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Para Hobsbawm (), ainda que a Revolução Francesa seja fruto de seu tempo e desse
contexto geral, é necessário buscar suas origens na situação específica francesa, pois ali o
conflito da estrutura do antigo regime e as novas forças sociais ascendentes era mais agudo.
Contudo, essa figuração se estabiliza com Luís XVI, que não faz o mesmo jogo de
equilíbrio e junto esse problema, a industrialização promove mudanças como a
desfuncionalização de elites privilegiadas tradicionais que, com esse congelamento põe fim à
supremacia absoluta de um dos três principais centros de poder: rei, parlamento e nobreza de
épeé. Nessas condições, só havia, segundo Elias () três saídas possíveis:
A primeira é a admissão institucionalmente regulada, como parceiros das
elites monopolistas, de representantes dos grupos sociais que se fortaleceram
em relação à posição de poder e decisão que proporciona o controle do
monopólio do poder. A segunda é a tentativa de imobilizar os grupos que se
fortaleceram e sua posição subordinada com concessões, principalmente
econômicas, mas sem acesso ao monopólio central. A terceira se baseia na
incapacidade das elites privilegiadas, condicionada socialmente, de perceber
que as relações sociais se alteraram, e com elas as relações de poder (...) é
grande a probabilidade de que os grupos em vias de se tornarem socialmente
mais fortes, e que até então tinham uma posição marginal, procurem
combater o acesso bloqueado ao controle do monopólio da violência e dos
outros monopólios no Estado pelo uso da violência física, pelo caminho da
revolução. (p. 273)
O terceiro caminho foi o escolhido e através dessas lutas os grupos privilegiados tradicionais e os
destituídos de função foram destruídos, produzindo outros tipos de camadas sociais e consequentemente,
uma nova divisão social.
A Revolução tem início com a tentativa reformista aristocrática - mal sucedida - de recapturar o
Estado com a convocação da Assembleia dos notáveis (1787) e a Convocação dos Estados Gerais (1788)
que subestimou as intenções independentes do terceiro Estado e desprezou a profunda crise
socioeconômica, culminando no juramento da sala do Jogo da Péla e no envolvimento da massa que
resultou na queda do maior símbolo do regime absolutista, a bastilha. Nesse interim, formam-se as
Guardas Nacionais, com milícias de cidadãos e as Comunas como novas divisões administrativas, quando
boa parte da nobreza emigra.
Ainda de acordo com esse autor a revolução não foi liderada por um partido ou movimento e sim
por um consenso surpreendente de ideias gerais entre um grupo social bastante coerente, que dá ao
movimento revolucionário uma unidade efetiva – a burguesia com ideias liberais clássicas difundidas pela
maçonaria e instituições informais. É ela que aprova na Assembleia Constituinte a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão com princípios liberais de igualdade perante a lei e liberdades
individuais – que ficaram ainda presos ao conceito afunilado de cidadania da época, que excluía
mulheres, imigrantes e crianças.
A constituição finalizada em 1791, não aboliu a forma monárquica de governo, mas foi
responsável pela criação dos três poderes e pelo estabelecimento da igualdade civil com o sufrágio
universal – ainda restrito à condição de cidadão. Essa constituição não foi aceita pelas camadas populares
e realizam greves em Paris
Essa fase que ficou na história conhecida como período do terror é marcada pela radicalidade de
Robespierre em manter a todo custo a revolução, matando todos os suspeitos de oposição. Do outro lado,
os girondinos, mais moderados, representantes dos anseios burgueses temiam pelos rumos que tomava a
revolução. A morte de Robespierre e a retirada dos jacobinos do poder, inaugura o período denominado
Diretório (1793-1799), que foi mais apaziguado, onde os girondinos no poder, promulgam nova
constituição representando os seus interesses, entre eles o voto censitário.
Contudo estudos recentes como o de Dominique Godineau têm demonstrado que, mesmo em
menor número a presença feminina foi expressiva para o desencadeamento do processo revolucionário,
elas participaram através de cartas endereçadas ao rei ou a Assembleia Nacional com suas reivindicações,
através de clubes políticos disseminados pelos cafés das cidades, além da militância e participação na
guerra junto à Guarda Nacional. Houve dois tipos de participação feminina, um aristocrático e um popular
que tinham como pauta de reivindicação dois aspectos: direitos civis e cidadania política.
Houve também a circulação de panfletos como o da Petição das mulheres ao Terceiro Estado e
ao rei reivindicando educação gratuita que possibilitasse às mulheres trabalharem em atividades
apropriadas à elas.
Muitas mulheres que se posicionavam eram perseguidas, mortas ou se exilavam como Madame
Stael que, apesar de não assistir como as demais mulheres os debates na Assembleia e não apresentar
propostas específicas para as mulheres, exerceu influência sobre alguns políticos a ponto de ficar exilada
entre 1792 e 1814.
A holandesa Etta Plam d’ Aelderes fez discursos em defesa dos direitos políticos femininos e se
destacou pela tentativa frustrada de fundar uma instituição de educação profissional para mulheres. Ela
financiou a educação de três meninas, mas emigrou quando foi considerada suspeita.
Eles atrelaram à mulher a obrigatoriedade da tarefa cívica de educar os filhos de acordo com os
princípios da nova sociedade, ou seja, igualdade e liberdade. Assumindo a maternidade cívica elas se
tornaram mais próximas e responsáveis e tiveram maior autoridade pelos filhos. À elas também foi
atrelada a própria imagem da República em oposição a figura masculina representante da monarquia que
era extremamente contrária a atividade política feminina baseada na Lei Sálica (). Dessa forma, o bom
comportamento feminino era ligado ao bom funcionamento do novo regime.
A participação militante é marcada principalmente por três momentos: a Marcha para Versalhes
(1789) onde protestaram contra o preço do pão, ousando reivindicar uma Guarda Nacional feminina e
onde obrigaram o rei e a Assembleia Constituinte a ir para Paris; Invasão da Assembleia Nacional em
1789 contra os princípios da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão; e por fim, a atuação de
muitas mulheres junto à Guarda Nacional vestidas de homem que lutaram contra a Áustria em 1792 em
defesa da Pátria e da revolução, das quais, muitas foram homenageadas.
Durante a Marcha para Versalhes Théroigne de Mericour – que ao final acaba num hospício - e
Pauline Léon, discursam a favor do uso de armas pelas mulheres para mostrar que são tão corajosas
quanto os homens, por isso, a petição endereçada à Assembleia Nacional solicitando armas. Mesmo com
a recusa, o empreendimento das constantes marchas, influenciam decisivamente na queda da monarquia e
junto aos San Culottes na proclamar a República.
Os efeitos dessa participação são principalmente uma divisão social do trabalho e das atividades
domésticas que pode ser verificada até hoje, bem como a negação da igualdade política – contrário aos
princípios revolucionários- que têm sido derrubada com resistência na atualidade.
Para Souza(2003) a Revolução concedeu muito mais direitos civis do que cidadania política, pois
no período a cidadania política estava relacionada ao direito à participação na Guarda Nacional, de
exercer cargo público e votar e ser votado.
Apesar das mulheres representarem em termos numéricos segundo Souza () cerca de 15 a 25%
dos membros sua participação foi efetiva em momentos decisivos nesses dois campos de reivindicação,
mas sua participação ficou em segundo plano, e em grande medida isso ocorreu devido às proibições de
participação na assembleia e na guarda nacional – onde só tinham permissão as lavadeiras e cantineiras.
De acordo com Hobsbawm (1977), as próprias ações do rei que desconsiderou o cenário
econômico social francês, ao convocar os três Estados, condicionaram os movimentos que culminaram no
processo revolucionário. É justamente com relação a esse cenário caótico de crise e falta de mão que
surgem as reivindicações femininas que vão sendo acrescentados com novas pautas, próximas aos
princípios revolucionários.
Dessa forma, concordamos assim como Dante (2013), que as mulheres desde o início do
processo revolucionário demonstraram entendimento sobre a situação política, e assim como os homens,
buscavam mudanças sociais através da ação política. Essa ação se deu por meio de cartas, de marchas,
protestos, guerra armada, mas também através da maternidade civil.