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esde o início de minha atividade pedagógica, interessei-me por observar
o comportamento sonoro espontâneo nas crianças. Sempre me fascina-
ram essas brincadeiras, tão frescas e variadas, que realizam com os sons e
com a linguagem falada. Em minhas aulas de Piano e Iniciação Musical, as crian-
ças eram estimuladas a brincar, improvisar e compor música. Frequentemente, eu
me transformava em coordenadora do intercâmbio entusiasta que surgia natural-
mente entre os alunos: pedia permissão a quem havia tido uma boa ideia (hoje
continuo a fazê-lo) para transmiti-la a um companheiro, e assim sucessivamente.
Essas experiências foram muito positivas porque contribuíram para estreitar e
tornar mais significativo o vínculo das crianças com a música; além disso, a influ-
ência criativa transferiu-se a outras áreas do comportamento e da aprendizagem.
No início dos anos setenta, publiquei uma compilação de peças para piano
compostas por iniciantes (GAINZA, 1970). Também comecei a incluir, em
meus cancioneiros, métodos para piano e violão, e em textos escritos, algumas
1 Traduzido do espanhol por Helena Lopes Silva. Fonte: GAINZA, Violeta H. Pedagogía Musical: Dos
Décadas de Pensamiento y Acción Educativa. Buenos Aires: Grupo Editorial Lumen, 2002. p. 55-69.
rimas, canções e peças compostas por crianças. Não faltou algum colega que me
criticasse. Naquela época, era habitual desvalorizar as criações musicais infantis,
que eram consideradas apenas um produto insignificante do jogo infantil,
desprovido de valor estético. Pensava-se, então, que, para fazer arte, teria que
ser um especialista e, sobretudo, proceder – como argumentou em uma mesa-
redonda, que aconteceu em Buenos Aires nos anos setenta, um destacado colega,
pedagogo da área de teatro – a partir da determinação consciente de fazer arte.
Todavia, estávamos longe da época em que começou a moda da improvisação
musical e da criatividade. Parecia-me, ao contrário, que o fato de que alguém se
dedicasse à prática de uma arte não era suficiente para conferir categoria artística
à sua obra. É verdade que a criança não se propõe, como o adulto, a realizar
uma obra de arte, mas, por sua liberdade, por seu impulso, a criança é o modelo
mais genuíno de artista. As condições que a criança possui naturalmente – e que,
aparentemente, não lhe custam nada – são as que o artista propõe-se a conquistar
através de um difícil e doloroso processo em que a consciência convive com a
intuição e a naturalidade.
O jogo sonoro
A investigação espontânea e guiada do ambiente natural e humano por parte da
criança inclui experiências de descoberta em relação à tecnologia, ao sexo, e também
ao som. Esses processos normais de crescimento implicam o desdobramento
de uma ativa mobilização interna e encontram-se intimamente vinculados ao
exercício da criatividade. Por isso, não apenas não teriam que interromper-se
ao ingressar a criança na escola, mas, pelo contrário, deveriam potencializar-se
em todos os sentidos. Ser musicalmente ativo supõe a possibilidade de exercer
a livre expressão pessoal através da música e dos sons, o que inclui tanto o jogo
livre como o conjunto de regras. Ninguém se preocupa na atualidade em treinar a
criança pequena para que desenvolva a capacidade de reproduzir modelos visuais
e aprenda a desenhar com o máximo de detalhes e prolixidade. Felizmente, tanto
os pais quanto os professores acabaram dando um sentido lógico aos primeiros
rabiscos infantis. Então, por que é tão difícil conseguir que comportamentos tão
naturais como esses se generalizem no campo da educação musical? A busca
excessiva da perfeição na cópia, que, às vezes, equivocadamente, se denomina
interpretação, tem sido a causa de irreparáveis frustrações musicais; essa atitude
tem produzido, por outro lado, uma multidão de pequenos repetidores, a quem
privou-se sistematicamente de desfrutar totalmente a sua infância musical.
compreensão e manejo tanto dessa realidade como de seu próprio mundo interno.
Estilos ou orientações
Definimos, em termos gerais, três tipos de improvisação musical, a saber:
1) Improvisação recreativa: a atividade prazerosa – expressiva, recreativa,
comunicativa – do músico amador.
2) Improvisação profissional: a atividade especializada do músico profissional
(intérprete de jazz, música popular, acompanhamentos musicais para aulas de
dança etc.).
3) Improvisação educacional: a técnica didática que será aplicada pelo pedagogo
que serão pronunciadas claramente em tom suave, como em off (antes do começo
da improvisação, deverá prevenir o aluno para que este não interrompa a atividade
quando escutar indicações).
próprias. Este é o caminho que sugerimos ao docente, destacando que o mais efetivo
seria, como já dissemos, que este pudesse experimentar por si mesmo as sensações
e vantagens da improvisação individual ou grupal, trabalhando sob a condução de
um especialista ou de um músico amador. Além disso, sempre lhe resultará positivo
integrar-se como observador em grupos de improvisação musical.
Meninos e meninas aderem com alegria à proposta de jogo musical que lhes
parece atrativa, seja pela atividade mesma ou por seu resultado sonoro. Algumas
diferenças são mais evidentes em nível de estilo ou de formas de expressão: os
meninos preferem a música rítmica e harmônica, e manifestam maior facilidade
para elaborar bases harmônicas e harmonizar os temas melódicos; as mulheres
preferem, ao contrário, a música melódica, mostrando-se em geral mais sensíveis
aos aspectos expressivos e aos matizes sonoros.
Seria desejável que, através do estudo das obras do repertório vocal e instrumental,
em qualquer nível e especialidade, os alunos tivessem acesso a materiais, estruturas
e comportamentos musicais típicos de cada compositor. Tal objetivo consegue-se
facilmente através da prática da improvisação. Quando um aluno traz, por exemplo,
Um estudante avançado de piano que executa, por exemplo, o prelúdio Voiles (n.
2 do primeiro livro de Prelúdios de Debussy), depois de analisar, com a ajuda do
professor, as estruturas e materiais – escala, melodias, intervalos, acordes etc. –
que o compositor emprega na obra estará em condições de improvisar, a partir de
tais materiais e estruturas, tentando explorar os climas debussianos.
Conclusões
Mencionaremos algumas condições necessárias para que as crianças possam
desenvolver naturalmente sua criatividade musical:
Sabemos que isso não é fácil; para vencer a resistência e a rigidez pedagógica,
são requeridos esforços sistemáticos e intensos. A evolução da consciência supõe
mudanças atitudinais profundas para permitir o acesso a novas experiências e
formas de organização. Precisa-se tempo e também determinação para enfrentar
o temor tão natural e generalizado das pessoas à desestruturação e à mudança.
Referências
BENENZON, R.; GAINZA, V. H. de; WAGNER, G. Sonido, Comunicación,
Terapia. Salamanca: Amarú Ediciones, 1997.
COKER, Jerry. Improvisando en Jazz. Buenos Aires: Ediciones Víctor Lerú, 1974.
______. La Iniciación Musical del Niño. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1964.
______. Setenta Cánones de Aquí y de Allá. Buenos Aires: Ricordi Americana, 1967.