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Romanos
Tabela de conteúdos
Resumo 0
Introdução 1
Roma nos Tempos de Paulo 2
Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 3
Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 4
Não me envergonho do Evangelho (Rm 1:16-17) 5
A Ira de Deus (Rm 1:18ff) 6
As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 7
Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 8
Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 9
O Propósito da Eleição (Rm 9) 10
A Tristeza de Deus (Rm 10) 11
Relacionamentos com Deus Transformados (Rm 12:1-2) 12
2
Entendendo Romanos
Resumo
Um estudo, versículo a versículo, sobre a epístola de Paulo aos Romanos, conforme
estudado em classe da Escola Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana de Curitiba.
Resumo 3
Entendendo Romanos
Entendendo Romanos
O ingresso na universidade marca para muitos jovens a transição da adolescência para o
início da vida adulta. Esta mudança vem normalmente acompanhada de uma avalanche de
sentimentos e questionamentos de todas as ordens. Em particular, a autenticidade da sua
fé é colocada em cheque, mesmo tendo sido criado em um lar cristão, tendo sido aluno
assíduo da Escola Dominical e tendo participado ativamente de um grupo de jovens. Novas
perguntas surgem às quais ele precisa responder para se manter firme e para compartilhar
o evangelho:
Muitos cristãos se assentam nos bancos das igrejas para serem alimentados a colheradas a
respeito de posições que devem adotar: "Você deve se posicionar contra o aborto! Deve
acreditar que a prática homossexual é pecado e deve esperar para já a imunidade ao
sofrimento e à frustração." Mas são poucos os que lançam as raízes suficientemente mais
fundo na teologia cristã para saberem o porquê de serem instruídos desta ou daquela
forma, e para poderem distinguir o que é genuinamente cristão (a questão do aborto e da
prática homossexual) do que é o produto de uma interpretação deformada da Bíblia (a
imunidade à dor).
Introdução 4
Entendendo Romanos
uma vida cristã consistente, temos que fazê-lo a partir de uma perspectiva bíblica mais
ampla respeito de Deus, do mundo e do ser humano. Para que a igreja tenha uma voz
sensata e persuasiva na "batalha de ideias" de nossos dias, ela deve proclamar a
interpretação bíblica da realidade de forma clara, amorosa e convincente.
O que Romanos tem a ver com isso? Muito. Pois Romanos é, ao final de contas, a respeito
de cosmovisão — como enxergamos o mundo ao nosso redor. Embora seja cheio de
"doutrina", não precisamos fugir do seu estudo como se fosse difícil e árido. Há sim trechos
difíceis, mas o ensino da carta não é nem um pouco árido, entediante ou meramente
"teórico". A carta nos mostra quem é realmente o ser humano e do que ele precisa, o que
Deus fez para nos dar uma saída da nossa alienação e mortalidade, e que tipo de estilo de
vida uma cosmovisão como esta produz. Romanos nos diz sobre como pensar a respeito
do universo ao nosso redor.
A carta da Paulo aos Romanos é também um tipo de manifesto cristão, uma declaração da
liberdade obtida através de Jesus Cristo. Romanos é a "mais completa, mais clara e mais
grandiosa afirmação do evangelho do Novo Testamento" (Stott). A sua mensagem não é
que o ser humano nasceu livre e foi sendo aprisionado ao longo da vida, mas sim que
nasceu em pecado e escravidão, e Jesus veio para o libertar. Mas do que Cristo nos
liberta? Da ira santa de Deus contra todo erro e injustiça, da alienação para alcançarmos a
reconciliação. Ele nos liberta da condenação da lei de Deus, do "escuro e apertado
calabouço do nosso próprio ego", do medo da morte, e um dia, nos libertará, da
deterioração a que está sujeita a Criação para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Enquanto isso aguardamos este dia, Deus nos liberta de conflitos étnicos na família de
Deus, e nos liberta para que nos doemos a nós mesmos no serviço amoroso a Deus e aos
outros.
É por isso que a Igreja de todas as gerações reconhece a importância de Romanos. Lutero
dizia era esta era a "principal parte do Novo Testamento e ... verdadeiramente o evangelho
no seu estado mais puro". "Todo cristão" — continuava ele — "deveria conhecer esta
epístola palavra por palavra, de cor, mas também deveria ocupar-se com ela a cada dia
como pão diário para a alma." Calvino declarou que "se obtivermos uma compreensão
correta desta epístola, teremos uma porta aberta para todos os tesouros mais profundos
das escrituras."
Romanos fala de um Deus que revela seu poder e graça através das boas novas sobre
Jesus. E quanto mais meditamos no seu conteúdo, mais fascinante ele se torna para nós.
Introdução 5
Entendendo Romanos
Romanos está cheio de "teologia geral", sendo "uma afirmação sustentável e coerente do
evangelho" (F. F. Bruce), "uma unidade teológica da qual nada substancial pode ser tirado
sem que o todo seja desfigurado" (Prof. Cranfield), "a última vontade e testamento do
apóstolo Paulo" (Bornkamm). Romanos, no entanto, (como todos os livros do Novo
Testamento) foi escrito em um contexto preciso:
O contexto de Paulo
Paulo escreveu Romanos muito provavelmente de Corinto, durante os 3 meses que passou
na Grécia (At 20:2ss, na sua 3a Viagem Missionária). Ele menciona três destinos aos quais
ele tinha a intenção de ir (veja Figura 1):
Jerusalém (15:25ss) — para levar dinheiro que as igrejas gregas ajuntaram para
cristãos em necessidade na Judeia;
Roma em si (1:11s; 15:23s) — tendo sido frustrado no passado, agora ele está
confiante que conseguirá visitar Roma;
Espanha (15:20, 24 e 28) — para continuar o seu trabalho pioneiro de evangelização.
Introdução 6
Entendendo Romanos
As visitas que faria a Jerusalém e à Espanha tinham um significado especial para ele pois
expressavam os seus dois principais compromissos: com o bem-estar de Israel (Jerusalém)
e com a missão aos gentios (Espanha).
Paulo estava, no entanto, apreensivo a respeito da sua ida a Jerusalém por causa da
importância que isso tinha para ele (a oferta como símbolo da solidariedade de judeus e
gentios no corpo de Cristo) e por causa da resistência que sofria (alguns o consideravam
liberal e traidor da herança de Israel). Assim, ele pede orações (15:30-31).
Seu destino final era a Espanha. Ele havia completado a evangelização da Galácia, Ásia,
Macedônia e Acaia (15:19b) e agora desejava pregar o evangelho "onde Cristo ainda não
havia sido anunciado" (15:20). Ele poderia, no entanto, ir à Espanha sem passar por Roma.
Por que passar por lá?
Introdução 7
Entendendo Romanos
Por que Paulo lhes escreve? Para prepará-los para a sua visita. Muitos na igreja não o
conheciam e ele queria estabelecer as suas credenciais apostólicas apresentando-lhes
completamente o evangelho que pregava. Embora a sua preocupação central era o
evangelho, ele também respondeu a questões dos seus leitores e rebateu críticas.
Quando Paulo escreve àquela igreja, os judeus já tinham recebido a autorização para voltar
a Roma (incluindo Priscila e Áquila, cf. Rm 16:3). A igreja passou a ser composta então por
uma misura de judeus e gentios (embora a maioria fosse de gentios, cf. 1:5ss, 13; 11:13).
Esta mistura não era de todo pacífica. Havia um certo conflito teológico entre estes grupos.
Os judeus em Roma viam o cristianismo simplesmente como parte do judaísmo e exigiam
que todos observassem a lei judaica. Já os gentios eram adeptos de um ``evangelho sem a
lei''. Os judeus acusavam Paulo de ser traidor da aliança e inimigo da lei (i.e.,
"antinominiano"). Os gentios desprezavam os judeus por ainda estarem
desnecessariamente sob a escravidão da lei. Os judeus se orgulhavam de seu "status" e os
gentios, da sua liberdade. Paulo fez questão colocar ambos em seus lugares.
Ecos desta controvérsia são encontrados na carta. E Paulo está sempre escrevendo no
espírito de pacificar a situação preservando a verdade. Ele mesmo tinha um pé de cada
lado. Sendo judeu, mas chamado para ser apóstolo dos gentios, ele tinha um posição única
como agente de reconciliação dos dois grupos.
Introdução 8
Entendendo Romanos
Nesta continuidade com o Antigo Testamento, ele afirma a validade da aliança de Deus
(que agora inclui gentios) e da lei de Deus (que, embora libertos dela como meio de
salvação, pelo Espírito a cumprimos como sendo a revelação da santa vontade do Senhor).
1. Introdução (1:1-17)
2. A ira de Deus (1:18-3:20)
3. A graça de Deus (3:21-8:39)
4. O plano de Deus (9-11)
5. A vontade de Deus (12:1-15:13)
Introdução (1:1-17)
A introdução à carta, no capítulo 1, apresenta dois temas principais:
Entre um tema e o outro, Paulo fala de seu relacionamento pessoal com seus leitores. Ele
escreve a "todos os [que estão] em Roma...", independente da sua origem étnica (embora
soubesse que a maioria era de gentios). Paulo dá graças por eles, ora por eles, e deseja
encontrá-los (1:8-13). Ele se sente, de fato, na obrigação de pregar o evangelho na capital
do mundo da época (1:14-17).
Introdução 9
Entendendo Romanos
aqueles que deliberadamente suprimem o que sabem ser verdadeiro e certo para viver do
seu próprio jeito.
O objetivo do apóstolo é mostrar que "todos pecaram e carecem da glória de Deus", i.e.,
todos, sem exceção estão aquém do patamar de justiça exigido por Deus e conhecido por
eles próprios. Todo ser humano é pecador, culpado e indisculpável diante de Deus.
No capítulo 4, Paulo argumenta que Abraão foi justificado pela fé, não por obras, nem por
circuncisão, nem pela lei. Por isso, Abraão é pai de todo o que crê (independente de ser
judeu ou gentio).
Então, no capítulo 5, ele fala das grandes bênçãos desfrutadas pelo povo justificado de
Deus, a saber: temos paz com Deus, estamos imersos na graça, e nos alegramos na
perspectiva de ver e compartilhar a sua glória. Nem mesmo o sofrimento abala nossa
confiança — Deus já nos deu provas objetivas e subjetivas do seu amor e dele estamos
seguros.
Duas comunidades humanas são então descritas. A primeira caracterizada pelo pecado e
culpa — a velha humanidade em Adão. E a outra caracterizada pela graça e fé — a nova
humanidade em Cristo. Um único ato de um único homem afetando um número enorme de
pessoas para o mal (Adão) e para o bem (Cristo).
Paulo então diz que "a Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas
onde aumentou o pecado, transbordou a graça" (5:20). Isto, para ouvidos judeus, era
chocante. Não estaria Paulo rejeitando a lei de Deus e encorajando o pecado? Ele
Introdução 10
Entendendo Romanos
Quem acha que quanto mais pecar, mais será alvo do perdão e graça de Deus, não
entendeu o propósito da sua conversão. "Como podem viver naquilo para o qual
morreram?" Estamos "mortos para o pecado e vivos para Deus". Longe de encorajar o
pecado, a graça o proíbe.
Sobre a Lei, Romanos 7 nos diz que assim como morremos para o pecado, morremos
também para a lei (i.e., estamos livres da sua condenação). Não estamos livres para pecar,
mas para servir de um novo jeito, o jeito do Espírito.
Enquanto Romanos 7 é cheio de "lei", Romanos 8 é cheio do Espírito. O Espírito nos liberta,
habita em nós, nos leva ao autocontrole, testemunha com o nosso espírito de que somos
filhos de Deus, intercede por nós. Sendo filhos de Deus, somos também seus herdeiros.
No entanto, o sofrimento é o único caminho para a glória. Paulo então traça um paralelo
entre o sofrimento e glória da criação e o sofrimento e glória do povo de Deus. Ambos
aguardam ansiosamente e redenção final do universo, o que inclui nossos corpos.
Paulo inicia cada capítulo desta seção da carta de maneira bastante emocional
demonstrando:
No capítulo 9, Paulo defende a lealdade de Deus à sua aliança dizendo que há um "Israel"
dentro de "Israel", um remanescente, pois Deus sempre trabalhou de acordo com o
propósito da sua eleição (9:11). Ele escolheu Isaque ao invés de Ismael, Jacó ao invés de
Esaú, teve misericórdia de Moisés e endureceu o coração do faraó (9:14-18). Eleição é um
tema difícil, mas temos que deixar Deus ser Deus ao decidir sobre fazer conhecido seu
poder e misericórdia (9:22-23).
Introdução 11
Entendendo Romanos
Esta eleição, no entanto, não é incompatível com a teimosia orgulhosa de Israel em não se
submeter ao modo de salvação determinado por Deus, que envolve Cristo e a sua cruz.
Este é o tema do capítulo 10.
Paulo fala de uma justiça que procede da lei e outra que procede da fé. Esta última está
prontamente acessível a todos que o invocam (10:5-11). E nesse sentido não há diferença
entre judeus e gentios, uma vez que o Senhor é Senhor de ambos e ricamente abençoa a
ambos (10:12-13).
Mas para isso, evangelismo é necessário (10:14-15). Por que Israel não aceitou as boas
novas do evangelho? Porque não o ouviram ou não entenderam. Por que não? Porque
embora Deus esteja de braços abertos, eles eram "desobedientes e obstinados" (10:16-21).
No capítulo 9, a descrença de Israel é atribuída ao propósito de eleição de Deus. Já no
capítulo 10, é atribuída ao seu orgulho, ignorância e teimosia. Esta é a tensão misteriosa
entre a soberania divina e a responsabilidade humana.
No capítulo 11, Paulo olha para o futuro. A queda de Israel não é nem total (há um
remanescente) nem final (Deus não rejeitou Israel e eles se recuperarão). A mensagem é a
de que se a queda de Israel trouxe a salvação aos gentios, quanto mais a salvação deles
trará bênçãos ainda maiores.
As alternativas são:
Introdução 12
Entendendo Romanos
prerrogativa de Deus — nosso papel sendo buscar ter paz com todos vencendo o mal
com o bem (12:17-21);
com o governo — usado por Deus para ministrar a sua justiça e recompensar o bem
(13:1-7);
com a lei — o amor ao próximo como o cumprimento da lei de Deus (13:8-10), não
estando "sob a lei" no que diz respeito à nossa justificação, mas estando sob a
obrigação de viver em diária obediência aos mandamentos de Deus;
com o último dia — a primazia do amor à medida em que o dia de Cristo voltar se
aproxima e para o qual temos que estar acordados, em pé, vestidos e vivendo como
quem pertence ao dia (13:11-14);
e com os "fracos" (na fé ou na convicção, e não na vontade ou no caráter) —
principalmente judeus que criam dever observar as leis de alimentos e festas do
calendário judeu, sendo estas coisas secundárias (14:1-15:13). Porém, a consciência
do fraco não pode ser espezinhada. Paulo fundamenta suas instruções em sua
cristologia, em particular na morte, ressurreição e volta de Cristo: os irmãos mais
"fracos" são aqueles por quem também Cristo morreu; Cristo ressuscitou para ser
Senhor deles; e Cristo está vindo para ser nosso juiz (então, não devemos nós brincar
de ser juízes).
Na sua conclusão, Paulo descreve seu ministério como apóstolo aos gentios e a sua
política de pregar Cristo onde ainda não é conhecido (15:14-22). Ele saúda 26 pessoas
citados por nome (16:3-16): homens e mulheres, escravos e livres, judeus e gentios,
celebrando a unidade na diversidade. Ele os adverte contra os falsos mestres (16:17-20),
manda recados de 8 pessoas que estão com ele em Corinto (16:21-24).
Paulo termina a carta com uma doxologia. Ele termina onde começou, fazendo referência
ao evangelho de Cristo, à comissão de Deus, à missão às nações e à obediência da fé.
Aplicação
1. Se o estudo de Romanos foi transformador da vida de muitos, não poderia ser na
nossa também? Temos que nos perguntar se realmente queremos progredir na vida
cristã (i.e., no conhecimento de Deus e de sua vontade), ou se este é um desejo vago
que não envolve esforço. Que preço você estaria disposto a pagar por isso?
2. No contexto do apóstolo Paulo, vemos o seu amor por Cristo e sua igreja exalando por
todos os poros. Ele não teme expressar a sua vulnerabilidade e humildade ao
reconhecer que precisa da comunhão e do apoio daquela igreja. Vulnerabilidade não
significa necessariamente perigo. Por que receamos expor nossas fraquezas e
necessidades no contexto da igreja? De que forma podemos nos abrir mais uns aos
outros?
Introdução 13
Entendendo Romanos
Introdução 14
Entendendo Romanos
Os cidadãos romanos gozavam de status social mais privilegiado que o dos estrangeiros,
permitindo-lhes acesso a um tratamento especial por parte do Estado. Se fossem vítimas de
algum crime, por exemplo, a situação poderia ser oficialmente investigada, ao contrário dos
estrangeiros, responsáveis por sua própria segurança. Além disso, os cidadãos não podiam
ser condenados sem julgamento oficial, nem estavam sujeitos a execuções sumárias, como
a crucificação. Este era o caso de Paulo, que possuia cidadania romana desde seu
nascimento (cf. Atos 22:27-29).
"Sem falar do commercio infame com os homens livres e seus amores adúlteros, violou
uma vestal3 chamada Rubria. Esteve quasi arriscado a casar com a sua liberta Actéa, e
alliciou homens consulares para affirmarem que ella era de nascimento real. Tornou eunuco
um rapaz, do nome de Sporo, pretendeu transformal-o em mulher, e esposou-o com o
apparato mais solemne. [...] Mandou vestir este Sporo como uma imperatriz e acompanhou-
o em liteira nas assembleias, nos mercados da Grécia e nos bairros de Roma, dando-lhe
beijos de quando em quando. Está demonstrado que elle quiz gozar de sua mãe […]
assegura-se mesmo que todas as vezes que andou em liteira com a mãe, se percebeu
sobre as vestes vestígios de profanação. Prostituia-se de forma, que não havia um só dos
seus membros que não estivesse maculado. Imaginou, como uma nova espécie de jogo,
cobrir-se com uma pelle de animal, e lançarse d'uma galeria sobre homens e mulheres
ligados a postes e entregues em presa aos seu desejos, e quando os tinha satisfeitos, elle
próprio servia de presa ao seu liberto Doriphoro, que esposou, assim como Sporo; fingiu
mesmo com elle os gritos que a dôr arranca á virgindade arrebatada. Sei por varias
pessoas que Nero estava persuadido que homem algum era casto em nenhuma parte do
corpo, mas que na maior parte sabiam dissimular os seus vicios; assim, perdoava a todos
que confessassem a sua impureza" (Suetônio, 1923, pp. p.171–2).
Jeffers, acredita-se que no primeiro século cerca de 40 a 50 mil judeus viviam em Roma,
viviam com poucos recursos e, como os demais estrangeiros, não eram vistos com bons
olhos pela elite (Jeffers, 1991, pp. p.348–350).
Quanto aos cristãos, mesmo aqueles oriundos do judaísmo, não gozavam dos mesmos
privilégios. Enquanto Judeus se reuniam nas sinagogas, eles se encontravam
clandestinamente em igrejas nas casas. Por este motivo, eles provavelmente se reuniram
por meio de associações voluntárias, muito comuns em Roma, explica Jeffers. Certamente,
possuíam pouca ou nenhuma liderança centralizada ou representação hierárquica oficial,
mas tais associações forneciam-lhes senso de identidade e pertencimento, além de
proporcionar apoio mútuo.
Acredita-se que Paulo tenha chegado em Roma por volta de 60 A.D. e, a julgar pelo rico
conteúdo sistemático da carta escrita para os romanos, tinha por objetivo auxiliar o
processo de organização da igreja que se reunia ali. Foi recebido pelos cristãos romanos,
mas chegou na condição de prisioneiro do império, embora tenha recebido liberdade para
ensinar e receber visitas (Atos 28:30-31). Quatro anos depois os cristãos foram culpados
por Nero de terem criminosamente incendiado Roma, inicia-se uma dura perseguição. De
acordo com Suetônio, Nero "Maltratou os christãos, espécie de homens entregues ás
superstições e aos sortilégios." (Suetônio, 1923, p. p.165). Tacitus, importante historiador
romano, registrou o contexto:
Com o passar dos anos a igreja romana foi tomando forma. Há dois documentos
importantes que nos ajudam a compreender melhor as transformações que ocorreram e o
modo como o ensino dos apóstolos foi assimilado. O primeiro documento, é uma carta
escrita por um cristão chamado Clemente por volta do ano 90 A.D. A igreja que reunia-se na
casa de Clemente gozava de situação social e econômica privilegiada, acredita-se que sua
congregação era formada por cidadãos romanos ex-escravos. Clemente era um homem
bem educado, Os escravos que serviam à burocracia imperial eram treinados por meio de
um cursus honorum, no qual aprendiam latim, grego e matemática. Ele chegou a escrever
uma carta aos cristãos da igreja de Corinto, documento que ficou conhecido como 1
Clemente. Ele é considerado, atualmente, pela igreja católica romana como o terceiro papa
a partir de Pedro, o apóstolo. Os cristãos que pertenciam ao grupo de Clemente
consideravam-se "bons cidadãos de um Estado que havia trazido concórdia ao mundo
mediterrâneo e provido um modelo para a igreja. O exército romano, por exemplo,
apresentava um modelo de disciplina, ordem e uma inquestionável obediência que resultou
no estabelecimento e manutenção da Pax Romana" (Jeffers, 1991, pp. p.1593–5, tradução
nossa).
Nest sentido, Jeffers argumenta que quanto mais alto o status social dos cristãos romanos,
mais estavam propensos a adotar os valores da sociedade romana, na qual estavam
inseridos. Observa-se, portanto, uma inclinação da igreja romana, principalmente aquela
composta por membros mais elitizados, de transformar o modelo de koinonia proposto por
Paulo - fundamentado em relações comunitáias baseadas no amor e no serviço a Deus e
ao próximo - em um sistema social hierárquico semelhante ao da elite social romana. Nas
palavras de Jefers, "a congregação de Clemente havia deixado de se assemelhar a uma
seita na medida em que introduziu uma divisão entre leigos e clérigos, enfatizando deveres
oficiais ao invés de espontaneidade, estava inclinada a se identificar com a sociedade maior
e recusou a definir-se como um grupo em protesto" (Jeffers, 1991, pp. p.2243–2244,
tradução nossa). Com o passar do tempo, a perspectiva do grupo de Clemente prevaleceu,
talvez porque sua educação privilegiada, com relação à maioria dos demais cristãos,
transformou-os em uma espécie de elite intelectual cristã. No final das contas, esse foi o
modelo que mais influenciou a igreja romana e, por extensão, toda a cristandade até os dias
atuais.
Acredita-se que mesmo antes de 100 A.D. já haviam catacumbas cristãs em Roma (Bright
& Simons, 2007). As perseguições, iniciadas por Nero, continuaram até o tempo de
Constantino, por volta de 313 A.D. quando inicia-se um novo período na era cristã.
1 É possível que a população tenha alcançado até mesmo 4 milhões de habitantes (Bíblia
Th).
2 Em Roma foi encontradas até mesmo pixações com temáticas anti-cristãs (Stark, 1997, p.
p.146).
3 Vestais eram mulheres separadas para o culto a deusa romana Vesta, por este motivo
deveriam manter-se virgens durante todo o período de seu sacerdócio.
Referências
Bright, H., & Simons, K. (2007). Romans - Free Bible Commentary in easy English.
Retrieved February 16, 2015, from http://www.easyenglish.info/bible-commentary/romans-
lbw.htm
Jeffers, J. S. (1991). Conflict at Rome: social order and hierarchy in early Christianity (e-
book). Minneapolis: Fortress Press.
Stark, R. (1997). The rise of Christianity: how the obscure, marginal Jesus movement
became the dominant religious force in the Western world in a few centuries (1st
HarperCollins pbk. ed). San Francisco, Calif.: HarperSanFrancisco.
Suetônio. (1923). Roma galante: chronica escandalosa da côrte dos doze cesares. Lisboa:
João Romano Torres & C.a.
Paulo e o Evangelho
Os seis primeiros versículos da carta aos romanos apresenta informações importantes.
Neles Paulo: a) identifica-se como escravo e apostolo; b) esclarece que foi separado para o
evangelho de Deus; c) explica que Jesus, como homem, é descendente de Davi; d) enfatiza
a centralidade da ressurreição; reconhece que Jesus é nosso Senhor; e) ensina que, por
isso, devemos obedecê-lo por meio da fé; f) também, especifica que seu apostolado tem
por objetivo alcançar as nações; g) registra que somos chamados para pertencer a Cristo.
Em seguida, observaremos, de forma um pouco mais detalhada, cada um destes pontos.
Escravo e apóstolo
Já nas primeiras palavras, a epístola aos romanos traz preciosos ensinamentos. A começar
pela forma como Paulo apresenta-se. Observe suas palavras inicias: "Paulo, servo [doulos]
de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo [apostolos]" (cf. Rm 1:1a). Com estes dizeres,
Paulo deixa claro que antes de ser apóstolo, ou seja, um emissário, é servo de Jesus
Cristo. Seu status social, portanto, é de um servo, ou melhor, escravo, que seria uma
melhor tradução da palavra grega doulos para o português. Sendo assim, é a partir desta
condição que ele exerce a função de apóstolo, para ele o apostolado representa uma
função, não uma posição hierárquica que lhe concede um título, embora tal função o torne
um representante muito especial.
Segundo James S. Jeffers, o fato de Paulo apresentar-se aos romanos como escravo
representava algo significativo, uma vez que diversos membros da burocracia imperial
romana eram escravos e se orgulhavam disso, ao ponto de, ao morrerem, deixarem
registrado em suas lápides os dizeres escravos de César (Jeffers, 1991, p. Pos. 207). De
acordo com a referência de Strong, a palavra doulos, traduzida comumente como escravo,
significa subserviência, sujeição, e pode ser utilizada em sentido literal ou figurativo, em
contextos de servidão voluntária ou involuntária4. De acordo com o Bridgeway Bible
Dictionary (Fleming, 2004), o termo servo pode sugerir distinção de classes, mas esta
questão não fica clara ao analisar-se as linguas originais. Neste caso, o contexto pode
determinar se alguém é servo com relação ao seu Senhor ou ao trabalho que realiza.
Além de servo, Paulo é também um apóstolo. Segundo John Stott, "[…] ao pensarmos no
encontro de Paulo com Cristo na estrada para Damasco, devêmos vê-lo não apenas como
sua conversão, mas como seu envio para ser apóstolo (egó apostelló se, 'Eu te envio', 'Eu
te faço um apóstolo') e, especialmente, para ser o apóstolo dos gentios" (Stott, 2000, p. 48).
Para Stott, apóstolo era um título especial e de grande autoridade, utilizado desde o
princípio num contexto especificamente cristão, "reservado para os doze e Paulo, e quem
sabe mais um ou dois, como Tiago" (Stott, 2000, p. 47). Não há dúvida de que o apostolado
exercido por Paulo é especial na medida em que ele foi comissionado pessoalmente pelo
próprio Jesus, entretanto, num sentido geral, o termo é utilizado pelo próprio Paulo ao se
referir a irmãos da Igreja da Macedônia, cujos nomes não são especificados no texto.
Vamos observar um trecho da carta da primeira carta de Paulo à igreja de Conrinto:
Agradecemos a Deus por ter colocado no coração de Tito a mesma dedicação por vós; pois Tito não apenas aceitou a
nossa solicitação, mas já partiu para vos visitar, com muito entusiasmo e por iniciativa própria. E juntamente com ele
estamos enviando o irmão, que é recomendado por todas as igrejas por seu serviço no evangelho. E não apenas por esse
motivo, mas ele também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem, enquanto ministramos essa
graça para a glória do Senhor e para demonstrar nossa boa vontade. O nosso cuidado é evitar que alguém nos acuse em
relação ao modo de administrar essa generosa oferta, pois estamos empregando todo o zelo necessário para fazer o que
é correto, não somente ao olhos do Senhor, mas também perante aos olhos dos homens. Além de tudo, estamos enviando
com eles o nosso irmão que, muitas vezes e de várias maneiras, já nos provou ser zeloso, e agora ainda mais dedicado,
por causa da grande confiança que ele tem em vós. Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador para convosco;
quanto a nossos irmãos, eles são apóstolos das igrejas e glória para Cristo. Portanto, diante das demais igrejas,
manifestai a esses irmãos a prova do amor que tendes e a razão do orgulho que temos de vós (Cf. 1 Co 8:16-24).
De acordo com o texto, Paulo envia Tito juntamente com dois irmãos das igrejas da
Macedônia com o objetivo de administrar ofertadas coletadas. Para que possamos
compreender melhor o significado do termo apóstolo, será necessário o estudo de duas
palavras gregas, apostolos, que significa enviado, e apostello, enviar - enquanto esta é um
verbo, aquela é um adjetivo.
Em Marcos, no capítulo 5, encontramos o termo apostellos sendo utilizado até mesmo por
uma legião de demônios, que rogaram a Jesus para não serem enviados para fora da
região dos gerasenos. Veja o texto:
E assim, atravessaram o mar e foram para a região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, veio dos sepulcros,
caminhando ao seu encontro, um homem possuído por um espírito imundo. Esse homem vivia em meio aos sepulcros e
não havia quem conseguisse dominá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já haviam acorrentado seus pés e
mãos, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava algemas e correntes. Ninguém tinha força para detê-lo. E, noite e
dia, sem repouso, perambulava por entre os sepulcros e pelas colinas, gritando e cortando-se com lascas de rocha. Ao
avistar Jesus, ainda de longe, correu e atirou-se aos seus pés. E clamou aos berros: “Que queres de mim, Jesus, Filho do
Deus Altíssimo? Suplico-te por Deus que não me atormentes!” Pois Jesus já lhe havia ordenado: “Sai deste homem,
espírito imundo!” Todavia, Jesus o interrogou: “Qual é o teu nome?” Respondeu ele: “Meu nome é Legião, porque somos
muitos”. E implorava insistentemente para que Jesus não os mandasse (apostellos) para fora daquela região. Enquanto
isso, perto dali, numa colina vizinha, uma grande manada de porcos estava pastando. Foi então que os demônios rogaram
a Jesus: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. E Jesus lhes deu permissão, e os espíritos imundos
deixaram o homem e entraram nos porcos. E a manada com cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em
direção ao mar, e nele se afogaram (Cf. Mc. 5:1-13).
De acordo com o evangelho joanino, João Batista havia sido enviado por Deus: "Houve um
homem enviado (apostello) de Deus, cujo nome era João." (Cf. João 1:6). Em Atos 7:35, lê-
se: "Este é o mesmo Moisés a quem eles haviam rejeitado com estas palavras: ‘Quem te
constituiu autoridade e juiz?’, Deus o enviou (apostellos) como líder e libertador, pela mão
do anjo que lhe apareceu no espinheiro." Ou seja, Moisés foi enviado (apostellos) por Deus
para libertar o povo do cativeiro. Há também uma passagem em Marcos 6:27 que registra: "
[O Rei Herodes] Mandou (apostello), portanto, imediatamente um carrasco com ordens para
trazer a cabeça de João. O executor (spekoulatōr) foi e decapitou João na prisão".
Por fim, no contexto específico da carta de Paulo aos Romanos, no capítulo 10, verso 15,
lê-se: "E como pregarão, se não forem enviados (apostello)? Como está escrito: 'Como são
maravilhosos os pés dos que anunciam boas novas!' Israel não tem como se escusar.".
Portanto, num sentido geral, apostellos significa ser enviado por meio de uma autoridade
com um propósito específico. Neste caso, será que em alguma medida o sentido deste
termo não se assemelha ao da palavra missionário, na forma como o utilizamos
atualmente?
aqueles que transportavam cartas encíclicas de seus governantes. Œcumenius afirma que havia até mesmo um costume
entre os judeus de chamar aqueles que carregavam cartas circulares de seus governantes pelo nome de apóstolos. Talvez
Paulo tenha supostamente referido-se a isso (Gálatas 1: 1), quando ele afirma que era "um apóstolo, não dos homens,
nem por homens" - um apóstolo não como aqueles conhecidos entre os judeus por esse nome, que deriva sua autoridade
e recebeu sua missão dos principais dos sacerdotes ou homens importantes da sua nação. Neste sentido, o significado da
palavra é fortemente apresentado em João 13:16, onde ocorre junto com seu correlato, "O servo não é maior do que seu
senhor, nem o que é enviado (ἀπόστολό) maior do que aquele que o enviou." (tradução nossa).
De acordo com a referência de Thayer, palavra apóstolo também pode significar consules
enviados com um exército, ou seja, uma expedição - referência encontrada em uma obra do
historiador grego Polybio (200-118 a.C.). De acordo com uma antiga referência, registrada
em português arcaico:
Os judeus davam o nome de apostolo ao funccionario encarregado de cobrar o tributo que se devia ao patriarcha.
Anteriormente á vinda de Jesus Christo, davam tambem este nome aos cobradores que recebiam o meio siclo que os
israelitas deviam ao tabernaculo; e posteriormente á resurreição de Jesus, davam-no aos missionarios que enviavam de
uma para outra parte a fim de impugnar a doutrina dos santos apostolos e calumnial-os (sic) Deve-se notar que S. Paulo ia
desmepenhar uma missão similhante em Damasco quando foi convertido á fé; e que, por consequencia, fôra apostolo de
Para Paulo, o apostolado estava enraizado mais no fato de que o Cristo ressuscitado havia aparecido para ele (1 Co. 9: 1;
15: 7-9) do que em cartas de autorização de outros na igreja. A autorização do seu apostolado não era a congregação,
mas Deus, como podemos ver em seu "pela vontade de Deus" (ver também Gl. 1: 1). Seu chamado como apóstolo veio de
Deus ("chamado apóstolo"). Provavelmente é isto que está por trás da noção do apostolado de Andrônico e Júnias, em
Rm. 16: 7, mas isto não é certo. Heródoto usou o termo apóstolo como um enviado e esta noção é que provavelmente
está por de trás da utilização do termo pela igreja. Heródoto (485 a.C.) escreve: "Quando a resposta Délfica foi trazida
para Alyattes, logo mandou um arauto a Mileto, oferecendo-se para fazer uma trégua com Thrasybulus e os Milesianos,
durante a sua construção do templo. Então o enviado [grego = apostolos] foi para Mileto "(Heródoto, Guerras Persas 1,21,
LCL). Da mesma forma, ele escreve: "Aristagoras de Mileto ... mandou tudo para configurar governadores em cada cidade,
em seguida ele foi como embaixada [grego = apostolos] em um trireme [= uma embarcação com três fileiras de remo] para
Lacedaemon, pois era necessário que ele encontrasse algum forte aliado" (Guerras Persas 5,38, LCL). Mais
contemporâneo aos tempos do Novo Testamento é Epicteto (54-68 A.D.), que usa a forma verbal de apostolos: a saber,
apostello, para descrever como um "verdadeiro Cínico" deve saber que foi enviado [grego = apestaltai] "por Zeus aos
homens" (Epicteto, Discursos 3,22-23), LCL) (Evans, Combes, & Gurtner, 2004, p. 256 , tradução
nossa).
Há também uma citação do orador grego Lísias (459-380 a.C.), em sua obra Sobre a
Propriedade de Aristófanes - capítulo 19, parágrafo 21, onde lê-se:
Em seguida, quando os enviados chegaram de Chipre, para adquirir a nossa assistência, sua energia ardente não
conhecia limites. Você lhes havia concedido dez navios de guerra, e tinham votado todo o material, mas eles estavam
precisando de dinheiro para o envio [apostolos] da frota. Eles haviam trazido apenas fundos escassos com eles, e eles
exigiram muito mais: para eles tiveram que contratar não apenas só homens para trabalhar nos navios, mas também para
Percebemos, portanto, que o termo apostolos, bem como apostellos, possui uma carga
semântica variada. De qualquer forma, cientes de que um tratamento adequado e exaustivo
desta temática é praticamente impossível em poucas linhas, nosso objetivo consistiu
apenas em apresentar mais informações que possam contribuir em futuras discussões.
Neste sentido, Paulo pretende anunciar exatamente o mesmo evangelho que Jesus
pregava em todos os lugares. Segundo o evangelho de Mateus: "E percorria Jesus toda a
Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todas as
enfermidades e males entre o povo" (Cf. Mt 4:23). Mais adiante, em outra passagem, está
registrado: "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo habitado, como
testemunho a todas as nações, e então chegará o fim" (Cf. Mt 24:14).
Neste sentido, vale a pena observamos a maneira com que Paulo comuniva este Evangelho
do Reino. Certamente, quando ensinava nas sinagogas, ele laçava mão do conhecimento
que possuía das Escrituras e demonstrava que como Jesus era o cumprimento da Palavra
revelada pelos profetas. Mas, quando ele pregava aos gentios, ele utilizava uma técnica
diferente! Habilmente, ele procurava conhecer a cultura com a qual procurava comunicar-
se, de modo que pudesse contextualizar a mensagem da melhor forma possível. Vejamos
um exemplo de quando ele esteve na cidade de Atenas, na Grécia (At 17.16-34).
Inicialmente ele deu uma volta pela cidade observando com muita atenção aspectos da
cultura local. Deste modo, ele procurou conhecer quais ideias, teorias, valores, da
sociedade ateniense. Em seguida, o livro de Atos relata que todos os dias, Paulo discutia na
sinagoga e na Praça Principal, que era um local utilizado para discussões filosóficas e
políticas. Significa, que ele sabia dialogar com crentes e pagãos, contextualizando para os
dias atuais, podemos dizer que ele sabia conversar com quem estava dentro e fora da
Igreja, com crentes e filósofos. Por causa da maneira com que abordava o povo, e pelo
interesse despertado ao ouvirem as Boas Novas, ele foi convidado para falar em uma
reunião do Areópago, que era um centro utilizado para a discussão de questões públicas. O
discurso realizado ali mostra-nos que ele: a) demonstrou conhecimento acerca da cultura e
da religião dos gregos (At 17.22); b) encontrou uma ‘porta de entrada’ para apresentar o
Deus verdadeiro a partir de elementos da própria cultura local (At 17.23), que certamente
exigiu dele uma investigação minuciosa do sistema religioso ateniense; c) apresentou Deus
como o Verdadeiro e Único Criador (At 17.24-5); d) ensinou sobre a Origem de todos os
povos da terra a partir de Adão e Eva, restabelecendo o caráter histórico do relato da
Criação, da forma como está registrado em Gênesis, lançando bases para o combate a
ideia de raças humanas distintas e combatendo, portanto, qualquer forma de racismo ou
xenofobia (At 17.26); e) estudou e discerniu elementos verdadeiros presentes na cultura
grega, em seu discurso ele inclui duas citações de poetas gregos5 afirmando que estavam
em concordância com a perspectiva das Escrituras, com efeito, o apóstolo nos mostra que é
possível encontrar verdades em pensadores pagãos (At 17.28). Com isto Paulo nos ensina
que podem existir alguns elos de conexão entre o conhecimento cristão e o pagão, que
podem tanto nos ensinar. Claro, desde que devidamente criticados segundo uma
perspectiva bíblica. Com esta estratégia, é possível econtrarmos ‘portas de diálogo’ com os
descrentes, que de outro modo tornaria a comunicabilidade muito difícil; f) chamou ao
arrependimento, um povo dotado de um sistema cultural totalmente diferente do seu,
mostrando-nos que a Verdade de Deus é relevante para toda e qualquer cultura, em todo e
qualquer tempo (At 17.29); g) falou sobre o julgamento de Deus e ofereceu a possibilidade
da Redenção em Cristo Jesus com base em provas visíveis, empíricas, a ressurreição dos
mortos (At 17.30-1).
Observemos agora, com um pouco mais de cuidado, a maneira como Paulo citou os poetas
gregos em seu discurso, segundo o teólogo Roy B. Zuck:
"Pois nele vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28a) pertence a Epimênides, um poeta cretense do sexto século,
em seu Cretica. Com esta citação Paulo acrescentou apoio lógico ao ponto apresentado em sua sentença anterior (17:27)
de que embora Deus é o Criador transcendente (17:24-26) [ou seja, ele é maior, está acima e se distingue de sua criação]
ele também é iminente e portanto, não "longe de cada um de nós". "Somos descendência dele" (Atos 17:28b) vem do
poeta Aratus (315-240 B.C.) em seu Phaenomena, e também de Cleanthes (331-233 B.C.) no seu Hino a Zeus. Paulo
citou esta sentença de modo a estabelecer uma conclusão lógica a seguir (17:29) de que Deus não é feito segundo a
imagem do Homem. O Homem é feito por Deus, não Deus pelo Homem! Ao citar estes escritos conhecidos e apreciados
pelos atenienses e com os quais eles concordavam. Paulo habilmente levou seus ouvintes na Colina de Marte [onde
estava o Areópago] a aceitar suas próprias afirmações mais facilmente. Claro que, ele não estava endossando tudo o que
estes poetas gregos escreveram; ele simplesmente selecionou estas sentenças de seus próprios escritos porque o que
elas afirmam, sendo bem conhecidas por sua audiência, foram úteis a seu sermão (Zuck, 1998, p. 261, grifo
Através destes exemplos, fica claro que precisamos assumir uma postura mais crítica e
inteligente acerca da cultura e do conhecimento que nos rodeia. Principalmente no tempo
em que vivemos hoje, em uma sociedade secularizada, pou melhor pós-cristã, em que as
pessoas correm por todo o lado em busca de conhecimento (Cf. Dn 12:4) e são arrastadas
por inúmeras filosofias vãs.
É com toda esta inteligência e propriedade que Paulo anuncia o Evangelho do Reino de
Deus aos habitantes de Roma. De que maneira voc6e tem anunciado o Evangelho? Qual
estratégia você utiliza?
A Centralidade da Ressurreição
Ao escrever para uma sociedade extremamente idólatra e superticiosa, que adorava
imagens de homens e mulheres, que em certos casos cultuava até mesmo animais, na qual
o imperador se autodenominava deus, não seria Jesus apenas mais uma divindade? Não
podemos nos esquecer que a maioria dos gentios sequer conhecia a história do povo de
Israel, neste caso, eram desconhecidas todas as profecias que anuciavam a chegada do
Messias, Jesus. Portanto, logo no início da carta, Paulo explica que Jesus "foi designado
Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos"
(Cf. Rm 1:4). Observe que Paulo não apresenta uma especulação, mas um testemunho
baseado em evidências históricas, a ressurreição de Cristo. Isto torna Jesus diferente de
todas as supostas divindades cultuadas pelos romanos.
se a ressurreição de Cristo fosse uma falácia, o evangelho não faria sentido algum. Mas,
este evento histórico permanece registrado na história do universo. Jesus não é uma
divindade qualquer, é o Filho de Deus.
O texto é muito claro. Como relata o médico e historiador Lucas, Jesus possui ressuscitou
em carne e osso. Foi desta maneira que ele foi assunto aos céus, significa que neste exato
momento Jesus está em algum lugar, que ainda não temos acesso, presente através de um
corpo físico glorificado. Esta é a base do evangelho, que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus
vivo (Cf. Mt 16:15-8).
Desde os primeiros dias, a confissão dos cristãos era Christos Kurios - "Jesus é o Senhor", em um contexto histórico em
que era obrigatório dizer Kaiser Kurios, "César é o Senhor", esta confissão significava que Jesus era o poder supremo. Ele
não era apenas um professor, profeta, ou mesmo um divino ser angelical, mas, como um hino cristão primitivo coloca-o,
ele tinha "o nome acima de todo nome" (Keller, 2008, p. 228–231).
Para se ter uma ideia do impacto desta revelação, basta olharmos para os acontecimentos
que tomaram lugar alguns anos depois que Paulo escreve esta carta. Quando o império
começa a perseguir duramente os cristãos, muitos eram jogados na arena para serem
devorados por leões ou mortos por gladiadores, para serem libertos bastava que falassem
Kaiser Kurios - César é o Senhor, mas eles escolhiam dizer: Jesus Kristos Kurios, de
acordo com Johan Samson, eles pagavam por este privilégio com seu próprio sangue
(Samson, 2009).
Obediência por fé
Sem dúvida alguma a ciência ocupa um lugar proeminente nos dias de hoje. Em meio a
promessas de um futuro melhor, a ciência apresenta-se praticamente como uma entidade
com vida própria e autoridade acima de qualquer suspeita. Segundo Caldas:
[…] nos dois últimos séculos, especialmente, a ciência é situada como essa entidade ultravital em que residem todas as
apostas, anseios e esperanças; ela detém um valor do mesmo nível que antes usufruía a beatitude e suas realizações
substantivam promessas que se assemelham a uma profecia religiosa (Caldas, 1994, p. 87)
A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o
entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é
cantado no salmo sagrado: para ver se há alguém que tenha inteligência e busque a Deus (Sl 13.2). Logo, é para isto que
o homem deve ser inteligente: para buscar a Deus (AGOSTINHO, 1994, p.481, grifo nosso).
Isto significa que raciocinamos a partir das nossas crenças, ou seja, elas fundamentam
nosso raciocínio, porém a nossa fé consegue ir para além da nossa razão, que, por sua
vez, tenta acompanha-la. Segundo o filósofo americano Roy Clouser, a “[...] fé não é uma
faculdade distinta da mente, separada da faculdade da razão, mas uma parte integral da
razão” (Clouser, 2005, p. 98 , tradução nossa). Muitos cristãos alegam que não creem em
Deus e, portanto, não possuem crenças religiosas, mas se esquecem de que não crer
também é crença. Ora, se alguém não crê em Deus esta é sua fé, mesmo que tente se
apoiar em argumentações científicas ou filosóficas.
Nossa obediência, portanto, não é cega! Não baseia-se em desejos intensos, emoções,
idiossincrasias. Ainda que a fé possa tocar nossas emoções e alimentar nossa
subjetividade, de forma alguma ela restringe-se a isso. Obecemos porque cremos e o
fazemos porque fundamentamo-nos em convicções plenas acerca da existência, soberania
e poder de Deus, que se revela pessoalmente aos crentes através das Escrituras.
Na outra passagem do evangelho de Mateus, encontramos uma parábola que versa sobre
um banquete de casamento. Nela Jesus conta que um rei preparou um banquete de
núpcias para seu filho e enviou seus servos para chamar os convidados, mas estes, de
diversas formas, rejeitaram o convite real. Indiginado o Rei ordena que aqueles convidados
fossem executados, pois demonstraram ser indignos de participarem daquela festa, depois
ele pede aos seus servos que convidem, então, todos que encontrarem nas ruas. Mais uma
vez a parábola conclui dizendo: "Portanto, muitos são chamados [klétos], mas poucos,
escolhidos!”
Com base nestas duas passagens, e respeitando o contexto da carta aos Romanos,
podemos dizer que somos chamados para pertencermos a Cristo através da salvação que
dEle recebemos gratuitamente. Tal convite, implica tanto a possibilidade de desfrutarmos do
generoso banquete da salvação como um comissionamento para uma obra aqui na terra.
Pois assim como Deus envia seu filho Jesus para realizar a perfeita obra da salvação,
também somos enviados ao mundo para proclamarmos a mensagem da salvação, ou seja,
para convidar outros para este banquete especial, e para demonstrarmos o Reino De Deus
por meio de obras que glorifiquem o nome do Senhor. A relação, portanto, entre chamado e
serviço é instrínseca, envolve privilégio e responsabilidade. É neste sentido que Paulo
aplica o termo no decorrer da epistola.
4 É importante dizer que quando Paulo instrui escravos e Senhores da Igreja de Éfeso a amarem e respeitarem-se
mutuamente, institui-se de fato uma relação de subserviência voluntária. Cai por terra, portanto, a noção de que Paulo
poderia estar legitimando, ou menosprezando, instituições exploratórias e desumanas. O que Paulo reconhece, na
verdade, é uma relação de autoridade baseada no amor (Cf. Mateus 8:9) - lembrando que o próprio Jesus, ao encarnar,
assumiu para si forma de servo (Filipenses 2:7). Através de uma relação de amor entre senhor e servo, a relação com o
trabalho adquire novo significado. Segundo o Bridfeway Bible Dictionary: "Ao encorajar escravos cristãos a trabalhar com
responsabilidade e dignidade, o cristianismo ajudou a aumentar o status dos escravos. Eles não deveriam mais pensar de
si mesmos como meras ferramentas de seus chefes (Cf. Cl 3:22; Tt 2:9). Eles poderiam usar suas posições como
escravos para servir a Deus, mas se recebessem a oportunidade de serem libertos, eram encorajados a isso (Cf. 1Co
7:20-21). Paulo esperava que chefes cristãos dariam liberdade a seus escravos, mas ele não utiliza sua autoridade
apostólica para forçá-los a isso (Fleming, 2004).
5 Em outros de seus escritos, Paulo lança mão de duas outras citações do dramaturgo grego Menandro: a) "As más
companhias corrompem os bons costumes" (1Co 15.33), presente em sua comédia Thais; b) "Cretenses, sempre
mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos" (Tt 1.12), onde ele utiliza um escritor cretense para exortar os próprios
moradores de Creta (Zuck, 1998, p. 261).
Referências
Caldas, S. (1994). A teoria da história em Ortega y Gasset a partir da razão histórica. Porto
Alegre: EDIPUCRS.
Clouser, R. A. (2005). The myth of religious neutrality: An essay on the hidden role of
religious belief in theories (2nd ed). Notre Dame: University of Notre Dame Press.
Evans, C. A., Combes, I. A. h, & Gurtner, D. M. (2004). The Bible Knowledge Background
Commentary: Acts-Philemon. Colorado Springs: David C Cook.
Irmão, C. (1866). Archivo pittoresco: semanario illustrado (Vol. IX). Lisboa: Tip. de Castro
Irmao.
Jeffers, J. S. (1991). Conflict at Rome: social order and hierarchy in early Christianity (e-
2015, de http://www.AllAboutGOD.com/count-the-cost-become-a-christian-faq.htm
Lísias. (1930). Lysias, On the Property of Aristophanes, section 21. Recuperado 5 de março
de 2015, de http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0154%3Aspeech%3D19%3Asection%3D21
Zuck, R. B. (1998). Teaching as Paul taught. Grand Rapids, Mich: Baker Books.
Motivação
Como professor universitário, estou envolvido com aulas mas também com pesquisa
científica. Por esta razão, mesmo durante boa parte das férias escolares, quando não há
aulas, nossas atividades não cessam. Neste período, o estacionamento da universidade
fica mais vazio, não há filas para o almoço e podemos nos concentrar melhor na pesquisa
quse sem interrupções. Brincamos entre nós, professores, dizendo que a universidade seria
melhor se não houvesse os alunos! Bom, obviamente, os alunos é que fazem a
universidade. Mas lidar com gente é frequentemente desgastante e dolorido...
O Dr. Paul David Tripp, professor de seminário de formação de pastores, conta que, em
uma de suas aulas, estava abrindo o coração aos seus alunos a respeito de uma ocasião
em que teve que visitar mais uma vez um homem que estava consumindo grande
quantidade de seu tempo e energia. Quando um de seus alunos levantou a mão e
perguntou: "Prof. Tripp, tudo bem, sabemos que encontraremos pessoas difíceis em nossas
igrejas. Mas nos diga o que devemos fazer nestas circunstâncias para voltarmos
rapidamente ao nosso ministério." (Tripp 2012). Tripp fica perplexo. Ele lamenta a visão de
ministério daquele rapaz. Um ministério sem pessoas. "Podemos amar nossa teologia,
nossa doutrina" — diz ele — "mas temos que amar pessoas". Há muitos nas igrejas que
amam a verdade e não amam as pessoas. Destes devemos nos acautelar. Precisamos
zelar pela verdade sim, mas sem nos deixar de lado o amor (cf. Ef 4:15).
Paulo é diferente. Ele se importava com as pessoas. Mesmo sem conhecer pessoalmente a
maioria dos Romanos a quem escreve, ele dá graças por eles, ora por eles, deseja
encontrar-se com eles, e compartilhar (dar e receber) do que tem. Para Paulo, o ministério
era pessoal, relacional.
Paulo e os Romanos
Até o versículo 6, Paulo fala de si mesmo (servo e apóstolo) e do "seu" evangelho (cuja
origem é Deus, que é atestado pelas Sagradas Escrituras, cujo conteúdo é Cristo, cujo
alcance é todas as etnias e cujo propósito é a "obediência por fé" e a glória de Jesus).
Agora (vs. 7 a 13), o apóstolo passa a se dirigir aos seus leitores em Roma.
Roma era a fonte da lei, o centro da civilização antiga, a Meca dos poetas, oradores e
artistas. Neste mesmo lugar, havia pessoas compradas pelo sangue de Jesus e que
pertenciam a Jesus e Paulo então diz que estes são:
1. "amados de Deus" – seus próprios filhos e filhas. Escolhidos e amados quando eram
inimigos (cf. 5:10). Todos os que pertencem a Cristo são amados de Deus. E não há
nada que possamos fazer para Deus nos amar mais – ele já nos ama plenamente e
provou isto na cruz, como Paulo nos dirá mais adiante (5:8). Estar certo do amor dos
pais é essencial para o crescimento emocional saudável de uma criança. Ter convicção
do amor do cônjuge, dos amigos é algo profundamente benéfico para alma. Estar certo
do amor de Deus traz bênçãos ainda maiores.
2. "chamados para serem santos" (assim como para "pertencer a Cristo" – v. 6). O termo
"santos" ou "povo santo" era, no Antigo Testamento, uma designação comum para
Israel. Aqui, no entanto, Paulo aplica também aos gentios cristãos de Roma. A
implicação disso é que todo cristão, sem exceção, é chamado por Deus para pertencer
a Cristo e ao seu povo santo.
Estes três termos – "amados", "chamados" e "santos" – eram todos empregados no Antigo
Testamento para Israel. Paulo faz questão aqui de aplicá-los indistintamente a judeus e a
gentios como pertencentes agora ao povo da aliança de Deus.
Para Paulo, pregação e oração andavam juntas. Embora não conhecesse pessoalmente a
maioria dos cristãos de Roma, Paulo intercede por eles "constantemente", "sempre" ou
"incessantemente" (9). E isto não é mera expressão de efeito: ele chama Deus por
testemunha disso.Especificamente, ele ora para que finalmente, pela vontade de Deus, o
caminho seja aberto para que ele vá a Roma (10b).
É digna de nota a humildade do apóstolo e a sua submissão a Deus. Ele não impõe sua
vontade a Deus nem alega conhecer o que seria a vontade do Senhor. Ele submete sua
vontade à de Deus, confia na sua resposta seja ela qual for. Há uma humildade inerente à
verdadeira oração.
Mais provavelmente, Paulo tinha em mente um sentido mais genérico para a palavra "dom"
que ele emprega. Talvez uma referência a seu próprio ensino ou exortação, muito embora
pareça haver uma "indefinição intencional" na sua forma de expressar, talvez porque ele
ainda não sabia exatamente quais eram as necessidade espirituais específicas dos
Romanos.
No versículo 12, o apóstolo imediatamente acrescenta que não apenas poderia dar, mas
que também esperava receber, em um aparente desconforto da ideia de um compartilhar
unidirecional. Paulo sabe sobre as bênçãos recíprocas da comunhão cristã. Mesmo sendo
apóstolo, ele reconhece que precisa também receber. Há algo de especial no estudo bíblico
em conjunto. Há aspectos do próprio amor de Deus que só podem ser compreendidos "com
todos os santos" (i.e., no contexto comunitário, cf.* Ef 4:18-19).
Feliz o missionário que vai a outro país ou cultura neste mesmo espírito receptivo, ansioso
para receber tanto quando para dar, para aprender tanto quanto para ensinar, para ser
encorajado tanto quanto para encorajar. E feliz a congregação cuja liderança tem o mesmo
espírito humilde.
No verso 13a, Paulo diz: "quero que vocês saibam que muitas vezes planejei visitá-los, mas
fui impedido até agora." Mas o que foi que o impediu? Isto não nos é dito aqui, mas
podemos supor (por causa daquilo que foi mencionado em 15:22ss) que a razão do seu
impedimento se devia ao fato de que o seu trabalho missionário na Grécia e arredores
ainda não tinha sido completado.
E por que Paulo ele tentou visitá-los? "Para colher algum fruto entre vocês" (13b). O que
isto quer dizer? Paulo anseia ganhar para Cristo alguns mais em Roma ("como tem
acontecido entre os demais gentios" – 13b).
Aplicação
Você sabe apresentar o evangelho de forma clara e objetiva?
Como andam seus "relacionamentos humanos" na Igreja? Você louva, ora, participa e
deseja estar em contato uns com os outros na sua comunidade por amor a Deus e a
seus filhos e filhas? Você é o que é ou tenta causar uma melhor impressão que não
corresponde à realidade?
Às vezes, especialmente diante das adversidades, temos dificuldade em crer no amor
de Deus. Você crê de fato que Deus te ama? Você vive como se ele de fato te amasse?
Ore para que o Espírito Santo exerça na sua vida com mais intensidade o seu
ministério de "derramar o amor de Deus" em seu coração (Rm 5:5).
Bibliografia
[1] D. Tripp, "The Radical Calling"
[2] J. Stott, "A Mensagem de Romanos"
Romanos 1:16-17
Introdução
As verdades pelas as quais a Igreja vive estão reveladas na Palavra, mas nem todas as
doutrinas tem a mesma importância e influência. Da mesma maneira que nem todas as
verdades tem a mesma importância em nossas vidas, muitas doutrinas são mais
importantes em influêntes que outras. Aos fundamentos mais importantes da Fé Cristã
daremos o nome de doutrinas essenciais.
Rascunho
são tão importantes que influenciam o nosso entendimento sobre outras e definem o que é
ser Cristão.
Jesus é Deus e esta verdade é de extrema importância, para a Igreja. sempre confessou
esta realidade.
Por exemplo, segundo Lutero, a realidade da Justificação pela Fé é o artigo pelo qual a
igreja se mantém ou cai.
Porém, existem doutrinas que são essenciais e indispensáveis a fé cristã. Toda igreja que
se diz cristã deve compartilhar do mesmo entendimento em relação a estas, tamanha
centralidade e importância contidas nestas verdades para a fé cristã. Por exemplo, a
divindade de Cristo é uma doutrina essencial, de extrema importância, para a Igreja. O
cristianismo histórico/ortodoxo sempre confessou esta realidade. Se Jesus não é Deus, o
cristianismo é uma mentira.
Romanos 1:16
Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego
É o poder de Deus
O Evangelho vem de Deus, não dos homens
Pela fé
Precisamos acreditar no evangelho correto
Romanos 1:17
Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é
pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé
A percepção que a justiça da qual o texto fala não é a justiça de Deus em si, mas a
justiça pela qual Ele nos faz/declara justos, mediate a fé em Jesus (1515 em
Witternberg).
Lutero sabia que se fosse julgado por Deus de acordo com o padrão divino de justiça,
ele seria justamente condenado.
Referências
1. I'm not ashamed of the Gospel - Paul Washer
https://www.youtube.com/watch?v=teLvofaVeEA
A Ira de Deus
Texto Base
Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens
que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos
invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente,
sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são
indesculpáveis;
Romanos 1:18-20
Referências
As Consequências da Justificação – Rm
5:1-11
(Texto em elaboração/revisão)
Introdução
Na primeira parte do capítulo 1 de Romanos, Paulo usa a primeira pessoa: "eu" ("não me
envergonho do evangelho"). No capítulo 2, a segunda pessoa: "vocês" ("vocês não têm
desculpa", "vocês que se chamam judeus"). Já no capítulo, é a terceira pessoa que é
utilizada: "eles" ("o mundo inteiro que deve prestar contas a Deus"). No final do capítulo 4 e
no capítulo 5, o pronome é "nós":
Assim, Paulo começa: "Justificados pois mediante a fé..." e completa com seis afirmações
ousadas.
I. A esfera da graça
Literalmente, o texto se lê: "por meio dele [Cristo] fomos apresentados/conduzidos e
entramos nesta graça na qual permanecemos". O termo "graça" aqui não significa tanto
"favor imerecido", mas a "esfera da graça de Deus", i.e., nossa posição privilegiada de
termos sido aceitos por ele (imerecidamente).
Ou seja, "graça" é uma abreviação de presença e poder do próprio Deus. [5] Assim, tendo
sido justificados pela fé, estamos literalmente em "estado de graça", uma posição na qual
somos rodeados pelo amor e pela generosidade de Deus, sendo convidados a respirá-la
como sendo o nosso próprio ar.E ao fazê-lo, descobrimos que foi para isso que fomos
feitos, que é assim que o ser humano deveria ser. E isso é o início de algo tão grande, tão
inimaginavelmente belo e poderoso que quase explodimos ao meditarmos nestas coisas.
O apóstolo emprega dois verbos, a saber: "ganhamos acesso" (i.e., alguém – Cristo – nos
apresentou a esta graça) + "permanecemos" (i.e., ficamos firmes). Muito mais do que uma
audiência ocasional com o rei, temos o privilégio de viver no templo e no palácio. Nosso
relacionamento com Deus – ao qual fomos trazidos pela justificação – não é esporádico,
mas contínuo, não é precário, mas garantido. Não ficamos oscilando para dentro da graça e
para fora dela – "nela permanecemos", diz Paulo. Nada pode nos separar do amor de Deus
(8:38ss), ele dirá também mais tarde.
Porém, a graça que nos foi dada nem sempre é uma graça confortável...Pecadores que
somos, nos sentimos muito facilmente confortáveis com o nosso pecado. É um pensamento
que nos incomodava e que agora se torna uma ação que não nos pesa mais na
consciência. É palavra da qual nos arrependíamos que agora é acompanhada de outras
ainda piores. É o casamento, que já fora uma imagem de amor bíblico, porém agora mais
se assemelha a uma "trégua" em contexto de grerra fria. É o trabalho que se degenerou em
tentar fazer o menos possível ganhando o máximo que se puder negociar. É o compromisso
de uma vida devocional se transformou em uma obrigação vazia como bater o ponto ao
invés de uma real comunhão com o Senhor.
O pecado é como uma infiltração invisível que silenciosamente destrói a fundação de uma
casa. Nós temos uma capacidade perversa de nos sentirmos confortáveis com aquilo que
Deus diz claramente que é errado. Por esta razão, Deus frequentemente nos abençoa com
graça desconfortável.
Ele nos ama tanto ao ponto de nos "esmagar" de forma que sintamos a dor do nosso
próprio pecado e corramos em sua direção buscando perdão e livramento. Veja Davi, no
Salmo 51. "Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste" (Sl
51:8). A dor semelhante a de um osso quebrado é comparável à dor do coração que se
sente quando você vê o seu pecado como ele realmente é. Essa dor é necessária.Deus nos
permite sofrê-la para quebrantar o nosso coração – um sinal de alerta de que algo está
errado.
A graça de Deus não é sempre confortável porque o seu objetivo não é o nosso conforto,
mas moldar o nosso caráter. Deus está decidido em nos restaurar, nos livrar e nos refinar.
E, para isso, às vezes tem que nos esmagar.
Você tem se permitido sentir confortável com algo que Deus não quer? Você tem sido
tentado a duvidar da bondade de Deus porque está experimentando a dor da sua graça
resgatadora e restauradora?
Mas qual é o objeto da esperança? O versículo 2b nos diz: "a glória de Deus". Mas o que
vem a ser esta "glória"? É o seu esplendor que será evidente no final dos tempos. De certa
forma, esta glória já é visível hoje tendo sido revelada na criação (conforme o Sl 19): "os
céus proclamam a glória de Deus". No passado, ela foi manifestada em Cristo: "e vimos sua
glória, glória como do unigênito do Pai". Porém, um dia, a glória de Deus será
completamente revelada: Jesus voltará com "grande poder e glória" (Mc 13:26). Nós não
apenas a veremos, mas seremos por ela transformados (1 Jo 3:2; Cl 3:4).
Assim, tendo sido criados à "imagem e glória de Deus" (1 Co 11:7), e agora carecendo da
"glória de Deus" (3:23), compartilharemos da sua glória (8:17). E a própria criação aguarda
este dia – (conforme 8:21).
Tudo isto faz parte da glória de Deus, sendo portanto o objeto da nossa esperança. A visão
que temos da glória futura se transforma em estímulo poderoso para a nossa missão no
presente.
"temos paz com Deus" – como resultado do perdão que recebemos no passado;
Paz, graça, regozijo, esperança e glória. Tudo isso soa perfeito demais... Mas e a realidade
de batalhas, desgraça, tristezas, desespero e vergonha na qual vivemos? Este é o próximo
ponto do apóstolo.
Qual deve ser a atitude do cristão diante do sofrimento? O apóstolo Paulo diz que, mais do
simplesmente suportá-lo, devemos nos alegrar por reconhecermos que há uma razão ou
um propósito divino por trás dele.
Primeiro, o sofrimento é o caminho para a glória, assim como foi para Cristo (ver Rm 8:17).
Em segundo lugar, o sofrimento leva à maturidade. Isto é, o sofrimento pode ser produtivo
se respondemos a ele da forma correta. O sofrimento, diz Paulo, produz perseverança
(porque sem a frustração não haveria porque perseverar), e a perserverança produz
experiência e o caráter maduro de alguém que foi avaliado e passou no teste. E isto nos
leva a ter a esperança fundamentada em Deus de que ele completará a obra que começou
em nós. Finalmente, o sofrimento é o melhor contexto para sermos assegurados do amor
de Deus. Mas como assim? O sofrimento, não nos parece contrário ao amor de Deus? Não.
Paulo diz que "a esperança não nos decepciona", pois Deus nunca nos decepcionará, e o
seu amor nunca desistirá de nós, seus filhos. Mas como podemos estar certos do amor de
Deus? Neste trecho, Paulo nos dá duas bases sobre as quais podemos fundamentar nossa
crença no poder de Deus.
Esta questão, no entanto, do amor de Deus – à primeira vista um tema "inofensivo" – traz
sérias dificuldades à fé de muitos e consititui-se argumento recorrente usado por aqueles
que negam existência do Deus da Bíblia. Assim, precisamos refletir mais profundamente
sobre a questão.
Referências
[1] J. Stott, "The Message of Romans", Inter-Varsity Press, pp. 141ss.
[2] J. Stott, "The Love of God", All Souls Church.
[3] H. Blocher, "Le Mal et la Croix".
[4] P. Tripp, "Whiter Than Snow"
Introdução
Depois de falar da extensão do pecado, da profundidade da depravação humana e da culpa
de todo ser humano, depois de apresentar a graça justificadora de Deus por meio de Cristo
(não por obras ou pela obediência à Lei, mas pela fé), o apóstolo Paulo salienta as
consequências da sublimidade desta misericórdia divina: paz com Deus, acesso e
permanência na graça, alegria na esperança. Agora (Rm 5:12-21), ele nos apresenta duas
comunidades: uma marcada pelo pecado e culpa, condenada, "em Adão"; e a outra
marcada pela graça e fé, justificada e reconciliada, "em Cristo". É esta comunidade "em
Cristo" que está em paz com Deus, firme na graça, se regozijando na sofrimento presente e
na glória futura e se gloriando em Deus.
O contexto de Rm 5:12-21
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (v.
12, RA)
A palavra "portanto" no verso 12 indica que este trecho corresponde à conclusão da tese de
Paulo. O contexto ainda é o dos 11 primeiros versículos do capítulo: "as consequências da
justificação" ou, simplesmente, "justificação na prática".
A indagação que nos vem ao espírito ao lermos a passagem é: Como o ato de uma única
pessoa pode ter consequências tão grandes? Adão e Cristo são representantes de duas
humanidades: a velha e a nova. Não como "iguais", pois o Paulo deixa claro que a obra de
Cristo é superior ("muito mais...", ele diz referindo-se ao que Cristo fez).
Adão e Cristo são apresentados (12-14): Adão, ao mesmo tempo, como responsável
pelo pecado e "tipo" d'Aquele que viria;
Adão e Cristo são contrastados (15-17): obra de Cristo, superior à de Adão (pelo
emprego das expressões "não como" ou "muito mais");
Adão e Cristo são comparados (18-21): a expressão "assim como" para expressar
que por causa de um, muitos sofrem consequências.
1. todos "copiaram pecado de Adão", por imitação – i.e., pecaram como Adão;
2. todos "pecaram quando Adão pecou", por participação – i.e., pecaram com Adão.
Embora a opção (1) seja a mais "popular", a mais provável é a (2)! Por que podemos
afirmar que "pecamos quando Adão pecou"? Não parece injusto que um pecado alheio me
seja imputado? Cada um não é responsável por seus próprios atos e opções diante de
Deus? Existem bons argumentos, no entanto, que dão suporte a esta visão...
Argumento 1
O primeiro argumento é que, mesmo aqueles que não desobedeceram um mandamento
explícito de Deus (antes da Lei de Moisés) morreram. Ou seja, a morte física é a penalidade
pelo pecado. Mas por que foram punidos com morte se não pecaram como Adão, comendo
do fruto proibido? É porque todos pecaram em e através de Adão. Adão é o representante
legal de toda a raça humana.
Argumento 2
O segundo argumento tem a ver com o contexto mais amplo, dos versos 15-19. A
desobediência de um homem trouxe a morte, condenação e juízo a todos. Ou seja, a morte
universal é consequência de um único pecado. Assim, é como se todos tivessem pecado.
Argumento 3
O terceiro argumento vem da analogia entre Adão e Cristo. Se a morte veio porque somos
pecadores COMO Adão, seríamos obrigados a dizer também que a vida veio porque somos
justos COMO Cristo (o que não é, obviamente, o caso)! O correto é afirmar: "Assim como
fomos condenados pelo que Adão fez, assim também somos justificados pelo que Cristo
fez."
A Dificuldade
Estes argumentos não eliminam, no entanto, as dificuldades da ideia. Como posso ser
culpado pelo pecado de outra pessoa (i.e., de Adão)?
Assim como Adão, Cristo é representante de toda a humanidade: "... Adão [...] prefigurava
aquele que havia de vir..." (v. 14)
Aprofundamento
O teólogo francês H. Blocher [2] aprofunda ainda mais a discussão sobre a questão.
Embora defensor da tese reformada federalista, Blocher admite a dificuldade da imputação
de uma transgressão alheia, especialmente porque há textos bíblicos que vão no sentido
contrário (e.g., 2 Sm 24:17 e Ez 18).
de Cristo gera o reino da graça para todos os que dele dependem. Assim, o ponto de
comparação não é a imputação de um ato, mas sim os efeitos do ato (morte ou vida)
executado pelo chefe de aliança (Adão ou Cristo) sobre os que dele dependem.
Em segundo lugar, será que existem realmente apenas duas alternativas? Somos punidos
por causa do pecado de Adão ou somos punidos pelos nossos próprios pecados? Na
realidade, existe uma outra possibilidade, a saber: é por causa de Adão que somos punidos
pelos nossos próprios pecados. Nesta visão, o papel de Adão foi fornecer um instrumento
jurídico ao julgamento divino. Sem a lei (i.e., antes de Moisés), como Deus pode punir o
pecador? Nesta situação, o pecador pode ser reconhecido, mas não condenado. Com a lei,
no entanto, (i.e., depois de Moisés), a questão não mais se apresenta, uma vez posta a lei
de Deus. E os pecados cometidos entre Adão e Moisés? Foram eles punidos? Sim, pois a
morte (física) reinou também neste período como sanção pelo pecado. Mas, por que?
Porque os pecados são considerados extensões do pecado de Adão, e assim, Gn 2:16-17
prevalece. O pecado de Adão foi crucial, mas não nos foi "imputado", antes, foi por causa
de Adão o pecado de todos os torna condenáveis, e a prova de que foram condenados é a
morte que lhes alcançou.
"Olhe para você mesmo em Adão; embora não tenha feito nada, você foi declarado
pecador. Olhe para você mesmo em Cristo; veja que, embora você não tenha feito
nada, você foi declarado justo. Este é o paralelo." (Lloyd-Jones)
O Reino da Graça
O versículo 20 afirma que a lei expõe o pecado. O versículo 21 define a bênção de estar em
Cristo por meio da expressão "o reino da graça". Esta graça perdoa pecados pela cruz (nos
trazendo justiça e vida eterna), esta graça satisfaz a sede da alma, esta graça santifica
pecadores (fazendo com que sejamos transformados "à imagem de Cristo"), esta graça
persevera para completar o que começou e esta graça um dia destruirá a morte e
consumará o Reino.
Questões
A questão do universalismo
A comparação entre Adão e Cristo = universalismo? v. 18 - "Pois assim como, por uma só
ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só
ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida."
"todos os homens" — não pode referir-se literalmente a todos os homens: 5:17 — aqueles
que "reinarão em vida" não são todos, mas aqueles que receberam "abundância da graça";
Paulo enfatiza em Romanos: a justificação é pela fé (1:16; 3:21; 4:1) portanto, nem todos
são justificados tendo ou não fé
"todos os homens" — não pode referir-se literalmente a todos os homens: Romanos: muitas
advertências solenes — o juízo e a ria de Deus (2:5,8)
Gênesis 1 a 3: arte literária vs. relato científico a serpente e árvore da vida em Apocalipse:
simbólicos (Ap 12:9; 22:2ss) provavelmente também em Gênesis... Mas com Adão e Eva é
diferente...
"As escrituras têm claramente nos induzem a aceitar a historicidade do primeiro casal." —
Stott genealogias: até Adão (Gn 5:3ss; 1 Cr 1:1ss; Lc 3:38) Jesus: "o Criador os criou
homem e mulher" + instituição do casamento Paulo (em Atenas): Deus fez cada nação de 1
A historicidade do pecado: não como constitutivo do ser humano (i.e., parte da sua
essência) mas como introduzido no mundo — "e era muito bom" A responsabilidade
humana.
Aqui (Rm 5): a analogia de Adão e Cristo só é válida se houver a mesma historicidade de
ambos: desobediência de Adão ⇒ condenação obediência de Cristo ⇒ justificação A própria
ciência confirma isto: "A evidência genética indica que todos os seres humanos estão muito
relacionados e possuem um ancestral comum." Dr. Christopher Stringer (Museu de História
Natural de Londres)
A questão da morte
Morte: processo natural nos reinos animal e vegetal (fósseis com presas no estômago)
Mas... e para seres humanos? Paulo: "a morte entrou no mundo pelo pecado" (12) Se Adão
não tivesse pecado, não morreria?
Porque não somos meros "animais", as escrituras veem a morte humana como não natural:
uma intrusa uma penalidade pelo pecado não era a intenção original de Deus para o ser
humano
Ec 3:19 — "Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes
sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e
nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade." Sendo criados
à imagem e semelhança de Deus: Deus tinha originalmente algo melhor do que a morte
Não somos como os outros animais
Aplicação
Confiamos na graça de Deus? Quem reina hoje? Quem está no trono? Antes de Cristo:
pecado e morte (14, 17) Depois de Cristo: graça e aqueles que receberam graça (17, 21):
reino caracterizado pela vida
É esta a nossa visão? Quem para nós está ocupando o trono hoje? Ainda vivemos no A.T.
com a cena dominada por Adão? Ou somos cristão do N.T. com a visão de Cristo
crucificado, ressurrecto e reinando? Culpa e morte ou graça e vida?
O pecado e a morte podem parecer reinar uma vez que muitos se curvam a eles. Mas o
reino deles é uma ilusão, um blefe. Na cruz foram derrotados, destronados e desarmados.
Agora Cristo reina exaltado à direita de Deus Pai. Todas as coisas sob os seus pés,
acolhendo as nações e aguardando até a sua vitória absoluta sobre os inimigos que ainda
restam.
Referências Bibliográficas
[1] J. Stott, "A Mensagem de Romanos", ABU
[2] H. Blocher, "Original Sin - Iluminating the Riddle", Wm. B. Eedermans, 1997.
[3] A. Nisus, "L'amour de la sagesse", Édifac 2012.
Introdução
Pensemos em uma possível continuação da parábola do Filho Pródigo. Dois anos se
passaram desde o retorno do filho mais moço à casa do seu pai. O convívio com o irmão
mais velho melhorou e a vida retomou o seu ritmo. Um pensamento então ocorre ao filho
mais moço: "E se eu ajuntar o que preciso para sobreviver, e fugir uma ou duas semanas e
então fingir de arrependido e voltar? Se eu fizesse de novo? Haveria outra festa de
recepção?"
O simples fato de considerar algo assim gera em nós um sentimento de indignação. Como
poderia alguém desprezar e ofender novamente um pai tão amoroso? Mas você acha que é
algo impensável? Infelizmente, muitos têm esse raciocínio... Como dizia o poeta alemão do
século XIX: "Deus me perdoará. É o seu trabalho." ("Bien sûr, il me pardonnera; c'est son
métier")
Há quem acredite que a única mensagem que a igreja deve proclamar é "Deus te perdoa!"
"Devemos ser 'inclusivos'" — dizem — "Deus aceita as pessoas como são!" Versículos são
até citados: "onde abundou o pecado, superabundou a graça". Pensam que a única coisa a
dizer a alguém que pecou é: "Está tudo bem. Deus te ama!"
Paulo, no entanto, argumento a partir do capítulo 6 de Romanos que a graça que salva é a
mesma que transforma. A apresentação que fez da doutrina sobre a graça expõe os
tremendos privilégios do nosso novo status em Cristo: justificados pela fé, firmes na graça e
se alegrando na esperança. A objeção que Paulo agora tem por objetivo responder é: "Você
não pode afirmar esta doutrina da graça! As pessoas vão achar que podem fazer o que
quiserem!"
Ou seja, tendo pertencido a Adão (autor do pecado e morte), agora pertencemos a Cristo
(autor da salvação e vida). Estamos sob o "reino da graça", Paulo chega a dizer no verso
21. Assim, até aqui, Paulo coloca a sua ênfase na segurança do povo de Deus. Pouco disse
a respeito da caminhada cristã. É como se tivesse passado direto da justificação para a
glorificação, sem o estágio intermediário da santificação.
Objeções e Críticas
Em primeiro lugar, somos criticados como cristãos ao afirmar a nossa segurança da
salvação pela fé. Afirmar "sou aceito por Deus, e nada jamais poderá mudar isso", não é a
coisa mais presunçosa que alguém poderia dizer? Sim, mas apenas se considerássemos o
mérito como estando em nós mesmos! Em um mundo de inseguranças, alguém que se
sente seguro incomoda...
Em segundo lugar, o que diríamos a alguém que declara que "se Deus nos aceita como
somos, é melhor não mudarmos o que somos, pois Deus afirmou que o que somos é bom"?
Não seria a doutrina da salvação pela graça um estímulo ao pecado? Em outras palavras,
qual a motivação para a santificação? Alguns, preocupados (corretamente) com a
proliferação do pecado potencialmente causada pela segurança da salvação, chegam a
afirmar (equivocadamente) que é possível perder a salvação.
Se somos justificados pela graça através da fé, sem obras, então, para que boas obras?
Não seria isto estimular mais do que nunca as pessoas a pecar! A implicação é que o
evangelho de Paulo encoraja o pecado pois promete aos pecadores o melhor de dois
mundos: podem fazer o que quiserem neste mundo sem receio de perder as vantagens do
próximo. "O mundo e tudo mais", na expressão de A. W. Tozer.
Romanos 6:1-23
No capítulo 6 de Romanos, Paulo se defende da acusação de antinominianismo (do grego,
"nomos", de onde vêm "norma" ou "lei"). Aos antinominiamos Judas se refere descrevendo-
os como "homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e
negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Jd 4).
Neste ponto precisamos parar e refletir sobre o quão frequentemente minimizamos nossas
falhas, com base no fato de que Deus nos desculpará e nos perdoará. Antinomianismo é
mais facilmente reconhecível nos outros do que em nós mesmos. Segundo Stott, "se
proclamamos o evangelho de Paulo, com a sua ênfase na liberdade da graça e na
impossibilidade da salvação própria, seremos acusados de antinominianos. Se nenhuma
crítica aparece, provavelmente não estamos pregando o evangelho de Paulo."
A resposta de Paulo
Em linhas gerais, o que o apóstolo diz é que a graça de Deus não somente perdoa
pecados, mas também nos liberta do pecado. Isto é, a graça faz mais do que justificar, ela
também santifica. O que Paulo diz é que, ao se tornar cristão, você mudou de um tipo de
humanidade para outro e não deve nunca mais pensar em si mesmo do mesmo modo que
pensava anteriormente.
A Estrutura do Texto
Romanos 6:1-23 se divide em duas partes. Os versos 1 a 14 falam da graça que nos une a
Cristo. Os versículos 15 a 23 falam da graça que faz de nós escravos da justiça. Há cinco
paralelos entre estas duas partes.
Os Paralelos
1. A mesma exaltação da graça de Deus
"superabundou a graça" (5:20f) "não estamos sob a lei, mas sob a graça" (v. 15) Sob a
graça/a lei => para a salvação
"Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte?" (3) "Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como
servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado
para a morte ou da obediência para a justiça?" (16)
Se tivessem entendido o sentido do seu batismo e da sua conversão, nunca fariam a crítica
ou viveriam assim.
Conclusão
Onde está aquela fome e sede de santidade? Por que enxergamos só de perto? Por que as
conversões que testemunhamos geralmente não são tão radicais como em outros lugares
(países muçulmanos) e em outras épocas? (Apenas um verniz de piedade!) Por que a fome
e sede de justiça (social e pessoal) – a marca primeira dos que pertencem ao Reino – foi
substituída por uma anorexia espiritual e por um desejo exagerado de autoafirmação? Por
que os problemas domésticos (traição, pornografia, dificuldades de relacionamentos,
mentira, etc.) parecem ser tão comuns entre os crentes quanto o são entre os não cristãos?
Por que o anseio (como o apóstolo Paulo coloca) de "compartilhar a comunhão com o
sofrimentos de Cristo de forma que alcancemos a ressurreição dentre os mortos" está tão
fora de moda? Por que estamos tão indiferentes a Deus e à sua vontade?
Ser cristão = ser unido a Cristo Ser cristão = ser escravo da justiça Há coisas que não são
convenientes Seja o que você é! O Duque de Windsor
Referências
[1] Stott, "A Mensagem de Romanos", ABU
[2] N.T. Wright, "Romans for everyone"
O Propósito da Eleição
(Texto em processo de construção) Luiz A. de P. Lima Jr. (llimajr [at] terra.com.br
A Soberania de Deus
As Escrituras não questionam jamais o controle de Deus sobre todo evento, a sua
determinação de tudo o que acontece, globalmente, mas também "no detalhe". Para a
Bíblia, Deus é totalmente, radicalmente e absolutamente soberano.
Os dois testamentos atestam de forma abundante o governo efetivo do mundo pelo Senhor
dos Exércitos ("pantokrator" – o Todo-Poderoso), de quem, por quem e para quem são
todas as coisas, e a quem pertencem, pelos séculos dos séculos, o reino, o poder e a
glória.
Os grandes textos bíblicos não deixam dúvidas. Além destes, expressões espontâneas e
acidentais da convicção da soberania de Deus são tão abundantes no texto sagrado ao
ponto de sufocar, devido ao seu número, a ideia de que o controle do Senhor seria apenas
"geral" ou "a grosso modo" (é claro que não podemos ignorar o peso deste último também).
A afirmação de que o "nosso Deus está no céu e tudo faz como lhe agrada" (Sl 115; cf.
135:6) contrasta o Senhor com os ídolos. A afirmação dogmática do apóstolo não deixa
outra saída: "Ele opera todas as coisas conforme o conselho de sua vontade" (Ef 1:11).
Além disso, a Bíblia testemunha com frequência que o Criador não se contenta em fixar os
tempos e atribuir os espaços (At 17:26), mas tudo o que acontece revela o seu querer. É
Deus que faz brilhar o seu sol sobre todos, e é ele que dispensa ou retém a chuva (no
Antigo Testamento, a expressão "Deus chove" substitui "chove"). É ele que reveste a erva
do campo, que alimenta os pássaros do céu e os leõezinhos e todos os animais do vasto
mar (Sermão do Monte e Sl 104).
e assim por diante. Deus dirige todos os eventos: os grandes e os pequenos. Ou seja, o
Senhor é responsável não apenas pelo curso da natureza e da direção global da História,
mas também por todos os acontecimentos. Dos infortúnios familiares de Noemi (Rt
1:13,20), ao acidente de trabalho ou na caça cujo responsável involuntário escapa do
vingador do sangue (Ex 21:13). O rolar de um dado e o lançar sortes (Pr 16:33; Jn 1:7; At
1:24-26).
Jesus, para bem mostrar que a solicitude divina se estende até as ocorrências mais banais,
ensina que nenhum pardal morre independentemente da vontade de nosso Pai (Mt 10:29).
Até os cabelos da nossa cabeça estão contados (Lc 12:17)! Portanto, se Deus decide sobre
o menor acontecimento, quanto mais sobre o nosso destino! Tanto a confiança em Deus
como a oração só têm sentido se estiverem firmadas sobre este fundamento. A ideia
preguiçosa (e superficial, já que lhe falta a coragem de pensar radicalmente) de que Deus
só se ocuparia do curso das coisas a "grosso modo" ("somos como uma mosca livre dentro
de um carro") é completamente ausente do texto sagrado.
Para as Escrituras, Deus se interessa de modo claro pela fidelidade tanto nas pequenas
coisas como nas grandes. Não é ele o Deus da formiga assim como o Deus do sol, do
elétron assim como o da Via Láctea? A majestade de Deus é revelada não apenas na sua
soberania ao levantar e derrubar impérios, mas também na sua carinhosa preocupação
com pardais que caem.
Porque Deus tem o controle de tudo, é que Jesus exorta os seus discípulos a confiarem
nele. "Olhai os pássaros do céu", "olhai os lírios do campo" (Mt 6:25-34), diz Jesus! Nem
mesmo as calamidades podem frustrar a salvação dos eleitos de Deus. Uma vez que tem o
domínio sobre todas as coisas, ele pode fazer com que todas as coisas cooperem para o
bem daqueles que o amam e que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8:28)!
O Catecismo de Heidelberg1 afirma: "Não pertenço a mim mesmo, mas sim – corpo e alma,
na vida e na morte – ao meu fiel salvador, Jesus Cristo... Ele cuida de mim de tal maneira
que nem um fio de cabelo caia da minha cabeça sem que seja a vontade de meu Pai
celeste: na realidade, todas as coisas cooperam juntas para a minha salvação."
Mesmo muitos cristãos que têm dificuldades de aceitar a soberania divina na salvação,
compartilham com adepto mais fervoroso da doutrina da predestinação uma confiança no
senhorio absoluto de Deus sobre os fenômenos naturais e históricos.
As Escrituras englobam também sob a soberania divina as decisões dos seres livres.
Obviamente, se excetuássemos os fatos destas categoria, o que restaria a Deus da História
para governar? Por exemplo: Marco Antônio, por amor a Cleópatra, tomou decisões que
mudaram a história, concedendo-lhe terras e exércitos, perdendo popularidade e traindo o
seu próprio exército. Como já foi dito: "se o nariz de Cleópatra fosse menor, a face da terra
teria sido outra." Ou seja, se Marco Antônio não tivesse se apaixonado por Cleópatra, toda
a história do mundo teria sido diferente. Assim, se Deus não tivesse controle sobre as
decisões pessoais (a paixão de Marco Antônio), como controlaria a história humana?
Mais precisamente, o livro de Provérbios ensina que Deus inclina como quer o coração – o
órgão da liberdade – e mesmo o coração do rei – o mais livre de todos os homens. Ele é
como um rio na sua mão, que ele o faz correr como deseja, para um lado ou para outro (Pv
21:1).
Assim, Deus "mudou o coração" dos egípcios com relação a Israel (para que o odiassem –
Sl 105:25). Efraim suplica na profecia de Jeremias: "Converte-me e serei convertido" (Jr
31:18), pois sabe que Deus o tem nas mãos.
O contraponto é o de que as nossas decisões são livres (de uma liberdade criatural, não
absoluta, no entanto). É também verdade que nós somos responsáveis por elas: Deus não
nos trata como marionetes. Os chamados e as repreensões, as promessas e as
advertências que abundam nas escrituras nos mostram o quanto as nossas decisões
importam. Porém, não há nas escrituras nenhum vestígio da indeterminação da vontade
humana.
Em Amós 3:6, aqueles que não discernem no Senhor o autor do infortúnio para a
cidade são taxados de possuir estupidez espiritual;
Isaías 45:7 proclama que o bem e o mal (i.e., "desgraça" – NVI, como nas pragas do
Egito) procedem dele;
Jeremias 31:28 (conforme 45:4ss) nos lembra da fidelidade de Deus às suas ameaças:
"'Assim como os vigiei para arrancar e despedaçar, para derrubar, destruir e trazer a
desgraça, também os vigiarei para edificar e plantar', declara o Senhor.";
As queixas dos Salmos vêm da mesma convicção (e.g., "... a tua mão pesava dia e
noite sobre mim..." – Sl 32);
Lamentações 3:38 reconhece que o Senhor decide e que ele aflige, na realidade, os
seres humanos (conforme 3:33).
"Deus", diz o apóstolo Paulo nos remetendo ao Êxodo, "endurece a quem ele quer" (Rm
9:18). O versículo seguinte (v. 19) demonstra que mesmo os atos condenáveis não se
efetuam sem a vontade de Deus.
Paulo sabe que esta doutrina provoca objeções. No entanto, ele não a descarta como
inexata em suas premissas. Na realidade, mesmo o pecador não resiste à vontade do
Senhor. Assim, Deus encerra sucessivamente as nações e Israel na desobediência (Rm
11:32).
os filhos de Eli rejeitam a admoestação, "pois o Senhor havia decido fazê-los morrer" (1
Sm 2:25);
em Ezequiel, o Senhor vai até o ponto de falar de si mesmo como sendo o sedutor do
falso profeta (Ez 14:9), e se aproxima do "doador" do abominável costume de imolação
Esta convicção da absoluta soberania do Senhor contribui ao temor do Senhor, que tanto
falta aos cristãos em nossos dias. Este temor nutre a nossa humilde confiança e derrama o
bálsamo do consolo. "Tu me esmagas, Senhor", dizia Calvino, "nas torturas da doença, mas
me basta que seja da tua mão".
Somente Deus pode apaziguar, além do perdão, a angústia de alguém que tenha causado
males irreversíveis (a exemplo dos irmãos de José), pois até mesmo os pecados estão nas
mãos de Deus. Ao compreender que tudo está sob o seu controle, recebemos alívio do
fardo insuportável de acharmos que somos a última instância das coisas (ver Gn 45:8). Ele
é o Primeiro e o Último, o Alfa e o Ômega. Deus efetivamente reina.
1 The Heidelberg Catechism, written in 1563, originated in one of the few pockets of
Calvinistic faith in the Lutheran and Catholic territories of Germany. Conceived originally as
a teaching instrument to promote religious unity in the Palatinate, the catechism soon
became a guide for preaching as well. It is a remarkably warm-hearted and personalized
confession of faith, eminently deserving of its popularity among Reformed churches to the
present day.
A Tristeza de Deus
(Texto em processo de construção) Luiz A. de P. Lima Jr. (llimajr [at] terra.com.br