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Afetividade & Inteligência J
i Escutar=bém é educar
Se eu tivesse te obedecido menos, certamente estariasmuito mais satisfeito comigo. P 'lida toda educação toda ação educativa deve necessariamente estar
Ao contrário do que pensavas, o teu sistema pedagógico atingiu em cheio o seu ara ser va " .. fu d d . d
recedida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise pro n a. o meio e
objetivo: não escapei a nenhum ato de posse: tal como sou, eu sou o resultado da ~da concreta do homem concreto a quem se deseja educar ou, para dizer melhor,
tUaeducação e da minha obediência... Tu dizias: "Nada de respostas", querendo
desse modo fazer com que emudecessem em mim as forças que te eram a uem se quer ajudar para que se eduque. . d
desagradáveis;mas o efeito produzido foi,demasiadamente forte, eu era demasiado Seqfalta uma tal reflexão sobre o homem, corre-se o risc~ de a~~tardme~ os
obediente e tornei-me inteiramente mudo. educativos e maneiras de fazer que reduzem este ho~em a condiçao e o ,eto,
Casar, fundar uma família,aceitar todos os filhos que nasçam, fazê-Iosviver num projeção de mal formadas e deterioradas representaço~s que temos deste. tal
Res eitar a vocação do homem, de ser sujeito e não objeto torna-s~ fundame~ .
mundo incerto e mesmo, se possível, guiá-los um po~co, eis_ estou disso persuadido Na ;usência de uma análise do meio cultural e concreto se corre o nsco de realizar
- o grau extremo do que um homem pode esperar... Não são muitos os que
uma educação pré-fabricada e castradora. .. u
verdadeiramente o conseguem e, depois, essepequeno número não "faz" geralmente Para ser válida, a .educação deve levar em con.ta.o f~to pnmordlal do homem o
coisa alguma; ele "submete-se" tão-somente a qualque"rcoisa (Carta de Kafka a j .. . ocaça-ooh" tolórrica que é tornar-se SUJeito,SItuadono espaço e no tempo,
seu pai). sela, sua v b' , •. m
no sentido de que vive em uma época precisa, em um lugar preCISO,em u.
contexto social e cultural preciso. "O homem é um ser com raizesespaço-temporais
Esta carta de Kafka a seu pai mostra claramente a revolta contra o medo, e cabe-lhe a transformação".
força elementar de uma educação.
A autoridade educativa ainda no princípio deste século subentende um Posso afirmar, portanto, que o homem é sempre o r~sultadoda aç~.o ~e
sistema de manipulação cujo efeito é privar a criança de toda e qualquer transformação da realidade e de sua adaptação
de sua capacidade de transformá-Ia. De onde aadvêm
ela, segwd~ da ~ons:encla
os prlOciplos e que
possibilidade de opor-se ou mesmo de afirmar-se como pessoa. Retirar a palavra
educar é:
sob a forma de um mutismo ou de gagueira evidencia um conflito; de um lado
um desejo de agradar ao pai e do outro a vontade de vir a ser.
• Um processo que permite ao homem chegar a ser o ~ujeito de sua pr.ó~ria
A excessiva e desvairada autoridade na educação, tanto familiar como açao,
- em h armo rua
. com o "si mesmo" e não apenas objeto de outros sUJeitos.
escolar, apontando limites e regras, reequilibrando um sistema em
desenvolvimento, pelo contrário, só promoverá lima insegurança fundada no • Um meio para que o homem possa se construir como pessoa em termos de
medo, quando não hostilidade e revolta.
"sendo" e não de "tendo" (Ser, não Ter).
Aqui não existe somente uma carta de um Kafka a seu pai, mas uma
confissão nossa, de cada um de nós, a todos aqueles que de uma forma ou de • Uma iniciação à crítica, interpretação e transformação do mundo, inovando-o
outra, consciente ou inconscientemente, nos proibiram de sermos. O pai ou para o bem-estar próprio e do outro.
educador sob a máscara do liberalismo dissimula uma autoridade fundada no
poder e na violência.
Não acredito no entanto, que os atos de "poder sobre a criança sejam
O educador está sempre à espreita de que a criança execute o que foi frutos de uma inte~cionalidade maléfica do adulto, seja ele pai, pro!"essor ou
previsto para ela. A liberdade deixada à criança é sempre ilUsória; esta não "médico" (em princípio de nosso século a autoridade médica :ra de tao grande
tem Outra saída senão adaptar-se a um mundo const.ruído para oprimir e castrar. · fi ência e poder dentro da família que tratava e se colocava ate como educador
Não acredito que devamos iniciar analisando "o por clue as crianças não 10 u f" ) Acredito sim em componentes inconscientes de uma posse
e con essor . " . hi' .
aprendem", mas nos perguntando por que nos negamos tanto a aprender a escravizadora do homem sobre o ,homem, que em outras ~pocas stonca~
"educar". Existe uma profunda presunção em todo educador, como se educar i eram colocadas pelo menos de forma mais leal e escl~reclda. Refiro-me a
fosse um ato natural.
escravidão legal e explícita, aprovada pela cultura consciente no decorrer da
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Afetividade & Inteligência
Escutar llI1TIbém é educar
• D
história da humanidade, ora sob a égide das guerras de conquista, ora sob a
• A criança já de nascença é·má; é preciso separá-Iade sua natureza e submetê-,la
necessidade de mão-de-obra para a grandeza dos respectivos países em a um adestramento moral e físico, submetendo-a desde pequena as
desenvolvimento ou em diferentes estágios de colonização. alternâncias de um terror e de uma sedução constante.
Muitas libertações de escravos aconteceramna história do homem, porém
devemos nos conscientizar de que é chegada a hora de libertarmos aquele que • A criança deve adquirir precocemente a arte de renunciar. Deve-se t~mar
nunca pensamos ser o nosso escravo mais próximo, aquele que acreditamos posse de seu ser para garantir o domínio dele. Os caprichos, os choranungos
ser o foco de nosso amor mais intenso, o nosso filho; falo do fIlho do homem, e as pequenas obstinações devem ser tratadas com palavras se:eras e golpes
a cnança.
aplicados na cama. São geralmente atos que surpreendem a ~n~ça e par~
Penso que há um fundo inconsciente em nós, pais, herdado ao longo do (Y seu pranto. Se isto não obtiver êxito, devemos dar-lhes puruçoes ~o~oraIs
caminho histórico, cujo último elo ainda se manifesta bem claramente no final repetidas a intervalos e esse tratamento até ao final, ao ser atIngtdo o
do século XIX. Parece que enquanto as Américas libertavam os negros da objetivo de obediência absoluta. .
Tal procedimento deverá ser levado até atingirmos o domínio total da cnança
escravatura, baseando-se provavelmente em ideobgias importadas (liberdade,
igualdade e fraternidade), na Europa a autoridade moral educativa paterna e para sempre. A partir daí, bastará um simples olhar,. uma palavra ou um
escolar era multiplicada pela autoridade (mágica) na posição do médico ou do simples gesto de ameaça para governar a criança que se quer educar.
~ducador ou até de ambos superpostos. • O controle que o adulto adquire sobre as tendências instintivas e maléficas
A instituição escolar e a instituição médica procuravam realizar no final
da criança, deverá estender-se sobre o seu próprio co~o através de u:na
do século passado uma missão que acreditavam ser "civilizadora e salvadora". ideologia corretiva do corpo, na expressão de educação.fíSIcae das correçoes
As obras de vulgarização médica ocuparam assim, no final do século ortopédicas: Sente-se direito/ Ande com a cabeça ergwda/Feche as pe~na~/
XIX (mais precisamente em torno de 1880), o lugar da religião; algumas obras Cruze os braços. Podemos dizer ainda, que até hoje na g:ande maIona,
levaram até o título de "catecismo"(do Dr. Demirleau). todos recebemos o amor ou o olhar e a palavra de nossos paiSe mestres ao
A medicina se unia então à educação formando uma pedra angular preço de negarmos o nosso ser.
de peso e consistência nunca vista para seguir um caminho de posse e de Pervertemos o nosso desejo profundo na busca dos ideais de ego, ao
aniquilação do "Ser Humano".
preço de sermos ao menos respeitados e amados pelos nossos pais e educadores.
O Dr. Daniel Gottlieb Moritz Schreber (pai de Sçhreber, caso estudado
por Freud), pai-médica-educador em 1880, que se tornou célebre por suas E depois nos perguntam por que temos dificuldades e problemas em ~osso
aprendizado? ..
obras de anatomia, fisiologia humana, higiene, cultura física e pedagogia,
escreve livros sobre a educação na Alemanha, tidos como os melhores Quem foi escravizado só tem como Ideal escraVIzar. .
"Saber - Poder - Autoridade" constituem os elementos fundamentaiS
referenciais sobre educação; contemporaneamente, cria filhos que serão de um camuflado chicote da nova escravatura, agora sobre o pequeno Ser,
futuros paranóicos e suicidas. Dizendo textualmente: "Um educador é um
homem que tem resposta para tudo e é dotado na maioria das vezes do que leva o nome de "aluno", que só deseja crescer, desen~ol~er-se e entender.
poder da cura." As dificuldades da aprendizagem em crianças que dificilmente aprendem
Dr. Daniel era ouvido por educadores, médicas e pais. A ele deve-se a ou nunca chegam a aprender, mostram diante de uma avaliaçãopsicopedagó~ca
elaboração de regras de vida fundadas numa disciplina impecável. operativa, uma deticiência na construção do real em termos de represe~taçoes,
estruturas lógico-matemáticas e até mesmo de uma falta de desenvolVlffiento
Esse terror pedagógico, portanto do final do século XIX, do qual deriva
a educação atual, tinha como princípios os ~eguintes lemas: funcional do próprio pensamento. Devemos então nos perguntar onde r~pousa
a etiologia desses problemas; será que o meio ainda opressor, castrador e VIolento
em que vive a criança (aluno) nada tem a ver com isso?
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i\l<;UVJdaae& lnteugencla Uma educaçãoparao próximosécuJe
Poderíamos dizer como Erich Fromm, Prosseguindo cbm o seu pensamento Fromm diz:
A existência humana nos coloca fundamentalmente uma questão. O Homem é Quando falamos em nascimento geralmente nos referimos ao ato fisiológico,qm
jogado dentro deste mundo sem a sua vontade e retirado novamente sem a sua se verifica para a criança cerca de nove meses após a concepção. Existe, contudo
vontade. Contrariamente ao animal,que possui instintos e mecanismos de adaptação
ao meio, que visam a sua integração na natúreza, o Homem carece totalmente um aspecto ímpar no nascimento humano. . .
O nascimmto para o homem não é 11m ato, é 11mprocesso. A meta da VIda e nascer
desses mecanismos instintivos. Donde cumpre·lhe viver sua vida, ele não é vivido por ela. plenamente, embora sua tragédia consista em que a maioria dos homens morrerr
Está na natureza e, no entanto, transcende a natureza; tem consciênciade si mesmo, antes de haver nascido plenamente. Viver é nascer a cada minuto. A morte ocorre qlland,
e essa consciência de si como entidade separada fá-Io sentir-se intoleravelmente cessa o nascimento,' psicologicamente, porém, a maioria dentre nós cessa de nascel
só, perdido, impotente. O próprio fato de ter nascido coloca um problema. num certo e determinado ponto. Alguns são totalmente natimortos; continuam a
No momento do nascimento a vida faz uma pergunta ao Homem, e a essa pergunta viver fisiologicamente, mas mentalmente anseiam regressar ao ventre, à terra, às
ele precisa responder. Precisa responder a ela a todo instante; e não é sua mente, trevas, à morte; são eles loucos, ou quase (ibidem, pp. 103-4).
não é seu corpo, é ele, a pessoa que pensa e sonha, que dorme, come, chora e ri _
o Homem lodo - quem precisa responder a ela. Qual é a pergunta formulada pela Esta advertência que E. Fromm nos faz, leva-nos inexoravelmente a
vida? A pergunla é: como poderemos superar o sofrimento, o aprisionamento, refletir sobre uma educação que possa servir ao desenvolvimento da condição
a vergonha que cria a experiência do isolamento; como poderemos encontrar a humana em termos de ser ao invés de ter.
união conosco, com o nosso semelhante, com a natureza? O Homem precisa
responder a essa pergunta de algum modo, e até na loucura ele procura dar uma O que nos propomos mudar não é a busca de uma nova man~ira de
educar, mas sim, uma transformação quase completa sobre o conceIto e a
resposta quando transforma violentamente a realidade fora de si mesmo ou quando
vive completamente dentro da própria casca,superando assim o medo do isolamento significação de educação. .
(Zen Budismo e Psicanálise, 1960, p. 102). Em primeiro lugar a educação não é uma transmissão do c0nI:e~l~e~t~,
de um saber ou até mesmo de uma conduta, mas, sobretudo uma lnlCIaçaO a
Penso que a educação deveria assimila:: e metabolizar esta problemática
vida. Deveríamos, portanto, pensar sobre a vida e verificar que ali está o lugar
ajudando o homem desde a sua infância, não somente, a interagir com os
objetos e as regras do meio, mas principalrnente,a lidar consigo mesmo quer das primeiras interações com um meio mais amplo (natureza e cul.tura);.um
ele queira quer não. A questão é sempre a mesma diz E. Fromm: dos espaços onde o ser começa a viver com os primeiros elementos SImbólico:
que lhe lembram o lugar de onde ,:do (família e ventre); um ~s~aço onde sera
Existem apenas duas respostas frente à mesma e sempre pergunta. Uma delas é
completada a sua gestação para que ele possa enfrentar e aSSImilar o c~ntexto
sobrepujar o isolamento, e encontrar a unidade através da regressão ao eslado de sociocultural. É este um espaço e um tempo intermediário entre o naSCImento
unidade com o ventre que existia antes do despertar da pe,rcepção,antes do nascimento
e o destino, o trabalho, a profissão, a vida madura e adulta. Poderíamos dizer,
do homem. A outra resposta é nascer plmamenle, desenvolver a própria percepção,
a própria razão, apnipria capacidade de amar, a talponto que o homem possa ultrapassar então, que a escola que não leva em consideração este traço de ~nião, interação
o envolvimento egocêntrico, chegando a uma nova harmonia, a uma nova unidade entre a vida egocêntrica, familiar, uterina e a vida psiCOSSoclOcultural com
com o mundo (ibidem, p. 102). todos os seus devidos fatores e correspondentes repercussões de uns sobre os
outros, não poderia ser <;onsiderada uma escola séria e responsável, em termos
A segunda resposta, a mais difícil, a mais complexa, de longa trajetória é
evolutivos e menos ainda no sentido de seqüência e conseqüência para o futuro
aquela que verdadeiramente importa a nós educadores. Pergunto então, a quem do indivíduo.
chega a minha casa como hóspede, se é mais importante apresentar-lhe os
Penso, então, que nós nos encontramos no hal/ de entrada de uma
objetos que lá estão ou os indivíduos que lá vivem. Verificamos que fomos
verdadeira nova educação neste momento histórico.
educados com preocupações que até então sempre procuravam fazer conhecer
Deveríamos, portanto, repensar e suportar uma modificação profunda
mais os objetos que nos circundam do que o homem com o qual nos
relacionamos, seja ele externo ou interno a nós mesmos. do ato e do pensamento educativo.
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Uma educação para o plóximo seX
Frisaria ainda, que a escola deveria considerar que o homem não vive • Uma iniciação à Critica, à interpretação e à transformação do mune
somente em interação com o mundo de uma realidade exterior, mas sobretudo, inovando-o para o seu bem próprio e do Outro.
ele vive uma relação simbólica, com um sofrimento e um destino particular, Acredito que neste momento nos colocamos diante de um novo por
com um mundo interior, que é o de seu desejo, de sua fantasia, de seu de vista relativo a educação e que nos deparamos diante de um aspec
sofrimento. Então, este mundo, aparentemente externo e real, adquire uma totalmente diferente, o qual será provavelmente a perspectiva educativa
nuance toda particular para cada um de nós em relação ao mundo interior; próximo século.
portanto, a escola deve considerar que os vinte e cinco anos que aí passamos
QUAIS SERÃO OS PARÂMETROS QUE MARCARÃO ESTA TRANSFORMAÇAo?
não são simplesmente momentos de construção de novos conhecimentos, mas
de uma vida palpitante, cheia de vicissitudes, de dores e de prazeres c, Novos paradigmas (modelos) no ato educativo revelar-se-ão:
principalmente e em primeiro lugar, de uma "embriologia do ser"
(transformações que seguem uma vocação a ser sujeito). Onde não há na I. Haverá um espaço e um tempo dentro da escola quando poderei coloe
verdade uma transmissão, mas uma construção de conhecimentos e de um em evidência a meus colegas, o mundo em que vivo, minhas idéias, fantasi;
saber que se aprofunda e infere em cada um de. nós proveniente de nossas minhas descobertas, invenções, desejos e sonhos. Estes, emergindo de nos
experiências e símbolos, e de nossa interação com o meio. Meio este repleto núcleo, ligam-se e tomam sentido nos objetos do mundo exterior, isto
de objetos naturais e artificiais, de normas ~ leis, e de outros seres humanos. cada um dentro de si mesmo constrói sua própria ligação, criando seI
Paulo Freire diz: símbolos e valotes, assim como, sua significação especial, e é por me
dessas mesmas significações que o sujeito cria os elos entre o mundo interi,
Para que uma educação seja válida, toda a ação educativa deverá necessariamente e o exterior. E é a partir disso e com isso que devemos respeitar e criar un
ser precedida de uma reflexão sobre o homem, e urna análise profunda do meio
metodologia pedagógica que leve o sujeito ao seu pleno desenvolviment
de vida concreta daquele que se quer educar, melhor dizendo, daquele que se quer
ajudar a se educar. Sem esta reflexão sobre o homem, arriscamos a adotar métodos 11. "O pensamento sendo uma transformação de significações, a compreens~
educativos e de agir de tal modo que o homem ficaria reduzido à condição de nada mais é do que o processo de fabricar significações", diz Piage
objeto. Sem a análise do meio cultural e concreto, corremos o risco de realizar uma
Compreender é dar um sentido a um novo conhecimento num conjunt
educação pré-fabricada e castradora. Para ser válida, a educação deverá levar em
organizado de significações, que possui antecedentes, razões, causas
conta que o fator primordial do homem, sua vocação ontológica, é aquela de Ser-
conexões.
Sujeito e nas condições em que ele vive; em um lugar preciso, em um momento e
num certo contexto (1974, p. 37).
Portanto, a dinâmica (energia), os instrumentos cognitivos (estruturas
O Homem é um ser com raízes espaço-temporais e cabe a ele operar as operações mentais e as figurações (cenas) são de importância vital para
uma transformação, que está entre ele e o mundo, isto é, "realizar um sonho". construção de um saber. O processo e a energia que o move é mais important
Poderíamos, portanto, dizer que o homem é sempre o resultado da ação de que o produto (resultado).
transformação de uma realidade, de sua adaptação a ela e da consciência de 111. A nova percepção ecológica do nosso planeta mudará a atitude da vid
sua capacidade de transformá-Ia. em relação aos objetos exteriores, sejam eles naturais ou artificiais, pouco
Donde poderemos reafirmar que educar é: pouco haverá uma transformação em um novo comportamento relativ .
• Um processo que permite ao homem ser o sujeito de tal ação, e não o objeto aos atos sobre os objetos interiorizados pelo noss'Ü organismo, levando
de outros sujeitos ou muitas vezes do próprio objeto. vida ou à morte, como o ar, os alimentos e as drogas. Isto nos forçará a ur:
• Um meio pelo qual o homem possa "construir-se" como pessoa em termos novo comportamento com relação ao meio em que vivemos, e po
de Ser e não de Ter, ocupando o seu potencial do sentir e do pensar. conseguinte, teremos profundas interferências no pensamento pedagógice
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Aferividade & Inteligência
Uma educação para o pIÓximo século
Conseqüentemente, os novos paradigmas mudarão' Estas grandes linhas do pensamento psicológico que descobrem a alma
a) A postura educativa' .
humana e verificam como se estrutura a cognição de um lado e como se
b) Os objetivos da ed~cação;
encaminha a dinâmica pulsi.onal do outro, nos levam a uma total modificação
c) Os eixos referenciais da educação (informar . e transformação do ato interpretativo do pensamento educativo, com uma
criticar, inovar inventar d b . conteudos, pensar, construir,
d) O s ruveISde
.. ' t '. , esco nr e transformar)' , nova visão de homem que tomará, sem mais, por base ,as seguintes premissas:
, au onomla mtelectual, moral e de responsabilidade além d aquele que vive
1. Todas as traniformações educa/Ívas visam a um "Homem melhor" -
respeIto para com o ser humano em termos de L • ' o
Criança e do Adolescente Lei d D' . eISe normas (Estatuto da de uma harmonia obtida pela vocação ontológica do seu ser, localizado
) 't ' os IreItos Humanos e outros)' num espaço e num tempo em que ele vive nas condições particulares desta
situação.
e c:~e;e:~ ~od~:~~~~::~~~a~;o~ransdisciPlinariedade e do p~nsarnento
O "homem melhor" chegará a ser sujeito através de uma consciência e
Portanto, acreditamos que, questões fund ' , _ de uma reflexão sobre sua situação, sobre seu meio concreto, engajado, prestes
tarefa: amentaIS nos guIarao nesta
a intervir no mundo real para o transformar. Tal critério tem por meta
• Por que estas crianças aprendem? Como elas ~ re;l . , desenvolver autonomia intelectual e emocional, procur~do uma tomada de
aprendem, quando aprendem? Qual é a rela'~ ndem. Com que obJetlvo consciência por meio das atitudes críticas sobre as quais o homem escolherá
interesse , o conhecl'mento , o sab er e o desenvol
çao ' que se destabelece entre o livremente, decidirá e deliberará, no lugar de submeter-se, vivendo assim em
• a aprendizagem ' de hOJ'eum sa er para o uturo?VImento o ser? Poderia ser
b fi cooperação de forma autônoma e responsável. Evidentemente que aí teremos
Por que estas cnanças não aprendem? implicados os aspectos de responsabilidade, profunda lado a lado com o da
A interpretação e o destino destas res o . . liberdade e da autonomia. O homem sujeito será o fruto de uma educação
são
, apresentados na probl ., p stas
ematlca que envolve a ed na malona
-. das
. vezes não para a liberdade quando terá como conseqüência a percepção correta de como
Ideologia
, que se propõe d .
a e ucar, e permanece e t ucaçao,. mUlto menos na responder a essa liberdade ante o mundo social em que vive; perceberá, por
Incompetente , ante o ser h umano e am. d a mais di s e UnJverso
d d totalmente
. meio da reversibilidade, o quanto o outro está implicado em sua liberdade e o
amadurecido deste. ' ante o esenvolvlmento quanto todos têm os mesmos objetivos, de ordem e harmonia, consciente ou
Devemos aí acrescentar e tornar evidente _ _ inconscientemente.
um modismo deste fim d . L . que.a nova educaçao nao será Verificamos que o binômio liberdade/responsabilidade implica elevar
, , e secu o, uma IdeologIa d .
sImplesmente a uma conclus-ao estetlca
•. d e prazere dque po ,.ena nos levar os níveis de harmonia cósmica e de respeito entre os seres humanos, buscando,
ou ,ainda, de uma máscara , ou mesmo d'e uma roboti s, e -aparencIas,. de slaltls assim, a diminuição de um conflito, seja ele interno ou externo ao homem,
raclOnalismo informatizado do fim de' u . . ?aç~o ao servIço de um visando a dignidade e a auto-estima.
Acreditam _ ma epoca IndustrIal e consumista. O homem deverá reorganizar-se e integrar-se em fi mesmo para que
os que a nova educaçao seja r 1
ela sofrerá a influência de duas d ea.mente uma Iraniformação, pois sincronicamente possa procurar transformar a sociedade em tudo que esteja
. , gran es correntes de pens .
o SUJeItocomo também d' amento atualS sobre ao alcance de sua cbmpreensão, pois ele" ao mesmo tempo, se
Antiga q~e nos mostra um ~~m renascIment~ ~os ideais humanistas da Grécia autocompreendeu. Parafraseando Paulo Freire: para o homem, o mais dificil
pós-moderno. Estamos falandvoo qduadro:a Pa~d:la,renascida no berço do mundo de ver de modo claro é, no fundo, a sua própria vida.
da escola de Geneb o constrUtlVlsmo' da' epIstemo I'0gIa genetlca
..
ra, que tem como líd J P' ' 2. A educação pré-escolar deverá ser projilática para a vida, e enfocará tendo como
uma psicanálise que na-otem somente como er ean fi Iaget;
.I estamos
' falando de objetivo "a embriologia do ser". Assim, da mesma forma que damos uma
de Freud, mas colaboradores tais como' Win~e erenCIa m.aJOro,pensamento atenção toda especial a uma mulher grávida pelo fato de que a criatura ali
DoIto, Lacan e por que não de J .'d _ cott, Melarue Klem, Françoise em desenvolvimento possa chegar a bom termo, protegida das agressões
ung, aIn a nao totalmente compreendido.
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Afeuvidadc & Inteügência
Urna educação para o próximo século
profundamente (e nisto estamos apenas começando) eúe "meio uterino" que CONSE~Ü~NCIAS SOBRE A EDUCAÇÃO EM FUNÇÃO DOS ESTUDOS E DAS PESQUISAS
contém o embrião do ser e dar a este a proteção, ,a oxigenação, o alimento EFETUADOS, POR EXEMPLO , PELA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA, PELO
adequado para que ele possa se desenvolver. Com este cuidado, então, a criança CONSTRUTIVISMO E PELA PSICANÁLISE?
será forte, sadia, para defender-se, para procurar e assumir o seu destino de
sujeito após a idade da razão.
Considerando que, inicialmente ;pós os estudos e pesquisas de Freud,
Sendo esta a profilaxia, não nos esqueçamos de que o homem tem uma bservar que "o organismo funciona como um suporte d~ processo
passou-se
de inscriçãoa o do significante"
, (Lajonquiére, 1992, .p. 19) . I .sto que: dizer que a '
vocação, de ser sujeito e nós devemos protegê-lo até o momento em que ele a
tomará a seu encargo com sua própria vontade e inteligência. lavra ela mesma ou as representações psíqu1cas do lnCOnsc1ente que. se
paI .' umas com as outras independentemente de nossa vontade, aquem
3. Os oo/etos internos inconscientes que estão em interarão constante com o ~o através de re aClOnam .. texto escnto so bre e
de nossa própria consciência, compõe um verdade1ro
fantasias, sonhos, sensaçõese desdos, develiam ter a mesma importância dos oo/etos externos. entre o soma.
O meio interno do homem que tem suas raízes biológicas energizando
seus próprios instintos e pulsões deverá ser decifrado, interpretado e . 'ue se constitui como estrutura bioan:ltômica e que vive o
compreendido, tendo a mesma importância que seu meio externo, sem esquecer
res,
("')ulAtaSSdIOmdoaoarÇb~aolU~:ol;jS
de hereditariedade biológica,Ih da "evolução
. "Intenso
~a espécdie,
o
que cada objeto construído em nosso espírito tem uma profunda e intensa
nsforma "o otraba
deverá neste caso suportar especificamente trabalha e o atravessa a t'e o
~ clruqpco
ligação com nossas emoções, formando assim o campo simbólico e o figurativo,
significante
transformar Oll
de da
forma
palavra
que que
se torne
o tra maIs. um'. mIto que u. ma realidade (Saal,
como também o sistema de figurações (sonhar, fantasiar, brincar e trabalhar).
Braunstain, 1980, p. 97 in Lajonquiêre, 1992, p. 19).,
4. Nós não podenlos dar nozes àqueles que não têm dentes,' cada ato e procedimento
A pS1'canálise portanto, nos mostra que onde acre di tavamos
. ver um
corresponde a uma estrutura e cada objeto será absorvido e integrado em
" . , . d er Sabemos
nossa consciência de acordo com a capacidad,~ metabólica da estrutura
que o assimila. or anismo somático deveremos agora escutar a eXl~tencI~ . e um s. _
o~ outro lado, através dos estudos da epistemologla genetlca, qu~ as.açoes do
Admitamos, portanto, que durante o desenvolvimento o organismo ~omem sobre o objeto ou o meio, manifestam uma corres~ondenC1a c?~ as
cognitivo e afetivo se transforma e a cada etapa haverá uma maneira especial
estruturas cognitivas que lá estão em seu interior, em seu SIstema cogrutlV~ e
de captar o objeto a ser conhecido e a educação deverá estar atenta a isto. que estas mesmas a~ões. ~orrespondem a significações tanto no sentl o
Devemos olhar e dar mais importância às estruturas que assimilam esses inteligente como no sImbolico. .
A cada açãohaver:a um esquema que lhe corresponde e que serIa
objetos, que a eles próprios,
informação. valorizando, assim, mais o pensamento que a
revelado por ela mesma. Haverá, então, sempre um conteúdo ~~e corres~o~~:
Com isto queremos dizer que a educação deverá se voltar à gênese dos mesma medida a esses mesmos atos. Isto quer dizer que ~ urna maq.
na . iI I b ue alem do maIS se
objetos "metabolizados" (assimilados e reconstruídos), dando, assim, justa que "pensa" um pensamento, que aSSim a, ~ a ora e q
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Uma cxiucação para o próximo séculc
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Uma educação para o próximo século
~o~~::~:~:~~,
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um intestino que absorve as macromoléculas de proteínas, aminas, vitaminas
e leva alimento às células do corpo.
Assim como há instrumentos e estruturas que transformam o alimento
compreender a geografia? mente a orgamzaçao espacial, como poderá
Verificamos então que al di' lin para que o corpo possa dar continuidade a sua vida, assim também
nos vemos inserid~sou r:lacio~~o;u~r sep a nos interessa na medida em que encontraremos máquinas que transformam as informações e a isto podemos
estruturas es a . '. u mesmo por outro lado, quando possuímos dar o nome de "digestão da informação". Assim como a alimentação digerida
enten damos Pumço-temporaIs
. e, caUSaIS
,suficientes para compreendê-Ia. para que fará com que a célula contin~e sua vida dentro de um organismo complexo,
contendo países eC~~~I:n:~n:;~c;ssariO c~7reendê-Io espacialmente como assim nosso pensamento com as informações digeridas ,manterá também a
com ree did _ or um g o o terrestre. Um povo é sempre organização social que há entre o eu e o mundo externo.
e empfunn_
çao dO
eem funçao de suas
guerras' - relações
d - estabelecidasao longo de sua histo'n'a, Outro fator que acreditamos começará a pesar sobre a nova educação,
U. ' Invasoes,pro uçao de bens e comércio aí estabelecidos é o aspecto ecológico, pois' se abre uma nova consciência sobre o mundo. Isto
m no corre em relação aos altos e baixos das .
o conduzem. Não h'a pOSSI 'bili'dades de ser entenclid·
. montanhas e os. vales que quer dizer que o planeta e os animais que o habitam, ou seja, a parte viva que
I
relações contextuais que a ide tifi. ,a qua quer COIsasem as forma o contexto no qual vivemos, torna-se cada vez mais,.diante de nós, uma
que im n l~am, e pensar e estabelecer relações. Eis aí o entida?e a ser respei;:ada, assim como nós mesmos.
UPm°rtan~ processo
proressor de g educauvo:
fi' aprender
. a aprender e aprender a pensar . Acreditamos que a educação jamais nos deu consciência de habitarmos
alUI J ter coordenações e;gra ~a.JamaIspensaria que fosse necessário ao seu um planeta, vivo e pulsante, e estarmos imersos em uma natureza que
desenvolvimen '. spa:IaIs ou mesmo temporais ou até mesmo o deveríamos conservllr viva para dar continuidade a nossa própria vida.
substância e ba:~ pd:r:Igruumfipcaçoes
e rep~efisentaçõesque pudessem então dar Um novo nível de consciência pesa sobre nossa época, isto é, que este
ensar geogra lCO.
Quando poderíamos imagin . planeta tem uma vida própria (uma grande nave espacial caminhando pelo
distâncias e alturas fossem estrutu ar q~e.a geometna espacial, a percepção de universo) e em não havendo respeito, não poderemos conviver ou mesmo
simples geografia? Dizer cinco ~SAtao Importantes na c?mpreensão de uma continuar a nossa própria vida. Torna-se então, necessário considerarmos esta
nada, mas dizer oito quilômetro; d;~::~sdentre uma CIdade e. o~tra não é harmonia e continuidade que existe entre nosso corpo, seu interior e a natureza
que é a mais alta do mundo. e uma montanha sIgrufica dizer na qual estamos envolvidos.
A esta coordenação do pensam . . COMO FAZER ENTÃO PARA QUE POSSAMOS PROMOVER EM NOSSAS CRL~ÇAS
e relações é que deveremos da ~n.to com suas relatIvas SIgnificações
r a necessana atenç- N- d A CONsCltNCIA DE QUE DEVEMOS RESPEITAR o AR QUE RESPIRAMOS, OS ANIMAIS
preencher o aluno com um funil e atraves 'd' este Introd
ao. ao. pod eremos. t: entupir e QUE VIVEM A NOSSA VOLTA E A VEGETAÇÃO QUE PRODUZ OXIGtNIO PARA A
possíveis e depois deduzir I UZIrto as as Inrormações CONTINUIDADE DA VIDA?
num momento . _ que e e mesmo, tendo seu "estômago" repleto, possa
N' de avaliaçao saber pensar e resolver questões de conhecimentos Como dar essa consciência a essas crianças de tal contexto ecológico
os esquecemos que os alimentos ue 1 •
terrivelmente complexo?
somente após uma digestão e metaboli ~ co ocamQs na nossa boca,
Acreditamos serem fatores sobre os quais deveremos pensar
apropriados para esse fim alimentará t:1~0 adequada através de órgãos
continuidade da vida.' nosso corpo, promovendo a profundamente em termos de educação, pois não é suficiente a criação de
Portanto devemos d" t:
novas leis ou escrever "é pt;üibido" em cada canto, para que possamos implantar
digestã " '
1
Igenr, transLOrmar com nossas" maqUInas
,. de a clara visão dos valores ecológicos.
Pensamos que a criança deveria ter uma ligação cultural e educacional
que m;st'igCao~~::I::a~ ~:m~s~~t:agP:rq:árias ~dstruturas,o~ s.eja:uma boca
e agn e com os aCIdos e digere; com os animais e com os vegetais que aí estão, para nossa sobrevivênci.a.
tO
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Afetividade & Inteligência
'",' Uma educação para o próximo século
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