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REVISÃO SISTEMATIZADA

Síndrome do ovário policístico e metformina:


revisão baseada em evidências
Polycystic ovary syndrome and metformin: evidence-based review

Resumo
Wilson Maça Yuki Arie1
Angela Maggio da Fonseca2
A maior parte dos trabalhos, assim como diversas revisões sistemáticas, é
Vicente Renato Bagmoli2
Georges Fassolas1 favorável à utilização da metformina no tratamento da síndrome dos ovários policísticos. No entanto, as revisões
Edmund Chada Baracat3 sistemáticas sobre o tema quase sempre têm pouco poder estatístico e grande heterogeneidade, o que as torna
inconclusivas. Será improvável conter a disseminação da utilização empírica da medicação no tratamento desta
Palavras-chave
endocrinopatia. É preciso ter cautela, sobretudo na utilização desta droga durante a gravidez ou em tempo
Síndrome do ovário policístico
Metformina prolongado para evitar as possíveis complicações tardias da SOP, até que novas revisões sistemáticas baseadas em
Hiperandrogenismo trabalhos randomizados bem desenhados e com grande número de participantes sejam realizados, principalmente
estudos multicêntricos, para aumentar o poder estatístico e evitar a heterogeneidade. A mudança de estilo de
Keywords
vida é a primeira alternativa terapêutica para a síndrome dos ovários policísticos em mulheres com excesso de
Polycystic ovary syndrome
Metformin peso ou aumento de gordura visceral.
Hyperandrogenism

Abstract The majority of scientific papers, as well as several systematic revisions, are
favorable to the use of metformin for the treatment of ovary polycystic syndrome. However, specific systematic
revisions have little statistical power and great heterogeneity, which makes them inconclusive. It is unlikely to
control the empiric use of metformin for treating this endocrinopathy. Its necessary to have caution with regard
to the use of this medication, especially during pregnancy or at long term, in order to prevent late complications
of the syndrome, till new systematic revisions from randomized and well designed studies with significant number
of patients be done, mainly multicentre studies that may increase the statistic power and avoid heterogeneity.
The change in lifestyle is the first therapeutic option for the treatment of polycystic ovary syndrome in women
who present obesity and excess of visceral fat.

1
Médico assistente da Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP),
Brasil
2
Professor-associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil
3
Professor titular da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil
Arie WMY, Fonseca AM, Bagmoli VR, Fassolas G, Baracat EC

Introdução de pouca utilidade prática e, por isso, outros métodos mais ou


menos sofisticados têm sido empregados. No entanto, na práti-
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma alteração ca, para fins epidemiológicos, a resistência à insulina é inferida
anatômica dos ovários à qual se associam perturbações no eixo pela medida da glicose e da insulina plasmática após uma noite
neuroendócrino reprodutor com secreção aumentada de androgênios de jejum. Motta3 (D) considerava que quando a relação entre
(D).1 No ambulatório de Ginecologia Endócrina e Climatério do a glicose (em mg/dL) e insulina (em mU/mL) de jejum fosse
serviço de Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de menor que 3 haveria resistência à insulina. Em 1998, Legro et
Medicina da Universidade de São Paulo, considera-se que para al.4(D), aumentaram a sensibilidade do método, considerando
o diagnóstico da SOP, é obrigatória a presença de ovários poli- resistência à insulina quando a relação fosse menor que 4,5
císticos e, ainda, não são totalmente aceitáveis nem os critérios (D).5 Outros autores construíram, com as mesmas dosagens,
do National Institute of Health dos Estados Unidos (Quadro 1), isto é, a glicemia e a insulinemia de jejum, diversas fórmulas
nem o consenso de Rotterdam2 (D) (Quadro 2), que dispensa- matemáticas, afirmando que suas equações predizeriam melhor
ram a presença de ovários policísticos para a caracterização da a resistência à insulina e até mesmo a produção pancreática de
síndrome. Acredita-se que os casos de hiperandrogenismo, em insulina. Como em uma determinada paciente, após o exame,
que os ovários policísticos estão ausentes, e uma vez descartadas essas duas variáveis se tornam constantes, qualquer que seja a
outras causas, poderiam ser denominados de anovulação crônica elocubração matemática, o resultado da relação entre glicemia
hiperandrogênica quando presentes a irregularidade menstrual e insulinemia de jejum será sempre o mesmo. Acredita-se que
e a esterilidade, ou de hiperandrogenismo funcional de causa é preciso aceitar os índices de Motta3(A) quando se desejar alta
ovariana, quando predominarem as manifestações androgênicas especificidade, ou o de Legro et al.4(D) quando se procura por
(acne e hirsutismo). alta sensibilidade.
Embora muito ainda permaneça desconhecido sobre a fisiopa- A hiperinsulinemia estimula a secreção androgênica pelos
tologia da SOP, uma forma de resistência à insulina intrínseca à ovários e adrenais e suprime a produção hepática da globulina
síndrome parece ter importante papel em seu desenvolvimento. transportadora dos hormônios sexuais (SHBG), com aumento
Em associação à obesidade, a resistência à insulina observada é dos androgênios livres biologicamente ativos. O excesso local
parcialmente explicada pelo excesso de tecido adiposo; no en- dos androgênios ovarianos devido à hiperinsulinemia causa a
tanto, tem sido reconhecido que mesmo mulheres magras com atresia prematura dos folículos ovarianos, formando pequenos
SOP têm aumento de resistência à insulina em comparação a cistos e anovulação.
mulheres de mesmo índice de massa corpórea sem SOP. Recentemente, drogas sensibilizadoras à insulina têm sido
O padrão-ouro para o diagnóstico laboratorial da resistência à recomendadas como alternativa terapêutica de longo prazo no
insulina é o clamp euglicêmico hiperinsulinêmico. Este método, tratamento da SOP. Dada a importância da hiperinsulinemia
além de possuir problemas técnicos, é de difícil interpretação e no desenvolvimento do hiperandrogenismo e na disrupção da
foliculogênese, parece razoável supor que tais drogas possam ser
úteis na restauração dos parâmetros clínicos e endocrinológicos
Quadro 1 - Síndrome do ovário policístico, National Institute
Health, 1990 da SOP ao diminuir o excesso de insulina (D).6 Diversas drogas,
Hiperandrogenismo como a metformina, a troglitazona, rosiglitazona, pioglitazona
Anovulação crônica e o D-chiro-inositol, já foram testadas. No entanto, a droga que
Sem evidência de outras etiologias
tem sido mais estudada é a metformina (A).7
Ambos os critérios presentes
A metformina (Figura 1), biguanida N, N’dimetil-biguanida,
Quadro 2 - Síndrome dos ovários policísticos Consenso de medicamento administrado por via oral no tratamento do dia-
Rotterdam, 2003 betes mellitus do tipo 2; ela aumenta a utilização da glicose nos
Oligo ou anovulação tecidos sensíveis à insulina e também diminui a neoglicogênese
Sinais bioquímicos ou clínicos de hiperandrogenismo
Ovários policísticos ao ultrassom
12 ou mais folículos com 2 a 9 mm
Aumento do volume > 10 cm3 NH NH
CH3
Etiologias excluídas N C NH C NH2
Hiperplasia congênita suprarrenal CH3
Tumores secretores de andrógenos
Síndrome de Cushing Figura 1 – Estrutura química da Metformina

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

hepática, reduzindo os níveis plasmáticos de insulina. Os efei- potencializar o efeito do hormônio luteinizante (LH) nos ová-
tos colaterais mais frequentes da droga são os gastrintestinais rios. A hiperinsulinemia também diminui a produção hepática
(diarreia, náusea, sabor metálico e desconforto abdominal), e das proteínas carreadoras dos hormônios sexuais (SHBG) e do
podem ser minimizados com a sua administração durante as IGF-1 (IGFBP-1), contribuindo para uma ação mais ampla do
refeições e aumento gradual das doses. A acidose lática constitui hormônio testosterona e do IGF-1 nas células-alvo (D).6
o evento adverso mais temido deste fármaco, porém é muito rara
(<0,01-0,08 casos/mil pacientes ano, ou seja, 1 a 8 casos em 100 Metformina e hiperandrogenemia
mil usuários), mas apresenta mortalidade de 50%. Justifica-se, Apesar de quase todos os estudos mostrarem diminuição
então, a importância de avaliar previamente as funções renal e dos níveis circulantes da testosterona livre, já que a metformina
hepática seguida de monitorização anual. diminui o SHBG, uma das principais questões a respeito da
A metformina foi utilizada pela primeira vez em mulheres utilização da metformina na SOP é se ela é capaz de diminuir
com SOP por Velasquez et al. (B).8 Os benefícios observados pelos os níveis circulantes dos androgênios.
autores com a metformina, como menstruações mais regulares e Desde a publicação do trabalho de Velasquez et al.8 (B), o
diminuição significativa dos níveis de androgênios, não puderam primeiro trabalho a utilizar a metformina no tratamento da
ser atribuídos exclusivamente ao aumento da sensibilidade à SOP, a relação entre metformina e androgenemia passou a ser
insulina, pois houve redução concomitante de peso das mulhe- controversa. No trabalho desses autores, foram estudadas 28
res. Desde então, a metformina tem sido utilizada em diversos mulheres com SOP que receberam metformina 1.500 mg/dia
estudos, muitos deles randomizados e controlados (D).6 durante oito semanas, comparando-se os níveis de androgênios
O objetivo deste trabalho é rever as melhores evidências antes e depois do tratamento. Houve diminuição da testosterona
sobre a utilização da metformina no tratamento da síndrome total (p=0,0004), da testosterona livre (p=0,0001), da andros-
dos ovários policísticos. Para tanto, foram formuladas questões tenediona (p=0,002) e do sulfato de deidroepiandrosterona
pertinentes, às quais tentamos responder com base na última (p=0,006) com aumento do SHBG (p=0,04).
revisão sistemática, quando existente, e/ou pelo estudo de Em 2001, Sabino et al.9 (A) avaliaram mulheres com SOP que
relevantes trabalhos randomizados, a partir de 1999, encon- fizeram uso de metformina, 1.700 mg/dia ou placebo durante
trados nos bancos de dados Medline/Pubmed, Lilacs/SciELO três meses e verificaram que, apesar de ter havido redução dos
e Biblioteca Cochrane, e que contivessem ao menos o resumo. níveis de androgênios, não foi significativa.
Foram utilizadas 18 revisões sistemáticas e, dos 103 trabalhos Barba et al.10 (A) fizeram uma revisão sistemática para estudar
randomizados encontrados que utilizavam a metformina no os efeitos da metformina nos níveis de androgênios e do SHBG
tratamento da SOP. Os 23 mais recentes que respondiam às endógenos em mulheres que não tinham necessariamente SOP.
questões formuladas foram escolhidos. Para tanto, revisaram-se trabalhos randomizados que compararam
a metformina ao placebo ou ao não-tratamento. A partir da análise
Questão 1. A metformina é eficiente em diminuir os níveis de de 20 trabalhos randomizados que preenchiam os critérios de
androgênios circulantes e melhorar as principais manifestações seleção, os seguintes resultados foram alcançados: a combinação
androgênicas (hirsutismo e acne)? das diferenças das médias ponderadas (weighted mean differences,
Atualmente, é aceita a hipótese de que a SOP e a resistência WMD) e o intervalo de confiança em 95% (IC95%), nos níveis
à insulina estejam ligadas por um gene responsável pela produ- após o tratamento, entre a metformina e o grupo controle foi
ção de uma proteína-quinase anômala: o receptor da insulina -0,31 mmol/L (IC95%=-0,65 a 0,03) para a testosterona total;
pertence à família de receptores tirosina-quinase. Na SOP, em 0.10 pmol/L (IC95%=-0,89 a 1,10) para a testosterona livre;
vez da fosforilação da tirosina, há a fosforilação da serina no -0,14 mmol/L (IC95%=-0,34 a 0,62) para o sulfato de deidroe-
receptor da insulina e também no citocromo p450-c17α; esta piandrosterona (SDHEA); -0,60 nmol/L (IC95%=-1,67 a 0,46)
ativação causa a resistência à insulina e o hiperandrogenismo. A para a androstenediona e 5,88 nmol/L (IC95% 2,01 a 9,75)
hiperinsulinemia aumenta a produção de androgênios nos ovários para o SHBG, respectivamente. A combinação das diferenças
e dos fatores insulinoides de crescimento (IGF-1 e IGF-2) no dos WMD do pré para o pós-tratamento (com o ajustamento
fígado. A insulina aumenta a atividade do citocromo p450-c17α, dos níveis basais dos hormônios) foram -0,38 (IC95%=-0,51
aumentando também a produção da 17α-hidroxiprogesterona e a -0,25) para a testosterona; -2,71 (IC95%=-10,35 a 4,93)
de androstenediona. A IGF-1 inibe a aromatase com diminuição para a testosterona livre; -0,50 (IC95%=-0,83 a -0,16) para o
da conversão dos androgênios para estrogênios. A insulina parece SDHEA; -1,39 (IC95%=-2,30 a -0,49) para a androstenediona

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e 6,63 (IC95%=2,32 a 10,94) para o SHBG, respectivamente. Em 2006, Lord et al., estudando 40 mulheres com SOP
Os autores concluíram, apesar de a qualidade das evidências randomizadas para utilizarem ou a metformina 1.500 mg/
ser baixa, que a metformina reduz os níveis circulantes de an- dia ou o placebo por três meses, não encontraram diferenças
drogênios e aumenta o nível do SHBG em mulheres que não significativas nos níveis séricos de androgênios (A).14
necessariamente tenham SOP (A).10 Em 2007, Curi15 (B), em trabalho randomizado no qual
A metanálise de Lord et al.7 (A), em que se compararam comparou mulheres com SOP que fizeram uso da metformina
os resultados do placebo e da metformina em mulheres com 1.800 mg/dia a mulheres que associaram dieta e exercícios
SOP, a metformina se mostrou mais eficaz em reduzir a hipe- físicos, não notou diferenças nos níveis de testosterona total
randrogenemia: testostertona total (WMD -0,34, p=0,005); e livre, androstenediona e SHBG. Ainda em 2007, Trolle et
androstenediona (WMD -1,21, p=0,00005) e da testoste- al.16 (A) realizaram trabalho randomizado, cruzado e duplo-
rona livre (WMD -4,4, p=0,00001) e aumento da SHBG cego empregando metformina 850 mg ou placebo duas vezes
(WMD -3,3, p<0,0001). ao dia em 56 mulheres com SOP, na menacme com períodos
Em 2006, Tang et al.11 (A) publicaram os resultados de de seis meses cruzados com droga intercalados por período de
trabalho randomizado, multicêntrico, duplo-cego, placebo- três meses de wash-out. Na análise final, os autores concluí-
controlado comparando a metformina ao placebo em mulheres ram que a metformina diminuiu os níveis de testosterona nas
obesas com SOP, as quais foram submetidas a uma mesma pacientes obesas, porém não afetou os níveis da testosterona
dieta. Observou-se que não houve diferenças entre os grupos em pacientes não-obesas.
em relação ao grau de emagrecimento; no entanto, aquelas
que receberam metformina tiveram redução no índice de Metformina e hirsutismo
androgênios livres. O principal marcador do hiperandrogenismo é o hirsutis-
Bridger et al.12 (A) por meio de um trabalho randomizado, mo, crescimento de pelos terminais em áreas normalmente
duplo-cego, estudaram 22 adolescentes com idade de 13 a 18 glabras na mulher. Sempre associados a medidas cosméticas,
anos, todas hiperinsulinêmicas, que receberam ou a metfor- os anticoncepcionais orais contendo 35 mcg de etinil-estradiol
mina ou o placebo em associação a um estilo de vida mais e 2 mg de acetato de ciproterona têm sido as drogas mais
saudável durante 12 semanas, e verificaram que, no grupo da empregadas nesta incômoda manifestação da SOP. Como o
metformina, houve significativa diminuição da testosterona ciclo de crescimento do folículo piloso é de cerca de seis a
sérica (-38,3 ng/dL) em comparação ao Grupo Placebo (-0,86 oito meses, o tratamento sistêmico desta manifestação an-
ng/dL) (IC95%=-infinito a -0,29). drogênica é necessariamente de longa duração (D).1 Assim,
Maciel et al.13 (B), estudando 29 mulheres com SOP que Marcondes et al.17(B), 2007, em trabalho não-randomizado e
fizeram uso de metformina 1.500 mg/dia ou placebo durante não-controlado, trataram 15 mulheres não-obesas portadoras
seis meses, verificaram redução da testosterona total em 38% de SOP com 2.550 mg/dia de metformina e, apesar da res-
(p<0,05), da testosterona livre em 58% (p=0,042) e da an- tauração dos ciclos ovulatórios e da diminuição significativa
drostenediona em 30% (p=0,028) nas mulheres não-obesas, dos níveis plasmáticos de testosterona (de 104.66±27.54
mas não verificou tal redução nas mulheres obesas. para o 82.00±23.05 ng/dL), não observaram diminuição no
escore de Ferriman-Gallway (Figura 2) após quatro meses
de ensaio.
Na revisão sistemática e metanálise de Jing et al.18 (A), cujo
objetivo primário era o hirsutismo, os autores selecionaram 12
trabalhos que compararam a metformina ao anticoncepcional
contendo 35 mcg de etinilestradiol e 2 mg de acetato de ci-
proterona. Apesar da qualidade metodológica dos trabalhos, os
autores concluíram que, pelo menos em seis meses, o anticon-
cepcional não é mais eficaz do que a metformina para a melhora
do hirsutismo. O anticoncepcional foi superior à metformina em
reduzir os androgênios, mas inferior em reduzir a insulina. Em
comparação ao anticoncepcional, a metformina parece exercer
Figura 2 - Escore de Ferriman-Gallwey proteção contra alterações do metabolismo glicídico. Com ex-

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

ceção dos triglicérides, não houve diferença no perfil lipídico. Swiglo et al.21 (A), em revisão sistemática e metanálise, estu-
Evidências de que o anticoncepcional oral piora o perfil lipídico daram os efeitos dos antiandrogênios no tramento do hirsutismo.
e glicídico foram insuficientes. O anticoncepcional pode induzir Dos 348 trabalhos randomizados e controlados analizados, ape-
hipertensão e cefaleia. nas 12 foram selecionados. Os trabalhos tinham ao menos seis
Como os contraceptivos hormonais orais podem piorar o meses de duração e utilizaram o índice de Ferriman-Gallwey
perfil metabólico das mulheres com SOP, favorecendo a utilização para quantificar os pelos. Quando os antiandrogênios foram
das drogas sensibilizadoras à insulina, Loque-Ramirez et al.19 comparados à metformina, a espironolactona reduziu o índice de
(A) conduziram um trabalho randomizado de 24 semanas de Ferriman-Gallwey em 1.3 (IC95% 0.03-2.6) e a flutamida em
duração, em 34 mulheres sucessivas com SOP, comparando a 5.0 (IC95%=3.0-7.0; I(2)=0%). Para estas intervenções, duas
metformina, 1.700 mg/dia ao anticoncepcional oral contendo a cinco mulheres tiveram que receber tratamento para que uma
35 mcg de etinilestradiol e 2 mg de acetato de ciproterona, e relatasse melhora. A flutamida com metformina aparentou ser
estudaram os marcadores clássicos da doença cardiovascular. superior à monoterapia com metformina (4.6; IC95%=1.3-7.9;
O anticoncepcional regularizou o ciclo menstrual de todas as I(2)=40%). Concluiu-se que fracas evidências sugerem que os
mulheres contra 50% da metformina: o anticoncepcional resultou antiandrogênios sejam agentes pouco efetivos no tratamento
em maior redução no escore do hirsutismo e níveis plasmáticos do hirsutismo.
dos androgênios. Os níveis plasmáticos da apolipoproteína A-I e
colesterol HDL aumentaram com o anticoncepcional enquanto Metformina e acne
a metformina não causou nenhuma alteração no perfil lipídico. Acredita-se que a patogênese da acne seja uma inter-relação
Por outro lado, a metformina aumentou a sensibilidade à insu- de diversos fatores, incluindo hiperqueratinização com oclusão
lina enquanto o anticoncepcional não alterou este parâmetro. do orifício folicular, colonização pelo Propionobacterium acnes,
Não houve diferenças nas frequências de anormalidades na estimulação excessiva por androgênios e hipersecreção de sebo.
tolerância à glicose e dislipidemia entre os dois grupos. Os Dependendo da severidade do quadro, além do tratamento tópico,
autores concluíram que o anticoncepcional parece ser superior são utilizados sistemicamente antibióticos, terapia hormonal e,
à metformina em controlar o hiperandrogenismo e regulari- em certas circunstâncias, a isotretinoina. O tratamento para acne
zar o ciclo menstrual e que ele não está associado à piora dos com metformina não tem sido objetivo nos estudos de mulheres
marcadores metabólicos clássicos da doença cardiovascular em com SOP, assim, na revisão sistemática de Lord et al., de 2003,
mulheres com SOP. nenhum trabalho citava esta alteração dermatológica (A).7
Cosma et al.20 (A) conduziram uma revisão sistemática e Já na revisão sistemática de Costello et al.22 (A), os autores
metanálise de trabalhos randomizados e controlados sobre citaram apenas um trabalho em que foram analisaram 34 par-
drogas sensibilizadoras à insulina (metformina e tiazolinedinas) ticipantes que reportaram subjetivamente a severidade da acne
para o tratamento do hirsutismo. Como critérios de seleção, era utilizando escala analógica que variava de 0 a 10. O trabalho não
obrigatório o tratamento de pelo menos seis meses e a quan- demonstrou diferença da metformina com anticoncepcional oral
tificação do hirsutismo pelo índice de Ferriman-Gallwey. Dos (WMD 0,90; p=0,18. IC95%=-0,40 a 2,20). Não havia nenhum
349 trabalhos analisados, apenas 16 foram incluídos e, mesmo trabalho que comparasse a metformina em combinação com
assim, tinham qualidade metodológica baixa. A metanálise pílula anticoncepcional ao anticoncepcional isoladamente.
demonstrou discreta diminuição do índice de Ferriman-Gallwey Tan et al.23 (B) com o objetivo de determinar a influência da
em mulheres tratadas com sensibilizadores à insulina em com- metformina em parâmetros clínicos e laboratoriais em mulheres
paração ao placebo [WMD combinado de -1,5 IC95%=-2,8 com SOP independentemente da presença de obesidade e resistên-
a -0,2; inconsistência, I(2)=79%]. Não houve diferença entre cia à insulina, estudaram prospectivamente, durante seis meses,
as drogas sensibilizadoras à insulina e os contraceptivos orais 188 mulheres com SOP em tratamento com metformina 1.000
[WMD de -0,5; IC95%=5,0 a 3,9; I(2)= 79%]. Além disso, mg/dia para mulheres até 60 kg, 1.700 mg/dia para mulheres
a metformina foi inferior tanto à espironolactona (WMD de com peso entre 60 a 100 kg, e 2.000 mg/dia para mulheres com
1,3; IC95%=0,03 a 2,6) quanto à flutamida (WMD de 5.0; mais de 100 kg. Cento e duas mulheres saudáveis serviram de
IC95%=3,0 a 7,0; I(2)=0%). Os autores concluíram que controle. O trabalho não cita como foi avaliada a severidade da
evidências inconclusivas e imprecisas sugerem que as drogas acne. Os autores verificaram melhora de diversos parâmetros
sensibilizadoras à insulina trazem benefícios limitados e não laboratoriais e clínicos, inclusive da acne (31,8 versus 11,6%;
importantes no tratamento do hirsutismo. com p<0,017) (A).22

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Arie WMY, Fonseca AM, Bagmoli VR, Fassolas G, Baracat EC

Questão 2. A metformina restitui a função ovariana, regulari- Em trabalho randomizado realizado por Loque-Ramirez et
zando o ciclo menstrual e melhorando os índices na indução de al. (A), todas as mulheres que utilizaram o anticoncepcional
19

ovulação? contendo 35 mcg de etinilestradiol e 2 mg de acetato de cipro-


A principal característica da SOP é a anovulação crônica. Nas terona tiveram o ciclo menstrual regularizado, contra 50% das
pacientes portadoras dessa síndrome, existem concentrações san- que utilizaram 1.700 mg da metformina em seis meses.
guíneas erráticas ou inapropriadamente elevadas de LH e níveis
relativamente constantes e baixos do FSH por defeito primário Metformina e indução da ovulação
do sistema hipotálamo-hipofisário ou por retroalimentação O tratamento medicamentoso de primeira escolha para in-
inadequada ocasionada por uma esteroidogênese anormal das duzir a ovulação de mulheres com SOP é o citrato de clomifene.
glândulas periféricas. Essas alterações gonadotrópicas causam Se não houver resposta a doses crescentes do medicamento, a
estimulação inadequada dos ovários, com produção aumentada mulher é rotulada de “clomifene-resistente”. Acredita-se que
dos androgênios intraovarianos que inibem a maturação folicular o pronunciado grau de hiperinsulinemia nas mulheres obesas
e induzem a atresia folicular, que são características constantes com SOP seja a causa da baixa sensibilidade destas mulheres
nos ovários policísticos. ao citrato de clomifene.
A resistência à insulina é uma importante característica
Metformina e regularização do ciclo menstrual fisiopatológica da SOP, e a sua hiperinsulinemia compensatória
Em uma metanálise, a metformina teria um efeito positivo contribui para a anovulação, hiperandrogenismo e abortamen-
na regularização do ciclo menstrual, com um Odds Ratio (OR) tos precoces sofridas por mulheres com SOP. Evidências atuais
12,88 (p=0,01; IC95%=1,85-89,61) e um risco relativo (RR) suportam o papel da metformina no tratamento da anovulação
1,45 (IC95%=1,11-1,90) (A).7 na SOP tanto como monoterapia quanto em combinação com
Em 2007, Curi15(B), em trabalho randomizado no qual o clomifene em mulheres clomifene-resistentes. Além disso,
comparou mulheres com SOP que fizeram uso da metformina evidências recentes sugerem que a metformina pode também
1.800 mg/dia a outras que fizeram uso da associação de dieta e exercer alguma influência na redução do risco de abortamentos
exercícios físicos, não notou diferenças na normalização dos ciclos precoces.
menstruais e nas taxas de gestação entre os dois grupos. Em revisão sistemática, Palomba et al.25 (A) compararam o
Marcondes et al.17(B), em trabalho não-randomizado e citrato de clomifene à metformina e à combinação de ambas as
não-controlado, trataram 15 mulheres não-obesas com SOP, drogas como tratamento de escolha para mulheres com anovula-
com 2.550 mg/dia de metformina e constataram restau- ção crônica e SOP. Quatro trabalhos preencheram seus critérios
ração de ciclos ovulatórios e diminuição significativa dos de inclusão. Nenhuma diferença na melhora da fertilidade foi
níveis plasmáticos de testosterona (de 104.66±27.54 para o observada comparando-se o citrato de clomifene e a metformina
82.00±23.05 ng/dL). (OR=1.22; IC95%=0.23-6.55, p=0.815), ao passo que uma
Yimaz et al.24 (A) compararam, em trabalho randomizado e significativa heterogeneidade (p<0.0001) foi observada. Dados
controlado, 98 mulheres com SOP que receberam metformina homogênios não mostraram diferenças em relação à melhora da
ou troglitazona e verificaram que ambas as drogas melhoram o fertilidade entre o tratamento combinado e a monoterapia com
padrão menstrual 87,8% no grupo da troglitazona e 79,3% no citrato de clomifene (OR=0.99, IC95%=0.70-1.40; p=0.982),
grupo da metformina. mas apontaram diferença significativa na comparação entre a
monoterapia e a metformina (OR=0.23; IC95%=0.14-0.37;
p<0.0001). Os autores concluíram que, em mulheres com SOP
Quadro 3 - HOMA-IR
e anovulação crônica sem prévio tratamento, a administração
HOMA-IR combinada de metformina e citrato de clomifene não é mais
Glicemia mg/dL
eficaz do que a monoterapia com qualquer uma das drogas iso-
= nmol/L ladamente, enquanto nenhuma recomendação específica pode ser
18
dada em relação ao uso do citrato de clomifene ou à metformina
como droga de primeira escolha.
Insulina (mUI/L) x Glicemia (nmol/L)
>2,7 Costello et al.22 (A) fizeram uma revisão sistemática de trabalhos
22,5
controlados e randomizados para analisar se a coadministração
de metformina e gonadotrofinas para indução de ovulação para

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

coito programado ou fertilização in vitro melhoraria os resultados de 23,7% no grupo da metformina, 59% no grupo do clomi-
alcançados em mulheres com SOP. A metanálise destes trabalhos fene e 68,4% no grupo das medicações combinadas. As taxas
mostrou que essa coadministração não aumentou de forma signi- de gestação e nascidos vivos tiveram comportamento similar
ficativa as taxas de ovulação (OR=3,27, IC95%=0,31 a 34,72), (gestação: 7,9%, 15,4%, e 21,1%; nascidos vivos: 7,9%, 15,4%,
de gestação (OR=3,46; IC95%=0,98 a 12,2) e de nascidos vivos e 18,4% nos grupos da metformina, clomifene e tratamento
(OR=3,46; IC95%=0,98 a 4,14), mas reduz significativamente a combinado, respectivamente), embora as diferenças não tenham
síndrome de hiperestimulação ovariana (OR=0,21; IC95%=0,11 sido significativas. Não houve gestações múltiplas e a taxa de
a 0,41; p<0,00001). Os autores concluíram que a utilização abortamentos precoces foi similar à da população em geral. Os
da metformina e gonadotrofinas para induzir a ovulação em autores concluem que o citrato de clomifene é a droga de primeira
coitos programados ou fertilização in vitro ainda é controversa opção na indução de ovulação em mulheres com SOP.
e, portanto, mais trabalhos randomizados devem ser realizados Quando utilizado para a indução de ovulação, doses ele-
para que se alcancem conclusões definitivas. vadas de citrato de clomifene podem levar a efeitos colaterais
Moll et al.26 (A) fizeram uma comparação entre 111 mulheres antiestrogênicos que reduzem a fecundidade. Sugere-se que a
com SOP randomizadas utilizando metformina mais citrato metformina em combinação com o clomifene possa restaurar a
de clomifene e 114 randomizadas que receberam o citrato de ovulação em algumas mulheres com SOP clomifene-resistentes.
clomifene mais placebo. Os autores estudaram a idade, o índice Com o objetivo de determinar se a associação do clomifene com
de massa corpórea, a relação cintura-quadril e a testosterona a metfomina de liberação prolongada (Metformin XR) pode
plasmática de todas as mulheres, o teste de tolerância à glicose diminuir a dose necessária para induzir a ovulação em mulheres
de duas horas em 80% delas e o HOMA-IR (Homeostasis Model com SOP, Cataldo et al.28 (A) realizaram uma segunda análise
Assessment of Insulin Resistance) (Quadro 3) em 50% das mulheres. dos dados do National Institute of Child Health and Human De-
Dentre aquelas que foram alocadas para o grupo da metformina, velopment Cooperative Multicenter Reproductive Medicine Network,
44 mulheres engravidaram (40%) contra 52 (46%) do grupo do um trabalho prospectivo, duplo-cego, placebo-controlado e
placebo. Houve diferença significativa no número de gestações multicêntrico denominado Pregnancy in polycystic ovary syndrome.
entre os grupos metformina e placebo entre subgrupos baseados Mulheres com anovulação e elevado nível sérico de testosterona
na idade e na relação cintura-quadril (p=0,014). Houve efeito foram randomizadas para o clomifene isoladamente ou em as-
melhor da metformina sobre o placebo nas mulheres com mais sociação com metformina (n=209 em cada grupo). O citrato de
de 28 anos de idade com a relação cintura-quadril maior; o efeito clomifene era administrado em 50 mg/dia durante cinco dias,
da metformina foi negativo em relação ao placebo nas mulheres aumentando para 100 e 150 mg nos ciclos subseqüentes caso
com menos de 28 anos de idade. Independentemente da relação não ocorresse ovulação. Metade das mulheres recebeu também
cintura-quadril, não houve efeito da metformina nas mulheres a metformina XR, 1.000 mg/2x/dia. O tratamento se mante-
com mais de 28 anos sem obesidade central. Nenhuma diferença ve por 6 ciclos, ou 30 semanas, ou até a primeira gestação. A
estatística foi encontrada em relação ao efeito do tratamento dos ovulação era inferida pela dosagem de progesterona maior ou
grupos baseados no índice de massa corpórea, curva de tolerân- igual a 5 ng/mL, dosagens que eram realizadas a cada uma ou
cia à glicose, HOMA-IR e testosterona plasmática. Os autores duas semanas. A prevalência de pelo menos uma ovulação após
concluíram que a metformina pode ser efetivamente adicionada clomifene foi de 75 e 83% (p=0,04) nos grupos do clomifene
ao citrato de clomifene em mulheres com SOP estéreis, especial- isolado e da associação clomifene-metformina. Das 314 mulheres
mente se forem mais idosas e visceralmente obesas. que ovularam, a menor dose de clomifene (50, 100 ou 150 mg)
Para determinar qual seria a primeira opção na terapia me- foi indistinguível entre os dois grupos, e os autores concluíram
dicamentosa de indução de ovulação em mulheres com SOP e que a metformina XR não reduz a menor dosagem de clomifene
alcançar a gravidez, Zain et al.27 (A), em trabalho randomizado necessária para induzir a ovulação em mulheres com SOP.
e controlado, avaliaram 115 mulheres com diagnóstico recente Moll et al.26 (A) conduziram uma revisão sistemática e
de SOP e as randomizaram em três grupos: Grupo 1, com 38 metanálise para avaliar a eficácia da metformina na indução
mulheres que receberam metformina 500 mg/3x/dia; Grupo da ovulação em mulheres que preenchessem os critérios de
2, com 39 mulheres que receberam citrato de clomifene em Rotterdam para a SOP. Vinte e sete trabalhos randomizados,
doses crescentes; e Grupo 3, com 38 mulheres que receberam cujo objetivo principal era o número de nascidos vivos, foram
a associação dos dois medicamentos. Foram analisadas as taxas incluídos. Em mulheres que nunca haviam feito tratamento,
de ovulação, gravidez e nascidos vivos. A taxa de ovulação foi não houve diferença no número de nascidos vivos quando se

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compararam a metformina e o citrato de clomifene (RR=0.73; no que diz respeito aos nascidos vivos em mulheres estéreis com
IC95%=0.51-1.1) ou a metformina mais citrato de clomifene SOP, embora a gestação múltipla seja uma complicação (A).29
e o citrato de clomifene isolado (RR=1,0; IC95%=0,82-1,3).
Em mulheres resistentes ao citrato de clomifene, a combinação Questão 3. A metformina diminui as taxas de complicações
citrato de clomifene e metformina aumentou o número de gravídicas e a morbimortalidade perinatal nas mulheres com
nascidos vivos em comparação ao citrato de clomifene isolado síndrome dos ovários policísticos?
(RR=6,4; IC95%=1,2-35); a metformina também aumentou Segundo Homburg30 (D), as complicações da gravidez associadas
o número de nascidos vivos em relação ao drilling ovariano à SOP materna incluem prevalência aumentada de abortamento
por via laparoscópica (RR=1,6; IC95%=1,1-2,5). Não houve precoce, diabetes gestacional, desordens hipertensivas induzidas
evidência de que a metformina mais o drilling melhorasse pela gravidez e retardo de crescimento intrauterino. Evitar a
o número de nascidos vivos em relação ao drilling isolado obesidade antes da gravidez e tratamento com a metformina
(RR=1,3; IC95%=0,39-4,0), ao FSH (RR=1,6; IC95%=0,95- são opções terapêuticas, também para a elevada prevalência de
2,9), ou à sua coadministrado na fertilização in vitro (RR=1,5; diabetes gestacional. A administração de metformina durante
IC95%=0,92-2,5). Na fertilização in vitro, a metformina toda a gravidez é assunto controverso. É recomendável pesquisar o
causou menos casos da síndrome de hiperestimulação ovariana diabetes gestacional e a doença hipertensiva específica da gravidez
(RR=0,33; IC95%=0,13-0,80). Esta metanálise demonstrou especialmente em mulheres obesas, embora dados que possam
que o citrato de clomifene é, ainda, a terapia de primeira es- confirmar a associação entre as doenças hipertensivas específicas
colha em mulheres com SOP que nunca fizeram tratamento. da gravidez sejam poucos. O retardo de crescimento mediado
Em mulheres resistentes ao citrato de clomifene, a adição da pela insulina e a programação fetal são possíveis explicações para
metformina é o tratamento de escolha antes do drilling ou do a alta prevalência de bebês pequenos para a idade gestacional
FSH. Não existem evidências de que a metformina melhore em mães com SOP. Em metanálise sobre as complicações da
o número de nascidos vivos se adicionado ao drilling ou ao gravidez de mulheres da SOP realizada por Boomsma et al.31
FSH. Na fertilização in vitro, a metformina reduz o risco da (A), na qual foram comparados 720 casos a 4.505 controles,
síndrome de hiperestimulação ovariana. os autores verificaram que as gestantes com SOP tinham risco
Legro et al.29 (A) randomizaram 626 mulheres estéreis com significativamente maior de desenvolver diabetes gestacional
SOP para receberem citrato de clomifene mais placebo, me- (OR=2,94; IC95%=1,70- 5,08); hipertensão induzida pela gra-
tformina contínua mais placebo ou combinação de metformina videz (OR=3,67; IC95%=1,98-6,81), pré-eclâmpsia (OR=3,47;
mais placebo por pelo menos seis meses. As medicações eram IC95%=1,95-2,62) e parto prematuro (OR=1,75; IC95%=1,16-
suspensas quando a gravidez era confirmada e, então, as mulheres 2,62). Seus bebês tiveram risco aumentado de admissão em
recebiam acompanhamento até o final da gestação. O índice de Unidade de Terapia Intensiva (OR=2,31; IC95%=1,25-4,26)
nascidos vivos foi de 22,5% (47 de 209 mulheres) no grupo do e maior mortalidade perinatal (OR=3,07; IC95%=1,03-9,21).
clomifene, 7,2% (15 de 208) no grupo da metformina e 26,8% Os autores concluíram que as mulheres com SOP têm maior
(56 de 209) no grupo da terapia combinada (p<0,001 para me- risco de complicações gravídicas e neonatais e que cuidados
tformina tanto contra o clomifene quanto a terapia combinada; pré-concepcionais, pré-natais e intraparto devem ser tomados
p=0,31 para o clomifene contra a terapia combinada). O índice para diminuir essas complicações.
de gestação múltipla foi de 6,0% no grupo do clomifene, 0% A gestação nas mulheres com SOP é considerada de alto risco
no grupo metformina e 3,1% no grupo combinado. Os índices pela maioria dos autores. O índice de abortamentos precoces
de abortamentos de primeiro trimestre não diferiram significa- é consideravelmente mais alto. A incidência de complicações
tivamente entre os grupos. No entanto, o índice de concepções no segundo e terceiro trimestres entre as mulheres com SOP
entre as mulheres que ovularam foi significativamente menor não tem sido muito estudada. No entanto, o diabetes mellitus
no grupo metformina (21,7%) em relação ao grupo clomifene gestacional (DMG), a pré-eclâmpsia e o parto prematuro têm
(39,5%, p=0,002) e ao grupo da terapia combinada (46,0%, incidência maior nas grávidas com SOP. Enquanto a utilização da
p<0,001). Com exceção das complicações da gestação, os eventos metformina no tratamento da SOP parece estar bem estabelecida,
adversos foram similares em todos os grupos, sendo os sintomas e embora seus efeitos em mulheres grávidas ainda não tenham
gastrintestinais e sintomas vasomotores e ovulatórios menos sido estudados em profundidade, estudos observacionais com
comuns no grupo da metformina do que no grupo do clomifene. o uso da metformina em grávidas com diabetes não demons-
Os autores concluíram que o clomifene é superior à metformina traram efeitos adversos da metformina em mulheres grávidas

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

com DMG. No entanto, Hellmuth et al.32 (D) relataram que a respectivamente, 43,7%, 33% e 13,9%, com p<0,020. A taxa
metformina, em comparação a sulfoniureias, no tratamento de de diabetes gestacional que necessitou de tratamento insulínico
grávidas diabéticas, associou-se a incidências maiores de pré- nos grupos A e B foi de 18,7 e 33,3% comparados a 2,5% no
eclâmpsia e mortalidade perinatal. Os defensores da metformina Grupo C (p<0,004). A incidência de retardo de crescimento
logo disseram que o trabalho estava repleto de vieses (o trabalho intrauterino foi significativamente menor no Grupo C: 2,5%
teve duração de décadas e a incidência de mulheres obesas foi comparado a 19,2 e 16,6% nos grupos A e B, respectivamente
maior no grupo da sulfonilureia). (p<0,046). A frequência de partos prematuros e taxa de nascidos
A utilização de metformina na gravidez foi inicialmente vivos no grupo C foi menor em comparação aos grupos A e B.
contraindicada, pois estudos observacionais mostraram efeitos A taxa de abortamentos em todo o grupo foi de 7,8%. O Grupo
adversos em fetos expostos à droga. No entanto, com a popularização Controle não mostrou diferenças significativas comparado ao
do tratamento de mulheres com SOP e visto que a metformina Grupo A em relação às complicações tardias da gravidez. Os
poderia melhorar certos mecanismos potencialmente causadores autores concluíram que a utilização da metformina durante a
de abortamentos, como a hiperinsulinemia, hiperandrogenemia gravidez reduz significativamente a incidência de abortamentos,
e obesidade, a droga começou a ser utilizada cada vez mais na diabetes gestacional que requeira terapia insulínica, DHEG e
gravidez, inclusive inicial. Atualmente, a metformina é consi- retardo de crescimento intrauterino. Neste trabalho, não houve
derada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados casos de malformações fetais nem de nati ou neomortos.
Unidos para utilização na gravidez como droga da categoria
B, o que significa que não existem evidências de risco em seres Metformina e abortamento precoce
humanos. Feig et al.33 (A), conduziram uma revisão sistemática Estudos observacionais sugerem que mulheres grávidas com
sobre a utilização de drogas antidiabéticas em mulheres grávidas. SOP têm risco aumentado de abortamentos precoces. O risco
Eles observaram que a metformina ultrapassa rapidamente a aumentado de abortamento precoce nas grávidas com SOP tem
placenta, mas estudos em animais não encontraram evidências sido atribuído à obesidade, hiperinsulinemia, elevados níveis de
de que a metformina seja teratogênica. Nenhuma toxicidade foi LH e disfunção endometrial. A utilização da metformina durante
observada no desenvolvimento quando a metformina foi usada a gravidez tem sido advogada para reduzir o risco de abortamentos
antes ou durante a gestação em mulheres com SOP. Alguns precoces nessas mulheres (D).6 Têm sido publicados pequenos
dos estudos envolvendo mulheres com diabetes tipo II tiveram estudos observacionais com o objetivo de avaliar a importância
problemas metodológicos. da metformina em mulheres com SOP grávidas para a redução
Estudos mediram quantidades insignificantes de metformina do abortamento espontâneo e do diabetes gestacional.
no leite materno. Os autores concluíram que a metformina não Glueck et al.35 (B) realizaram estudo piloto com 72 mulheres
causa toxidade no desenvolvimento em humanos e que trabalhos grávidas com SOP e constataram uma diminuição na taxa de
adicionais são necessários para definir os riscos e benefícios da abortamento precoce e de diabetes gestacional, sem aparentes
metformina para a gravidez e aleitamento. complicações fetais.
Um estudo de segunda categoria (nível de evidência B), Jacubowicz et al.36 (B) conduziram um trabalho retrospectivo
porém bem desenhado, sobre a utilização da metformina du- em que compararam 65 mulheres que receberam metformina
rante a gravidez foi realizado por Nawaz et al. (B).34 Esse estudo desde o início da gestação a 31 mulheres que não receberam
caso-controle avaliou 105 casos de mulheres com SOP que a medicação. O abortamento precoce no grupo que recebeu a
engravidaram na vigência da metformina e as comparou a 32 metformina foi de 8,8% (6 de 68 gestações) e, no grupo con-
mulheres com SOP que engravidaram espontaneamente (controle). trole, de 41,9% (13 de 31 gestações) (p<0,001). Em mulheres
As mulheres que engravidaram tomando a metformina foram com história de abortamentos prévios, o abortamento precoce
alocadas no Grupo A (40 mulheres que deixaram de utilizar a ocorreu em 11,1% (4 de 36 gestações) no grupo tratado com
metformina até a 16ª semana de gestação). O Grupo B reuniu metformina contra 58,8% (7 de 12 gestações) no Grupo Con-
29 mulheres que suspenderam a medicação até a 32ª semana, e trole (p<0,002). Neste trabalho, os autores concluíram que a
Grupo C, 45 mulheres que utilizaram a medicação até o final metformina reduz a incidência de abortamentos precoces em
da gestação. Todos os grupos eram homogêneos em relação à gestantes com SOP.
idade, peso e altura. Analisaram-se complicações gestacionais Glueck et al.37 (B) estudaram 72 mulheres com SOP que
precoces e tardias, retardo de crescimento intrauterino e índice de engravidaram com o auxílio da metformina e tiveram 17% de
nascidos vivos. Nos grupos A, B e C, a incidência de DHEG foi, abortamentos precoces, comparando-as às suas próprias 100

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Arie WMY, Fonseca AM, Bagmoli VR, Fassolas G, Baracat EC

gestações prévias que, sem a metformina, tiveram 62% de peso da gestação, predispondo-a ao diabetes mellitus gestacional
abortamentos precoces (p<0,0001). (DMG).
Legro et al.29 (A) randomizaram 626 mulheres estéreis para O DMG é diagnosticado em mais de 4% das mulheres grá-
receber citrato de clomifene mais placebo, metformina contínua vidas. A prevalência vem aumentando porque a população de
mais placebo ou a combinação de metformina mais placebo grávidas se tornou mais idosa e obesa. Mulheres com DMG têm
por pelo menos seis meses. As medicações foram suspensas aumento das taxas de complicações gravídicas e risco aumentado
quando a gravidez era confirmada e as mulheres foram acom- para o diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Os filhos de mulheres
panhadas até o final da gestação. Os índices de abortamentos com DMG também têm aumento dos riscos para complicações
de primeiro trimestre não diferiram significativamente entre perinatais e, a longo prazo, risco de desenvolverem obesidade e
os grupos, mas foram significativamente menores do que os DM2. Houve grande discussão se havia a necessidade de tratar
índices relatados em estudos observacionais. o DMG, mas trabalhos randomizados e observacionais demons-
Palomba et al.25 (A) relatam o efeito da metformina em traram recentemente que o tratamento destas mulheres reduziria
um caso de abortamento de repetição em uma mulher com os efeitos adversos perinatais (D).39
SOP. A mulher com história de abortamento de repetição Na revisão sistemática de Toullis et al.40 (A), verificou-se que
recebeu a metformina antes e durante toda a gestação. Após a grávida com SOP tem risco significativamente maior de de-
três meses de tratamento, a paciente engravidou. A gravidez senvolver DMG em comparação a grávidas sem SOP (OR=2,89,
evoluiu fisiologicamente e, com 39 semanas, a paciente teve IC95%=1,68-4,98), ainda que com significativa heterogenei-
um parto normal. Os autores concluíram que a metformina se dade [I(2)=59.3%], persistente em análise de sensibilidade. No
monstrou efetiva neste caso de SOP com resistência à insulina subgrupo dos estudos de coorte, o achado permaneceu robusto
e abortamento de repetição. (OR=7,11; IC95%=2,95-17,12), enquanto no subgrupo de
Tatcher e Jackson38 (B) analisaram as complicações da estudos caso-controle, o achado não foi tão evidente (OR=0,89;
gravidez em mulheres com SOP tratadas com metformina. IC95%=0,38-2,06). Modelo de metarregressão revelou a depen-
Para tanto, estudaram 188 mulheres estéreis com SOP (média dência linear do resultado no tipo de estudo e nos riscos iniciais.
da esterilidade de 27 meses) que tiveram, após média de sete Os autores concluíram que a significativa heterogeneidade entre
meses de utilização de metformina, 237 gestações por dife- os estudos e dependência dos resultados no tipo de estudo faz
rentes métodos de reprodução assistida, sendo a metformina com que o alto risco de DMG em mulheres com SOP seja um
utilizada isoladamente em 52% dos casos. Nas gestações achado questionável. Somente estudos apropriadamente dese-
confirmadas, a metformina parece diminuir a incidência de nhados deverão preceder qualquer recomendação a respeito do
abortamentos expontâneos. As comorbidades da SOP, obesi- risco de DMG nas mulheres com SOP.
dade, resistência à insulina e sensibilidade à glicose serviram No entanto, em metanálise sobre as complicações da gravidez
como indicadores de aumento de risco de complicações da de mulheres com SOP realizada por Boomsma et al., verificou-se
gestação, especialmente o diabetes gestacional. Não houve que as gestantes com SOP têm risco significativamente maior de
aumento na hipertensão induzida pela gravidez. O número desenvolverem diabetes gestacional (OR=2,94; IC95%=1,70-
de prematuros aumentou. Nem a utilização da metformina 5,08) (A).31
nem a SOP parecem aumentar o risco de malformações Glueck et al.36 (B), estudando prospectivamente 90
congênitas. A SOP não afetou a amamentação. Os autores mulheres que engravidaram em uso de metformina
concluem que a SOP ou suas comorbidades estão associadas (1.5-2.55 g/dia e que tiveram ≥ 1 nascido vivo (97 gestações,
ao pior prognóstico da gravidez. 100 nascidos vivos), comparando-as a 252 gestantes saudáveis
(sem SOP) com ≥ 1 nascido vivo, consecutivamente em um ser-
Metformina e diabetes gestacional viço obstétrico comunitário. As mulheres com SOP eram mais
Estudos longitudinais com GTT durante a gravidez normal idosas do que as controles (33±5 versus 29±6 anos, p<0,0001),
mostram aumento progressivo da insulina após o estímulo, sem mais chance de ter > 35 anos de idade na concepção (23 versus
comprometimento concomitante da tolerância à glicose, o que 13%, p=0,028), serem mais pesadas (93±23 versus 72±18 kg,
revela o desenvolvimento de uma resistência fisiológica à insu- p<0,0001, IMC 33,8±7,8 kg/m2 versus 25,6±5,9, p<0,0001),
lina que se torna mais evidente a partir do segundo trimestre. houve números pré-concepcionais similares de diabetes tipo 2
Supõe-se que, na gestante com SOP, o aumento fisiológico da em ambos os grupos [2/90 (2,2%) versus 1/252 (0,4%), p=0,17].
resistência à insulina durante a gravidez aumente o ganho de A pré-eclâmpsia na SOP (5/97 gestações, 5,2%), não diferiu

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

(p=0,5) dos controles (9/252, 3,6%), nem diferiu (p=1,0) na 36ª semanas, e o GTT de 2 horas com 75 g de glicose na inclusão
SOP versus controles primigrávidas [2/45 (4,4%) versus 4/91 e na 19ª e 32ª semanas. A resistência à insulina foi calculada
(4,4%)]. O desenvolvimento de DMG na SOP não diferiu do pelo HOMA-IR e a função das células beta pelo HOMA-beta.
Grupo Controle [9/95 gestações (9,5%) versus 40/251 (15,9%), No momento da inclusão, a glicemia de duas horas no GTT foi
p=0,12]. Das 100 crianças vivas nascidas das 90 mulheres com maior no grupo placebo (7,14 versus 6,03 mmol/L; p=0,012). Em
SOP, não houve malformações fetais importantes. A média e os conformidade, 6 das 22 mulheres do grupo da metformina e 2
pesos das 80 crianças que nasceram ≥ 37 semanas de gestação das 18 do Grupo Placebo (p=0,21) tinham DMG no momento
em mulheres com SOP (3,414±486 g) não diferiu dos 206 nas- da inclusão. Nas semanas de gestação 19 e 32, os níveis de gli-
cidos vivos ≥ 37 semanas (3.481±555 g) do Grupo Controle cose de duas horas foram iguais nos dois grupos. A proporção
(p=0,34), assim como não houve diferença na percentagem de total de mulheres com DMG não diferiu entre os dois grupos,
neonatos ≥ 37 semanas de gestação com peso ≥ 4.000 g (12,5 assim como qualquer outro índice no metabolismo da glicose e
versus 17,5%, p=0,3) ou ≥ 4.500 g (1,3 versus 2,9%, p=0,7). da insulina. Os autores concluíram que a metformina não parece
Os autores concluem que a metformina não está associada à ter efeitos importantes na homeostase da glicose em gestações
pré-eclâmpsia nas gestantes com SOP e parece ser segura para de mulheres com SOP.
a mãe e para o feto. Na revisão sistemática de Nicholson et al., da qual foram
Para avaliar prospectivamente se a combinação de metformi- excluídos trabalhos sem Grupo Controle ou que não utilizaram
na com dieta previne primária e secundariamente o DMG em métodos padronizados para o diagnóstico de diabetes gesta-
mulheres com SOP, Glueck et al.37(B), realizaram um trabalho cional (teste de tolerância à glicose [GTT] de três horas com
não-randomizado, mas controlado, no qual 142 mulheres não 100 g de glicose ou GTT de duas horas com 75 g de glicose.
diabéticas com SOP que tinham tido pelo menos um filho nascido Nove trabalhos preencheram os critérios de inclusão, quatro
vivo com a utilização da metformina + dieta (172 gestações, trabalhos randomizados e controlados (n=1.299 participantes)
180 nascidos vivos) foram submetidas a dieta com 26% de e cinco trabalhos observacionais (n=831 participantes). Não
proteína, 44% de carboidratos sem restrição calórica durante a houve diferenças no controle glicêmico das mães e nas taxas de
gestação. A metformina (2 a 2,55 g/dia) foi dada desde a pré- cesáreas entre o grupo da insulina e o da metformina. Houve
concepção até o final da gestação. Sob a metformina, DMG foi maior proporção de hipoglicemia nos neonatos do grupo da
desenvolvida em 12 (7%) de 173 gestações com nascidos vivos insulina em comparação ao grupo da metformina (8,1 versus
e, destas, 47 mulheres tinham tido ao menos uma gestação 3,3%; p=0,008). O índice de malformações congênitas não di-
prévia com nascido vivo (n=64) sem metformina com DMG feriu entre os grupos. Os estudos observacionais foram limitados
desenvolvendo em 19 delas (30%). Subsequentemente, sob me- por vieses e confusos métodos de seleção. Os autores concluem
tformina, estas 47 mulheres tiveram 50 gestações com nascidos que o prognóstico materno e fetal não foram diferentes com o
vivos e o desenvolvimento do DMG em 6 (12%) que não foi uso da insulina ou da metformina em mulheres com diabetes
estatisticamente significativo. Das 15 mulheres que tinham tido gestacional (A).42
DMG previamente sem a metformina, o DMG desenvolveu-se
em 5 (31%) das 16 gestações subsequentes sob a metformina. Metformina e doença hipertensiva específica da gravidez
Das 32 mulheres que não tiveram DMG sem a metformina A doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) é enti-
em gestações anteriores, o DMG desenvolveu em 1 (3%) das dade nosográfica, cuja causa etiológica ainda não foi esclarecida,
34 gestações subsequentes com metformina. DMG prévia sem e tem como sintoma predominante a hipertensão arterial, que
metformina foi a única variável explanatória significativamente deve se constituir no critério taxonômico caso se queira avançar
estatística. Os autores concluíram que a associação da dieta com no terreno da etiologia.
metformina durante a gravidez facilita a prevenção primária e Lavuori et al.43 (B) estudaram 22 mulheres que tiveram
secundária do DMG (B).37 DHEG em gestações prévias (media de 17 anos após o parto)
Para investigar os efeitos da metformina na homeostasia e as compararam a outras 22 mulheres equiparadas por idade
da glicose em mulheres grávidas com SOP, Fougner et al.41 (A) e índice de massa corporal. As mulheres com DHEG prévia
estudaram 40 mulheres não diabéticas com SOP no primeiro tinham os níveis de testosterona livre mais elevados (20,6±2,2
trimestre de gestação que foram randomizadas para receber me- versus 15,0±1,3 pmol/L, média±DP, p=0,03), elevado índice
tformina 850 mg/2xdia ou placebo. Foram dosadas as glicemias de androgênios livres (3,2±0,5 versus 1,9±0,2, p=0,04) e maior
e insulinemias de jejum no momento da inclusão e na 19ª, 32ª e relação de testosterona/estradiol livre (0,089±0,017 versus

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0,046±0,006, p=0,02). Os autores concluíram que o passado de e neonatal. Seus bebês tiveram risco aumentado de admissão em
DHEG associa-se a elevados níveis de testosterona, que podem unidade de terapia intensiva (OR=2,31; IC95%=1,25-4,26) e
contribuir para o aumento de risco para morbidade vascular maior mortalidade perinatal (OR=3,07; IC95%=1,03- 9,21).
nestas mulheres. Na revisão sistemática de Gilbert et al.45 (A), os autores
Desde que Hellmuth et al.32 (B), em estudo de coorte com estudaram a utilização da metformina durante o primeiro tri-
50 mulheres diabéticas grávidas tratadas com metformina e mestre da gravidez em mulheres diabéticas ou com SOP. Oito
comparadas a outras 68 em iguais condições tratadas com sul- estudos foram incluídos na metanálise. Após o ajustamento
fonilureia ou insulina, e verificaram que as mulheres tratadas para os vieses das publicações, o tratamento com a metformina
com metformina tinham maior risco de desenvolver DHEG do no primeiro trimestre esteve associado a efeito protetor signi-
que aquelas tratadas com sulfonilureia ou insulina (32 versus 7 ficativo (57%). Após a combinação dos resultados dos estudos,
versus 10%, p<0,001), passou-se a sugerir que a metformina verificou-se que o índice de malformações congênitas foi maior
aumentava o risco para a DHEG. No entanto, Glueck et al. no Grupo Controle (7,2%) do que no Grupo Tratado (1,7%).
(2004), comparando 90 mulheres grávidas com SOP em uso de Concluíram que não existem evidências de aumento de risco para
metformina (97 gestações) a 252 grávidas saudáveis, verificaram malformações importantes quando a metformina é utilizada no
que a DHEG nas mulheres com SOP (5/97 gestações, 5,2%), não primeiro trimestre da gestação, mas que são necessários estudos
diferiu (p=0,5) do Grupo Controle (9/252, 3,6%), assim como maiores que corroborem estes resultados preliminares.
a DHEG não apresentou diferença (p=1,0) nas nulíparas com Ainda no trabalho de Nawaz et al.34 (B), além de uma di-
SOP em uso da metformina em relação às nulíparas saudáveis minuição na incidência de abortamentos, diabetes gestacional
[2/45 (4,4%) versus 4/91 (4,4%)] e concluíram que a utilização e de DHEG, também a incidência de retardo de crescimento
da metformina não aumenta a incidência de DHEG (B).35 intrauterino foi significativamente mais baixa dentre as mu-
No trabalho de Nawaz et al., já citado anteriormente, as pa- lheres que utilizaram a metformina durante toda a gestação
cientes dos grupos A (que suspenderam a metformina até a 14ª em comparação àquelas que suspenderam a medicação até a
semana de gestação), B (que a suspenderam até a 32ª semana) e 14ª semana (19,2%) e àquelas que suspenderam a medicação
C (que não suspenderam a medicação) tiveram DHEG, respec- até 32 semanas (18,6%; p<0,046). A incidência de prematuri-
tivamente, 43,7%, 33% e 13,9% com p<0,020, o que mostra dade também foi significativamente menor no grupo que não
que a metformina diminui a incidência de DHEG quando usada suspendeu a medicação durante toda a gestação. Neste estudo,
durante toda a gestação (B).34 não houve nati ou neomortos e não ocorreu nenhum caso de
Como na fisiopatologia da DHEG acredita-se que exista um malformação fetal.
defeito na interação entre a migração trofoblástica e os vasos
uterinos durante o primeiro trimestre da gravidez, Salvesen et Questão 4. A metformina diminui a incidência das complicações
al.44 (A), em trabalho randomizado controlado, estudaram 40 tardias da síndrome dos ovários policísticos, principalmente a
grávidas com SOP que receberam metformina 1.700 mg/dia doença cardiovascular, o diabetes mellitus tipo 2 e o câncer de
ou placebo, nas quais realizou-se ultrassonografia com Doppler endométrio?
seriada, e verificaram que houve aumento do índice de pulsa- A doença cardiovascular (DCV) é a maior causa de morta-
tilidade (IP) das artérias uterinas (1,95 versus 1,58, p=0,02), e lidade de que se tem conhecimento, responsável por cerca de
maior redução do IP entre a 12ª e a 19ª semana, concluindo que 30% de todas as mortes no mundo, o que equivale a cerca de
estas alterações estavam relacionadas à DHEG. Ainda segundo 18,6 milhões de mortes por ano. É a principal causa de morte
os autores, o tratamento com metformina reduz a resistência em muitos países desenvolvidos e, dentro de alguns anos, será
das artérias uterinas entre 12 e 19 semanas de gestação e esta também a principal causa de morte em países em desenvolvi-
redução está relacionada à menor incidência de DHEG. mento. Esforços vêm sendo feitos para investigar as maneiras de
manusear mais eficientemente os fatores de risco e melhorar as
Metformina e morbiletalidade perinatal intervenções médicas para esta doença. Em alguns países, esses
Na metanálise de Boomsma et al.31 (A) sobre as complicações esforços foram recompensados com a redução da mortalidade pela
da gravidez de mulheres da SOP, os autores verificaram que as DCV. De acordo com Erhardt et al.46 (D), as intervenções desti-
gestantes com SOP tinham risco significativamente maior de nadas a alterar certos fatores de risco e melhorar os hábitos não
desenvolverem diabetes gestacional, DHEG e parto prematuro, saudáveis são as que atingem melhores resultados. Os fatores de
intercorrências que elevam, em muito, a morbimortalidade fetal risco para a DCV que são modificáveis são: a hipertensão arterial

596 FEMINA | Novembro 2009 | vol 37 | nº 11


Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

crônica, dislipidemia, diabetes, obesidade central, sedentarismo, Tabela 1 – Componentes da síndrome metabólica segundo o
ingestão excessiva de álcool e tabagismo. National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel
III (NCEP-ATP III)
Estudos recentes têm mostrado que a resistência à insulina
Componentes Níveis
tem importante papel na patogênese da SOP. Tradicionalmen- Obesidade abdominal por meio de circunferência
te, o manuseio da SOP consistia na indução da ovulação, no abdominal
Homens > 102 cm
tratamento da acne e do hirsutismo e na prevenção do câncer
Mulheres > 88 cm
de endométrio. No entanto, com o aumento das evidências de Triglicérides ≥ 150 mg/dL
que a SOP está associada à síndrome metabólica (Tabela 1), de HDL-colesterol
que um conjunto de fatores de risco para a DCV está associado Homens < 40 mg/dL
Mulheres < 50 mg/dL
à resistência à insulina e a um aumento do risco para o desen-
Pressão arterial ≥ 130 ou ≥ 85 mmHg
volvimento de diabetes, o tratamento tradicional não deve mais Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL
ser o único foco. Dados recentes suportam a forte recomendação Nota: a presença de diabete mellitus não exclui o diagnóstico de síndrome metabólica.

de que mulheres com SOP devem ter avaliação correta para o


diabetes e para os fatores de risco cardiovascular, além de rece- tomografia computadorizada. Foram analisadas, também, medidas
berem tratamento adequado quando necessário. Mudanças no séricas de marcadores da síndrome metabólica e evidência de
estilo de vida ainda são a primeira opção terapêutica para todas ovulação. Não houve diferenças significativas em qualquer medida
as mulheres obesas com SOP. No entanto, muitas mulheres da distribuição gordurosa entre os grupos da metformina e do
obesas com SOP acham difícil perder peso e mantê-lo, e esta não placebo. O grupo da metformina teve importante diminuição do
é uma opção para mulheres magras com SOP. Por essas razões, colesterol total (p=0,02), da LDL (p=0,02) e da relação colesterol/
as drogas sensibilizadoras à insulina, dentre as quais se destaca HDL (p=0,05), mas não houve diferenças significativas entre
a metformina, têm provado ser uma opção única e promissora os grupos de tratamento em relação aos androgênios, insulina,
no tratamento crônico da SOP (D).6 resistência à insulina, triglicérides, ovulação e gravidez. Os autores
concluem que a metformina não tem efeito clínico significativo
Metformina e síndrome metabólica para reduzir a gordura visceral, embora tenha efeito benéfico no
A síndrome metabólica representa uma situação clínica carac- perfil lipídico e que o ensaio corrobora as crescentes evidências
terizada por um agrupamento de fatores de risco para a doença de que a metformina não é droga emagrecedora, sugerindo que
cardiovascular, como a hipertensão arterial, a dislipidemia, a a metformina possa ter papel adjuvante na modificação do estilo
obesidade visceral e as manifestações de disfunção endotelial. de vida, mas não substituto (A).14
Está associada ao aumento de risco cardiovascular a longo prazo, Jing et al.18 (A) fizeram revisão sistemática para avaliar a
assim como ao risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo eficácia e segurança do anticoncepcional contendo 35 mcg de
2. A presença de resistência à insulina tem sido considerada fator etinilestradiol e 2 mg de acetato de ciproterona para tratamento
fisiopatogênico importante. da SOP comparando-o à metformina, tanto em combinação
Alguns parâmetros desta síndrome apresentam melhora com o anticoncepcional quanto isoladamente. Na revisão,
significativa com a metformina. Verifica-se redução da obesi- incluíram apenas trabalhos randomizados e controlados. O
dade centrípeta, redução da medida da cintura (WMD -0,1; objetivo principal era o hirsutismo. Subgrupos foram criados
p=0,12), melhora da resistência à insulina, HOMA-IR (WMD com base na duração do tratamento, análises sensíveis foram
-0,1; p=0,0006), redução da pressão sistólica (WMD -9,97; efetuadas e a heterogeneidade e vieses, discutidos. Doze traba-
p=0,0005) e diastólica (WMD -9,66; p=0,005), sem haver lhos foram incluídos. O efeito em melhorar o hirsutismo não foi
melhoria comprovada da dislipidemia, como encontrado na diferente entre a metformina e o anticoncepcional. Comparada
revisão sistemática de Lord et al. (A).7 ao anticoncepcional, a metformina parece proteger contra as
No entanto, Lord et al., com o objetivo de estabelecer se alterações no metabolismo da glicose em tratamento de pelo
a metformina tem ação significativa de redução da gordura menos seis meses de duração. Exceto pelos triglicérides, não
visceral e outros parâmetros metabólicos em mulheres com houve nenhuma diferença no perfil lipídico. A evidência de
SOP, conduziram um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, que o anticoncepcional deteriora o metabolismo lipídico e da
placebo-controlado: 40 mulheres anovuladoras com SOP foram glicose foi insuficiente. O uso do anticoncepcional pode resultar
randomizadas para receber metformina 1.500 mg/dia ou placebo em cefaleia e hipertensão arterial. Os autores concluíram que
durante três meses. A distribuição da gordura foi avaliada pela qualidade metodológica dos trabalhos continua a ser um pro-

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Arie WMY, Fonseca AM, Bagmoli VR, Fassolas G, Baracat EC

blema importante. O anticoncepcional é superior à metformina Metformina e diabetes tipo 2


em reduzir os androgênios, mas inferior em reduzir a insulina. O diabetes tipo 2 ocorre frequentemente em mulheres com
Não foram encontradas evidências de que o anticoncepcional SOP. A prevalência e a história natural de sua precursora, a
piore o metabolismo lipídico e a resistência à insulina. intolerância à glicose, é menos conhecida. Com o objetivo de
Para avaliar se a metformina é uma medicação efetiva no estudar a prevalência e a incidência da intolerância à glicose
tratamento de indivíduos adultos obesos que não têm diabete em uma grande coorte de mulheres com SOP, Ehrmann et al.49
ou SOP, Levri et al.47 (A) fizeram uma revisão sistemática. Os (B) selecionaram 122 mulheres com SOP caracterizadas clínica
critérios de inclusão foram índice de massa corpórea maior e laboratorialmente. Todas elas tinham o teste de tolerância à
que 25 k/m2, relação cintura-quadril maior que 0,8, uso da glicose (GTT) com dosagens dos níveis de glicose e de insulina.
metformina e idade superior a 18 anos. Foram critérios de Vinte e cinco mulheres foram avaliadas posteriormente com o
exclusão a presença de diabetes ou de SOP, infecção pelo objetivo de caracterizar a história natural da intolerância à glicose.
HIV ou o uso concomitante de drogas antipsicóticas. Os tra- No início do trabalho, o GTT estava alterado em 55 (45%) das
balhos, todos randomizados e controlados, foram graduados 122 mulheres. De toda a amostra, 45% tinham intolerância à
pela escala de Jadad de 11 pontos. Os revisores extraíram de glicose e 12% tinham diabetes tipo 2. As mulheres com diabetes
forma independente os dados de cada trabalho. Os objetivos tipo 2 diferiam daquelas com o GTT normal porque tinham
primários foram: alterações no índice de massa corpórea, rela- 2,6 vezes mais parentes de primeiro grau com diabetes mellitus
ção cintura-quadril e peso. Dos 57 trabalhos potencialmente tipo 2 (83 versus 31%, p<0,01) e eram significativamente mais
relevantes, 48 foram excluídos por falhas na randomização, obesas (IMC 41,0±2,4 versus 33,4±1,1 kg/m2, p<0,01). Na
no ocultamento, nos critérios de inclusão ou exclusão e por coorte de 122 mulheres, houve significativa correlação entre
inacessibilidade dos objetivos. Nove trabalhos preencheram a glicemia de jejum e a concentração de glicose de duas horas
os critérios para a inclusão. Quatro estudos foram utilizados (r=0,76, p<0,0001); No grupo de mulheres com intolerância à
no parâmetro relação cintura-quadril, três foram incluídos no glicose, a concentração da glicemia de jejum foi pouco preditivo
índice de massa corpórea e oito foram utilizados no peso. Dois da glicemia de duas horas (r=0,25, NS). Após uma média de
dos nove trabalhos demonstraram pequena redução na relação seguimento de 2,4±0,3 anos (variação de 0,5 a 6,3 anos), 25
cintura-quadril. Os autores concluíram que existem evidências mulheres foram submetidas a um segundo GTT. A glicemia de
insuficientes para a utilização da metformina em indivíduos duas horas durante o segundo GTT estava significativamente
adultos com índice de massa corpórea maior que 25 k/m2 e maior do que a glicemia de duas horas no primeiro teste (161±9
que não sofram de diabetes ou SOP, mas sugerem que novos versus 139±6 mg/dL, p<0,02)49 (B). Os autores concluíram que
trabalhos sejam realizados para responder a esta questão. a prevalência de intolerância à glicose e de diabetes tipo 2 em
Na revisão sistemática e metanálise de Nieuwenhuis- mulheres com SOP é substancialmente maior do que o esperado
Ruifrok et al.48 (A), realizada em mulheres com sobrepeso ou quando comparado a mulheres sem SOP pareadas por idade e
obesidade, e não necessariamente com SOP, analisando-se a peso. A conversão da intolerância à glicose para o diabetes mellitus
perda de peso contra placebo ou com programa de modificação tipo 2 é acelerada pela SOP. A glicemia de jejum não prediz tanto
do estilo de vida, demonstraram que a metformina diminuiu quanto a glicemia de duas horas em um GTT, particularmente
significativamente o índice de massa corpórea em compara- em mulheres com intolerância à glicose, o grupo com maior risco
ção ao placebo (WMD -0,68; IC95%=-1,13 a -0,24). Houve de desenvolver o diabetes mellitus tipo 2. Os autores sugerem
indicação de melhores resultados com doses mais elevadas que as mulheres com SOP devem se submeter periodicamente
(>1.500 mg/dia) e maior duração do tratamento (acima de ao GTT e ser monitoradas eficientemente quanto à deterioração
oito semanas). A revisão sistemática teve limitações com o da tolerância à glicose.
potencial de veracidade, análise do baixo uso da intenção para As mulheres com SOP são resistentes à insulina. O defeito
tratar e heterogeneidade dos estudos. Os autores concluíram que genético responsável pela ação da insulina ainda é desconheci-
programas bem estruturados para mudança do estilo de vida do. A obesidade agrava a predisposição à resistência à insulina.
ainda é a primeira alternativa para o tratamento das mulheres Cerca de 40% das mulheres com SOP apresentam curva anormal
com excesso de peso ou obesas com ou sem SOP. São necessários ao teste de tolerância à glicose (tanto a intolerância à glicose
trabalhos randomizados e controlados bem desenhados e com quanto o diabetes mellitus tipo 2). A falta de um mecanismo
potencial de veracidade adequado para confirmar os resultados etiológico claro para a síndrome acarretava grande variedade
desta revisão sistemática e metanálise. de tratamentos baseados nos sintomas, mas com poucas opções

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Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

que melhorassem todos os aspectos da síndrome endócrina da (OR=1,09; IC95%=1,03-1,16; p=0,03) e o HOMA-IR mais
SOP. Recentemente, tratamentos que resultam em melhora da elevado (OR=1,22; IC95%=1,04-1,42; p=0,01) mais elevados no
sensibilidade à insulina, através de programas para redução de pré-tratamento. Houve também menor redução do HOMA-IR
peso/exercícios ou farmacológicas mostraram melhora tanto nas (OR=0,82; IC95%=0,72-0,92; p=-0,0008). Sob a metformina/
alterações endócrinas quanto metabólicas (A).29 dieta, tanto as mulheres que desenvolveram previamente o DMG
Carlsen et al.50 (A) conduziram uma espécie de revisão sis- quanto aquelas que desenvolveram DMG, comparadas àquelas
temática baseada em pesquisa no Medline, em estudos próprios que permaneceram livres do DM2, tinham menor redução do
e na experiência clínica e verificaram que a SOP está presente HOMA-IR (OR=0,88; IC95%=0,78-0,99; p=-0,03). Por
em um terço das mulheres com diabetes mellitus tipo 1 e em análises repetidas de medidas sob metformina/dieta, mulheres
quase metade de todas as mulheres com diabetes mellitus tipo que não desenvolveram DM2 tinham redução no HOMA-IR
2. Em mulheres com SOP, a prevalência de diabete mellitus (p<0,0001), com a inclinação desta curva diferente (p=0,002)
tipo 2 aumenta consideravelmente, e o diabetes gestacional da inalterada resistência à insulina exibida pelas mulheres que
ocorre em cerca de 40% das grávidas com SOP. Em mulheres desenvolveram o DM2 e diferente (p=0,017) da aumentada
com diabetes gestacional prévio, o risco de diabetes tipo 2 é inclinação da resistência à insulina (p=0,049) em mulheres que
maior. Com seu estudo, os autores concluíram que mulheres tinham DMG. Os autores concluíram que, em mulheres com
com SOP têm risco maior de desenvolver diabetes mellitus tipo SOP, a glicemia e a resistência à insulina no pré-tratamento e
2 e diabetes gestacional e devem ser acompanhadas adequada- a menor diminuição na redução da resistência à insulina sob a
mente. Aconselha-se que mulheres grávidas com SOP devem ser metformina/dieta estão associadas ao DM2 e DMG.
submetidas ao teste de tolerância à glicose tão logo a gestação Na revisão sistemática e metanálise de Jing et al., cujo objetivo
tenha sido confirmada, com repetição do exame na 20ª e na primário era o hirsutismo, os autores selecionaram 12 trabalhos
32ª semana de gestação. O tratamento com metformina deve que compararam a metformina com o anticoncepcional contendo
ser iniciado em mulheres com diabetes tipo 2 que queiram 35 mcg de etinilestradiol e 2 mg de acetato de ciproterona.
engravidar. Pela mesma razão, a metformina deve ser iniciada Apesar da qualidade metodológica dos trabalhos, os autores
nas diabéticas do tipo 1. concluíram que a melhora do hirsutismo, pelo menos em seis
Glueck et al.36 (B) em trabalho observacional com 431 meses de tratamento, não é melhor com o anticoncepcional do
mulheres não diabéticas e com SOP, idade mínima de 20 anos que com a metformina. O anticoncepcional foi superior à me-
e tempo de acompanhamento mínimo de 11 meses com a asso- tformina em reduzir os androgênios, mas inferior em reduzir a
ciação de dieta e metformina, objetivaram observar as relações insulina. Comparado ao anticoncepcional, a metformina parece
entre a glicemia e resistência à insulina no pré-tratamento, proteger contra alterações do metabolismo glicídico. Exceto
o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) ou do pelos triglicérides, não houve diferenças no perfil lipídico. Evi-
diabetes mellitus gestacional (DMG). Como objetivo secundá- dências de que o anticoncepcional oral piore os perfis lipídico
rio, pretendeu-se determinar se o aparecimento do DM2 ou e glicídico foram insuficientes. O anticoncepcional pode levar
DMG estava independentemente associado à menor redução à hipertensão e cefaleia (A)18.
da resistência à insulina sob o tratamento da metformina com Os contraceptivos hormonais orais são o tratamento de
dieta quando comparadas a mulheres que permaneceram sem primeira escolha para as mulheres com SOP que não desejam
DM2 ou DMG. As mulheres com IMC<25 k/m2 e aquelas com engravidar. Wu et al.51 (A), com o objetivo de comparar os
IMC≥25 k/m2 eram orientadas para dieta balanceada de 2.000 efeitos da pílula contendo etinilestradiol 35 mcg e acetato de
e 1.500 cal/dia. Foram categorizados três grupos de mulheres ciproterona 2 mg, metformina e a combinação de pílula e meti-
com SOP: (a) 17 pacientes que não tiveram DGM prévio e que formina, randomizaram 60 mulheres (25 obesas e 35 não-obesas)
desenvolveram DM2 durante uso de metformina (dieta média que preenchiam os critérios de Rotterdam para a SOP para um
de seguimento 49±33 meses), (b) 401 mulheres que não tiveram dos três tratamentos durante três meses. A pílula resultou em
DMG prévio e livre do DM2 sob o tratamento de metformina/ maior redução do índice de Ferriman-Galwey tanto nas obesas
dieta (seguimento de 38±25 meses), e (c) 13 mulheres com ou quanto nas não-obesas em comparação ao grupo da metformina.
DMG prévio ou que desenvolveram diabetes gestacional durante A pílula restaurou o ciclo menstrual de todas as mulheres em
a terapia metformina/dieta (seguimento de 38±25 meses). Sob comparação a apenas 28 daquelas que recebiam metformina. A
metformina/dieta, as mulheres que desenvolveram DM2 compa- metformina reduziu significativamente o índice de massa cor-
radas àquelas que permaneceram livres do DM2 tinham glicemia pórea e a relação cintura-quadril nas pacientes obesas (p<0,05).

FEMINA | Novembro 2009 | vol 37 | nº 11 599


Arie WMY, Fonseca AM, Bagmoli VR, Fassolas G, Baracat EC

Os níveis séricos de testosterona diminuíram nos três grupos. estudos de larga escala sobre morbidade e mortalidade em
Os níveis de LH e a relação LH/FSH diminuíram no grupo populações não-selecionadas de mulheres com SOP para que
da pílula e no tratamento combinado tanto nas obesas quanto sejam identificadas quais delas, se houver alguma, têm maior
nas não-obesas. A metformina diminuiu significativamente os risco de desenvolver a neoplasia e como o risco pode ser efe-
níveis da insulina de jejum (p<0,05 e p<0,01) e aumentou a tivamente reduzido.
sensibilidade à insulina (p<0,05) tanto nas obesas quanto nas não-
obesas, enquanto nenhuma alteração significativa foi observada Questão 5. Quais as mulheres com SOP que se beneficiariam com
no grupo da pílula. Além disso, os níveis de insulina também a utilização da metformina?
diminuíram (p<0,05) no grupo do tratamento combinado. Os A SOP possui três características principais: o hiperandro-
autores concluíram que a associação da metformina com a pílula genismo, a anovulação crônica e a morfologia policística dos
pode ser mais efetiva em diminuir a hiperandrogenemia em ovários. Tais características têm sido incluídas em permutações
mulheres obesas e não-obesas com SOP do que a metformina discretas nos três principais critérios de definição atualmente
isoladamente, e também em reduzir os níveis de insulina em disponíveis: os consensos do National Institute of Health (NIH)
relação à pílula isoladamente. Ao final do estudo, sugeriu-se de 1990, no de Rotterdam (2003) e no do Androgen Excess
que o tratamento combinado pudesse se tornar uma opção mais Society, de 2006. A SOP é uma síndrome heterogênea, com
efetiva no tratamento da SOP. diversas formas de apresentação nas quais as três características
principais estão quase sempre presentes. Porém, a utilização de
Metformina e câncer de endométrio uma determinada droga para toda a população de mulheres com
A associação entre a SOP e o carcinoma endometrial foi SOP pode não ser correta.
sugerida por Speert pela primeira vez em 1949. Desde então, Com o objetivo de avaliar qual grupo de mulheres com SOP
diversos estudos têm suportado esta associação e tornou-se poderia se beneficiar com o tratamento da metformina, Onalan et
prática comum entre ginecologistas prescrever tratamento al.52 (A), em trabalho prospectivo e placebo-controlado, estudaram
hormonal para este risco percebido, embora não haja con- 116 mulheres divididas em seis subgrupos, segundo a relação
senso sobre o subgrupo de SOP para o qual é requerido. A glicose/insulina e índice de massa corpórea: Grupo 1, com 37
prescrição de tratamento hormonal para reduzir o risco desta mulheres normoinsulinêmicas (relação glicemia/insulinemia
complicação é recomendada pela Guideline for Good Clinical igual ou maior que 4,5) e magra (IMC<25); Grupo 2, com 19
Practice do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, do mulheres normoinsulinêmicas e com sobrepeso (IMC=25 a
Reino Unido, pelo Health Information Website of the National 29,9); Grupo 3, com 18 mulheres normoinsulinêmicas e obesas
Library of Medicine, dos Estados Unidos e, também, por livros (IMC≥30); Grupo 4, com 29 mulheres hiperinsulinêmicas
de oncologia ginecológica. O mecanismo que regula essa as- (relação glicose/insulina menor que 4,5) e magras; Grupo 5,
sociação também é incerto, mas presume-se que a anovulação com 17 mulheres hiperinsulinêmicas com sobrepeso, e Grupo
crônica, que resulta em estimulação contínua do endométrio 6, com 20 mulheres hiperinsulinêmicas obesas. Pacientes de
não oposta pela progesterona, seja o principal fator. No en- cada grupo foram randomizadas e receberam metformina 850
tanto, a obesidade, a hiperinsulinemia e a hiperandrogenemia, mg duas a três vezes ao dia de acordo com o IMC ou o placebo.
características da SOP, são também fatores de risco para o Foram observadas significativas reduções da relação cintura-
carcinoma endometrial, mas não significa necessariamente que quadril no grupo das normoinsulinêmicas com sobrepeso
a incidência ou a mortalidade pelo carcinoma de endométrio com a utilização da metformina (p<0,05). O intervalo entre
estejam aumentadas na SOP. As evidências da associação são as menstruações diminuiu no grupo das normoinsulinêmicas
inconclusivas e, embora a SOP esteja associada a fatores de risco obesas sob terapia com metformina (p<0,05). A metformina
para o câncer de endométrio, isto não quer dizer essencialmente teve efeito significativo em diminuir o escore em mulheres
que a incidência ou a mortalidade pela neoplasia estejam au- hiperinsulinêmicas magras (p<0,05) e diminuiu o SDHEA
mentadas. Na revisão sistemática de Costello et al.22 (A), não nas hiperinsulinêmicas magras (p<0,05). A metformina teve
houve nenhum trabalho que confrontasse a metformina com efeito significativo na taxa de ovulação apenas nas mulheres
pílulas anticoncepcionais com relação ao câncer de endométrio magras hiperinsulinêmicas (p<0,05). Os autores concluíram
e nenhum trabalho randomizado controlado que tratasse de que os resultados clínicos da terapia com metformina podem
câncer endometrial e metformina foi encontrado no banco de ser categorizados com base no IMC e em níveis de insulina
dados Medline/Pubmed a partir do ano 2007. São necessários basais das mulheres com SOP.

600 FEMINA | Novembro 2009 | vol 37 | nº 11


Síndrome do ovário policístico e metformina: revisão baseada em evidências

Questão 6. A metformina é melhor que a mudança no estilo de que a perda de peso por meio da mudança no estilo de vida me-
vida? lhora a frequência menstrual.
Estilo de vida é uma expressão moderna que se refere à Para comparar os resultados clínicos e reprodutivos em mulhe-
estratificação da sociedade por meio de aspectos comporta- res obesas com SOP, Quibian et al.53 (A) estudaram 46 mulheres
mentais, expressos geralmente sob a forma de padrões de con- prospectivamente e as randomizaram em dois grupos: Grupo 1
sumo: rotina, hábito ou forma de vida adaptada ao dia-a-dia. (n=24), orientadas para dieta balanceada de 1.200-1.400 kcal/dia
Sua determinação, entretanto, não foge à regra da formação/ e Grupo 2 (n=22), medicadas com metformina 850 mg/2xdia.
diferenciação das culturas: a adaptação ao meio ambiente e aos A duração do ensaio foi de seis meses. Os dois grupos tiveram
outros homens. Estilo de vida é a forma como uma pessoa ou um melhora significativa do ciclo menstrual (66,7 e 68,2% versus
grupo de pessoas vivencia o mundo e, em consequência a isso, 12,5 e 18,2%) e significativa redução do IMC (média de 27,4 e
se comporta e faz escolhas. A Lifestyle Medicine é uma tendência 27,8 versus 32,2 e 31,9), hormônio luteinizante (LH) (7,9±1,7 e
terapêutica de caráter holístico que cresce cada vez mais entre 6,9±1,8 versus 11,8±2,2 e 11,5±1,8), assim como nas concentra-
os profissionais de saúde. Para uma corrente da medicina atual, ções de androgênios (testosterona, androstenediona e SDHEA).
a mudança em curso na atuação dos médicos os coloca como Os resultados finais foram semelhantes em ambos os grupos de
“portadores” socialmente autorizados de mudanças dos estilos tratamento, inclusive padrão menstrual, índices de ovulação e de
de vida considerados não-saudáveis. gestação. Os autores concluíram que melhorando a hiperinsuli-
Nieuwenhuis-Ruifrok et al.48 (A) realizaram um estudo com nemia e a hiperandrogenemia com intervenção dietética ou com
mulheres com sobrepeso ou obesidade, não necessariamente com metformina há melhora significativa nas características clínicas e
SOP, analisando a perda de peso com uso da metformina em com- na função reprodutiva das mulheres obesas com SOP.
paração ao placebo ou a programas de modificação do estilo de Curi15 (B), em trabalho randomizado no qual comparou mu-
vida, e demonstraram que a metformina não foi significativamente lheres com SOP que fizeram uso da metformina 1.800 mg/dia a
melhor do que programas de modificação no estilo de vida para mulheres que fizeram a associação de dieta e exercícios físicos e não
a redução do índice de massa corpórea em mulheres com excesso observou diferenças nos diversos parâmetros clínicos e laboratoriais
de peso que não necessariamente tivessem SOP. estudados, concluindo que a associação dieta/exercícios físicos é
No trabalho multicêntrico, randomizado, placebo-controlado tão eficaz quanto a metformina no tratamento da SOP.
e duplo-cego de Tang et al.11 (A), em mulheres com SOP, obesas
(IMC>30 k/m2) e que receberam a mesma orientação dietética Considerações Finais
foram randomizadas: 69 para receber metformina 1.700 mg/dia
e 74 para receber placebo. Houve melhora, nos dois grupos, no A metformina tem sido cada vez mais utilizada e parece ter efeito
padrão menstrual (p<0,0001 no grupo da metformina e p<0,001 benéfico em mulheres com resistência à insulina comprovada.
no grupo placebo) e no peso (média kg) (metformina 2,84 kg; Nas manifestações androgênicas em mulheres que não desejam
p<0,001 e placebo 1,46 kg; p<0,11). A melhora do padrão mens- engravidar, essa substância parece não substituir o anticoncepcional
trual se correlacionou com a diminuição do peso (coeficiente de oral ou o antiandrogênio. Além disso, parece ter efeito favorável
regressão=0,1999; p=0,047; OR=1,126; IC95%=1,001-1,266). na indução da ovulação em mulheres clomifeno-resistentes.
Não houve alterações significativas na sensibilidade à insulina e O emprego da metformina na gravidez ainda é bastante
no perfil lipídico nos dois grupos. As pacientes que receberam controverso. Ainda é muito cedo para afirmar que a metformina
metformina alcançaram significativa redução da relação cintura/ pode controlar o diabetes, a doença cardiovascular e o câncer de
quadril e no índice de androgênios livres. Os autores concluíram endométrio, visto que a utilização foi iniciada em 1994.

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602 FEMINA | Novembro 2009 | vol 37 | nº 11

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