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Sou grata, em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida, por me fazer
acreditar que posso alcançar meus objetivos e, que mesmo carregando várias
cruzes ao longo da vida, Ele nunca desiste de mim, abastecendo-me com seu amor
puro e me fazendo filha, mesmo com meus pecados, pois carrego esperanças do
tamanho do grão de mostarda e aceito que toda semente dá seus frutos. Obrigada,
Senhor, por tudo o que me deste.
Agradeço ao meu pai, Cesar Guariz (in memmorian), por seu amor eterno.
Sempre a me dizer o quanto gostaria de ver-me dedicada, estudando e formando-
me. A minha mãe, Adelaide, por me amar tão abundantemente, me apoiar, me
incentivar, entender minhas horas ausentes estudando, me acompanhar e nunca
desistir de mim. Por cuidar de mim, pelo zelo e carinho, em todos os momentos e
por me mostrar o mundo como ele é, me fazendo acreditar em Deus e que nada é
impossível. Ao meu irmão, Lucas, por ser simplesmente meu caçula que, tanto amo
e por querer seu sucesso também. Aos meus avós, por terem cuidado de mim a
vida toda e a toda minha família, pelo apoio e pela ajuda, fazendo-me jamais desistir
dos sonhos independentemente dos percalços que a vida em certas ocasiões nos
impõe.
Especialmente agradeço a meu tio, Marcos, por todas as aulas, conselhos e
livros, pois, indiretamente, por ele, percebi o quanto gostava desse universo das
Letras. Obrigada, por ter me ensinado e dedicado leituras, pela lousa na infância, em
que de tanto treinei. Percebi que era isso que eu queria fazer no futuro. Obrigada
pela insistência em fazer-me perceber o quanto os estudos eram bons para mim.
Agradeço ao Rafael, pelo auxílio e dedicação quando necessitei, além de
estar e seguir sempre comigo, nunca me fazendo desistir e tendo paciência quando
precisava. Agradeço-o por estar comigo nesses anos e me fazer entender o quanto
eu precisava batalhar para realizar meus sonhos.
À Camila e Caroline, por me incentivarem e me apoiarem. Pelos conselhos,
ombros, choros e risadas que demos juntas, em tantos anos de amizade. Aos meus
amigos da vida e aos companheiros da faculdade, pelo incentivo no decorrer de
meus estudos.
Aos meus professores (as), desde a infância até a faculdade, pela imensa
dedicação e o saber passado para nós, me fazendo espelhar essa profissão tão
bela.
Agradeço também especialmente à Prof. Ma. Suely Zeoula, pela dedicação,
paciência e por ser essa pessoa iluminada, que nos incentiva e nos mostra que, com
as experiências, e passando pelo “Bojador”, eu alcançarei sempre minha “Ítaca”.
.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no
que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer entendimento. (CLARICE
LISPECTOR)
RESUMO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1 A MULHER NA LITERATURA BRASILEIRA.......................................................... 9
1.1 Algumas considerações históricas ................................................................... 9
1.2 Mulheres Românticas no Brasil ....................................................................... 13
2 A MULHER DO SÉCULO XX ................................................................................ 18
2.1 Pré Modernismo ................................................................................................ 18
2.2 Modernismo ....................................................................................................... 20
2.3 O papel da mulher na Literatura ...................................................................... 23
2.3.1 A autora: Clarice Lispector ............................................................................ 25
3 MACABÉA – A PROTAGONISTA......................................................................... 27
3.1 A mulher romântica e moderna ........................................................................ 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
INTRODUÇÃO
Xica foi diferente. Ela foi escrava, apaixonou-se por João Fernandes de
Oliveira, que era soberano e muito rico, até que foi solta. Era líder, mandava no
marido e passeava cheia de diamantes e jóias. Nessa época, as mulheres eram
submissas e só saíam de casa se acompanhadas pelos maridos. Mas nem todas
aceitavam muito bem isso.
As mulheres mais conhecidas da nossa História foram as que lutavam por um
espaço e pela liberdade. Assim marcadas estão também duas mulheres que lutaram
pela Independência do Brasil de 1822: Maria Quitéria de Jesus, que vestiu uniforme
de soldado e andava armada e a freira Joana Angélica, que morreu tentando impedir
que os soldados portugueses invadissem o convento.
Porém, mesmo que lutassem, as mulheres ainda não podiam assumir cargos
importantes e nem votar, segundo a 1ª Constituição do início do século XIX.
Além disso, houve muitas guerras, e uma delas foi a Revolução Farroupilha
de 1835, quando uma mulher ficou mundialmente conhecida – Ana de Jesus Ribeiro
ou Anita Garibaldi - uma das líderes da revolução. Depois de dez anos na batalha,
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ela e seu marido, o italiano Giuseppe Garibaldi, foram para a Itália lutar pela
unificação do país.
Após essa data, outro marco importante foi a promulgação, pela Princesa
Isabel, filha de D. Pedro II, da abolição da escravatura no Brasil, a Lei Áurea, em 13
de maio de 1888.
Nesta época, no Brasil, começaram a chegar os primeiros imigrantes e suas
famílias, iniciando o trabalho nas lavouras, a maioria de café. Neste impulso, os
filhos dos barões de cafeicultores iam para a Europa estudar. De volta ao Brasil,
traziam, além dos diplomas, novas ideias e atitudes.
Assim como o voto, o estudo também era somente para homens. Como já
dito, as mulheres serviam para cuidar da casa e dos filhos, e não precisavam ser
cultas ou estudadas, pois não assumiam cargos importantes. Depois disso, houve a
Proclamação da República, em 1889, mas ainda assim a mulher não tinha o direito
ao voto.
Um acontecimento histórico nacional foi a Semana da Arte Moderna de 1922,
quando estava no Governo, Epitácio Pessoa (1919 – 1922).
(...) com o envolvimento de muitas mulheres como Anita Malfatti,
Tarsila do Amaral, entre outras. Foi o primeiro grande evento em que
mulheres brasileiras participaram não apenas como expectadoras,
mas sim como autoras. Por volta de 1922 e 1926, o Brasil conheceu
Maria Bonita, esposa de Lampião famoso cangaceiro. (SOUZA,
2005, p. 13).
Lygia Fagundes Telles, Cecília Meirelles, Ana Cristina Cesar, Lygia Bojunga, Adélia
Prado, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Ana Miranda e Cora Coralina. Na música são
marcadas: Elis Regina, Rita Lee, Wanderléia, Maria Bethânia, Maísa. Também
surgiram nomes populares na arte, tais como como no cinema, na televisão e no
teatro como Marília Pêra, Hebe Camargo, Maria das Graças Meneghel (Xuxa) e uma
mulher muito admirada e vencedora de muitos prêmios, Fernanda Montenegro.
Ao participarem, levantam sempre uma bandeira, seja em
movimentos estudantis contra a ditadura, ou em movimentos pela
anistia, Diretas Já e Impeachment do Presidente Collor. Também
foram vítimas de repressão, sofrendo tortura, penas de prisão ou de
exílio durante a ditadura militar dos anos 60/70. É o caso de
mulheres que lutaram pela liberdade, sendo acusadas de
subversivas. (SOUZA, 2005, p. 14).
Sevcenko(1998 apud SOUZA 2005), afirma que o Código Civil Brasileiro, que
surgiu no início do século XIX, reforça a inferioridade da mulher, citando o homem,
como chefe da família, que cuidava da parte financeira, moral e material dela. Ao
passar dos anos, para que a mulher pudesse trabalhar, ela precisava da autorização
do esposo, já que era ele que cuidava de tudo.
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aceitavam que uma mulher de má conduta tivesse um “final feliz”. O romance retrata
a vida cotidiana na cidade e faz uma crítica social às pessoas da época.
Assim como descreve Costa et al (2009, p. 7): “Esse romance faz uma crítica
social aos costumes da época. É considerado um romance urbano, pois fala do
cotidiano e descreve a vida na cidade.”
Por fim, a última obra da trilogia romântica de Alencar: Senhora. Aurélia
Camargo, uma moça jovem e pobre, que mora com a mãe viúva, apaixona-se por
Fernando Seixas, que corresponde ao seu amor. Ele era uma pessoa que se
disfarçava de rico para poder conquistar moças que tivessem dotes financeiros.
Assim, ela troca o nome Aurélia por Adelaide Amaral, por causa de um suposto dote.
Aurélia se sente humilhada pelo feito de Fernando, fica com mágoa e com
muita raiva. Após um tempo, ela recebe uma boa herança. Ainda apaixonada, logo
pensa em se vingar de Fernando, reconquistando-o com o dinheiro ganhado. Ela
pede a Lemos que arrume um noivo para que ela possa se casar e envia uma carta
a Fernando fazendo-lhe uma proposta. Vendo um adiantamento, ele aceita a oferta.
Quando Aurélia se apresenta, ele se sente muito humilhado, pois ele havia rompido
com ela para ficar com Adelaide. Ela chega a chamar-lhe de “homem vendido” na
noite de núpcias. Segundo Couto et al: “essa cena seguem-se dolorosos meses de
humilhações, fingimentos, sarcasmos e hipocrisias.” Fernando, depois de ser
maltratado, consegue juntar uma quantia suficiente a ponto de conquistar a própria
liberdade. Porém, depois que aparecem o perdão e a regeneração pela parte dos
dois, o amor mostra-se forte para reanimá-los. O romance retrata o casamento por
dinheiro e interesse e também discorre sobre o amor. Passa-se no Rio de Janeiro.
Assim como o romance Lucíola, baseia-se na sociedade da época efaz uma crítica
ao tratamento homem e mulher.
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2A MULHER DO SÉCULO XX
2.2 Modernismo
Graça Aranha, segundo Bosi (1994, p. 331), foi o único intelectual que passou
do Pré-Modernismo ao Modernismo. Lima Barreto e Euclides da Cunha não se
enquadravam no adjetivo “moderno”. Modernismo seria um “novo código”, algo
diferente do estilo parnasiano e simbolista. Bosi também analisa o fato de que ele
utilizava traços modernos, mas não era moderno como Lobato e Barreto. “E nem os
decadentistas de Guilherme, de Menotti, de certo Oswald parecerá, hoje, moderno”
(Bosi, p. 331).
Entende-se por Modernismo, segundo Alfredo Bosi (1994, p.332): “(...) uma
crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço de penetrar
mais fundo na realidade brasileira”.
O Modernismo, em teoria, é dividido em três fases, que seriam três diferentes
gerações. A Primeira Fase é marcada como histórica, iniciou-se em 1922 e foi até
1930. A Segunda Fase, seria a maturidade, foi de 1930 a 1945. A Terceira Fase é o
Pós-modernismo, de 1945 até a atualidade.
A Semana da Arte Moderna que se realizou no ano de 1922, dá início à
Primeira Fase do Modernismo no Brasil. Com olhar desconfiado do público e da
sociedade tradicionalista e conservadora, os modernistas começaram a satirizar o
parnasianismo, apresentando novos conceitos estéticos e quebrando as barreiras da
arte tradicionalista.
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Um dos autores com ênfase não só pelo momento histórico, mas como poeta
gratificante tem Carlos Drummond de Andrade. Um escritor muito importante para a
Literatura. Fazendo uso de versos livres, linguagem simples. Assim ressalta Cereja e
Magalhães (2013, p. 494): “um desses escritores que aparecem de tempos em
tempos e conseguem apreender e refletir poeticamente as inquietudes de uma
época, tal qual Camões e Fernando Pessoa.”
Drummond, segundo os autores, tem quatro fases e cada uma delas
complementando à outra. Seriam elas: a fase gauche, onde ele fala de consciência e
do isolamento, onde não vê esperança em nada, nem no amor; a fase sentimento do
mundo, onde tem um livro com esse nome, falando das “contradições entre o eu e o
mundo”; a fase do não, pois mostra ainda mais seu pessimismo e por fim, a fase do
tempo da memória, onde o autor retorna à infância psicologicamente, trazendo-a aos
seus poemas.
Outro autor que marca a 2ª geração é o poeta e compositor, Vinicius de
Moraes. Foi um dos fundadores da Bossa Nova, mas que antes disso, já tinha vários
poemas registrados e o livro Antologia poética (1955). Ele também teve duas fases:
a transcendental e a outra, a repulsa ao idealismo. Escreveu sobre as mulheres e
seus amores, tendo poemas sensuais e sociais, tendo vários sonetos registrados.
Assim, depois que acabou a Segunda Guerra Mundial, houve um novo
período na história brasileira, marcado pelo período econômico desenvolvido,
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3. MACABÉA – A PROTAGONISTA
Rodrigo afirma, na página 22, que ela é uma entre milhões de mulheres,
única, mas a compara com as moças magricelas, ou seja, mulheres débeis, que não
tem força e que sim, ela é uma pessoa física. E que a moça nunca tinha se visto nua
na vida porque tinha vergonha: “Vergonha por pudor ou por ser feia?”.
Há uma frieza novamente, na página 23, nas palavras dele, ao dizer que ela
não precisa fazer nada na vida de extraordinário, que só respirar lhe basta. O
narrador, neste instante, afirma que Macabéa era uma pessoa que não tem
competência, que não tinha mais jeito na vida. Sobre o emprego, quando seu chefe,
no momento de demissão, fala com modo bruto com ela, com um jeito submisso,
esperando ele completar que só manteria Glória no emprego, porque Macabéa
errava demais na escrita e deixava os papéis sujos. O senhor Raimundo Silva ficou
espantando quando a moça pediu desculpas pelo aborrecimento lhe causado e com
isso, ele percebeu o quanto ela era delicada e disse que seu adeus poderia demorar
mais uns dias, voltando atrás com o que já tinha dito.
“Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha.
Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.”, assim, na página 25, percebe-
se a forma do narrador dizer como ela era, levava sua vida comumente, sem prazer,
sem ganhos, sem sorte, sem felicidade e família. Só era ela mesma.
Após a cena da demissão, a personagem se olha no espelho e, por um
momento, ela não vê seu reflexo no espelho, e num fluxo de consciência, o narrador
recorda um momento de infância dela, quando a tia lhe dava medo, dizendo que
apareceriam vampiros para lhe dar medo e ela acreditava e tinha isso como um
trauma de infância, pois vampiros não têm reflexo e por um momento, ela pensou se
era um vampiro também.
Mais uma cena de uma moça marcada pelo período romântico, o narrador
comenta que desde pequena ela sabe cerzir, ou seja, fazer pequenas costuras e
consertos em roupas. Macabéa, segundo ele, só não sabe o que era infelicidade,
porque na verdade, ela ainda tinha um estado de graça, uma certa fé. Remetendo-
se novamente a este período, ele a chama de doce e obediente, palavras que nos
lembram de como as mulheres eram submissas no período romântico, e até o século
XX, onde, como já estudado, as mulheres só eram “úteis” para servir os homens.
Porém, como uma mulher moderna, Macabéa usava maquiagem, porque
disfarçava algumas manchas que tinha no rosto, mas ela era suja, não se limpava
corretamente. Usava sempre o mesmo estilo de roupas: saia e blusa de dia e um
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conjunto de pijamas à noite. Rodrigo diz que ela não tinha encantos e que ninguém
olhava para ela na rua. “Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela”. Aqui vemos um
“amor não correspondido”, como nos Romances.
A tia beata batia na moça por puro prazer sexual, mas não se casara porque
tinha nojo e queria evitar que a sobrinha virasse uma mulher da noite, que espera
seus homens com cigarro. Vemos novamente a figura contemporânea, pois as
mulheres só puderam ter essa liberdade depois de muita luta. “Pois até mesmo o
fato de vir a ser uma mulher não parecia pertencer à sua vocação” e que a única
paixão na sua vida era goiabada com queijo. Mas a beatice da tia não foi passada à
Macabéa, porque mesmo depois de falecida, a sobrinha não freqüentava as Igrejas.
O narrador traça uma comparação dela com moças antigas na página 31:
“embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura
bíblica”. Portanto, mais uma vez aparece o Romantismo complementando o
Moderno, na página 32: “quanto a ela, até mesmo de vez em quando ao receber o
salário comprava uma rosa”. A flor rosa para as mulheres tem um significado ímpar,
é considerado um dos presentes preferidos, considerados românticos.
Macabéa, às vezes, sonhava que a tia lhe batia na cabeça e sonhava também
com sexo. Mas quando isso acontecia, ela se sentia culpada e rezava várias
orações, mesmo sem acreditar diretamente em Deus. E ela, quando ficava triste,
achava bom, mas não desesperadamente “pois isso nunca ficara já que era modesta
e simples, mas aquela coisa indefinível como se ela fosse romântica” (p. 34).
Percebe-se que ele chega a pensar no romantismo dela, mas que isso não era
concreto. Tinha como luxo: ir uma vez ao mês ao cinema e pintava as unhas de
vermelho escarlate. Não comia em restaurante, pensava que só comiam sozinhas
as “francesas desfrutáveis”. Dançava sozinha de vez em quando e se sentia livre
com isso.
Acontece um momento marcante para a protagonista: seu primeiro encontro
com Olímpico, o futuro namorado. Foi em maio, mês das borboletas brancas (as
noivas virgens). No meio de uma chuva, os dois nordestinos encontraram-se numa
espécie de reconhecimento. Bastou ela o ver para se apaixonar. Ele, portanto,
vendo-a, se aproximou iniciando uma conversa: convidando-a para sair. Ela,
espontaneamente, disse que sim. Ela fala seu nome e ele zomba, dizendo que
parece nome de doença, a moça concorda, explicando que ganhou esse nome por
uma promessa da mãe. Macabéa caiu no amor profundo: “Mas ela já o amava tanto
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que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor”, diz Rodrigo
na página 44. Ele, portanto, não era tão ingênuo quanto ela e sentia desejo. Eram
contemporâneos, tinham seus espaços sociais no mundo, o metalúrgico e a
datilógrafa. Ele era como os conhecidos no nordeste, chamados de “cabra safados”.
“Macabéa era na verdade uma figura medieval e ele, uma “peça-chave”. Ela
pensava em se casar. Quando Olímpico comentou que seria um dia deputado na
sua terra, ela logo pensou se seria deputada também; que na sua ignorância, seria a
mulher do deputado. O namoro dos dois era ralo, com conversas paralelas, onde
não tinha propósito. Diálogos que a deixavam intimidada, pois ele queria parecer um
grande homem inteligente, mas não era também. Ela comenta que chorou uma vez
ouvindo música e demonstra sua delicadeza a ele.
Diz também que toda vez que o chefe a paga ela vai ao cinema e que seu
sonho era ser artista, ele logo a zomba novamente, dizendo que ela não tinha porte,
corpo ou jeito de artista, que ela tinha cor suja e nunca seria uma. Eles, como dito,
eram um casal moderno. Ela não dava despesas a ele, pois ele não pagava nada
para ela, a não ser um dia que ele pagou um cafezinho. “(...) você me custou um
pouco, um cafezinho. Não vou gastar mais nada com você, está bem?” (p. 55). Ele
chega a ser sincero demais com a moça, dizendo que ela não custava muito. E ela
pensou que ele não devia pagar nada a ele mesmo, pois tinha vergonha. Macabéa
continuou a pagar suas próprias entradas aos lugares que iam passear.
Olímpico se viu como um homem com a honra lavada, porque já havia
matado e roubado; ele roubava sempre tudo o que podia. A única gentileza que ele
teve com a moça foi dizer que se um dia ela fosse demitida, ele arranjaria um
emprego de metalúrgico a ela. Foi então que Rodrigo sentiu compaixão na página
59: “Ah pudesse eu pegar Macabéa, dar-lhe um bom banho, um prato de sopa
quente, um beijo na testa enquanto cobria com um cobertor. E fazer que quando ela
acordasse encontrasse o grande luxo de viver.”
Quando Olímpico deu por si, não sentia prazer nenhum em namorá-la, pois
ela não tinha força de viver, ele viu pela primeira vez Glória. Esta, por sua vez, tinha
uma mistura de sangue português com um jeito de mulata e, com isso, Olímpico
ficou impressionado. Logo ficou interessado pelo corpo dela, tinha bons quadris.
“Macabéa só pensava no dia em que ele quisesse ficar noivo. E casar.”, dito
na página 59. Quando, em poucos dias, ele a encontra para dizer que estava
terminando o relacionamento com ela e que já havia marcado encontro com outra e
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que era Glória. “Macabéa bem viu o que aconteceu com os Olímpico e Glória: os
olhos de ambos se haviam beijado” (p. 60)
Olímpico diz que tinha nojo dela, que era como cabelo na sopa. Ela se sente
humilhada e não vê a hora de ir embora para sentir saudades. Porém, mesmo ela
com o corpo feio, era sensual, tinha luxúria.Macabéa se viu rindo, pois não
conseguia chorar. Ela se deu conta que seu desejo era ter carne, engordar, para ter
um corpo como o de Glória e se sentiu desesperada. No outro dia, quis dar uma
festa para si mesma, comprou um batom vermelho e chegou toda pintada no
trabalho, sendo motivo de chacota de Glória. As duas começaram uma discussão,
chamando-as de feias, perguntando-as se doía serem feias. Rodrigo comenta que
Deus era misericordioso com ela e que dava o que lhe tirava, como o estado de
graça.
Rodrigo comenta de Glória de uma maneira grossa, dizendo que ela era só
uma colega, era roliça, cheirava mal, não se depilava e clareava os pelos da perna.
Olímpico tinha delírio, imaginava se nas partes de baixo ela era loira também. Glória
preocupava-se com Macabéa, tinha um sentimento materno.
Macabéa queria ser sensual, queria ser como Greta Garbo e parecer com
Marilyn Monroe, duas mulheres marcantes na história da arte, Greta foi eleita como
uma das maiores lendas do cinema e Marilyn, um dos maiores símbolos sexuais. Ela
pensava que Greta deveria ser a mulher mais importante do mundo.
Depois de descobrir que estava doente, mas não entendendo nada do que o
médico disse, ela foi conversar com Glória. Ela disse para Macabéa procurar uma
cartomante, para saber como seria seu futuro e a moça aceitou. Chegando ao local,
ela se sentiu deslumbrada, vendo imagens e pessoas que nunca tinha visto. A
cartomante come em sua frente bombons e não oferece nenhum. A Madama Carlota
fala da sua vida passada, que era pobre e virou prostituta para ganhar dinheiro,
abriu uma casa de mulheres, ficou rica e saiu de lá; levou sua vida até virar
cartomante.
Madame Carlota acertou tudo na vida da moça, disse que mal conhecera os
pais, que foi criada por uma tia má e que a educou para ser mais fina e
complementou o presente, dizendo que ia perder o emprego e que já havia perdido
o namorado. Ela diz que a vida de Macabéa iria mudar, estava iluminada. Que a
partir do momento que a moça saísse da sua casa começaria a mudança na vida,
que o namorado estava arrependido e o chefe lhe daria outra oportunidade.
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O que pode ser confirmado com esse estudo, desde o princípio, com base
nas pesquisas bibliográficas e nos livros, é que a mulher conseguiu seu espaço na
sociedade. Mesmo com muita luta social, a mulher, ao longo do tempo, teve várias
mudanças. Passou de boa dona de casa à mulher trabalhadora, que sai todos os
dias para conseguir seu “ganha-pão” e ajudar nas despesas. Percebe-se isso a
partir do primeiro capítulo desse trabalhando, no qual estudou-se algumas
considerações históricas no Brasil, falando de algumas guerras e revoluções, até
atingirem a nova Constituição com o Presidente Getúlio Vargas.
No período do Romantismo, podemos constatar que as mulheres eram
idealizadas, porém, já apresentadas com personalidades fortes. Tratando de
Iracema, Lúcia e Aurélia (personagens de José Alencar), vemos que as três são
mulheres dessa época, porém que são fortes, que conquistaram seu espaço e
lutaram o máximo para serem realizadas. E, com isso, estudamos o Modernismo,
conhecendo essa “nova era” que mudou o Brasil. Movimento que trouxe inovações,
vindas da Europa, quando o artistas brasileiros revolucionaram com seus poemas,
pinturas e músicas. Conhecendo também as três fases desse período: seus autores,
Lispector, uma mulher que se naturalizou no Brasil, escreveu vários romances e, o
estudado, “A Hora da Estrela”, traz uma personagem significativa: Macabéa.
Uma jovem simples, humilde e humilhada por várias pessoas do seu âmbito.
Ela, que saiu do sertão do Alagoas para morar no Rio de Janeiro para um emprego
de datilógrafa – mesmo que semi-analfabeta. Quase foi despedida do emprego,
traída pelo namorado com a melhor amiga e passou por vários conflitos até chegar
sua morte.
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BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 42ª Ed. São Paulo: Cultrix.
1994.
COSTA, S.; FRAGA, N.; SILVA, P. Iracema, Lúcia e Aurélia: três personagens
femininas sob o olhar de um escritor romântico. Ituverava, SP. 2009.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1998. 1ª Ed.