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26/11/2018 5 Grandes Romances Distópicos

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5 Grandes Romances Distópicos


por André Benjamim (https://homoliteratus.com/author/andre/)

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Além de uma breve definição do termo “distopia”, apresentamos


cinco grandes obras de nomes como Aldous Huxley, George
Orwell e Ray Bradbury.

(http://homoliteratus.com/wp-content/uploads/2014/07/ud.jpg)Origem
da palavra «distopia» e uma definição de romance distópico
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26/11/2018 5 Grandes Romances Distópicos

A palavra distopia e suas derivadas, no sentido aqui utilizado para definir um conjunto
diverso de romances, não se encontra na maioria dos dicionários, tanto da língua inglesa
(onde foi utilizada primeiramente) como das línguas latinas. Em português distopia é um
substantivo feminino, da área da medicina, que significa localização anómala de um
órgão. O prefixo dis- quando derivado do latim dis é um elemento de composição que
exprime a ideia de separação, dispersão etc. (por exemplo, dissolver, distribuir). Pode
também exprimir a ideia de dois (dissílabo, dístico). Quando derivado do grego antigo
dys, o prefixo dis- é um elemento de composição que exprime a ideia de dificuldade
(dispneia) ou de falta, privação, mau estado (dissimetria, disenteria).

Muitos autores continuam a recusar o uso desta palavra que, entretanto, se generalizou.
Ela é simultaneamente sinônima e antônima de outra palavra: utopia, sendo portanto uma
espécie de palavra anômala. Para entendermos o verdadeiro significado, atentemos no
significado de utopia, palavra fabricada com recurso ao grego antigo que literalmente que
dizer «não lugar» (ou, não + tópos, lugar): lugar ideal em que tudo estaria organizado da
melhor forma para felicidade completa do povo, sendo portanto um sonho, uma quimera,
uma fantasia, uma concepção irrealizável. A palavra distopia, ganhando o sentido de anti-
utopia, contra-utopia, utopia negativa, ou utopia negra, está para a utopia como o sonho
está para o pesadelo, e só através desta última acepção se entende a disseminação da
palavra distopia, e a aceitação do seu sentido íntimo.

Um romance distópico é assim aquele que descreve, por antecipação, engenharias


sociais que, apoiadas em mecanismos de controlo dos pensamentos, comportamentos, e
atitudes, dos seus membros, e em mecanismos de repressão da dissidência, garantem a
unanimidade totalitária. A ação dos romances distópicos decorre frequentemente em
tempos futuros e locais inexistentes, embora possam ter ligação a territórios presentes.
São criados na maioria das vezes como avisos ou sátiras, tentando demonstrar como as
atuais convenções sociais, e a exploração de conhecimentos científicos, extrapoladas
aos limites, podem conduzir a sociedades castradoras dos indivíduos e da sua
humanidade.

1 – A Máquina do Tempo (1895), de H. G. Wells

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26/11/2018 5 Grandes Romances Distópicos

(http://homoliteratus.com/wp-
content/uploads/2014/07/hgw.jpg)A Máquina do Tempo
é um livro mais conhecido enquanto obra de ficção
científica, mas é também aquilo a que se convencionou
chamar romance distópico. Publicado em 1895, reflete o
pensamento de uma época dominada por profundas
transformações científicas, políticas, econômicas e
sociais que entre si se potencializavam. Era uma época
em que as grandes descobertas científicas faziam com
que Homem sonhar com uma nova sociedade, mais
justa, mais igual, mais fraterna, mais confortável. Tudo
se cria possível, e grandes sonhos nunca concretizados
tomaram conta do pensamento daqueles tempos. Na
literatura e na arte, apareceu depois o movimento
denominado Modernismo (pai de todos os -ismos, período fecundo de grandes obras,
mas também de imensas catástrofes, pai entre outros de um -ismo que tanta crueldade e
mortandade trouxe ao mundo, o fascismo, e outros -ismos não menos mortais). Eram
tempos em que se anteviam todas as possibilidades e todos os perigos.

Herbert George Wells, conhecido como H. G. Wells, nasceu em Bromley, localidade do


condado de Kent, na Inglaterra, a 21 de Setembro de 1866, no seio de uma família de
origens modestas. Para conseguir prosseguir os seus estudos, começou a trabalhar
cedo, o que mais tarde lhe provocou uma doença pulmonar que o obrigava a uma vida
sedentária. Para se conseguir sustentar começou a leccionar e a produzir trabalhos
didáticos, e só depois iniciou a escrita de romances e contos. Entre 1895 e 1900
escreveu uma série de romances de ficção científica que lhe trouxeram consagração
quase imediata, e que são ainda hoje bem conhecidos, nomeadamente por causa de
diversas adaptações cinematográficas: A Máquina do Tempo, A Guerra dos Mundos, O
Homem Invisível, e A Ilha do Dr. Moreau. Após obter sucesso com estas obras, passou a
dedicar-se a obras com um cunho social e político mais profundo, sobretudo obras de
cariz ensaístico, na área da filosofia, história e política, onde defendia as suas teses
socialistas e pacifistas, o amor livre, e a união de toda a humanidade, sem critérios de
nacionalidade, credo, ou outras.

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No âmbito aqui em análise, a parte distópica da obra A Máquina do Tempo, importa-nos a


sociedade que o Viajante do Tempo (nunca é dito o seu nome) vai encontrar no ano
802701. Ao “estacionar” nesse longínquo ano no futuro, o Viajante do Tempo, vai
encontrar uma sociedade que o obrigará a confrontar as suas ideias utópicas com a
realidade. A sociedade não evoluíra da maneira por si imaginada. Após longos séculos a
espécie humana encontra-se agora dividida em duas sub-espécies: os Elois e os
Morlocks; os primeiros são belas criaturas que andam pela face da terra,
despreocupadamente, vivendo o dia-a-dia num estado idealizado de inocência primitiva,
vegetarianos, alimentados e vestidos pelos segundos, criaturas horríveis que vivem nas
profundezas da terra, num sistema de túneis e indústrias, que saem somente durante o
período de lua nova (não suportam qualquer tipo de luz) para caçar os Elois, que são o
seu alimento.

2 – Nós (1924), de Evgueni Zamiatine


Desconhecido durante muitos anos da maioria do público leitor, e até da maior parte dos
círculos literários, o romance Nós, do autor russo Evegueni Zamiatine, nascido em
Lebedian, a 1 de Fevereiro de 1884, foi escrito em Petrogrado, em 1920, mas o original
russo apenas seria publicado na sua língua em 1952, não na então União Soviética, mas
em Nova York. Na Rússia só seria publicado após a perestróica. A primeira edição do
livro foi uma tradução inglesa, publicada em Nova York, em 1924; quatro anos depois foi
publicada em França um tradução a partir do inglês – e durante muitos anos praticamente
desapareceria de circulação e do conhecimento público. Evegueni Zamiatine faleceu a 17
de Março de 1931 em Paris, França.

Em Nós não existem indivíduos (Eu), existe apenas a comunidade (Nós); não existem
pessoas, não existem cidadãos, existem números. D-503, o protagonista e narrador (os
capítulos do romance são as entradas do seu diário) é um engenheiro responsável pela
construção de uma nave que levará aos habitantes de outros planetas a mensagem da
«felicidade matemática e exacta». Estamos no século XXX, mil anos passaram desde
que os «heroicos antepassados submeteram todo o globo terrestre ao domínio do Estado
Único». Se os hipotéticos habitantes de outros planetas ainda viverem «no estado
selvagem de liberdade», e não aceitarem a mensagem, o Estado Único, governado pelo
Benfeitor, terá que recorrer às armas, pois considera que «é nosso dever forçá-los a ser
felizes.»

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Não há individualidade, portanto também não há privacidade: as casas são feitas de


vidro, todos os habitantes são polícias uns dos outros e também não há exclusividade
sexual. «O Estado Único levou a cabo uma ofensiva contra o outro dominador do
Universo, ou seja, o Amor». Trezentos anos após a instauração do Estado Único, o Amor
tinha sido «derrotado, isto é, foi organizado, matematizado». E a «Lex Sexualis» foi
proclamada: «Qualquer número tem o direito de utilizar qualquer outro número como
produto sexual.» Ficamos a saber tudo isto nas primeiras páginas do romance, pelo que
estas revelações nada revelam da história, do enredo, da forma como tudo isto é
operacionalizado. Como inspiração para toda a organização social Evegueni Zamiatine
utiliza a figura de Frederick Winslow Taylor (Filadélfia, Estados Unidos, 1856-1915,
operário e engenheiro que concebeu métodos científicos de estudo e organização do
trabalho).

Quem tenha lido Admirável Mundo Novo e Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, não
deixará de notar certas semelhanças com Nós, motivo porque se crê que tanto uma obra
como a outra terão sofrido a influência desta. Embora ambos fossem anglófonos, crê-se
que tanto Aldous Huxley como George Orwell terão tido conhecimento da obra Nós
através da tradução francesa, a primeira edição do livro publicada na Europa. Eram
ambos conhecedores da língua francesa, como lerão a seguir.

3 – Admirável Mundo Novo (1931), de Aldous Huxley


(http://homoliteratus.com/wp-
content/uploads/2014/07/nbw.png)

Aldous Leonard Huxley nasceu a 26 de Julho de


1894, em Godalming, Inglaterra, no seio de uma
família com vários nomes conhecidos, na
Literatura e na Ciência, acabando por os
destronar a todos, sendo hoje o mais conhecido
dos Huxley’s; cresceu rodeado de figuras da elite
intelectual britânica da época. O pai, Leonard
Huxley, foi biógrafo e poeta, o avô, Thomas Henry
Huxley, o professor que mais influenciou H. G.
Wells, foi também um dos cientistas que ajudaram
a desenvolver a teoria da evolução. Julian Huxley,

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irmão de Aldous, foi igualmente um escritor (e cientista, e administrador) famoso. Nos


primeiros anos da sua carreira de escritor fez amizade com alguns dos mais
proeminentes membros do Bloomsbury Group, entre os quais Virginia Woolf, E. M.
Forster, e D. H. Lawrence. Vive dos pequenos rendimentos, e durante um breve período
dá aulas de Francês em Eton, onde já havia sido aluno, e onde foi professor de Eric
Arthur Blair, mais tarde mundialmente conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell.

Entre 1919, ano em que casa com a belga Maria Nys, e 1931, ano em que publica
Admirável Mundo Novo, vai publicando diversas obras menores, pelo menos em termos
de sucesso, tem um filho, o único, Matthew Huxley, viaja por França e Itália, na
companhia de D. H. Lawrence, dedica-se à escrita de contos, ensaios, poemas, e peças
de teatro. Em 1937 muda-se para os Estados Unidos, onde passa a década seguinte
vivendo da escrita de roteiros para cinema – adaptou, entre outros, a obra Orgulho e
Preconceito, de Jane Austen, em 1940. No final dos anos 40 e anos 50 inicia um novo
período da sua vida, em que experimenta diversas drogas da moda naqueles anos, como
LSD e mescalina; sob influência destas escreve três livros: As Portas da Percepção
(1954, romance a que a banda The Doors deve o seu nome – o título do livro foi retirado
de um verso de William Blake: Se as portas da percepção fossem purificadas, tudo
surgiria aos olhos do homem tal como é, infinito.), Céu e Inferno (1956), e Ilha (1962).
Abandona as drogas e dedica os últimos anos da sua vida ao pacifismo e misticismo,
vindo a morrer a 22 de Novembro de 1963, em Los Angeles, Estados Unidos.

A sociedade descrita em Admirável Mundo Novo (Huxley inspirou-se na peça A


Tempestade, acto V, cena I, de William Shakespeare: O, wonder! / How namy goodly
creatures are there here! / How beauteous mankind is! O brave new world, / That hath
such people in’t!). Hoje o romance huxleyano que melhor sobreviveu à passagem do
tempo, está organizada num Estado Mundial, assente em três divisas: Comunidade,
Identidade, e Estabilidade. Aquilo que aparentemente é um paraíso, é na verdade um
inferno onde o Homem foi desumanizado. A ciência, a tecnologia, e a organização social
ao invés de estarem ao serviço do ser humano, escravizaram-no, sem que o Homem
tenha consciência disso. Vive-se o ano 632 A. F. (After Ford, Depois de Ford, depois do
lançamento do primeiro modelo do Ford T, a 1 de Outubro de 1908, do industrial,
pensador, e empresário Americano Henry Ford, 1863-1947, produzido em série, o
primeiro empresário a aplicar as teorias de Taylor em grande escala), que corresponde ao
ano 2540 da nossa era. O Homem é produzido em série, consoante as necessidades,
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dividido em cinco castas: alfas, betas, gamas, deltas, e ipsilões. O Homem é produzido
numa escala que vai daqueles destinados aos mais importantes cargos e trabalhos de
índole intelectual (alfas) até àqueles destinados a trabalhos estritamente braçais
(ipsilões). Nesta produção industrial em massa do novo ser humano, este é selecionado e
condicionado de maneira a «fazer amar às pessoas o destino social a que não podem
escapar.»

Carta de Aldous Huxley para George Orwell (http://homoliteratus.com/carta-de-aldous-


huxley-a-george-orwell/).

4 – 1984 (1949), de George Orwell


George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair) nasceu em 1903 em Bengala, Índia, no
seio de uma família indo-britânica, estudou em Eton e, depois de concluídos os estudos,
ingressou na polícia indiana imperial, na Birmânia, mas demitiu-se após seis anos, num
momento em que havia adoecido. Desde então viveu dos seus trabalho jornalísticos e
literários. Os seus primeiros trabalhos literários, e diversas obras e ensaios posteriores,
refletem as suas experiências biográficas: Os Dias da Birmânia, sobre os seus anos
enquanto ao serviço da polícia colonial; Na Pior em Paris e Londres, sobre períodos de
miséria que terá vivido nestas cidades, após o regresso à Europa; Homenagem à
Catalunha, sobre a guerra civil espanhola, em que lutou ao lado dos Republicanos, e de
que saiu gravemente ferido.

Em 1984, a sua última obra, publicada em 1949, um ano antes da sua morte precoce,
vítima de tuberculose, vive-se num estado totalitário, onipresente e onipotente, controlado
pelos princípios do Socing (socialismo inglês) pelos quais se rege o Partido; ninguém
nem nenhuma atividade escapa ao controlo do Grande Irmão (Big Brother): O Grande
Irmão está a ver-te, através de um aparelho semelhante a um televisão, que permite
fazer a propaganda do partido e controlar as atividades dos cidadãos. O mundo encontra-
se dividido em três blocos, ou super-estados: a Oceânia (cuja capital é Londres, onde
decorre a ação), Eurásia, e Lestásia. A Oceânia está sempre em guerra, ora com a
Lestásia, ora com a Eurásia; se está em guerra com um, está aliada a outro.

Sempre que o “parceiro” de guerra muda, todos os registos passados e presentes


mudam, os jornais são reescritos, os livros são reescritos, a História é reescrita; se, por
exemplo, estiver em guerra com a Lestásia, então sempre esteve em guerra com a

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Lestásia. A História é, assim, um eterno presente, que retira ao Homem a capacidade de


reflexão sobre o mundo. Outro mecanismo para diminuir e controlar a capacidade de
reflexão do Homem é a chamada Novilíngua – uma língua falada por todos, derivada do
Inglês, ao qual vão sendo tirado todos os dias centenas ou milhares de palavras, com o
objectivo de diminuir a capacidade de pensar. É responsável por estas atividades o
Ministério da Verdade (Minivero, em Novilíngua). Além do Ministério da Verdade, existem
outros três Ministérios, que abaixo do Grande Irmão, na hierarquia desta sociedade, a
controlam totalmente: «O Ministério da Paz, que se ocupava da guerra. O Ministério do
Amor, que garantia a lei e a ordem. E o Ministério da Riqueza, responsável pelos
assuntos econômicos». Minipax, Minamor, Minirico, em Novilíngua.

(http://homoliteratus.com/wp-content/uploads/2014/07/nineteen-eighty-four-1984.gif)Toda
a sociedade é regida pelos três slogans, ou lemas, do Partido: Guerra é Paz; Liberdade é
Escravidão; Ignorância é Força. As atividades de todos os cidadãos são controladas
pelos mecanismos de vigilância do Grande Irmão, pelos próprios cidadãos, que se
controlam uns aos outros, individualmente ou organizados em patrulhas; porém, a mais
importante das forças de vigilância é a Polícia do Pensamento. Controlando o
pensamento, controla-se quase tudo. Além destas divisões, a sociedade encontra-se
ainda dividida entre aqueles que pertencem ao Partido e os Proles. Dentro do Partido há
ainda aqueles que pertencem ao Partido Interno (os que têm funções de maiores poderes
e responsabilidades).

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É nesta sociedade que Winston Smith começa a escrever um diário, à semelhança de D-


503 em Nós, embora em 1984 Winston não seja o narrador. O diário é aqui mais
simbólico, mostra o poder do objecto-livro, enquanto receptor e transmissor de ideias,
enquanto objecto que dialoga com os outros e com o próprio autor, permitindo alargar o
campo do pensamento. Qual o real significado desta obra? Um aviso contra as ameaças
do Stalinismo, um aviso contra as ameaças que vinham do caminho que a política
britânica estava a seguir? O Grande Irmão é uma projeção de Winston Churchill? O
Socing (socialismo inglês) é uma crítica às políticas socialistas de Churchill? Muitos livros
e muitas teorias já foram escritas e defendidas, desde a publicação da obra até aos
nossos dias. Orwell, que morreu pouco tempo depois de a ter publicado, agastado com
tão diversas interpretações, ao gosto das ideias, ideais, e quadrante político dos autores,
veio a público defender que 1984 era uma sátira, e não uma profecia. A sua preocupação
seria falar sobre a o confronto latente entre a Rússia e o Ocidente, que estava a tornar
estas duas sociedades totalitárias e autistas uma em relação à outra. Profecia, ou não,
muito do que escreveu Orwell mantém-se perigosamente actual, como aviso.

5 – Farenheit 451 (1953), de Ray Bradbury


Ray Bradbury é mundialmente conhecido como autor de ficção científica, rótulo que
inicialmente começou por desdenhar e recusar, pois queria que as suas obras fossem
entendidas no mesmo sentido que eram as de Aldous Huxley ou George Orwell.
Queixava-se ao seu editor que também as obras destes autores eram de ficção científica
e ninguém lhes colocava este rótulo; além demais, considerava que assim entendidas, as
suas obras teriam menos possibilidade de sucesso comercial e de serem tomadas a sério
no plano da qualidade literária. Nasceu a 22 de Agosto de 1920 em Waukehan, Illinois,
Estados Unidos, e faleceu a 6 de Junho de 2012, em Los Angeles, Califórnia.

As suas obras mais conhecidas, além de Farenheit 451, são, entre outras, As Crónicas
Marcianas, Uma Sombra Passou Por Aqui, O Homem Ilustrado, ou A Cidade Inteira
Dorme. Na sua actividade de escritor, Bradbury escreveu romances, contos, peças de
teatro, peças para rádio e televisão, poesia, literatura infantil e também roteiros para
cinema, actividade que lhe valeu o Óscar em 1956, pela adaptação da obra Moby Dick,
de Hermann Melville. Tentou também, embora sem grande sucesso, tanto junto da crítica,
como dos seus habituais leitores e dos leitores do género, o romance policial, com A
Morte é Um Negócio Solitário.

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Fahrenheit 451 apresenta-nos uma sociedade futura em que todos os livros serão
queimados, atividade pela qual são responsáveis os “bombeiros” que não são mais
chamados para apagar fogos mas para os atear. Guy Montag, o personagem principal, é
um desses bombeiros; ao longo do tempo vai guardando exemplares para si, mas nunca
ganha coragem para os ler, o que o poderia denunciar. Escrito nos primeiros anos da
Guerra Fria, a obra é uma crítica à sociedade americana, que Ray Bradbury entendia que
estava cada vez mais disfuncional. Nesta sociedade onde os livros são proibidos, as
opiniões próprias são consideradas anti-sociais e hedonistas. Acabar com os livros é uma
forma de suprimir o pensamento crítico. O título, Fahrenheit 451, refere-se à temperatura
a que o papel (os livros) incendeiam.

(http://homoliteratus.com/wp-content/uploads/2014/07/F451-004.jpg)

Como todas as obras do gênero, Fahrenheit 451 foi submetido a diversas interpretações
ao longo dos anos, porém focadas na ideia que a queima (proibição) de livros conduz à
supressão de ideias dissidentes. Esta foi, aliás, ao longo da história da humanidade uma
das formas pela qual as classes dominantes tentaram submeter as dominadas aos seus
valores. Pense-se, por exemplo, no Santo Ofício (Inquisição) que além de queimar
pessoas!, queimava livros (e os proibia, através do Index Librorum Prohibitorum), nas
queimas de livros levadas a público por Hitler e os seus seguidores durante o período do
Nazismo, na Alemanha e nos territórios ocupados, na censura que existe e existiu ao
longo da história em diversos locais, e sob diversos regimes, ou na proibição da
impressão de livros, por parte de Portugal, no Brasil, ou por parte de Inglaterra, nas
colônias americanas. Sobre a obra, Bradbury declarou que foi escrita como uma

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declaração de amor aos livros e às bibliotecas, e que não era sua intenção tratar da
censura, mas da forma como a televisão destruía o interesse na leitura. Não sendo um
livro extenso, não direi mais sobre o enredo em si, pois incorria no risco de dizer tudo.

Outras obras distópicas


Quem tenha interesse na leitura de obras distópicas (e utópicas) encontra diversos
títulos, muitos no âmbito da ficção científica, mas não só. Entre as muitas existentes,
destaco O Presidente Negro, de Monteiro Lobato (http://homoliteratus.com/monteiro-
lobato-um-brasileiro-visionario/), A Revolução dos Bichos
(http://homoliteratus.com/resenha-a-revolucao-dos-bichos-george-orwell/), também de
George Orwell, O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler, Laranja Mecânica, de Anthony
Burguess, O Almoço Nu, de William Burroughs, O Planeta dos Macacos, de Pierre Boulle,
as obras de Philip K. Dick, J.G. Ballard, William Gibson, ou Neal Stephenson, por
exemplo. Aldous Huxley e H. G. Wells, escreveram outras obras, que não sendo
negativas, ou tão negativas, são consideradas utopias, mas ainda assim tão ou mais
interessantes.

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André Benjamim (https://homoliteratus.com/author/andre/) Autor


Escritor (http://www.amazon.com/Cadernos-Secretos-S%C3%A9bastian-Portuguese-
Edition/dp/1482679345), Poeta, Blogger (http://thoughloversbelostloveshallnot.blogspot.com/),
Sonhador. Licenciado em Psicologia das Organizações (Coimbra, Portugal). Tem vagueado pelo
mundo, à procura de um cais, ou uma casa, ou qualquer coisa, que um dia talvez encontre - ou
descubra - por sorte, azar, ou ironia do destino. Apenas sabe que ainda não chegou. «Sempre
chegamos ao sítio aonde nos esperam.»?

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