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RESUMO
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O artigo é fruto de pesquisa desenvolvida da Dissertação de Mestrado intitulada Entre hidrografia e
infraestruturas urbanas: a microbacia hidrográfica do Tiquatira no município de São Paulo (1930-
2015) desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie com bolsa Capes - Prosup, sob
orientação da Prof. Dra. Angélica Aparecida Tanus Benatti Alvim.
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Atualmente, a Penha se caracteriza como Subprefeitura, mas também como distrito, centro histórico
e bairro. Neste estudo, evidenciamos a colina da Penha como interface entre esses diferentes limites.
2. PENHA: OCUPAÇÃO URBANA E A INFLUÊNCIA DO URBANISMO DE
COLINAS PORTUGUÊS
Figura 1 – Freguesia da Penha, entre São Paulo e o aldeamento de São Miguel do Ururaí
Fonte: elaborado pelo auto (ref. Jesus, 2006, p. 30)
São os preceitos da tradição luso-brasileira de construção de novas urbes,
portanto, que vão definir os elementos fundadores de ocupação urbana da região da
Penha. O topo da colina da Penha e a rota com os outros núcleos – seja por terra,
pelo caminho dos tropeiros, seja por água, seguindo o curso do rio Tietê,
apresentam-se como os elementos originais de estruturação desse sítio. É a partir
dessa estruturação original que se vai produzir o traçado urbano subsequente e
local, rarefeito no início, mas que vai se multiplicando continuamente com o tempo,
ocasionando ora mudanças de caráter nas suas partes ou conjunto, ora tendo sua
resiliência demonstrada na persistência de certos estratos.
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Tietê, em tupi, “água verdadeira”.
A ocupação da colina formou o núcleo urbano original que viria a caracterizar e
agremiar os diversos assentamentos que principiaram por ocorrer na região da
Penha. A partir desse ponto pode ser definida uma periodização, conforme
Bointempi (1969, p. 21-104) que consiste de dois momentos precursores principais –
formação e consolidação, e dividida em cinco fases (Quadro 1).
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A outra estância de poder, militar, era desempenhada pelos bandeirantes.
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Altar, do latim autāre.
práticas concretas “estabeleceram as relações de compadrio, de parentesco, de
vizinhança, com toda a cumplicidade que implicam” (JESUS, 2006, p.17). Por um
lado, em termos regionais, havia uma hierarquia de mando, centrada na supremacia
eclesiástica e no poder do papado; por outro, no aspecto local, as paróquias e
freguesias circunscreveram um plano de existência cotidiana nos bairros em que
eram fundadas, orientando os costumes, a moral e mesmo a ordenação física do
lugar.
De todo modo, até meados do século XIX, a Penha era um bairro rural, um
aglomerado economicamente isolado da Vila de São Paulo6, de pequena população,
com algumas casas de taipa ao redor da capela, algumas vendas e serviços. E para
além do pequeno núcleo existiam lavouras e pastagens, onde se desenvolvia uma
prática agropastoril de subsistência. O excedente dessa produção, “cana de açúcar,
algodão, vinha, trigo, mandioca, milho, café, hortaliças, entre tantos outros, e criar
gado bovino, porcos, aves, equinos” (Jesus, 2006, p. 82), era comercializado com o
centro da Vila de São Paulo, à qual chegava no lombo de mulas.
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Separados por uma distância de aproximadamente dez quilômetros, passando pelo vale do rio
Aricanduva, caminho do Tatuapé (atual Av. Celso Garcia), várzea do rio Tamanduateí e ladeira do
Carmo.
Figura 2 – O Plano de Avenidas sobre o Mapa SARA Brasil
Fonte: elaborado pelo autor (ref. De Bem, 2009)
Em 18757, foi inaugurado o trecho da ferrovia entre São Paulo e Mogi das
Cruzes, chamada na época de Estrada do Norte de São Paulo, que passou a servir
vários bairros ao leste do centro, sendo um deles a Penha, contemplada com a
estação Guaiaúna (Figura 3). Além disso, foi construído um ramal que ia da estação
até o topo da colina, servindo tanto ao interesse religioso, pois “a construção do
ramal da Penha era justificada pelo grande fluxo de romeiros em finais de semana
durante as festividades na localidade” (JESUS, 2006, p. 90-91), quanto econômico,
dado que o ramal possuía uma conexão direta com o Palacete do Coronel
Rodovalho, à época industrial de destaque na região (Figura 4).
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Em 1890, por não apresentar lucros significativos, a ferrovia foi resgatada pelo Governo
Federal Provisório e incorporada à Estrada de Ferro Central do Brasil. A implantação da ferrovia
ocasionou uma valorização dos terrenos das áreas de várzea, razão essa também pela qual o ramal
da Penha adquiriu um caráter economicamente estratégico de integrar a colina a esse novo circuito
de desenvolvimento imobiliário. Em consonância à nova tecnologia, foi instituída a primeira legislação
de posturas relativas à mensuração e regularização dos lotes, na qual a diretriz básica concernia ao
alinhamento imediato das terras de ordem comunal.
Figura 3 – Estação Guaiaúna, com fábrica ao fundo, 1940
Acervo: Memorial Penha de França
Até a década de 1940, parte da atividade agrícola sobrevivia nas várzeas, onde
o capital imobiliário ainda não via vantagens para investir (Tiquatira, baixo
Aricanduva, oeste da Estrada do Cangaíba, Vale do Guaiaúna e parte da planície da
Av. Celso Garcia). Havia ainda outras atividades econômicas consolidadas nas
várzeas do Tietê, como portos de extração de areia e cascalho, olarias, estaleiros
para construção e manutenção de barcos (Figuras 8, 9 e 10).
Figura 8 – Olaria no Vale do Tietê, década de 40
Acervo: Memorial Penha de França
Na década de 1970, segundo Jesus (2006), apenas 40% das ruas da região
eram asfaltadas, os sistemas de ensino, saúde e transporte eram precários e o
saneamento básico deficiente. As migrações e o loteamento de todos os terrenos
disponíveis provocaram a fixação da população pobre em favelas, sob viadutos, na
beira de córregos, em áreas sujeitas a erosão – ao longo do Córrego Tiquatira,
trechos da Avenida Gabriela Mistral, sob o viaduto Cangaíba, ao longo da avenida
Assis Ribeiro e trechos da Av. Cangaíba. O centro histórico da Penha, inversamente,
mantém seu caráter comercial, com intenso fluxo de pessoas e veículos (Figura 11).
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A Radial Leste é, depois da Marginal Tietê, o principal eixo viário de conexão entre a Zona Leste e a
Zona Central. No sentido oeste-leste, é composta pela Avenida Alcântara Machado, pela Rua Melo
Freire, pela Avenida Conde de Frontin, pela Avenida Antônio Estevão de Carvalho, pela Rua Dr. Luis
Aires, até chegar ao Terminal Corinthians Itaquera. Na sequência, continua como Avenida José
Pinheiro Borges, depois Rua Copenhague, quanto encontra a Estrada de Poá.
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A Marginal Tietê é uma via expressa que conecta as Rodovias Presidente Castelo Branco,
Anhanguera e Bandeirantes, à oeste, e as Rodovias Presidente Dutra e Ayrton Senna da Silva à
leste. Além das pistas expressas centrais, a Marginal Tietê se conecta à várias avenidas paralelas à
via expressa, e é transposta por diversas pontes.
Em 1975 tiveram início as obras da Ponte Aricanduva, concluídas em 1979,
conectando a Vila Maria na zona norte com a Penha na zona leste, infraestrutura
essa que vai alterar radicalmente o sentido da paisagem. Ainda, durante a década
de 1980, foram implementados projetos urbanísticos de impacto regional e
metropolitano, como a canalização do córrego Tiquatira e a criação da avenida que
o margeia, Avenida Governador Carvalho Pinto, ligando a marginal Tietê à Estrada
de São Miguel (hoje Avenida São Miguel), com destaque ao projeto urbano e
paisagístico, que resultou no Parque Tiquatira. Numa escala macro, a inauguração
da Rodovia dos Trabalhadores (hoje Rodovia Ayrton Senna da Silva), em 1982,
alternativa para o trajeto entre São Paulo, Vale do Paraíba e Rio de Janeiro, e a
criação do Parque Ecológico do Tietê, indicaram uma nova inserção da Penha em
escala regional.
AB’SABER, Aziz. Geomorfologia do Sítio Urbano de São Paulo. São Paulo: Ateliê
Editorial, edição fac-similar – 50 anos, 2007 (1957).