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mesmo que em seu cotidiano algumas procurem ocultá-lo e, na medida do possível, esquecê-
lo. Porém o sofrimento como questão de pesquisa sociológica tem sido pouco abordado,
embora existam estudos substanciais sobre sua causa principal – a violência. Abordar as
interações humanas marcadas por conflitos através do estudo da violência, suas causas e
conseqüências é uma das possibilidades, contudo não resolve a questão do sofrimento, que
Depreende-se daí que o sofrimento como fato social se torna eclipsado por estas duas
se detém principalmente na forma dos rituais e práticas religiosas. O segundo dá maior ênfase
aos algozes e suas práticas violentas. Os estudos sobre o sofrimento social têm seu foco
principal na vítima, no desafortunado, naquele que sofre, nas emoções envolvidas, nas forças
sociais que influenciam ou são suas causadoras, e como se resolvem social e historicamente,
como ocorrem as interações desses sofredores (com os perpetradores, com outras vítimas e
com o mundo) e em como, através destas interações, pode acontecer a reconstrução do seu
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cotidiano.
Um bom argumento em favor do estudo de uma emoção singular, como por exemplo a
vergonha e o embaraço, estudados por Scheff (2003b), e o sofrimento, como no caso desta
pesquisa, é que emoções diferentes têm várias similaridades fundamentais, mas são bastante
diferentes em suas origens, aparência e trajetórias. Por isso, afirmações sobre as emoções ‘em
abstrato’, como acontece nos estudos clássicos da sociologia, têm pouco significado. O que
Durkheim, Mead e Parsons, para citar apenas alguns, disseram sobre as emoções parece
plausível quando aplicado a emoções particulares, como a raiva e o medo, mas não à maioria
emoção. Porém, como observa Scheff (2003b), alguns dos autores clássicos investigaram,
cada um deles, uma emoção específica e concreta, embora não a houvessem nomeado
pela vergonha e pelo embaraço nas interações sociais que se desenvolvem no cotidiano. Nessa
perspectiva, Scheff faz uma leitura de autores que ele considera pioneiros no estudo dessa
temática, dentre os quais se destacam Norbert Elias, Richard Sennett e Goffman, e outros.
emoções em alguns dos principais autores da teoria sociológica clássica para, em seguida,
lealdade, domínio, fraternidade etc., sem os quais a sociedade não poderia funcionar. Estes
laços, porém, são instáveis e tal condição é apreendida, segundo Sennett (2001, p. 15), na
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própria etimologia da palavra emoção: movere. Logo, as emoções não são meras sensações
experimentadas pelos seres humanos, são também passíveis de pensamento e reflexão e, desse
raciocínio e são um ato de interpretação, ou seja, elas também fazem parte do nosso esforço
práticas religiosas concretas criam emoções no indivíduo. Portanto, para ele, as emoções se
originam no domínio individual e privado, são criadas coletivamente pelo grupo durante a
encenação das práticas sociais. Estes sentimentos socialmente criados são a base da fé. A
encenação coletiva das práticas, não em sistemas de crenças ou uma mente ideal e mística do
grupo.
deixar claro que ambos falavam sobre as emoções como uma forma de conhecimento,
sociologia.
entram na mente individual como emoções, ou seja, que as emoções podem ser percebidas
direta e perfeitamente pela mente, no desenrolar dos ritos e práticas sociais realizadas
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coletivamente. Sendo assim, deixa claro que no estudo dos fenômenos religiosos existe algo
concreto, empírico, o que permite estudá-los como um fato social (DURKHEIM, 1996, p. 3).
necessárias para trazer à tona as idéias fundamentais de classificação: tempo, espaço, força,
totalidade e causalidade.
gerada pela mente individual em relação a eventos sociais é uma contingência que mal pode
ser prevista e que pode variar caso a caso. Para Durkheim, algumas práticas são criadas com o
objetivo de produzir as mesmas emoções nas mentes de todos que delas participam
simultaneamente. São os detalhes concretos das práticas encenadas que criam os sentimentos
e emoções (RAWLS, s/d). Estas práticas são fundantes da sociedade porque, sendo revestidas
por um caráter sagrado, criam forças religiosas que se espalham e irradiam com facilidade
entre as pessoas e as coisas que com elas entram em contato e são percebidas como exteriores
aos indivíduos. No entanto, não estão associadas nem se prendem ao seu representante –
pessoa ou objeto. Elas lhe são acrescentadas. Afirma que “elas são apenas forças coletivas
hipostasiadas, isto é, forças morais; são feitas das idéias e dos sentimentos que o espetáculo da
sociedade desperta em nós, não das sensações que nos vêm do mundo físico” ( DURKHEIM,
1996:344).
coletivamente, não centra sua atenção numa somatização desses sentimentos, mas naquilo que
se cria na mente do indivíduo quando em reunião e que é percebido como noções de força
moral; a força, juntamente com os sentimentos de criação, força moral e unidade gerariam a
espaço.
As forças sociais podem ser sentidas, pois são forças geradas pelo grupo na encenação
de suas práticas reais e concretas e, por sua vez, criam emoções que formam o indivíduo (o
aspecto individual do ser social), que não existiria de outra maneira. Durkheim destaca que as
emoções não são sentidas com os cinco sentidos separadamente, mas são percebidas como um
todo.
Ter emoções depende da encenação cooperativa de práticas sociais que cria forças
intelectual dos indivíduos são estas forças criadas social e coletivamente. Talvez por serem
tão fundamentais e serem uma base sobre a qual se funda a sociedade, é que Mauss (2003a)
descreveu uma outra categoria do entendimento, não citada por Durkheim – a noção de pessoa
Essa idéia é confirmada por Mauss quando afirma que todos os tipos de expressões orais dos
fisiológicos. E mais ainda, a expressão desses sentimentos têm um formato que é socialmente
Para Mauss:
energias superiores e fazê-las parte de suas vidas interiores. A constante repetição do culto
renovaria os efeitos dessas forças morais, suscitando “impressões de alegria, de paz interior,
de serenidade, de entusiasmo”. O culto não sendo mais que um sistema simbólico, signos
através dos quais a fé seria exposta e o meio de sua renovação. São esses sentimentos que
Durkheim (1996, p. 460) se recusa a ver como ilusórios, declarando que seu valor não seria
Os participantes dessas práticas sentem dentro de si os efeitos do ritual, que são efeitos
sociais reais, empíricos e disponíveis para estudo. São “sen tidos” internamente e
correspondem a forças psíquicas que tomam relevo sobre aquelas que utilizamos nas tarefas
enquanto grupo. “Duran te a assembléia eles criam, através da encenação das práticas, forças
sociais que sentem como forças morais externas” (DURKHEIM, 1996, p. 461). As relações
entre as práticas e as emoções são específicas, cada rito produz uma emoção diferente. Este
Categoria esta que consiste neste sentimento de criação da unidade do grupo e de renovação
Portanto, não são as idéias que produzem a eficácia da religião, pois estas são um
elemento dos indivíduos que desencadeiam as forças emotivas neles presentes, mas não as
criam nem as potencializam. A religião, por sua vez não se destina a fazê-los pensar, mas a
pôr em jogo potências espirituais, agindo sobre a vida moral e visando a ação (DURKHEIM,
1996, p. 462-63).
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Essas práticas estimulam disposições mentais, fazem com que se tome consciência dos
sentimentos coletivos, através de sua fixação em objetos exteriores. Tais emoções formam a
não atua individualmente através constrangimentos naturais externos, mas via sentimentos
Tudo o que parecia ser individual, justamente porque presente em todo indivíduo,
sendo parte integrante de sua mente, Durkheim argumentou ter uma origem social. “Todos os
indivíduos parecem ter as mesmas emoções e categorias de pensamento não porque são parte
do organismo individual, como argumentou Hume, mas sim porque todos os indivíduos
(RAWLS, s/d, p. 19). Estas categorias são geralmente as mesmas em todo lugar, com poucas
entendimento, criados pela participação nas práticas sociais, e sem os quais a sociedade se
inviabilizaria.
A força moral da sociedade é uma parte essencial de cada pessoa e organiza processos
de pensamento, tornando-se uma parte essencial do ser, pois é sentida concreta e presente
dentro de cada um. É esse sentimento que atua dentro das pessoas que dá a elas a sensação de
que se comunicam com um ser sagrado. O homem transfere poderes excepcionais às coisas
com as quais entra em contato porque não se reconhece, não vê que foi transformado pelas
forças sociais presentes e produzidas por suas práticas, transformando, assim, o meio que o
Se essas forças morais são inerentemente sociais, o respeito por elas é o respeito pela
dessas mesmas forças morais na sociedade e que é experimentada quando se sente esta
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pressão espiritual interior e plena. O respeito não é uma emoção que as pessoas sentiriam, a
menos que participassem de práticas que produzissem dentro delas um sentimento de força
moral.
Durkheim pensava que fazer das categorias de pensamento uma conseqüência da vida
emocional não as tornaria menos válidas. São empiricamente válidas mesmo sendo emoções,
pois manifestam o estado real das coisas. E ainda segundo ele, é um erro analisar os ritos
religiosos em termos de seus alegados objetivos materiais. O verdadeiro significado dos ritos
religiosos é a ação invisível que eles exercem sobre a mente, a maneira que eles afetam nosso
periodicamente recriar o ser moral que possibilita a existência da sociedade. As crenças são
apenas um fenômeno secundário, pois antes que a construção da crença seja possível, é
necessário existir a experiência dos sentimentos socialmente criados (RAWLS, s/d, p. 22-24).
A sociedade da qual fala Durkheim não é essa sociedade concreta em que vivemos, o
mundo profano. Pelo contrário, é um mundo que o homem sobrepõe a este e ao qual ele
atribui uma superioridade. Embora presente apenas na mente, produz efeitos concretos sobre
o mundo real, já que é na vida coletiva que o indivíduo aprende a idealizar. Na recorrência de
suas práticas, conseqüentemente, na criação desse mundo ideal, a sociedade se cria e recria
concretamente. Evidencia que essa sociedade ideal não pode ser encarada separadamente da
sociedade concreta, “pois uma sociedade não é constituída simplesmente pela massa dos
indivíduos que a compõem, pelo solo que ocupam, pelas coisas que utilizam, pelos
movimentos que realizam, mas, antes de tudo, pela idéia que faz de si mesma” (DURKHEIM,
1996, p. 467).
Rawls [s/d] conclui que Durkheim, ao situar a criação das emoções em práticas sociais
importantes para a validade intersubjetiva das emoções e para a maneira que elas podem ser
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estudadas sociologicamente. Se está certo que certos sentimentos básicos precisam ser
socialmente produzidos para que as sociedades existam, deve haver práticas que tenham como
inteligibilidade.
xxiii).
É quando o indivíduo tenta se libertar dessas noções, que sente que não é totalmente
livre, que algo lhe resiste dentro e fora de si. Externamente há uma opinião que julga, mas
autoridade da sociedade que se alia a determinadas formas de pensar que são como condições
A sociedade exerce em nós essa força e, ao mesmo tempo, cria uma dependência. Ela
persegue seus próprios fins, mesmo que possa atingi-los por intermédio de cada um de seus
membros. Estes, além disso, esquecem seus interesses e, para servi-la, submete-os a todo tipo
de aborrecimentos, privações e sacrifícios, sem os quais a vida social seria impossível. A todo
instante são obrigados a sujeitar-se a regras de conduta e de pensamento que lhe são
exteriores, sendo, inclusive, às vezes contrárias a suas inclinações (DURKHEIM, 2000, p. 211).
É a sociedade que fala pela boca daqueles que as afirmam em nossa presença; é ela
que ouvimos ao ouvi-los, e a voz de todos tem um acento que a de um só não
poderia ter. A violência mesma com que a sociedade reage, por meio da censura ou
da repressão material, contra as tentativas de dissidência, manifestando com
estrépito o ardor da convicção comum, contribui para reforçar seu domínio. Em
uma palavra, quando uma coisa é objeto de um estado de opinião, a repressão que
cada indivíduo faz dela extrai de suas origens, das condições nas quais ela se
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formou, um poder de ação que é sentido mesmo por aqueles que não se submetem a
ela (DURKHEIM, 2000, p. 213).
A pressão social se realiza através da mente e, por isso, dá ao homem a idéia de que há
uma ou várias forças externas a ele e das quais depende. Alerta, porém, que a ação social não
exige dos indivíduos apenas sacrifícios, privações e esforços, já que esta força coletiva não
lhes é inteiramente exterior. Esta força social se organiza nos indivíduos, tornando-se parte
categoria não pensada nem sistematizada em sua obra –, seria fruto da própria existência da
vida em sociedade e o preço pago por cada indivíduo por sua pertença. É através do
sofrimento que a sociedade estabeleceria sua ascendência moral sobre os indivíduos. Ela lhes
impõe formas de agir, que são elaboradas em comum, se inscreve em seus corpos e suas
mentes, e o grau em que são pensadas por cada indivíduo particular reflete nos outros, e vice-
versa.
desacordos e, portanto, as emoções neles envolvidas fazem parte de qualquer interação nas
organizações, uma vez que afeta ambos os oponentes, tanto em sua relação um com o outro,
mas também em relação ao próprio indivíduo, pois cada um deve concentrar suas energias em
um objetivo, para que sejam usadas a qualquer momento. Podemos concluir daí que os
conflitos e os conseqüentes sofrimentos que sua resolução possa causar ao ser humano são
é uma maneira de realizar algum tipo de unidade, mesmo através da aniquilação de uma das
partes conflitantes.
reconhecendo como fonte geradora de tensões e infelicidade para os indivíduos, não deve ser
visto apenas como um fator dissociante de grupo, e sim como elemento possuidor de uma
função unificadora, algo que faz parte da vida de todos. Os indivíduos, no entanto, não podem
viver em constante conflito. Deve haver uma relativa paz social e o conflito existir apenas de
forma ocasional na relação entre os indivíduos e grupos, mesmo que não seja raro (BARRETO,
2001).
É nesse sentido que Moore Jr. (1987, p. 25) reconhece a existência de um contrato
social, muitas vezes implícito, através do qual “as pessoas que vivem em qualquer sociedade
serviços”. Com esse fim é que são elaborados princípios de desigualdade social e criados
mecanismos através dos quais as pessoas ensinam-se mutuamente, com níveis variáveis de
outras emoções que dele fazem parte como a vergonha, o embaraço e o pudor (ELIAS, 1994a);
a humilhação (LINDNER, 1999 e 2000), a injustiça (MOORE JR., 1987), a solidão (SIMMEL,
1979; 1987; 1998) e a banalização dos sofrimentos (ARENDT, 2001), podem ser encaradas
vocabulário para comunicar o que o indivíduo sente a outrem, assim como vai além das
formas químicas de controle da dor. Além disso, muitas emoções, extrapolando sua
comunicabilidade através de palavras, são difíceis de serem externadas, sob pena de diminuir
deformação, deficiência ou pobreza), ou mesmo daqueles que têm algum tipo de preconceito,
pois nos dias de hoje expressar preconceitos em determinadas classes sociais é tanto social
aquele que sofre, do resto do mundo. Não é à toa que o indivíduo sente sua dor como única e
inigualável, incomunicável aos outros, mesmo que existam no mundo situações iguais (ou
piores) à dele, do mesmo modo como ele não entende completamente a dor alheia. Talvez
existe uma “ética de antífona” 1, isto é, uma interação entre acústica, lingüística e orientações
corporais que dão uma definição pública para uma “boa morte”, distinguindo -a de uma
com a presença dos parentes, constroem uma boa morte. A morte silenciosa é a morte ruim,
associal, sem o apoio dos parentes. O silêncio aqui conota a ausência de testemunhas (DAS,
1997, p. 78).
Esse caráter coletivo é grandemente marcado por cerimônias públicas que possuem
Os gritos e cantos utilizados nos ritos mais simples não têm esse caráter público e
social tão desenvolvido, mas, por sua vez, “falta -lhes, no mais alto grau, qualquer caráter de
catarse da sua cólera, o grupo volta à sua vida normal, exceto aqueles designados como
portadores do luto.
manifestações do luto, que não são comuns a todos os parentes. Em princípio, essa tarefa é
exercida por mulheres, geralmente as mães, irmãs e, sobretudo, a viúva do defunto (MAUSS,
Tudo isso é ao mesmo tempo social e obrigatório mas, apesar de tudo, violento e
natural: a busca e a expressão da dor andam juntas. […]
Por inarticulados que sejam, gritos e uivos são sempre de certo modo musicais, a
maioria das vezes ritmados, cantados em uníssono pelas mulheres. Estereotipia,
ritmo, unissonância, são manifestações ao mesmo tempo fisiológicas e sociológica
(MAUSS, 1979, p. 152).
Todas essas expressões coletivas, simultâneas, de valor moral e de força obrigatória
dos sentimentos do indivíduo e do grupo, formam para Mauss (1979, p. 153) uma linguagem.
Só podem ser compreendidas se seus signos são dominados por todo o grupo, e, ao mesmo
tempo, fazem parte das técnicas corporais aprendidas pelos membros de um grupo através de
sociedade, utilizam seu corpo. Segundo ele, os gestos são aprendidos lentamente, e cada
técnica e atitude corporais propriamente ditas têm sua forma. Sendo assim, podemos falar de
um jeito cadenciado de andar das mulheres brasileiras (mesmo que isso reforce um
27
estereótipo), ou referir a um gestual específico de membros de uma gangue, por exemplo. Diz
Mauss (1971, p. 339): “la posición de los brazos y manos mientras se anda constituye una
puramente individuales, casi enteramente físicos”. Desse modo, explicita uma educação da
forma de andar, assim como de outros elementos que fazem parte do gestual de cada
indivíduo. São os “hábitos” que variam em cada indivíduo e sobretudo com as sociedades, a
Se imponen otra serie de hechos, en cualquera de los elementos del arte de utilizar
el cuerpo humano, dominan los hechos de la educación. La noción de educación
podía superponerse a la idea de imitación y aunque otros las tienen muy escasas,
todos reciben la misma educación de tal manera que es fácil comprender los
resultados (MAUSS, 1971, p. 340).
Elias trata das técnicas corporais, ainda que sem se referir a elas exatamente através
na França, a partir da Idade Média. Cita um tratado, escrito por Erasmo, sobre a arte de educar
os jovens. Neste tratado estão incluídas formas de se olhar, como o olhar fixo, denotando
eloqüente, sendo mais conveniente, contudo, o olhar demonstrar uma mente plácida e uma
afabilidade respeitosa. O mesmo tratado vai mais longe ao definir os melhores gestos,
posturas e expressões faciais, assim como o vestiário mais conveniente para que o homem
manifeste seu interior. Porém, Erasmo está consciente de que “embora este decoro corporal
externo proceda de uma mente bem constituída, não obstante descobrimos às vezes que, por
falta de instrução, essa graça falta em homens excelentes e cultos” ( ELIAS, 1994, p. 69).
observa:
que ocultam ou restringem essas funções menos que nós, é um dos sentimentos
dominantes no juízo de valor ‘bárbaro’ ou ‘incivilizado’. Tal, então, é a natureza
do ‘mal-estar’ que nos causa a ‘incivilização’ ou, em termos mais precisos e menos
valorativos, o mal-estar ante uma diferente estrutura de emoções (ELIAS, 1994, p.
72).
A interação das técnicas lingüísticas com as técnicas corporais podem, então, mostrar
uma estreita associação da dor com o sofrimento – seja ele físico ou moral (espiritual) – e,
obviamente, se apresenta nas definições do que ela seria em diversas línguas, inclusive na
portuguesa. No entanto, o caráter físico ou espiritual da dor não parece ter particular
Porém, mesmo com essa associação entre dor e sofrimento presente de forma mais ou
menos universal, o conceito cultural particular da dor muda de acordo com expressões
socialmente aceitas em um determinado tempo e lugar, através de práticas que são exercidas
indivíduos sociais que fazem parte de uma mesma rede de relações. Em outras palavras, a dor
sofrimento. A dor é tida como libertadora e lhe é atribuído um poder santificador quando
utilizada como elemento de determinadas práticas sociais. Confere à dor o poder de gerar
forças excepcionais e através da maneira como o homem a enfrenta é que se tem noção de sua
grandeza.
também depende de um certo desprezo por ela, mesmo em meio às relações mais íntimas:
Embora exaltando as forças do homem, ela com freqüência é rude para com os
indivíduos: exige deles perpétuos sacrifícios; não cessa de reprimir nossos apetites
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naturais, precisamente porque nos eleva acima de nós mesmos (DURKHEIM, 2000, p.
336).
O silenciamento também se estende a coisas que nos causam vergonha, ou, como
dissemos acima, o discurso sobre tais assuntos está confinado a esferas muito bem definidas
da vida social e das quais a imprensa, tomada em sua acepção geral e parte integrante.
Guerci (1999) afirma, entretanto, que esta ausência, ou abstenção, do discurso coletivo
sobre a morte é uma resposta cultural específica da sociedade ocidental. Do mesmo modo que
Partição na Índia2, também é marcado pelo silêncio ou pelo uso de uma linguagem metafórica,
evitando uma descrição específica de qualquer evento que capture a particularidade de suas
culturais da dor seriam aprendidos pelo indivíduo mesmo antes de uma vivência concreta de
intermédio das experiências que ficam retidas na lembrança e em um sistema de sinais que,
2
Momento do colapso do Império Britânico, acontecido em agosto de 1947, que causou a
divisão de sua colônia mais importante na Ásia – a Índia – em duas nações independentes: a Índia,
de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Esta separação foi seguida de tumultos
bastante violentos, principalmente na Caximira, Punjabi e Bengala, cujas raízes repousam na
hostilidade entre essas duas religiões e na disposição dos estados autogovernados. Esta separação
provocou uma desagregação social e teve um alto custo em termos de vidas humanas, estupros e
pilhagens. As mulheres, principalmente, foram utilizadas, tanto por hindus quanto muçulmanos, como
instrumentos de poder. Cerca de 15 milhões de refugiados cruzaram fronteiras para regiões
totalmente estranhas a eles de acordo com a religião professada, apesar de suas identidades serem
construídas a partir das regiões de origem de seus ancestrais. Acessado em janeiro de 2004 e
disponível em http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/south_asia/1751044.stm e
www.emory.edu/ENGLISH/Bahri/Part.html.
30
linguagem (1999a).
existente. Este é o meio mais importante pelo qual as sedimentações objetivadas são
Para que todo esse processo seja objetivado, existiria um conjunto de práticas sociais
cuja meta seria reintegrar, através de rituais integradores, purificadores e expurgadores dos
males que causaram o sofrimento, expondo o que fica encoberto nas experiências rotineiras e
cotidianas, colocando a pessoa, tida como noção e representação social, acima e além da
coletividade vendo nela e através dela a configuração do seu próprio sofrer. Em outras
luto, mesmo sem as terem vivido pessoalmente, criando uma “etiqueta social” que orientaria
individuais se tornam, então, “uma possibilidade objetiva para todos, ou pelo menos para
todos os objetivos de certo tipo […]”, integrando -se ao acervo comum do conhecimento
É assim que
a ação orientada, deste modo, permitiria uma certa prática comum esperada e ou
desejada por cada membro do grupo social em interação, seja no sentido da
vivência ou experiência de um processo, seja no sentido da expectação do outro de
sua ação frente ao mesmo processo. O como se comportar teria assim um leque
informativo, ou um livro de etiquetas comuns ao conjunto societário e à disposição
31
dos indivíduos que nele se orientariam na condução de suas ações (KOURY, 1999a,
p. 79)
Considera ainda que,
seria mais marcante e menos tolerante quanto às individualizações nas sociedades relacionais.
Essas esferas de ritualização seriam mais compactas, com a tradição exercendo um papel
informados das ações possíveis e desejáveis através dessa “ordem ritual organizada”, havendo
pouca flexibilidade para atuações que não se enquadrem na lógica da tradição, notadamente
como origem um elemento fundamental nos processos nucleares do eu e nas relações sociais,
crucial que, na maioria das vezes, permanece escondido. A proibição de demonstrar vergonha
é tão intensa que nos tornamos inibidos de observar, ou mesmo falar sobre a vergonha nos
outros e também em cada um de nós. A proibição é tão forte que perdemos a habilidade de
Essa proibição fica menos rigorosa em algumas instâncias sociais como os Alcoólicos
Anônimos, por exemplo, e poder-se-ia dizer, nos meios de comunicação. Nesse último caso,
legitimado e aceito em que coisas interditas para as relações particulares são amplamente
É por esse aspecto que a imprensa de sensação pode investir em imagens de dor, de
morte e de violência e ser aceita socialmente. Angrimani (1995, p. 57) afirma que “cada
público […] de acordo com sua medida de sofisticação, aceita (ou exige) formas diversas que
sejam uma projeção de sua violência”. Essa hipótese por ele formulada coloca a dor e a
violência como parte integrante de uma sociabilidade necessária em nossa sociedade, como
uma descarga de pulsões agressivas, contrariando àquelas que instituem a mídia como
em cada época, encontram sua forma cultural de serem canalizadas. A imprensa seria, então,
da dor e de “destruição do outro” por parte dos leitores, ao mesmo tempo que se manifestaria
sofrimento. A primeira está associada à dor somática e aos momentos de consciência que
acompanham ou antecipam esta dor. A outra se relaciona com estados que são descritos como
‘desilusão’, ‘desespero’ e ‘desolação’. Este último tipo de sofrimento tem também uma
O sofrimento de que falamos aqui é o resultado das injúrias que a força social inflige
problemas sociais impingidos sobre uma população pelos poderes político, econômico e
33
institucional e inclui também suas respostas a estes poderes. Incluídos sob a categoria de
sofrimento social estão condições que são quase sempre divididas em campos separados e que
envolvem simultaneamente temas como saúde e bem-estar, além dos aspectos legais, morais e
religiosos. O sofrimento social, raramente, está dissociado das ações dos poderosos, e fatores
de gênero, etnicidade e status sócio-econômico podem ser, cada qual, a seu turno, solicitados
violências que a ordem social (local, nacional ou global) traz para as pessoas. Doenças e
enquanto expõem outros aos vetores dos poderes econômico e político. A vida cotidiana é, em
grande parte, violenta para o corpo e para a experiência moral, notadamente para os pobres,
sociais.
Diante disto, podemos dizer que o estudo do sofrimento social põe em xeque a noção
de cotidiano como o lugar do ordinário e questiona não apenas os atos de violência explícita,
mas as violências mais invisíveis causadas por instituições como, por exemplo, a ciência, os
pulitzer pela foto de uma criança sudanesa, abandonada no chão, sendo vigiada com atenção e
paciência por um abutre pousado próximo a ela (Reprodução 1). Todo um questionamento a
respeito da ética (ou sua ausência) que repousa por trás do exercício profissional dos
fotojornalistas, que pode ser sintetizado neste caso e também pode ser estendido para uma
34
prática cotidiana dos fotógrafos, dos profissionais de saúde, de cientistas sociais e, de forma
"!#%$'&(*)+,!- .0/12/435768:9<;=>?15>A@CBEDDFHG
Ao mesmo tempo, uma fotografia de uma atrocidade dá um testemunho que pode levar
leva ao extremo a dicotomia sujeito/objeto que subjaz notadamente nas ciências humanas.
Boltanski (1999) trata desta questão do espectador de imagens de sofrimento dentro do que
ele denomina uma “política de p iedade”. A política de piedade consiste em, primeiramente,
diferenciar os sofredores daqueles que não sofrem e também em colocar o foco sobre o
espetáculo do sofrimento. Espetáculo sendo aqui utilizado no sentido de dar maior ênfase na
compartilham seu sofrimento, que não o sentem diretamente e que, como tal, podem ser
um conjunto, em massa, o que a diferencia, portanto, da mídia que tem necessidade (e o faz
35
O que a mídia algumas vezes desperta são atos compassivos, que se diferenciam da
compelidos à ação (BOLTANSKI, 1999, p. 11). Por outro lado, o sofrimento na mídia pode
também ser encarado através da política de piedade, através da qual o receptor percebe tanto a
desfilam através dos objetos de mídia não são nem amigos, nem inimigos, são homens e
mulheres ordinários em que é um em um evento determinado, mas poderia ser qualquer outro.
sofrimento, incongruente quando visto à distância pelas pessoas que não sofrem, não é apenas
uma conseqüência técnica dos modernos meios de comunicação, mesmo que o poder e a
expansão da mídia tenha trazido a miséria para a intimidade dos lares afortunados com
eficiência sem precedentes. Mas afirma que é inerente a uma política de piedade lidar com o
sofrimento do ponto de vista da distância uma vez que ela deve repousar sobre a massificação
Não é suficiente, porém, que seja apenas um sussurro de indignação para si mesmo. É preciso
que haja a criação de um discurso público, que o isente de ser acusado de indiferença ou
É por isso que destaca a necessidade de um discurso público e uma atitude ativa como
condição mínima de uma relação apropriada com a realidade. Porém, seria inaceitável uma
narrativa por demais objetiva dessa realidade, sem ponto de vista evidente, por mais que hoje
seja esta a regra na mídia para garantir a seriedade e uma versão que aspira o status de
independente da cena que vê, sem laços nem pré-compromissos, características que lhe
esfera pública pressupõe a existência desse observador distanciado e casual que pode ficar
isento de qualquer filtro ou condicionamento cultural. Este observador não apenas reporta e
circula opiniões divergentes, como também constrói esta esfera pública em torno de causas, e
é através delas que a política de piedade e a esfera pública estão conectadas. A consideração
do sofrimento modifica a condição de debate especialmente por impor sobre ele uma urgência
que demanda um compromisso de pessoas por uma causa. Este compromisso, porém, para ser
válido na esfera pública tem que ser livre de interesses e de laços comunais anteriores. A
esfera pública seria uma rede de compartilhamento de informações que não repousa em
Assim no ideal da esfera pública um sofrimento local pode ser informado sem
deformação de tal maneira que está lá para que qualquer um o examine, ou seja,
para todos aqueles que, do fato de sua receptividade surgir de sua falta de
compromisso anterior, estejam livres para examinar este sofrimento e se
considerarem suficientemente afetados por ele para se comprometerem e tomá-lo
como sua causa (p. 31) (Tradução da autora).
Numa esfera pública, como é a mídia, o sofrimento é informado de forma radicalmente
diferente do que ocorre nas relações comunais. Nestas, o sofrimento é geralmente informado
face a face e com o custo de uma reapropriação e usualmente pela transformação da narrativa
sofrimento daqueles próximos a ele. São importantes nessa situação, a voz e seus tons, as
emoções. Além disso, a presença do locutor envolve o público em uma cena compartilhada
3
Esse espectador puro que separa a contemplação da ação tem caráter histórico e recente.
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em que cada membro poderia estar no lugar da pessoa que conta a história, através de
manifestações expressivas destes corpos afetados informarão o sofrimento a outro que, por
Informar o sofrimento em uma esfera pública toma uma forma diferente porque se
constitui contra uma esfera comunitária. Em contraste deve estabelecer uma representação do
sofrimento seria nesse caso qualquer um: suas reações não são mais motivadas por um
entrar em detalhes, para provocar piedade, envolver o espectador e, talvez, chamá-lo a ação.
Mas ainda persiste a questão do quão longe é apropriado ir na descrição de detalhes sórdidos
para provocar piedade que entra em conflito com a necessidade contrária de respeito pela
detalhes, um lado que deve ser descrito como repulsivo, pode na verdade ser denunciado por
um lado como redutivo, visto que a pessoa é inteiramente definida por seus sofrimentos, e por
outro lado, como levando para longe o sofrimento da pessoa que o sofre, para exibir este
defenderem nem de falarem por si mesmos. É entendimento comum que estes indivíduos
devem ser protegidos e representados por outros, reforçando uma imagem de subalternidade
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Por outro lado, o testemunho e a mobilização parecem funcionar melhor quando levam em
conta as complexidades das situações locais e quando são implementados por intermédio das
O testemunho moral deve comportar uma sensibilidade para com o outro e as imagens
uma política econômica. Muitos se beneficiam destas imagens: jornais, programas de tv,
algumas carreiras são promovidas, empregos são criados e prêmios são concedidos através da
Kleinman e Kleinman, porém, fazem uma crítica da sociedade a que pertencem e que
encara o sofrimento de países do Terceiro Mundo como algo distante e exótico. Apontam a
globalização massiva das imagens de sofrimento, a maioria produzida por grandes agências de
Identificam a presença de um horror das imagens quando nos conscientizamos que as vítimas
dos infortúnios estão cercadas de fotógrafos, cuja participação ajuda a determinar a direção
profissional na vida social, uma retórica politicamente relevante, uma forma construída que
ironicamente naturaliza a experiência. Essa idéia é defendida por Shapiro quando observa que
nós, pois é sempre mediatizado através de alguma prática representacional. Assim, sempre
perdemos algo quando pensamos a representação como uma imitação do real. O que
perdemos, em geral, é percebido dentro das instituições, ações e episódios através dos quais o
real foi moldado, uma moldagem que não tem sido tanto uma questão de atos imediatos de
1997).
ou seja, as memórias das vítimas que são transformadas em histórias de trauma e capital
um núcleo de imagens culturais de vitimização e são utilizadas por profissionais das mais
diversas áreas para reescrever a experiência social. A pessoa que passa por dificuldades
primeiro torna-se uma vítima, uma imagem de inocência e passividade, alguém que não pode
representar a si mesmo, que deve ser representado. Essas vítimas são descritas, em termos
médicos por exemplo, como paciente de tensão pós-traumática, doença surgida em fins do
século passado. Na verdade, para receber mesmo uma modesta assistência e atenção públicas,
deve ser necessário se submeter a uma transformação substancial daquele que experimenta,
que sofre, para aquele que é a vítima. Por causa da importância política e financeira de tais
da sua condição, pois assim podem obter tanto os benefícios morais quanto os financeiros de
Mas o sofrimento social é também visto como resposta para os problemas humanos por
instituições de política social e programas que são, em princípio, organizados para melhorar o
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Os autores estão tratando especificamente de casos de refugiados da violência política e
ideológica e atendidos por entidades humanitárias internacionais.
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e culturalmente de alguns deles. Estas circunstâncias, porém, não ocorrem nas notícias locais.
A “exotização”, no entanto, é uma técnica jornalística bastante utilizada para gerar interesse
sobre notícias aparentemente banais ou tão freqüentes que já não geram curiosidade. Exotiza-
272).
Nestes textos de mídia aparece nitidamente algo que Moore Jr. (1987, p. 31) chamou
de sociedade:
o termo sociedade diz respeito ao corpo mais amplo de habitantes num território
específico que tem um sentido de identidade comum, vive sob um conjunto de
arranjos sociais distintos e o faz , na maior parte do tempo, em um nível de conflito
que exclui a guerra civil.
As normas sociais e a ira que elas despertam em não poucos indivíduos e setores da
sociedade, principalmente aquelas em que a norma é a desigualdade, têm, de acordo com este
autor, uma origem dual: tanto da natureza humana inata quanto da dinâmica social. Chama a
atenção de como essa “natureza humana” parece ser flexível, pois o homem tem grande
capacidade de suportar o sofrimento, o abuso, por mais trágico que seja, e é essa capacidade
que cria os temas, pois “a resposta ao abuso é algo imensamente maior que o simples reflexo”
(p. 32).
por quem o vivencia, pois o conhecimento do sofrimento não pode ser conduzido em puros
sofrimento não é apenas sua imensidão, mas as faces das vítimas anônimas que têm pouca
componente fundamental dos jornais na atualidade, assim como o são do cotidiano dos
habitantes das grandes cidades, e que não se limitam a “fatos” ocorridos localmente, mas
dor estão irremediavelmente imbricadas. A dor, assim como formas de vergonha e embaraço,
1993/1994, p. 135). Essa interface das sensações corporais e mentais do indivíduo com o
mundo externo é o que permite que estes sejam mutáveis de uma cultura para outra,
explicando-se não só através da fisiologia e biologia, como também pelo contexto histórico-
cultural.
Diante da discussão feita até agora de como a emoção e, mais especificamente, a dor e
de gestos, atitudes e comportamentos, poderemos pensar em como isso pode ser expresso nas
O fotógrafo de jornal, por sua vez, não capta apenas o real, mas ele utiliza a lente
como um filtro para o seu olhar, para uma linha editorial seguida pelo jornal para o qual
trabalha e, ainda, de acordo com uma pauta que é fornecida a ele pelo editor geral e/ou por
uma equipe de redação. Não é apenas uma, mas inúmeras lentes que trabalharão sobre o
“real” para que este seja transformado em matéria jornalística. Podemos incluir entre elas,
retóricas já consolidadas e que são amplamente debatidas pela história da fotografia e pelos
estudiosos da imagem.