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Bruno Novo de Castro


Médico Interno de Saúde Pública
- ULS do Alto Minho - Viana do
Castelo
O Cuidador Informal:
um super-herói invisível

O estatuto do Cuidador Informal tem sido um tema amplamen-


te discutido na praça pública portuguesa. Muitas são ainda as
dúvidas e as incertezas quanto ao futuro destes verdadeiros
guardiões e defensores da vida. Raramente ouvidos, são fre-
quentemente o “fim da linha” dos cuidados de saúde e seria
expectável que a sua segurança e estabilidade estivessem
asseguradas. Mas não é isso que acontece…
Quando se fala em Cuidador Informal, muitas são ainda as dúvidas nas
mentes das pessoas. É alguém que apenas “cuida”? É apenas aquele
que é pago para cuidar de alguém? É alguém com treino para cuidar de
outro? A verdade é que todas estas respostas fornecem aquela que é
a definição internacionalmente aceite para Cuidador Informal1. De um
ponto de vista técnico, este cuidador é aquele que mantém uma relação
próxima com o indivíduo cuidado, sem qualquer formação profissional
na área, sem contrato de trabalho e vencimento e nenhum estatuto
social definido. Numa primeira abordagem seria de pensar que este
tipo de cuidados é o mais eficiente: não existirão custos implicados ao
sistema de saúde. Esta ideia é reforçada por estudos internacionais2,
onde se concluiu que se os cuidados informais fossem pagos, esse valor
poderia representar parcelas significativas do PIB dos respetivos países.
Todavia, esta visão é amplamente distorcida: consome enormes quan-
tidades de tempo, é mentalmente extenuante e fisicamente exigente,
refletindo-se negativamente no estado de saúde do cuidador. São inú-
meras as revisões meta-análises nacionais e internacionais que compro-
vam que o cuidador está particularmente suscetível a sintomatologia
depressiva3 e diversos outcomes negativos de saúde4.
Seria então de prever que estes indivíduos fossem uma preocupação de
todos os Estados, dada a sua preponderância na prestação de cuidados
Referencias Bibliográficas:
de saúde. Mas aqui surge o primeiro entrave: não são. A verdade é que
1 - Triantafillou J. Informal care in the long-term
care system. European Commission; 2010. escasseiam estudos sobre o seu verdadeiro número e as suas especifi-
2 - Hirst, Michael Anthony (2005) Estimating the
cidades em saúde. Em Portugal, por exemplo, desconhecem-se quantos
prevalence of unpaid adult care over time. Re- cuidadores informais existem, qual o tipo de trabalhos que executam,
search, Policy and Planning. pp. 1-16.
com que carga horária e, ainda menos, qual o seu nível de saúde. As-
3 - Schulz R, Beach SR. Caregiving as a risk factor
for mortality: the Caregiver Health Effects Study. sim, a necessidade de identificar, questionar, investigar e intervir nesta
JAMA. 15 de Dezembro de 1999;282(23):2215–9. população assume-se como uma das grandes prioridades em Saúde
4 - Pinquart M, Sörensen S. Differences between nos próximos tempos.
caregivers and noncaregivers in psychological
health and physical health: a meta-analysis. Mas quem são afinal estes indivíduos que todos os dias se debatem
Psychol Aging. Junho de 2003;18(2):250–67. com dificuldades, mas que fazem com que o Serviço Nacional de Saúde

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seja ainda uma realidade? Na verdade, são homens da. Sim, porque a vida do cuidador é de silêncio e
e mulheres como todos nós, imbuídos de um forte sofrimento, mas também de muita solidão.
espírito de missão e com uma resiliência acima da O Cuidador Informal é o derradeiro guardião do
média, que lhes permite superar barreiras físicas, Serviço Nacional de Saúde. E digo guardião na ver-
logísticas e pior ainda, burocráticas. São pessoas dadeira aceção do termo. É aquela senhora de 70
que decidem abdicar de uma vida de previsível (e anos, sem escolaridade e já com limitações físicas,
merecido) descanso e conforto em prol de um bem mas que consegue hidratar o marido com uma
maior: o prolongar da vida de alguém que lhes é seringa; é o homem de 80 anos, que também nada
querido. São pessoas que diariamente desafiam os percebe de terapêuticas, mas sabe adicionar espes-
limites da resistência e perseverança humanas. E sante à água para a esposa não a aspirar. É aquela
que tardamos em lhes reconhecer o devido mérito. pessoa que chora de felicidade ao ver o cônjuge
Foi com este misto de admiração e interesse profis- capaz de andar mais um metro do que ontem, com
sional que me propus a conhecer algo mais sobre a ajuda do andarilho, nos seus exercícios de reabili-
esta população: quem são, que idade têm, qual a tação. E, veja-se a ironia de tudo isto, é agradecido.
sua situação laboral e relação com o indivíduo a Agradecido perante os profissionais que todos os
cuidar e, não menos importante, de que forma se dias lutam a seu lado, num país que ainda não os
sentem sobrecarregados com a sua tarefa diária. reconhece como os verdadeiros heróis que são.
Acompanhei os enfermeiros das equipas de Cuida- Com o trabalho que efetuei nas últimas semanas
dos Continuados Integrados (outros heróis silen- tive a certeza que sem estes elementos, o SNS rui-
ciosos do nosso SNS) nas suas visitas domiciliárias ria em semanas. São eles que impedem os centros
para falar e questionar os Cuidadores Informais da de saúde e os hospitais de implodir com excesso
área de abrangência da Unidade Local de Saúde de utentes e nós, como profissionais de saúde, mas
onde trabalho. E encontrei muito do que já espera- também como utentes, devemos sentir admiração,
va: pessoas movidas por fortes ligações emocionais mas também agradecimento para com todos estes
que têm derrubado os obstáculos que vão surgin- heróis. Eu nasci num país que sempre foi parco
do. Mais mulheres, com idades acima dos 50 anos, em verbas e recursos da mais variada ordem, mas
reformadas ou desempregadas (muitas vezes por que nunca o foi num campo: o da gratidão. Assim,
força da situação), com baixos níveis de diferencia- como cidadãos, dirijamos-lhes as merecidas pala-
ção. Perante o que observava e tendo contactado vras: MUITO OBRIGADO.
com situações socialmente críticas até, esperava
fortes repercussões no bem-estar psicológico e na
sobrecarga associada. Mas é aqui que
algo me surpreende: esses laços de
afeto e o forte espírito de missão que “Aquilo que de verdadeiramente
os move, confere tal resistência que significativo podemos dar a alguém
os sintomas de sofrimento psicológico
(ansiedade, depressão ou somatização) é o que nunca demos a outra pessoa,
não são a regra, mas sim a exceção.
Se a componente psicológica é estra-
porque nasceu e se inventou por obra
nhamente (ou não) robusta, o mesmo do afeto. O gesto mais amoroso
não se pode dizer da sobrecarga física,
psicológica e emocional associada
deixa de o ser se, mesmo bem sentido,
ao ato de cuidar. Com a aplicação do representa a repetição de incontá-
respetivo questionário validado para
a população portuguesa, constatei de
veis gestos anteriores numa situação
imediato que são pessoas desgasta- semelhante. O amor é a invenção de
das, erodidas por anos de dificuldades
económicas, sociais e logísticas. Todos tudo, uma originalidade inesgotável.
vivem numa angústia constante por Fundamentalmente, uma inocência.”
temer o futuro da pessoa que cuidam
e por se sentirem isoladas nesta jorna- Fernando Namora, in ‘Jornal sem Data’

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