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SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 1

1. – Introdução

1.1 – Apresentação

O texto que será apresentado a seguir faz parte do conjunto de notas de aula da
disciplina SET - 5926 cujo título é “Introdução à Mecânica da Fratura”. Esta disciplina
é ofertada no curso de pós-graduação do Departamento de Engenharia de Estruturas da
Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, SET/EESC/USP.
Nessas notas de aula serão introduzidos conceitos fundamentais para a compreensão dos
fenômenos tratados e explicados pela teoria da mecânica da fratura. O autor pretende
que essas notas de aula sejam periodicamente revisadas, objetivando torná-las cada vez
mais completas e de fácil entendimento. Assim, essas notas de aula não têm por
objetivo substituir livros clássicos da mecânica da fratura, mas sim complementá-los.
Dessa forma, sugere-se que os conhecimentos discutidos em sala de aula e apresentados
nessas notas sejam complementados nas referências fornecidas na ementa do curso e
citadas ao longo deste texto.

1.2 – Motivação

Antes que o estudo e discussão sobre os temas relacionados a essa disciplina


sejam iniciados, deve-se colocar a seguinte questão: o que motivou o desenvolvimento
da mecânica da fratura?
A partir da revolução industrial, diversos equipamentos e máquinas foram
desenvolvidos para a confecção de bens e manufaturas cada vez melhor elaborados.
Destacam-se nesse período o desenvolvimento da máquina a vapor no sec. XVII,
embarcações a vapor, locomotivas e motor a explosão no sec. XIX. À medida que a
sociedade demandava produtos mais sofisticados e complexos surgia também a

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necessidade do desenvolvimento de equipamentos que tornassem possível sua


produção.
Com o surgimento de manufaturas cada vez mais arrojadas, ocorreram diversas
falhas estruturais relacionadas a estas. Diversos acidentes envolvendo ferrovias,
elevadores, caldeiras, entre outros, eram noticiados semanalmente (se não diariamente)
naquela época. A busca por explicações para as possíveis causas desses acidentes foi a
motivação inicial para o desenvolvimento da mecânica da fratura. Atualmente, os
conceitos propostos pela mecânica da fratura tornaram-se importantes e robustos para o
entendimento, a prevenção e a explicação de diversos tipos de falhas estruturais.
Portanto, a compreensão desta teoria e de suas ferramentas é de grande importância para
os engenheiros de estruturas, os quais trabalham com procedimentos que objetivam a
prevenção de falhas estruturais durante todo o tempo.

1.3 – Notas Históricas e Curiosidades

Com o intuito de ilustrar a dimensão dos problemas estruturais enfrentados no


passado, serão listados alguns acidentes de grande repercussão, onde o conhecimento
das teorias da mecânica da fratura poderia ter sido utilizado para evitá-los.
 O primeiro vôo de longa duração teve de ser postergados em duas semanas
devido à fratura de um dos rotores da aeronave.
 No sec. XX, mais de 24 pontes colapsaram. Dentre elas destacam-se a ponte
soldada sobre o canal de Hasselt na Bélgica em 1938 e a King’s bridge localizada em
Melbourne, Austrália, em 1962.
 Desde a segunda guerra, mais de 200 aviões civis apresentaram falhas fatais
devido à ação de fissuras que cresceram por fadiga. A Fig. (1.1) ilustra um acidente
aéreo causado por propagação de fissuras em regime de fadiga. Três aviões comerciais
“Comet” falharam em menos de um ano de serviço pelo mesmo motivo, causando
grandes perdas humanas.
 Diversas fissuras foram identificadas em estruturas de usinas nucleares. Esse
tipo de problema pode gerar vazamento de material radioativo causando danos
ambientais enormes. Na Fig. (1.2) é mostrada uma macrofissura originada pela ação de
um terremoto no Japão.

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 Dos 2500 navios “Liberty” produzidos para a II guerra mundial, 145 partiram-se
ao meio ainda nas docas e 700 apresentaram danos que impossibilitaram sua utilização.
Até o final de 1958, apenas nos EUA, 319 acidentes envolvendo a falha de embarcações
foram noticiados. Outros acidentes ocorreram também na Dinamarca, Suécia e Reino
Unido. Dos 28 navios que partiram-se ao meio no período de 1942-1965, apenas 6
foram construídos na Europa, Fig. (1.3).
 Durante o procedimento de inspeção em uma aeronave comercial,
aproximadamente 35000 fissuras podem ser encontradas. Esse elevado número de
fissuras justifica o desenvolvimento de técnicas e métodos de análise estrutural mais
robustos e precisos para que procedimentos de inspeção e manutenção sejam
eficientemente efetuados.
 A plataforma semi-submersa “Alexandre L. Kielland” falhou em 27 de Março de
1980 no mar do norte da Europa, sendo registradas 123 mortes. A causa da falha, após
perícia, foi atribuída à fratura devido à ação de fadiga em um de seus braços de apoio.
 Diversas falhas estruturais foram observadas em tanques de armazenamento de
produtos nas repúblicas soviéticas durante a década de 70. Grande parte desses
acidentes ocorreu devido ao elevado gradiente de temperatura observado no sistema
tanque/produto, ambientais baixas e altas dos produtos armazenados. Normalmente, os
tanques eram utilizados para armazenamento de produtos químicos aplicados à
produção de fertilizantes. Além dos danos materiais causados pelo vazamento dos
produtos, geralmente ácidos, o dano ambiental resultante deve ser também enfatizado.
Na Fig. (1.4) é apresentado um tanque onde a falha estrutural descrita acima foi
observada.
É importante destacar que devido às melhorias na tecnologia dos materiais, nos
métodos de análise, compreensão dos problemas mecânicos e também aos coeficientes
de segurança, as falhas estruturais decorrentes da ação de fissuras foram reduzidas
sensivelmente. Porém, deve-se enfatizar que essas falhas ainda não são nulas!

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Figura 1.1 Falha devido ao crescimento de fissuras em fadiga na indústria aeronáutica.

Figura 1.2 Macro fissura na usina nuclear de Fukushima, Japão 2010.

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Figura 1.3 Falha devido ao crescimento de fissuras no navio Schenectady (Janeiro de 1943).

Figura 1.4 Falha em tanque de armazenamento em Cherepovets (Dezembro de 1977).

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1.4 – Conceitos Iniciais

Em muitos dos problemas encontrados no domínio da engenharia de estruturas,


os conceitos e as ferramentas fornecidos pela mecânica da fratura podem não ser
idealmente aplicáveis. Porém, esta teoria fornece respostas consistentes para diversos
problemas que outras teorias não abordam. A aplicação dos recursos propostos pela
mecânica da fratura certamente reduzirá o risco de uma falha estrutural provocada pela
ação de fissuras. Isso ocorre pelo fato da análise e a modelagem de corpos sujeitos a um
estado de degradação mecânica inicial ser mais realisticamente tratado por meio dessa
teoria. Para a compreensão dos conceitos da mecânica da fratura, algumas definições
iniciais devem ser apresentadas.
Fissura: O termo fissura é utilizado para designar uma região onde observa-se
uma descontinuidade material. Essa descontinuidade física gera, por consequência,
descontinuidades nos campos de deslocamento, deformação e tensão. Portanto, sua
abordagem, consideração e inclusão requerem atenção especial a esses aspectos.
Zona de Processos Inelásticos: Essa região é muitas vezes referenciada na
literatura apenas como zona de processo. Trata-se de uma porção material posicionada à
frente da ponta da fissura onde ocorrem processos inelásticos e dissipação de energia,
como mostrado na Fig. (1.5). A correta modelagem e interpretação dos fenômenos que
ocorrem nessa região estão diretamente ligadas à representação do comportamento
mecânico do elemento considerado. Quando a zona de processo tem dimensões
pequenas comparadas às dimensões do corpo, o processo de fratura pode ser analisado
usando a teoria da mecânica da fratura elástico linear. Do contrário, o processo de
fratura deve ser analisado por meio da mecânica da fratura não linear.
Coalescência: É o processo mecânico segundo o qual microfissuras se unem e
dão origem a uma, ou mais, macrofissuras, as quais são responsáveis pelo colapso do
corpo. Em uma estrutura, o processo de colapso e falha por fratura ocorre devido à
coalescência, já que todo material apresenta, em maior ou em menor escala, um grau de
micro danificação ou micro fissuração inicial.
Fratura: Denomina-se fratura o colapso de um corpo ocasionado pela ação de
uma ou mais fissuras. Em alguns textos científicos, o termo mecânica do fraturamento
pode ser também encontrado. Essa designação é feita em alusão ao termo inglês
“cracking”. Porém, no contexto dessas notas de aula, o termo fraturamento será

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empregado para referenciar os fenômenos associados ao processo de colapso estrutural


devido à ação de fissuras e mecânica da fratura para designar as teorias que governam o
fraturamento. A fratura pode ser enquadrada em seis tipos: Frágil (materiais frágeis),
Dúctil (materiais dúcteis), Quase-Frágil (materiais quase frágeis), Dinâmico, Assistido
pelo meio (devido à ação da corrosão ou agentes físico-químicos) e Transição dúctil-
frágil (associada, por exemplo, a mudanças de temperatura, como no colapso do navio
Titanic).

Figura 1.5 Fissura de zona de processo.

Fadiga: Carregamentos cíclicos atuantes em elementos estruturais induzem o


surgimento de campos de tensões que são também cíclicos. De acordo com a amplitude
da variação dessas tensões, o material que compõe o elemento estrutural pode sofrer os
efeitos relacionados ao fenômeno de fadiga. A oscilação das tensões faz com que a
resistência do material seja reduzida à medida que os ciclos de carregamento são
aplicados. Como o próprio nome do fenômeno indica, o material tende se “cansar”
nessas situações. A degradação do material causada pela ação de carregamentos cíclicos
é conhecida como fadiga. Apesar dessa simples definição, os fenômenos associados à
fadiga são consideravelmente complexos.

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Quando fissuras estão presentes em estruturas submetidas à fadiga, o


crescimento destas ocorrerá ao longo do tempo. Além disso, esse crescimento ocorrerá
em níveis de tensão muito inferiores àqueles que causariam a fratura do corpo na
condição de carregamento direto. A compreensão deste fenômeno é de grande
importância, principalmente nas indústrias aeronáutica, automotiva e naval, onde as
estruturas estão submetidas a carregamentos oscilatórios durante toda sua vida útil.

1.5 – Representação do Processo de Ruptura de um Sólido

No domínio da engenharia de estruturas, diversos são os problemas onde a


previsão e a modelagem do colapso estrutural tem destacada importância. Diante desta
demanda, surge a seguinte questão: Quais são as ferramentas mais robustas e precisas
para a representação do processo de colapso de um corpo?
A resposta para esta pergunta não é única e depende do comportamento
estrutural (mecânico) do material que compõe o sólido em análise. Atribuem-se a
Leonardo da Vinci e a Galileo Galilei os primeiros estudos que objetivaram o
entendimento do processo de ruptura de corpos. Por meio de experimentos simples,
como os ilustrados na Fig. (1.6), as distribuições de tensão e deformação puderam ser
inicialmente definidas.

Figura 1.6 Estudos pioneiros relacionados à resistência mecânica de corpos.

Neste item serão discutidas, de forma sucinta, três grandes teorias que são
capazes de representar, com considerável precisão, o processo de falha estrutural: teoria
da plasticidade, mecânica do dano e mecânica da fratura.
A teoria da plasticidade tem sido largamente utilizada para a representação do
comportamento estrutural de materiais dúcteis, especialmente metais. Com base nessa

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teoria, utiliza-se um critério de resistência para a determinação dos limites entre os


regimes elástico e elastoplástico. Além disso, tornam-se ainda necessárias: a definição
de uma regra de encruamento, que governa a mudança das propriedades do material
durante o fluxo plástico, e de uma regra de fluxo, a qual fornece a relação incremental
entre tensões e deformações na etapa plástica. Por meio da teoria da plasticidade
assume-se a hipótese de continuidade do material, sendo seus parâmetros de rigidez
corrigidos à medida que as deformações plásticas evoluem. Dessa forma, a
representação da falha causada por descontinuidades (fissuras) não é consistentemente
tratada. A modelagem da falha por meio desta teoria é utilizada em programas
comerciais como ANSYS e ABAQUS e utilizada por engenheiros em detrimento de
teorias mais elaboradas.
Na mecânica do dano, descontinuidades materiais micro e meso podem ser
tratadas com eficiência por meio de um critério de dano. Nesse caso, o sólido ainda é
tratado assumindo-se a hipótese de continuidade. Porém, a consideração de perda de
rigidez, ao contrário da teoria da plasticidade, é mais consistentemente considerada por
meio de parâmetros de dano. Por meio desta teoria, as microfissuras, distribuídas
continuamente e de forma aleatória ao longo do sólido, são tratadas de forma contínua e
homogênea, sendo as propriedades mecânicas do material alteradas em função do grau
da degradação mecânica presente. A fissura discreta pode ser entendida como resultado
de uma localização de micro defeitos.
Por meio da mecânica da fratura, a degradação mecânica de um dado material
pode ser representada através da consideração discreta das danificações (fissuras)
presentes no meio não contínuo. O crescimento e a evolução da degradação mecânica
são representados através da propagação das fissuras, as quais podem inclusive
apresentar coalescência. Considerando a mecânica da fratura, os fenômenos que causam
redução na rigidez do material são representados de forma discreta, sendo que sua
evolução resulta na representação da redução da rigidez do elemento estrutural.
Para complementar a discussão apresentada anteriormente, é importante também
considerar os efeitos da escala escolhida para a análise. Com relação à escala dos
problemas analisados tem-se:
Micro escala: Para a análise em micro escala, a degradação do material ocorre
devido à ação da concentração de tensão sobre a vizinhança de micro defeitos
(microfissuras), ou micro vazios. Nesse nível de observação, ocorre a quebra da ligação
entre os componentes do material e as micro degradações crescem. Considerando

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metais, a degradação em micro escala pode ser analisada através do deslocamento


relativo entre os cristais que formam o metal, como apresentado na Fig. (1.7). Já em
concretos, esta mesma análise pode ser efetuada na zona de transição existente entre
matriz e agregado.

Figura 1.7 Estudos pioneiros relacionados à resistência mecânica de corpos.

Meso escala: Na meso escala, um volume representativo de material observa o


crescimento das microfissuras ou micro vazios, os quais, por coalescência iniciam uma
região de fragilidade e por consequência uma fissura. Em metais, esse nível de
observação pode ser atribuído ao deslocamento relativo de um bloco formado por um
conjunto de cristais do metal. Já em concretos, a perda da coesão entre argamassa e
agregado enquadra-se nesse nível de observação.
Os fenômenos mecânicos observados nas duas escalas apresentadas
anteriormente podem ser consistentemente representados por meio da teoria da
plasticidade e mecânica do dano, se o objetivo da análise for mensurar os efeitos das
micro e meso escalas no comportamento mecânico do corpo em macro escala. Apesar
de a degradação mecânica ocorrer e pequenas descontinuidades surgirem, a hipótese de
continuidade do meio pode ainda ser assumida.
Macro escala: Nessa escala, a degradação do material é analisada por meio do
crescimento de uma ou mais fissuras geradas da coalescência dos micro defeitos. Os
problemas desse estágio de observação são consistentemente tratados por meio da
mecânica da fratura, já que são defeitos mecânicos são discretos.
Deve-se destacar que a diferenciação entre micro, meso e macro escalas,
apresentada anteriormente, depende da escala escolhida para as análises, ou seja, da
escala escolhida para a mensuração dos defeitos e suas consequências. Sendo assim, é
possível aplicar a mecânica da fratura nas análises em micro e meso escalas, desde que
as consequências analisadas sejam também mensuradas em micro e meso escalas. Deve-
se destacar que nas teorias da plasticidade e mecânica do dano a observação acima não é

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válida, ou seja, a modelagem de fenômenos macro com tais teorias não são
consistentemente tratados, devido à hipótese de continuidade do meio não ser válida.
Defeitos de micro escala estão associados, por exemplo, a quebra da ligação
atômica entre os átomos que formam o material. Quando várias ligações atômicas
localmente concentradas são quebradas, ocorre o deslocamento de um conjunto regular
organizado de átomos, comumente denominado cristal. Quando um conjunto de cristais
começa a deslocar-se diferencialmente até a formação de uma fissura discreta, tem-se
caracterizado o domínio meso escala. O movimento dos cristais une as zonas de
fragilidade do material até a localização da degradação formar uma fissura. A partir do
surgimento de uma degradação mecânica discreta, a análise deve ser conduzida pela
mecânica da fratura. Porém, as zonas de fragilidade em micro e meso escalas podem ser
também simuladas via mecânica da fratura. Basta que estas descontinuidades atômicas e
dos cristais sejam analisadas de forma discreta. Assim, os efeitos em micro e meso
escalas podem ser mensurados e a união dos campos de fragilidade das ligações
atômicas e da ligação entre cristais podem ser mensuradas via análise de coalescência.
Devido à natureza complexa do fenômeno de fratura, o tratamento dos
problemas micro, meso e macro ainda não são efetuados assumindo-se hipóteses únicas.
Enquanto na abordagem em nível atômico o estudo da fratura ocorre usando-se os
conceitos da mecânica quântica, na modelagem dos problemas macro assumem-se as
hipóteses da mecânica dos sólidos e da termodinâmica clássica. Portanto, o campo de
pesquisas no domínio da mecânica da fratura é ainda muito amplo, principalmente no
desenvolvimento de hipóteses únicas que abranjam todos os níveis de análise e
simulação.
Em resumo:
Micro Escala: É a escala utilizada para o estudo dos mecanismos de deformação
e dano.
Meso Escala: É a escala na qual as equações constitutivas da análise mecânica
são escritas.
Macro Escala: É a escala da engenharia de estruturas.

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1.6 – O Surgimento da Mecânica da Fratura

Inúmeros acidentes foram noticiados durante o século XX envolvendo falhas


estruturais. Embora projetados conforme as regras de resistência vigentes no período,
diversos navios, aeronaves, usinas entre outros falharam causando grandes prejuízos
financeiros e perdas de vidas humanas.
Muitos estudos dedicados à determinação das causas destas falhas não obtiveram
sucesso. Até que, em 1903, cientistas e engenheiros efetuaram inúmeros testes no navio
militar Woolf (destroyer), objetivando identificar as causas que davam início ao
processo de falha estrutural em navios. A referida embarcação foi então testada sob
diversas condições de carregamento. Em todos os testes realizados, nenhum
equipamento detectou tensões superiores a 90 MPa, sendo a resistência do aço que
formava o casco do navio variável entre 390 e 440 MPa. Nestes testes nenhuma falha
estrutural foi observada. Porém, os pesquisadores concluíram que outros navios haviam
falhado com fatores de segurança iguais aos dos estudados no Woolf. Então como
explicar tais falhas?
Depois de vários testes, os pesquisadores observaram que o processo de
fraturamento tinha início em locais onde estavam presentes entalhes geométricos e/ou
furos de ligações. Na verificação dos projetos, os pesquisadores descobriram que nas
regiões de furos, os projetistas assumiram a hipótese de uniformidade de tensão. Assim,
a tensão normal nessas regiões era calculada dividindo-se a força aplicada pela área da
seção transversal do elemento estrutural, descontando-se as áreas dos furos. Como
consequência, um importante fenômeno era desprezado, a “CONCENTRAÇÃO DE
TENSÃO”.
Em 1898, o engenheiro alemão KIRSCH resolveu, de forma analítica, o
problema de uma chapa tracionada com um furo circular e observou um considerável
aumento das tensões normais nas regiões das bordas do furo. Para essa situação, a
tensão normal máxima atuante é 3 vezes maior que a tensão aplicada! Até aquele
momento, portanto, os métodos de análise subestimavam essas concentrações de tensão.
Mais tarde, KOSOLOV-INGLIS, em 1913, resolveram o mesmo problema
considerando um furo elíptico. A concentração de tensão para esse caso é ainda mais
severa, conforme mostrado na Fig. (1.8). Anos depois, em 1921, GRIFFITH atribuiu a
grande discrepância entre as resistências teórica e experimental de vidros à

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concentração de tensão existente nas micro fissuras presentes no material. Na sequência,


ele também formulou o problema da fratura em regime frágil com base em critérios
energéticos.

Figura 1.8 Concentração de tensão. Soluções para furo circular e elíptico.

A mecânica da fratura foi introduzida como disciplina em 1950, por George R


Irwin, engenheiro que trabalhava no Naval Research Laboratory. Essa teoria foi
inicialmente desenvolvida considerando-se o comportamento elástico dos corpos,
originando a mecânica da fratura elástico linear (MFEL). Após inúmeros
desenvolvimentos e cooperações, as teorias da mecânica da fratura não linear (MFNL)
foram desenvolvidas e hoje são aplicadas na solução de diversos problemas da
engenharia estrutural. Apesar dos grandes avanços observados até o presente momento,
esse campo da mecânica dos sólidos permanece ainda em constante desenvolvimento,
sendo uma área de pesquisa em grande evidência.
No item seguinte, segue um texto no formato “script” que pode ser utilizado na
análise dos problemas de placa perfurada, furo circular e elíptico, através do programa
comercial ANSYS. Segure-se que o leitor o aplique na solução desses problemas e
entenda a distribuição de tensão e suas variações em decorrência da introdução do furo.
Deve-se enfatizar que à medida que um dos raios da elipse (b) tende a zero, o furo tende
a se tornar uma fissura e a tensão na ponta da fissura tende a crescer sem limites.

1.7 – Script para Construção de Exemplo via ANSYS

/NOPR
/PMETH,OFF,0
KEYW,PR_SET,1

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KEYW,PR_STRUC,1
KEYW,PR_THERM,0
KEYW,PR_FLUID,0
KEYW,PR_MULTI,0
/GO
!*
/COM,
/COM,Preferences for GUI filtering have been set to display:
/COM, Structural
!*
/PREP7
!*
ET,1,PLANE82
!*
!*
*ask,E,Modulo de Elasticidade,100
*ask,Ni,Coeficiente de Poisson,0.3
!*
!*
MPTEMP,,,,,,,,
MPTEMP,1,0
MPDATA,EX,1,,E
MPDATA,PRXY,1,,Ni
!*
!*
*ask,L,Largura da Chapa,4
*ask,H,Altura da Chapa,2
*ask,Dx,Diametro ao longo de X,0.5
*ask,Dy,Diametro ao longo de y,1.0
!*
!*
RECTNG,0,L,0,H,
CYL4,0,0,Dy/2
!*
!*
FLST,2,1,5,ORDE,1
FITEM,2,2
ARSCALE,P51X, , ,Dx/Dy,1,1, ,1,1
!*
!*
ASBA, 1, 2
!*
!*
ESIZE,(3.1415*Dy/45),
MSHKEY,0
CM,_Y,AREA
ASEL, , , , 3
CM,_Y1,AREA
CHKMSH,'AREA'
CMSEL,S,_Y
!*
AMESH,_Y1
!*
CMDELE,_Y
CMDELE,_Y1
CMDELE,_Y2
!*
/AUTO, 1
/REP
!*
FINISH

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
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/SOL
FLST,2,1,4,ORDE,1
FITEM,2,10
!*
/GO
DL,P51X, ,UX,
FLST,2,1,4,ORDE,1
FITEM,2,9
!*
/GO
DL,P51X, ,UY,
FLST,2,1,4,ORDE,1
FITEM,2,2
/GO
!*
!*
*ask,P,Valor da Pressao Aplicada,10
!*
!*
SFL,P51X,PRES,-P,
/STATUS,SOLU
SOLVE
FINISH
/POST1
!*
!*
/EFACET,1
PLNSOL, S,X, 0,1.0

1.8 – Revisão da Teoria da Elasticidade

A teoria da elasticidade fornece subsídios analíticos para a análise mecânica de


sólidos deformáveis. A dependência entre carregamentos externos e deformabilidade
estrutural é de fundamental importância para a compreensão do comportamento
mecânico dos sólidos deformáveis, e para a determinação de cenários nos quais a falha
estrutural é observada.
Neste item serão apresentadas algumas relações de interesse da teoria da
elasticidade que serão de grande utilidade na determinação de expressões importantes
da mecânica da fratura. Para as equações que serão apresentadas, assume-se que:
 As tensões são diretamente proporcionais às deformações. Portanto, assume-se a
validade da lei de Hooke generalizada.
 Os materiais considerados são isótropos e homogêneos, ou seja, tem
propriedades mecânicas iguais em qualquer ponto do sólido. Além disso, essas
propriedades são iguais ao longo de todas as direções consideradas.
 Num ciclo de carregamento e descarregamento a perda de energia é nula.

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
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 O material é resiliente, ou seja, tem capacidade de se deformar em regime


elástico e recuperar sua forma original após o descarregamento sem deformação
residual.
 As condições de contorno do problema atuam no contorno do sólido. Parte estará
submetida a condições de restrição em deslocamento (Dirichlet) e a parte complementar
a condições de restrição em forças (Newmann).

1.8.1 – Equações de Equilíbrio

O estado de tensão em um ponto, de um corpo em equilíbrio, pode ser ilustrado


representando o ponto estudado por um elemento de dimensões infinitesimais, conforme
apresenta a Fig. (1.9). Nesta figura estão apresentadas as componentes de tensão
considerando o sistema de coordenadas cartesianas.

Figura 1.9 Estado de tensão. Planos inclinados com forças de superfície.

O estado de tensão é caracterizado se conhecidas as nove componentes de


tensão, sendo seis componentes cisalhantes e três normais. Estas componentes de tensão
não são todas independentes. Considerando o equilíbrio no elemento infinitesimal em
termos de momentos pode-se verificar que:
 ij   ji (1.1)

sendo:  ij as tensões internas ao corpo.

Efetuando agora o equilíbrio em termos de forças, é possível encontrar a


equação de equilíbrio do corpo, que pode ser representada indicialmente por:
 ij , j  bi  0 (1.2)

em que: bi são os valores das forças de corpo presentes atuantes na direção i e  ij , j as

derivadas da tensão ij em relação a direção j.

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
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O equilíbrio deve também ser satisfeito na superfície do corpo. Dessa forma, o


estado de tensão, adjacente à superfície do corpo considerado, deve ser decomposto na
direção do contorno de forma a igualar-se às forças de superfície atuantes. A Fig. (1.9)
apresenta as forças de superfície atuantes sobre um plano inclinado em um elemento de
dimensões infinitesimais. Indicialmente, esta relação de equilíbrio pode ser representada
como:
Pi   ij j (1.3)

onde: Pi são as forças de superfície e  j os cossenos diretores da normal ao contorno.

1.8.2 – Relações Constitutivas

Em elasticidade linear clássica, há uma única relação envolvendo tensões e


deformações que é denominada lei de Hooke generalizada. Por meio dessa lei,
representada por um tensor de quarta ordem, cada componente de tensão é linearmente
relacionada com todas as componentes de deformação do ponto em estudo. Esta relação
é também válida no sentido inverso, ou seja, as componentes de deformação são
linearmente relacionadas às componentes de tensão via tensor inverso das propriedades
constitutivas. A lei de Hooke generalizada pode ser representada de forma geral como:
   [ Dc ]  (1.4)

onde:  Dc  é o tensor de quarta ordem contendo as propriedades constitutivas do

material,   o tensor de segunda ordem das tensões internas ao corpo e   o tensor de

segunda ordem das deformações do corpo.


Para materiais anisotrópicos, o tensor constitutivo contém 81 termos
independentes, os quais são função somente da direção dos eixos de referência.
Contando com a simetria dos tensores de tensão e deformação (  ij   ji e  ij   ji ), o

número de termos independentes do tensor constitutivo diminui para 36. Este número
pode ainda ser reduzido assumindo-se a validade do teorema de Maxwell, o qual
estabelece condições de conservação de energia. Assim, por meio deste teorema, o
trabalho de  x sobre  x causada por  y é igual ao trabalho de  y sobre  y causado por

 x , por exemplo. Quando esta hipótese é assumida, o tensor constitutivo torna-se


simétrico, com 21 coeficientes desconhecidos. Quando os 21 coeficientes são
independentes, diz-se que o material apresenta o maior índice de anisotropia possível.

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
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Porém, o material pode apresentar simetria segundo três eixos ortogonais. Nessa
situação, tem-se os conhecidos materiais ortótropos, cujas constantes elásticas
independentes são 9. Finalmente, assumindo que o material é isótropo, ou seja,
apresenta comportamento mecânico igual ao longo de qualquer direção, é possível
descrever o tensor Dc somente através do módulo de elasticidade longitudinal, E, e do

coeficiente de Poisson,  .
A lei de Hooke generalizada, para materiais isotrópicos, pode ser escrita de
forma concisa, indicialmente, conforme apresenta a Eq. (1.5).
E   
 ij   (1  2 )  ij  kk   ij  (1.5)
1  
sendo:  ij a função delta de Kroenecker e  ij as deformações do corpo.

De forma inversa as deformações podem ser relacionadas às tensões por:


1 
 ij   ij   kk  ij (1.6)
E E

1.8.3 – Relações Deformação-Deslocamento

A Fig. (1.10) ilustra as configurações deformada e indeformada de um corpo


sujeito a um regime de pequenas deformações. Tomando a vizinhança de um ponto P,
antes da deformação, verifica-se que este ponto desloca-se para o ponto P’, após a ação
do carregamento, sendo o deslocamento dado pela subtração dos vetores posição R’e R.
Nessa situação, a deformação pode ser obtida considerando a variação dos
deslocamentos ao longo de uma direção de interesse. Assim, as deformações estão
diretamente relacionadas aos gradientes dos deslocamentos.
No âmbito do regime de pequenas deformações, as componentes do estado de
deformação em um corpo podem ser descritas empregando a simplificação da descrição
via deformações infinitesimais. Por meio desta simplificação, as deformações podem ser
obtidas de acordo com a Eq. (1.7).
1
 ij 
2
 ui, j  u j ,i  (1.7)

em que: ui , j são as derivada do deslocamento da direção i em relação a direção j.

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 19

Figura 1.10 Estados deformado e indeformado para corpo em regime de pequenas deformações.
Determinação dos deslocamentos e das deformações em modelos 2D.

Tratando-se de regimes de grandes deformações, a descrição do estado de


deformação deve ser realizada empregando os recursos da deformação finita. Por meio
desta descrição, as deformações não são linearmente relacionadas ao gradiente dos
deslocamentos. A não linearidade da relação entre deformação e deslocamento se faz
pela inserção de um produto diferencial como apresenta a Eq. (1.8).
1
 ij 
2
 ui, j u j ,i  u j ,iui, j  (1.8)

1.8.4 – Condições de Compatibilidade de Deformações

A relação deformação-deslocamento, apresentada na Eq. (1.7), representa um


sistema composto por três componentes de deslocamentos e seis de deformação. De
forma a resolver problemas empregando o caminho inverso ao sugerido por essa
relação, ou seja, obter um campo de deslocamentos para um dado estado de deformação,
torna-se necessário o emprego de equações de compatibilidade, escritas em termos de
deformação. A teoria cinemática de corpos deformáveis prevê que a compatibilidade
deve ser efetuada através da relação Eq. (1.9).
 ij ,kl   kl ,ij   ik , jl   jl ,ik  0 (1.9)

1.8.5 – Equacionamento dos Problemas Elásticos

O equacionamento de problemas elásticos é necessário para a determinação de


tensões, deformações e deslocamentos em corpos sujeitos a esforços externos e a
condições de restrição aos deslocamentos. Para a determinação das grandezas

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 20

mencionadas acima, fazem-se necessários o emprego das relações: constitutiva,


deformação-deslocamento e de equilíbrio. Além disso, as grandezas determinadas
devem obedecer às condições de contorno impostas, assim como as condições de
compatibilidade. No total do equacionamento resultam 15 equações para a obtenção de
15 variáveis desconhecidas, as quais podem ser enunciadas: 6 tensões, 6 deformações e
3 deslocamentos.
Dependendo das condições de contorno impostas, as equações podem ser
manipuladas de forma a tornar a resolução mais conveniente. No caso do problema
estudado apresentar somente forças de superfície aplicadas, é desejável que as equações
sejam escritas em termos de tensões. Caso contrário, se estiverem presentes condições
de contorno em termos de deslocamentos impostos, é mais vantajoso resolver o sistema
de equações em termos de deslocamentos.

1.8.6 – Simplificação do Problema 3-D para Estados Planos

O equacionamento de problemas elásticos pode muitas vezes ser simplificado


dependendo da geometria do corpo a ser analisado bem como das condições de
contorno aplicadas. A transformação de problemas tridimensionais em problemas
bidimensionais dá origem aos problemas ditos planos, os quais podem ser divididos em
planos de tensão e planos de deformação.
Um problema é dito ser plano de deformação quando os vetores de
deslocamento dos pontos pertencentes ao corpo em questão são paralelos entre si. Isso
resulta que todos os pontos originalmente pertencentes a um plano, antes de o corpo ser
deformado, permanecem nesse mesmo plano após a atuação das ações externas. Nessa
classe de problemas enquadram-se, normalmente, problemas cuja geometria do corpo
analisado apresenta uma de suas dimensões muito superior às demais como em
barragens, tubulações e estruturas de contenção. Nesses casos citados, o plano sob o
qual estarão contidos os pontos é um plano normal a maior dimensão do corpo.
Admitindo por simplicidade que o plano que contém os deslocamentos do corpo
seja o xy, tem-se que as deformações presentes nesses tipos de problema são:
 x ,  y ,  xy . O estado de tensão é representado pelas seguintes componentes

 x , y , z , xy , sendo que  z é função das tensões  x e  y .

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 21

Já os problemas de estado plano de tensão são caracterizados pela distribuição


essencialmente plana de tensões no corpo. Nesta classe de problemas podem ser citadas
estruturas cuja geometria apresente uma de suas dimensões muito menor que as demais
como vigas-parede, chapas e paredes. Nestes casos, o carregamento é considerado como
composto por forças aplicadas de forma paralela ao plano formado pelas duas maiores
dimensões do corpo, sendo ainda distribuídas uniformemente ao longo da direção da
menor dimensão (espessura).
Considerando que o plano formado pelas duas maiores dimensões do corpo seja
o xy, o estado de tensão do corpo pode ser representado pelas seguintes componentes:
 x , y , xy . Já o estado de deformação é caracterizado pelas componentes:

 x ,  y ,  z ,  xy . Nessa situação  z é função das deformações  x ,  y .

1.8.7 – Tensões Principais

O estado de tensão em um ponto é definido por seis componentes orientadas


segundo um sistema de coordenadas de referência. Muitas vezes é de interesse na
análise o conhecimento do estado de tensão em relação a outro sistema de coordenadas.
O processo de transformação do estado de tensão no ponto de um sistema de referência
para outro é simples, bastando, para tanto, o conhecimento dos ângulos de inclinação
entre os sistemas de referência anterior e atual.
Apesar de ser simples, o processo de transformação do estado de tensão de um
sistema de referência a outro é de grande interesse em engenharia, para a determinação
de planos onde as tensões experimentam valores máximos e mínimos. Em especial, a
obtenção do estado de tensão em direções particulares onde as tensões cisalhantes sejam
nulas é de grande interesse. Em um problema tridimensional existem três planos
perpendiculares entre si onde essa condição é atendida, ou seja, as tensões cisalhantes
são nulas observando-se somente a presença de tensões normais. Essas tensões são
chamadas de tensões principais e, os eixos que as contém, de eixos principais de
tensões.
Assim, o vetor de tensão  P  é dito principal se a seguinte relação é verificada:

     
^
P
(1.10)

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 22

^ 
onde  é um escalar denominado valor principal e   é o versor da normal particular
 

que define uma direção principal.


Considerando a Eq. (1.3) pode-se escrever:
^  ^
        (1.11)
   
Ou em termos de componentes:
 ^   ^  ^ ^
  ij  j  ei    i  ei   ij  j   i (1.12)
   
^ ^ ^
 ij  j   j  ij   ij   ij  j  0 (1.13)

Ou ainda, a última expressão da Eq. (1.13) pode ser reescrita como:


^
  x     xy  xz  1 
^    ^  0 
 ij  ij  j  0    yx

 y     yz  2   0 
   
(1.14)
  zx

 zy  z    ^3  0
 
A condição para que o sistema homogêneo apresente solução diferente da trivial,
^ 
ou seja,   = 0 , é que o determinante da matriz de seus coeficientes se anule. Dessa
 

imposição resulta o seguinte polinômio cúbico em  :


 3  I1   2  I 2    I 3  0 (1.15)

As raízes do polinômio da Eq. (1.15) são as tensões principais. Nessa equação,


I1 , I 2 e I 3 são os invariantes do tensor de tensões, assim denominados, pois possuem o
mesmo valor independente do referencial adotado. Os invariantes são definidos como:
I1   x   y   z

I 2   x y   y z   x z   2xy   2yz   2zx (1.16)

I 3   x y z  2 xy xz yz   x 2yz   y 2xz   z 2xy

1.8.8 – Deformações Principais

Comportamento análogo ao das tensões pode ser observado também nas


deformações. Isto é, existem direções onde não são observadas deformações
distorcionais, ocorrendo somente deformações normais no corpo. Essas direções são

Capítulo 1 – Introdução___________________________________________________
SET 5926 - Introdução à Mecânica da Fratura 23

chamadas de principais e as deformações normais nessas direções são conhecidas como


deformações principais.
Para se encontrar as deformações principais deve-se, como na Eq. (1.14),
considerar que:

  x     xy  xz  1 
     0 
  yx

 y     yz   2   0 
   
(1.17)
  zx

 zy  z    3  0
 
O cálculo do determinante resulta, portanto, uma equação cúbica:
3  I12  I 2   I 3  0 (1.18)

As raízes do polinômio da Eq. (1.18) fornecem as deformações principais, onde


os invariantes do estado de deformação são definidos como:
I1   x   y   z

I 2   x  y   y  z   x  z   2xy   2yz   2zx (1.19)

I 3   x  y  z  2 xy  xz  yz   x  2yz   y  xz2   z  2xy

1.8.9 – Funções de Airy

Para a solução do problema elástico plano utilizando o equacionamento


apresentado, necessita-se ainda de uma função de tensão que exprima o tensor de
tensões de forma consistente, ou seja, satisfazendo as equações que governam o
problema e as condições de contorno.
Para tal fim, AIRY propôs uma função   x, y  , que leva seu nome, cujas
derivadas segundas, na ausência de forças de volume, relacionam-se com o estado de
tensão da seguinte maneira:
 2  2  2
x  y   xy   (1.20)
y 2 x 2 xy

Considerando a modelagem do problema plano apresentada anteriormente,


desprezando-se as forças de volume, tem-se:
   
 2  2 
  x   y  0 (1.21)
 x y 

Substituindo a Eq. (1.20) na Eq. (1.21) tem-se:

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 4 2 4  4
  0 (1.22)
x 4 x 2 y 2 y 4

Que de forma compacta pode ser reescrita como:

 
 4   2  2  0 (1.23)

Portanto, a função   x, y  , que soluciona analiticamente o problema elástico,


deve satisfazer à equação bi-harmônica, atendendo simultaneamente às condições de
contorno.   x, y  recebe o nome de função de tensão de Airy. Para maiores detalhes
sobre este item, o autor sugere que o leitor consulte o livro Theory of Elasticity do
pesquisador Timoshenko.

1.9 – Referências Complementares

AIRY, G.B. (1863). On the strains in the interior of beams, Phil. Trans. Royal Society,
153, London pp. 49-79.
CHOU, P.C; PAGANO, N.J. (1992). Elasticity: tensor, dyadic, and engineering
approaches, Dover Publications, 290p.
GRIFFITH, A.A. (1921). The phenomena of rupture and flows in solids, Phil. Trans.
Royal Society, Series A, vol. 221, pp. 163-198.
INGLIS, C.E. (1913). Stress in a plate due to the presence of cracks and sharp corners,
Trans. Inst. Naval Architects, vol. 55, pp. 219-230.
IRWIN, G.R. (1957). Analysis of Stress and Strain near the end of a crack traversing a
plate, Journal of Applied Mechanics, Trans. ASME, V.24, 361-364.
KIRCH, G. (1898). Verein Deutscher Ingenieure.
TIMOSHENKO, S.P. (1980). Teoria da Elasticidade, Guanabara Dois, RJ, 545p.
SANFORD, R.J. (2003). Principles of Fracture Mechanics, Prentice Hall, 404p.

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