Sei sulla pagina 1di 18

GEOGRAFIAS FEMINISTAS, SEXUALIDADES E


CORPORALIDADES: DESAFIOS ÀS PRÁTICAS IN-
VESTIGATIVAS DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA
„JOSELI MARIA SILVA

RESUMO:
O FOCO DESTE TRABALHO É REFLETIR SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DAS IMAGINAÇÕES ONTOLÓGICO-GEOGRÁFICAS E
SUA SIMBIOSE COM OS MODOS DE REALIZAR AS PRÁTICAS INVESTIGATIVAS E OS DESAFIOS INERENTES A ESSE
PROCESSO. PARA TANTO, SÃO EXPLORADOS OS MOVIMENTOS DE APROXIMAÇÃO ENTRE AS ABORDAGENS FEMINISTAS
E QUEER ASSOCIADOS À NOVA GEOGRAFIA CULTURAL, TRAZENDO PARA A ANÁLISE A CONCEPÇÃO DE PESQUISA COMO
PROCESSO RESULTANTE DA REFLEXÃO SOBRE A POSICIONALIDADE DO PESQUISADOR EM RELAÇÃO AO FENÔMENO
ESTUDADO E SUAS IMPLICAÇÕES. ALÉM DISSO, O ARTIGO EXPLORA O CONCEITO DE INTERSECCIONALIDADE NA ANÁLISE
DA COMPLEXIDADE SOCIAL E EVIDENCIA O ESPAÇO COMO INTEGRANTE DAS INTERSECÇÕES ENTRE GÊNERO, SEXO,
CLASSE E NACIONALIDADE.
PALAVRAS-CHAVE: GEOGRAFIAS FEMINISTAS, SEXUALIDADE, CORPORALIDADE, REFLEXIBILIDADE, INTERSECCIONALIDADE.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ______________________ geográfico que caracterizam os encontros sobre


Discutir gênero e sexualidade no âmbito da Espaço e Cultura que ocorrem na Universidade
geografia ainda gera certos desconfortos e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
polêmicas. Apesar de essas temáticas estarem Na coordenação do Grupo de Estudos
presentes na ciência geográfica há mais de trinta Territoriais (GETE) e da Rede de Estudos de
anos, é comum que as pessoas nos interroguem Geografia e Gênero da América Latina (REGGAL)
sobre a validade das abordagens desse teor para o tenho experienciado algumas polêmicas que
desenvolvimento teórico e metodológico da gostaria de evitar aqui. Assim, inicio essa abordagem
ciência. O desmerecimento das nossas pesquisas com alguns esclarecimentos básicos, a fim de
faz parte de nosso cotidiano profissional e, melhor posicionar minhas ideias e qualificar o
portanto, gostaria de registrar a postura plural, diálogo a ser estabelecido. 1) Os estudos de gênero
ousada e desafiadora dos limites do saber não podem ser confundidos com estudos de

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 39


mulheres. A abordagem das feminilidades é a mais invisibiliza certos grupos sociais e mascara o poder
comum e evidente, mas também existem estudos que produz e elege os(as) sujeitos(as), temas e
sobre as masculinidades e as vivências chamadas objetos que são considerados “dignos” do discurso
“trans”, ou seja, aquelas que não se encaixam no geográfico. Foi justamente nos debates dos
padrão instituído pela heteronormatividade. 2) O encontros científicos que pude reconhecer minha
conceito de gênero se opõe radicalmente à identidade feminista e assumir que fazer ciência é
utilização da categoria mulher, já que esta última também assumir uma posição política e social. 5)
apresenta-se como essencializada, a partir da A adoção da perspectiva feminista da produção
diferença biológica, e o conceito de gênero agrega do conhecimento geográfico não pode ser
a dimensão social e cultural da diferença sexual. associada à percepção imediata de corpos que
Implica adotar a perspectiva da construção social praticam o conhecimento. Assim como há mulheres
dos gêneros e ao mesmo tempo negar sua que se enquadram perfeitamente no modo de
universalidade, incorporando as dimensões produzir o conhecimento moderno, pautado pelo
temporal e espacial na análise científica. 3) Utilizar saber masculino, há homens que estão praticando
o conceito de gênero, que implica uma postura as epistemologias feministas, incorporando um
relacional dos universos femininos e masculinos, discurso libertador na forma de projetar a vida, a
não leva à necessidade de análises comparativas ética, a política e a ciência.
envolvendo homens e mulheres, embora haja A chamada geografia feminista é parte
tradição deste perfil de produção científica. A integrante do movimento da ciência geográfica,
dimensão relacional que a ideia de gênero concebe e sob essa denominação há trabalhos positivistas,
é a compreensão de que os seres não estão isolados marxistas, fenomenológicos e assim por diante,
e estáticos e os recortes sociais estabelecidos no como pode ser visto em Silva (2007). A expressão
processo de pesquisa devem ser considerados de “geografia feminista” foi substituída pelo seu plural
forma relacional e processual na estrutura “geografias feministas” a fim de expressar a
socioespacial a que pertencem. 4) A utilização do pluralidade científica e ideológica existente neste
conceito de gênero como uma ferramenta de campo de produção científica.
compreensão do espaço social não significa o Nesse trabalho, a perspectiva cultural está eleita,
engajamento político nas epistemologias mais precisamente a da Nova Geografia Cultural e
feministas. A identidade feminista no campo sua relação com as geografias feministas e queer,
científico é também uma construção social em fortemente influenciadas pelo pensamento de Judith
permanente processo aberto e provisório. Como Butler. Gênero e sexo são aqui compreendidos como
pesquisadora, fui me constituindo paulatinamente construções sociais permanentes que vão muito além
como geógrafa feminista, entre os temores das da mera representação de papéis a serem
representações sociais negativas atribuídas aos desempenhados por corpos de homens e mulheres
feminismos e as inquietações crescentes sobre as sob a hegemonia da heteronormatividade. Para adotar
formas de se fazer uma Geografia que, a meu ver, a expressão de Judith Butler, o gênero performático

40 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


é uma representação construída em atos estilizados, GEOGRAFIAS FEMINISTAS, SEXUALIDADES E
jamais plenamente exibida em qualquer situação, e a CORPORALIDADES ___________________________
linearidade entre sexo, gênero e desejo é uma falácia A expressão de que o espaço geográfico é a
do discurso hegemônico. Nesse sentido, o espaço é materialização da sociedade e de que toda a
também compreendido aqui como imbricado nas existência humana é espacial é uma concepção
performances vivenciadas cotidianamente. plenamente aceita pelos cientistas da geografia.
É importante destacar que o movimento da Contudo, nem toda a humanidade esteve expressa
imaginação geográfica, aqui expresso, possui no conhecimento geográfico. Esta crítica
também sua própria geografia, os países anglo- fundamenta o célebre artigo das geógrafas norte-
saxões do hemisfério norte. Infelizmente, nossa americanas Janice Monk e Susan Hanson,
imaginação geográfica brasileira tem sido pouco intitulado ‘On not excluding half of the human in human
permeável ao desenvolvimento de campos que geography’, presente na revista ‘The professional
envolvem gêneros, feminismos e sexualidades. Na geographer’ da Association of American Geographers de
primeira seção, realizo um resgate das 1982. Este artigo denuncia as relações de poder
transformações da compreensão do conceito de inerentes à produção do conhecimento geográfico,
gênero e seus desdobramentos, como a a hegemonia androcêntrica que lhe é inerente e a
aproximação das geografias feministas e queer, invisibilidade feminina.
destacando a emergência da corporalidade como Este movimento interno da ciência provocado
foco de discussão. Nas seções seguintes, utilizando por geógrafas brancas das universidades dos países
minhas próprias experiências como pesquisadora, centrais desestabilizou a noção da ciência como
realizo um esforço de evidenciar a importância do um saber neutro, objetivo, pautado nas verdades
desenvolvimento da reflexibilidade em torno da científicas, e deflagrou um importante debate
posicionalidade do pesquisador na abordagem do epistemológico que acabou por reconhecer a
campo de pesquisa, incluindo nesta proposição o geografia como um saber moderno, eurocêntrico,
pensamento do geógrafo Larry Knopp, que reflete masculino, branco e heterossexual.
sobre a prática da pesquisa geográfica e propõe Deste movimento emergem iniciativas de tornar
que o próprio corpo do(a) investigador(a) e sua visíveis grupos ausentes da produção científica
qualidade perceptiva sejam também ferramentas de geográfica e desenvolvem-se os estudos sobre as
pesquisa geográfica. Por último, a interseccio- mulheres, gays e lésbicas, procurando evidenciar
nalidade proposta em Valentine (2007) é abordada suas expressões materiais de produção do espaço,
como um caminho de análise que possibilita a como a distribuição espacial das moradias e áreas
abordagem da complexidade, envolvendo de lazer, os deslocamentos físicos e as inserções
identidades em permanente processo de de tais grupos nas relações produtivas e
redefinição e espaço. Enfim, espero que este reprodutivas da sociedade burguesa e patriarcal.
trabalho estimule o interesse de mais geógrafas (os) Nos anos 1990 novas críticas foram formuladas
para os estudos feministas e da sexualidade. sobre a ausência do discurso geográfico produzido

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 41


por mulheres negras e homossexuais não brancos, objetos deste campo científico, mas pela
deflagrando a incapacidade teórica e metodológica hegemonia de determinada forma de conceber a
até então empreendida em produzir um produção do espaço, pretensamente universal e
conhecimento libertador e que desafiasse o poder neutra, que abafava a voz dos grupos não-
da enunciação científica branca e ocidental. As hegemônicos.
categorias universais foram definitivamente Assim, as bases da construção do saber estavam
colocadas em xeque e emerge um movimento sendo questionadas pelo movimento feminista, que
identificado com as correntes pós-colonialistas e se desenvolvia num franco engajamento político,
pós-estruturalistas. lutando contra as desigualdades sociais e ao mesmo
As ausências e silêncios de vários grupos sociais tempo fazendo frente ao conhecimento até então
passaram a ser concebidas como resultado de uma legitimado na história do pensamento geográfico.
determinada forma de se fazer a Geografia, e essa No entanto, o movimento é complexo, abrangendo
perspectiva de crítica da construção histórica do variadas vertentes filosóficas e posturas político-
saber provocou grande debate epistemológico / ideológicas. Para ilustrar um pouco dessa diversidade,
metodológico. A Geografia hegemônica passou a o movimento é composto desde o radical
ser interpretada quase que pelo avesso, numa estruturalismo até o pensamento humanístico, e estão
perspectiva de compreender a produção de presentes neste desde mulheres católicas até os
invisibilidades do discurso geográfico e movimentos pela legalização do aborto e pela
procurando desvendar a perspectiva de quem liberdade sexual de homossexuais, transexuais etc.
formulou os conceitos-chave deste campo Essas tensões internas do movimento produziram
científico, assim como sua visão de mundo e sua ricos elementos, que propiciaram caminhos
posição de poder. Mesmo com a consciência de inovadores na produção geográfica, conforme
que as geógrafas feministas não podiam fugir argumentam Dias e Blecha (2007).
completamente à ciência androcêntrica, elas As críticas internas aludiam à necessidade de
lutavam contra o monotopismo e passaram a pensar, aceitar as variedades, as diferenças e destruir a
como expressa Mignolo (2004), através das fissuras estabilidade até então presente no conceito de
dos quadros conceituais e ter a consciência da gênero, oriundo dos anos 1970. Valentine (2007)
geopolítica do conhecimento estruturadas na alerta que as mulheres lésbicas e suas reivindicações,
diferença colonial e sexual epistêmica. que se diferenciavam daquelas eleitas pelas
As ausências da produção do saber e do poder mulheres heterossexuais, foi um importante
tornaram-se focos de interesse e concebidas como caminho de desconstrução da ideia de gênero
contraditórias e complementares às presenças e como categoria estável e essencializada. Outro
expressões geográficas. A percepção da falta de importante caminho crítico foi trilhado pelas
grupos sociais ou temas que estão fora do discurso mulheres negras que denunciavam o protagonismo
hegemônico da Geografia, não mais se justificava das mulheres brancas na maioria das pesquisas
por sua a-espacialidade ou sua inadequação como geográficas e dos movimentos políticos, como

42 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


alertam Audrey Kobayashi e Linda Peake (1994) poder inerentes a ela, num processo de
em Unnatural discourse: ‘race’ and gender in geography. permanente tensão e movimento. Ao incorporar
A noção essencialista dos gêneros, dos sexos e a performatividade como o exercício do gênero,
das sexualidades estava já completamente entendido como representação social, a geografia
desestabilizada nos anos 1990, e as influências do evidencia a importância da incorporação do espaço
pós-modernismo, pós-estruturalismo e pós- e do tempo nas análises das experiências da
colonialismo levaram a um caminho de concepção vivência cotidiana e concreta e as possibilidades
da construção social destas categorias, somadas de subversão da própria ordem compulsória de
também por outras dimensões humanas como a gênero da sociedade heteronormativa.
raça, a idade e a classe. Estas transformações O poder, tal qual propõe Foucault (1988), é
internas do movimento aproximam dois campos exercido em múltiplas e variadas direções, como
de pesquisadores, as (os) feministas identificadas uma rede constituída por toda a sociedade e, nesse
(os) com esta última vertente compreendida pela sentido, deve ser apreendido a partir das
abordagem desconstrucionista do gênero estratégias, manobras, táticas e técnicas de
performativo e as (os) geógrafas(os) que produziam funcionamento. A identidade de gênero exercida
estudos sobre a sexualidade e espaço. pela performatividade, conforme Butler (1993),
A reunião de esforços da Nova Geografial implica em um mecanismo que a condena
Cultural, da Geografia Feminista Pós-Estruturalista inexoravelmente à mudança. Isso porque a
e da Geografia da Sexualidade se constitui em forte identidade de gênero é uma representação que para
crítica teórico-metodológica da ciência existir efetiva-se concretamente através do ser
geográfica, e a noção desconstrucionista sobre a humano, de sua geograficidade e historicidade, e
sexualidade permite a emergência da chamada nesse encontro ocorre a enunciação do ato
Geografia queer1. O pensamento queer inspirado na performático do gênero. A interação entre estas
obra de Michel Foucault foi desenvolvido por entidades jamais permite a reprodução ideal da
Teresa de Lauretis em The Tecnology of Gender (1987), norma de gênero subjetivada em práticas corporais,
Donna Haraway em Simians, Cyborgs and Women: the havendo uma cisão entre a norma que regula a
reinvention of nature (1991) e de forma mais expressiva atuação e a atuação regulada pela norma. Não são
por Judith Butler em suas célebres obras Gender redutíveis uma a outra e, nesse sentido, a
Trouble, de 1990, e Bodies that Matter, de 1993. Na identidade é constantemente subvertida e aberta
geografia, a influência do pensamento queer está ao novo, e é nesse contexto que se estabelece a
expresso em obras das (os) geógrafas (os) como necessidade da política identitária em que se
Gillian Rose, Linda Mc Dowel, Nigel Thift, Jon estabelecem os processos de exclusão.
Binnie, Gill Valentine, Clare Lewis, Steve Pile, O espaço, nesse sentido, compõe o gênero
David Bell, entre outros. performático, mas também os atos subjetivados que
A geografia incorpora a noção de construção se diferenciam do ideal de gênero, jamais realizável
social do sexo, gênero e desejo e as relações de em sua concretude. Esta concepção que

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 43


desconstrói o caráter essencialista dos gêneros e, com as esferas da produção e do consumo de
sobretudo, dos ideais de masculinidade e/ou mercadorias no campo da geografia econômica.
feminilidade forjados na visão dicotômica, bipolar Outro interessante campo é o estudo da sexualidade
e heterossexual da compreensão das pessoas, no desenvolvimento das redes virtuais e na
possibilitou a inclusão de seres que não se composição dos imaginários sociais dos espaços.
enquadram perfeitamente nesta ordem e o Enfim, o esforço desconstrucionista das verdades
exercício de múltiplas formas de masculinidades e fixas e pré-estabelecidas possibilita construir uma
feminilidades. Na vida cotidiana concreta, as geografia composta de interdependências e
performances de gênero são exercidas muitas vezes pluralidades das negociações entre os seres
por corpos dissonantes do modelo hegemônico humanos e o espaço.
preconizado. O argumento desta perspectiva é que O movimento dos anos 1990, que dissocia a
o gênero, construído permanentemente, é também pretensa ordem linear entre sexo, gênero e desejo
produzido pela sua desconstrução, pois enquanto e, as transformações sociais e biotecnológicas dos
representação, o gênero se faz nas relações finais do século XX, como o controle da fertilidade
humanas, e o espaço é fundamental nesse processo e reprodução humana, as intervenções cirúrgicas
de construção/desconstrução. estéticas, a invenção das próteses de vários tipos,
O artigo de Larry Knopp ‘On the relationship between as cirurgias de transgenitalização e o crescimento
queer and feminist geographies,’ de 2007, aponta as de doenças como a AIDS, trazem o corpo, seus
contribuições distintivas da geografia queer ao atributos, sexualidades, sensações e desejos para o
conhecimento geográfico. Segundo Knopp centro do interesse das ciências sociais e também
(2007), a utilização das perspectivas pós-modernas da Geografia, embora com menor intensidade. Isso
e pós-estruturalistas, criticando o essencialismo que porque o corpo esteve relacionado durante muito
continha a classificação dos seres humanos a partir tempo à esfera do espaço privado, e este último
de suas opções sexuais, contribui para desconstruir foi preterido pelas(os) geógrafas(os).
as imaginações ontológicas sobre a categorização A abordagem do corpo como lugar é
e sistematização da realidade social a partir de apresentada por Linda McDowel (1999). Segundo
mecanismos puramente racionais. Outro ela, o corpo é um espaço em que o indivíduo se
importante ponto de contribuição foi a construção localiza e os limites são mais ou menos permeáveis
da ideia do caráter híbrido e fluido das em relação aos outros corpos. A forma física, o
subjetividades sexuais e do significado da volume e o tamanho do corpo resultam na
sexualidade para a realidade socioespacial. A ocupação de um espaço físico e o modo como o
geografia queer, segundo o autor, tem contribuído corpo se apresenta frente aos outros é lido e
com campos já consolidados, que passam a percebido pelos demais e varia conforme o local
problematizar o significado da sexualidade nas que ocupam em cada momento.
instituições e na vida social como um todo. Um A ideia de que o corpo não é algo fixo e
interessante exemplo é a imbricação da sexualidade acabado, mas maleável, moldável, variável, leva à

44 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


utilização do termo corporalidade, a fim de melhor sujeitado à inscrição cultural da sociedade
expressar a ideia de um estado corpóreo sujeito a heteronormativa, mas é ativo no processo
transformações, conforme McDowel (1999). Para representacional e pode atuar de forma a subverter
ela, a corporalidade capta o sentido de fluidez, de o gênero performático. Isso porque, enquanto
representação e das relações entre anatomia e representação, o gênero não existe em sua
identidade social. Embora a autora aborde várias concretude, mas em atos corporais que jamais
formas de compreensão do corpo desenvolvidas podem ser vivenciados de forma genuína. Esta ideia
na Geografia, esse trabalho destaca a ideia do corpo está presente na obra da geógrafa Linda McDowel
como representação, que sustenta grande parte dos (1999) que compreende ambos, corpo e conduta
estudos geográficos atuais sobre a sexualidade. A sexual, como construções sociais em constante
sexualidade é compreendida tal qual Foucault transformação, tensionadas pelas relações de
(1988) como sendo relacionada com os prazeres poder, constituídos em uma história e uma
do corpo. Abrange, portanto, os desejos, geografia.
identidades e condutas sexuais que são A perspectiva crítica presente no movimento
estabelecidas no processo de regulação social de transformação da geografia nos anos 1990
cotidiana e, sendo assim, a sexualidade é vivida despertou a necessidade de atitudes reflexivas em
temporal e espacialmente de diferentes formas. relação ao modo de produzir a ciência e subverter
As características físicas dos corpos não o poder instituído, que naturaliza as injustiças
correspondem exatamente à representação do cotidianas provocadas pela ordem compulsória da
gênero instituída socialmente e a fluidez e a sociedade heteronormativa. Na próxima seção são
maleabilidade dos corpos constituem também os discutidos dois aspectos fundamentais na
processos representacionais. Ser um homem ou elaboração da prática cotidiana da pesquisa
uma mulher não é um fato natural, mas uma geográfica contemporânea.
representação social. A “naturalidade” é nada mais
do que a tentativa do discurso hegemônico da POSICIONALIDADE E REFLEXIBILIDADE NA PRÁTICA
heterossexualidade em estabelecer uma coerência INVESTIGATIVA: UMA DISCUSSÃO SOBRE FAZER
entre um conjunto de ações compulsórias do GEOGRAFIA _______________________________
discurso que acabam por produzir um corpo O movimento das teorias queer e feministas dos
categorizado pelo sexo. São os atos, os gestos, as anos 1990, além de desafiar a forma de se fazer
vestimentas, os adereços que constróem e geografia, firma compromissos políticos com a
sustentam as identidades de gênero. Portanto, justiça social, a equidade e o desmantelamento do
Butler (1990) argumenta que o efeito do gênero poder da ciência que também gera as hierarquias
se produz através da estilização do corpo e que sociais. Knopp (2007) utiliza-se da expressão
esta é a forma de fabricar a “ilusão” da permanência ‘Queering the geographical imagination’ para argumentar
do ser sexuado. O corpo na obra de Judith Butler sobre novas formas de conceber e praticar a
não é uma superfície sexuada e pré-existente, geografia. Afirma o autor que muito se prega, mas

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 45


pouco se considera a indissociabilidade entre o cuando pensamos em mundos que un día se con-
material e o discursivo e complementa que, embora vetirán em pensables, em decibles, em legibles,
o pensamento humanista tenha procurado construir hacer visible lo que há sido repudiado y decir
a prática geográfica integrando matéria e discurso, lo que antes era inefable se convierte em parte de
persistem ainda as fraturas entre as categorias. uma ‘ofensa’ que se debe cometer para ensanchar
O tipo de prática geográfica que Larry Knopp al dominio de la supervivencia lingüística. La
defende quando considera o duplo vínculo entre o significación del lenguaje requiere abrir nuevos
material e o discursivo implica considerar o corpo, contextos, hablando de maneras que aún no han
sensações, sentimentos, emoções e desejos como sido legitimadas, y, por lo tanto, produciendo
equivalentes e integrantes aos valores atribuídos à nuevas y futuras formas de legitimación (Bu-
racionalidade e à mente. Provoca os geógrafos a tler, 2004, p. 73).
serem mais ousados na expansão do terreno
empírico, incluindo realidades complexas, A humildade intelectual sobre a qual nos alerta
desordenadas e fluidas. Recomenda aos Knopp (2007) envolve a noção de que o processo
investigadores da área a “temperar” a ambição investigativo contém em si a posicionalidade de
intelectual com humildade, já que aquilo que vários elementos que se influenciam mutuamente.
produzimos como conhecimento científico é apenas O encontro entre pesquisador(a) e pesquisado(a)
mais um dado da realidade e que este é um processo em uma situação específica envolve ambas as
sempre incompleto. Para finalizar, o autor apela para posicionalidades, já que cada qual se posiciona
a modificação das nossas imaginações ontológico- socialmente a partir de pontos de vista diferentes.
geográficas, e deseja que nossos objetos de estudo O saber produzido de uma dada realidade reúne
sejam considerados de forma mais relacional do que as motivações das pessoas envolvidas, que se
autônoma, mais reflexiva do que objetiva e mais expressam a partir delas, gerando, portanto, uma
humilde do que ambiciosa. Segundo ele, o resultado versão sempre parcial. Os efeitos produzidos deste
dessas práticas geográficas seria uma geografia encontro de motivações expressas, por sua vez,
menos arrogante e elitista, mais esperançosa do que realimentam a própria realidade estudada num fluxo
temerosa e mais humana do que “des”-humana. contínuo.
Aquilo que é determinado como impensável, Em Situating knowledges: positionality, reflexities and
impraticável e indizível pela ciência deve ser other tactics a geógrafa Gillian Rose argumenta que
tensionado, e a ordem da pretensa normalidade, a realidade socioespacial também se constrói a
subvertida. Quem pesquisa, deve duvidar das partir das relações de poder que se fundam nos
‘verdades’ que sustentam e dão guarida ao poder e enunciados científicos e na posição de quem os
cometer heresias contra os cânones do discurso pronuncia. Portanto, a autora incorpora a
científico, praticando aquilo que Butler (2004) chama necessidade da postura reflexiva da pessoa que
de “certas ofensas necessárias”, a fim de transpor as pesquisa em relação aos seus resultados, já que as
formas de leitura do discurso geográfico, pois relações de poder inerentes ao processo

46 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


investigativo implicam na produção de hierarquias. intercambiáveis. Os acervos e arquivos não
As versões da realidade produzidas por nós, registram e resguardam as histórias de vida dessas
pesquisadores(as), possuem maior poder de fazer pessoas e nem mesmo os bancos de dados
valer suas ideias frente aos demais saberes sociais. estatísticos estão organizados de forma a facilitar
As ideias que se imaginam, segundo ela, produzem a realização de investigações que intencionem
a realidade social, assim como a realidade pode produzir suas expressões.
ser imaginada e é nesse sentido que se constrói As investigações voltadas às políticas
uma importante discussão sobre a implicação identitárias dos últimos anos reivindicam uma
política e social dos resultados de pesquisa e o postura reflexiva do pesquisador sobre os atos
compromisso ético na construção de uma realidade investigativos e sua posicionalidade em relação ao
que é pluriversal. fenômeno que se estuda, tal qual argumentado por
Os confrontos dos múltiplos saberes sob a Knopp (2007) e Rose (1997). As tentativas de
perspectiva da universalidade dos modelos de escapar às práticas geográficas criticadas por esta
conhecimento resultaram na ciência moderna que corrente, como a autoridade do(a) pesquisador(a),
produz as ausências e silêncios e reforça as seu comportamento no trabalho de campo e os
dominações. A postura pluriversal implica na modos de interpretação das realidades
prática geográfica subversiva que joga com e contra socioespaciais, produziu a concepção de que a
os conceitos da ciência hegemônica e contempla investigação não é um produto, mas um processo.
os saberes dos sujeitos silenciados no discurso Enquanto processo, as experiências e as interações
moderno tradicional. Baseada na noção de poder pessoais entre pesquisadas(os) e pesquisadores(as)
de Michel Foucault, a geógrafa alega que o poder passam a compor os dados da própria investigação.
no campo científico, assim como todo o poder, é Assim, vou utilizar de minha experiência pessoal
relativo e que ocorrem fissuras através das quais se desenvolvida no campo de pesquisa durante meu
pode transgredir o padrão instituído por meio de estágio pós-doutoral. Longe de adotar uma postura
táticas desconstrucionistas à ordem estabelecida. egocêntrica e autocentrada de análise, justifico esta
Qualquer construção de conhecimento implica abordagem pela minha incapacidade, neste
em uma postura reflexiva em torno da momento, de realizar uma abordagem mais ampla,
interdependência entre conceitos já estabelecidos contemplando experiências de pesquisa de outros
pelo campo científico e a realidade que se colegas. Minha investigação está voltada de forma
investiga. As escolhas teóricas implicam geral para a análise das relações entre a imigração
simultaneamente em operações metodológicas que ilegal e as representações sociais das prostitutas
lançam mão de instrumentos específicos. É brasileiras na Espanha2. Procuro compreender os
importante dizer, portanto, que o estudo de grupos elementos definidores de suas rotas
sociais invisibilizados é bastante árduo, na medida transcontinentais para o exercício da atividade
em que eles não possuem, em geral, registros comercial sexual, assim como as relações entre
documentais facilmente detectáveis, acessíveis e corpo, identidade, território brasileiro e práticas

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 47


sexuais em território estrangeiro e, ainda, os tas e mulheres vestidas também de forma comum.
significados construídos por essas pessoas sobre a Alguns grupos de mulheres se reúnem e é sua
experiência socioespacial da imigração ilegal, postura física e olhares que as identificam como
implicando no exercício da prostituição. Não prostitutas. Abordei algumas delas perguntan-
pretendo aqui discutir meus resultados de pesquisa, do por brasileiras. Percebi que se reuniam por
mas elaborar uma reflexão sobre as práticas de nacionalidades. Havia as do ‘leste europeu’, as
pesquisa que envolvem as considerações realizadas africanas e as latinas. Mas as brasileiras eram
por Rose (1997) e Knopp (2007). muito raras entre as latino-americanas. Cada
Inicio por questionar minha própria posição no vez que me aproximava de um grupo, um homem
campo de trabalho junto aos grupos que estudo e se aproximava também e me indagava com
de como minha presença física também passa a agressividade sobre as razões de minhas per-
compor o espaço que exploro. Além disso, levanto guntas. Me distanciei um pouco para evitar
os desafios dos efeitos de minha posicionalidade conflitos e me mantive em frente a uma vitrine,
no campo de pesquisa sobre minha própria observando a dinâmica de agrupamentos de
identidade e das pessoas com quem passo a prostitutas por nacionalidades / racialidades e
interagir, e sobre a construção do modelo de as táticas de que elas se utilizavam para atrair
análise resultante desse encontro. Tomo a os clientes. Para minha surpresa, um homem de
liberdade de transcrever aqui trechos de meu aproximadamente quarenta anos se aproximou
diário de campo que possibilitam melhor de mim e falou comigo. Compreendi que pergun-
explicitação de minhas ideias: tava sobre o preço do programa e fiquei nervo-
sa. Tentei explicar que não era prostituta e ele
“Hoje, dia 28/04/2008, busquei o chamado percebeu que eu era brasileira e ofereceu mais
“triângulo de Ballesta” na área central de Madri, dinheiro. Eu fiquei muito confusa e, quanto mais
local conhecido por ser uma área de prostitui- confusa, mais a oferta aumentava e os elogios
ção. Trata-se de uma área em que o capital pela minha ‘brasilidade’ também. Fui embora
imobiliário vem exercendo forte pressão para perdendo a paciência com ele. Talvez tenha per-
seu ‘saneamento’, a fim de torná-la mais rentá- dido a paciência porque havia sido significada
vel. Minha expectativa inicial era de que a área como prostituta e meu lugar nobre de pesquisa-
fosse deteriorada e que as prostitutas se apresen- dora que observa o fenômeno ‘de fora’ tenha sido
tassem com vestimentas provocantes ou ainda desestabilizado, eu era mais uma delas. Mais
desnudas, tal qual os cenários que vivencio no um corpo nas ruas de Madrid, uma brasileira,
campo de pesquisa de minha cidade. Pelo con- uma prostituta.”
trário, a “Calle de La Montera”, na qual me “Hoje é 17/04/2008. Ontem entrevistei Andrô-
encontrava, é uma rua comum de comércio e meda3, travesti brasileira que estava com as
serviços e os transeuntes são famílias, turistas, costelas machucadas por uma agressão polici-
homens de negócio vestidos com ternos e grava- al, e resolvi voltar em seu ponto para ver como

48 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


estava e dizer que havia conseguido uma con- prisão dela e eu estaria prejudicando o grupo
sulta para ela. Ela estava embaixo de uma que estudava.”
marquise. À noite, elas se vestem com mais ou- “Hoje é 10/06/2008 e entrevistei Pandora. De-
sadia. Andrômeda estava de sapatos altos e um pois da entrevista, pedi que ela me indicasse
vestido muito curto. Me aproximei dela e per- outras colegas para que eu pudesse entrevistar,
guntei se estava melhor e ela estava furiosa. Um como sempre faço. Um contato leva a outro. Ela
homem ‘marroquino’ havia lhe ofendido e joga- riu de mim e disse que minha entrevista era muito
do lixo sobre ela. Ela, indignada desabafava chata e cansativa. No entanto, disse que ‘tinha
que não roubava, que estava ali só trabalhando ido com minha cara’ e perguntou se poderia me
e esse ‘hijo de puta’ a agredia. Nesse tempo, o dar uns conselhos sobre meu roteiro de entrevis-
tal marroquino voltou e os insultos continua- tas e o perfil de algumas questões que eu formu-
ram. Ela respondia com seu ‘portunhol’ os in- lava. Eu concordei. Fez suas críticas e ajudou
sultos, de forma cada vez mais agressiva, quan- a reestruturar meu roteiro. Na próxima entre-
do o homem se aproximou com uma postura de vista vou sentir se a reestruturação melhorou a
quem iria atingi-la. Ela arrancou os sapatos relação com as pessoas que pesquiso. O mais
altos, tirou uma corrente da bolsa e começou a incrível é que ela, ao mesmo tempo que me concedia
girar chamando-o para a briga. Eu, assusta- a entrevista, me analisava e fazia julgamentos
da, peguei meu celular e disse que estava cha- também sobre meus procedimentos. Depois de tan-
mando a polícia. Ela gritou comigo, dizendo tos anos de atuação em pesquisas foi a primeira
que se eu fizesse isso era ela quem iria presa. Meu vez que senti que o encontro da entrevista é um
coração parecia que iria sair pela boca, recuei momento realmente único e que o saber que ali se
e torci que ela desse conta do tal ‘marroquino’, constrói não é, de forma alguma, mérito meu, mas
que ficou com medo de Andrômeda e foi embora. da relação que se estabelece com o outro.”
Ele também havia me significado como uma
prostituta, colega de Andrômeda. Eu estava Esses breves relatos registrados em meu diário
perplexa. Não compreendia se a atitude que tomei de campo ilustram as questões envolvidas nos
era de solidariedade a seu pedido ou de medo de métodos que têm sido utilizados entre
levar uma correntada também. Mas Andrôme- geógrafas(os) feministas e queers. Os dois primeiros
da ria de sua valentia, dizia que travesti na rua registros do diário de campo me levam a refletir
tinha que ser ‘muito macho’ e significou meu ato sobre como meu próprio corpo é percebido nos
de não chamar a polícia como uma lealdade, já locais de pesquisa. Minha corporeidade, para usar
que eu, como uma pesquisadora devidamente o termo de Linda McDowel (1999), também é
documentada, seria protegida pela polícia e eu representada e interpretada pelos grupos que
preferi correr risco ao lado dela. Passou a me compõem o campo pesquisado. Meu corpo, assim
chamar de amiga. Eu agora penso que, por muito como compreendo os corpos que estudo, não é
pouco, minha interferência poderia provocar a um local onde a cultura se inscreve, mas é ativo na

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 49


produção das percepções e, tal qual aponta Knoop impasses éticos de difíceis soluções, notadamente
(2007), constitui-se em ferramenta de pesquisa. quando envolvem temas ligados às ilegalidades ou
Segundo o autor, a atenção à corporalidade de condutas infracionais. No segundo trecho
quem investiga e não apenas das pessoas apresentado, evidenciei uma situação de violência
investigadas pode ser incorporada na realidade que passou a ser corriqueira em meu campo de
estudada. Durante o trabalho de campo, ao estar pesquisa. Convivi com sentimentos, atitudes e
atenta às representações que minha corporalidade posturas que afrontavam a organização de meus
despertava e quais os parâmetros em que eu me valores de vida, e até esse momento não encontrei
tornava inteligível nos locais de pesquisa, pude uma maneira simples de refletir e me posicionar
perceber que meu ser tem também um gênero, uma quanto a isso.
cor, uma moralidade, uma classe e uma Minha autoridade científica abalada pelo
nacionalidade. enfrentamento que Pandora deflagrou frente a meu
Contemplar a posicionalidade e a roteiro de investigação evidenciou o
reflexibilidade no processo investigativo exige um tensionamento de nossas posicionalidades. Ela
pensar da(o) cientista que envolve os outros, mas resistiu às hierarquias que colocam as(os)
também de si mesma(o). Os relatos que apresentei pesquisadoras(es) em patamares de saber mais
anteriormente evidenciam que minha elevados em relação aos saberes produzidos pelo
corporalidade não era invisível no campo de senso comum com maestria. Pude exercitar com
pesquisa, e contemplá-la pode ser bastante Pandora a “humildade intelectual” aconselhada pelo
produtivo. Knopp (2007), ao provocar a geografia geógrafo Larry Knopp e compreender que é do
com seu argumento de contemplar a experiência encontro de motivações pessoais que se produz o
corporal de quem pesquisa, suas emoções, desejos conhecimento de uma dada realidade que é sempre
e percepções, alude ao fato de que o(a) sujeito(a) parcial, situacional e em permanente processo.
que pesquisa, mesmo contra sua própria vontade,
é percebido pelas pessoas pesquisadas e que as A INTERSECCIONALIDADE NA PRÁTICA DAS PESQUISAS
relações desencadeadas no ato investigativo GEOGRÁFICAS FEMINISTAS EE QUEER ______________
permeiam a interpretação dos espaços que podemos Os desafios teóricos e metodológicos
construir como geógrafas(os). enfrentados pelas ciências sociais para construir
As interações construídas entre as pessoas inteligibilidades da sociedade contemporânea
envolvidas no ato investigativo do tipo reflexivo colocam o conceito de interseccionalidade como
geram expectativas que devem ser consideradas um caminho a ser desenvolvido. A superação da
válidas e explicitadas, retirando o (a) sujeito (a) noção essencializada de mulher, a aceitação de que
que investiga da proteção da invisibilidade que não há uma única identidade capaz de abrigar todos
permeia até mesmo o estilo de escrita impessoal, os corpos passíveis de serem classificados como
muitas vezes exigida no ambiente acadêmico. No femininos, a pluralidade presente nas performances
entanto, a pesquisa qualitativa se defronta com de gênero, compreendido agora como

50 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


representação, e a emergência das críticas dos que o compõe são redefinidas, tornando-se mais
movimentos sociais envolvendo raças e ou menos relevantes em sua existência espacial e
sexualidades constituem uma busca intelectual de temporal.
contemplar as complexidades sociais. Qualquer Com base no trabalho de Valetine (2007),
pessoa vivencia simultaneamente múltiplas realizo minhas próprias aventuras metodológicas,
categorias sociais como gênero, raça, religião, oriundas da mesma investigação que tomei por base
classe, idade, opção sexual etc. Essa concepção para elaborar o pensamento exposto na seção
envolve considerar as identidades como fluidas, anterior. São algumas análises ainda parciais da
instáveis, complexas e em estado permanente de investigação sobre a experiência das brasileiras4
construção / desconstrução. As pessoas vivenciam imigrantes ilegais no exercício da prostituição na
os processos identitários ao longo da vida concreta Espanha.
e esta experiência contempla tempo e espaço. O O universo de prostitutas brasileiras, foco desse
termo interseccionalidade passa a ser utilizado raciocínio, exerciam a prostituição em locais
como uma atitude metodológica de articular as privados como clubes e apartamentos. Elas prestam
diferentes categorias sociais vivenciadas pelos seres serviços a uma clientela de alta renda. Durante uma
humamos e evidenciar que estas articulações entrevista, Cassiopéia, que tentava exercer outras
resultam em diferentes experiências. atividades fora da prostituição, me disse:
Em 2007, o periódico The professional geographer
publicou uma coletânea dedicada a refletir sobre “Uma brasileira na Espanha não tem valor fora
os desafios contemporâneos das geografias do clube. No clube, os meus clientes pagam cada
feministas e futuras agendas de pesquisa. O artigo minuto pra estar comigo. Fora, alguns ex-cli-
de Gill Valentine, ‘Theorizing and researching entes me ligam e querem ‘foder’ de graça. Nem
intersectionality: a challenge for feminist geography’, discute mesmo me dão uma carteira de cigarros. E tem
o conceito de interseccionalidade como central, mais, é coisa comum o patrão de um restaurante
alertando para a pequena atenção dispensada a ele ou bar querer foder de graça também, pra não
por parte da comunidade científica geográfica. te mandar embora. No final, dão calote no
Neste artigo, a geógrafa faz um esforço de salário e ainda ameaçam você que vão te entre-
evidenciar empiricamente as relações entre a gar para a imigração se fizer barraco.”
interseccionalidade e a dimensão espacial e
temporal, utilizando-se da análise da história de Cassiopéia, como todas as outras que
vida de uma pessoa que experiencia um processo entrevistei nesse universo, eram oriundas de um
contínuo de construção / desconstrução de sua contexto econômico de média renda e média
condição de mulher, lésbica, surda, esposa, mãe e escolaridade no Brasil. Na Espanha, fora do
trabalhadora. Nessa análise, a autora consegue exercício da prostituição, Cassiopéia exercia
evidenciar a composição múltipla do ser humano trabalhos de camareira e garçonete. Depois da
e de como o exercício das diferentes identidades entrevista, expus a ela meu projeto de investigação

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 51


e ela se propôs a me ajudar. Acabou se tornando sexualidade, classe e nacionalidade compostas
um dos pilares da pesquisa e minha informante simultaneamente pelo espaço de prostituição,
privilegiada5. Como conhecia prostitutas, locais realizando uma relação com os depoimentos de
e muitos clientes, me possibilitou entrar em Cassiopéia, que refletiam sua experiência fora dos
ambientes que jamais poderia acessar sozinha, com clubes em que atuava como prostituta.
‘status’ de pesquisadora. Em muitos clubes, mulheres No clube “X”, assim como em vários outros, há
desacompanhadas são proibidas de entrar. Assim, o salão em que ocorre o encontro entre as
ela contatava os clientes que considerava seus prostitutas e os clientes e a realização do programa
amigos, contava sobre minha pesquisa e eles me sexual contratado se dá nos quartos privados. O
auxiliavam a superar a barreira de entrar nos clubes. salão é um ambiente de sociabilidades em que se
Em geral, encaravam o ato de me auxiliar como bebe, se desenvolvem as conversas e as danças.
algo diferente a ser vivido e também se divertiam Há também pessoas que não frequentam o clube
com o fato de realizar uma ação, até certo ponto, apenas para obter serviços sexuais, mas para
transgressora. vivenciar a atmosfera de sensualidade que ali se
Só depois que vivenciei o ambiente dos clubes desenrola ou, ainda, para usar drogas nos ambientes
de prostituição é que pude compreender as privados. As prostitutas também desenvolvem
mensagens expressas na entrevista realizada com conversas entre elas sobre temas comuns como
Cassiopéia e construir um discurso de como as filhos, maridos, novelas e filmes que assistiram. Mas,
brasileiras, como ela, vivenciavam um território sobretudo, o salão do clube é o ambiente da
estrangeiro como mulher, brasileira, prostituta, conquista do cliente, preferencialmente bem
ilegal e pobre. Especialmente, pude evidenciar abonado financeiramente, e da eleição da pessoa
como o espaço da prostituição compunha o que lhe possibilita viver desejos e fantasias sexuais.
exercício destas categorias sociais de forma muito O estar no salão no processo de conquista
diversa de outros espaços, como aquele relatado envolve a corporeidade, e em geral elas dedicam
na entrevista de Cassiopéia. tempo e dinheiro para fazer seus corpos
Acompanhada de Cassiopéia e um de seus expressarem as imagens desejadas e para isso se
amigos, realizei uma saída de campo ao clube “X”, utilizam de vestuários sensuais, provocadores e
a fim de contatar as prostitutas brasileiras para transparentes a fim de dar visibilidade aos seus
realização de minhas entrevistas em profundidade. atributos corporais para impressionar os clientes
Infelizmente, não obtive sucesso nesse dia, pois as ou, ainda, as companheiras de trabalho.
brasileiras que abordei não se dispuseram a me Observando como o vestuário e os adereços
conceder uma entrevista, a não ser em troca de compõem a corporalidade das prostitutas no salão
pagamento pelo tempo que supostamente me do clube me deparei com uma prostituta que vestia
dispensariam 6 . Contudo, esta vivência foi um “top” verde e amarelo que apresentava a
igualmente rica para minha investigação e é a partir expressão “Made in Brazil” sobre os seios, aludindo
dela que reflito as intersecções de gênero, ao fato de que se tratava do corpo de uma

52 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


brasileira. Aproximei-me dela e questionei sobre trinta anos como frequentador assíduo de clubes
a roupa que usava. Ela respondeu: “Essa roupa atrai de prostituição daquele mesmo perfil me dizia que,
os clientes. Quando coloco, ganho dinheiro feito como eu, também gostava de observar as dinâmicas
água, é um atrás do outro...”. No universo de relações que ocorrem nos salões. Chamava-me
competitivo da prostituição, as brasileiras acionam a atenção para a postura tímida de vários homens
os códigos simbólicos que sua nacionalidade ao serem abordados pelas prostitutas. Alguns
desperta no imaginário social masculino europeu, chegavam a desviar o olhar, abaixando a cabeça na
associado à devassidão, à sensualidade e à primeira abordagem e só depois de algum tempo
tropicalidade. Segundo o depoimento de uma o contato visual e corporal se estabelecia. Segundo
delas, ser uma “brasileira” no salão do clube a ele, nesse tipo de encontro a prostituta coloca em
colocava em vantagem frente às outras prostitutas xeque dois valores fundamentais da masculinidade
de outras nacionalidades, evidenciando que o construída socialmente: a capacidade financeira do
atributo da nacionalidade brasileira e as homem em pagar pelo programa desejado e a
representações sociais a ela atribuídas são ali qualidade de seu desempenho sexual. Isso porque,
valorizadas. Ao contrário, esta mesma mulher, em geral, os programas neste tipo de ambiente
vivenciando a experiência espacial fora do são realizados em troca de altos valores e a
ambiente da prostituição, está em posição de prostituta contém em si uma aura de saber-poder
inferioridade, tal qual Cassiopéia argumenta. dos prazeres do corpo que pode se converter em
No salão do clube “X” se confrontam também uma espécie de prova da potência sexual masculina.
as identidades de gênero de forma bipolarizada. Assim, a configuração das relações de gênero
Supostamente, o cliente homem vem em busca de tradicionais entre mulher submissa e homem
uma relação heterossexual, mas isso não quer dizer dominador, retratadas no depoimento de
que no ambiente privado do quarto, as práticas Cassiopéia quando relata a cessão de favores sexuais
sexuais não se desenvolvam envolvendo corpos de ao patrão em troca do emprego, são ali
outros homens ou de travestis que realizam desestabilizadas.
programas. Contudo, a presença deles não é Sua condição de estar no país de forma ilegal
permitida no salão do clube “X”, mas são não influencia as relações comerciais envolvidas
demandados nos ambientes privados, quando no trabalho sexual desempenhado no clube “X”.
solicitados pelos clientes para a realização de As prostitutas, mesmo as ilegais, estão protegidas
programas sexuais. por uma estrutura que dificilmente é desafiada
A disposição dos corpos e as táticas de acesso pelos clientes no salão, que é vigiado por
eram por mim observadas quando o amigo de seguranças e câmaras. Depois de contratado o
Cassiopéia que nos acompanhava me chamou a perfil dos serviços a serem prestados pela prostituta
atenção e disse: “Mira, en esto lugar las mujeres son las e o valor a ele correspondente, o cliente deve pagar
cazadoras y los hombres, la caza”. Começamos a trocar antecipadamente pelo programa. Novamente,
ideias e ele, do alto de sua experiência de mais de aquele espaço confere à prostituta o domínio da

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 53


situação em que o credor é o cliente, inerentes desafios, discutindo a posicionalidade do
diferentemente da condição em que o salário a uma pesquisador na prática da pesquisa e a
brasileira ilegal, relatado por Cassiopéia, pode ser interseccionalidade como conceito a ser explorado
negado sem maiores complicações em outros na geografia. Ao finalizar esse texto, quero reforçar
espaços da cidade. A mesma mulher brasileira, ilegal o argumento de compreensão da investigação
e prostituta, agora com vantagens econômicas, pode como processo a ser partilhado e debatido. É a
circular em outros ambientes urbanos, como lojas, partir da postura reflexiva em torno da prática
por exemplo, e não acionar as identidades que são investigativa geográfica que se pode produzir um
francamente mobilizadas no ambiente do clube. Elas saber “mais humano”, para utilizar a expressão de
afirmam que o preconceito sofrido por elas como Knopp (2007), capaz de dialogar com outros
brasileiras é inversamente proporcional ao dinheiro campos de saber e com as pessoas que produzem e
que carregam no bolso, assim como as facilidades fazem a geografia na sua existência cotidiana. Além
compradas frente a qualquer problema que possa disso, reforço que as geografias feministas e queer
decorrer da condição de sua permanência ilegal não são saberes que devem se manter autocentrados
no país. e/ou isolados. Possuem focos de interpretação da
Os processos de intersecção das identidades realidade socioespacial que, de forma dialógica
de gênero, nacionalidade e classe evidenciados com os demais subcampos da geografia, podem
na experiência das mulheres brasileiras prostitutas subverter o monotopismo e produzir
no salão do clube “X” não podem ser simplesmente pluriversalidades espaciais, enriquecendo nossa
transpostos à análise de outras realidades. O ciência como um todo.
fenômeno da prostituição é extremamente
complexo e cada espacialidade vivenciada é NOTAS __________________________________
1 O pensamento acadêmico queer se desenvolve imbrica-
também composta pelo poder que re-posiciona os do ao movimento social que lutava pela liberdade
sexual, que passou a questionar o caráter conservador
(as) sujeitos(as) em suas relações socioespaciais. do movimento homossexual que excluía sua diversida-
de interna. O protagonista era o homem branco,
Nesse sentido, o espaço é uma categoria homossexual, de classe média alta, que obscurecia a
luta dos não-brancos, travestis, lésbicas e transexuais
fundamental no enriquecimento do conceito de etc. Os pensadores queer constituem também os
questionamentos sobre a organização das hierarquias
interseccionalidade, ainda negligenciado pelas sexuais que tornam invisíveis determinadas vivências.
O termo queer apresenta ainda ambiguidades pois,
demais ciências sociais, assim como esse conceito assim como representa a unidade de pensadores em
torno das identidades construídas socialmente,
pode enriquecer as análises geográficas, também é usado como forma de ofensa às pessoas
homossexuais.
contemplando a diversidade, a fluidez e a
2 Mesmo que a intenção não seja discutir nesse trabalho
complexidade das identidades sociais, tal qual os resultados da pesquisa, é importante evidenciar o
contexto em que surge a ideia da exploração deste
argumentado por Valentine (2007). tema. As brasileiras presentes no mercado da prostitui-
ção da Espanha tornam-se expressivas nos noticiários
do país e nos relatórios de investigação da polícia
espanhola, num contexto em que os organismos
CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________ internacionais discutem o “Tráfico de seres humanos
com finalidade de exploração sexual”. Para se ter uma
O trabalho apresentado argumentou sobre a ideia, o número de prostitutas brasileiras detidas na
Espanha aumentou 80%, passando de 3.332 em 2003
indissociabilidade entre as transformações das para 6.015 em 2005, segundo dados do Ministério do

imaginações ontológico-geográficas e seus

54 ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010


Interior espanhol. Em 2004, a polícia espanhola deteve
20.284 mulheres em seu território e, de acordo com a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________
polícia, são vítimas de prostituição forçada. Desse BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and subversion
total, 98,77% eram estrangeiras, e as brasileiras of identity. London: Routledge, 1990.
representavam 30% destas, sendo que em 2003 elas
representavam apenas 17%. Ainda segundo a polícia BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive
espanhola, a Espanha possui cerca de 20 mil bordéis em Limits of “Sex”. New York & London: Routledge, 1993.
que atuam cerca de 700 mil mulheres, que podem ser BUTLER, Judith. Lenguaje, poder y identidad. Madrid:
pessoas vítimas de redes de tráfico, mas também Editorial Síntesis, 2004.
prostitutas autônomas, trabalhando por decisão
própria, já que na Espanha o exercício da prostituição DIAS, Karen e BLECHA, Jennifer. Feminism and Social
não é considerado crime até o presente momento. Theory in Geography: An Introduction. The Professional
Geographer, 59 (1), p. 01–09, 2007.
3 Todos os nomes utilizados aqui são fictícios, embora
as colaboradoras da pesquisa fizessem questão de FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade
registrar o nome com que se identificavam. Optei pelo de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
anonimato a fim de protegê-las. Algumas se queixam de HARAWAY, Donna. Simians, Cyborgs and Women: the
minha posição, inclusive pedem que sejam fotografadas reinvention of nature. London: Free Association Books, 1991.
e que explicite sua participação na pesquisa. Contudo,
como não sei do alcance da publicização dos dados de KNOPP, Larry. On the Relationship Between Queer and Feminist
pesquisa, achei melhor mantê-las anônimas, apesar dos Geographies. The Professional Geographer, 59 (1), p. 47–55, 2007.
protestos. KOBAYASHI, Audrey e PEAKE, Linda. Unnatural discourse:
4 Embora minha investigação se refira às brasileiras ‘race’ and gender in geography. Gender, Place and Culture, v.
compreendidas por mulheres biológicas e travestis 1, n. 2, p. 225-453, 1994.
(compreendidas na Espanha como “mujeres transexuales”). MCDOWELL, Linda. Gender, Identity and Place. Unders-
Nesse momento, irei restringir minha análise ao universo tanding Feminist Geographies. Minneapolis: University of
de mulheres. Isso porque as travestis experienciam outras Minnesota Press, 1999.
intersecções, que não podem ser exploradas neste
reduzido espaço disponível para a exposição. MIGNOLO, Walter D. Os esplendores e as misérias da
“ciência”: colonialidade, geopolítica do conhecimento e pluri-
5 Quero fazer pública minha gratidão pela sua generosida- versalidade epistémica. In: SANTOS, Boaventura de Souza.
de em compartilhar seu conhecimento comigo e a Conhecimento prudente para uma vida decente. São Paulo:
admiração que me despertou pela sua capacidade de luta, Cortez, 2004. pp. 667-710.
coragem e crítica social. Embora esteja aqui identificada
MONK, Janice e HANSON, Susan. On not excluding half of
com nome fictício, Cassiopéia sabe a quem estou me
tje human in human geography. The Professional Geogra-
referindo em realidade.
pher, v 34, n. 1, p. 11 – 23, feb, 1982.LAURETIS, Tereza de.
6 A postura adotada em não pagar pelas entrevistas, Technologies of Gender: Essays on Theory, Film, and
além de não possuir recursos financeiros suficientes Fiction. Bloomington: Indiana University Press, 1987.
para isso, estava fundamentada na ideia de que os ROSE, Gillian. Situating knowledges: positionality, reflexities
depoimentos deveriam ser realizados a partir da and other tactics. Progress in Human Geography, v. 21, p.
disposição das pessoas em colaborar com a investigação 305-320, 1997.
e de acreditar que o ato voluntário refletia na qualidade
das expressões de suas experiências e no tipo de relação SILVA, Joseli Maria. Amor, paixão e honra como elementos de
que se estabelecia entre pesquisadora e pesquisada no análise do espaço cotidiano feminino. Espaço e cultura. n. 22,
ato da entrevista. p. 97-109, Jan/dez, 2007.

ABSTRACT
THE FOCUS OF THIS STUDY IS TO REFLECT ON THE TRANSFORMATIONS OF THE ONTOLOGICAL-GEOGRAPHIC IMAGINATIONS
AND ITS SYMBIOSIS WITH THE WAYS OF ACCOMPLISHING THE INVESTIGATIVE PRACTICES AND THE INHERENT
CHALLENGES RELATED TO THIS PROCESS. THUS, THE PROCEDURES OF SEQUENCES BETWEEN THE FEMINIST APPROACHES
AND QUEER ASSOCIATED TO NEW CULTURAL GEOGRAPHY ARE EXPLORED, BRINGING TO ANALYSIS THE CONCEPTION OF
RESEARCH AS A PROCESS RESULTING FROM THE REFLECTION ON THE RESEARCHERS POSITIONED IN RELATION TO THE
PHENOMENON BEING STUDIED AND ITS IMPLICATIONS PRACTICE. MOREOVER, THE ARTICLE EXPLORES THE CONCEPT OF
INTERSECTIONALITY IN THE ANALYSIS OF THE SOCIAL COMPLEXITY AND SHOWS THE SPACE AS AN INTEGRAL PART OF
THE INTERSECTIONS AMONG GENDER, SEX, SOCIAL CLASS AND NATIONALITY.
KEYWORDS: FEMINIST GEOGRAPHIES, SEXUALITY, CORPORALITY, REFLEXIBILITY, INTERSECTIONALITY

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 27, P. 39-55, JAN./JUN. DE 2010 55

Potrebbero piacerti anche