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O saber, o gozo e a função do amor na psicose

A vida de Vincent Van Gogh permite investigar a função do amor devido ao


precoce laço que se estabeleceu entre a morte e o amor. Não analisaremos sua produção
artística mas a biografia feita pela cunhada e o epistolário de 1200 cartas pois são
documentos de alto valor para situar o sujeito a partir de sua fala. Van Gogh, exemplo
de artista com psicose desencadeada, diante do encontro com Um pai- Gaguin responde
com auto-mutilação da orelha, tentativa de homicídio e suicídio, passagens ao ato que
revelam a forclusão do significante Nome do Pai.
Esta tese advém da releitura da Verwerfung freudiana que indica a rejeição da
castração ao qual Lacan acrescenta a falta de inscrição de um significante primordial no
simbólico e uma forma específica de retorno - no real. Esse buraco no simbólico é
próprio da estrutura concebida a partir do recalque originário freudiano que designa no
inconsciente falta de um saber, de algo escapa à apreensão do sentido. Lacan parte daí
para avançar em seu ensino: “É enquanto alguma coisa é Ur verdrangt no Simbólico
que há algo que não damos jamais sentido (...) Há uma Urverdrangt, um
inconsciente irredutível e este, de ser dito, é por assim dizer, o que não se define como
impossível mas introduz como tal a categoria do impossível” (R.S.I.: aula 17/12/1974).
Ele diferencia aqui o buraco no interior do simbólico, limite interno desse registro e a
categoria do real como registro independente designando um impossível lógico .
O buraco no simbólico aplicado ao Inconsciente, institui um irredutível nomeado
de “Não há relação sexual”. Esse impossível indica que o que não se escreve é o gozo,
na relação com o Outro sexo pois o recalque atesta que “o gozo não convém a relação
sexual” porque por si só não estabelece a relação com o Outro (Lacan, 1982/1973-
74:83). Lacan utiliza “rapport” indicando que na diferença dos sexos, fundamentada na
linguagem, não há complementaridade em relação ao ser e ao ter, para o homem e para
a mulher já que a medida comum definida por Freud foi o Falo. O Falo como razão na
partilha dos sexos é um significante recalcado a partir do qual o sujeito assume sua
posição sexuada: “ela é sem tê-lo", "ele não é sem tê-lo”. O Falo indicará depois a
impossibilidade da inscrição da relação entre dois corpos de sexo diferente, pois como
está recalcado, ele é obstáculo ao rapport. Lacan faz aqui uma disjunção entre Gozo e
Outro cuja não relação entre eles fará surgir o Outro sob a forma do Um, Um separado
do Outro, gozo assexuado, solitário, que pertence ao real que é situado como feminino
ao lado do Gozo Fálico.
O buraco do simbólico existe para todos porque não existe no inconsciente o
significante da mulher que permitiria que a relação sexual pudesse se escrever. Esse
“não há” determina um lugar vazio que convoca sempre uma suplência. Isto levou
Lacan a formular que como entre os sexos não há relação sexual “ O que vem em
suplência a relação sexual, precisamente é o Amor “, que é o que se tem de mais
elaborável sobre o gozo “(1982/1973-74: 62,). É no ponto onde algo não se inscreve
que o amor pode ter função de suplência, suplência no sentido de suprir algo que não
deu, se for uma criação que permite cercar o impossível do saber inconsciente.
Van Gogh sai de casa aos 16 anos para ser “marchand” e escreve: ”Tenho a
natureza, a arte e a poesia. Se isto não e é suficiente, o que é ? Mas não esqueço a
Holanda. Quando se ama realmente a natureza, pode-se encontrar beleza em todas as
partes. (carta 16). A separação do Outro, a Pátria-Mãe, o lança numa nostalgia e revela
que o desejo é o desejo do Outro, cujo acesso se dá mediante identificação da imagem
do Outro investida libidinalmente, imagem que é uma falta no Outro. O amor se
configura aí como o que permite a identificação dessa falta no Outro. Mas esse amor
precisará do alojamento em um lugar que lhe permita ser, conectar o amor ao sexual,
isto é ao desejo e gozo, o que o levará à busca de uma parceira sexual.
. Em Londres, apaixona-se por uma jovem e afirma “um homem e uma mulher
podem tornar-se num único e mesmo ser” "(Nagera, 1980:22). Tarda em se declarar e é
recusado. Cai em um estado de perplexidade e tristeza e se converte em pessoa rude,
sombria, atormentada e instável, substitui o contato com pessoas pela leitura da Bíblia.
Este amor por uma mulher, é um amor paixão, uma busca de reconhecimento que
implica o amor em seu registro imaginário pois se dá no eixo eu-tu, cuja rejeição cava
um buraco no simbólico. Este vazio de significação acerca de seu ser, seu lugar no
desejo do Outro é para ele uma experiência enigmática cujo efeito de perplexidade, de
abandono do corpo que é um resto até que se estabiliza numa resposta de sentido,
imaginaria, no seu messianismo. O pai se converte então em seu grande modelo. "
Aquele que ama a seus pais , deve seguir seu exemplo toda a vida" (Nagera,
1980:26.) Segue-se um período de fanatismo: ” Sinto-me atraído pela religião.
“Quero consolar os humildes”.(carta pág. 10) Decide ser pastor como o pai que servia
a Deus, se identifica com Jesus, o filho crucificado, para sustentar o pai.
O amor que leva ao reconhecimento do real como impossível é o que Freud
introduziu como primeira identificação ligada ao pai primordial, ao amor e ao Ideal. A
idéia de um pai todo amor é também a essência da religião: o Deus - pai amoroso com o
qual ele busca se identificar para amar todas as pessoas, fonte do saber, da verdade e da
vida. Ao fracassar na primeira tentativa de encontrar o amor por meio de uma mulher
enlaçado ao desejo e gozo se volta à religião no conforto desse Deus. Leva sua palavra
para mineiros, escandaliza-os com seu comportamento e fanatismo e é recusado no
apostolado. Escreve: ”a vida foi dada para enriquecer nossos corações (...) me sentiria
melhor (...) com uma mulher feia, velha ou pobre ou infeliz (...) que tivesse alcançado
a inteligência e uma alma pela experiência de vida e pelas provações (...).É bom amar
(...) nisso consiste a verdadeira força”.” (carta 121:30)
O amor que não se obtém deixa aberta a possibilidade de um saber se revelar.
Van Gogh nomeia um amor pela pura beleza e descentraliza, o gozo da relação à
mulher. Lacan nomeia de Amor Divino esse amor à coisa pela beleza, um amor
diferente do narcísico e do amor onde amar que visa o ser para além daquilo que ele
parece ser. O psicótico não ama no mesmo lugar que o neurótico, ele ama desde o Outro
absoluto configurando uma relação extática com o Outro. Lacan diz “ para o psicótico
uma relação amorosa é possível abolindo-o como sujeito, enquanto ela admite uma
heterogeneidade radical do Outro. Mas esse amor é também uma amor morto.”
(1981/1955-56, 287) “Ali onde a fala esta ausente, ali se situa o Eros do psicotizado,
é ali que ele encontra seu supremo amor(1981/1955-56,289)
Allouch explicita que “o psicótico ama o Outro enquanto Outro. Esse amor
esta vivo” (...) e na medida em que se realiza, implica, exige o desaparecimento do
sujeito”, sendo da ordem sacrifical ele é também um amor morto. (2010, 95). Há dom
nesse amor extático que lança o sujeito para fora de si mesmo e separa o amante do
amado. Van Gogh descreve o amor de um Deus que deve ser amado mais que a si
mesmo, que é a medida de todos os amores: Tudo o que “é verdadeiramente belo (...)
vem de Deus (...) a melhor maneira de conhecer Deus é amar muito ( ...) nos
verdadeiros artistas, em suas obras primas, encontrará Deus nelas””. O que faz
desaparecer a prisão “ é amar (..) aquele que não tem isso permanece na morte” Isto
conduz a Deus (...) à fé inabalável”. (carta 133: pág.51)
Ali onde não se cavou o buraco que aponta que ”a relação sexual não existe”:
duas saídas se colocam: suicídio e suplência. Van Gogh cria um pai para identificar-se
por intermédio do amor, ao amar o pai pode amar a todos. Mas escolhe se apoiar num
Deus sem limites, o que levará a um saber sem limites que terá conseqüências na vida.
Em sua missão de consolador dos pobres, lhes entregará sua comida, suas roupas, sua
cama; arruinando sua saúde revelando um corpo desalojado de seu ser, convertido em
puro gozo, entregue a esse Deus-pai-puro-amor,. Nesse sacrifício se constata o
enlaçamento do amor com o gozo na exclusão do desejo, ou seja: esse amor ao Outro
infinito é um amor que não permite ao gozo condescender ao desejo, é um amor morto.
Começa o período mais sombrio, de errância.e grandes angústia até a descoberta
de um novo caminho: Será pintor, nada mais que pintor (Van Gogh, 2002:13)., virada
onde há um retorno à mulher, porém busca de amor ainda suportada no Outro infinito
pois afirma que ser pintor é ser evangelizador. Apaixona-se pela prima e diz “Minha
melancolia desapareceu, descobri um modo diferente de olhar para todas as coisa e a
minha capacidade de trabalho duplicou” ( Bonafoux, 1994:13) “ Minha vida e meu
amor são um só. (carta 153:68) . Ao ouvir a recusa através da palavra jamais “ sentiu
“algo esmagador, como a danação eterna (...) e foi jogado por terra” (carta 154:72).
No ponto de angústia, surge o pensamento “Ela e ninguém mais”; quem ama vive.
Para um homem estar apaixonado é a descoberta de um novo hemisfério (...) mas “é
preciso uma ela”” (carta 154:70)
De novo o amor sustenta sua existência, mas um amor com outra consistência:
“Ela e nenhuma outra” ( carta154:71). Ama uma mulher, ama para além dela, uma
mulher que vale por todas, o que indica o arcabouço do amor a partir do Todo. Na
psicose, essa escolha não é feita não é feita a partir do Não-Todo, configurando o lugar
de exceção, que ao não ser ocupado o levará a pensar em morte, ainda não realizada
porque surge a terceira dama do amor: Sien, prostituta, alcoólatra, grávida, cuja relação
descreve “Ela “está ligada a mim como uma pomba domesticada (...) vou me casar
(...) senão a “miséria irá enxotá-la para um caminho que leva ao precipício” (carta
192, 80), esse amor me tirou da melancolia; é “ uma grande benção que meus
pensamentos tenham encontrado um ponto fixo “ (carta 212:183)
O amor visa o sujeito, mas este não tem muito o que fazer com o gozo; ele não
serve para nada . Seu “signo é suscetível de provocar o desejo” (Lacan,1982/1973-
74:69) mas ainda somos joguetes do gozo.em razão do ser de significância no gozo,
onde o corpo é a mesa do jogo. Van Gogh devasta seu corpo ao dividir os parcos
recursos com a mulher e sua filha, acaba no hospital e sem dentes. Afastado dos
pintores, fica mal e escreve: “Não é tanto a língua dos pintores, mas a língua da
natureza à qual é preciso dar ouvidos” ( carta 218:86)
Não achando abrigo no amor às mulheres, para escapar da morte recorrerá ao o
amor philia e a arte para suplementar o Outro. O amor philia é fora do sexo e “indica a
coragem de suportar a relação intolerável ao ser supremo que os amigos se
reconhecem e se escolhem”( Lacan, 1982/1972-7:107). A philia se liga ao amor morto
em sua versão mortificada, um tipo de laço social para um sujeito que sofreu as
conseqüências de uma psicose desencadeada. “Ser amigos, ser irmãos, amar, isto abre
a porta da prisão por poder soberano, como um encanto muito poderoso. Mas aquele
que não tem isto permanece na morte” (carta 133, pág. 54). O laço do amor não
alcança o três” ( Gallo, 2007:91) mas o fracasso no amor abre a via do saber e da
produção. Estabelece intensa relação com a arte, cria a teoria da cor e vai para Arles
fundar a fraternidade dos pintores do futuro “para agüentar o cerco do fracasso que
durará toda nossa existência”. Se o amor não funcionou como escrita da relação sexual
a arte também não fará laço com R.S.I. porque a pintura substituiu o Amor ao Outro
infinito encarnado na Natureza, Pátria, Deus e A Mulher .
Van Gogh escreve “O amor pela arte faz perdermos o verdadeiro amor” (carta
462:207); a obra perfeita é “ algo completo, perfeito, faz com que o infinito se torne
tangível para nós, e o gozo de uma coisa bela é como orgasmo, um momento de
infinitude” ( Bonger, 2004:262). A busca desse gênio só se deteria se enfrentasse o
imaginário do belo para abrir a via do reflorecimento do amor enquanto a(muro) o amor
que limita e que se liga o nó a três.

Referencias Bibliograficas

ALLLOUCH, Jean.O amor Lacan RJ: Companhia de Freud, 2010

BONGER, Johanna .Biografia de Vincent can Gogh por sua cunhada./Porto Alegre: L&

PM, 2004

GALLO, Jairo Arte y Suplência: Los Nombres del Padre em Vincent Van Gogh Magister

en Psicoanalisis, Universidad Argentina John F. Kennedy,Buenos Aires, ,2007

LACAN, Jacques. Seminário Livro 3 As psicoses.(1955-56). R.J. : Jorge Zahar, 1985

Seminário Livro 20 Mais, Ainda.(1972-73). RJ: Jorge Zahar, 1982


Seminario Livro XXII: : R. S. I ( 1974-75) – Seminário Inédito

Publicação interna CEF, 1993

NAGERA, Humberto .Vincent Van Gogh: um estúdio psicológico.

Barcelona:Ed. Blume, 1980

VAN GOGH, Vincent. Cartas a Théo. Porto Alegre: L&PM, 2002

WALTHER, I.F. e METZGER, R. Van Gogh. Madrid: Taschen, 2001

* Texto apresentado no IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental

e X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental; Curitiba, 04 a 07

setembro de 2010

Curriculum Vitae
Psicanalista, professora titular da PUCSP, coordenadora do curso Pós-graduação
“Psicanálise e Linguagem: uma outra psicopatologia PUCSP, membro fundador “Gesta:
Instituto de pesquisa, Ensino e Ação em Saúde Mental, autora de “Paixões do Ser :
pulsão e objeto na psicose”, membro fundador do Espaço Psicanálise:

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