p. 41; 42; 2013
6
Gomez é um dos ajudantes que se junta ao grupo da expedição quando os quatro personagens principais param
no Pará.
de um território e, por conseguinte, sua paisagem. Pois, quando entendemos que os índios
evitam de permanecer em um local por medo da presença de um espirito que constitui sua
cosmologia, presenciamos uma faceta do que o antropólogo francês Marc Augé define como
Lugar Antropológico; que seria, “a construção ao mesmo tempo concreta e simbólica do
espaço, servindo de referência para todos aqueles distintos indivíduos conviventes alí”. E
também, como ressalta Balée e Erickson; 2006, em citação de Costa a paisagem surge como
uma construção histórica que é um produto da colisão entre a natureza e a cultura e onde quer
que ela se dê ali se terá uma paisagem.
Notar-se-á, também, um pouco mais à despeito dessa relação de construção de
espaços-paisagens – avançando de maneira necessária na obra – quando são apresentados os
Indígenas e os Homens-Macaco que habitavam o platô. Os índios tinham suas habitações
alocados nas cavernas que tinham sido formadas em períodos anteriores, dada condições
naturais do platô e os Homens-Macaco viviam mais às margens do platô, em uma espécie de
aldeamento, junto de um pequeno bosque onde as árvores haviam sido trabalhadas para que
imitassem uma espécie de ninho7, onde estes abrigavam-se. Sobre estas disposições de
locação, não pode-se deixar de tomar à análise, alguns aspectos mobilizadores de suas
intenções. Sendo assim, é mister apontar fatores “[...] como as condições dos terrenos e a
proximidade de recursos hídricos; ou fatores, essencialmente culturais, como a centralização
de um poder militar, político, econômico, e religioso.” Benevolo, (1993, apud Costa, 2014, p.
49)8 na construção desses espaços. Isto é levantado mesmo dentro da narrativa da obra quando
é especulado por Challenger que
“Para os índios, a explicação é bem mais simples: sua imigração deu-se em período
mais recente. Talvez impulsionados pela fome ou obrigados a fugir de outras tribos
guerreiras, esses nativos deixaram a planície e vieram para cá.” (DOYLE, 1999, p.
110-111).
O que também pode ser analisado como o processo de ocupação sedentária,
realizado por condições privilegiadas por recursos aquáticos propiciados por mudanças
geográficas e climáticas após o período do holoceno apontado por Silveira M. I e Schaan, D.
P. 2005.9 No caso dos Homens-Macaco, as ordens apontadas por Benevolo tomam corpo sob
7
Nota-se aqui uma evidencia da ideia de Balée e Erickson sobre a transformação paisagem em causa do atrito
entre a cultura, o homem e a natureza.
8
COSTA, Diogo Menezes. O urbano e a arqueologia: uma fronteira transdisciplinar. Vestígios. Revista Latino-
Americana de Arqueologia Histórica, V 8, N. 2. 2014.
9
DA SILVEIRA, Maura Imazio; SCHAAN, Denise Pahl. Onde a Amazônia encontra o mar: estudando os
sambaquis do Pará. Revista de Arqueologia, v. 18, n. 1, 2005.
a organização dos aldeamentos dos H.M10, por meio dos aparatos de coerção agressivos que
possuíam, como a pratica de jogar os inimigos capturados em estacas de bamboo dispostas
logo abaixo o penhasco onde estavam, como forma manutenção política da imposição do
terror aos seu inimigos índios e também de “diversão”.11
No entanto, é preciso fixar que tais características dessas relações ecológicas,
arqueológicas culturais etc. tem necessidade de serem escrutadas com maior cuidado sobre o
olhar do longo período, que faz-se necessário para a coleta de informações confiáveis sobre as
mudanças na população, ecossistemas distúrbios e dinâmicas (Swetnam; 1999 Allen; 1999 e
Betancourt; 1999, apud Costa 2013).12
Sendo assim, descreve Sarah de Barros Viana Hissa que a temporalidade assume
esse imprescindível papel dentro das ciências, que trabalham com a ideia de tempo, como
uma espécie de “metrônomo” dos fenômenos. As questões cientificas são fomentadas em
torno dessa passagem do tempo, – como as eras distintas classificadas do planeta terra:
paleolítico e neolítico, pleistoceno, holoceno etc – o que possibilita a ordenação e arranjo
sequencial eventos e também da criação de ramos específicos dentro da arqueologia e também
das demais ciências para abordá-los dentro de seus intervalos específicos temporais,
facilitando divisões por estágios de evolução, e propiciando uma separação das vicissitudes de
eventos e da materialidade. Desse modo a questão tempo sendo fator de legitimidade tanto a
arqueologia como às demais áreas das ciências que analisem as atividades humanas e da
natureza em lugar e tempo específicos. (HISSA, 2013).13
Por fim, nota-se como já explanado na introdução do presente ensaio as múltiplas
facetas e a aplicabilidade tanto da arqueologia como da cultura material demonstrada por
meio de conexões entre a obra de Conan Doyle e textos teórico-metodológicos que
corroboram a tese apresentada da arqueologia e da cultura material como mister em
abordagem de pesquisas e estudos.
10
Por razões de conveniência passar-se-á à abreviar o termo Homens-Macaco por H.M
11
Nota-se o uso e construção de uma paisagem como meio de impor uma atitude de manutenção política e
cultural e afins.
12
COSTA, Diogo Menezes. Eco(arqueo)logia histórica nas lavras do abade: patrimônio cultural e natural.
Amazônica-Revista de Antropologia, v. 5, n. 1, p. 41; 42; 2013
13
HISSA, Sarah de Barros Viana. Dando tempo ao tempo, na arqueologia. Revista de Arqueologia, v. 29, n. 1,
2016.