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Manifesto contra o ignorancialismo

O ignorancialismo é uma ideologia no sentido trivial e pejorativo do termo. Um sistema de


ideias que distorce o ponto de visto do observador convertido até fazer dele um fanático
vociferando em tempo integral contra a liberdade, vista como libertinagem, contra a
diversidade, percebida como caos, e contra o pluralismo de valores. Esse conceito foi criado
pelo professor Álvaro Nunes Larangeira. Em tempos sombrios, como pregava o genial Guy
Debord, precisamos tomar os conceitos disponíveis e usá-los para dizer o que pensamos
indo além ou aquém dos seus autores. O ignorancialismo nunca será um humanismo. Muito
menos fundamento de regime democrático e de Estado de Direito.

Em sua dimensão mais leve, o ignorancialismo é uma forma de autoritarismo. Na sua forma
mais radical, o ignorancialismo é fascista: ideologia de extrema-direita baseada no culto à
personalidade do líder (o mito), na tradição como mordaça, nos valores do passado, num
modelo único de família, no localismo asfixiante, no moralismo e num Estado controlador de
comportamentos da vida privada.

O ignorancialismo de viés fascista é racista, machista, homofóbico e xenófobo. Despreza os


pobres que coopta com sua demagogia. Defensor da desigualdade econômica como
princípio natural, prega o armamento da população para manter a ordem, silenciar qualquer
insatisfação e não precisar fazer reformas que desconcentrem renda. A sua lei é: bandido
bom é bom bandido morto; trabalhador bom é trabalhador que não reclama, não faz greve,
não integra sindicato, não entra em partido político, não bloqueia rua com protestos e
considera natural a sua condição de dominado. O ignorancialismo é uma forma de
desconhecimento que pretende se transformar em forma de governo.

Na sua modalidade extrema, o ignorancialismo afirma que a Terra é plana e que o nazismo
era de esquerda. Pode até garantir que o homem nunca pisou na lua. O ignorancialismo
despreza as instituições democráticas. Não vê problema em fechar a suprema corte.
Enxerga no parlamento um desperdício de dinheiro. Admira a tortura e torturadores dos seus
oponentes. Ignora a história. Aplaude ditaduras de direita. O ignorancialismo é a negação
do Iluminismo, que louvava a razão. O ignorancialismo é um elitismo que se aproveita da
incultura das multidões mantidas deliberadamente na marginalidade e na penúria. Na sua
pretensa meritocracia, defende universidade para os ricos e ensino técnico para os pobres
como modalidade intrínseca de organização social pretensamente natural, apostando numa
relação nós e eles integrada: uma parte sendo servida pela outra. Cada um no seu quadrado
reconhecendo o seu lugar como se fosse predestinação ou destino.

O ignorancialismo é um fanatismo anacrônico, a liberação dos piores instintos, um salto na


escuridão do abismo, um sistema repulsivo de ideias odiosas assentadas na superioridade
natural de uns, o triunfo da barbárie como organização social, a união dos piores interesses
supostamente em nome dos mais altos valores, a divisão mais radical da sociedade por trás
de uma suposta união cívica e patriótica, o culto da mentira como verdade histórica, a falsa
neutralidade como escolha de lado, a truculência como etiqueta, a força como argumento
derradeiro, ocaso da racionalidade e da ciência.

Nada repugna mais os adeptos do ignorancialismo do que a liberdade sexual e a polissemia


estética. Reduzir o nós ao uno é a sua obsessão. A sua filosofia é a padronização, o
uniforme, a ordem unida, a continência, a hierarquia, o adestramento, a repressão, a
violência física e simbólica. O ignorancialismo é a doença senil do ultradireitismo que se
manifesta como culto a um passado vil e deformado por uma lente descomprometida com
fatos e documentos. O ignorancialismo simplifica por não suportar e não compreender a
complexidade; reduz por não alcançar a globalidade dos fenômenos e acontecimentos; vê
clareza e transparência no que é apenas tosco.

O bolsonarismo é o produto mais acabado do ignorancialismo em sua versão tropical.

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