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O quê? Descrição
Como? Explicação
Como?
Quais os aspectos subjacentes ao desenvolvimento?
Mudanças Quantitativas
Construtivista (Piaget)
- Piaget é o primeiro a afirmar que a criança tem um papel activo no seu
desenvolvimento. A criança é que decide se quer ou não desenvolver determinada área, de
acordo com as suas capacidades. A estimulação, apesar de não ser aproveitada a 100 %, é
tida em conta. A criança é que faz a mediação entre os factores endógenos (as suas
capacidades) e os factores exógenos (estímulos do meio). O desenvolvimento resulta da
interacção social e da informação biológica que tê igual peso no processo de
desenvolvimento.
“O desenvolvimento não é uma cópia da realidade, o conhecimento resulta da forma como
modificamos e transformamos o mundo. Nesta perspectiva, esforçando-se activamente por dominar o seu
ambiente, as crianças constroem elevados níveis de conhecimento, para os quais contribuíram a maturação e
as circunstâncias ambientais”
Co- Construtivista (Vygotsky, Valsiner)
- O papel activo não é exclusivo da criança, mas também dos pais e adultos.
A interacção entre o biológico e o social não é directa, mas sim mediada pela cultura (crenças,
valores, religião, costume). As capacidades são universais, ou seja, todos os indivíduos têm
as mesmas capacidades, mas como o desenvolvimento é mediado pela cultura, este varia de
pessoa para pessoa. Os problemas são resolvidos exteriormente e só depois interiorizados.
Ecológica (Bronfenbrenner)
- Bronfenbrenner pega na “cultura” de Vygotsky e sub divide-a. O desenvolvimento
é influenciado por todos os contextos e sistemas em que a criança se inclui. Todos os
contextos dão uma aprendizagem diferente às crianças, influenciando o seu
desenvolvimento. Este, deve ser estudado tendo em conta o meio natural (família, creche,
amigos, vizinhos) e não num laboratório. Todos os meios estão inseridos em sistemas:
microssistemas (casa /escola/ relação entre família – criança -professores);
messosistemas (escola/casa/religião); exossistemas (concelho escolar, governo local,
emprego dos pais) e macrossistemas (valores/cultura numa sociedade).
Capacidades Precoces
As capacidades precoces são as capacidades que o bebé possui desde que nasce, passando
pelo respectivo processo de desenvolvimento (biológico, comportamental e social) até cerca
dos 2 meses e meio/3 meses. Tudo aquilo que é sensorial vai ser muito mais absorvido nesta
altura, do que mais tarde. Isto mais a percepção Vão ser os pontos de partida para as
operações mais complexas.
William James comparava o mundo do bebé ao modelo “Tábua Rasa”, isto é, a interacção
era desnecessária pois considerava-se que não tinham capacidades sensoriais, só havendo a
necessidade de satisfazer as suas necessidades básicas (mudar a fralda, alimentar e pôr a
dormir). Os bebes eram vistos como seres passivos.
Nos últimos 20 anos as investigações relacionadas com as capacidades sensoriais do bebé,
demonstraram que estes tem grandes capacidades sensoriais e de aprendizagem. O bebé não
é um ser passivo puramente expectativo, é um processador activo de informação através dos
órgãos dos sentidos. Quando falamos de capacidades precoces estamos a referirmos nos, às
capacidades sensoriais e de aprendizagem. O bebé é um processador activo de informação
através dos órgãos dos sentidos. Tudo aquilo que é sensorial vai ser muito mais absorvido
nesta altura, do que mais tarde. Sendo assim, a percepção vai ser o ponto de partida para
operações mais complexas (raciocínio, inferências, solução de problemas, etc).
Existe um rápido aumento do número e complexidade dos neurónios dos bebés no
cérebro e em outras partes do sistema nervoso central, a sua visão e movimentos melhoram
significativamente, permitindo-lhes ser mais reactivos relativamente às pessoas e ao meio que
os rodeia.
Anos 90 – as crianças nascem com extraordinárias capacidades para compreender e
agir sobre o mundo, e que não são imediatamente reveladas pelo seu comportamento
observável.
Paradigmas de Investigação
Surpresa: Expressão facial de surpresa quando acontece algo que o bebé não
espera/inesperado
Preferência: O bebé observa por um período mais extenso o que gosta.
Habituação / Desabituação: Declínio da atenção à medida que um estímulo é
repetido e se torna familiar; Reemergência do interesse quando o estimulo é modificado
(Desabituação).
Capacidades Sensoriais
Visão
Audição
Olfacto
Paladar
Tacto/Sensibilidade Tónica/Vestibulares
Visão:
- A maior parte dos estudos feitos sobre as capacidades precoces do bebé estão
relacionadas com a visão, que é o canal pelo qual captamos entre 80% a 90% da informação
que processamos. A visão dos bebés é limitada, não possuem a capacidade de coordenar o
movimento ocular, o que origina uma visão do mundo algo desfocada; são míopes e
incapazes de focar objectos a uma distância superior a 20 cm, isto é, o sistema visual do bebé
apenas está preparado para ver a 20 cm (distância a que habitualmente se encontra da cara
da mãe, o que mostra que do ponto de vista evolutivo está preparado para estabelecer
ligações com outro membro da raça humana); discriminam facilmente o brilho e a cor, só a
partir dos dois meses é que discriminam perfeitamente todas as cores. Contudo, quando duas
cores são igualmente brilhantes, os bebés não descriminam a diferença entre elas. Os bebés
preferem estímulos em movimentos a estímulos parados, demonstrando também preferência
por estímulos (complexos; com formas ovais; com cor; de luminosidade média; em
movimento). Com 2 dias o bebé já reconhece a face da mãe. Até aos 3 meses não há nada
que atraia mais o bebé que a face humana. Aos 8 meses a visão fica semelhante a de um
adulto.
Audição:
- Os bebés conseguem discriminar entre tons de diferentes alturas e intensidade,
demonstram uma preferência por sons agudos e prolongados (falar «à bebé», falar devagar
para adormecer), e uma clara preferência pela voz da mãe em relação à voz de outras
mulheres, sendo capazes de se orientar para uma fonte sonora, ou seja, apesar de não
descriminarem todos os sons do espectro como os adultos, distinguem sons e são capazes
de se orientarem para a fonte sonora. A audição é quase semelhante ao adulto. Aos 2 meses
os bebés são capazes de distinguir vários fonemas (Eimas, 1985), de todas as línguas. Esta é
uma capacidade que os bebés perdem ao longo do desenvolvimento. Entre os 6 e os 8 meses,
os bebés começam a reproduzir os sons da língua materna. Os recém-nascidos preferem o
som da voz humana…
Olfacto/Paladar:
- Os bebés têm preferências olfactivas tais como o cheiro do leite da mãe em
comparação com outros leites (já o distinguem com 8/10 dias). Os recém-nascidos
distinguem o doce do amargo, preferem o doce (até na vida intra-uterina), recusando os
ácidos e os salgados. Possuem mais papilas gustativas que os adultos e distinguem diferentes
odores. As expressões faciais, em resposta a diferentes sabores, assemelham-se às dos
adultos.
Tacto/Sensibilidade Tónica/Vestibulares:
Tacto - Os bebés têm sensibilidade táctil em relação à tonacidade muscular, como por
exemplo em relação à temperatura da água do banho (mudanças de temperatura);
Vestibulares - As capacidades precoces inatas que se manifestam desde o início e que estão
ao serviço da relação com o outro. O bebé é capaz de processar informação pelo ouvido
interno sobre a sua posição e sobre o seu equilíbrio. Segundo Wallon, o primeiro medo do
recém-nascido é o medo de cair, pois antes de nascer está no líquido amniótico e depois, ao
nascer, vai sofrer o efeito da gravidade. Daí que quando se encontra numa posição
desconfortável, chora. Estas informações vestibulares manifestam-se desde o início e estão
ao serviço da relação com o outro (é o mais complexo, mas o mais inacabado).
Capacidade de Aprendizagem:
As capacidades de aprendizagem são extremamente complexas, uma das formas de
aprendizagem é o condicionamento. Papousek fez uma experiência (baseando-se na
experiência de condicionamento anteriormente feita que quando tocava a campainha o bebé
virava a cabeça para o lado do leite e não virava a cabeça quando tocava um chocalho)
utilizando um estímulo luminoso colorido (não condicionado) e movimentos de cabeça com
bebés de três, quatro meses. Concluiu que existem estratégias de aprendizagem; o leite não é
sempre o reforço, o bebé acabou por demonstrar prazer ao fazê-lo mesmo sem o reforço);
“a fome passou a ser substituída por um desejo de responder correctamente a um problema”,
Papousek.
Condicionamento Operante: os ritmos de sucção dos recém-nascidos/voz
materna; Nem sempre se verifica até aos 3 meses de idade.
A aquisição da linguagem vem por imitação, a imitação é uma forma de
aprendizagem indutora de comportamentos (bebés com uma semana imitam os movimentos
de abrir e fechar a mão, da língua entre os lábios).
Resumindo:
As capacidades de aprendizagem estão associadas a comportamentos com algum
significado adaptativo ou biológico
Imitação (Annie Vinter) e Condicionamento (Lipsitt, Papousek)
As crianças aprendem, por exemplo, a controlar o ritmo de sucção com o objectivo
de verem imagens ou ouvirem sons.
Estilos de Temperamento:
Fácil: Crianças regulares nas funções biológicas e que se adaptam facilmente.
Difícil: Crianças irritáveis, e irregulares biologicamente.
Adaptação Lenta: Nível de actividade reduzida; Retiram-se em situações novas; Necessitam
de mais tempo para se adaptarem a novas situações.
Capacidades
Interacções
Precoces Sociais
(figura materna)
Repertório da
Mãe
Repertório do
Bebé
Repertório Mãe-Bebé
Interacção Mãe-Bebé: Papel Adaptativo da Interacção
Os bebés humanos dependem dos cuidados das figuras parentais para sobreviver. O
estabelecimento de uma relação próxima é crucial. A relação com a mãe não é inevitável,
nem automática. Dizer que todas as mães têm instinto maternal está errado, por exemplo, os
pais negligentes não têm vinculação desenvolvida em relação aos filhos. O bebé opta
estabelecer uma relação de vinculação com a pessoa que lhe dá conforto e é carinhosa, e não
apenas com aquela que o alimenta.
Até aos 2 meses: Não existe organização temporal por parte do bebé. É algo que se vai
desenvolvendo até aos 12 meses definido em função do sono e da alimentação. Vai ocorrer
a chamada “regulação dos ciclos biológicos”. Os progenitores tentam modificar os ciclos
biológicos dos recém-nascidos para que eles se adequem aos ritmos da família (sono e
alimentação).
Depois dos 2 meses: Ocorre uma regulação mútua de expressões, gestos e respostas, em
situação de interacção social – inicio da intersubjectividade; microanálises do
comportamento do bebé em interacção social demonstram papel activo que o bebé tem no
decorrer destas interacções.
Estados de Consciência
Existem 6 estados de consciência. A cada estado de vigília, corresponde um padrão de
actividade cerebral.
Quantidade de sono
Primeira semana: O bebé deve dormir 16 horas e meia por dia.
Final do 1º mês: O bebé deve dormir mais de 15 horas por dia.
Final do 4º mês: O bebé deve dormir menos de 14 horas por dia.
3. Sonolência ou intermédio: Ocorre quando o bebé está muito tranquilo, mas não
há actividade motora.
4. Estado acordado/ estado alerta: Ocorre quando o bebé está calmo mas acordado.
A respiração encontra-se estável e regular. Existe pouco movimento.
5. Estado de alerta irritado: O bebé começa com uma respiração instável e irregular.
Quando o bebé é confrontado com muita estimulação, desorganiza-se. É preciso acalmar o
bebé para que este descanse e assim se consiga organizar (neste caso o objectivo é dormir).
O bebé pede “ajuda” para se organizar. Se isto não ocorre, o bebé irrita-se e chora, passando
então ao 6º estado de consciência, o choro.
Alimentação: “A pedido”
Recém-nascidos: De 3 em 3 horas
Aos 2 meses e meio: De 4 em 4 horas
7/8 Meses: 4 vezes por dia
Não se verificam diferenças no crescimento das crianças alimentadas a pedido ou de
acordo com um horário pré-estabelecido. Porém os bebés alimentados de acordo com um
horário choravam mais, segundo um estudo de Saxon et al., 2002.
Repertório do Bebé
- O bebé nasce com capacidades de estabelecer relações humanas e
comunicação, através dos seguintes instrumentos que utiliza para comunicar com os outros:
O olhar: O olhar ajuda a regular a relação com a mãe, isto é, fixar o olhar significa
disponibilidade e desviar o olhar significa indisponibilidade. Na 6ª semana, o bebé é capaz
de fixar os olhos da mãe e manter essa fixação. Aos 3 meses, ocorre a maturação visuo-
motora, as relações deixam de ser simbióticas. Por volta dos 5/6 meses, o bebé ganha
coordenação óculo-manual. O olhar pode ser subdividido entre a visão e capacidade de
controlar os movimentos dos olhos e da cabeça de forma a seguir um alvo visual.
Sorriso:
No nascimento: Incapacidade de Sorrir
Menos de 6 semanas - endógeno ou reflexo: Surge quando os bebés estão a
dormir (REM). Pela segunda semana podem observar-se com o bebé acordado, mas não se
correlacionam com nenhum acontecimento em particular. Muitas vezes manifesta-se quando
os bebés estão com cólicas.
Entre as 6 semanas / 3 meses – exógeno: Solicitado por acontecimentos
exteriores, como visões e sons, mas sobretudo o rosto humano, o olhar humano, o tom de
voz agudo e cócegas.
Entre os 3 e os 7 meses – Instrumental: Para que o sorriso instrumental surja, é
necessária a interacção. Os bebés só sorriem a determinadas pessoas e sorriem para interagir,
para ter algo em troca, isto é, o bebé pode reproduzir o sorriso para obter de alguém uma
reacção, tal como um outro sorriso da mãe ou a palavra dela. É nesta altura que há uma maior
qualidade emocional na relação dos pais com os bebés. Por volta dos 7/8 meses, o sorriso
torna-se selectivo, o bebé escolhe com quem quer interagir.
A partir dos 7/8 meses – o sorriso torna-se selectivo com quem quer interagir.
Repertório da Mãe
- Este é um repertório flexível de modo a atingir uma boa coordenação com
o do bebé. Diz respeito às formas de interacção que se ajustam às capacidades precoces do
bebé. O comportamento materno constitui o primeiro conhecimento que o bebé tem acerca
de tudo o que é humano. As mães agem com os bebés de uma forma diferente da que agem
com os outros adultos e crianças mais velhas. As mães ensinam aos bebés como é a relação
entre duas pessoas, como é a interacção. Até aos seis/sete meses os bebés não têm
memória; quando algo não está no seu alcance visual não existe (tanto objectos como
pessoas); contudo, a mãe é identificada pelo bebé (apesar de quando está ausente não exista
para este). Aos sete/oito meses a criança reconhece e lembra-se da mãe mesmo na sua
ausência. Tal verifica-se porque a criança começa a ter «medo de estranhos» (por exemplo
quando alguém desconhecido pela criança lhe pega ao colo esta começa a chorar). O
repertório da mãe é caracterizado por expressões faciais, vocalizações, olhar,
apresentações faciais e movimentos da cabeça, espaço interpessoal e interacção
social.
Expressões Faciais
o São exageradas no espaço e no tempo, bastante diversas, têm número
limitado e são estereotipadas * (Surpresa fingida; Careta; Sorriso; Expressões
de preocupação ou simpatia (surpresa + careta) e Neutro (terminar ou evitar
a interacção). Estas expressões vão ajudar o bebé a entender as expressões
humanas essenciais.
*(1) Exageradas no espaço e no (2) tempo, (3) número limitado, estereotipadas:
(1) Exagero no espaço: Dois exemplos muito comuns são suficientes: a expressão de
fingida surpresa (peekaboo). Quando a mãe tenta chamar a atenção da criança e esta se volta para
olhar para ela, no instante em que a criança se volta, ela fará muito provavelmente uma expressão de fingida
surpresa. Os olhos abrem-se muito, e a cabeça levanta-se. Normalmente a mãe diz qualquer coisa como «ah-
ah-ah» ou «oh-oh-oh».
(2) Exagero no tempo e na duração do desempenho da manifestação: Em
comparação com expressões sociais entre adultos, estas manifestações faciais formam-se
geralmente devagar e são mantidas durante muito tempo. EX: da manifestação de fingida
surpresa (10 a 15 segundos). Geralmente a expressão forma-se devagar, quase como se a mãe estivesse
a desempenhá-la em «câmara lenta», transformando-se gradualmente, mas em tom dramático, no grau
máximo de exibição. Uma vez aí, mantém por um período relativamente longo a posição atingida.
(3) Numero limitado de expressões seleccionadas que são desempenhadas muito
frequentemente e muito estereotipadas: porquê? Facilitam sem dúvida a capacidade
da criança para aprender expressões humanas
Exagero temporal e espacial + desempenho frequente e estereotipado de certas
exibições seleccionadas: grande relevo a estes comportamentos e ajudam assim imensamente o bebé a
dissecá-los de movimentos de «fundo» de outras expressões que podem ser menos cruciais neste nível de
desenvolvimento, e também dos movimentos que acompanham «simplesmente» a fala.
Vocalizações (Baby-talk)
É um diálogo imaginário em que a mãe reage como se o bebé respondesse. É
caracterizado por: Entoação elevada (falsete); Tonalidade elevada (todos os tipos de sons);
Intensidade exagerada (desde murmúrios até sons altos); Ênfase pronunciada nas palavras
ou nas sílabas; Velocidade alterada e pausas mais prolongadas. – Diálogo imaginário em que
a mãe reage como se o bebé respondesse sempre…
Espaço Interpessoal *
É como se fosse uma “bolha imaginária”, que quando é perfurada por terceiros é
invadida. É uma espécie de protecção do bebé, traduzindo-se no ambiente que ele conhece.
Na nossa cultura é cerca de 60 cm. As mães não respeitam estas convenções espaciais quando
interagem com os seus bebés.
Interacção Mãe-Bebé
Estes dois repertórios não têm sentido de ser estudados isoladamente,
porque só fazem sentido quando estudados em conjunto. Esta divisão apenas serve para nos
organizarmos. “ A mãe vocaliza, o bebé responde, a mãe interage e o bebé interage”. É esta
dinâmica que é importante na interacção. A interacção é instintiva (produto de milhares de
anos de evolução) e adaptativa (singular, única entre cada mãe e o seu respectivo bebé). O
desenvolvimento da Interacção = Desenvolvimento do bebé (a todos os níveis), daí a
importância extrema para o bebé e consequentemente, a importância para a relação
mãe/bebé (ex: mães deprimidas).
Até aos dois meses, o bebé estabelece uma relação puramente biológica com a mãe.
Por volta dos 3 meses começa a desenvolver-se o repertório mãe -bebé. A mãe adapta-se ao
comportamento do bebé. Esta interacção pode ser definida como o diálogo
comportamental (Bakeman & Brown, 1977) entre mãe e bebé com o objectivo de
comunicar e partilhar o prazer de estarem juntos (Stern, 1980); ou então como “Momentos
interpessoais cruciais na formação de experiências através das quais o bebé aprende a
relacionar-se com outras pessoas” (Stern, 1992).
Esta interacção é composta por 2 Fases:
Regulação Biológica (até 2M): Organização dos ciclos do sono e alimentação e
poucas interacções sociais.
Regulação Interactiva (a partir 2M): Maturação do sistema visual permite focar a
mãe, facilitando interacções sociais e regulação mútua de expressões, olhares, gestos,
respostas, sorrisos, vocalizações (Trevarthen, 1977).
Vinculação
- A vinculação pode ser definida como a ligação afectiva que a criança estabelece com
a figura parental (normalmente com a Materna) e que serve de molde para todas as suas
futuras interacções. É também um sistema comportamental que regula os
comportamentos de proximidade e exploração. É uma relação interactiva, recíproca e
mutuamente satisfatória.
- A vinculação não tem como objectivo manter a dependência da mãe/bebé.
Durante o primeiro ano de vida os bebés incorporam a noção da relação com a mãe e
interiorizam o modelo da relação (mãe – protecção, fonte de informação, alguém em quem
confiar), quanto mais confiança a criança tiver na mãe, mais independente se vai tornar; a
mãe funciona como fonte de informação de perigo ou não perigo, necessária para a
exploração da criança. Até aos dois anos a criança cria um modelo daquilo que é uma relação
(que terá como base a relação que a criança tem com a mãe). Todas as relações futuras são
baseadas neste modelo que aprendemos na infância (importância de um bom modelo). A
partir do ano e meio a criança não necessita da presença física da mãe para saber que esta lhe
dá apoio. A criança constrói internamente uma noção de relação que a acompanhará para o
resto da sua vida. A vinculação é selectiva – específica para uma pessoa. No início apenas
tem o objectivo de manter a proximidade física, mas a longo prazo tem o objectivo de
providenciar conforto e segurança.
- Através dos comportamentos vinculativos a criança descobre que tem na mãe uma
ajuda e alguém em quem confia, é através desta segurança que o bebé começa a explorar o
meio, porque sabe que se algo corre mal ele tem a mãe para o ajudar. Uma boa relação de
vinculação tem como consequências uma melhor auto-estima, competência social,
independência, confiança, popularidade, etc.
Teoria da Vinculação:
Jonh Bowlby (1907-1990) – Psiquiatra inglês que trabalhava num orfanato. Notou que as
crianças tinham problemas afectivos e de relacionamento. Então pensou que elas deveriam
ter algo em comum, e tal seria, o facto de não terem tido uma relação afectiva nos primeiros
tempos de vida, ou seja, faltava a pessoa para fazer uma relação inicial.
Define a vinculação como a ligação afectiva que a criança estabelece com a figura parental
(normalmente a mãe) e que serve de molde para todas as suas futuras interacções. Constrói-
se no 1º ano de vida. É uma relação recíproca, interactiva e muito satisfatória.
Imprinting:
Em esquema: Adaptação: Comportamentos de base seguros, medo do escuro; reduz a
vulnerabilidade aos predadores
Função: Protecção aos predadores
o H. Harlow – Primatólogo
Bowlby teve acesso aos estudos de Harlow (estudo nos primatas em que foi apresentada
uma boneca semelhante a uma macaca, com um toque desagradável que alimentava o
macaco bebé, e outra sem alimento com um toque agradável; o bebé alimentava-se e
preferia estar com a macaca de toque agradável), e começou a colocar a hipótese de que
além da necessidade biológica também haveria a importância do contacto físico, a
necessidade de afecto e a sensação de conforto (sendo a necessidade de conforto maior do
que a necessidade de alimentação) – a relação mãe – criança transcende as necessidades
básicas da alimentação.
Função Psicológica: À medida que a vinculação se forma, a base já é tão segura, que na
ausência da mãe, a criança consegue brincar sozinha sentindo-se segura. A criança internaliza
o modelo da relação com a figura materna, o que lhe proporciona a segurança necessária para
explorar o meio.
Fases da vinculação:
Indiscriminada (0 – 2 meses) não ocorre apenas com a mãe mas sim com qualquer
pessoa.
Reconhecimento da figura materna (Medo de estranhos) (2-7 meses) começa a
desenvolver a memória. Está a construir a permanência do objecto: quando a mãe desaparece
a criança não protesta, ainda não tem memória suficiente para ter uma representação dela.
Mas se a ouvir é capaz de a reconhecer. Quando ela volta, fica feliz.
Vinculação (7 meses) a memória está consolidada, mesmo que a mãe não esteja presente,
representa-a. Assim, quando se apercebe que ela vai desaparecer, a criança protesta e, mesmo
depois de se ter ido embora continua a chorar para ver se regressa. Há uma relação entre a
memória e os afectos – vamos guardar memória mais facilmente do que nos traz afectos
positivos, boas sensações, do que das coisas que não nos dizem nada.
Autonomia (2 anos)
- A situação estranha foi uma situação experimental que começou por ser feita em meio
natural. Ainsworth ia para o Uganda observar comportamentos mãe/filho. O que importa é
ver qual é a atitude na reunião com a mãe, ou seja, como é que a criança reage com a mãe
depois de se separar desta.
Padrões/Tipos de Vinculação
1) Seguro
Alternância equilibrada entre Exploração e Vinculação. No momento da
separação, a criança pode protestar e verifica-se um declínio da exploração, mas no
momento de reunião verifica-se uma procura activa de interacção, proximidade ou
contacto com a mãe, de modo a haver um consolo que permita retomar a exploração. O que
faz a diferença nestas mães é a sensibilidade e a responsabilidade que faz com que
respondam adequadamente aos sinais do bebé, permitindo que este crie uma relação de base
segura com a mãe – criança mais autónoma na sua exploração do meio.
Em esquema:
A criança pode ou não chorar (separação)
Aproxima-se da mãe na reunião
Facilmente reconfortado pela mãe
Retoma o nível de brincadeira
História da relação: maior atenção aos sinais emocionais dos bebés e capacidade de
responder adequadamente.
Em esquema:
Extremamente incomodado pela separação
Zangado na reunião
Dificuldade no conforto
Não volta a brincar ao mesmo nível
3) Inseguro – Evitante
Predomínio da Exploração sobre a Vinculação. No momento da separação o
bebé (podendo ou não chorar) responde minimamente, com pouco stress visível. No
momento de reunião, há pouco ou nenhuma procura de contacto com a mãe, evitando a
interagir. Concentra-se nos brinquedos, não havendo diferenciação na reacção á mãe ou ao
estranho:
4) Inseguro Desorganizado
Comportamentos bizarros e inexplicáveis; incapacidade em apresentar estratégias
incoerentes; Comportamentos contraditórios, sem nexo (evitamento intenso e forte procura
da proximidade); estupefacção ou imobilização perante aproximação materna.
A vinculação é uma relação com uma ou algumas figuras parentais. É uma relação
afectiva e cognitiva que permanece através do tempo e do contexto: uma relação de
amizade supõe continuidade no espaço, enquanto a vinculação não precisa deste tipo
de continuidade. Providencia uma base para explorar o mundo.
Vinculação/Separação
- Bowlby estudou o comportamento de crianças que depois da guerra, foram
viver para casas no interior.
Protesto: A criança ficava fora de si, chorava, ficava irritada, revelava medo, tinha acessos
de raiva e tentava fugir.
Pretendem chamar de volta a figura materna.
Separação/Privação
A privação tem efeitos a curto e longo prazo que são graves, as crianças que
sofreram de privação de cuidados maternos mostram: Atrasos cognitivos ao nível da
linguagem; Problemas ao nível do peso; depressão no estado adulto; Transtornos afectivos:
desinibição social, amizades indiscriminadas, ausência de relações afectivas estáveis. A
privação de cuidados maternos normalmente está ligada à falta de estímulos sociais,
cognitivos e orais.
Com a privação da vinculação, é normal a pessoa sentir-se deprimida, porque vê a
sua qualidade de vida completamente afectada – levando a uma depressão patológica. Não é
uma simples depressão, pode mesmo ter consequências graves como levar à falta de peso e
outras consequências físicas.
Curto prazo: manifesta algum stress, a recuperação depende dos factores citados e
da atitude da mãe.
Separações longas ou múltiplas: Bowlby referiu um grande número de casos de
delinquência e transtornos afectivos relacionados com separações.
Separações longas ou múltiplas: Bowlby referiu um grande número de casos de
delinquência e transtornos afectivos relacionados com separações. Estas crianças vão muitas
vezes para instituições.
Mesmo que a instituição seja muito competente, não desenvolve os laços afectivos e
emocionais como a família, daí se falar em privação. Há privação desde que a criança é
separada da mãe – deixa de haver vinculação.
Separação:
Na separação, alguém substitui a mãe mas tem os mesmos cuidados e é possível
que a criança venha a desenvolver uma relação de vinculação com essa pessoa. Na privação
não há ninguém que substitua a figura afectiva, não é possível haver vinculação. Na separação
há uma precaução na interpretação dos resultados e os problemas podem estar mais ligados
ao stress provocado pela doença prolongada, resposta dos pais à doença e proveniência de
famílias desfavorecidas; não à separação: A separação não implica privação, mas a
privação implica separação.
Separação Temporária
A. Creches
A criança vai para a creche e no fim do dia, os pais vão buscá-la. Manifesta algum
stress e a recuperação depende da atitude da mãe e de alguns factores (idade, tipo de
separação e qualidade dos cuidados maternos). Neste domínio foram realizados dois estudos:
Belsky (1986,1990,1996) concluiu que mais de 20 horas por semana de cuidados não
maternos ao longo do 1º ano de vida, podem provocar padrões de vinculação inseguros nas
crianças; menor obediência às instruções dos adultos e maior agressividade na interacção
com os pares: “ A creche afecta a qualidade da vinculação” (Belsky).
Nichd (1996,1998) considerou outras variáveis: características das famílias (nível sócio
cultural; etnia e dimensão); creches (numero de adultos por crianças; dimensão dos grupos;
qualidade das instalações; formação e rotatividade dos cuidadores) e cuidados prestados
(envolvimento emocional, intrusividade, responsividade, sensibilidade, estimulação
cognitiva). Concluiu que não há diferenças nenhumas entre crianças que passam 10h na
creche e crianças que passam 30h (semanais). Os efeitos da separação dependem da qualidade
dos cuidados e não com o nº de horas que passam na creche. Não é a separação em si, mas
o modo como é feito. A má qualidade da creche é um factor de risco significativo, desde que
associado a outros factores (insensibilidade materna, dificuldades financeiras). Voltou a
analisar as mesmas crianças aos 2 anos e concluiu que as famílias conflituosas e 20h de
cuidados não maternos semanais estão associados a dificuldades desenvolvimentais.
Concluiu que não há apenas um factor preponderante, mas sim vários factores relacionados
entre si que podem provocar problemas no desenvolvimento infantil.
Separação Prolongada
B. Hospitalização
Segundo Rutter (1976), uma hospitalização de uma semana, até aos 5 anos de
idade, não provoca alterações emocionais ou comportamentais detectáveis aos 10 anos.
As hospitalizações repetidas parecem estar associadas a problemas
comportamentais e de delinquência, uma vez que nestas hospitalizações da criança, os pais
ficam muito stressados e reagem de forma inadequada à doença. Transmitem instabilidade à
criança. Geralmente as crianças com maior número de hospitalizações provêm de famílias
social e economicamente carenciadas. Não é a situação em si que causa problemas mas sim
a resposta que a família dá à situação.
Assim sendo, nas hospitalizações deve-se explicar à criança o que se vai passar;
alertar as instituições para o sofrimento da criança; a permanência da mãe.
Separação Prolongada
C. Guerra
Burlingham & Freud (1942): foram realizados estudos com crianças entre os 0 e
os 4 anos, colocadas em abrigos comunitários, longe dos pais. Inicialmente, verificou se
uma grande angústia e depressão. 20 Anos mais tarde, estes sujeitos voltaram a ser
estudados e verificou se que não revelaram indicadores de mal-estar / doença psicológica
severos. Então, o que terá acontecido neste espaço de tempo, para que as crianças que
inicialmente manifestavam sintomas de sofrimento, passar em a ser adultos
“equilibrados/ normais”? As crianças têm a capacidade de resiliência, ou seja, é a
capacidade que a criança tem sozinha, de retomar o seu desenvolvimento apesar do seu
passado negativo.
Separação Prolongada
Orfanatos de baixa qualidade
Dennis (1973) estudou orfanatos no Líbano com as seguintes condições:
as crianças eram entregues pouco depois do nascimento; era dada pouca estimulação; para
cada 10 crianças havia uma educadora (que também tinha sido educada no orfanato). Aos
2 meses o desenvolvimento das crianças era normal, dentro dos parâmetros esperados,
porém com um ano o seu desenvolvimento intelectual era 50% abaixo dos parâmetros
esperados esperado, devido à vinculação difícil e insegura. Avaliando o desenvolvimento
posterior, verificou-se que nas crianças adoptadas até aos 6 anos, não havia um atraso
significativo no desenvolvimento. Coloca-se mais uma vez o problema dos períodos
críticos, segundo Bowlby se a relação não era estabelecida até aos quatro anos, estamos
perante uma situação irreversível. No entanto, estudos efectuados recentemente com
crianças adoptadas aos sete anos (limite de idade do momento sensível) referem que
estabelecem boas relações com os pais adoptivos. Resumindo: adoptados – recuperação
notável. Porém, nas crianças institucionalizadas verifica-se que as raparigas aos 12-16
anos revelam atraso intelectual muito significativo e que os rapazes aos 10-14 anos
apresentam uma recuperação substancial, apesar de abaixo da norma e das crianças
adoptadas, isto é, apresentam uma recuperação dentro dos parâmetros que lhe permitem
funcionar em sociedade. Momentos Sensíveis: crianças adoptadas aos 7 anos.
Adopção – Crianças Romenas
Chisholm (1998) estudou crianças romenas adoptadas por famílias canadianas. Verificou
que até aos 4 meses, não há diferenças comparando com crianças canadianas que viviam com
os pais biológicos. Porém, a partir dos 8 meses, verificaram-se efeitos residuais das suas
experiências anteriores, isto é, uma maior tendência para uma vinculação insegura e uma
maior atenção e proximidade para estranhos (ambição de atenção).
Isolamento
Estudos com crianças isoladas demonstraram que, perturbação do desenvolvimento
normal e privação precoce de cuidados e interacção normal com o meio, não tem
necessariamente efeitos devastadores no desenvolvimento posterior (Skuse, 1984). Alguns
dos estudos são:
Koluchova (1972, 1976): Gémeos Homozigóticos - Gémeos encarcerados com 1 ano e
meio no armário, voltaram a ser estudados aos 6 anos. Verificou se que eram anormalmente
pequenos e raquíticos; a sua linguagem era escassa; e mostravam medo de estímulos
desconhecidos. Aos 8 anos a sua inteligência era muito abaixo do normal e aos 14 anos
tinham níveis normais de inteligência. Demonstravam interesse pelo meio e verificou se um
desenvolvimento físico e linguístico;
Curtiss (1977): Genie – Foi aprisionada pouco depois de fazer 2 anos até aos 13 anos.
Viveu acorrentada e amarrada, sem falar com ninguém. Quando foi libertada aos 13 anos, o
seu desenvolvimento físico estava abaixo do normativo; Não produzia sons compreensíveis;
Não controlava os esfíncteres; Não conseguia andar normalmente; Não demonstrava
nenhuma emoção quando as pessoas abandonavam a sala; Boa capacidade de percepcionar
e pensar sobre relações espaciais. Posteriormente, depois de estar hospitalizada em
reabilitação, verificou se que: Aprendeu a controlar os esfíncteres; Estabeleceu relações com
pessoas que viviam com ela; Comportamento Social nunca atingiu um desenvolvimento que
lhe possibilitasse uma vida autónoma; Nunca desenvolveu a linguagem normal;
Nota: Uma privação de um mês, tem mais consequências do que uma separação de um
mês.
Transtornos Afectivos: Como não há uma referência das relações afectivas, estas crianças
não conseguem desenvolver com ninguém, relações afectivas muito longas. Os transtornos
afectivos materializam-se numa extroversão, ou seja, a criança desenvolve com pessoas que
conhece há muito tempo ou conhece há 20 minutos, o mesmo tipo de relação. A partir dos
2/3 anos há necessidade da criança interagir. Quando não há possibilidade da criança ir para
a creche, fica privada dessa interacção com outros. Há diferenças de resultados cognitivos
entre crianças que vão e não vão à creche. Contudo, por volta dos 5 anos os resultados
cognitivos assemelham.
1. Sentido do Eu
O “eu” é o aspecto mais privado da personalidade. É um sistema complexo com
diferentes facetas. As crianças são processadores activos das experiências pelas quais passam,
motivo pelo qual o comportamento não é uma reacção automática aos estímulos, mas o
resultado de uma avaliação da informação. Muito precocemente, as crianças constroem
modelos de funcionamento sobre si próprios; sobre os outros que lhe são significativos e
sobre as relações que se estabelecem, isto é, conceitos sociais – permite a compreensão
das experiências em situações interpessoais. Este processo tem uma duração longa, é
um processo contínuo.
É o “eu” que permite ao indivíduo adoptar uma posição relativamente às suas experiências
sociais e ao modo como vê o mundo: o self medeia a experiência social, organiza o
comportamento em relação aos outros, determina o modo como interpretamos a realidade
e decide as experiências que se procuram. Lewis, divide o “eu” em duas camadas:
Mim (Objecto de
Conhecimento)
3. Auto-Conceito
Pode ser definido como o conhecimento subjectivo que os indivíduos têm de si próprios
enquanto seres psicológicos e físicos – “Quem sou eu?” (imagem que acreditamos ser). É
um conceito dinâmico e afectado pela experiência. Pode também ser descrito como o
produto dos esforços de formação; aspectos cognitivos da auto estima.
4 – 15 anos
Comum a todas as idades:
- Aparência Fisica;
- Actividades Fisicas;
- Relações Interpessoais;
- Caracteristicas Psicológicas.
Varia com a idade:
- Importância dada a cada um destes aspectos;
- Complexidade das discrições.
4. Auto-Estima
A auto-estima diz respeito a sentimentos de um sujeito acerca do seu próprio valor e da
sua competência. São as comparações com a imagem do seu eu ideal: baixa ou alta auto-
estima. Uma baixa auto-estima provem de pessoas inseguras. Se a criança se valoriza mais,
então vai ser mais feliz ao ser competente numa determinada área. É um conceito incerto
porque o seu estudo completo implicaria um controlo constante do comportamento. A
auto-estima é mutável, pois é avaliada perante padrões estabelecidos. É particularmente
influenciável na infância e adolescência. Aos 7/8 anos, já há um distanciamento suficiente
para que possa ser feita uma auto-avaliação no desempenho de diferentes domínios. A auto-
estima depende da relação com os pais, do apoio social e também de factores hereditários.
Auto-Estima e Desenvolvimento:
Auto-Estima Positiva:
- Menor conformismo;
- Maior criatividade;
- Sucesso Escolar;
- Capacidade de Afirmação;
- Sentido de Autoeficácia;
- Influência no estado emocional → Motivação e Interesse.
Desenvolvimento da Identidade:
- Processo através do qual os indivíduos constroem uma compreensão
coerente de si próprios como sujeitos em relação com a sociedade em que se inserem;
- Tarefa central da adolescência;
- Self Saturado.
Consideração das
Alternativas (crise) Exploração
Adesão a um curso
de acção (Valores,
crenças e ocupações Compromisso
escolhidas)
Desenvolvimentos gerais
o 2 Anos: rotulam verbalmente os outros como masculinos e femininos.
o 2 / 3 Anos: estereotipificação do sexo na escolha de brinquedos.
o A partir dos 3 anos: preferem brincar com companheiros do mesmo sexo.
o 3 / 4 Anos: estereótipos rígidos quanto às ocupações e às actividades que são
“correctas” para o sexo feminino e masculino.
Aprendizagem social: Por imitação, ensina-se às crianças os papéis dos sexos a partir da
observação dos adultos e de modelos de companheiros.
Parentalidade
1. Objectivos parentais
Os objectivos parentais dizem respeito aos objectivos dos pais na educação e criação dos
seus filhos. O primeiro é a sobrevivência física (providenciar segurança e saúde); o segundo
é o bem-estar económico (promover os meios para que as crianças se tornem adultos
produtivos e que tenham qualidade de vida); e por último a aquisição e transmissão de
valores culturais (depois de se ter assegurado a sobrevivência e o bem-estar económico,
pensa-se em torná-los pessoas e integrá-los na cultura).
2. Estilos parentais
Estilo Parental é o conjunto de atitudes dos pais para com as crianças, que define o clima
emocional em que se expressam as várias práticas parentais. As práticas parentais são então,
comportamentos de socialização, como a disciplina, apoio, e comportamentos interactivos
entre pais -criança.
Segundo Diane Baumerind (1967, 1971, 1973), para categorizarmos os estilos parentais,
temos que ter em conta, duas dimensões:
Permissivo
Caracterizado pelo amor e afecto, mas também controlo limitado. Exigem menos realizações
por parte dos filhos; são permissivos nas regras e são inconsistentes face à disciplina;
consultam a criança acerca das decisões e explicam as razões das regras familiares; são pais
utilizados como recurso a ser utilizado, e não como responsáveis activos pela alteração dos
comportamentos da criança; são pais que raramente punem algo; Valorizam a auto-regulação
e auto-expressão.
Democrático (Competente)
São pais que combinam o calor humano com a exigência de novas realizações (regras claras);
Têm um forte controlo sobre os filhos mas não de um modo punitivo; Encorajam o
intercâmbio verbal e respeitam os desejos das crianças; para atingir os objectivos (apoio),
tanto podem utilizar a razão como o poder (limites); afecto expresso de forma calorosa com
maior frequência do que nos outros grupos. É o estilo que proporciona um melhor
desenvolvimento social e cognitivo, caracterizado pelo carinho, regras claras, controle,
discussão de pontos de vista e suporte.
Autoritário
Grupo caracterizado pela afirmação do poder paternal e atitude desvinculada. São pais que
raramente solicitam a opinião da criança e não elogiam ou revelam prazer em novas
realizações da criança; são directivos e exigentes; recorrem a tácticas assustadoras (punem-
nas com violência em caso de contestação) e esperam que as suas ordens sejam obedecidas;
São frios e pouco ou nada afectuosos e vêem a obediência como uma virtude. Não existe um
suporte afectivo. O poder dos pais não é passível de discussão (poder unilateral).
Negligente
Estilo descomprometido. Os pais não são reactivos nem exigentes; não orientam nem
apoiam as actividades; fornecem poucas estruturas para a compreensão do mundo ou das
regras sociais e tanto podem rejeitar activamente como negar as responsabilidades pela
educação da criança.
Natureza da criança
A natureza da criança pode afectar quer o tipo de coacção parental, quer o
relacionamento conjugal. Por exemplo, uma criança com um temperamento difícil faz com
que haja um aumento da tensão da acção dos pais, que por sua vez, vai ter repercussões no
relacionamento conjugal.
Os irmãos
As relações entre irmãos influenciam e são influenciadas pela relação conjugal (dos pais)
e pela relação pais-filhos. A discórdia e falta de coesão entre os progenitores leva a uma maior
conflitualidade entre irmãos. A relação com o primeiro filho e a forma como este (primeiro
filho) reage ao irmão (segundo filho) são as principais fontes de tensão, visto que o número
de interacções com o primeiro filho diminui.
Há quatro variáveis a ter em conta, quando se analisa a relação entre irmãos: diferença de
idades (quanto maior, maior é o afastamento pois há menor número de interesses em
comum); género (relações entre rapazes e raparigas são diferentes);
temperamento/personalidade e tratamento diferencial pelos pais (se a família
funcionar de forma diferente de um filho para outro, irá influenciar a qualidade da Relação.
Esta é a característica que mais influenciam a qualidade das relações).
Quando a estrutura familiar se altera, é natural que possam surgir conflitos com o
nascimento de um segundo filho. Algumas crianças (1º filho) regridem nos seus
comportamentos, tendo comportamentos que já não tinham, típicos de uma idade inferior
à deles: estão a chamar à atenção, apresentando os mesmos comportamentos que acham que
os pais estão a valorizar naquele momento, ou seja, os comportamentos do segundo filho;
outras têm comportamentos depressivos: não verbalizam o que se passa mas também não
regridem; e por último e mais radical, algumas crianças têm uma reacção mais aberta:
tentam, isto é, fazem de tudo para que é o irmão desapareça.
É também importante ter em conta que as relações não são todas iguais, as relações
com os pais são diferentes das relações com os pares. Há então que ter em conta dois tipos
de relacionamentos que a criança pode ter:
São estes dois tipos de relacionamentos que fornecem à criança oportunidades únicas de
experiência e de aprendizagem:
1. Aptidões Sociais
São as aprendizagens principais nas relações com os outros, isto é, os comportamentos que
permitem realizar tarefas sociais ou alcançar o sucesso social. Como por exemplo: Perceber
pensamentos, emoções e intenções dos outros; Saber iniciar/ manter/ terminar interacções
de modo positivo; Prever as consequências das acções sociais e como saber expressar
emoções positivas e inibir as negativas;
2. Competência Social
É a capacidade de participar de um modo eficaz e bem sucedido em cada nível social. Uma
criança competente será capaz de: Integrar-se num grupo de pares; Envolver-se em relações
satisfatórias (interacções recíprocas) e satisfazer objectivos individuais, desenvolvendo
estratégias de compreensão das experiências com pares.
No pré-escolar:
- Rapazes: mais actividades físicas, sozinhos ou em grupos
- Raparigas: brincam mais em díades ou em trios.
- Selectividade / segregação com base no género: consequência das diferenças no
seu repertório social (Maccoby, 1988), ocorre espontaneamente fruto da atracção das
crianças por outras do mesmo género e não pelo evitamento das crianças relativamente ao
sexo oposto.
Adolescência: É nesta fase que se criam protótipos para relacionamentos futuros.
Começam a surgir os “grupos”, com os quais o adolescente se identifica, sendo estes amigos
ou grupo de companheiros utilizados enquanto referência de comportamentos e identidade
social. O modo de relacionamento com o sexo oposto é uma parte do processo de
aprendizagem.
o Estatuto Sociométrico
Este estatuto diz respeito à popularidade/ grau de aceitação que a criança/adolescente têm
entre os seus companheiros. A popularidade ou falta desta, têm repercussões não só no bem-
estar do indivíduo, assim como no seu ajustamento futuro e saúde mental. Existem duas
técnicas utilizadas para avaliar a sociometria: as entrevistas e a observação directa. Nas
entrevistas pedia-se à criança/ adolescente que numerasse os seus colegas por ordem de
preferência, e depois comparavam-se as respostas obtidas por todas. Na observação directa
dava-se importância à atenção visual (está relacionado com a dominância social: as crianças
têm tendência a olhar mais para os pares que de alguma forma se evidenciam no seu grupo),
interacção e proximidade, utilizando-se um inquérito de competência social, preenchido
pelos observadores – q-sort da competência social.
A amizade
A amizade é o sentimento recíproco que um indivíduo tem com um amigo. Os amigos
comportam-se de modo diferente uns com os outros, comparativamente aos conhecidos
(Hartup, 1992). A amizade é uma relação mútua, caracterizada pela cooperação e gestão de
conflitos. É recíproca, na medida em que damos e recebemos
Ser popular não significa que se tenha mais amigos. Segundo Hartup (1992), as amizades
permitem a aquisição de aptidões sociais básicas; um auto e hetero conhecimento; um apoio
emocional e estão na base de relacionamentos subsequentes (que dela podem surgir). Nela
está também implícito o liking (gostar de.), o afecto e o divertimento.
O conceito de “amigo” varia consoante a idade:
Dos 3 aos 9 anos, um amigo é: um companheiro com quem a criança pode partilhar
algumas actividades, ou de quem está próximo. Por exemplo “O Zé é meu amigo porque
brincamos juntos” ou “O Zé é meu amigo porque mora aqui ao lado”. Nesta fase as amizades
tornam-se mais comuns e diferenciadas e há preferência por crianças específicas, ou seja, a
criança já escolhe com quem quer brincar. Esta selecção é potenciada pelas semelhanças
(idade, sexo, etnia, etc). Surge também nesta altura, motivação e comportamentos que
visam manter relações de amizade.
Dos 9 aos 12 anos, um amigo é: alguém com quem se partilha valores e gostos e
com quem existe um prazer de companhia recíproca “Ambos gostamos de ouvir música
Pop”.
+ De 12 anos, um amigo é: alguém com quem partilhamos segredos e sentimentos
e que nos apoia nos problemas psicológicos. “Preciso de alguém a quem dizer tudo, que não
quero que mais ninguém saiba”.
Positivas
Caracterizadas por um comportamento pro-social: comportamento de cooperação,
altruísmo e empatia. Um sujeito com empatia e altruísmo, age de modo a favorecer uma
outra pessoa sem óbvios benefícios próprios. Implica uma partilha das emoções com essa
outra pessoa, de modo a compreender as suas necessidades. Pode manifestar-se a partir dos
2 anos de idade. No quadro abaixo, podemos ver o desenvolvimento da empatia, segundo
Martin Hoffman (1987):
1. Empatia Global Com 1 ano Os outros não são percepcionados como distintos.
2. Empatia “egocêntrica” Com 2 anos Percebe que outra pessoa está perturbada mas não o
seu ponto de vista.
Tipos de Agressividade
Agressividade aberta: mais característica dos rapazes. (Ex: bater, empurrar e ameaçar).
Desenvolvimento da agressividade
Quantidade
A quantidade de agressividade diminui com a idade. Entre o 1 e os 3 anos, 50% das acções
são coercivas. Por volta dos 3 anos e meio, estas reduzem-se para 17%.
Formas
A agressão com a idade, é cada vez mais, expressa de forma verbal e não física. Aos 2 anos
traduzem-se em acções corporais; aos 10 anos em vergonha, humilhação, sarcasmo, etc. A
agressão instrumental vai diminuindo, havendo porem, uma manutenção dos níveis de
agressão hostil.
Factores Indutores
Diz respeito aos acontecimentos que desencadearam acções agressivas:
Cognições associadas
São os processos mentais associados à agressividade. O comportamento vai sendo
influenciado pela interpretação que faz dos acontecimentos e motivos que atribui aos outros.
O comportamento torna-se mais sofisticado e subtil à medida que o indivíduo cresce
(planeamento consciente). Com o passar do tempo, aumenta também o controlo cognitivo
sobre o comportamento. Ou seja, à medida que a criança se desenvolve, as suas capacidades
cognitivas e a forma como lida e interpreta a agressividade vão-se desenvolvendo.
Origens da agressão