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lestinos se infiltraram na alma de Israel, trabalham esta alma co-


POSFÁCIO À E D I Ç Ã O A M E R I C A N A :
mo algo que a cada dia a sonda e a fura.
" U M RETORNO A BERGSON"*
[1988]/313j

RODAPÉ DA TRADUÇÃO

' A versão árabe do trecho é a seguinte: "Chamei o Irgun de terrorista,


não apenas porque atacou o centro geral de comando inglês, mas porque des-
truíram aldeias inteiras e também porque suprimiram a existência de Deir
Yassin" (encontrado em www.grenc.coni/show_article_main.cfm?id=12092). U m "retorno a Bergson" não significaria apenas uma admi-
Deleuze, com efeito, já associava o Irgun a um terrorismo sionista no texto ração renovada por u m grande filósofo, mas sim uma retomada
34, "Grandeza de Yasser Arafat".
ou u m prolongamento, hoje, de sua tentativa, em entrelace com as
" Abu Jihad ("pai da luta") é um segundo nome — que os árabes cha- transformações da vida e da sociedade, concomitante com as trans-
mam de kunyah — , uma espécie de epíteto. O nome de nascimento de Abu formações da ciência. É o próprio Bergson que estimava ter feito
Jihad era Khalil al-Wazir.
da metafísica uma disciplina rigorosa, capaz de ser continuada se-
gundo vias novas que aparecem constantemente no mundo. Pare-
ce-nos que, assim compreendido, o retorno a Bergson repousa em
três caráteres principais.

1. — A intuição: Bergson concebe a intuição, não como u m


chamado inefável, uma participação sentimental ou uma identi-
ficação vivida, mas como u m verdadeiro método. Este método se
propõe, primeiramente, a determinar as condições dos proble-
mas, ou seja, denunciar os falsos problemas ou questões mal co-
locadas, e descobrir as variáveis sob as quais este ou aquele pro-
blema deve ser enunciado como t a l . Os meios empregados pela i n -
tuição são, por u m lado, u m recorte ou uma divisão da realidade
em u m domínio dado, seguindo linhas de natureza diferente, e, por
outro, uma intersecção' de linhas emprestadas de domínios diver-
sos e que convergem umas com as outras. É esta operação linear
complexa, consistindo em recortar seguindo as articulações e em
interseccionar segundo as convergências, que leva à boa formula-

* Título do editor francês. Este texto foi publicado com o título " A Re-
turn to Bergson", in Gilles Deleuze, Bergsonism, Nova York, Zone Books,
1991, pp. 115-8. Traduzido por Hugh Tomlinson. O texto datilografado, da-
tado de julho de 1988, traz o título "Posfácio para O bergsonismo".

Gilles Dclcii/c Posfácio à edição americana: "Um retorno a Bergson" 355


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ção de u m problema, de tal maneira que a solução mesma depen- adjetivo, mas u m verdadeiro substantivo: assim, ele denuncia co-
da disso. [314] mo u m falso problema o tema tradicional do uno e do mútiplo. A
origem da palavra. Multiplicidade ou Variedade, é físico-mate-
1. — A ciência e a metafísica: Bergson não se contentou em mática /315j (Riemann). É difícil acreditar que Bergson ignore tan-
criticar a ciência como se eia se ativesse ao espaço, ao sólido, ao to sua origem científica quanto a novidade de seu uso metafísico.
imóvel. Ele pensava, na verdade, que o Absoluto tinha duas "me- Bergson se orienta para uma distinção de dois grandes tipos de
tades", às quais a ciência e a metafísica correspondiam. É n u m úni- multiplicidades: umas, discretas ou descontínuas, outras, contí-
co impulso que o pensamento se divide em duas vias, uma em d i - nuas; umas espaciais, outras, temporais; umas atuais, outras, vir-
reção à matéria, seus corpos e seus movimentos, outra em direção tuais. Este será u m motivo fundamental na confrontação com Ein-
ao espírito, suas qualidades e suas mudanças. Desde a Antiguida- stein. Ainda aqui, Bergson tenciona dar às multiplicidades a me-
de é assim: enquanto a física entrelaçou o movimento a posições tafísica exigida pelo tratamento científico delas. Este talvez seja u m
e momentos privilegiados, a metafísica constituiu formas transcen- dos aspectos mais desconhecidos de seu pensamento, a constitui-
dentes eternas, de que decorriam aquelas posições. Mas a ciência ção de uma lógica das multiplicidades.
dita moderna começa, ao contrário, quando se entrelaça o m o v i -
mento ao "instante qualquer": ela pede por uma nova metafísica Reencontrar Bergson é seguir e perseguir nessas três direções.
que nada mais considere senão durações imanentes, variando i n - Notar-se-á que a fenomenologia também apresentava esses três
cessantemente. A duração será, para Bergson, o correlato metafí- motivos, da intuição como método, da filosofia como ciência rigo-
sico da ciência moderna. Sabe-se que ele escreveu u m livro, Dura- rosa e da nova lógica como teoria das multiplicidades. É verda-
ção e simultaneidade, em que se confrontava com a relatividade de que tais noções são compreendidas muito diferentemente nos
de Einstein: se tal livro suscitou tantos mal-entendidos, é porque dois casos. Tanto menos convergência possível não há, como pô-
se acreditou que Bergson buscava refutar ou corrigir Einstein, ao de ser visto na psiquiatria, em que o bergsonismo inspirava os tra-
passo que queria dar à teoria da relatividade a metafísica que lhe balhos de M i n k o w s k i ( O tempo vivido),^ e a fenomenologia, os
faltava, graças a novos caráteres da duração. E na obra-prima Ma- de Binswanger (O Caso Suzanne Urban),^ para uma exploração
téria e memória, Bergson tira de uma concepção científica do cé- dos espaços-tempos nas psicoses. O bergsonismo torna possível
rebro, à qual, por sua vez, ele muito contribui, as exigências de toda uma patologia da duração. N u m artigo exemplar sobre a "pa-
uma nova metafísica da memória. Para Bergson, a ciência jamais ramnésia" (falso reconhecimento), Bergson invoca a metafísica pa-
é "reducionista", mas reclama, ao contrário, a metafísica, sem a ra mostrar como a lembrança não se constitui após a percepção
qual permaneceria abstrata, privada de sentido o u de intuição. presente, mas lhe é estritamente contemporânea, pois a duração se
Continuar Bergson hoje em dia é, por exemplo, constituir uma divide, a cada instante, em duas tendências simultâneas, uma i n -
imagem metafísica do pensamento que corresponda aos novos tra- do para o porvir e a outra recaindo no p a s s a d o . E l e também i n -
çados, trilhas, saltos, dinamismos descobertos por uma biologia
molecular do cérebro: novos encadeamentos e reencadeamentos
^ Eugène Minkowski, Le Temps vécu, Neuchâtel, Delachaux & Nies-
no pensamento. tlé, 1968; reed., Paris, PUF, col. "Quadrige", 1995.

Ludwig Binswanger, Le Cas Suzanne Urban: étude sur Ia schizophré-


3. — As multiplicidades: desde os Dados imediatos,^^ Berg- nie, tradução francesa de Jacqueline Verdeaux, Bruges, Desclée de Brouwer,
son define a duração como uma multiplicidade, u m tipo de m u l t i - 1957.
plicidade. É uma palavra insólita, pois já não faz do múltiplo um ' In VÉnergie spirituelle. Paris, PUF, 1919, pp. 110-52.

Gilles Deleuze Posfácio à edição americana: "Um retorno a Bergson"


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voca a psicologia, para então mostrar como uma falha da adapta- 50
ção pode fazer com que a lembrança invista o presente como tal. O Q U E É U M DISPOSITIVO? *
A hipótese científica e a tese metafísica não param de combinar- [1988] [316]
-se, em Bergson, para retraçar uma experiência integral.

RODAPÉ DA TRADUÇÃO

' O termo traduzido aqui é recoupetnent, como o "fato de uma linha


entrar em intersecção com outras" (cf. o dicionário virtual cnrd.fr/definition/
A filosofia de Foucault é frequentemente apresentada como
recoupement). No texto, recoupetnent e seu verbo recouper (que se traduziu
por "interseccionar") ressoam com découpage ("decupagem") e seu verbo
uma anáhse dos "dispositivos" concretos. Mas o que é u m dispo-
découper ("decupar"). sitivo? Primeiramente, é uma meada, u m conjunto multilinear. Ele
é composto de linhas de natureza diferente. E essas hnhas, no dis-
" Os dados imediatos da consciência, livro de Bergson, publicado em
1889. Matéria e memória é de 1896; Duração e simultaneidade, de 1922. positivo, não cercam nem rodeiam sistemas, dos quais cada u m se-
ria, por sua vez, homogéneo — o objeto, o sujeito, a linguagem
etc. — , mas seguem direções, traçam processos sempre em dese-
quilíbrio e ora se a p r o x i m a m , ora se distanciam umas das outras.
Cada linha é rompida, submetida a variações de direções, bifur-
cante e forquilhada, submetida a derivações. Os objetos visíveis,
os enunciados formuláveis, as forças em exercício, os sujeitos em
posição são como vetores ou tensores. Assim, as três grandes ins-
tâncias que Foucault distinguirá sucessivamente. Saber, Poder e
Subjetividade, de modo algum têm elas contornos definidos de uma
vez por todas, mas são cadeias de variáveis que se disputam entre
si. É sempre numa crise que Foucault descobre uma nova dimen-
são, uma nova linha. Os grandes pensadores são u m pouco sísmi-
cos, eles não evoluem, mas procedem por crises, por abalos. Pen-
sar em termos de linhas moventes era a operação de Herman M e l -
ville, e nele haviam linhas de pesca, linhas de mergulho, perigosas,

* In Michel Foucault philosophe. Rencontre Internationale, Paris, 9,


10, 11 janvier 1988, Paris (coletivo), Seuil, 1989, pp. 185-95. Uma versão
parcial desse texto tinha primeiramente aparecido na revista Magazine Litté-
raire, n° 257, setembro de 1988, pp. 51-2. Aposentado desde 1987, a parti-
cipação de Gilles Deleuze nesse colóquio é sua última intervenção pública. A
ata das discussões — de que o editor apresenta apenas um resumo — não foi
conservada.

358 Gilles Deleuze O que é um dispositivo? 359

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