Sei sulla pagina 1di 4

A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA REVOLUÇÃO FRANCESA

A Revolução Francesa é o grande marco de ruptura política com o modelo estabelecido


no Antigo Regime. Ela se enquadra de acordo com Hobsbawm () em um processo de crise geral
do Antigo Regime e não é, portanto, um fenômeno unicamente francês. Entretanto, foi na terra
do Rei Sol, onde ocorreram consequências mais profundas, devido ao fato de ser o lugar mais
populoso e o Estado mais poderoso da Europa ocidental e por ter tomado contornos de uma
revolução social de massa radical de forma una.

Nessa apresentação buscaremos identificar e analisar a participação feminina nesse


movimento histórico revolucionário que mudou a estrutura política ocidental. Para isso,
elencamos inicialmente a importância e as causas que impulsionaram o processo
revolucionário e pontuamos em seguida os principais momentos da revolução, a fim de
estruturar uma cronologia que nos permita inserir a contribuição feminina nos diferentes
momentos e acontecimento com o propósito de analisar a importância de sua presença.

Para Hobsbawm (), ainda que a Revolução Francesa seja fruto de seu tempo e desse
contexto geral, é necessário buscar suas origens na situação específica francesa, pois ali o
conflito da estrutura do antigo regime e as novas forças sociais ascendentes era mais agudo.

Norbert Elias () ao estudar a sociedade de corte francesa apresenta as mudanças de


longo prazo na figuração dessa estrutura que culminaram no processo revolucionário. Para ele,
com Luís XIV, havia uma flexibilização dos poderes controlada diretamente pelo rei, de forma a
equilibrar as forças de poder que o pressionavam. Nesse sentido, havia uma distribuição de
poder entre os mais baixos para que pressionassem de maneira imediata os que estavam mais
próximos ao rei, direcionando assim, as tensões entre essas duas camadas.

Contudo, essa figuração se estabiliza com Luís XVI, que não faz o mesmo jogo de
equilíbrio e junto esse problema, a industrialização promove mudanças como a
desfuncionalização de elites privilegiadas tradicionais que, com esse congelamento põe fim à
supremacia absoluta de um dos três principais centros de poder: rei, parlamento e nobreza de
épeé. Nessas condições, só havia, segundo Elias () três saídas possíveis:
A primeira é a admissão institucionalmente regulada, como parceiros das
elites monopolistas, de representantes dos grupos sociais que se fortaleceram
em relação à posição de poder e decisão que proporciona o controle do
monopólio do poder. A segunda é a tentativa de imobilizar os grupos que se
fortaleceram e sua posição subordinada com concessões, principalmente
econômicas, mas sem acesso ao monopólio central. A terceira se baseia na
incapacidade das elites privilegiadas, condicionada socialmente, de perceber
que as relações sociais se alteraram, e com elas as relações de poder (...) é
grande a probabilidade de que os grupos em vias de se tornarem socialmente
mais fortes, e que até então tinham uma posição marginal, procurem
combater o acesso bloqueado ao controle do monopólio da violência e dos
outros monopólios no Estado pelo uso da violência física, pelo caminho da
revolução. (p. 273)

O terceiro caminho foi o escolhido e através dessas lutas os grupos privilegiados tradicionais e os
destituídos de função foram destruídos, produzindo outros tipos de camadas sociais e consequentemente,
uma nova divisão social.

As causas imediatas da Revolução segundo Hobsbawm são: a continuidade desses privilégios


para as camadas desfuncionalizadas, crises econômico-sociais e medidas despóticas – reformistas, bem
como outras guerras como a Revolução Americana. A crise geral, dá chances à aristocracia e ao
parlamento de mudar seu quadro, mas eles não estavam dispostos a pagar por ela a não ser que houvesse
ampliação de seus privilégios.

A Revolução tem início com a tentativa reformista aristocrática - mal sucedida - de recapturar o
Estado com a convocação da Assembleia dos notáveis (1787) e a Convocação dos Estados Gerais (1788)
que subestimou as intenções independentes do terceiro Estado e desprezou a profunda crise
socioeconômica, culminando no juramento da sala do Jogo da Péla e no envolvimento da massa que
resultou na queda do maior símbolo do regime absolutista, a bastilha. Nesse interim, formam-se as
Guardas Nacionais, com milícias de cidadãos e as Comunas como novas divisões administrativas, quando
boa parte da nobreza emigra.

Ainda de acordo com esse autor a revolução não foi liderada por um partido ou movimento e sim
por um consenso surpreendente de ideias gerais entre um grupo social bastante coerente, que dá ao
movimento revolucionário uma unidade efetiva – a burguesia com ideias liberais clássicas difundidas pela
maçonaria e instituições informais. É ela que aprova na Assembleia Constituinte a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão com princípios liberais de igualdade perante a lei e liberdades
individuais – que ficaram ainda presos ao conceito afunilado de cidadania da época, que excluía
mulheres, imigrantes e crianças.

A constituição finalizada em 1791, não aboliu a forma monárquica de governo, mas foi
responsável pela criação dos três poderes e pelo estabelecimento da igualdade civil com o sufrágio
universal – ainda restrito à condição de cidadão. Essa constituição não foi aceita pelas camadas populares
e realizam greves em Paris

A indisposição da nobreza em ceder seus privilégios formou no exílio estratégias de


contrarrevolução e o perigo iminente abriu portas ao chamado período da Convenção, uma nova
assembleia comandada por jacobinos que levariam às últimas consequências, se possível, a defesa da
revolução e com a descoberta de envolvimento do rei com as forças invasoras contrarrevolucionárias,
proclamam a República (1792), prendem o rei durante a guerra, condenando-o na Convenção Nacional à
morte na Guilhotina.

Essa fase que ficou na história conhecida como período do terror é marcada pela radicalidade de
Robespierre em manter a todo custo a revolução, matando todos os suspeitos de oposição. Do outro lado,
os girondinos, mais moderados, representantes dos anseios burgueses temiam pelos rumos que tomava a
revolução. A morte de Robespierre e a retirada dos jacobinos do poder, inaugura o período denominado
Diretório (1793-1799), que foi mais apaziguado, onde os girondinos no poder, promulgam nova
constituição representando os seus interesses, entre eles o voto censitário.

Delineados os principais movimentos, ocorrências e suas causas, podemos partir para a


contribuição feminina no processo revolucionário. Segundo Dante () de modo geral o movimento parece
ser exclusivamente masculino e não há um consenso se o estudo da contribuição feminina é relevante
para o entendimento do processo revolucionário francês.

Contudo estudos recentes como o de Dominique Godineau têm demonstrado que, mesmo em
menor número a presença feminina foi expressiva para o desencadeamento do processo revolucionário,
elas participaram através de cartas endereçadas ao rei ou a Assembleia Nacional com suas reivindicações,
através de clubes políticos disseminados pelos cafés das cidades, além da militância e participação na
guerra junto à Guarda Nacional. Houve dois tipos de participação feminina, um aristocrático e um popular
que tinham como pauta de reivindicação dois aspectos: direitos civis e cidadania política.

As mulheres francesas participavam de protestos contra a crise de abastecimento e a inflação


desde meados do século XVIII ao lado de seus maridos e lutaram com eles também pela exigência de
bons representantes para composição da Assembleia Nacional Constituinte (1789). De acordo com Dante
() elas presenciaram as sessões da Assembleia legislativa até serem proibidas, passando a atuar
principalmente nos cafés e salões, fundando organização e milícias revolucionárias.

Inicialmente, tiveram participação ativa no envio de cartas “Cahiers de Doléances” ao rei


solicitando mais educação, liberdade, igualdade em direitos civis e ao trabalho, divórcio. Em termos de
direitos civis elas eram consideradas iguais a um homem estrangeiro.
Cartas anônimas como “Destino atual das mulheres, aos bons espíritos” mostraram indignação
com a Constituição promulgada, com o Código Penal, bem como a Declaração de Direitos do Homem e
do Cidadão que as excluíram e mantiveram-nas na condição de subalternas. A carta de Madame B
reivindica a cidadania para as mulheres, representação nos Estados Gerais, educação para que essas
mulheres possam discutir assuntos políticos de interesses públicos, mas também aponta como alternativa
o confisco de terras da igreja adquiridas de maneira ilegítima para poder equilibrar a dívida do Estado.
Outras cartas como “Agravos e queixas das mulheres malcasadas”, focavam no direito ao divórcio, visto
como um empecilho à liberdade de ambos os sexos. De maneira geral, nessas cartas havia pedidos de
proteção econômico, pois muitas mulheres trabalhavam, mas ganhavam muito abaixo do pagamento
dispensado aos homens e eram feitas com uso de uma linguagem moral com princípios de justiça,
igualdade e liberdade.

Houve também a circulação de panfletos como o da Petição das mulheres ao Terceiro Estado e
ao rei reivindicando educação gratuita que possibilitasse às mulheres trabalharem em atividades
apropriadas à elas.

Muitas mulheres que se posicionavam eram perseguidas, mortas ou se exilavam como Madame
Stael que, apesar de não assistir como as demais mulheres os debates na Assembleia e não apresentar
propostas específicas para as mulheres, exerceu influência sobre alguns políticos a ponto de ficar exilada
entre 1792 e 1814.

A holandesa Etta Plam d’ Aelderes fez discursos em defesa dos direitos políticos femininos e se
destacou pela tentativa frustrada de fundar uma instituição de educação profissional para mulheres. Ela
financiou a educação de três meninas, mas emigrou quando foi considerada suspeita.

Talvez a melhor representante da participação aristocrática seja Olympe de Gurges

Nas camadas populares a participação ocorreu em dois sentidos: moral e militante

Segundo Dante () o discurso iluminista com exceção do filósofo Condorcet legitimava a


diferença entre os sexos baseado nas diferenças físicas naturais que tornavam o homem mais forte a apto
à guerra, à política, atividades que precisavam de força, agilidade e racionalidade, enquanto às mulheres
mais fracas fisicamente e marcadas pelo órgão reprodutor uterino, cabia as atividades do lar e a submissão
aos maridos. Contudo, diante das pressões e discussões sociais a respeito dos direitos femininos eles
encontraram uma alternativa para incluir a mulher na transformação social que se esperava com a
revolução.

Eles atrelaram à mulher a obrigatoriedade da tarefa cívica de educar os filhos de acordo com os
princípios da nova sociedade, ou seja, igualdade e liberdade. Assumindo a maternidade cívica elas se
tornaram mais próximas e responsáveis e tiveram maior autoridade pelos filhos. À elas também foi
atrelada a própria imagem da República em oposição a figura masculina representante da monarquia que
era extremamente contrária a atividade política feminina baseada na Lei Sálica (). Dessa forma, o bom
comportamento feminino era ligado ao bom funcionamento do novo regime.

A participação militante é marcada principalmente por três momentos: a Marcha para Versalhes
(1789) onde protestaram contra o preço do pão, ousando reivindicar uma Guarda Nacional feminina e
onde obrigaram o rei e a Assembleia Constituinte a ir para Paris; Invasão da Assembleia Nacional em
1789 contra os princípios da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão; e por fim, a atuação de
muitas mulheres junto à Guarda Nacional vestidas de homem que lutaram contra a Áustria em 1792 em
defesa da Pátria e da revolução, das quais, muitas foram homenageadas.

Durante a Marcha para Versalhes Théroigne de Mericour – que ao final acaba num hospício - e
Pauline Léon, discursam a favor do uso de armas pelas mulheres para mostrar que são tão corajosas
quanto os homens, por isso, a petição endereçada à Assembleia Nacional solicitando armas. Mesmo com
a recusa, o empreendimento das constantes marchas, influenciam decisivamente na queda da monarquia e
junto aos San Culottes na proclamar a República.
Os efeitos dessa participação são principalmente uma divisão social do trabalho e das atividades
domésticas que pode ser verificada até hoje, bem como a negação da igualdade política – contrário aos
princípios revolucionários- que têm sido derrubada com resistência na atualidade.

Para Souza(2003) a Revolução concedeu muito mais direitos civis do que cidadania política, pois
no período a cidadania política estava relacionada ao direito à participação na Guarda Nacional, de
exercer cargo público e votar e ser votado.

No período da Convenção (1792- 1794/1795) houve pressão a respeito do sufrágio universal


extensível às mulheres, mas a quase totalidade dos deputados votam contra baseados nas ideias
iluministas, que condicionava o papel da mulher na sociedade pelo útero. Condorcet é o único que
protesta contra a desigualdade de direitos aplicada à uma metade da espécie humana.

Apesar das mulheres representarem em termos numéricos segundo Souza () cerca de 15 a 25%
dos membros sua participação foi efetiva em momentos decisivos nesses dois campos de reivindicação,
mas sua participação ficou em segundo plano, e em grande medida isso ocorreu devido às proibições de
participação na assembleia e na guarda nacional – onde só tinham permissão as lavadeiras e cantineiras.

De acordo com Hobsbawm (1977), as próprias ações do rei que desconsiderou o cenário
econômico social francês, ao convocar os três Estados, condicionaram os movimentos que culminaram no
processo revolucionário. É justamente com relação a esse cenário caótico de crise e falta de mão que
surgem as reivindicações femininas que vão sendo acrescentados com novas pautas, próximas aos
princípios revolucionários.

Dessa forma, concordamos assim como Dante (2013), que as mulheres desde o início do
processo revolucionário demonstraram entendimento sobre a situação política, e assim como os homens,
buscavam mudanças sociais através da ação política. Essa ação se deu por meio de cartas, de marchas,
protestos, guerra armada, mas também através da maternidade civil.

Potrebbero piacerti anche