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SÍLVIA CAMILA BARROS GUARIZ

A MULHER MODERNA DO SÉCULO XX E A


ROMÂNTICA DO SÉCULO XVIII, SOB O PRISMA DE
MACABÉA EM “A HORA DA ESTRELA”

FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS


JABOTICABAL
2016
SÍLVIA CAMILA BARROS GUARIZ

A MULHER MODERNA DO SÉCULO XX E A


ROMÂNTICA DO SÉCULO XVIII, SOB O PRISMA DE
MACABÉA EM “A HORA DA ESTRELA”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Educação São Luís, como exigência
parcial para a conclusão do curso de graduação em
Letras

Orientadora: Profa. Ma. Suely Aparecida Zeoula de


Miranda

FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS


JABOTICABAL
2016
Dedico

Aos meus pais, irmão, avós e tios


queridos, que sempre torceram pelo meu
crescimento pessoal e profissional.
AGRADECIMENTOS

Sou grata, em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida, por me fazer
acreditar que posso alcançar meus objetivos e, que mesmo carregando várias
cruzes ao longo da vida, Ele nunca desiste de mim, abastecendo-me com seu amor
puro e me fazendo filha, mesmo com meus pecados, pois carrego esperanças do
tamanho do grão de mostarda e aceito que toda semente dá seus frutos. Obrigada,
Senhor, por tudo o que me deste.
Agradeço ao meu pai, Cesar Guariz (in memmorian), por seu amor eterno.
Sempre a me dizer o quanto gostaria de ver-me dedicada, estudando e formando-
me. A minha mãe, Adelaide, por me amar tão abundantemente, me apoiar, me
incentivar, entender minhas horas ausentes estudando, me acompanhar e nunca
desistir de mim. Por cuidar de mim, pelo zelo e carinho, em todos os momentos e
por me mostrar o mundo como ele é, me fazendo acreditar em Deus e que nada é
impossível. Ao meu irmão, Lucas, por ser simplesmente meu caçula que, tanto amo
e por querer seu sucesso também. Aos meus avós, por terem cuidado de mim a
vida toda e a toda minha família, pelo apoio e pela ajuda, fazendo-me jamais desistir
dos sonhos independentemente dos percalços que a vida em certas ocasiões nos
impõe.
Especialmente agradeço a meu tio, Marcos, por todas as aulas, conselhos e
livros, pois, indiretamente, por ele, percebi o quanto gostava desse universo das
Letras. Obrigada, por ter me ensinado e dedicado leituras, pela lousa na infância, em
que de tanto treinei. Percebi que era isso que eu queria fazer no futuro. Obrigada
pela insistência em fazer-me perceber o quanto os estudos eram bons para mim.
Agradeço ao Rafael, pelo auxílio e dedicação quando necessitei, além de
estar e seguir sempre comigo, nunca me fazendo desistir e tendo paciência quando
precisava. Agradeço-o por estar comigo nesses anos e me fazer entender o quanto
eu precisava batalhar para realizar meus sonhos.
À Camila e Caroline, por me incentivarem e me apoiarem. Pelos conselhos,
ombros, choros e risadas que demos juntas, em tantos anos de amizade. Aos meus
amigos da vida e aos companheiros da faculdade, pelo incentivo no decorrer de
meus estudos.
Aos meus professores (as), desde a infância até a faculdade, pela imensa
dedicação e o saber passado para nós, me fazendo espelhar essa profissão tão
bela.
Agradeço também especialmente à Prof. Ma. Suely Zeoula, pela dedicação,
paciência e por ser essa pessoa iluminada, que nos incentiva e nos mostra que, com
as experiências, e passando pelo “Bojador”, eu alcançarei sempre minha “Ítaca”.
.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no
que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer entendimento. (CLARICE
LISPECTOR)
RESUMO

O papel da mulher na sociedade brasileira teve um crescimento de valorização a


partir do Romantismo. Este mostrou que a mulher era idealizada e seu propósito
pessoal era somente cuidar da casa, marido e filhos. Com o Modernismo, a mulher,
com muita luta, conseguiu seu espaço na sociedade, podendo trabalhar, se
divorciar, morar sozinha e usar suas roupas como queria. O objetivo deste trabalho é
mostrar as marcas que Clarice Lispector utilizou ao escrever seu último romance, A
Hora da Estrela, no qual sua personagem principal, Macabéa, possui traços de uma
mulher romântica e moderna, em nuances narradas por Rodrigo S. M., seu narrador.
O trabalho foi elaborado utilizando monografias que discorrem sobre o tema
proposto e o próprio livro de Lispector, para constatação de que a mulher, mesmo
com todos os conflitos vividos diariamente pode existir como única no mundo e
realizar tudo o que deseja: criar-se sozinha, trabalhar, apaixonar-se, dar-se
presentes e viver da melhor maneira possível.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1 A MULHER NA LITERATURA BRASILEIRA.......................................................... 9
1.1 Algumas considerações históricas ................................................................... 9
1.2 Mulheres Românticas no Brasil ....................................................................... 13
2 A MULHER DO SÉCULO XX ................................................................................ 18
2.1 Pré Modernismo ................................................................................................ 18
2.2 Modernismo ....................................................................................................... 20
2.3 O papel da mulher na Literatura ...................................................................... 23
2.3.1 A autora: Clarice Lispector ............................................................................ 25
3 MACABÉA – A PROTAGONISTA......................................................................... 27
3.1 A mulher romântica e moderna ........................................................................ 27
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 34
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
INTRODUÇÃO

Este trabalho, primeiramente, tratará da luta da mulher pelas suas


conquistas. A mulher era a boa dona de casa, mãe e esposa e com a evolução e
luta, conquistou direitos e deveres, além da possível igualdade de gêneros. Com
isso, mostram-se essas mudanças nas fases Literárias. Trabalharemos com o
Romantismo (século XXVIII) e o Modernismo (século XX). Trataremos de algumas
mulheres importantes na História do Brasil, ressaltando as lutas que algumas
enfrentaram e também algumas guerras e revoluções, seus respectivos anos e
comandantes. Trataremos desses assuntos até chegarmos à Semana de Arte
Moderna de 1922: um marco na modernidade. Após esse período, o Brasil teve
grandes mudanças: constituições, era tecnológica, reformas, conquistas artísticas e
culturais.
No primeiro capítulo trataremos da importância da mulher na literatura
brasileira, refletindo sobre algumas considerações histórias. Com isso, estudaremos
das mulheres importantes no Brasil na cultura, política, música e arte. Trataremos,
assim, da busca de igualdade de gêneros no estudo literário, retratando assim,
algumas personagens importantes da literatura brasileira. Analisaremos algumas
obras do Romantismo, até chegar a José Alencar, um dos principais autores deste
período. Pretendo enfatizar a tríade de personagens principais femininas: Iracema,
Lúcia e Aurélia, das obras Iracema (1865), Lucíola (1863) e Senhora (1875).
Após o estudo sobre Romantismo, trataremos do Modernismo, passando pela
fase do Pré-Modernismo, também evidenciando os momentos históricos, assim
como os principais autores e obras vindas do Parnasianismo. Concluiremos na fase
do Modernismo, tratando dos autores da revolução artística: os que trouxeram para
o Brasil uma nova arte, uma nova estilística, com base nas vanguardas européias.
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No Modernismo, dividiremos o estudo em três épocas, pautadas por autores


marcantes e obras nacionais conhecidas mundialmente.
No estudo crítico, trataremos do papel da mulher na literatura – desde
Camões em 1500 à Clarice Lispector, autora da 3ª fase do Modernismo, observando
que as histórias começaram nos Contos de Fadas e, afinal, terminaremos esse
estudo das principais autoras, no Modernismo, apresentando as mulheres
trabalhando, realizando sonhos. Na análise das principais autoras do Modernismo
apresentaremos uma biografia analítica de Clarice Lispector.
Como último tópico, haverá uma análise crítica da personagem Macabéa,
enfocando os pontos em que o narrador expõe seus traços românticos (o amor, os
presentes dados, os pensamentos e desejos), assim como seu lado moderno
(viajando, trabalhando e existindo no seu jeito), tratando da sua construção feminina.
1 A MULHER NA LITERATURA BRASILEIRA

Neste capítulo, iremos tratar da mulher na história do Brasil, entrando em


contato com as personagens femininas do Romantismo Brasileiro. Para isso,
antecipadamente, trabalharemos com os fatos históricos, igualdade de gêneros e
superação, observando o fato de que as mulheres conseguiram seu espaço na
sociedade. Pretendo fazer notar a evolução e luta feminina, por perceber que, ao
passar dos anos, a liberdade foi conquistada. Primeiramente, cito grandes nomes
nessas conquistas, desde o Descobrimento do Brasil até o Modernismo, focalizando
a Semana de 1922.

1.1 Algumas considerações históricas

A mulher, aos poucos, foi conquistando um espaço na sociedade. A mulher


era somente a dona de casa, mãe e boa esposa. Com a evolução e luta, ela
conquistou diretos e deveres, além da possível igualdade de gêneros. Atualmente,
vê-se que muitas trabalham onde querem, têm vidas próprias, são independentes.
São donas de negócios, empregadas, trabalhadoras. Não houve um cessar nessa
luta, pelo contrário, há muitas manifestações pela igualdade e para que a liberdade
maior seja alcançada.
Pode-se ver esse avanço na figura de mulheres românticas, citadas na
literatura. O avanço é demonstrado a cada época e a cada fase literária.
Segundo Souza (2015, p.6),
A mulher, criada em berço patriarcal, sempre se conformou com a
situação imposta pelo pai ou pelo marido e assim viveu durante
muitos anos submissa. Com as transformações sociais, industriais e
econômicas a mulher foi se rebelando contra o estado em que se
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encontrava. Aos poucos, luta pela igualdade de gêneros e por sua


emancipação. No entanto, essa busca foi sofrida e amarga. A mulher
foi responsabilizada por males sociais, foi presa, exilada, não podiam
assumir cargos e, na Idade Média, chegou a ser perseguida como
subversiva e queimada em fogueiras.

Os autores escreveram suas obras como um reflexo da vida cotidiana,


acompanhando o momento histórico, além de terem criado ficção, faziam críticas à
sociedade da época, mostrando isso e nos fazendo entender como era o tempo, o
espaço e o cotidiano eram marcados.
Souza (2005, p. 10) pode perceber que a mulher evoluiu na Literatura, mas
não de maneira uniforme e sim “evoluindo social, intelectual e moralmente em
relação ao homem”.
As mulheres portuguesas foram chegando ao Brasil a partir de 1530 e, desde
essa época, conhecemos na luta, no mundo liderado por homens. Uma personagem
marcante de nossa História é Xica da Silva.
As mulheres passaram a ter seus nomes associados a textos de
natureza historiográfica, embora superficialmente, quando envolvidas
em lutas por ideais separatistas, em defesa das terras ou quando se
envolviam com grandes donos de terras e engenhos como Xica da
Silva (SOUZA, 2005, p. 10).

Xica foi diferente. Ela foi escrava, apaixonou-se por João Fernandes de
Oliveira, que era soberano e muito rico, até que foi solta. Era líder, mandava no
marido e passeava cheia de diamantes e jóias. Nessa época, as mulheres eram
submissas e só saíam de casa se acompanhadas pelos maridos. Mas nem todas
aceitavam muito bem isso.
As mulheres mais conhecidas da nossa História foram as que lutavam por um
espaço e pela liberdade. Assim marcadas estão também duas mulheres que lutaram
pela Independência do Brasil de 1822: Maria Quitéria de Jesus, que vestiu uniforme
de soldado e andava armada e a freira Joana Angélica, que morreu tentando impedir
que os soldados portugueses invadissem o convento.
Porém, mesmo que lutassem, as mulheres ainda não podiam assumir cargos
importantes e nem votar, segundo a 1ª Constituição do início do século XIX.
Além disso, houve muitas guerras, e uma delas foi a Revolução Farroupilha
de 1835, quando uma mulher ficou mundialmente conhecida – Ana de Jesus Ribeiro
ou Anita Garibaldi - uma das líderes da revolução. Depois de dez anos na batalha,
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ela e seu marido, o italiano Giuseppe Garibaldi, foram para a Itália lutar pela
unificação do país.
Após essa data, outro marco importante foi a promulgação, pela Princesa
Isabel, filha de D. Pedro II, da abolição da escravatura no Brasil, a Lei Áurea, em 13
de maio de 1888.
Nesta época, no Brasil, começaram a chegar os primeiros imigrantes e suas
famílias, iniciando o trabalho nas lavouras, a maioria de café. Neste impulso, os
filhos dos barões de cafeicultores iam para a Europa estudar. De volta ao Brasil,
traziam, além dos diplomas, novas ideias e atitudes.
Assim como o voto, o estudo também era somente para homens. Como já
dito, as mulheres serviam para cuidar da casa e dos filhos, e não precisavam ser
cultas ou estudadas, pois não assumiam cargos importantes. Depois disso, houve a
Proclamação da República, em 1889, mas ainda assim a mulher não tinha o direito
ao voto.
Um acontecimento histórico nacional foi a Semana da Arte Moderna de 1922,
quando estava no Governo, Epitácio Pessoa (1919 – 1922).
(...) com o envolvimento de muitas mulheres como Anita Malfatti,
Tarsila do Amaral, entre outras. Foi o primeiro grande evento em que
mulheres brasileiras participaram não apenas como expectadoras,
mas sim como autoras. Por volta de 1922 e 1926, o Brasil conheceu
Maria Bonita, esposa de Lampião famoso cangaceiro. (SOUZA,
2005, p. 13).

Com o governo de Getúlio Vargas e a nova Constituição, em 1934, a mulher


passou a ter direito ao voto, como disse Souza (2005), “uma grande vitória para as
mulheres que sofriam essa marginalização”; pois os homens julgavam-nas inaptas
para tal obrigação.
Na Constituição de 1988, no governo de José Sarney as mulheres tiveram
novas conquistas:
Licença-gestante com duração de 120 dias para a mulher [...]; - ao
trabalhador doméstico (cozinheira, babás, arrumadeiras, caseiras)
foram assegurados vários direitos como: salário mínimo, 13º salário,
repouso semanal remunerado, férias remuneradas com 1/3 a mais
que o salário normal, licença-gestante remunerada de 120 dias, aviso
prévio e aposentadoria. (COTRIM, 1997 apud SOUZA, 2005, p.150).

No Brasil, as mulheres começaram a participar mais da cultura e da política


após a Semana da Arte Moderna, em 1922. Na Literatura temos Rachel de Queiroz,
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Lygia Fagundes Telles, Cecília Meirelles, Ana Cristina Cesar, Lygia Bojunga, Adélia
Prado, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Ana Miranda e Cora Coralina. Na música são
marcadas: Elis Regina, Rita Lee, Wanderléia, Maria Bethânia, Maísa. Também
surgiram nomes populares na arte, tais como como no cinema, na televisão e no
teatro como Marília Pêra, Hebe Camargo, Maria das Graças Meneghel (Xuxa) e uma
mulher muito admirada e vencedora de muitos prêmios, Fernanda Montenegro.
Ao participarem, levantam sempre uma bandeira, seja em
movimentos estudantis contra a ditadura, ou em movimentos pela
anistia, Diretas Já e Impeachment do Presidente Collor. Também
foram vítimas de repressão, sofrendo tortura, penas de prisão ou de
exílio durante a ditadura militar dos anos 60/70. É o caso de
mulheres que lutaram pela liberdade, sendo acusadas de
subversivas. (SOUZA, 2005, p. 14).

Com tais transformações e com os adventos culturais, políticos, sociais e


econômicas, como a industrialização e a imigração, as mulheres puderam ter acesso
a novas liberdades, como trabalharem e terem carteia assinada, sairem às ruas para
manifestarem, andarem desacompanhadas do pai, marido ou irmão, estudarem,
fazerem faculdade, assumirem cargos e fazerem parte de eventos; isso tudo por
causa da “revolução” das ideias vanguardistas, vindas da Europa.
Muitas pessoas, segundo Souza (2005), começaram a sair do campo para
buscar emprego e uma vida melhor na cidade. Começa-se a ver diferença nos
modos e nas vestimentas. A cada década que passava, saía uma nova moda
inspirada em atrizes americanas ou estilistas francesas. Os decotes aumentavam e
as saias, diminuíam; de vestidos com enchimento aos biquínis para irem à praia. O
homem ficava cada vez mais com receio, pois a esposa não ficava mais só dentro
de casa sob a proteção dele, guardada.
Nessas condições, a personagem feminina ganhou as ferrovias das
narrativas literárias representando a vida social e a luta por um
espaço na sociedade brasileira pelas mãos de escritores como
Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, Machado de Assis,
entre outros, cada um inserido num determinado contexto histórico e
representando realidades distintas. (REDSON, 2010, p.46).

Sevcenko(1998 apud SOUZA 2005), afirma que o Código Civil Brasileiro, que
surgiu no início do século XIX, reforça a inferioridade da mulher, citando o homem,
como chefe da família, que cuidava da parte financeira, moral e material dela. Ao
passar dos anos, para que a mulher pudesse trabalhar, ela precisava da autorização
do esposo, já que era ele que cuidava de tudo.
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Foi assim que começaram a surgir os desquites, ou seja, os divórcios. O


homem não aceitava que a sua mulher pudesse ser independente. Ainda nos
tempos modernos, os cargos maiores são direcionados aos homens, mesmo que um
grande cargo, como de presidente do país, tenha sido ocupado por Dilma Rousseff,
no Brasil. Ainda se observa que os cargos vinham associados ao poder, por isso
eram sempre ocupados por homens.
As mulheres precisavam ostentar boa aparência, porque eram vistas como “o
contrário do homem” (Sevcenko, 1998 apud Souza, 2005-1998); precisavam estar
sempre bem vestidas, serem recatadas, belas, submissas, prontas para agradar o
marido e tratar bem os filhos e as visitas.
Os homens pensavam que, antes das mulheres trabalharem, precisavam ser
boas donas-de-casa. As que queriam estudar precisavam abandonar o direito à
educação e a sua liberdade. Nos tempos atuais, as mulheres já podem assumir
cargos importantes e funções que só homens poderiam exercer, tais como: como
ser policial, bombeira, frentista, caminhoneira e ter cargos na política. Hoje, podem
participar de qualquer esporte, bem como futebol, o jogo preferido dos homens.
Assim como já vimos, a mulher evoluiu de dona-de-casa e mulher e do lar, a
trabalhadora e tornou-se admirada por muitos, podendo se tornar protagonista de
história e conto. Passou a ser vista de nova forma, a partir da Semana da Arte
Moderna e também o direito ao voto na Constituição de 1934. No início eram
discriminadas por quererem estudar e ter uma profissão, mas, aos poucos, puderam
conquistar seu espaço na sociedade e mostrar que podem fazer o que quiserem.

1.2Mulheres Românticas no Brasil

Ao estudarmos as mulheres românticas, no Brasil, precisamos levar em conta


que essas personagens fazem parte da Literatura, em que tem como preceito, tratar-
se das belas letras, ou escrita bela. Porém, segundo Candido et al. (1970), p. 11:
“Literatura é tudo o que aparece fixado por meio de letras”, ou seja, as obras
científicas, notícias, propagandas, receitas, livros etc.
A delimitação do campo da beletrística pelo caráter ficcional ou
imaginário tem a vantagem de basear-se em momentos de “lógica
literária” que, na maioria dos casos, podem ser verificados com certo
rigor, sem que seja necessário recorrer a valorizações estéticas.
(ROSENFELD in Cândido et al., 1970, p. 9).
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Para que possamos falar sobre personagem, precisamos compreender esse


universo de conhecimentos teóricos. O termo corresponde a, segundo Schüler (2000
apud Souza 2005): “[...] palavra derivada de persona, a máscara do teatro romano
[...]”.
Designa, no interior da prosa literária (conto, novela e romance) e do
teatro, os seres fictícios construídos à imagem e semelhança dos
seres humanos: se estes são pessoas reais, aqueles são “pessoas”
imaginárias, se os primeiros habitam o mundo que nos cerca, os
outros movem-se no espaço arquitetado pela fantasia do prosador.
(MOISÉS, 1995, apud SOUZA p. 396-397).

Faremos uma construção da identidade feminina, uma busca da mulher pela


igualdade de gêneros, como já estudado anteriormente. Os autores usam da
personagem para mostrar uma analogia aos atos de personagens reais. Assim
como diz Cândido (1970, p. 51): “geralmente, da leitura de um romance fica a
impressão duma série de fatos, organizados em enredo, e de personagens que
vivem estes fatos”. Essa impressão é formada a partir da “duração temporal” e “das
condições do ambiente”. Cândido também diz que:
Portanto, os três elementos centrais dum desenvolvimento
novelístico (o enredo e a personagem, que representam a sua
matéria; as “ideias”, que representam o seu significado, — e que são
no conjunto elaborado pela técnica), estes três elementos só existem
intimamente ligados, inseparáveis, nos romances bens realizados.
(CANDIDO et al. 1970, p. 51)

Segundo Souza (2005), “especificamente, por meio da linguagem das


personagens, a literatura contribui como reveladora da busca da mulher pela
igualdade de gêneros”. O autor usa em suas personagens, através do momento
histórico do enredo, para demonstrar como seria a vida social demonstrada por ele,
mostrando que, ao longo do tempo, a mulher vem mudando ao seu favor.
“O período romântico brasileiro rendeu frutos na poesia, na prosa e no
teatro.”, diz Ferreira (2012, p. 4). O Romantismo teve início no Brasil com Gonçalves
de Magalhães, que teve uma participação muito importante no período, tendo sido,
depois, marcado por Gonçalves Dias, que escreve com “simplicidade e melancolia” a
“Canção Do Exílio” (1843), retratando o amor pelas terras brasileiras, poemas dos
quais, mais tarde, são retirados alguns versos para compor o Hino Nacional. O
nacionalismo e o amor à pátria são retratados nesse período do Romantismo.
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Dentre todos os escritores da era romântica no Brasil, um dos mais notáveis,


quiçá o mais importante de todos seria José Martiniano de Alencar Júnior, ou
simplesmente José de Alencar. Ele que se mudara algumas vezes por causa da
carreira do seu pai como político e que, após morar em São Paulo, conhecendo as
obras francesas, entrou no ramo das letras enquanto estudava direito e começou a
escrever alguns folhetins para o jornal local. Os folhetins eram como brindes para os
leitores, pois a cada edição havia um novo capítulo. Segundo Ferreira (2012, p. 6),
Alencar retratou do indianismo, uma geração forte no Romantismo, contando em “O
Guarani”, a história de Peri e Ceci, ele que era um índio herói, que salva sua amada
passando por muitas lutas, e até quase uma morte canibalesca.
O indianismo deu origem ao que ficou conhecido como o “mito do
bom-selvagem”, mito esse que trouxe a baila questões filosóficas
relacionadas ao discurso de Jean-Jacques Rousseau, pois este
grande pensador do século XIII dizia que todo homem nasceria bom,
mas seria corrompido pela sociedade. (FERREIRA, 2012, p.8)

Naquela época, era retratado o cotidiano dos burgueses e geralmente


passados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, surge uma narrativa
simples e ingênua, de Joaquim Manuel de Macedo, “A Moreninha” (1844) e,
segundo Ferreira (2012, p. 8), “evidenciava as discussões sobre o amor e os
casamentos arranjados naquela época”. Para as pessoas da época, a literatura
servia como um exemplo de bons costumes, pois se espelhava a sociedade e as
famílias notáveis.
Podemos tratar também nas obras de José de Alencar as personagens
femininas: Iracema, Lúcia e Aurélia, das respectivas obras: Iracema (1865), Lucíola
(1862) e Senhora (1875).
Ao escrever essas três personagens, Alencar não se preocupa em fazê-las no
estilo padrão da época, como as mulheres perfeitas e submissas. Seus
comportamentos são dinâmicos, ele não se limita a idealizá-las nas práticas morais e
os bons costumes e menos ainda com os valores da família patriarcal.
Iracema: O nome Iracema é um anagrama da palavra América e também é
constituído das palavras Ira (mel) e ceme (lábios), que a torna a “virgem dos lábios
de mel.” Passa-se no Ceará, terra natal de Alencar, contando a história de uma linda
heroína indígena que renunciou a sua família e a tribo para viver com seu grande
amor, Martim. Este, durante uma caçada, afastou-se de seu amigo Poti, um
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índioPotiguara, e se perde na floresta que pertence aos Tabajaras. Iracema não


podia ter relação com nenhum homem, sob pena de morte;pois era a virgem
consagrada ao culto de Jurema. Porém, o amor dos dois foi maior que qualquer lei.
Sua fuga ofendeu os chefes da tribo, que declararam guerra aos amigos de Martim.
Eles acabam se envolvendo e fazendo uma cabana junto a Poti, perto da tribo deles.
Iracema acaba descobrindo que está grávida e Martim parte sem se despedir para
lutar contra a tribo. Iracema sofre por causa da solidão por ter saído do seu povo e
pela falta de seu companheiro, pois ele volta com o pensamento muito distante, com
saudade da sua terra natal. Quando o bebê nasceu, Martim tinha ido lutar de novo
pela tribo. Seu filho recebe o nome de Moacir, o filho da dor. Iracema sofreu tanto de
saudade e de tristeza, que não conseguiu produzir leite para amamentar seu filho,
Martim chega recebendo o filho e em seguida, Iracema falece.
A obra foi criada como uma lenda da fundação do Ceará e também uma
metáfora entre a cultura branca e indígena, e o processo de conquista do país.
Uma grande história baseada na autoridade do patriarca, é Lucíola, de
Alencar. A trama conta a história de Lúcia, uma mulher de pouca honra, dona das
suas vontades e de seu corpo.
Maria da Glória, uma menina de catorze anos, durante a epidemia de
febre amarela de 1850, vê toda a família cair doente e, para não
deixá-la morrer da febre e da fome, deixa-se possuir pelo Couto, um
vizinho que a possuiu em troca de dinheiro. (COSTA et al., 2009, p.
7).

Ao saber como a menina se salvaria o pai, a expulsa de casa. Jesuína a


adota e continua, assim, vendendo seu próprio corpo para que pudesse sustentar
quem estava ao seu redor. Uma amiga de Maria da Glória, Lúcia, morre, e ela
coloca o seu nome no atestado de óbito da amiga, assumindo seu nome para fugir
daquela vida. Os pais de Maria da Glória ficam sabendo da suposta morte e a
perdoam. Ela passa a continuar linda e rica e torna-se uma cortesã do Rio de
Janeiro, onde aproveita sua vida vivendo na orgia, até que conhece Paulo e se
apaixona. Ela abandonou a vida que levava. Eles têm um filho juntos. Ao final, ela
morre e acaba sendo excluída da sociedade por causa do adultério. Lúcia acaba
engravidando de novo, porém, ela tem complicações na gravidez e descobre que o
feto já estava morto e nega-se a tirá-lo do seu ventre. Por causa disso, ela morre por
complicações obstétricas. Sua morte é vista como um castigo, pois eles não
17

aceitavam que uma mulher de má conduta tivesse um “final feliz”. O romance retrata
a vida cotidiana na cidade e faz uma crítica social às pessoas da época.
Assim como descreve Costa et al (2009, p. 7): “Esse romance faz uma crítica
social aos costumes da época. É considerado um romance urbano, pois fala do
cotidiano e descreve a vida na cidade.”
Por fim, a última obra da trilogia romântica de Alencar: Senhora. Aurélia
Camargo, uma moça jovem e pobre, que mora com a mãe viúva, apaixona-se por
Fernando Seixas, que corresponde ao seu amor. Ele era uma pessoa que se
disfarçava de rico para poder conquistar moças que tivessem dotes financeiros.
Assim, ela troca o nome Aurélia por Adelaide Amaral, por causa de um suposto dote.
Aurélia se sente humilhada pelo feito de Fernando, fica com mágoa e com
muita raiva. Após um tempo, ela recebe uma boa herança. Ainda apaixonada, logo
pensa em se vingar de Fernando, reconquistando-o com o dinheiro ganhado. Ela
pede a Lemos que arrume um noivo para que ela possa se casar e envia uma carta
a Fernando fazendo-lhe uma proposta. Vendo um adiantamento, ele aceita a oferta.
Quando Aurélia se apresenta, ele se sente muito humilhado, pois ele havia rompido
com ela para ficar com Adelaide. Ela chega a chamar-lhe de “homem vendido” na
noite de núpcias. Segundo Couto et al: “essa cena seguem-se dolorosos meses de
humilhações, fingimentos, sarcasmos e hipocrisias.” Fernando, depois de ser
maltratado, consegue juntar uma quantia suficiente a ponto de conquistar a própria
liberdade. Porém, depois que aparecem o perdão e a regeneração pela parte dos
dois, o amor mostra-se forte para reanimá-los. O romance retrata o casamento por
dinheiro e interesse e também discorre sobre o amor. Passa-se no Rio de Janeiro.
Assim como o romance Lucíola, baseia-se na sociedade da época efaz uma crítica
ao tratamento homem e mulher.
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2A MULHER DO SÉCULO XX

A partir do nosso estudo sobre o Romantismo, iremos tratar sobre o


Modernismo. Entendendo assim como surgiu, onde e seu contexto histórico. Assim,
poderemos entender como viveu a mulher moderna nesta época e seu retrato na
Literatura Brasileira.

2.1 Pré Modernismo

Chamado de Pré-Modernismo, o período é marcado por “revoltas,


intervenções militares e inúmeras greves operárias”, segundo Baldacine et al.
(1998).
Neste período, na Europa, acontecia a Primeira Guerra Mundial. No Brasil,
era a política do café com leite, que era forte no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Começou a haver a alternância de poder em nosso país, com o proletariado. Os
imigrantes cada vez aumentavam, tornando-se grandes latifundiários, começando
assim, o progresso de riqueza.
A Guerra de Canudos, que aconteceu na Bahia. Foi quando a população se
uniu com Antônio Conselho por uma revolta contra os coronéis, que queriam tomar
as terras dos sertanejos por torná-las improdutivas. Foi um massacre, pois o
governo da Bahia destruiu a comunidade de Canudos.
Surgiu o Cangaço, com os jagunços, que seriam os capangas do sertão, que
faziam uma espécie de pistolagem. Um deles era Virgulino Ferreira, conhecido por
Lampião, e Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá.
No contexto literário ainda havia os escritores realistas, naturalistas,
parnasianos e simbolistas. Fazem parte do desse período: Euclides da Cunha, Lima
Barreto, Augusto dos Anjos, Monteiro Lobato e as Vanguardas Europeia.
Euclides da Cunha tem como obra-prima: “Os Sertões” (1902), que foi seu
relato sobre a Guerra de Canudos. O autor viu de perto a guerra, pois ele era
correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”. Tratou da batalha entre os
19

sertanejos e os soldados do exército. O livro é dividido somente em três capítulos


para delimitar o meio, a raça e o momento, assim nomeados de A Terra, O Homem,
e A Luta.
João Ribeiro foi desde um poeta parnasiano e crítico literário, segundo Bosi.
Era também filósofo e historiador, com vários livros publicados. Era um humanista
moderno.
Lima Barreto é autor de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Barreto tem uma
escrita do estilo simples e neo-realista, que retratava a vida suburbana do Rio de
Janeiro e era crítico social do nacionalismo ufanista. Também tratou do preconceito
de raça e cor, pois era mulato. Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance em
terceira pessoa, em que se nota maior esforço de construção e acabamento formal,
conforme Bosi (1994, p.319).
Augusto dos Anjos era um poeta com traços modernos, pois usava um pouco
da estilística parnasiana, simbolista e pré-modernista. Ficou conhecido por usar
termos científicos da medicina e da biologia em suas escritas. Escrevia de forma
grotesca sobre a morte, falando sobre cadáveres, carnes podres, corpos em
decomposição, vermes e cemitérios.
Graça Aranha foi um dos fundadores do Movimento de 22. Ele estava na
Europa e voltou para o Brasil com um “espírito moderno”, como diz Bosi (1994). Ele
escreveu os romances Canaã, A Viagem Maravilhosa, A Estética da Vida e de
Espírito Moderno. Aranha sofreu o período recifense. Com ideias revolucionárias e
jurídicas, começou a escrever no estilo moderno. Ele mudou-se para o Espírito
Santo por alguns meses, numa comunidade que havia imigrantes alemães, onde
observara o modo de viver germânico.
“Assim nasceu Canaã, retratos de algumas teses de choques e deleitação
romântico-naturalista das realistas vitais.” (BOSI, 1994, p. 326). Aranha voltou da
Europa, encontrou-se com um grupo modernista, mas ainda não estava formado do
“embasamento filosófico”. Aos poucos, foi formando o conceito moderno com Mário,
Oswald de Andrade e Paulo Prada.
Bosi (1994, p. 326) chama de “coloração cosmicista acentuada” alguns traços
reconhecidos no jeito de escrever de Aranha, Euclides da Cunha e Augusto dos
Anjos.
Monteiro Lobato foi um escritor que teve seu auge na Literatura Infantil.
Porém, também teve seu marco na Literatura Adulta. Nesta última, usava seus
20

contos com ênfase em soluções macabras e com a linguagem no modelo tradicional


realista. Foi criticado também por criar um personagem do interior brasileiro – O
Jeca Tatu – onde se falava sobre o comportamento interiorano, porém,
ridicularizando. Na Literatura Infanto-Juvenil, Lobato escreveu o “Sítio do Pica-Pau
Amarelo”, é o marco do ambiente típico do interior também. A obra tornou-se
conhecida mundialmente, a rede de televisão criou seriados e desenhos animados.
Houve também as Vanguardas Europeias, que foram a transição para o
começo do Modernismo no Brasil. Conhecidas por algo “além do tempo”, pois eram
diferentes de tudo o que já havia acontecido. Serviu de manifesto para alguns
militantes para criticar a política da época. Surgiram próximas à data da 1ª Guerra
Mundial. Foram estas: Expressionismo (1905-1933); Cubismo (1907-1914);
Futurismo (1909-1914); Dadaísmo (1916-1922); Surrealismo (1924).

2.2 Modernismo

Graça Aranha, segundo Bosi (1994, p. 331), foi o único intelectual que passou
do Pré-Modernismo ao Modernismo. Lima Barreto e Euclides da Cunha não se
enquadravam no adjetivo “moderno”. Modernismo seria um “novo código”, algo
diferente do estilo parnasiano e simbolista. Bosi também analisa o fato de que ele
utilizava traços modernos, mas não era moderno como Lobato e Barreto. “E nem os
decadentistas de Guilherme, de Menotti, de certo Oswald parecerá, hoje, moderno”
(Bosi, p. 331).
Entende-se por Modernismo, segundo Alfredo Bosi (1994, p.332): “(...) uma
crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço de penetrar
mais fundo na realidade brasileira”.
O Modernismo, em teoria, é dividido em três fases, que seriam três diferentes
gerações. A Primeira Fase é marcada como histórica, iniciou-se em 1922 e foi até
1930. A Segunda Fase, seria a maturidade, foi de 1930 a 1945. A Terceira Fase é o
Pós-modernismo, de 1945 até a atualidade.
A Semana da Arte Moderna que se realizou no ano de 1922, dá início à
Primeira Fase do Modernismo no Brasil. Com olhar desconfiado do público e da
sociedade tradicionalista e conservadora, os modernistas começaram a satirizar o
parnasianismo, apresentando novos conceitos estéticos e quebrando as barreiras da
arte tradicionalista.
21

Um destaque se deu para o poema “Os Sapos”, de Manoel Bandeira. Que


apesar de não estar diretamente participativo na Semana, teve seu poema escrito
em 1918 e publicado em 1919; foi lido, pois apresentava o espírito desafiador,
diferente e renovador.
A partir de 193, Getulio Vargas começa a governar o Brasil, substituindo
Washington Luis, dando início a uma nova fase no país.
No Brasil, conforme Baldacine et al. (1998), “o período que se estende de
1945 a 1985 é marcado por uma série de fatos que causaram profundas
transformações e alguns traumas na sociedade brasileira”, que seriam: a queda de
Getúlio aos anos JK (1945-1956); Os anos JK (1956-1960); Jânio, Jango e a
ditadura (1961-1964); Os anos de autoritarismo (1964-1984) e a Nova República
(1985-...). Nos anos de Juscelino Kubitschek, marcou os seguintes autores, surgidos
em 1945:
Paralelamente, a literatura renova-se, sobretudo com Clarisse
Lispector e Guimarães Rosa. É também um grande momento da
crônica, com Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes
Campos e Carlos Drummond de Andrade. (Baldacine et al., p. 11,
1998).

Os autores que marcaram a primeira fase foram Oswald de Andrade, Mário


de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Menotti Del piccia, Guilherme de
Almeida, Ronald de Carvalho e Raul Bopp.
Nesse momento, Oswald de Andrade é conhecido por “Antropólogo do
Modernismo”, segundo Cereja e Magalhães (2013, p. 411). Casou-se com Tarsila do
Amaral em 1926 e, em 1930, após uma crise econômica financeira, passa a
relacionar-se com a comunista Patrícia Galvão (Pagu). Ele teve muitas obras
marcadas e participou de alguns grupos modernistas brasileiros.
Mário de Andrade com sua cultura muito vasta e com muita pesquisa,
também foi importante. Mário escreveu Macunaíma, considerada uma das obras
mais marcantes da 1ª fase do Modernismo. Macunaíma é o anti-herói brasileiro, um
índio.
Na 2ª fase (1930 – 1945) temos os principais autores: Rachel de Queiroz,
José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Érico Veríssimo. “O Romance
de 30 constitui em um dos melhores momentos da ficção brasileira” (Cereja e
22

Magalhães, 2013, p. 444). Essa fase registra a miséria, a ignorância, a opressão no


trabalho.
Uma das obras marcantes dessa fase são Vidas Secas (1938) de Graciliano
Ramos, que registra a miséria e a seca nordestina do Brasil, a falta de
oportunidades sociais. Vidas Secas narra a história de uma família, com sua
cachorra Baleia, que sai de onde mora para fugir da vida que levava de miséria. A
linguagem é personificada, e marcada por personagens comparados a animais e, o
animal da história, a cachorra, é o personagem mais humano.
A poesia da segunda geração modernista foi, essencialmente, uma
poesia de questionamento: da existência humana, do sentimento de
“estar-no-mundo”, das inquietações social, religiosa, filosófica,
amorosa. Carlos Drummond de Andrade é o poeta que melhor
representa o espírito dessa geração, e sua produção poética constitui
um dos pontos, mas altos da nossa literatura. (CEREJA E
MAGALHÃES, 2013, p. 492).

Um dos autores com ênfase não só pelo momento histórico, mas como poeta
gratificante tem Carlos Drummond de Andrade. Um escritor muito importante para a
Literatura. Fazendo uso de versos livres, linguagem simples. Assim ressalta Cereja e
Magalhães (2013, p. 494): “um desses escritores que aparecem de tempos em
tempos e conseguem apreender e refletir poeticamente as inquietudes de uma
época, tal qual Camões e Fernando Pessoa.”
Drummond, segundo os autores, tem quatro fases e cada uma delas
complementando à outra. Seriam elas: a fase gauche, onde ele fala de consciência e
do isolamento, onde não vê esperança em nada, nem no amor; a fase sentimento do
mundo, onde tem um livro com esse nome, falando das “contradições entre o eu e o
mundo”; a fase do não, pois mostra ainda mais seu pessimismo e por fim, a fase do
tempo da memória, onde o autor retorna à infância psicologicamente, trazendo-a aos
seus poemas.
Outro autor que marca a 2ª geração é o poeta e compositor, Vinicius de
Moraes. Foi um dos fundadores da Bossa Nova, mas que antes disso, já tinha vários
poemas registrados e o livro Antologia poética (1955). Ele também teve duas fases:
a transcendental e a outra, a repulsa ao idealismo. Escreveu sobre as mulheres e
seus amores, tendo poemas sensuais e sociais, tendo vários sonetos registrados.
Assim, depois que acabou a Segunda Guerra Mundial, houve um novo
período na história brasileira, marcado pelo período econômico desenvolvido,
23

democratização e cada vez mais, a inovação artística. Assim surgiu a Literatura


Contemporânea. Surgindo uma nova “pesquisa em torno da linguagem”.
Guimarães Rosa foi um marco para a Literatura. Ele trouxe um estilo novo,
revolucionou a linguagem, criando neologismos na formação de palavras.
Guimarães falava sobre o regionalismo brasileiro, visando o sertão. Transcendia o
olhar de mero sertão a algo grandioso. Fazia críticas e criava a visão metafísica em
seus textos. O texto que marcou sua literatura foi “Grande sertão: veredas”.

2.3 O papel da mulher na Literatura

Começaram a surgir debates de uma nova concepção de como seria a


mulher moderna e seu atual espaço na sociedade. A partir do século XX, as
mulheres puderam assumir atos que não poderiam antes. Assim como a escrita,
somente a partir da modernidade é que surgiram mulheres escritoras que pudessem
assinar seus nomes sem problemas sociais.
Os escritores sempre puderam escrever para as mulheres, cada um
dependente do seu estilo e momento histórico. Camões foi um dos pioneiros,
escreveu poemas de amor para suas amadas nos anos de 1500, até chegar a
Vinicius de Moraes, um dos nomes mais conhecidos por sua poesia sedutora.
Como já vimos nesse trabalho, a mulher, em seu papel principal, teve que
batalhar, com muito esforço e determinação, até conquistar um espaço na
sociedade, já que antigamente, só “serviam” para cuidar da família.
Na Literatura, começando no Trovadorismo, as canções de amor falavam da
beleza, da graça da mulher e, nas canções de amigo, eram confidências da mulher
sobre seu amado e mesmo assim, os dois tipos de canções eram escritos pelos
homens. Depois, ao longo do tempo, a mulher era julgada por causarem
sentimentos ruins ou estranhos no homem. Por isso, no Trovadorismo, surgiram as
histórias mais conhecidas por Contos de Fadas, onde a mulher é delicada, frágil,
que, pelos belos príncipes fortes e heróis, eram ganhas como prêmios de
merecimento; parecendo sempre para salvarem suas damas com beijos mágicos.
As mulheres ganhavam forma de inacessíveis, amores platônicos, chamadas de
Anjos. Com Gregório de Matos conhecemos Marília, a tão amada de Dirceu.
Assim como já retratamos, o Romantismo surgiu para quebrar os paradigmas
sobre as mulheres, os autores as retratavam como perfeição. O Romantismo é a
24

época de William Shakespeare e Lord Byron, na Inglaterra, Victor Hugo na França;


no Brasil, temos Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves como
principais nomes.
No Realismo, como o próprio nome já diz, a mulher é marcada pelo real, o
concreto, sem todo aquele mistério que a envolvia antes. No Brasil, o autor que
marca o Realismo é Machado de Assis. Ele escreveu mais de 200 contos, cada um
retratando um exemplo de mulher diferente. Sua obra principal é Dom Casmurro,
que apresenta sua personagem Capitu é uma das mais famosas já existentes.
Capitu é marcada por falar de traição, ele fez crítica sobre o papel da mulher na
sociedade.
Seguindo a sequência cronológica, temos o Naturalismo com a obra O Cortiço
de Aluísio de Azevedo. As características dessa fase são marcantes, apesar de não
usarem mais o realismo tão expressivo como no período anterior. Uma das
personagens principais é Rita Baiana, uma mulata forte, rainha do cortiço e claro, a
dona do coração de Jerônimo, um português quase brasileiro por amor.
No Parnasianismo, não há espaço para a mulher ou para a beleza delas, a
característica principal desse período é o culto à forma, à absoluta precisão métrica
e estilística. Porém, como sempre há exceções, Olavo Bilac é o parnasiano brasileiro
que foge desse padrão. Ele fala da mulher com o ardor de um amante e não do
literato frio e comedido.
Com o Simbolismo, temos as sensações afloradas: cores, cheiros, formas,
sons. Um movimento forte, que inspirou muitos autores que vieram seguidamente.
Por fim, temos no Modernismo as mulheres pintam, escrevem que deixam de
aparecer somente como personagens e passam a protagonizar a Literatura no todo.
Como autoras principais deste período temos: Clarice Lispector, Cecília
Meireles, Rachel de Queiroz e Cora Coralina.
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza – Ceará (1910 - 2003) e, aos cinco
anos migrou para o Rio de Janeiro por causa da seca. Aos 17 anos, já em Fortaleza
de volta, foi professora de ensino infantil e, aos 20, com a publicação de O Quinze
(1930), já se tornara conhecida. Escreveu poemas e crônicas relacionadas às
denúncias sociais e as relações eu/mundo; falando sobre o regionalismo e a seca da
sua terra; contém linguagem simples e clara. Foi à primeira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras.
25

Cecília Meireles, segundo Cereja e Magalhães (2013, p. 514), “desenvolve


uma poesia intimista e reflexiva, da profunda sensibilidade feminina”. É considerada
a primeira grande escritora da literatura. Também foi professora, se formando em
magistério, escreveu para quase todos os jornais cariocas da época. Cecília é muito
conhecida por poetisa, mas ela colaborou também para as crônicas, contos e
literatura infantil, onde tem um livro usado nas escolas chamado “Ou Isto ou Aquilo”
que brinca com a imaginação das crianças. Suas principais características são: o
sentimento de que a vida é efêmera, passageira, e nossa esperança é a
imortalidade.
Cora Coralina teve seu primeiro livro publicado aos 75 anos em 1965. Ela tem
como tema em suas obras a confiança nas pessoas e na vida social. Tem uma
linguagem delicada e simples, própria do cotidiano.

2.3.1 A autora: Clarice Lispector

Clarice Lispector fez parte da terceira geração do modernismo: a


contemporânea. Ela nasceu em Tchetchenillk, uma vila pequena na Ucrânia, em
1925, um ano antes de a família migrar da Rússia para o Brasil, parando na Ucrânia
para terem a filha, que nunca mais voltara para o lugar onde nasceu. Cresceu em
Recife e ficou órfã da mãe quando tinha 12 anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro e
começou a escrever seus contos assim que foi alfabetizada. Formou-se em Direito,
casou-se em 1943 com um colega da faculdade e, um ano depois teve publicado
seu primeiro livro: Perto do Coração Selvagem.
Com o marido, teve que morar em vários países, vivendo quinze anos fora do
Brasil, enquanto dedicava-se totalmente a escrever. Separando-se do marido, voltou
a Brasil e começou a morar no Rio de Janeiro. Faleceu em 1977 em plena atividade
literária, pois sofria de um câncer generalizado.

Clarice Lispector é um dos três principais nomes da 3ª fase modernista (junto


a Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto) e uma das mais expressivas
escritoras da Literatura Brasileira. Os críticos, acostumados com o Romance de 30,
estranharam o jeito novo da jovem Clarice e apontaram falhas, as de construção
principalmente. Lispector é marcada por quebrar a seqüência psicológica e
26

cronológica (começo-meio-fim). Ela usava técnicas novas de impressão, com figuras


de linguagem e de escrita.
A autora tem um aspecto inovador na linguagem: o fluxo de consciência. Este,
não é como a instropecção psicológica que faz o leitor saber exatamente o que
acontece psicologicamente com os personagens, entendendo o espaço-tempo e
passado/futuro normalmente. O fluxo tem como características, segundo Cereja e
Magalhães (2013, p. 543) “quebrar os limites espaço temporais que tornam a obra
verossímil”, e complementa: “por meio dele, presente e passado, realidade e desejo
se misturam”. A técnica de consciência foi muito utilizada por um autor de literatura
inglesa, James Joyce.
Além do fluxo de consciência, acontecem também momentos de epifania, que
segundo religiões, significa revelação. É quando a personagem, profunda no fluxo, é
interrompida quando esse momento de revelação acontece; isso pode ser um
encontro, um beijo, um olhar... A personagem, a partir disso, passa a ver e perceber
sua vida e o mundo ao seu redor de maneira diferente.
Mas, como toda boa literatura, sua produção acaba por envolver
outros universos. Sua obra não deixa de ser social, filosófica,
existencial e metalingüística. O último livro que publicou, por
exemplo, A hora da estrela (1977), é uma narrativa que, entre outros
aspectos, aborda a condição social de uma migrante nordestina no
Rio de Janeiro e faz reflexões existencialistas sobre o ser humano, a
condição e o papel do escritor moderno e a história própria escritura
literária. (CEREJA E MAGALHÃES, 2013, p. 544)

Clarice não aceitava um rótulo de “escritora feminista”. Porém, na maioria dos


seus romances têm personagens femininas como protagonistas, são urbanas, fortes,
reais. Contudo, ela usa da experiência pessoal e do ambiente de família para
escrever. Considerada “intimista e psicológica por Cereja e Magalhães, ela retrata a
essência humana e a universal, o eu e o mundo, o vazio familiar e a própria
linguagem.
27

3. MACABÉA – A PROTAGONISTA

Neste capítulo, trataremos a construção da feminilidade da personagem


principal,Macabéa. Uma mulher nordestina, que sofreu muito desde criança. Perdeu
os pais aos dois anos e foi criada por uma tia beata, que a maltratava com a
intenção de nunca criá-la para ser uma mulher vulgar.

3.1 A mulher romântica e moderna

Este trabalho surgiu do questionamento de que a obra A Hora da Estrela,


causa um questionamento essencial, com várias respostas. Uma delas é o próprio
título, onde, Clarice, ou Rodrigo S.M, o narrador do romance nos afirma: “Pois na
hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória
de cada um e é quando como no canto coral se ouvem agudos sibilantes”
(LISPECTOR, p. 29). Ou seja, ele já nos mostra que o ápice da vida de alguém é a
própria morte, pois, via uma estrela.
Porém, como visamos, o trabalho trata da comparação entre a mulher
romântica do século XVIII e a mulher moderna do século XX.
Macabéa, uma jovem de dezenove anos, nordestina, passou várias
dificuldades, até se mudare para o Rio de Janeiro, onde sua tia arrumou-lhe um
emprego de datilógrafa.
Rodrigo M. S. é quem narra toda a história de Macabéa. Este, expõe seus
sentimentos sobre a protagonista, chegando a afirmar que a ama. Por ser
onisciente, ele sabe de tudo o que acontece com ela. O narrador coloca certo
preconceito com a personagem, por ela ser mulher e nordestina. Nas primeiras
páginas, ele fala sobre a felicidade (p. 11-12): “Felicidade? Nunca vi palavra mais
doída, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes”.
28

Rodrigo narra a chegada da jovem ao Rio de Janeiro, observando que a


jovem se sente perdida na cidade nova. Logo após, ele diz que não tem piedade da
protagonista, que esse é um relato frio sobre ela.
O narrador assim define o corpo de Macabéa: “Mas a pessoa de quem falarei
mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não falta a
ninguém.” O narrador na mesma página diz que para falar sobre o romance “precisa
ser um homem, pois mulheres lacrimejariam ao escrevê-lo”, querendo dizer que a
história relatada é muito triste e que as mulheres, por serem sensíveis, chorariam.
Como já pudemos ver no Romantismo as mulheres eram valorizadas por causa da
virgindade e da sensualidade, eram idealizadas e fonte de inspiração. Nessa obra,
no Modernismo, o narrador afirma que ela é virgem e que não pertence a nenhum
homem, remetendo-se a uma comparação que enfatiza um ponto positivo da mulher
no período do Romantismo.
Macabéa, segundo Rodrigo, é um jovem de 19 anos e que morria de fome,
era magricela e tinha uma “delicada e vaga existência”, assim como as mulheres
românticas da época estudada, que eram graciosas e belas também. Ao relatar a ida
dela ao Rio de Janeiro, ele se mantém contra, supondo que a cidade não é para ela,
para sua realidade e que ela deveria ter ficado em seu Estado, com seu vestido
simples e sem o emprego de datilografia. Mesmo assim, ele comenta que, quando
ela se torna datilógrafa é quando ganha uma dignidade na vida. Percebe-se que a
mulher com a profissão é uma realidade contemporânea, própria do século XX, onde
conseguiram esse direito.
O narrador chama a atenção, novamente, ao seu preconceito em relação à
moça: “Quero neste instante falar da nordestina. É o seguinte: ela como uma cadela
vadia era teleguiada exclusivamente por si mesma. Pois se reduzira a si”. Neste
trecho fala-seem como uma pessoa é conduzida conforme seu destino, guiada por si
mesma para realizarque está proposto para si. Ele também diz que para se por no
nível de Macabéa, ele precisaria se vestir com roupas velhas e rasgadas, ou seja,
humilhando-a.
Retornando à santidade e virgindade, Rodrigo usa uma metáfora: a borboleta
branca (p. 21), dando a entender como seria o casamento dela, voltando à prática
romântica e que, pelo jeito dela recolhido e sua pobreza na alma (ingênua), ele
conseguiria, talvez, tocar na sua santidade.
29

Rodrigo afirma, na página 22, que ela é uma entre milhões de mulheres,
única, mas a compara com as moças magricelas, ou seja, mulheres débeis, que não
tem força e que sim, ela é uma pessoa física. E que a moça nunca tinha se visto nua
na vida porque tinha vergonha: “Vergonha por pudor ou por ser feia?”.
Há uma frieza novamente, na página 23, nas palavras dele, ao dizer que ela
não precisa fazer nada na vida de extraordinário, que só respirar lhe basta. O
narrador, neste instante, afirma que Macabéa era uma pessoa que não tem
competência, que não tinha mais jeito na vida. Sobre o emprego, quando seu chefe,
no momento de demissão, fala com modo bruto com ela, com um jeito submisso,
esperando ele completar que só manteria Glória no emprego, porque Macabéa
errava demais na escrita e deixava os papéis sujos. O senhor Raimundo Silva ficou
espantando quando a moça pediu desculpas pelo aborrecimento lhe causado e com
isso, ele percebeu o quanto ela era delicada e disse que seu adeus poderia demorar
mais uns dias, voltando atrás com o que já tinha dito.
“Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha.
Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.”, assim, na página 25, percebe-
se a forma do narrador dizer como ela era, levava sua vida comumente, sem prazer,
sem ganhos, sem sorte, sem felicidade e família. Só era ela mesma.
Após a cena da demissão, a personagem se olha no espelho e, por um
momento, ela não vê seu reflexo no espelho, e num fluxo de consciência, o narrador
recorda um momento de infância dela, quando a tia lhe dava medo, dizendo que
apareceriam vampiros para lhe dar medo e ela acreditava e tinha isso como um
trauma de infância, pois vampiros não têm reflexo e por um momento, ela pensou se
era um vampiro também.
Mais uma cena de uma moça marcada pelo período romântico, o narrador
comenta que desde pequena ela sabe cerzir, ou seja, fazer pequenas costuras e
consertos em roupas. Macabéa, segundo ele, só não sabe o que era infelicidade,
porque na verdade, ela ainda tinha um estado de graça, uma certa fé. Remetendo-
se novamente a este período, ele a chama de doce e obediente, palavras que nos
lembram de como as mulheres eram submissas no período romântico, e até o século
XX, onde, como já estudado, as mulheres só eram “úteis” para servir os homens.
Porém, como uma mulher moderna, Macabéa usava maquiagem, porque
disfarçava algumas manchas que tinha no rosto, mas ela era suja, não se limpava
corretamente. Usava sempre o mesmo estilo de roupas: saia e blusa de dia e um
30

conjunto de pijamas à noite. Rodrigo diz que ela não tinha encantos e que ninguém
olhava para ela na rua. “Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela”. Aqui vemos um
“amor não correspondido”, como nos Romances.
A tia beata batia na moça por puro prazer sexual, mas não se casara porque
tinha nojo e queria evitar que a sobrinha virasse uma mulher da noite, que espera
seus homens com cigarro. Vemos novamente a figura contemporânea, pois as
mulheres só puderam ter essa liberdade depois de muita luta. “Pois até mesmo o
fato de vir a ser uma mulher não parecia pertencer à sua vocação” e que a única
paixão na sua vida era goiabada com queijo. Mas a beatice da tia não foi passada à
Macabéa, porque mesmo depois de falecida, a sobrinha não freqüentava as Igrejas.
O narrador traça uma comparação dela com moças antigas na página 31:
“embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura
bíblica”. Portanto, mais uma vez aparece o Romantismo complementando o
Moderno, na página 32: “quanto a ela, até mesmo de vez em quando ao receber o
salário comprava uma rosa”. A flor rosa para as mulheres tem um significado ímpar,
é considerado um dos presentes preferidos, considerados românticos.
Macabéa, às vezes, sonhava que a tia lhe batia na cabeça e sonhava também
com sexo. Mas quando isso acontecia, ela se sentia culpada e rezava várias
orações, mesmo sem acreditar diretamente em Deus. E ela, quando ficava triste,
achava bom, mas não desesperadamente “pois isso nunca ficara já que era modesta
e simples, mas aquela coisa indefinível como se ela fosse romântica” (p. 34).
Percebe-se que ele chega a pensar no romantismo dela, mas que isso não era
concreto. Tinha como luxo: ir uma vez ao mês ao cinema e pintava as unhas de
vermelho escarlate. Não comia em restaurante, pensava que só comiam sozinhas
as “francesas desfrutáveis”. Dançava sozinha de vez em quando e se sentia livre
com isso.
Acontece um momento marcante para a protagonista: seu primeiro encontro
com Olímpico, o futuro namorado. Foi em maio, mês das borboletas brancas (as
noivas virgens). No meio de uma chuva, os dois nordestinos encontraram-se numa
espécie de reconhecimento. Bastou ela o ver para se apaixonar. Ele, portanto,
vendo-a, se aproximou iniciando uma conversa: convidando-a para sair. Ela,
espontaneamente, disse que sim. Ela fala seu nome e ele zomba, dizendo que
parece nome de doença, a moça concorda, explicando que ganhou esse nome por
uma promessa da mãe. Macabéa caiu no amor profundo: “Mas ela já o amava tanto
31

que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor”, diz Rodrigo
na página 44. Ele, portanto, não era tão ingênuo quanto ela e sentia desejo. Eram
contemporâneos, tinham seus espaços sociais no mundo, o metalúrgico e a
datilógrafa. Ele era como os conhecidos no nordeste, chamados de “cabra safados”.
“Macabéa era na verdade uma figura medieval e ele, uma “peça-chave”. Ela
pensava em se casar. Quando Olímpico comentou que seria um dia deputado na
sua terra, ela logo pensou se seria deputada também; que na sua ignorância, seria a
mulher do deputado. O namoro dos dois era ralo, com conversas paralelas, onde
não tinha propósito. Diálogos que a deixavam intimidada, pois ele queria parecer um
grande homem inteligente, mas não era também. Ela comenta que chorou uma vez
ouvindo música e demonstra sua delicadeza a ele.
Diz também que toda vez que o chefe a paga ela vai ao cinema e que seu
sonho era ser artista, ele logo a zomba novamente, dizendo que ela não tinha porte,
corpo ou jeito de artista, que ela tinha cor suja e nunca seria uma. Eles, como dito,
eram um casal moderno. Ela não dava despesas a ele, pois ele não pagava nada
para ela, a não ser um dia que ele pagou um cafezinho. “(...) você me custou um
pouco, um cafezinho. Não vou gastar mais nada com você, está bem?” (p. 55). Ele
chega a ser sincero demais com a moça, dizendo que ela não custava muito. E ela
pensou que ele não devia pagar nada a ele mesmo, pois tinha vergonha. Macabéa
continuou a pagar suas próprias entradas aos lugares que iam passear.
Olímpico se viu como um homem com a honra lavada, porque já havia
matado e roubado; ele roubava sempre tudo o que podia. A única gentileza que ele
teve com a moça foi dizer que se um dia ela fosse demitida, ele arranjaria um
emprego de metalúrgico a ela. Foi então que Rodrigo sentiu compaixão na página
59: “Ah pudesse eu pegar Macabéa, dar-lhe um bom banho, um prato de sopa
quente, um beijo na testa enquanto cobria com um cobertor. E fazer que quando ela
acordasse encontrasse o grande luxo de viver.”
Quando Olímpico deu por si, não sentia prazer nenhum em namorá-la, pois
ela não tinha força de viver, ele viu pela primeira vez Glória. Esta, por sua vez, tinha
uma mistura de sangue português com um jeito de mulata e, com isso, Olímpico
ficou impressionado. Logo ficou interessado pelo corpo dela, tinha bons quadris.
“Macabéa só pensava no dia em que ele quisesse ficar noivo. E casar.”, dito
na página 59. Quando, em poucos dias, ele a encontra para dizer que estava
terminando o relacionamento com ela e que já havia marcado encontro com outra e
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que era Glória. “Macabéa bem viu o que aconteceu com os Olímpico e Glória: os
olhos de ambos se haviam beijado” (p. 60)
Olímpico diz que tinha nojo dela, que era como cabelo na sopa. Ela se sente
humilhada e não vê a hora de ir embora para sentir saudades. Porém, mesmo ela
com o corpo feio, era sensual, tinha luxúria.Macabéa se viu rindo, pois não
conseguia chorar. Ela se deu conta que seu desejo era ter carne, engordar, para ter
um corpo como o de Glória e se sentiu desesperada. No outro dia, quis dar uma
festa para si mesma, comprou um batom vermelho e chegou toda pintada no
trabalho, sendo motivo de chacota de Glória. As duas começaram uma discussão,
chamando-as de feias, perguntando-as se doía serem feias. Rodrigo comenta que
Deus era misericordioso com ela e que dava o que lhe tirava, como o estado de
graça.
Rodrigo comenta de Glória de uma maneira grossa, dizendo que ela era só
uma colega, era roliça, cheirava mal, não se depilava e clareava os pelos da perna.
Olímpico tinha delírio, imaginava se nas partes de baixo ela era loira também. Glória
preocupava-se com Macabéa, tinha um sentimento materno.
Macabéa queria ser sensual, queria ser como Greta Garbo e parecer com
Marilyn Monroe, duas mulheres marcantes na história da arte, Greta foi eleita como
uma das maiores lendas do cinema e Marilyn, um dos maiores símbolos sexuais. Ela
pensava que Greta deveria ser a mulher mais importante do mundo.
Depois de descobrir que estava doente, mas não entendendo nada do que o
médico disse, ela foi conversar com Glória. Ela disse para Macabéa procurar uma
cartomante, para saber como seria seu futuro e a moça aceitou. Chegando ao local,
ela se sentiu deslumbrada, vendo imagens e pessoas que nunca tinha visto. A
cartomante come em sua frente bombons e não oferece nenhum. A Madama Carlota
fala da sua vida passada, que era pobre e virou prostituta para ganhar dinheiro,
abriu uma casa de mulheres, ficou rica e saiu de lá; levou sua vida até virar
cartomante.
Madame Carlota acertou tudo na vida da moça, disse que mal conhecera os
pais, que foi criada por uma tia má e que a educou para ser mais fina e
complementou o presente, dizendo que ia perder o emprego e que já havia perdido
o namorado. Ela diz que a vida de Macabéa iria mudar, estava iluminada. Que a
partir do momento que a moça saísse da sua casa começaria a mudança na vida,
que o namorado estava arrependido e o chefe lhe daria outra oportunidade.
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Macabéa teve esperança. Complementou dizendo que apareceria um estrangeiro na


sua vida e lhe daria muito dinheiro.
“Sobretudo estava conhecendo pela primeira vez o que os outros chamavam
de paixão: estava apaixonada por Hans” (página 78). Hans era o estrangeiro que
“apareceria” na sua vida, se apaixonaria, faria engordar e andar com as melhores
roupas. Como uma romântica, estava ela apaixonada por algo que nem lhe tinha
acontecido.
Na saída, agradecida, deu-lhe um beijo no rosto e já se sentiu feliz, porque
sabia que era bom beijar. “Quando ela era pequena, como não tinha a quem beijar,
beijava a parede. Ao acariciar ela acariciava a si própria. (...) Sentia em si uma
esperança de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida.” Assim, na
página 79, vemos a esperança na moça. Que durou pouco.
Ao atravessar a rua, uma Mercedes a atropelou. Como estava sentindo sua
vida mudar, deu tempo de perceber que o carro era de luxo e que a Madama havia
acertado novamente. “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia da minha vida: nasci”.
Olímpico acertou em dizer que ela só sabia chover, pois ali, caída na sarjeta, suja de
sangue, começara uma leve chuva.
“Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de
Macabéa. (...) O destino da mulher é ser mulher” (página 84). A protagonista lutou
consiga mesma, deu-lhe um último abraço e morreu. O narrador pergunta-se qual é
o peso da luz para falar de morte da vinda de Deus. Lembra-se que todos morrem e
se indaga se um dia ele morrerá também.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que pode ser confirmado com esse estudo, desde o princípio, com base
nas pesquisas bibliográficas e nos livros, é que a mulher conseguiu seu espaço na
sociedade. Mesmo com muita luta social, a mulher, ao longo do tempo, teve várias
mudanças. Passou de boa dona de casa à mulher trabalhadora, que sai todos os
dias para conseguir seu “ganha-pão” e ajudar nas despesas. Percebe-se isso a
partir do primeiro capítulo desse trabalhando, no qual estudou-se algumas
considerações históricas no Brasil, falando de algumas guerras e revoluções, até
atingirem a nova Constituição com o Presidente Getúlio Vargas.
No período do Romantismo, podemos constatar que as mulheres eram
idealizadas, porém, já apresentadas com personalidades fortes. Tratando de
Iracema, Lúcia e Aurélia (personagens de José Alencar), vemos que as três são
mulheres dessa época, porém que são fortes, que conquistaram seu espaço e
lutaram o máximo para serem realizadas. E, com isso, estudamos o Modernismo,
conhecendo essa “nova era” que mudou o Brasil. Movimento que trouxe inovações,
vindas da Europa, quando o artistas brasileiros revolucionaram com seus poemas,
pinturas e músicas. Conhecendo também as três fases desse período: seus autores,
Lispector, uma mulher que se naturalizou no Brasil, escreveu vários romances e, o
estudado, “A Hora da Estrela”, traz uma personagem significativa: Macabéa.
Uma jovem simples, humilde e humilhada por várias pessoas do seu âmbito.
Ela, que saiu do sertão do Alagoas para morar no Rio de Janeiro para um emprego
de datilógrafa – mesmo que semi-analfabeta. Quase foi despedida do emprego,
traída pelo namorado com a melhor amiga e passou por vários conflitos até chegar
sua morte.
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Vemos então, os traços românticos e modernos de Macabéa, com uma


análise crítica, comentando os pontos de algumas partes importantes do romance
sobre a protagonista que ganha seu salário, vai ao cinema no dia do pagamento,
dá-se rosas e sonha com o casamento. Além da narração significativa, Rodrigo S.
M., mesmo dizendo que a ama, humilha-a várias vezes com suas palavras
REFERÊNCIAS

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1994.

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Mateus – ES. 1998

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diálogo com outras literaturas e outras linguagens / William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães – 5. Ed reform – São Paulo: Atual, 2013.

COSTA, S.; FRAGA, N.; SILVA, P. Iracema, Lúcia e Aurélia: três personagens
femininas sob o olhar de um escritor romântico. Ituverava, SP. 2009.

FERREIRA, Júlio Flávio Venderlan. Romantismo: a formação da literatura


brasileira.Revista Vozes dos Vales da UFVJM: Publicações Acadêmicas – MG –
Brasil – Nº 02 – Ano I – 10/2012.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1998. 1ª Ed.

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mulheres de papel e as veredas da identidade feminina. Pau dos Ferros, 2010.

SOUZA, Ainda Kuri. A personagem feminina na literatura brasileira. Criciúma –


Santa Catarina, 2005.

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