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praticada pelos dutos do WhatsApp”, aponta. Essa tomada dos dutos foi possível,
segundo Amadeu, através da expertise de estrategistas que passaram pela
experiência norte-americana. “Nas eleições de 2016 nos Estados
Unidos havia acontecido um fenômeno semelhante. A diferença está no uso do
WhatsApp e na cultura política dos dois países. No Brasil, infelizmente, não
acertamos contas com nosso passado escravista, com a violência desmedida das
elites econômicas, com os crimes da ditadura militar. Isso permite que a
desinformação encontre um terreno mais propício no Brasil”, analisa. Assim,
considera que, por aqui, se perdeu o que chama de “parâmetros de realidade”, e
notícias falsas assumiram verniz de verdade.
Amadeu também destaca que esse processo deve continuar sendo combatido,
pois a estratégia de Bolsonaro e seus aliados não cessa com a vitória nas
urnas. Para o professor, toda a forma de gestão do novo governo vai estar
estruturada nas redes e na circulação de informação nas mesmas. “Para aplicar a
‘pinochetização’ da economia brasileira, Bolsonaro precisará continuar a
destruir os parâmetros da realidade”, exemplifica. E acrescenta: “ele não
conseguirá convencer as pessoas que destruir a Previdência será bom para elas.
Uma pessoa com o mínimo de informação não poderá achar bom ter que
trabalhar mais 10 anos para receber uma aposentadoria ainda menor. Ele só
poderá aplicar a sua agenda criando factoides e acentuando sua estratégia de
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Confira a entrevista.
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Além disso, quando observamos o uso mais frequente ou quais as práticas mais
comuns na internet, desde 2014, nos deparávamos com a troca de mensagens
instantâneas. Em 2016, a utilização de clientes de comunicação imediata como o
WhatsApp era uma prática cotidiana e comum de 89% dos brasileiros
conectados. Esse número superava o uso das redes sociais, em 2016, que já era
bem alto e atingia 78% das pessoas com acesso à internet.
O uso do WhatsApp era e é extremamente popular por ser muito útil e fácil de
utilizar em aparelhos móveis. Grupos de amigos, de familiares, de estudantes de
uma disciplina, de funcionários de um setor, de prestadores de serviço. A
combinação da ampliação vertiginosa de aparelhos móveis com as facilidades do
uso da comunicação instantânea pelo WhatsApp foi um estrondoso
sucesso. E cada vez era maior quanto mais funcionalidades eram agregadas ao
WhatsApp, tais como o recurso de mensagem de voz e a disseminação de vídeos.
Eleições
Nas eleições de 2014 foi detectada uma distribuição massiva de informações
falsas sobre a então presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, via
WhatsApp. Com o crescimento dessa aplicação, obviamente ela seria a grande
ferramenta comunicacional em 2018. E foi. O WhatsApp é uma aplicação
comunicacional que combina a mensagem ponto a ponto, privada, com a
organização de grupos fechados e com limite de participantes. É diferente de uma
rede social que permite a observação das postagens públicas. O WhatsApp é um
duto encoberto de compartilhamento de mensagens.
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A estratégia
O processo eleitoral não pode ser entendido olhando apenas os meses de
campanha. A mídia, em especial a Rede Globo, grupos do Ministério
Público e do Judiciário partidarizados e algumas lideranças muito influentes
das elites econômicas decidiram promover um processo de exageros e de
releitura histórica sem limites, sem respeito aos fatos, para conseguir
reconquistar a máquina de Estado para suas velhas elites, embaladas pelo sonho
neoliberal. Assim, criaram narrativas inaceitáveis no Estado de Direito para
condenar petistas e poupar aliados, mas a cada exagero era a democracia e as
instituições que estavam sendo corroídas. Transformaram um partido que havia
se tornado palatável às elites no partido “mais corrupto” do país. Aproveitaram a
acomodação do PT e sua ilusão com as elites patrimonialistas do Brasil para
mostrá-lo como semelhante a políticos como Sarney [1] e Eduardo Cunha [2].
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Antes de o candidato eleito ser esfaqueado, muitas pessoas que buscavam debater
as eleições diziam que haviam abandonado os seus grupos de família e de velhos
amigos, pois ali não adiantava conversar. Foi exatamente nesses grupos de
WhatsApp que foi realizada a destruição de parâmetros da realidade e a
transformação da política em embate de dogmas. Anular o debate racional era a
única chance de Bolsonaro vencer as eleições. O duto oculto do WhatsApp era o
dispositivo perfeito para isso.
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da diversidade.
Estratégias de desinformação
Repare que se em 2016 um candidato a prefeito dissesse que “não entende nada
de orçamento” como uma vantagem, que iria “matar seus opositores” e que “uma
mulher poderia até ser competente”, certamente ele teria muita dificuldade de se
eleger. Em dois anos ocorreu uma contaminação da esfera pública. Em 2018,
para ser eleito, a campanha de Bolsonaro teve que destruir parâmetros de
realidade. E para governar, Bolsonaro deverá continuar com estratégia de
desinformação criada pelos teóricos da alt-right. Não é por menos que um dos
principais memes que circulam nos grupos de WhatsApp pós-eleições diz
que “Bolsonaro irá demorar para consertar o país, pois o comunismo destruiu
nossa nação, dominando várias instituições”. Brasil comunista? Sim, a Globo e o
conservador The Economist são chamados de comunistas também.
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Mais grave que a lei eleitoral é a postura do Tribunal Superior Eleitoral - TSE.
Diante de tantas evidências de violações da legislação em vigor, a Justiça
Eleitoral manteve a dinâmica de seletividade. O “combate às fake news”
proposto pelo próprio TSE não foi feito porque descontentaria setores do
Exército. Afinal, o Brasil está já há algum tempo sob tutela militar. Quem
praticou a desinformação em massa foi a campanha de um candidato que
tem como vice um general da reserva e que é apoiada por militares de alta
patente. Isso não apaga o fato de que a campanha de Bolsonaro violou o
artigo 57-B, que em seu parágrafo terceiro dizia “é vedada a utilização de
impulsionamento de conteúdos e ferramentas digitais não disponibilizadas pelo
provedor da aplicação de internet, ainda que gratuitas, para alterar o teor ou a
repercussão de propaganda eleitoral, tanto próprios quanto de terceiros”.
IHU On-Line – O senhor tem dito que o debate racional foi suprimido
nas eleições de 2018 no Brasil. Por quê? E quais os desafios para
restabelecer esse debate?
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econômica, pois não tinha e não tem conhecimentos básicos de economia. Tem
apenas crenças. Ele seria uma tragédia discutindo qualquer política pública, até
mesmo a política de segurança. Com tão pouco repertório e conhecimento, só
restava a Bolsonaro deformar a realidade, lançar ondas de desinformação até
desvirtuar completamente o cenário da disputa. Desse modo, destruiu os
parâmetros da realidade e, assim, a única coisa que deveria valer seria a crença de
cada um. Dessa forma, caberia a ele reforçar os preconceitos e os temores mais
profundos.
Isso não acabou com as eleições. Ele continuará mantendo suas equipes de
desinformação, principalmente no WhatsApp. Um exemplo importante
aconteceu recentemente com sua ofensiva contra os médicos cubanos. Como sabe
que o programa atende a população mais carente e que pode ser acusado pelo
abandono de 1.600 municípios, Bolsonaro é orientado a falar que libertou os
médicos da escravidão de Cuba. Curiosamente, esse mesmo Bolsonaro tentou
revogar a emenda constitucional 81/2014, que prevê o confisco de
propriedades que tenham mão de obra escrava.
Desafios para reconstituir parâmetros da realidade
Precisamos gradativamente reconstruir os parâmetros da realidade. É preciso
atuar nas redes criando comitês de esclarecimento e de reconstrução da história.
Não podemos achar graça, ter pena ou simplesmente sentir raiva de tanta
ignorância. Isso é o que a direita alternativa pretende. Precisamos melhorar
nosso modo de falar e expor. Não podemos ver um primo, uma irmã ou tio
falando que a Klu-Klux-Klan (KKK) é de esquerda sem mostrar que isso não é
real. Precisamos fazer pacientemente o esclarecimento necessário, pois trata-se
de desconstruir um processo de esquizofrenia coletiva. Se você pegar os vídeos do
próprio Richard Bertrand Spencer, líder da supremacia branca, aliada da
KKK, você verá que eles se chamam de forças de direita. É preciso calma para
desmontar o desvirtuamento da realidade. Será preciso mostrar a fonte
original e outras que sejam contundentes. Lembrem-se de que mesmo que o líder
da KKK participe de eventos da extrema direita norte-americana, seu
familiar não irá aceitar facilmente que ele foi enganado. Mesmo que ele não
reconheça, confrontá-lo com a realidade é decisivo.
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Notas:
[1] José Sarney [José Sarney de Araújo Costa] (1930): político nascido no
Maranhão, 31º presidente do Brasil (1985-1990). Foi governador do Maranhão e
presidente do Senado Federal por quatro vezes. No dia 15 de janeiro de 1985, o
Colégio Eleitoral elegeu a chapa Tancredo Neves/José Sarney para a presidência
da República, encerrando o ciclo militar instaurado com o golpe de 1964. Na
semana da posse, Tancredo apresentou quadro inflamatório com dores
abdominais, diagnosticado como apendicite. Ele descartou qualquer internação
ou intervenção cirúrgica antes da posse. Na noite de 14 de março de 1985, o
agravamento do quadro clínico exigiu uma cirurgia de urgência. Sarney tomou
posse como vice-presidente, assumindo a presidência da República
interinamente em 15 de março de 1985. Tancredo morreu em 21 de abril, e
Sarney assumiu oficialmente o cargo. (Nota da IHU On-Line)
[3] Michel Foucault (1926-1984): filósofo francês. Suas obras, desde a História
da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua
morte), situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento. Foucault trata
principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas do
termo. Em várias edições, a IHU On-Line dedicou matéria de capa a
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[5] Steve Bannon (1953): é um assessor político estadunidense que serviu como
assistente do presidente e estrategista-chefe da Casa Branca no governo Trump.
Como tal, participou regularmente do Comitê de Diretores do Conselho de
Segurança Nacional dos Estados Unidos, entre 28 de janeiro e 5 de abril de 2017,
quando foi demitido. Antes de assumir tal posição da Casa Branca, Bannon foi
diretor executivo da campanha presidencial de Donald Trump, em 2016. (Nota da
IHU On-Line)
[6] O IHU, na seção Notícias do Dia em seu sítio, publicou detalhes do caso.
Acesse aqui. (Nota da IHU On-Line)
Fake news – Ambiência digital e os novos modos de ser. Revista IHU On-Line, Nº.
520
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Iniciativa de Trump retoma ataque de lobby mundial contra internet livre.
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