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CONSUMO:
UMA PERSPETIVA SOCIOLÓGICA
RECENSÃO CRÍTICA
O CONSUMO:
uma perspetiva sociológica
Ana Sofia | 37448 | CPRI
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Ana Sofia Pedrosa |37448 - O Consumo: uma perspetiva sociológica
Índice
Introdução ................................................................................................................ 4
Conclusão ................................................................................................................ 16
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Introdução
Este trabalho consiste numa recensão critica do trabalho realizado para a cadeira
de Sociologia, com o tema O consumo: Uma perspetiva Sociológica, proposto pela
professora Antónia Barriga.
O tema deste consiste num estudo realizado pela Mestre em Sociologia, Raquel
Ribeiro, para o VI Congresso Português de Sociologia, com a temática Classes,
Desigualdades e Politicas Publicas.
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1. Introdução
O fenómeno do consumo, é caracterizado pelo aumento de rendimentos e pelo
constante aumento da oferta, tendo-se tornado um dos pontos fulcrais da nossa
sociedade e como tal torna-se importante o estudo deste fenómeno na sua vertente
mais sociológica. Esta procura perceber o porquê, o quê, para quê, por quem e para
quem cada um de nós consome. Podemos então, definir consumo como “qualquer
atividade envolvendo a seleção, compra, uso, manutenção, reparação e destruição de
qualquer produto ou serviço”. Podemos ainda identificar no consumo vertentes
inerentes à natureza humana como a satisfação de necessidades ou desejos, de
comunicação de superioridade e distinção social, e até de demonstração de sucesso e
de poder.
Afim de melhorar o conhecimento acerca da sociedade de consumo foi realizado um
estudo, da autoria da Mestre Raquel Ribeiro, para o VI Congresso Português da
Sociologia, tendo como temática principal as classes, as desigualdades e as politicas
publicas da nossa sociedade.
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4. Desenho da pesquisa
a. Modelo de análise
No consumo conjugam-se variáveis de cariz sociocultural, demográfico, político
e económico. Desta forma, o consumo tem três funções principais: a função social, a
privada e a identitária, que têm origem em 3 mecanismos diferentes.
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c. Metodologia e Amostra
Uma vez que foi constatado que uma abordagem qualitativa era a que faltava
neste campo decidiu-se realizar entrevistas a inquiridos com o intuito de explorar toda
esta temática do consumo como forma de influência e distinção social. Deste modo, a
população a estudar incluiu indivíduos entre os 18 aos 45 anos (em três fases da vida
distintas: construção de identidade sem recursos financeiros próprios; construção de
identidade com recursos financeiros próprios e consolidação de identidade) e focou-se
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em duas cidades diferentes Lisboa e Leiria de modo a também assim comparar a forma
como o meio onde o individuo está inserido altera a sua perceção desta problemática.
5. Resultados
Após a realização dos inquéritos verificaram-se pontos interessantes como o facto
da Igualdade de direitos da população em geral ser percecionada como razoavelmente
elevada nas duas cidades, contrariamente à opinião em relação à igualdade de
oportunidades que se mostra baixa. Podemos, assim, concluir que, no ponto de vista da
população inquirida, direitos iguais não se traduzem necessariamente em
oportunidades iguais.
Foi também alvo do estudo a evolução da igualdade nos últimos 20 anos sendo
que se concluiu que a igualdade entre sexos e de acesso à educação foram aquelas que
mais aumentaram e que por outro lado, a igualdade económica é aquela em que se
verifica uma diferença de opiniões mais acentuada entre os dois meios estudados com
os inquiridos de Lisboa a considerarem que existiu uma maior evolução neste campo do
que os inquiridos de Leiria.
Por fim, e como temática principal do estudo, encontramos a análise daqueles
que são os critérios mais significativos para a distinção entre classes e de que modo o
consumo se enquadra nesta temática. Ficamos a saber que, para a amostra de estudo
de Leiria, é dada uma maior importância ao consumo e posse de bens aquando da
diferenciação de classes sociais do que para a amostra de estudo de Lisboa que, por sua
vez, considera o mérito (expresso maioritariamente através do sucesso escolar e
profissional) como o principal indicador de superioridade social.
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6. Conclusão
Após analisar os resultados podemos considerar que a estratificação social é um
tema muito importante para os agentes sociais, uma vez que estes são seres conscientes
que existem desigualdades (especialmente económicas) e disparidade de direitos e
oportunidades na sociedade portuguesa, devido à crise entre outros.
Assim, os resultados apontam para uma maior importância do saber, do
conhecimento e do mérito (académico e profissional) numa cidade maior, enquanto que
num meio menor o destaque dado ao consumo e às suas manifestações adjacentes
(marcas, lojas, locais frequentados) é superior. Aceitando-se que o pensamento das
cidades maiores pode ser assumido como precursor das tendências nacionais, logo os
consumos relevantes para a estratificação poderão vir a ser, no futuro, sobretudo no
foro cultural, tecnológico e escolar (e menos do foro “material”), a confirmarem-se os
pressupostos e os resultados preliminares do presente estudo.
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• Bourdieu
Pierre Bourdieu parece lançar um olhar mais panorâmico sobre a construção do
gosto da classe média. Sem ter um caráter histórico, aborda o momento de emergência
de uma classe “pequeno-burguesa”, composta por trabalhadores de outras áreas que
não as fábricas. Assim, coloca em comparação com essa classe média, as classes alta e
baixa, assim como os diferentes modos de aquisição de cultura – o gosto estético,
principalmente – são resultado de gostos próprios das classes, local onde as escolhas
são também constituintes de diferenciação.
Pierre Bourdieu afirma que o habitus, princípio gerador de todas as práticas,
reside no gosto individual, mas acaba por se assemelhar entre todos os membros de
uma mesma classe: o habitus define, portanto, os estilos de vida das classes sociais. Para
o sociólogo, é possível identificar então uma repetição nos padrões de escolha dos
indivíduos: cada esfera do estilo de vida ¬–uma prática social, um objeto consumido, ou
uma propriedade – é representante quase sempre também de outra esfera. No limite,
pertencer a um grupo significaria excluir tudo o que pertence a outro grupo, e o
conjunto de escolhas passa a ser similar a toda uma classe.
Os gostos, assim como as necessidades, variam conforme o nível econômico.
Enquanto as classes mais baixas têm como estilo de vida a realização das necessidades
básicas do mundo, as classes mais abastadas, que possuem melhores condições de
satisfazer essas prioridades, buscam necessidades que, para os menos favorecidos, são
luxos irrealizáveis. Esses luxos são objetos de conforto que se tornam necessidade. As
práticas realizadas nessas condições se constituem “numa experiência liberada da
urgência e na prática de atividades que tenham nelas mesmas sua finalidade”
(BOURDIEU, 1983: p.87).
Para além disto, Bourdieu avança com uma crítica ao consumo cultural. Para o
autor, as classes médias distanciam-se do consumo de uma produção simbólica massiva
em busca do que seria uma “arte legítima”. No entanto, na falta de subsídios para
compreender as vanguardas artísticas, satisfazem-se em adquirir essas competências
(ou parte delas) na escola, nos meios de comunicação ou na vivência de experiências –
o que tornaria o conhecimento incompleto. “As diferentes classes sociais se distinguem
menos pelo grau em que reconhecem a cultura legítima do que pelo grau em que elas a
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conhecem” (BOURDIEU, 1983: p.94), isto é, apesar de não entender o sen do da obra,
essas classes reconhecem que elas são importantes.
A hierarquia social a que Bourdieu se refere não é somente aquela que define
estratos amplos como classes alta, média e baixa: dentro dessas estratificações, é
possível ainda identificar uma elite, que domina determinado campo de produção
artística.
Em suma, o principal de Bourdieu são as formas de apropriação cultural da classe
pequeno-burguesa: ao mesmo tempo em que ela se afasta da conformação e
hedonismo das classes populares, tenta-se aproximar das classes altas, das vanguardas
e do consumo do que é “tradicionalmente bom”. Na ausência de uma competência
natural para realizar essa apropriação, o pequeno-burguês acaba frequentando círculos
e consumindo objetos mais próximos de sua própria realidade. Importa, também, a
atualidade dos objetos e serviços consumidos, pois o velho significa perda de status.
• Baudrillard
Jean Baudrillard, percorre um caminho análogo, porém sem olhar diretamente
para o momento de emergência da classe média. Baudrillard acresce à discussão
elementos que se aproximam da semiologia, ao tentar definir os diferentes significados
que os objetos assumem de acordo com a classe social estudada. Assim como em
Bourdieu, encontramos o consumo material como elemento diferenciador, ou, mais que
isso, de exclusão.
Baudrillard, para falar do consumo na era moderna, afirma que desde sempre o
consumo de bens é fruto de uma diferenciação, “é uma função social de pres gio e de
distribuição hierárquica” (BAUDRILLARD, 1996: p.10). O valor de troca supera a simples
necessidade, o valor de uso, fornecendo a possibilidade de distinção social e de uma
ideologia a ela ligada. Assim, o objeto não é somente uma função da necessidade:
traduz-se numa verdadeira análise que tem em conta os motivos da sua existência, o
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• Bauman
Zygmunt Bauman, vem atualizar e complementar os outros dois autores.
Bauman é um sociólogo da atualidade, que olha para a modernidade tardia (ou
modernidade líquida, para usar o termo dele) com grande realismo e, muitas vezes, com
um tom pessimista. O sociólogo polonês observa uma situação estabelecida, em que o
consumo deixa de ser meramente um elemento de distinção para ser o elemento de
inclusão por excelência: se a modernidade traz vários problemas consigo, o consumo
traduz-se na única solução (ou única via saída). Assim, tudo se torna ainda mais
transitório, e consequentemente mais descartável.
Primeiro há que fazer referencia ao conceito de “Eternidade Liquida”, que se traduz no
conceito de infinidade que norteou as ações humanas durante muitos séculos, inclusive
na passagem da idade média para a era moderna. Assim, começa a desaparecer junto à
importância da religião, da família, e de outros sistemas de controle social. A segurança
oferecida pelo eterno começou a ser corroída pela modernidade, “quando os seres
humanos se puseram a ‘derreter tudo que é sólido’ e a ‘profanar tudo que é sagrado”,
(BAUMAN, 2004: p.119).
Assim, esse desmanche leva à fase líquida da era moderna, em que a vida
individual se carrega de importância e passamos a viver numa transitoriedade universal.
Pois, ao analisar a contemporaneidade, Bauman nota que vivemos um ritmo vertiginoso
de renovação, que envelhece os objetos mesmo antes deles saírem da fábrica: tudo tem
data de validade. E isso vale tanto para os objetos como para um movimento cultural,
uma obra de arte, uma relação comercial, ou entre países, e mesmo uma relação
amorosa. “O ritmo vertiginoso da mudança desvaloriza tudo o que possa ser desejável e
desejado hoje, assinalando-o desde o início como o lixo de amanhã, enquanto o medo
do próprio desgaste que emerge da experiência existencial do ritmo estonteante da
mudança instiga os desejos a serem mais ávidos, e a mudança, mais rapidamente
desejada...” (BAUMAN, 1996: p.135)
Para Bauman, viver na modernidade líquida significa não ter hábitos, não estar
preso a passados e ter ‘identidades mutáveis’, que podem ser ‘trocadas’ quando em
desuso ou fora de moda. A cultura líquido-moderna é uma cultura da descontinuidade
e do esquecimento, que deixa para trás o saber e a acumulação. Não há espaço para
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ideais. E, mais intrigante, manter- se atualizado, não ser redundante, é o único modo de
se manter afastado do caminho ao lixo. Ter o último produto, a última moda, assistir ao
que todos assistem, considerar belo aquilo que a maioria gosta, são atitudes comuns na
era líquido-moderna para combater o medo da rejeição.
Concluindo, para Bourdieu, as classes mais abastadas, que superaram as
necessidades mundanas, usam o consumo de supérfluos como elemento de distinção e
distanciamento social; já para Bauman, isso é uma forma de combater o medo de
rejeição por usar algo que já é ultrapassado. Para Baudrillard, “a inovação formal em
matéria de objetos não tem como m um mundo ideal dos objetos, mas um ideal social –
o das classes privilegiadas, e que é o de reatualizar perpetuamente o seu privilégio
cultural” (BAUDRILLARD, 1996: p.31). Em nota o autor afirma que... “a inovação técnica
– real – não tem como fim uma economia real, mas sim o jogo da distinção social”
(BAUDRILLARD, 1996: p.33); para, então, terminar no lixo.
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Conclusão
Com esta recensão critica consegui aprofundar os meus estudos acerca do tema
consumo, como elemento crucial para a estratificação da sociedade.
Depois de aprimorar os resultados obtidos no estudo realizado no meu trabalho
apresentado na aula, posso concluir que a temática sociedade de consumo é um tema
que está sempre a evoluir, modificando, assim, os seus fatores e objetos de estudo.
Assim, após ver as obras de três grandes sociólogos, Bauman, Baudrillard e
Bourdieu é possível refletir sobre três pontos de vista sobre os símbolos de estratificação
da sociedade em pleno seculo XX.
Por fim, foi muito importante a realização deste trabalho, não só para melhorar
os meus conhecimentos na área da sociologia, assim como perceber a evolução da
mentalidade da sociedade no que toca ao Status Social e à importância dade às Classes
Sociais.
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Webgrafia e Bibliografia
• BAUMAN, Zygmunt. A cultura do lixo. Em: Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2004, pág.117-164.
• BAUDRILLARD, J. Função-signo e lógica de classe. Em: A Economia Política dos
Signos. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996. Pág. 9-49.
• BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. Em: ORTIZ, Renato (org).
Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983. pag. 82-121
• Revista Novos Olhares - Vol.1 N.1 “Bourdieu, Baudrillard e Bauman: O Consumo
Como Estratégia de Distinção”
(consultado a 26/11/16)
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Estratificação_social
• http://cafecomsociologia.com/2010/07/estratificacao-social-parte-1.html
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_consumo
• http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/11/zygmunt-
bauman-vivemos-tempos-liquidos-nada-e-para-durar.html
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