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(3) A
presença do neuroscópio no cérebro de
Objeções ao compatibilismo
Jones em nada contribui para a sua deci-
são de matar o Presidente. Objeções à análise condicional
Numa situação como esta, o facto de não po- Para os incompatibilistas é uma trivialidade
dermos agir de outro modo em nada altera aquilo afirmar que poderíamos agir de modo diferente
que fizemos, pelo que não há desculpas para os daquele que agimos se tivéssemos desejos dife-
nossos atos, ou seja, somos moralmente res- rentes daqueles que efetivamente temos. A ver-
ponsáveis pelas nossas ações, apesar de não dade é que num mundo determinista não podemos
existirem possibilidades alternativas. Isto sig- ter desejos diferentes daqueles que efetivamente
nifica que o PPA é falso, pois podemos ter livre- temos, porque, de acordo com a imagem determi-
-arbítrio (no sentido relevante para a responsabi- nista do mundo, cada estado de coisas num dado
lidade moral), ainda que não possamos escolher momento é consequência dos estados do mundo
agir de modo diferente daquele que agimos. que o antecederam, de acordo com as leis da na-
Com este tipo de exemplos, Frankfurt ofere- tureza. Deste modo, existe apenas um estado de
ce uma defesa do determinismo moderado, pois coisas possível, em cada instante. Como se esti-
estabelece que aquilo que é fundamental para véssemos num comboio que viaja uma linha sem
que possamos considerar que temos livre- bifurcações. Isto significa que num mundo deter-
-arbítrio (no sentido relevante para a responsa- minista não tem sentido dizer que poderíamos ter
bilidade moral) não é o facto de termos possi- desejos diferentes daqueles que efetivamente te-
bilidades alternativas, mas sim o facto de as mos, pois os desejos que temos são a consequên-
nossas ações serem o resultado das crenças e cia da nossa história pessoal até ao momento e das
desejos que naturalmente adquirimos através leis da natureza. Assim, num mundo determinista
das nossas experiências anteriores. é absurdo dizer que poderíamos agir de modo dife-
rente daquele que agimos, se tivéssemos desejos
(1) S
e o determinismo é verdadeiro, então as diferentes daqueles que efetivamente temos, pois
nossas crenças e desejos (tal como tudo isso implicaria ter desejos diferentes e, de acordo
aquilo que acontece) são a consequência com o determinismo, isso não é compatível com
de acontecimentos anteriores e das leis da as leis da natureza e os estados do mundo que an-
natureza e não existem quaisquer possibi- tecederam este momento.
lidades alternativas.
(2) Ainda que as nossas crenças e desejos se- Objeções aos Casos de Frankfurt
jam a consequência de acontecimentos an-
Existem pelo menos duas formas de desati-
teriores e das leis da natureza e não existam
var os Casos de Frankfurt. A primeira estratégia
quaisquer possibilidades alternativas, pode-
consiste em mostrar que, mesmo nessas cir-
mos ter livre-arbítrio (no sentido relevante
cunstâncias, existem possibilidades alternativas
para a responsabilidade moral), desde que
e que é justamente a existência dessas possibi-
as nossas ações correspondam às nossas
lidades que justifica a nossa intuição de que o
crenças e desejos (tal como demonstram os
agente é, apesar de tudo, dotado de livre-arbítrio
Casos de Frankfurt).
e, consequentemente, moralmente responsá-
(3) Logo, ainda que o determinismo seja verda- vel pelas suas ações. Mas como é que alguém
deiro, podemos ter livre-arbítrio (no sentido tem possibilidades alternativas se, à partida, não
(2) Se o complexo neuronal X não estiver ativo Segundo o compatibilismo, uma ação é livre
no cérebro de Jones em T1, então, desde se é fruto das nossas crenças e desejos – ainda
que ninguém intervenha, ele não irá decidir que estes sejam determinados – e não é livre se
matar o Presidente. formos forçados a fazer o que não queremos (ou
impedidos de fazer o que queremos) por algum
(3) Se Jones mostrar sinais de que não vai deci-
agente externo. Contudo, o filósofo britânico John
dir matar o Presidente, isto é, se o complexo
Locke (1632-1704) acredita que a liberdade não
neuronal X não estiver ativo em T1, então,
depende da vontade, mas sim da existência efetiva
em T2, o neuroscópio interfere e força Jo-
de possibilidades alternativas. Locke convida-nos
nes a decidir matar o Presidente; mas se
a imaginar uma situação em que, sem se aper-
em T1, o complexo neuronal X estiver ativo
ceber de nada, um prisioneiro é trazido para um
então o neuroscópio não interfere e, em T2,
quarto de onde jamais poderá sair. Todas as suas
Jones mata o Presidente por sua iniciativa.
necessidades imediatas são satisfeitas por mãos
Agora imaginemos que: invisíveis e o prisioneiro é regularmente visitado
Se considerarmos que existem leis injustas, Resposta: esta objeção é que ela comete a falácia
será que a desobediência civil se justifica moral- da derrapagem. Isto é, do facto de se desobedecer
mente? Este é um problema que os filósofos pro- a uma lei injusta não se segue necessariamente
curam resolver. A desobediência civil é uma forma que a sociedade acabe numa anarquia. Outra res-
de protesto a uma lei que se considera injusta. Por posta possível é que a anarquia é sempre melhor
exemplo, Martin Luther King, um afro-americano, que uma sociedade com leis injustas. Um Estado
combateu leis que considerava injustas apelando à anarquista pode ser mau, mas um Estado despó-
desobediência civil, desrespeitando, de forma pa- tico será sempre pior. Segundo uma perspetiva
cífica, leis de segregação racial. A desobediência utilitarista, o risco da anarquia pode ter melhores
civil caracteriza-se por ser não-violenta e, em resultados do que a obediência a leis injustas, ape-
norma, os seus praticantes aceitam as sanções. sar de quer a desobediência, quer a obediência po-
O seu objetivo pode ser o de chamar a atenção derem ser prejudiciais.
para uma lei considerada injusta. Analisemos
brevemente algumas objeções à desobediência problema da relação entre
O
civil e as possíveis respostas às objeções. liberdade política e justiça social
Objeção: a desobediência civil não se justifica A teoria da justiça de John Rawls
num regime democrático, pois as leis injustas po-
Será justa uma sociedade na qual a distribui-
dem ser sempre alteradas.
ção de rendimentos e riqueza é desigual? Ou ape-
Resposta: os meios legais podem levar demasiado nas será justa se tal distribuição for igual?
Hume considera que os juízos estéticos são a m gosto refinado e delicado, que seja capaz
u
expressão dos nossos gostos pessoais, dos nossos de fazer distinções subtis;
sentimentos de prazer e desprazer em relação aos rática de fazer juízos, ou seja, a sua sensibi-
p
objetos. No seu ensaio Sobre o Padrão do Gosto, lidade não está enferrujada por falta de uso;
Hume chega mesmo a afirmar que “procurar es-
ma vasta experiência de vida, que possibili-
u
tabelecer uma beleza real, ou uma deformidade
ta comparações relevantes;
real, é uma investigação infrutífera como procurar
determinar uma doçura real ou um amargor real”. capacidade de ultrapassar o preconceito,
a
afastando-se das modas e distanciando-se
No entanto, Hume considera que os gostos
dos seus sentimentos em relação aos auto-
não valem todos o mesmo e, para justificar esta
res das obras;
ideia, recorre a exemplos de pares despropor-
cionais – obras de arte com valores claramente om senso, ou seja, dispõe de algumas capa-
b
diferentes, uma grande obra e uma obra medío- cidades cognitivas de que se serve para pro-
cre –, mostrando que qualquer pessoa razoável ceder a uma correta avaliação das obras;
Em suma, se a pintura abstrata, a arte decora- Assim, de acordo com esta teoria existem três
tiva, a arquitetura, a música instrumental e a found condições necessárias, e conjuntamente suficien-
art, bem como alguma poesia, filmes, peças de tea- tes, para a arte:
tro e coreografias, sem qualquer caráter imitativo, i) a condição experimentalista: o artista tem
são obras de arte, então a teoria mimética da arte de experimentar um sentimento;
é falsa. É óbvio que um defensor desta teoria pode
ii) a condição expressivista: o artista tem de
recusar-se a atribuir o estatuto de arte a algumas
criar uma obra que exprima esse sentimen-
destas obras, mas uma vez que esse estatuto lhes
to; e
é amplamente reconhecido, terá de fornecer uma
boa justificação da sua recusa. Essa justificação iii) a condição identitária: o público tem de ser
não se pode basear no facto de estas obras não se- contagiado por esse sentimento.
rem imitativas, pois isso seria uma justificação vi- Por exemplo, a participação de Tolstoi na guer-
ciosamente circular, visto que saber se a imitação é ra despertou nele certos sentimentos. Escreve o
ou não uma condição necessária para que algo seja romance Guerra e Paz como forma de expressar
Tal como foi aqui formulado, este argumento (2) Tal como os relógios, também os seres vivos
é contraditório, pois a partir das suas premissas e a natureza têm uma estrutura complexa e
podemos concluir validamente que é falso que as suas partes apresentam um ajuste per-
tudo o que existe tem uma causa ou razão de ser feito.
exterior a si: (3) Tal como os relógios, também os seres vivos
e a natureza como um todo devem ter um
(1) Se tudo o que existe tem uma causa ou ra-
criador inteligente. (De 1 e 2, por analogia)
zão de ser exterior a si, então ou há uma
regressão infinita de causas e efeitos, ou há (4) A complexidade e o perfeito ajuste das par-
uma causa primeira, que existe necessaria- tes na natureza são infinitamente superio-
mente. res aos de um relógio.
(2) Se há uma regressão infinita de causas e (5) Se a complexidade e o perfeito ajuste das
efeitos, então é falso que tudo o que existe partes na natureza são infinitamente supe-
tem uma causa ou razão de ser exterior a riores aos de um relógio, então o seu cria-
si, pois não existe algo de exterior à suces- dor é infinitamente melhor do que qualquer
são infinita das causas e efeitos como um artífice humano.
todo que lhe dê origem. (6) O criador da natureza é infinitamente melhor
do que qualquer artífice humano. (De 5 e 6)
(3) Se há causa primeira, que existe necessaria-
mente, então é falso que tudo o que existe (7) Se o criador da natureza é infinitamente me-
tem uma causa ou razão de ser exterior a si, lhor do que qualquer artífice humano, então
pois um ser que existe necessariamente não é Deus.
precisa de ter uma causa ou razão de ser ex- (8) Logo, Deus é o supremo criador de toda a na-
terior a si. tureza (e, por conseguinte, existe). (De 6 e 7)
(4) Logo, é falso que tudo o que existe tem uma
causa ou razão de ser exterior a si.
Objeções ao argumento do desígnio
Uma analogia que não se baseia em semelhan-
Por fim, resta acrescentar que, tal como foi aqui
ças relevantes ou que ignora diferenças relevan-
apresentado, o argumento não oferece qualquer
tes entre os elementos da comparação é uma fra-
razão para aceitarmos que existe um único ser ne-
ca analogia. Ora, i) existem diferenças relevantes
cessário (pode haver mais do que um) e que esse
entre os artefactos e a natureza; e ii) as semelhan-
ser tem os atributos de Deus.
ças entre ambos não são suficientemente relevan-
tes para que a analogia seja eficaz.
O argumento do desígnio Conhecemos a causa habitual de um relógio,
A ideia básica por detrás do argumento do de- por comparação com outros exemplos conhe-
sígnio é que, tal como os relógios, os seres vivos cidos, mas não temos conhecimento de outros
possuem uma estrutura complexa e as suas par- universos e dos seus processos de criação para
tes apresentam um ajuste perfeito, por isso, à se- que a nossa inferência seja tão segura no caso do
melhança do que acontece com os primeiros, tam- universo como acontece no caso dos relógios.
bém os últimos devem ter um criador inteligente. Além disso, ainda que o argumento pudesse
Podemos formular o argumento do seguinte modo: estabelecer a existência de um criador inteligente