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UNIÃO DAS FACULDADES DOS GRANDES LAGOS

UNILAGO

Curso de Psicologia

João Luiz Andreta

RELATÓRIO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO BÁSICO IV

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2018
João Luiz Andreta

RELATÓRIO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO BÁSICO III

Relatório do Estágio Supervisionado Básico IV apresentado à União das


Faculdades dos Grandes Lagos – Unilago, como requisito parcial para
conclusão do quinto semestre do curso de Psicologia.

Profª Daniela de Camargo Álvaro

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2018
SUMÁRIO
1. Introdução.........................................................................................................................................4
2. Descrição da Instituição...................................................................................................................5
2.1 Histórico da entidade.................................................................................................................5
2.2 Descrição da entidade................................................................................................................6
2.3 Organograma..............................................................................................................................7
2.4 Filosofia.....................................................................................................................................7
2.5 Objetivos da entidade.................................................................................................................8
2.6 Recursos humanos e materiais...................................................................................................8
2.7 Clientela.....................................................................................................................................8
3. Transtorno Depressivo Maior...........................................................................................................9
3.1 Critérios Diagnósticos..............................................................................................................10
3.2 Transtorno Depressivo Maior em Crianças e Adolescentes.....................................................11
3.2.1 Quadro Clínico.................................................................................................................12
3.2.1.1 Crianças....................................................................................................................12
3.2.1.2 Adolescentes.............................................................................................................13
3.3 Evolução..................................................................................................................................14
3.4 Comorbidade............................................................................................................................15
4. Comportamento Suicida.................................................................................................................16
4.1 Epidemiologia mundial e no Brasil de tentativas de suicídio e suicídio.................................17
4.2 Avaliação e Fatores de Risco de Suicídio................................................................................18
4.3 Fatores de Proteção..................................................................................................................19
5. Conclusão.......................................................................................................................................21
6. Referências bibliográficas..............................................................................................................23
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1. Introdução

Este relatório refere-se ao Estágio Supervisionado Básico IV que foi realizado no Hospital
Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, localizado na rua Major João Batista França nº 298, Bairro Vila
Esplanada, CEP: 15025- 610, no município de São José do Rio Preto, SP.
O Estágio foi realizado em dois da semana no período de 25 de setembro a 26 de outubro de
2018, das 08h00 às 17h00. Neste período, foram observadas o desenvolvimento das atividades dos
psicólogos relacionadas à saúde mental, assim como as interações, manifestações e comportamentos
dos pacientes internados na instituição.
Observou-se diferentes tipos de Psicopatologias, porém para este relatório do estágio, será
abordado como tema o Transtorno Depressivo Maior e suicídio em crianças, jovens e adultos. O
supervisor do estágio foi o Psicólogo Fernando Dotoli Gonçalves de Sousa, e a supervisora da
União das Faculdades do Grandes Lagos – Unilago – foi a psicóloga e professora Daniela de
Camargo Álvaro.
Dentro do Transtorno Depressivo Maior, este estudo tem como objetivo comentar as
características, os sinais e sintomas, e sua relação com o comportamento suicida em internados no
Hospital Psiquiátrico Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.
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2. Descrição da Instituição

2.1 Histórico da entidade


Nos anos 20, o presidente semivitalício do partido político regional, Presciliano Pinto de
Oliveira, conseguiu do governador do Estado, Carlos de Campos, verba para construir a soberba
cadeia que abrigaria também o fórum, em terreno doado pela Câmara Municipal, nas esquinas das
Ruas General Glicério e Delegado Pinto de Toledo. A cidade crescera pouco nesta direção, o local
parecia suficientemente isolado.
O prédio da cadeia, construído em 1624, era um verdadeiro palácio de dois pavimentos,
janelões encimados por arcos romanos e torreões decorativos no alto das quinas das paredes. O
estilo militar à chateaou-fort era seguro, dispensava altos muros. No piso superior foi instalado o
fórum e no inferior a cadeia, onde não faltavam criminosos.
As moças eram proibidas de circular pelas imediações da cadeia por causa do desrespeito
dos presos que viam a banda passar pelas frestas das grades das celas. E não eram também
agradáveis de se ouvir os gritos dos doentes mentais recolhidos no porão, quando a polícia era
acionada para retirá-los da paisagem urbana. O porão era alto, frio e mal ventilado por minúsculas
aberturas providas de telas grossas.
Alguns espíritas costumavam visitar periodicamente os prisioneiros, levando alimentos e
palavras de esperança. Tiveram assim a oportunidade de ver a feia realidade de doentes mentais,
confinados no porão sem ao menos o conforto das celas. Rio Preto não dispunha de local apropriado
para transferi-los e os visitantes fizeram um rateio para pagar internamentos no Sanatório de Franca,
que por sua vez mandou uma jardineira para levá-los. Em 1943 ficaram sabendo que lá os pacientes
também não eram bem tratados e que a tal jardineira fazia romaria pelas cidades do roteiro,
abarrotando o veículo de doentes patrocinados.
Os mentalmente enfermos do cadeião eram, na grande maioria, alcoolistas, esquizofrênicos
e deficientes mentais. Os chamados loucos mansos – que quase sempre divertiam a cidade –,
quando causavam perturbação eram colocados em celas desocupadas. Isso aconteceu com dois
homens que viviam perambulando pelas ruas, um era conhecido como “Macacão” (que fazia
discursos nas esquinas), nos anos 30, e o outro era conhecido como “Cabeça Branca” (que
filosofava casos que se tornaram lendários), nos anos 40.
Eram protegidos do Sargento Vilar e iam todas as noites dormir na cadeia, pagando a
hospedagem com serviço de limpeza de celas e corredores. Também o Tigre Canguçu, que se auto-
intitulava de Rei da Mata (e vivia pendurado nas árvores da Praça Rui Barbosa), quando não estava
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plantando a mando de gaiatos que lhe davam doses reforçadas de cachaça, era freguês das pernoites
no cárcere.
O resto dos psicóticos eram despejados no malfadado porão, sem qualquer assistência. Em
1946 a Associação Beneficente Espírito Consolador tinha inaugurado o Albergue Noturno Protetor
dos Pobres. No dia 10 de março fez reunião especial para tentar resolver o problema dos doentes
mentais castigados com prisão ilegal de tempo indefinido, com todos os seus direitos esquecidos.
Refletindo sobre essa reunião pioneira, concluímos que ela foi precursora das
ONG's; resolvia problemas sociais de envergadura sem ajuda governamental e tinha a
revolucionária proposta de resgatar o doente do conceito de criminoso, sem ter cometido crime
algum. A fundação de um hospital para alojá-los reafirmava a necessidade de resgate de oprimidos
indefesos. Decidiram iniciar nova campanha destinada a um hospital que albergasse tratamento aos
doentes mentais que viviam na rua, ou por não terem família ou por sua inadaptabilidade ao núcleo
familiar. Em outras palavras, queriam tentar o que modernamente se tenta: reassociá-los.
A Associação Beneficente Espírito Consolador tinha diretoria, mas sua filosofia sempre foi a
de ninguém se projetar pessoalmente por meio de cargos, aceitando-os como encargos. Essa foi a
razão pela qual os sócios fundadores do Hospital, que veio a se chamar Dr. Adolfo Bezerra de
Menezes, são citados em ordem alfabética: Antonio Bahia Monteiro, Augusto Rondon, Angelo
Beloni, Bento Carvalho Ferraz, Ciriaco Linueza Buendia, Celestino Todeschi, Domingos Grisi,
Domingas Ricci do Amaral, Hermógenes de Faria, José de Faria, José Luciano dos Santos, João
Maurício do Amaral, Otávio de Marchi, Pedro Severino, Pedro Canizza, Sebastião Paul e Vicente
Filisola.

2.2 Descrição da entidade


O Hospital conta com um amplo espaço externo que funciona como estacionamento e
entrada e saída de ambulâncias, um espaço arborizado com bancos de madeira, este espaço é
utilizado tanto por visitantes quanto por funcionários da instituição durante os intervalos de
trabalho. O hospital possui, atualmente, 247 leitos, dispostos ao longo de 7 enfermarias, sendo 3
delas para mulheres e 4 para homens. Destes leitos, são 197 Para pacientes oriundos do Sistema
único de saúde (SUS) e 50 para pacientes Conveniados.
A Estrutura Física interna da instituição é composta de apartamentos (tipo suíte) privativos,
quartos coletivos, banheiros, salas de TV, refeitório, auditório onde são realizadas algumas
atividades com os internos e um amplo espaço a céu aberto com mesas e cadeiras. O Hospital conta
também com uma área anexa onde são realizadas atividades lúdicas e as oficinas terapêuticas
(bordado, crochê, pintura, corte e costura), um espaço onde são desenvolvidos trabalhos manuais
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(horta e marcenaria), uma academia de ginástica, quadra poli esportiva, minicampo de futebol, uma
sala de informática, cantina, mesas de jogos e um amplo espaço de livre circulação, oferecendo
assim um espaço de lazer e aprendizado a todos os internos.

2.3 Organograma

2.4 Filosofia
O hospital crê na harmonização do ser humano como indivíduo único, como base para a
pacificação da sociedade, e investe no trabalho como grande impulsionador da evolução humana.
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2.5 Objetivos da entidade


Desenvolver atividades de reabilitação, prevenção e promoção da saúde com vistas a
melhoria da qualidade de vida. Promover a reestruturação sócio-familiar proporcionando a
integração dos indivíduos, além de possibilitar, na lógica da autosustentabilidade, geração de
trabalho e renda dos seus assistidos, compartilhando conhecimento, colaborando no processo de
formação profissional da comunidade e investindo na espiritualidade do ser humano.

2.6 Recursos humanos e materiais


O hospital conta com diversos profissionais, sendo eles: terapeuta ocupacional, psicólogos,
médicos, enfermeiros, nutricionistas, dentistas, farmacêuticos e professor de educação física.
As instalações físicas da instituição oferecem apartamentos privativos, quartos coletivos,
sala de TV, academia de ginástica, quadra poli esportiva, minicampo e oficinas terapêuticas
(bordado, crochê, pintura, horta, cozinha terapêutica, marcenaria, costura etc.).

2.7 Clientela
A instituição atende indivíduos com quadros de esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar,
depressão, dependência química (drogas e alcoolismo) e outros estados mentais patológicos.
Também oferecem tratamento a deficientes mentais e pessoas demenciadas com alterações
psíquicas.
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3. Transtorno Depressivo Maior


Os transtornos depressivos constituem um grupo de patologias com alta e crescente
prevalência na população geral. Segundo o DSM-V (p. 155), os transtornos depressivos apresentam
algumas características em comum, como “a presença de humor triste, vazio ou irritável,
acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de
funcionamento do indivíduo”, diferindo apenas com relação ao tempo de duração, ao momento ou
etiologia presumida. Faz parte deste grupo, o transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno
disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno
depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado, transtorno
depressivo não especificado e o o transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo
maior), o qual será abordado neste relatório.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão é uma doença comum em
todo o mundo, com mais de 300 milhões de pessoas afetadas. Quando duradoura e com intensidade
moderada ou grave, a depressão pode se tornar um problema sério de saúde, pois pode fazer com
que a pessoa depressiva sofra muito e tenha mal desempenho no trabalho, na escola, na família e
nas relações sociais. Nos casos mais graves, a depressão pode levar o indivíduo ao suicídio, sendo
que cerca de 800 mil pessoas por ano morrem por suicídio, sendo a segunda causa de morte entre
os jovens de 15 a 29 anos. Porém, deve-se diferenciar a depressão das flutuações de humor
habituais e das respostas emocionais de curta duração devido aos desafios da vida cotidiana.
Ainda segundo a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e
é um dos principais contribuintes para a carga global do ônus da doença (burden of disease). O ônus
da doença é o impacto de um problema de saúde, medido pelo custo financeiro, mortalidade,
morbidade ou outros indicadores, e frequentemente quantificado em termos de anos de vida
ajustados pela qualidade (QALYs) ou anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs), ambos os
quais quantificam o número de anos perdidos devido a doenças (YLDs). O prejuízo causado pelas
doenças medido pela Disability Adjusted Life Years (DALY) mostra que a depressão maior, que era
a quarta causa geradora de sobrecarga em 1990, será a segunda causa no ano 2020, só perdendo
para as doenças cardíacas
Os sintomas depressivos estão associados a várias experiências negativas da vida, e estas
experiências adversas e acumulativas podem colocar crianças e jovens em risco. Por outro lado, os
sintomas depressivos também podem ser influenciados por fatores de redução de risco, permitindo
assim que um ambiente escolar, familiar e social positivo reduzam a depressão entre adolescentes
(Haavet et al, 2006).
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3.1 Critérios Diagnósticos


Para fins de diagnóstico do transtorno depressivo maior em adultos, o DSM-5 estabeleceu os
seguintes critérios:
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e
representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor
deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p.
ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece
choroso).
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do
dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do
peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias.
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente
sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os
dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato
subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um
plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo,
esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da
esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno
psicótico não especificado.
E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco.

Com relação aos efeitos fisiológicos, o DSM-5 enfatiza que respostas a uma perda
significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica
grave ou incapacidade) podem gerar sentimentos acentuado de tristeza, pensamentos persistentes
acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso, que podem se assemelhar a um episódio
depressivo. No luto, por exemplo, o afeto que predomina são os sentimentos de vazio e de perda,
enquanto no Episódio Depressivo Maior o humor deprimido é persistente e apresenta incapacidade
em alcançar felicidade ou prazer. A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a
semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar
associadas a pensamentos ou lembranças do falecido.
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Portanto, para um diagnóstico mais preciso é inevitavelmente o exercício do julgamento


clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no
contexto de uma perda.
3.2 Transtorno Depressivo Maior em Crianças e Adolescentes
Até a década de 1970 se acreditava que a depressão em crianças e adolescentes era rara,
porém o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH) reconheceu a sua existência nesta
faixa etária a partir de 1975.
Segundo Sashi (2007, p. 73), em torno de 15% de crianças e adolescentes apresentam alguns
sintomas de depressão em algum momento. Dos 9 aos 17 anos idade, cerca de 5% preenchem os
critérios para transtorno depressivo maior e 3% dos adolescentes apresentam transtorno distímico. A
característica essencial do Transtorno Distímico é um humor cronicamente deprimido que ocorre na
maior do tempo, apetite diminuído ou hiperfagia, insônia ou hipersonia, baixa energia ou fadiga,
baixa autoestima, fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões difíceis e sentimentos de
desesperança. Pode-se, também, observar a presença de baixo interesse e de autocrítica,
frequentemente sentindo-se como desinteressantes ou incapazes. De modo geral, os sintomas
distímicos não são relatados, pois estão tão presentes na experiência cotidiana do indivíduo que
acreditam fazer parte da sua personalidade (por ex., “sempre fui assim”), a menos que seja
investigado diretamente pelo entrevistador.
Segundo Bahls (2002), no estudo Los Angeles Epidemiologic Catchment Area Project, 25%
dos adultos com depressão maior relataram que o primeiro episódio ocorreu antes dos dezoito anos
de idade. Na revisão sobre a epidemiologia dos transtornos depressivos em crianças e adolescentes,
Bahls encontrou a prevalência-ano para a depressão maior, em crianças, de 0,4 a 3,0%, e de 3,3
aa12,4% em adolescentes. Portanto, após a puberdade, observa-se que a incidência de transtornos
depressivos aumenta acentuadamente, podendo ser explicados, em parte, “pela dificuldade de
muitos jovens de enfrentar as exigências sociais e psicológicas impostas pelo período da
adolescência (Braga et al, 2013)”, podendo vivenciar grandes mudanças, encarar diversos desafios
e adquirir certas habilidades que podem levar muitos jovens a desenvolverem pensamentos e
comportamentos suicidas. Em relação ao gênero, aos 14 anos de idade, os transtornos depressivos
são mais de duas vezes mais comuns nas meninas do que nos meninos, possivelmente devido a
diferenças nos estilos de enfrentamento ou mudanças hormonais durante a puberdade (Sashi et al,
2007). Ainda de acordo com mesmo autos, os transtorno depressivo maior é uma das principais
causas de tentativas e de e suicídios entre os jovens, e, geralmente, tem um curso cronico de
aumento, existindo um risco – 2 a 4 vezes - da depressão persistir na vida adulta.
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Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (2006), mais de 70% das
crianças e adolescentes com transtornos depressivos ou outros transtornos do humor não recebem
diagnóstico e tratamento adequados, principalmente nas crianças menores de sete anos, em parte
devido à capacidade limitada desse grupo etário de comunicar emoções e pensamentos negativos
com a linguagem e consequente tendência à somatização. Assim, crianças pequenas com depressão
podem apresentar dores gerais, dores de cabeça ou dores de estômago. Outro problema, pode estar
relacionado ao fato se um dos pais tiver um transtorno depressivo maior, pois ele poderá minimizar
os sintomas depressivos da criança devido a falta de consciência ou falta de disposição para
reconhecer sintomas que possam ser semelhantes aos dele.

3.2.1 Quadro Clínico


O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), relata que os sintomas
básicos de um episódio depressivo maior são semelhantes, tanto em crianças, como adolescentes e
adultos, porém há dados sugerindo que certos sintomas podem predominar de acordo com a idade;
por exemplo, queixas somáticas, irritabilidade e retraimento social, e sintomas menos comuns em
crianças, como retardo psicomotor, hipersonia e delírios.

3.2.1.1 Crianças
Em crianças de 5 a 6 anos, a manifestação clínica mais comum está relacionada a sintomas
físicos, tais como dores, fadiga e tontura, seguidas por ansiedade (especialmente ansiedade de
separação), fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite e
alterações do sono, além também de uma diminuição no prazer de brincar e nas habilidades sociais
próprias da idade (Bahls, 2002).
De acordo com a revisão literária de Sousa et al (2017), apesar de apresentar estatísticas
baixas de suicídio infantil no mundo, quando comparadas a outras faixas etárias, esse número tem
aumentado e se tornando um evento trágico, pois interrompe os “sonhos e alegrias que deveriam
fazer parte da vida dessas crianças”. Porém Shafii e Shaffi (apud Bahls, 2002, p. 360), relata que
comportamentos autodestrutivos como, por exemplo, bater a cabeça de forma severa e
repetidamente, morder-se, engolir objetos perigosos e a propensão a acidentes pode equivaler à
tentativa de suicídio em crianças que não verbalizam suas emoções.
Em crianças escolares (6 a 12 anos), o humor depressivo já pode ser verbalizado e,
geralmente, é relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio, além de apresentar tristeza, choro fácil,
apatia, fadiga, isolamento, prejuízo do desempenho escolar, baixa concentração, perda de peso,
insônia, queixas somáticas, ansiedade de separação, fobias, pensamentos de morte ou suicídio
(Bahls, 2002), mesmo em crianças menores de 7 anos de idade que não entendem o que é a morte
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(Colavitte et al, 2013). Também é comum a criança não ter amigos, dizer que os colegas não gostam
dela ou apresentar um apego exclusivo e excessivo a animais, inabilidade em se divertir (anedonia),
pobre relacionamento com seus pares - sendo comum a criança não ter amigos ou dizer que os
colegas não gostam dela -, possui baixa autoestima e se descrevendo como estúpidas, bobas ou
impopulares.
Tabela 1: Comparativo entre depressão maior em adultos e crianças/adolescentes. (Shashi et al, 2007)

Critérios para Transtorno Depressivo Maior em Adultos, Crianças e Adolescentes


Adultos Crianças e Adolescentes
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos O humor pode ser deprimido ou irritável. Crianças com
os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., desenvolvimento linguístico-cognitivo imaturo podem
sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação não ser capazes de descrever estados de humor internos
feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). e, portanto, podem apresentar queixas físicas vagas,
expressão facial triste ou contato visual deficiente.
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em A perda de interesse pode ser em jogos de pares ou
todas ou quase todas as atividades na maior parte do atividades escolares.
dia, quase todos os dias.
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar As crianças podem não ganhar ou nem perder peso.
fazendo dieta ou redução ou aumento do apetite quase
todos os dias.
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. Similar ao adulto.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias. Concomitante com mudança de humor, o
comportamento hiperativo pode ser observado.
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. Desprendimento de brincadeiras de colegas, recusa da
escola ou frequentes ausências escolares podem ser
sintomas de fadiga.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou A criança pode apresentar autodepreciação (por
inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os exemplo, "eu sou estúpido", "sou retardado"). Culpa
dias . delirante geralmente não está presente.
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, Problemas com atenção e concentração podem ser
ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo aparentes como dificuldades comportamentais ou mau
ou observação feita por outras pessoas). desempenho na escola.
9. Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida Pode haver outras dicas não-verbais para
recorrente sem um plano específico, uma tentativa de comportamentos potencialmente suicidas, como dar
suicídio ou plano específico para cometer suicídio. uma coleção favorita de músicas ou selos.
B - Os sintomas causam sofrimento clinicamente Comprometimento clinicamente significativo do
significativo ou prejuízo no funcionamento social, funcionamento social ou escolar está presente. Os
profissional ou em outras áreas importantes da vida do adolescentes também podem apresentar disfunção
indivíduo. ocupacional.
C - O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos Similar ao adulto
de uma substância ou a outra condição médica.

3.2.1.2 Adolescentes
A partir da adolescência (12 anos até adulto) os sintomas da depressão familiarizam-se aos
dos adultos, mas também existem características típicas da depressão nesta fase da vida. Segundo
Kazdin e Marciano (apud Bahls, 2002), mais de 80% dos jovens deprimidos apresentam humor
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irritado, perda de energia, apatia e desinteresse significativo, retardo psicomotor, sentimentos de


desesperança e culpa, perturbações do sono, principalmente hipersonia, alterações de apetite e peso,
isolamento e dificuldade de concentração, levando a prejuízos no desempenho escolar, baixa
autoestima, ideação e tentativas de suicídio, além de graves problemas de comportamento,
principalmente em relação ao uso abusivo de álcool e drogas.
Alguns autores (Baron & Campbell, 1993) chamam a atenção para a diferença entre a
manifestação depressiva entre adolescentes do sexo feminino e masculino, destacando que as
garotas relatam mais sintomas subjetivos, como sentimentos de tristeza, vazio, tédio, raiva,
ansiedade, maior preocupação com sua popularidade, insatisfação com a aparência e menos
autoestima. Por outro lado, os rapazes relatam mais sentimentos de desprezo, desafio e desdém,
além de problemas de conduta como: falta às aulas, fugas de casa, violência física, roubos e abuso
de substâncias. Os autores destacam também que o abuso de álcool na adolescência pode ser um
forte indicador de depressão.
Portanto, estados de humor irritável ou depressivo duradouro e/ou excessivos, períodos
prolongados de isolamento ou hostilidade com família e amigos, afastamento da escola ou queda
importante no rendimento escolar, afastamento de atividades grupais, abuso de substâncias (álcool e
drogas), violência física, atividade sexual imprudente e fugas de casa, podem servir de alerta para
possível quadro depressivo na adolescência (Sadler, 1991).

3.3 Evolução
Em relação ao processo evolutivo, “transtorno depressivo maior pode aparecer pela primeira
vez em qualquer idade, mas a probabilidade de início aumenta sensivelmente com a puberdade”,
sendo seu curso bastante variável (DSM-5, p. 165).
Ainda segundo o DSM-5, o curso do transtorno depressivo maior é bastante variável, sendo
que alguns indivíduos dificilmente vivenciam a remissão (um período de dois meses ou mais sem
sintomas ou apenas 1 ou 2 sintomas não mais do que em um grau leve), enquanto outros podem
experimentar muitos anos com poucos ou nenhum sintoma entre episódios discretos. É importante
diferenciar indivíduos com doença depressiva crônica daqueles cujos sintomas se desenvolveram
recentemente, pois a cronicidade dos sintomas depressivos aumentam consideravelmente a
probabilidade de transtornos da personalidade, ansiedade e abuso de substância subjacentes, além
de diminuir a probabilidade de que o tratamento seja seguido da remissão completa dos sintomas,
consequentemente adentrando pela faze adulta.
O primeiro episódio depressivo costuma durar aproximadamente entre cinco a nove meses, e
sendo que 74% dos casos apresentam uma recuperação significativa dos sintomas dentro de um ano,
15

e 92% se recuperaram em um período de dois anos (Bahls, 2002). Segundo este autor, mesmo
ocorrendo a recuperação, costuma permanecer algum grau de prejuízo psicossocial, e quanto mais
precocemente surgir a depressão, maior tenderá a ser o prejuízo.
Alguns fatores como, o início precoce, episódios anteriores, gravidade do episódio, presença
de sintomas psicóticos, presença de estressores, comorbidade (especialmente distimia) e falta de
adesão ao tratamento, são considerados como preditores de recorrência (Bahls & Bahls, 2002).

3.4 Comorbidade
Crianças e adolescentes com transtorno depressivo maior costumam apresentar taxas mais
altas de comorbidade do que em adultos. Nas crianças as comorbidades mais comuns são:
transtornos de ansiedade (especialmente o transtorno de ansiedade de separação), transtorno de
conduta, transtorno desafiador opositivo e o transtorno de déficit de atenção, e nos adolescentes
deve-se acrescentar os transtornos relacionados a substâncias e os transtornos alimentares (Bahls,
2002).
16

4. Comportamento Suicida
O suicídio de crianças e adolescentes é o acontecimento mais grave e dramático do quadro
clínico de depressão. O suicídio refere-se ao desejo consciente de morrer e à noção clara da
consequência do que o ato a ser executado pode gerar (Araújo et al., 2010). Para Werlang et al
(2005), o comportamento suicida pode ser dividido em três esferas: a) ideação suicida
(pensamentos, ideias, planejamento e desejo de se matar); b) tentativa de suicídio; c) suicídio
consumado, sendo a ideação suicida considerada como um preditor significativo de risco para o
suicídio, por isso considera-a como o primeiro “passo” para o suicídio.
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (2014), a ocorrência de comportamento
suicida entre jovens aumentou nas últimas décadas, e a adolescência destaca-se como o período
mais relacionado à morte devido a causas violentas. Como já dito, atualmente, o suicídio em
indivíduos de 15 a 29 é a segunda maior causa de mortes nesta faixa etária, porém como o cometer
suicídio não ocorre de forma imediata, isto é, o percurso entre a ideação suicida, ameaças, tentativas
e a concretização da morte, este meio-tempo pode disponibilizar o tempo necessário para uma
intervenção (Krüger e Werlang, 2010).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2010), os jovens representam, atualmente,
o grupo de maior risco de suicídio. Em alguns países como Canadá, Sri Lanka, Áustria, Finlândia e
Suíça, o suicídio em adolescentes e adultos jovens está se configurando em um padrão epidêmico
(Braga et al., 2013). Nesse sentido, a adolescência tem sido considerada um período vulnerável ao
comportamento suicida (Barros et al., 2006).
Em parte, os suicídios na adolescência podem ser explicados pela dificuldade dos jovens em
enfrentar as exigências sociais e psicológicas impostas neste período, o que pode ocasionar
mudanças que podem impulsionar muitos jovens a desenvolverem pensamentos e comportamentos
suicidas (Braga et al., 2013). Na adolescência, podem aparecer, ocasionalmente, pensamentos de
morte devido às dificuldades que muitos jovens têm para lidar com as demandas sociais,
contextuais e situacionais impostas pela fase do ciclo vital em que se encontram (Werlang et al.,
2005).
Segundo Bahls (2002), aproximadamente 80% das tentativas de suicídio em adolescentes
ocorrem por meio de intoxicações, seguido de corte nos pulsos, enquanto que os suicídios
consumados alcançam a casa dos 65%, sendo as armas de fogo a principal causa, seguidos pelo
enforcamento, saltos e intoxicações. Geralmente, os adolescentes vítimas de suicídio o fazem de
modo impulsivo, e frequentemente encontram-se intoxicados (álcool e drogas) no momento de sua
morte.
17

Como elementos precipitantes de comportamento suicida entre os adolescentes estão as


perdas, as crises interpessoais com família ou amigos, estressores psicossociais, abuso físico e
sexual, problemas legais ou disciplinares, e a exposição ao suicídio de amigos, familiares ou mesmo
através da mídia (Bahls, 2002).

4.1 Epidemiologia mundial e no Brasil de tentativas de suicídio e suicídio


Segundo a Organização Mundial de Saúde (2014), em 2012 houve cerca de 804 mil mortes
por suicídio no mundo - um suicídio a cada 40 segundos -, sendo a prevalência, as características e
os métodos muito variáveis nas diversas comunidades e grupos demográficos. No entanto, em
muitos países o suicídio é ilegal, estigmatizados ou não possuem registro de dados confiáveis, e,
como resultado, a obtenção de dados sobre o comportamento suicida é difícil ou é uma questão
delicada, sendo muito provável que haja subnotificação. Em outros, mesmo com bons dados de
registro civil, o suicídio pode ser erroneamente classificado como morte por acidente ou alguma
outra causa. O registro de um suicídio é um procedimento, muitas vezes, complicado pois pode
envolver várias autoridades diferentes e até mesmo a polícia. Em países onde não há registros
confiáveis de mortes, os suicídios não são contados.
Em relação ao sexo, as taxas de suicídio nos países mais ricos são três vezes maiores dos
homens que das mulheres, enquanto nos países de baixa e média renda a proporção é menor - 1,5
homens para cada mulher. Quanto a idade, em alguns países a taxa de suicídio são mais altas entre
jovens e, globalmente, é a segunda principal causa de morte entre jovens (OMS, 2014).
Em 2006, nos Estados Unidos, 1771 crianças e adolescentes de 10 a 19 anos de idade
cometeram suicídio, tornando-se a terceira causa de morte nesse grupo etário (Schwartz et al.,
2010). Na Europa, o suicídio já é a segunda causa de morte entre adolescentes e adultos na faixa dos
15 aos 35 anos (OMS, 2010). O Brasil é o oitavo país em número de suicídios, tendo registrado em
2012, 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres, taxa de 6,0 para cada grupo de 100 mil
habitantes. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de
17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. O país com mais mortes é a Índia (258 mil óbitos),
seguido de China (120,7 mil), Estados Unidos (43 mil), Rússia (31 mil), Japão (29 mil), Coreia do
Sul (17 mil) e Paquistão (13 mil) (OMS, 2015).
Como dito anteriormente, os métodos utilizados para o suicídio são muito variáveis, porém a
ingestão de pesticidas, enforcamento e armas e fogo estão entre os mais comuns. Todavia, para cada
suicídio há muito mais pessoas que tentam o suicídio, mais de vinte tentativas/suicídio (OMS,
2014).
18

4.2 Avaliação e Fatores de Risco de Suicídio


Frequentemente, vários fatores de risco agem conjuntamente aumentando a vulnerabilidade
de uma pessoa ao comportamento suicida. Porém, primeiramente, é importante distinguir os
conceitos de “risco”, “fatores de risco e de proteção” e “situação de risco” utilizados (Silveira,
Silvares e Marton, 2003).
a) Risco: é a probabilidade da ocorrência de algum evento indesejável;
b) Fatores de risco: são elementos com grande probabilidade de desencadear ou associar-se ao
desencadeamento de um evento indesejado, não sendo necessariamente o fator causal;
c) Fatores de proteção: são recursos pessoais ou sociais que atenuam ou neutralizam o impacto do
risco.
d) Situação de risco: pode ser entendida como uma circunstância que oferece risco a toda uma
comunidade ou subgrupo social.
O DSM-5 (p. 167) descreve que durante os Episódios Depressivos Maiores existe, de forma
permanente, a possibilidade de comportamento suicida, sendo o histórico prévio de tentativas ou de
ameaças como fatores consistentes para o suicídio. A decisão de cometer suicídio, muitas vezes, não
ocorre de maneira rápida; geralmente o indivíduo fez previamente alguma indicação ou sinal sobre
a ideia ou intenção de atentar contra a própria vida, portanto a comunicação suicida em qualquer
forma deve ser levada a sério. Fatores de risco no nível individual que aumentam o risco de suicídio
incluem: sexo masculino, ser solteiro ou viver sozinho e ter sentimentos proeminentes de
desesperança, transtornos mentais, uso de álcool, perda financeira, dor crônica, histórico de suicídio
na família e o transtorno de personalidade borderline, que aumenta o risco de tentativas futuras de
suicídio.
A OMS (2014) acrescentou que os fatores de risco também estão associados ao sistema de
saúde e à sociedade em geral, como as dificuldades em obter acesso ao serviço de saúde e receber a
assistência necessária, a fácil disponibilidade de meios para se cometer suicídio, o sensacionalismo
dos meios de divulgação dos suicídios - o que aumenta o risco de imitação de atos suicidas -, o
constrangimento daqueles que buscam ajuda para comportamentos suicidas, para problemas de
saúde mental e o uso de substâncias psicoativas.
No Brasil, o Ministério da Saúde (2017) descreveu outros fatores, como “dificuldade em
lidar com stresses agudos ou crônicos da vida, e sofrer violência baseada em gênero, abuso infantil
ou discriminação” como fatores de risco. Outro grande problema, é o preconceito e a rejeição que as
pessoas têm em relação ao tema e que, muitas vezes, impede a procura de ajuda (Ministério da
Saúde, 2017). Falar de forma responsável sobre o fenômeno do suicídio pode atuar como um fator
de prevenção e, desta forma, diminuir ou se contrapor ao fator de risco.
19

Por conseguinte, as condições incapacitantes da depressão podem afetar a dinâmica familiar,


a vida social e profissional, o estado geral de saúde do indivíduo, que aliadas às características da
personalidade e aos acontecimentos estressantes da vida, constituem um forte preditor à ocorrência
de suicídio consumado (Santos, 2014). Nos processos cognitivos relacionados à depressão, o
indivíduo muitas vezes acredita que o suicídio é a única solução possível para sua situação de
desespero e desesperança (OMS, 2000), levando cerca de 20% dos adolescentes a pensarem
seriamente em suicídio, e 8% a tentarem (Shashi, 2002).
Conforme Souza et al (2017), as crianças verbalizam menos o desejo de morrer quando
comparadas aos adolescentes, o que foi constatado em um estudo em que 68% dos adolescentes
verbalizaram seu desejo ou escreveram um bilhete manifestando o esvaziamento das forças para
viver contra 29% das crianças . Um outro estudo, relatou que 40,9% dos alunos haviam expressado
verbalmente seu pensamento suicida aos colegas e professores, além do que, foi observado que as
crianças ficaram mais quietas, introvertidas e evitaram sair de casa nos meses que antecederam o
suicídio, e nos dias que precederam o suicídio, não foram à escola. Ainda de acordo com este
mesmo autor, 13,1% das crianças já haviam tentado suicídio anteriormente e 23% haviam realizado
a tentativa de suicídio no ano anterior ao da morte por suicídio.
Mishara (1999) conduziu entrevista com 65 crianças de escolas públicas da 1ª a 5ª séries
para analisar a compreensão e experiências com morte e suicídio, o desenvolvimento dos conceitos
e as fases de desenvolvimento de Piaget. De acordo com o pesquisador, as crianças da 3ª série (8 – 9
anos) já possuem uma compreensão elaborada do suicídio, e as crianças mais novas, em grande
parte, já entendem o conceito “se matar”, embora sua compreensão da morte e da vida possa ser
imatura. Normalmente, as crianças aprendem sobre o suicídio pela televisão e através de conversas
com outras crianças, mas raramente discutem este assunto com adultos.
Na tabela abaixo, os sinais de aviso sobre comportamentos suicidas.
Sinais de Avisos Específicos
Qualquer menção de morrer, desaparecer, saltar, atirar em si mesmo ou
Falando sobre morrer
outros tipos de autodestruição
Mudança na Personalidade Triste, retraída, irritável, ansiosa, cansada, indecisa ou apática
Mudança no Comportamento Dificuldade em se concentrar na escola, no trabalho ou em tarefas rotineiras
Mudança nos padrões de sono Insônia, muitas vezes com acordar cedo ou dormir demais, pesadelos
Mudança nos hábitos alimentares Perda de apetite e peso ou excessos
Medo de perder o controle Atuar erraticamente, prejudicando a si mesmo ou aos outros

4.3 Fatores de Proteção


Garmezy (1985 apud Marcondelli & Williams, 2005) classifica os fatores de proteção, ou
seja, os recursos pessoais para reduzir ou neutralizar os fatores riscos, em três categorias:
20

a) características pessoais da criança, como atividades, autonomia, orientação social positiva,


autoestima, preferências, resiliência, etc.;
b) características da família - coesão, afetividade, ausência de discórdia, negligência, etc.;
c) apoio individual e/ou institucional disponível para a criança e a família – interação da criança
com seus pares e com outras pessoas além da família, cultura, atendimento individual - médico ou
psicológico -, instituições religiosas, etc.
Os fatores protetores podem atuar como uma defesa que favorece o desenvolvimento do ser
humano, quando encontravam-se sem esperança e sem energia para superar os fatores de riscos
quando muito intenso ou exposição prolongada, podendo, portanto, reduzir os efeitos de
experiências estressantes (Sapienza e Pedromônico, 2005).
Sendo a família a responsável pelo processo de socialização da criança, por meio dessa, a
criança adquire comportamentos, habilidades e valores pertinentes e desejáveis à sua cultura. Nesse
contexto, a internalização de normas e regras possibilitará à criança um desempenho social mais
adaptado e favorável à obtenção de autonomia. Então, um bom funcionamento familiar, a existência
de vínculo afetivo, apoio e monitoramento parental são fatores que podem reduzir a probabilidade
de crianças e adolescentes se entregarem a comportamentos infracionais. Portanto, no processo de
socialização, a família pode ser caracterizada como fator de proteção ou, dependendo do estilo
parental utilizado, fator de risco (Maia e Williams, 2005).
Práticas educativas que possibilitam maior interação dos pais com o filho e que envolvem
atenção, o conhecimento das atividades que o filho desenvolve e por onde ele se encontra,
demonstrações de afeto e carinho, principalmente nos momentos de maior necessidade do filho,
transmissão de valores como honestidade, generosidade e senso de justiça e auxílio na distinção do
certo e do errado através de modelos positivos, são fatores essenciais para o desenvolvimento do
comportamento moral, da empatia, de ações honestas, de crenças positivas sobre o trabalho, a
família e as relações sociais e da ausência de práticas antissociais nas crianças (Sampaio e Gomide,
2007). Sapienza & Pedromônico (2005) afirma que todos estes fatores possibilitam a construção da
resiliência, permitindo que crianças possam superar situações capazes de afligir a maioria das
crianças.
Masten e Coastworth (1995) apresentaram algumas das principais características
encontradas em crianças e adolescentes resilientes: bom funcionamento intelectual, sociabilidade e
expressão adequada, autoeficácia, autoconfiança e autoestima elevada, talentos e fé. Além destes
fatores individuais, essas crianças e adolescentes ainda contavam com práticas parentais
competentes, vantagens socioeconômicas e conexões apoiadoras e ampliadas nas relações
familiares.
21

5. Conclusão
O comportamento suicida ocorre, muitas vezes, como uma resposta inconsciente a conflitos
internos e familiares, sentimentos de depressão e ansiedade que acompanham a infância e
adolescência, durante sua transformação física, psíquica e social. Entretanto, pode ser difícil
determinar a intencionalidade de atitudes autodestrutivas, por isso, alguns poucos estudos têm sido
realizados para estruturar um conjunto de fatores de risco que, individualmente ou associados,
contribuem para o suicídio.
Os dados relatados indicaram haver uma relação entre o suicídio e fatores neurobiológicos,
escolares, sociais e mentais que predispõem as crianças e adolescentes ao comportamento suicida.
Tais fatores incluem: transtornos psicológicos, desesperança, desamparo, sentimento de culpa e de
inutilidade, tentativa anterior de suicídio, uso de álcool e outras substâncias, problemas
disciplinares, comportamentos de alto risco, perda recente ou grave (morte, divórcio, separação,
etc.), histórico familiar de suicídio, violência familiar, abuso infantil, bullying, falta de apoio social,
acesso a meios letais (por ex., armas de fogo), dificuldades a acesso aos serviços de apoio e auxílio,
crenças culturais ou religiosas, o constrangimento em solicitar ajuda, etc.
Além disso, evidenciou-se que a maioria dos fatores de vulnerabilidade ao comportamento
suicida podem ser prevenidos desde que sejam identificados em tempo e que crianças e
adolescentes que apresentaram comportamento suicida recebam tratamento psicológico e médico.
O fator mais importante para a prevenção de suicídio é o reconhecimento de crianças e
adolescentes em sofrimento e/ou com risco aumentado para suicídio, pois na maioria das vezes eles
não sabem com quem falar e cabe ao adulto encaminhá-las ao tratamento. Porém, a constatação de
um infante em sofrimento e que precisa de ajuda não é o problema, mas saber como reagir e o que
fazer frente a crianças e adolescentes com comportamentos suicidas é mais difícil.
Mudanças de comportamento e de atitude, falta de interesse em atividades prazerosas, faltas
escolares, isolamento social, manifestações verbais que se referem a “pensamentos de morte” e
curiosidades sobre a morte são sinais que não podem ser ignorados, porém a tentativa de suicídio é
o fator de risco mais significativo para o suicídio e o que tem maior probabilidade para a repetição
do ato em outras fases da vida.
Então, dentro do atual contexto e da facilidade de acesso às informações pelas crianças, é de
suma importância conversar com elas sobre o tema suicídio, pois apesar da imaturidade cognitiva,
as crianças têm capacidade e compreensão do ato suicida. Muitas crianças e adolescentes
apresentam algum tipo de transtorno psicológico, especialmente o Transtorno do Déficit de Atenção
com Hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta e depressão, que são fatores de risco e
aumentam a probabilidade deste ato. Adicionalmente, as poucas pesquisas no âmbito nacional
22

acerca da temática do suicídio pode contribuir para a invisibilidade desse tema na instauração de
programas de promoção e tratamento de saúde.
No entanto, crianças e jovens que desenvolveram habilidades para a resolução de problemas
e conflitos, que têm forte ligação afetiva com sua família e amigos, crenças religiosas contra o
suicídio, perspectiva futura positiva e acesso restrito aos meios de suicídio, estão menos propensos a
se prejudicarem, podendo ser tratados como pacientes ambulatoriais.
A edificação perseverante da resiliência nas crianças, está relacionada à personalidade da
criança, à família, às experiências de aprendizagem, à exposição reduzida ao risco e às experiências
compensadoras - por ex., por um ambiente escolar favorável -, podem atuar como fatores protetivos
na prevenção da depressão e, consequentemente, do comportamento suicida.
23

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