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TOXICOLOGIA

A Toxicologia é a ciência que tem como objeto de estudo o efeito nocivo


decorrente da interação entre um agente tóxico e um sistema biológico,
com a finalidade principal de prevenir o aparecimento desse efeito, ou seja,
estabelecer condições seguras de exposição a essas substâncias e assim,
permitir que o homem se beneficie das conquistas tecnológicas da era
atual.
A toxicologia apóia-se, então, em três elementos básicos:

1. a existência de uma substância (agente tóxico) capaz de interagir


com um sistema biológico e produzir uma resposta;
2. o sistema biológico com o qual o agente tóxico interage para
produzir o efeito;

3. a resposta (efeito) que deverá ser considerada nociva ao sistema biológico com o
qual interage.

Áreas da Toxicologia

A toxicologia é uma ciência multidisciplinar que compreende um vasto


campo de conhecimentos básicos e aplicados, relacionando-se estritamente
com diversas outras ciências. É desenvolvida por especialistas com
diferentes formações profissionais que oferecem contribuições específicas
em uma ou mais áreas de atividade permitindo assim, o aperfeiçoamento
dos conhecimentos e o desenvolvimento de cinco áreas de atuação, de
acordo com a natureza do agente tóxico ou a maneira pela qual este
alcança o sistema biológico.

Toxicologia de Alimentos: área relacionada ao estudo da toxicidade das


substâncias veiculadas pelos alimentos, ou seja, é a área da toxicologia que
estabelece índices de segurança para que os alimentos, de origem natural
ou industrial, possam ser ingeridos sem causar danos à saúde, tanto no
que se refere à sua obtenção quanto ao seu armazenamento.

Toxicologia Ambiental e Ecotoxicologia: essa área do conhecimento


toxicológico preocupa-se com o estudo das ações e dos efeitos nocivos de
substâncias químicas, quase sempre de origem antropogênica, sobre os
organismos vivos. Em geral, empregam-se os termos Toxicologia Ambiental
para os estudos dos efeitos diretos causados pela interação desses agentes
contaminantes do ambiente (ar, água, solo) com o organismo humano e,
Ecotoxicologia, para os estudos dos efeitos tóxicos desses compostos sobre
os ecossistemas e seus componentes não humanos. Como o homem se
encontra no topo de muitas cadeias alimentares e existem poucos
ecossistemas nos quais os seres humanos não participam, essa distinção é,
portanto, bastante frágil.
Toxicologia de Medicamentos e Cosméticos: nessa área estudam-se os
efeitos nocivos produzidos pela interação dos medicamentos e cosméticos
com o organismo, decorrentes do uso inadequado ou da suscetibilidade
individual.

Toxicologia Ocupacional: é a área que se ocupa do estudo das ações e


efeitos nocivos de substâncias usadas no ambiente de trabalho sobre o
organismo do indivíduo exposto. Nessa área, busca-se, principalmente, a
obtenção de conhecimentos que permitam estabelecer critérios seguros de
exposição ocupacional.

Toxicologia Social: embora no mundo contemporâneo a Toxicologia seja


uma ciência de caráter social em sua natureza, o termo Toxicologia Social é
designado para a área que estuda os efeitos nocivos decorrentes do uso
não médico de drogas ou fármacos, com prejuízos ao próprio usuário e à
sociedade. Trata do estudo das chamadas “drogas de abuso”, lícitas ou não,
cujo uso, sempre voluntário, visa modificar o estado de consciência ou
evitar o desconforto ocasionado pela interrupção do uso da substância,
mesmo que por um curto período de tempo.

No âmbito de cada uma dessas áreas, podem ser abordadas questões


relacionadas a aspectos analíticos, clínicos, médico-legais, regulatórios,
entre outros. Como conseqüência da ampliação das áreas de aplicação da
Toxicologia, imposta pela sua abrangência multidisciplinar e
multiprofissional, essa ciência pode ser dividida, de acordo com os
diferentes campos de trabalho, em três áreas ou ramos fundamentais.

A Toxicologia Clínica ou Médica trata do atendimento do paciente


exposto ao agente tóxico ou intoxicado, com a finalidade de prevenir,
diagnosticar a intoxicação ou aplicar, se necessário, uma medida
terapêutica específica.

A Toxicologia Analítica ocupa-se da detecção do agente tóxico ou de


algum parâmetro bioquímico relacionado com a exposição a ele em fluidos
biológicos, alimentos, ar, água e solo, com o propósito de diagnosticar ou
prevenir as intoxicações. No exercício dessa modalidade, é de fundamental
importância o domínio de química analítica e de instrumentação, pois ela
busca métodos com precisão, exatidão e sensibilidade adequadas para a
identificação e/ou quantificação inequívocas do toxicante ou para a
avaliação de alterações bioquímicas funcionais do organismo. As análises
toxicológicas são empregadas com as mais variadas finalidades: no aspecto
forense ou médico-legal, na monitorização terapêutica ou acompanhamento
do paciente submetido a tratamento prolongado com medicamentos, na
monitorização biológica da exposição ocupacional às substâncias químicas,
no controle antidopagem em competições esportivas, no diagnóstico da
intoxicação aguda ou crônica em emergências médicas, entre outras.

E, por fim, a Toxicologia Experimental, que desenvolve estudos para elucidar


os mecanismos de ação dos toxicantes sobre os sistemas biológicos e avaliar os efeitos
decorrentes dessa ação. A avaliação de toxicidade das substâncias é feita através de
estudos conduzidos em diferentes espécies animais, seguindo rigorosas normas
preconizadas pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais.

Conceitos Básicos

Considerando-se o caráter multidisciplinar e o fato de que muitas pessoas com diferentes


formações acadêmicas se interessam em estudar e trabalhar com Toxicologia, torna-se
necessária a observação do uso apropriado de termos empregados em toxicologia e
apresentados a seguir.
Agente tóxico, toxicante ou xenobiótico

É uma substância química ou agente físico capaz de causar dano a um


sistema biológico, alterando seriamente uma função ou levando-o à morte,
sob certas condições de exposição. A maioria das substâncias consideradas
como agente tóxico são exógenas, sem papel fisiológico conhecido e
denominadas xenobióticos. Outros termos que merecem ser mencionados
são apresentados abaixo.
Toxina: refere–se à substância tóxica produzida por um organismo vivo
(microrganismo, animal ou planta). Existe um campo de estudo específico,
denominado Toxinologia, que estuda os efeitos nocivos dessas substâncias.

Veneno: termo de uso popular que, embora em princípio, possa ser


utilizado como sinônimo de agente tóxico, é reservado especificamente
para designar substâncias de origem animal ou vegetal, utilizadas para
autodefesa ou predação, como o caso dos venenos ofídicos, de abelhas,
entre outros.

Fármaco: toda substância de estrutura química definida, capaz de


modificar ou explorar o sistema fisiológico ou estado patológico, em
benefício do organismo receptor.

Droga: toda substância capaz de modificar ou explorar o sistema fisiológico


ou estado patológico, utilizada com ou sem intenção de benefício do
organismo receptor. A palavra droga, tem aceitação popular para designar
fármacos, medicamentos, matéria prima de medicamentos, alucinógenos e
agentes tóxicos.

Qualquer substância pode atuar como toxicante. Tanto os produtos


exógenos como os próprios constituintes do organismo, quando se
encontram em proporções excessivas, podem produzir efeitos nocivos. Os
agentes tóxicos apresentam estruturas químicas variadas e podem ser
classificados utilizando-se diferentes critérios, conforme a finalidade de seu
estudo. Assim, o toxicante pode ser classificado segudo:

1. estruturas químicas gerais: aminas aromáticas, hidrocarbonetos


alifáticos, hidrocarbonetos aromáticos, metais, etc.
2. estado físico:

o sólidos ou líquidos;

o gases: são fluídos sem forma que permanecem no estado


gasoso em condições normais de pressão e temperatura. Ex.:
CO, NO e NO2, O3, etc.

o vapores: são as formas gasosas de substâncias normalmente


sólidas ou líquidas nas condições ambientais. Ex: vapores
resultantes da volatilização de solventes orgânicos como
benzeno, tolueno, xileno, entre outros;

o partículas ou aerodispersóides: partículas de tamanho


microscópico, em estado sólido ou líquido. Ex: poeiras e
fumos; neblinas e névoas.

3. estabilidade ou reatividade química: explosivo, inflamável, oxidante,


radioativo.

4. órgãos-alvo: rim, fígado, sistema nervoso central, sistema


hematopoiético, outros.

5. ação tóxica: local ou sistêmica.

6. efeitos tóxicos: carcinogênicos, mutagênicos, neurotóxicos,


nefrotóxicos, hepatotóxicos, .

7. usos: agrotóxicos, solventes, aditivos alimentares.

8. mecanismo de toxicidade: anticolinesterásico, metemoglobinizante,


entre outros.

9. potencial de toxicidade: extremamente tóxicos, moderadamente tóxicos,


levemente tóxicos, pouco tóxicos.

Toxicidade

É a capacidade inerente a uma substância de produzir danos aos organismos vivos, ou


seja, é a medida relativa do potencial tóxico da substância sob certas condições
controladas de exposição. Uma substância muito tóxica causará dano a um organismo se
for administrada em quantidades muito pequenas, enquanto uma substância de baixa
toxicidade somente produzirá efeito quando a quantidade administrada for muito grande.
O conhecimento da toxicidade das substâncias químicas se obtém através de
experimentos em laboratório utilizando animais. Os métodos são empregados com todo
rigor científico com a finalidade de fornecer informações relativas aos efeitos tóxicos e,
principalmente, para avaliar riscos que possam ser extrapolados para o homem.

Risco e segurança

O termo risco traduz a probabilidade estatística de que se produzam efeitos


adversos ou danos por exposição a um agente tóxico, em virtude das
propriedades inerentes ao mesmo, bem como das condições de exposição.
Nem sempre a substância de maior toxicidade é a que oferece maior risco
para o homem. Dependendo das condições de uso ou exposição, uma
substância classificada como muito tóxica (elevada toxicidade intrínseca)
pode ser menos apresentar menor risco do que uma pouco tóxica. Por
exemplo, embora o tolueno seja um solvente carcinogênico, não oferece
risco se estiver adequadamente armazenado.

A existência de risco associado ao uso de uma substância química, torna


necessário o estabelecimento de condições de segurança. Portanto, define-
se como segurança, a certeza de que não haverá efeitos adversos para um
indivíduo exposto a uma determinada substância, em quantidade e forma
recomendada de uso. Ou seja, quando se fala em risco e segurança,
significa a possibilidade ou não da ocorrência de uma situação adversa.

No entanto, não é fácil estabelecer o que é um risco aceitável no uso de substância


química. Esta decisão é bastante complexa e envolve o binômio risco-benefício. Na
utilização das substâncias químicas para diversos fins, alguns fatores devem ser
considerados na determinação de um risco aceitável: a necessidade do uso da substância;
a disponibilidade e a adequação de outras substâncias alternativas para o uso
correspondente; os efeitos sobre a qualidade do ambiente e conservação dos recursos
naturais; as considerações sobre o trabalho (no caso de ser usada em ambiente de
trabalho); a avaliação antecipada de seu uso público (ou seja, o que ela poderá causar
sobre a população em geral) e considerações econômicas.

Efeito tóxico, adverso ou deletério

É uma alteração anormal, indesejável ou nociva decorrente da exposição a substâncias


potencialmente tóxicas. Todo efeito tóxico é indesejável e nocivo, mas, nem todos os
efeitos indesejáveis são tóxicos. A morte é o efeito adverso mais drástico que pode
ocorrer. No caso de medicamentos, em particular, devem-se distinguir os efeitos colaterais
e a toxicidade propriamente dita. Portanto, os efeitos colaterais de agentes terapêuticos
são aqueles indesejáveis, mas, muitas vezes toleráveis, que aparecem durante a
farmacoterapia, enquanto a toxicidade representa a manifestação de efeitos lesivos de
maior gravidade, podendo levar até à morte.

Alvo

É o termo usado com freqüência para designar o sítio ou local do organismo que interage
com o agente tóxico e apresenta a resposta biológica correspondente. Pode ser referido
como uma molécula (DNA, proteína, etc.), um receptor ou um órgão (fígado, rim, cérebro,
etc.).

Destoxificação

É o processo de transformação química que converte uma substância em formas mais


facilmente excretáveis (menos tóxica), geralmente através de reações de
biotransformação.

Antídoto e antagonista

São substâncias capazes de neutralizar ou reduzir os efeitos de uma substância


potencialmente tóxica. O antídoto é a substância que se opõe ao efeito tóxico atuando
sobre o toxicante, enquanto o antagonista impede o toxicante de se ligar a seu alvo ou
exerce ação oposta à do agente tóxico (agonista).

Intoxicação

É o conjunto de efeitos nocivos representados por manifestações clínicas


(sinais e sintomas) ou laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico
produzido pela interação entre o agente tóxico com o sistema biológico. Por
envenenamento, entende-se o transtorno produzido por toxinas.
Exposição

Esta fase é representada pelo período em que o ser humano fica exposto à substância tóxica. É
o contato do toxicante com as superfícies externas ou internas do organismo. Nessa etapa, é de
suma importância a disponibilidade química do agente tóxico, ou seja, a concentração da
substância em condições de ser introduzida no organismo. Além da magnitude, deve-se
considerar também, a duração e a freqüência da exposição, as vias de introdução e a
suscetibilidade individual.
Dose ou concentração

A dose ou concentração determina o tipo e a magnitude da resposta biológica. Por


definição, dose é a quantidade de um agente administrado para um indivíduo e,
geralmente, é expressa usando-se unidades de massa por massa (ex, mg de agente
tóxico / kg de peso corpóreo).
O termo concentração aplica-se à exposição do indivíduo a uma determinada
concentração de um agente presente em um compartimento (ex, solo, água, ar).
Neste caso, não se sabe exatamente quanto do agente efetivamente penetrou no
organismo. A concentração é expressa em unidades de massa por volume do meio
(ex, mg de agente tóxico / m3 de ar; mg de agente tóxico / litro de água, mg de
agente tóxico / m3 de solo), mas, também pode ser por massa do meio (ex, mg de
agente tóxico / g de solo). A concentração também é comumente expressa através
das unidades ppm (partes por milhão) ou ppb (partes por bilhão).
Para facilitar, será usado somente o termo dose no resto desse módulo, mas, não se
esqueçam de que, se a exposição for ambiental, o termo correto é concentração.
Com relação à dose deve-se distinguir:

Dose efetiva 50 (DE50)

Trata-se da quantidade de substância (em mg, g ou mL por Kg de peso corporal)


que, em condições bem determinadas, produz um determinado efeito na metade de
um grupo de animais de certa espécie.

Dose letal média (DL50)

É a dose calculada estatisticamente, em mg/Kg, de um determinado agente químico


ou físico, necessária para matar 50% dos organismos vivos de uma população de
animais, sob um conjunto de condições definidas. Os agentes químicos podem ser
classificados, segundo cinco classes de toxicidade, de acordo com os valores de
DL50.

Tabela 1 - Classificação quanto ao grau de toxicidade

Categoria de toxidade aguda DL50 oral para ratos


Extremamente tóxica < ou = 1mg/kg
Altamente tóxica > 1 a 50 mg/kg
Moderadamente tóxica > 50 a 500 mg/kg
Levemente tóxica > 0,5 a 5 g/kg
Praticamente não tóxica > 5 g/kg

Esta classificação é utilizada para consultas rápidas, qualitativas, com finalidade de


obter informações relativas à toxicidade intrínseca das substâncias. A falha desta
classificação está no fato dela se basear apenas na toxicidade intrínseca da
substância que é um parâmetro extremamente variável, sendo influenciado por uma
série de fatores, relacionados principalmente ao agente químico, ao organismo e à
exposição. Em situações práticas não se deve conhecer somente a toxicidade das
substâncias, representadas geralmente pela DL50, pois tão importante como
conhecer a toxicidade dos agentes químicos, é conhecer e saber avaliar o risco
tóxico de uma substância química.

Concentração efetiva 50 (CE50) e concentração letal 50 (CL50)

Quando se estuda a toxicidade de uma substância introduzida no organismo por


inalação, considera-se sua concentração no ar e, portanto, fala-se em CE50 e CL50,
devendo ser mencionada a duração da exposição do animal ao agente tóxico.

Vias ou locais de exposição

As principais vias de introdução dos toxicantes no organismo humano


compreendem o trato gastrintestinal (ingestão), os pulmões (inalação) e a pele
(cutânea). As vias parenterais (intramuscular e intravenosa) constituem meios
normais de introdução de medicamentos que, dependendo da dose e das condições
fisiológicas ou patológicas do indivíduo, podem produzir efeitos adversos
acentuados, com lesões graves em diversos órgãos.

A via de introdução pode influenciar na toxicidade da substância química. Por


exemplo, espera-se que um agente que é destoxificado pelo fígado seja menos
tóxico quando introduzido no organismo por via oral (passagem pela circulação
porta) do que por inalação (circulação sistêmica). A comparação da dose letal de um
toxicante por diferentes vias de exposição também fornece informações úteis
relacionadas à sua absorção. Nos casos em que as doses letais por via oral e
dérmica são similares àquela administrada por via intravenosa, pressupõe-se que o
agente é pronta e rapidamente absorvido por essas vias. Por outro lado, quando a
dose letal dérmica é muito maior que a dose letal oral, significa que a pele constitui
uma barreira efetiva à absorção do agente tóxico.

As substâncias químicas penetram no organismo humano, a partir das vias de


exposição, em velocidades diferentes dependendo de suas propriedades físico-
químicas e das condições existentes na superfície de contato como, por exemplo, a
área e permeabilidade da membrana e o fluxo sangüíneo no local de contato. Assim,
a intensidade do efeito tóxico e a rapidez da resposta em função da via de exposição
apresentam-se na seguinte ordem decrescente de eficiência: endovenosa,
respiratória, intraperitoneal, subcutânea, intramuscular, intradérmica, oral e cutânea.
Essas vias possuem maior ou menor destaque, de acordo com a área da Toxicologia
em estudo.

Assim, as vias pulmonar e cutânea são as mais importantes na Toxicologia


Ocupacional e Ambiental e a via gastrintestinal em Toxicologia de Alimentos e de
Medicamentos e, também, nas intoxicações intencionais (suicídios e homicídios).
As vias parenterais têm importância na Toxicologia Social e de Medicamentos.

Duração e freqüência da exposição

O tempo e a freqüência com que o organismo permanece em contato com o


toxicante são importantes na determinação e intensidade do efeito tóxico.
Entretanto, em seres humanos, essas condições de exposição não são claramente
definidas como nos estudos conduzidos em animais. Porém, os mesmos termos são
usados para descrevê-las:

 exposição a curto prazo (aguda) – quando o contato é de curta duração e a


absorção do toxicante é rápida. A dose administrada pode ser única ou
múltipla num período de tempo não superior a 24 horas;
 exposição a médio prazo – quando as exposições são freqüentes ou
repetidas num período de um mês ou menos (sobreaguda) ou no período de
um a três meses (subcrônica);
 exposição a longo prazo (crônica) – quando as exposições se repetem
durante um longo período de tempo (meses, anos ou toda a vida).
 Com relação à freqüência, observa-se que, uma simples exposição a um
agente tóxico que produz um efeito drástico, pode determinar manifestações
de menor intensidade ou não produzir efeitos se a mesma dose ou
concentração total for fracionada e o tempo de exposição não for
aumentado. É importante ressaltar que a redução do efeito provocado pelo
aumento da freqüência (fracionamento da dose) somente acontecerá se:

 a velocidade de eliminação for maior do que a de absorção, de forma que os


processos de biotransformação e/ou eliminação ocorram no intervalo entre
duas exposições;
 o efeito tóxico causado pela substância for parcial ou totalmente revertido
antes da exposição seguinte.
 Se não houver nenhumas dessas situações, o aumento da freqüência poderá
resultar em efeitos crônicos.
 Para inúmeras substâncias, os efeitos tóxicos observados nas exposições
agudas são diferentes daqueles produzidos por exposições repetidas. Por
exemplo, a principal manifestação tóxica aguda do benzeno é a depressão
do sistema nervoso central, enquanto exposições repetidas, podem resultar
em toxicidade para a medula óssea com aumento do risco para o
desenvolvimento de leucemia. Nas exposições agudas, as substâncias
químicas são rapidamente absorvidas e os efeitos produzidos geralmente são
imediatos. Entretanto, algumas vezes, nota-se a ocorrência de efeitos
retardados, similares ou não aos efeitos produzidos nas exposições a longo
prazo. Por outro lado, as exposições crônicas a um agente tóxico podem
produzir efeitos imediatos (agudos) após cada administração, além dos
efeitos produzidos a longo prazo (crônicos) em baixas concentrações do
agente.

Suscetibilidade individual
 A variabilidade da resposta biológica em função da suscetibilidade de cada
indivíduo é um outro fator importante em Toxicologia. Existem situações
em que exposições iguais determinam respostas iguais e outras, nas quais se
observam respostas diferentes. Por exemplo, para dois trabalhadores que
desempenham funções iguais durante 30 anos e, portanto, expostos no
mesmo ambiente e nas mesmas condições, é possível que apenas um deles
desenvolva uma enfermidade determinada pela exposição aos toxicantes
presentes no ambiente de trabalho. Nenhuma pessoa é igual à outra e,
portanto, as respostas tóxicas podem variar de um indivíduo para outro.
 Como são observadas respostas diferentes entre indivíduos de uma mesma
espécie, espera-se que ocorram diferenças importantes nas respostas entre
indivíduos de espécies diferentes. Essas diferenças interindividuais e
intraespecíficas devem-se a diferenças metabólicas que podem ser
determinadas pelo estado fisiológico ou pela estrutura genética do
organismo. Portanto, a suscetibilidade do organismo está mais diretamente
interligada às fases II e III da intoxicação, ou seja, aos processos
toxicocinéticos e toxicodinâmicos.

Nessa fase tem-se a ação do organismo sobre o agente tóxico, procurando


diminuir ou impedir a ação nociva da substância sobre ele. É de grande
importância, porque dela resulta a quantidade de toxicante disponível para
interagir com o sítio alvo e, consequentemente, exercer a ação tóxica.

A toxicocinética é constituída pelos seguintes passos:

 Absorção
 Distribuição

 Biotransformação

 Excreção

A movimentação do agente tóxico no organismo, desde a sua entrada até a sua eliminação,
envolve a transposição de membranas celulares. Assim, é de suma importância o
conhecimento dos fatores que influenciam no transporte das substâncias químicas pelas
membranas, os quais podem ser agrupados em duas classes distintas.

Fatores relacionados com a membrana

As membranas celulares têm espessura de 7 a 9 nm, em média e são


constituídas por uma camada lipídica bimolecular, contendo em ambos os
lados, moléculas de proteínas que penetram e às vezes transpõem esta
camada. Os ácidos graxos presentes na camada lipídica não possuem uma
estrutura cristalina rígida, ao contrário, em temperatura fisiológica eles têm
características quase fluidas. Assim, o caráter fluido das membranas e,
portanto, sua permeabilidade, é determinado, principalmente, pela estrutura
e proporção relativa de ácidos graxos insaturados presentes na região. Este
modelo denominado de “mosaico fluido”, foi proposto por Singer e Nicolson,
em 1972, e continua sendo o mais aceito até hoje.

Considerando-se as características das membranas celulares, as substâncias podem


atravessá-las por diferentes mecanismos, apresentados a seguir.

Transporte passivo

Esse mecanismo é dividido em dois subtipos:

- Difusão simples - a maioria dos agentes tóxicos atravessa as membranas


do organismo por difusão simples e o grau de penetração é determinado pelo
coeficiente de partição lipídio/água, pelo gradiente de concentração na
membrana e pelo pKa. A proporção de um composto atravessar a membrana
por difusão simples pode ser determinada pela lei de Fick, expressa pela
seguinte equação:

p = proporção do composto capaz de atravessar a membrana


k = constante de difusão
A = área disponível para a difusão
d = espessura da membrana
C1 = concentração do composto no compartimento extracelular do sistema
C2 = concentração do composto no compartimento intracelular do sistema

Desse modo, se os valores de A e d forem constantes, a capacidade de


difusão da substância pode ser determinada pela expressão k (C 1 – C2). No
início, o processo de difusão é bastante rápido porque a diferença entre C 1–
C2é significativamente alta. Entretanto, com a efetivação do processo, há
uma diminuição dos valores de C1 e aumento conseqüente de C2, com uma
tendência de equilíbrio das concentrações nos dois compartimentos do
sistema. O movimento unidirecional do composto através da membrana
ocorre porque o valor de C2 tende sempre a diminuir em função da sua
distribuição, biotansformação e excreção, de tal forma que C 1 será sempre
maior que C2, até que o processo de difusão se complete.

- Filtração - considerando-se o fluxo de água através dos poros da membrana, as


substâncias polares de baixo peso molecular (até 600 daltons) passarão através dos poros
aquosos. O processo de filtração é dependente, portanto, além da hidrossolubilidade da
substância, do tamanho dos poros da membrana que são relativamente grandes nos
glomérulos renais (cerca de 40 Å) e pequenos na maioria das células (8 Å).

Transportes especializados

Existem inúmeros compostos, cujo movimento através das membranas, não


pode ser explicado por difusão simples nem por filtração. Alguns são muito
grandes para passar através dos poros ou muito insolúveis em lipídios para
se difundirem na membrana lipídica. Entretanto, essas substâncias são
rapidamente transportadas através das membranas, mesmo contra
gradientes de concentração. Para explicar esse fenômeno, foram propostos
mecanismos de transportes especializados. Esses sistemas são responsáveis
pelo transporte de muitos nutrientes como açúcares, aminoácidos e ácidos
nucléicos e também de xenobióticos.

São eles:

 transporte ativo - esse processo caracteriza-se pelo consumo de


energia, movimento da substância contra gradiente de concentração e
a existência de proteínas carregadoras de moléculas, as quais
apresentam seletividade pelas substâncias e se saturam em altas
concentrações.
 difusão facilitada - nesse processo, a substância também é
transportada por um carregador, sem contudo, haver consumo de
energia. Outra diferença com o processo de transporte ativo é que na
difusão facilitada a passagem acontece a favor de um gradiente de
concentração.

 endocitose - é um mecanismo especial no qual a membrana celular, sofre um


processo de invaginação, devido a variações na tensão superficial pela presença de
macromoléculas no fluido extracelular, e engloba partículas líquidas (pinocitose) ou
sólidas (fagocitose). Esse tipo de transferência tem se mostrado útil na remoção de
material particulado dos alvéolos pelos fagócitos e do sangue pelo reticulo
endoplasmático do fígado e rim.

Fatores relacionados com a substância química

A passagem dos toxicantes através das membranas celulares, de natureza


lipoprotéica, será grandemente determinada por suas propriedades físico-
químicas. Entre elas destacam-se:

Solubilidade

Devido à constituição lipoprotéica das membranas biológicas, as substâncias


químicas lipossolúveis, ou seja, apolares, terão capacidade de transpô-las
facilmente, pelo processo de difusão passiva. Já as substâncias
hidrossolúveis não atravessam essas membranas, a não ser que tenham
pequeno tamanho molecular e possam ser filtradas, através dos poros
aquosos. A hidrossolubilidade é conferida à molécula por grupamentos que
permitem a formação de pontes de hidrogênio com as moléculas de água em
solução como, por exemplo, os grupos hidroxila (-OH), carboxila (-COOH),
amino (-NH2); sulfidrila (-SH) e carbonila (-C=O). A lipossolubilidade é dada
à molécula pela presença de grupos alquílicos, fenílicos, naftílicos, etc.

Coeficiente de partição óleo/água

É o parâmetro que permite avaliar o grau de lipossolubilidade das


substâncias químicas, ou seja, é dado pela relação
lipossolubilidade/hidrossolubilidade. Este coeficiente é obtido ao se agitar um
agente químico em uma mistura de solvente orgânico e água (em condições
de pH e temperatura controladas). As substâncias polares, hidrossolúveis,
concentram-se na fase aquosa e as apolares, lipossolúveis, na fase orgânica.
Quanto maior for a concentração da substância na fase orgânica, maior será
a sua lipossolubilidade. Ex.: coeficiente de partição n-octanol/água a 37o C e
pH 7,4 de algumas substâncias:

 clorpromazina = 79,7
 ácido acetil salicílico = 11,7

 paracetamol = 1,79

Grau de ionização ou de dissociação

A maioria dos agentes tóxicos comportam-se como ácidos ou bases fracas


que possuem um ou mais grupos funcionais capazes de se ionizarem. A
extensão desta ionização dependerá do pH do meio no qual a substância se
encontra e do seu próprio pKa (logaritimo negativo da constante de
dissociação da substância). É importante relembrar que a forma ionizada é
polar, hidrossolúvel e com pouca ou nenhuma capacidade de transpor
membranas por difusão passiva pela fase lipídica. O grau de ionização das
substâncias, em diferentes pH, poderá ser obtido através da aplicação da
equação de Henderson-Hasselbach, para ácidos fracos e bases fracas.
Para ácidos fracos:

[NI] = forma não ionizada


[I] = forma ionizada
Para bases fracas:

Tomando-se como exemplo o ácido acetilsalicílico (um ácido fraco com


pKa=3,4), qual será o seu comportamento no estômago e no plasma? No
suco gástrico, com um valor de pH=1,4 tem-se:

3,4 - 1,4 = log NI/I

2 = log NI/I

NI/I = 102, ou seja, uma relação de 100 moléculas não ionizadas para cada
uma que se dissocia.

Portanto prevalece a forma molecular, lipossolúvel e capaz de vencer a


membrana celular.

No plasma, onde o valor pH é de 7,4 tem-se:

3,4 - 7,4 = log NI/I

-4 = log NI/I

NI/I = 10-4 nesse caso, a relação é de uma molécula não ionizada para cada
10 mil que se dissocia.

Portanto, prevalece a forma não ionizada, não lipossolúvel e incapaz de


transpor a fase lipídica da membrana.

Esses dados permitem evidenciar que a difusão no sentido sangue ?


estômago praticamente não ocorre, o que resulta na absorção do ácido
acetilsalicílico no estômago e conseqüente distribuição. O contrário
acontecerá com uma base fraca. Portanto, as substâncias ácidas passam as
membranas muito mais facilmente em pH ácido, enquanto as de natureza
alcalina encontrão melhores chances em pH alcalino.

Quando o pH do meio é igual ao pKa de um composto, a metade deste estará


na forma ionizada e a outra metade na forma não-ionizada. Importante
ressaltar que o pKa sozinho não indica se um composto tem caráter ácido ou
básico, já que os ácidos fracos possuem pKa elevado, mas as bases fortes
também. Da mesma maneira, os ácidos fortes apresentam pKa baixo assim
como as bases fracas.

Tamanho e carga da partícula (molécula ou íon)

A existência de poros na membrana celular permitem a passagem de


partículas hidrossolúveis menores que 8 Å . Aquelas com tamanho superior
não sofrem esse processo de filtração. Alguns cátions também têm sua
passagem dificultada, uma vez que os poros apresentam cargas positivas em
razão da presença das proteínas e cálcio. Os ânions passaam com maior
facilidade.

A absorção pode ser definida como o processo por meio do qual o agente tóxico atravessa as
membranas celulares para alcançar a circulação sangüínea.

Vias de absorção

Distinguem-se como principais vias de introdução dos agentes tóxicos no organismo:

Via oral, digestiva ou trato gastrintestinal (TGI)

Uma vez no TGI, um agente tóxico poderá sofrer absorção desde a boca até o
reto, geralmente pelo processo de difusão passiva. Poucas substâncias sofrem a
absorção na mucosa oral, porque o tempo de contato é pequeno nesse local.
Estudos feitos experimentalmente, no entanto, mo stram que a cocaína, a
estricnina, a atropina e vários opióides podem sofrer absorção na mucosa
bucal. Esta absorção é dependente, principalmente, do coeficiente de partição
óleo/água (quanto maior este coeficiente mais fácil a absorção) e resulta em
níveis sangüíneos elevados, já que as substâncias não sofrerão a ação dos
sucos gastrintestinais.

Não sendo absorvido na mucosa oral, o toxicante poderá sofrer absorção na


porção do TGI onde existir a maior quantidade de sua forma não-ionizada
(lipossolúvel). Para se conhecer a fração da substância não ionizada, ou aquela
apta a sofrer absorção por difusão passiva, é importante a utilização da fórmula
de Handerson-Hasselbach. Um dos fatores que favorecem a absorção intestinal
de nutrientes e xenobióticos é a presença de microvilosidades, que
proporcionam grande área de superfície.
Embora a grande maioria dos agentes tóxicos sofram absorção no TGI por
difusão passiva, muitas substâncias serão absorvidas por processos especiais,
mais precisamente por transporte ativo. Exemplo: o chumbo é absorvido por
transporte ativo e utiliza o sistema que transporta o cálcio; o tálio é
transportado pelo sistema carregador responsável pela absorção de ferro, etc.

Fatores que interferem na absorção pelo TGI

Além das propriedades físico-químicas dos toxicantes, já discutidas, outros


fatores poderão interferir na absorção:

 estado de plenitude ou vacuidade gastrintestinal: a absorção será


favorecida se o estômago estiver vazio, devido ao maior contato do
toxicante com a mucosa. É importante considerar a apresentação do
produto (sólida ou líquida). Alimentos com elevado teor gorduroso como
o leite e o tipo de veículo utilizado na formulação podem facilitar a
absorção de substâncias lipossolúveis;
 concentração enzimática e acidez: estes sucos digestivos, seja por sua
acidez iônica, seja por ação enzimática, podem provocar mudanças na
atividade ou na estrutura química do agente, alterando assim a
velocidade de absorção. Ex.: o pH estomacal das crianças possui menor
acidez que o dos adultos. Isto implica em um desenvolvimento maior de
microrganismos, principalmente a Escherichia coli, bactéria que reduz,
no estômago, o nitrato a nitrito. Como as crianças possuem dietas ricas
em nitratos, estes serão reduzidos a nitritos, que são rapidamente
absorvidos pela mucosa estomacal, o que pode ocasionar
metemoglobinemia;

 motilidade intestinal: a alteração do tempo de esvaziamento gástrico e


da motilidade intestinal (pelo toxicante ou alimentos) poderá aumentar
ou diminuir o tempo de contato do agente tóxico com a mucosa e,
consequentemente, a absorção nesse local. Deve-se considerar ainda, a
capacidade da substância de provocar irritação e vômito;

 efeito de primeira passagem pelo fígado: as substâncias absorvidas no


estômago e duodeno entram na circulação porta e passam pelo fígado,
podendo ser biotransformadas de maneira mais ou menos intensa. Este
efeito pode ser responsável pela menor biodisponibilidade de algumas
substâncias, quando estas são administradas por via oral.

Alguns fatores que interferem na absorção pelo TGI podem variar de acordo com o sexo e, no
feminino, entre as gestantes e não gestantes. Este fato é importante na avaliação da
intensidade de absorção de xenobióticos por essa via.

Via cutânea

A pele é um órgão formado por múltiplas camadas de tecidos e contribui com


cerca de 10% de peso corpóreo. No estado íntegro, a pele constitui uma
barreira efetiva contra a penetração de substâncias químicas exógenas. No
entanto, alguns xenobióticos podem sofrer absorção cutânea, dependendo de
fatores tais como a anatomia e as propriedades fisiológicas da pele e das
propriedades físico-químicas dos agentes.
A pele é formada por duas camadas, a epiderme que é a camada mais externa
da pele a derme, que é formada por tecido conjuntivo e onde se encontram
vasos sangüíneos, nervos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas.
Estes três últimos elementos da derme permitem o contato direto com o meio
externo.
As substâncias químicas podem ser absorvidas, principalmente, através das
células epidérmicas ou folículos pilosos.

Absorção transepidérmica

A absorção dos agentes químicos pela pele tem sua velocidade limitada pela
região córnea da epiderme, mais precisamente pelo extrato córneo contínuo. As
substâncias lipossolúveis penetram por difusão passiva através dos lipídios
existentes entre os filamentos de queratina, sendo a velocidade desta absorção
indiretamente proporcional à viscosidade e volatilidade do agente. Já as
substâncias polares, de baixo peso molecular, penetram através da superfície
externa do filamento de queratina, no extrato hidratado. A absorção
transepidérmica é o tipo de absorção cutânea mais freqüente, devido ao
elevado número de células epidérmicas existente, embora não seja uma
penetração muito fácil para os toxicantes.

Absorção transfolicular

A absorção nessa região é menos significativa do que a transepidérmica.


Algumas substâncias químicas podem penetrar pelos folículos pilosos,
alcançando rapidamente a derme. É uma penetração fácil para os agentes
químicos, uma vez que eles não necessitam cruzar a região córnea. Qualquer
tipo de substância química, seja ela lipo ou hidrossolúvel, ionizada ou não, gás
ou vapor, ácida ou básica, pode penetrar pelos folículos. É uma absorção
também importante para alguns metais.

Fatores que interferem na absorção cutânea

Existem vários fatores que podem interferir na absorção através da pele.


Geralmente eles são agrupados em quatro classes diferentes.

1. Fatores relacionados ao organismo

 superfície corpórea: a superfície corpórea total no homem é maior


do que na mulher (média de 1,70 a 1,77 m2 no homem e de 1,64
a 1,73 m2 na mulher). Este fato pode aumentar a absorção
transepidérmica no homem (maior superfície de contato com o
xenobiótico);
volume total de água corpórea: quanto maior o volume aquoso
corpóreo, maior a hidratação da pele e consequentemente, a
absorção cutânea. Quando comparado à mulher, o homem possui
maior volume aquoso total, extra e intracelular, o que favorece a
absorção cutânea. Este fato deve ser considerado, também,
quando se compara mulheres grávidas e não grávidas. As
gestantes apresentam maior volume aquoso corpóreo e, em
conseqüência, maior hidratação do extrato córneo. Isto possibilita
maior absorção cutânea de xenobióticos;
 abrasão da pele: com a descontinuidade da pele, a penetração
torna-se fácil;
 fluxo sangüíneo através da pele: deve-se considerar a
vascularização das áreas expostas, uma vez que, quanto mais
vascularizada a região, maior o fluxo sangüíneo no local. Estudos
demonstram que, em média, 5% do sangue bombeado pelo
coração passa pela pele, com fluxo em torno de 120 mL/kg/min.
Inflamação ou fatores que levam à hiperemia aumentarão a
absorção cutânea. Durante a gestação também ocorrem
aumentos significativos no fluxo sangüíneo das mãos (em até 6
vezes) e pés (até 2 vezes), o que poderá influenciar a absorção
cutânea de xenobióticos nas gestantes expostas;

 queimaduras químicas e/ou térmicas: apenas as leves ou


moderadas, já que as severas destroem totalmente o tecido,
formando uma crosta de difícil penetração;

 pilosidade: nas áreas em que existem pêlos, a absorção cutânea


pode ser 3,5 a 13 vezes maior do que nas regiões glabras.

2. Fatores relacionados ao agente químico (já discutidos anteriormente)

 volatilidade e viscosidade;
 grau de ionização;

 tamanho molecular.

3. Fatores ligados à presença de outras substâncias na pele

 vasoconstritores: estes vão reduzir a absorção cutânea, devido à


diminuição da circulação sangüínea;
 veículos: podem auxiliar na absorção, mas não promovem a
penetração de substâncias que, normalmente, não seriam
absorvidas pela pele íntegra;

 água: a pele tem normalmente 90 g de água por grama de tecido


seco. Isto faz com que a sua permeabilidade seja 10 vezes maior
do que aquela do extrato totalmente seco. O contato prolongado
com água pode aumentar a hidratação da pele em 3 a 5 vezes, o
que resultará em um aumento na permeabilidade cutânea em até
3 vezes;

 agentes tensoativos: os sabões e detergentes são substâncias


bastante nocivas para a pele. Eles provocam alteração na
permeabilidade cutânea, mesmo quando presentes em pequenas
concentrações. Alteram, principalmente, a absorção de
substâncias hidrossolúveis, devido às modificações que provocam
na estrutura do filamento de queratina;

 solventes orgânicos: estes aumentam a absorção cutânea para


qualquer tipo de agente químico, pois removem lipídios e
lipoproteínas presentes no extrato córneo, tornando-o poroso e
menos seletivo.

4. Fatores ligados às condições de trabalho (exposição ocupacional)

 tempo de exposição;
 temperatura do local de trabalho: pode haver um aumento de 1,4
a 3 vezes na velocidade de penetração cutânea de agentes
químicos, para cada 10oC de aumento na temperatura.

Como já mencionado, o sexo e o estado gestacional podem alterar parâmetros


fisiológicos importantes e, consequentemente, a intensidade da absorção
cutânea

O contato dos agentes químicos na pele podem determinar:

 efeito nocivo local sem ocorrer absorção cutânea. Ex.: ácidos e bases
fortes.
 efeito nocivo local e sistêmico. Ex.: o arsênio, benzeno, etc.

 efeito nocivo sistêmico, sem causar danos no local de absorção: por exemplo,
inseticidas carbamatos (exceção feita ao aldicarbque é um carbamato com potente
ação local).

Via respiratória, pulmonar ou inalatória

A via respiratória é de suma importância para a Toxicologia Ocupacional. Muitas


intoxicações ocupacionais são decorrentes da aspiração de substâncias contidas
no ar. A superfície pulmonar total é de aproximadamente 90 m 2, a superfície
alveolar de 50 a 100 m2 e o total de área capilar é cerca de 140 m2. O fluxo
sangüíneo contínuo exerce uma ação de dissolução muito boa e muitos agentes
químicos podem ser absorvidos rapidamente a partir dos pulmões. Os agentes
passíveis de sofrerem absorção pulmonar são os gases e vapores e os
aerodispersóides. Estas substâncias poderão ser absorvidas, tanto nas vias
aéreas superiores, quanto nos alvéolos.

Absorção de gases e vapores

 Pelas vias aéreas superiores (VAS)

Em geral, não se dá muita atenção para a absorção desses compostos nas vias
aéreas superiores. No entanto, muitas vezes, a substância pode ser absorvida
na mucosa nasal, evitando sua penetração até os alvéolos. A retenção parcial
ou total dos agentes no trato respiratório superior, está ligada à
hidrossolubilidade da substância. Quanto maior a sua solubilidade em água,
maior será a tendência de ser retido no local. Visto sob este ângulo, a umidade
constante das mucosas que revestem estas vias, constitui um fator favorável.
Há, no entanto, a possibilidade da ocorrência de hidrólise química, originando
compostos nocivos, tanto para as vias aéreas superiores quanto para os
alvéolos.

Ex.: tricloreto de fósforo + H2O HCl + CO2;


dióxido de enxofre (SO2) + H2O ácido sulfúrico.

Os produtos formados, além dos efeitos irritantes, favorecem também a


absorção deles ou de outros agentes pela mucosa já lesada. Assim, nem
sempre, a retenção de gases e vapores nas vias aéreas superiores é sinônimo
de proteção contra eventuais efeitos tóxicos.
 Pelos alvéolos

Nos alvéolos pulmonares duas fases estão em contato, uma gasosa formada
pelo ar alveolar e outra líquida representada pelo sangue. Essas duas fases são
separadas por uma barreira dupla: o epitélio alveolar e o endotélio capilar.
Diante de um gás ou de um vapor, o sangue pode se comportar de duas
maneiras diferentes: como um veículo inerte, ou como meio reativo. Em outras
palavras, o agente tóxico pode dissolver-se simplesmente por um processo
físico ou, ao contrário, combinar-se quimicamente com elementos do sangue.
No primeiro caso tem-se a dissolução do toxicante no sangue e no segundo
caso, a reação química.

 Dissolução do toxicante no sangue – neste caso, deve-se considerar


o agente químico como o soluto e o sangue como solvente. Em relação
ao soluto, o fator que interfere na absorção pulmonar é a sua
concentração no ar alveolar (pressão parcial). Na verdade, se estabelece
uma troca de moléculas entre o ar alveolar e o sangue, no sentido do
local onde a pressão parcial é menor. Assim, se a pressão parcial no ar
alveolar for maior que no sangue, ocorrerá absorção e se for maior no
sangue do que no ar alveolar, haverá excreção. É evidente, portanto, a
importância de fatores ambientais, tais como temperatura e pressão, já
que estes fatores alteram a pressão parcial de gases e vapores.
Em relação ao solvente, deve-se considerar a constituição do sangue.
Este tecido orgânico apresenta tanto uma característica aquosa (3/4 do
sangue é água) quanto orgânica (proteínas, lipídios, e outros
componentes). Sendo assim, mais do que a lipo ou hidrossolubilidade de
um agente tóxico, deve-se aqui, considerar a sua solubilidade no
sangue. A importância deste fator surge de maneira mais evidente,
quando se recorda que a duração do contato entre o ar alveolar e o
sangue é de uma fração de segundo apenas. Então, para os gases e
vapores que não estabelecem combinações químicas, apenas suas
solubilidades no sangue assegurarão uma boa absorção pulmonar. Uma
maneira prática de se observar a solubilidade de uma substância no
sangue é determinar o chamado coeficiente de distribuição (K). Esse
coeficiente é expresso pela relação entre a concentração do agente
tóxico no ar alveolar pela concentração do agente tóxico no sangue, no
momento em que se instala o equilíbrio. Alguns autores utilizam a
correlação: concentração do toxicante no sangue por concentração do
toxicante no ar alveolar, para avaliar a solubilidade da substância.
Então um coeficiente baixo implica em uma boa solubilidade no sangue e
isto conduz a uma concentração elevada do agente neste meio. No
entanto, justamente devido a esta alta solubilidade, a saturação
sangüínea será lenta, a retenção do agente neste local será mais longa e
a transferência aos tecidos tardia. Quando o coeficiente de distribuição é
alto, os fenômenos inversos acontecem. Assim, o K permite avaliar a
concentração do agente no sangue conhecendo-se sua concentração no
ar alveolar.
Pode-se observar que dois fatores foram destacados até aqui: a pressão
parcial do gás ou vapor e sua solubilidade no sangue. Não foi
considerada a presença das membranas alveolares e capilares
interpostas entre o ar e o sangue. Isto porque estas membranas
possuem espessura muito pequena (cerca de 1?m) e superfície muito
grande, não representando um obstáculo à absorção das substâncias
químicas. Se o agente tóxico tem pequeno tamanho molecular e boa
solubilidade no sangue, poderá ser absorvido pelos pulmões.
É importante considerar também fatores fisiológicos, tais como a
freqüência cardíaca e respiratória, que podem aumentar ou diminuir a
saturação sangüínea e, consequentemente, a absorção. A influência
desses fatores difere de acordo com o tipo de substância analisada.
Assim, para substâncias com valores de K baixo, ou seja, muito solúveis
em água, o aumento da freqüência respiratória favorecerá a absorção. Já
para as substâncias de K elevado (pouco solúvel no sangue), a absorção
será favorecida pelo aumento na freqüência cardíaca. Deve-se ressaltar
que, no caso do sexo feminino, o estado gestacional pode alterar esses
parâmetros fisiológicos e, em conseqüência, a intensidade da absorção
pulmonar.

 Combinação química do agente químico com o sangue - ao


contrário da dissolução, que é puramente física, ocorre aqui uma fixação
entre o agente tóxico e o sangue que dependerá da afinidade química
entre estes dois elementos. No caso da combinação química, não
ocorrerá um equilíbrio entre agente químico presente no ar alveolar e no
sangue. São várias as substâncias que se ligam quimicamente no sangue
como, por exemplo, o monóxido de carbono (CO), o chumbo e o
mercúrio.

Absorção de material particulado ou aerodispersóides

Aerodispersóides são partículas sólidas ou líquidas de pequeno tamanho


molecular, que ficam em suspensão no ar, por um período longo de tempo.
Geralmente, somente as partículas com diâmetro menor ou igual a 1?m
atingirão os alvéolos e poderão sofrer absorção. As partículas que possuem
diâmetro maior, ficarão retidas nas regiões menos profundas do trato
respiratório.
A penetração e retenção dos aerodispersóides no trato pulmonar depende de
fatores como:

 diâmetro da partícula: este nem sempre indica o seu comportamento no


aparelho respiratório. É importante considerar o diâmetro aerodinâmico
que é função do tamanho (diâmetro físico) e da densidade da partícula.
Quanto maior o diâmetro aerodinâmico, menor a penetração ao longo
das vias aéreas superiores. Assim, se existem duas partículas com o
mesmo diâmetro físico, a de maior densidade terá o maior diâmetro
aerodinâmico e penetrará menos ao longo das vias aéreas superiores
(VAS).
 hidrossolubilidade: devido à umidade existente nas VAS, as partículas
hidrossolúveis tenderão a ficar retidas na parte superior do trato
pulmonar, sem alcançar os alvéolos.

 condensação: o tamanho das partículas no aparelho respiratório pode


ser alterado pela aglomeração ou por adsorsão de água, originando
partículas maiores. Influenciam a condensação, a carga da partícula, as
propriedades físico-químicas da substância, o tempo de retenção no
trato respiratório, etc.

 temperatura: ela pode aumentar o movimento browniano (movimento


natural e ao acaso de partículas coloidais pequenas), o que provocará
maior colisão das partículas e, consequentemente, sua maior
condensação e maior retenção.
Mecanismos de retenção dos aerodispersóides

As partículas que medem mais de 30?m não conseguem penetrar no trato


pulmonar, uma vez que, devido à força da gravidade, elas se sedimentarão
rapidamente no ambiente. Entretanto, quando a “força” de inspiração é
aumentada (por exemplo em trabalhos pesados), pode ocorrer a penetração
dessas partículas. Aquelas com diâmetro menor que 30?m, entretanto, são
capazes de penetrar no trato pulmonar, sendo que o mecanismo de retenção e
remoção das mesmas varia de acordo com a região do trato pulmonar.

 Região nasofaríngea: nessa região, as partículas com diâmetro


aerodinâmico entre 30 e 5?m depositam-se pelo processo de
impactação. Como o diâmetro da partícula e a velocidade do ar inspirado
são elevados e as vias dessa região têm uma mudança brusca de
direção, as partículas se chocam com as paredes e ficam retidas.
 Região traqueobronquial: partículas com diâmetro aerodinâmico entre
5 e 1?m se depositam nessa região, por sedimentação. Como o ar não
tem muita velocidade e nem há mudanças bruscas de direção nesta
região, as partículas ficam mais tempo no local e se sedimentam devido
à força de gravidade.

 Região alveolar: apenas partículas com diâmetro menor de 1?m


conseguem atingir esta região, onde se depositam por um processo de
difusão. Como a velocidade do ar é praticamente nula, e a força da
gravidade pouco influi (as partículas são muito pequenas), os
aerodispersóides, devido ao movimento browniano, vão se chocando
com as partículas dos gases presentes nos alvéolos (O2 e CO2) e assim
difundem-se até às paredes, onde se depositam.

Mecanismos de remoção dos aerodispersóides do trato pulmonar

Nem todas partículas que se depositam no aparelho pulmonar serão retidas


nele. Os mecanismos de remoção dependem do local de deposição.

 Região nasofaríngea: as partículas são removidas pelo muco,


associado ao movimento dos cílios, que vibram em direção à faringe. É o
chamado movimento mucociliar.
 Região traqueobronquial: o processo de remoção é o mesmo anterior
(movimento mucociliar), sendo que a tosse, ocasionada pela presença de
corpo estranho na região, pode auxiliar nesta remoção. Algumas
substâncias tais como o SO2, amônia e também a fumaça de cigarro
diminuem a velocidade de remoção neste local.

 Região alveolar: os epitélios dos bronquíolos e dos alvéolos são


desprovidos de cílios. O muco está presente devido à secreção das
células epiteliais. Esse muco se move em direção ao epitélio ciliado,
através de um processo de migração, ainda bastante discutido. Sabe-se
que este mecanismo é capaz de remover as partículas em direção às
vias aéreas superiores e que ele é estimulado pela presença das próprias
partículas nos alvéolos. Outro mecanismo de remoção é a fagocitose,
realizada pelos macrófagos presentes em grande número na região.

Os fagócitos contendo as partículas podem migrar em duas direções: - até aos brônquios onde
são eliminados pelo movimento mucociliar (que é o mais comum); - até ao sistema linfático,
através da penetração pelas paredes dos alvéolos. A fagocitose pode remover até 80% das
partículas presentes nos alvéolos. A velocidade do clearence no trato pulmonar pode variar
também de acordo com a região. Na região nasofaríngea a velocidade é muito rápida. A
remoção ocorre em minutos. Na região traquebronquial a velocidade é rápida e a remoção
ocorre em minutos ou horas. Em regiões mais profundas dos brônquios esta velocidade de
remoção é moderada (cerca de horas). E na região alveolar a velocidade de clearence é lenta,
podendo levar de dias até anos para ocorrer. Ela vai depender do tipo de partícula e do
mecanismo de remoção. As partículas presentes nos alvéolos, que não foram removidas ou
absorvidas, podem ficar retidas na região, causando as chamadas pneumoconioses.

Entende-se por distribuição de um agente tóxico, sua localização e


concentração em diferentes tecidos do organismo. Portanto, a distribuição
não é a ação de transportar o toxicante. Por exemplo, quando se diz que
uma substância se distribui nos órgãos A, B e C, não se quer dizer como ela
se deslocou da superfície de contato até esses órgãos, mas sim que essa
substância aparece nesses órgãos com uma concentração a, b e c,
respectivamente.

Após a entrada do agente tóxico na corrente sangüínea, através da


absorção ou por administração direta, ele estará disponível para ser
transportado pelo organismo com diferentes destinos:

 sítio de ação
 um ou vários sítios de armazenamento – locais onde o composto
pode ser armazenado e que, para a maioria dos agentes tóxicos, não
corresponde ao seu sítio de ação

 diversos órgãos para sua biotransformação

Fatores que afetam a distribuição

Normalmente a distribuição ocorre rapidamente e a velocidade e extensão desta,


dependerá do fluxo sangüíneo, da velocidade de difusão nas interfaces sangue-tecido a
qual é dependente do coeficiente de partição e do grau de ionização, da permeabilidade
da membrana e da afinidade do tecido pelo composto. Esses fatores são agrupados em
duas categorias.

Fatores ligados à substância


 lipossolubilidade e grau de ionização (já discutidos)
 afinidade química do agente – durante a distribuição, o agente alcançará o seu
sítio alvo, que é o órgão ou tecido onde exercerá sua ação tóxica, mas, poderá,
também, se ligar a outros constituintes do organismo, concentrando-se em
algumas partes do corpo. Em alguns casos, estes locais de maior concentração são
também os sítios de ação e disto resulta efeitos altamente prejudiciais. É o caso do
monóxido de carbono para o qual o sangue representa, tanto o local de
concentração quanto o de ação tóxica. Felizmente para o homem, a maioria dos
toxicantes atingem seus maiores níveis em locais diferentes do sítio alvo (exemplo:
Pb é armazenado nos ossos e atua nos tecidos moles). Este acúmulo do agente
tóxico em outros locais que não o de ação, funciona como uma proteção ao
organismo, uma vez que previne uma elevada concentração no sítio alvo. Os
agentes tóxicos nos locais de concentração estão em equilíbrio com sua forma
livre no sangue e, quando a concentração sangüínea diminui, o agente que está
concentrado em outro tecido é liberado para a circulação e daí pode atingir o sítio
de ação.

Fatores ligados ao organismo


 fluxo sangüíneo – quanto maior a irrigação de um órgão, maior
será o contato do toxicante com o mesmo. Dessa forma, órgãos
como o fígado, os rins e baço, que recebem cerca de ¾ do fluxo
sangüíneo do organismo, tendem a acumular os agentes tóxicos.
Nesse aspect, os rins merecem destaque porque, embora
representem menos de 1% do peso corporal, recebem de 20 a 25%
do débito cardíaco.

 conteúdo de água ou lipídio de órgãos e tecidos – os agentes


tóxicos se fixarão em órgãos ou tecidos de acordo com sua afinidade
por esses conteúdos. Por exemplo, substâncias lipossolúveis como
solventes orgânicos e compostos organomercuriais, terão preferência
por tecidos ricos em gordura como o SNC e, nesse caso, os efeitos
de suas ações tóxicas serão decorrentes dessa localização. Por outro
lado, compostos inorgânicos ionizáveis e solúveis em água fixam-se,
preferencialmente, nos rins como, por exemplo, o mercúrio
inorgânico, que lesa o parênquima desse órgão.

 biotransformação do agente tóxico – o organismo tem


capacidade de biotransformar a molécula de alguns agentes tóxicos
transformando-as em derivados de maior lipossolubilidade, o que
dificulta sua eliminação renal e facilita sua acumulação. Como
exemplo, tem-se o caso do DDE (diclorodifenileteno), produto de
biotransformação do DDT (diclorodifeniletano), um inseticida
organoclorado.

 integridade do órgão – a lesão de um órgão pode determinar a


acumulação do toxicante. O mercúrio inorgânico, por exemplo, tem
afinidade pelo tecido renal, porém, danifica o néfron, o que pode
causar oligúria ou anúria, o que dificulta sua eliminação e aumenta
ainda mais sua deposição renal.

O sangue tem grande importância no estudo da distribuição, não só porque é o principal


fluido de distribuição dos agentes tóxicos, mas, também por ser o único tecido que pode
ser colhido repetidamente sem distúrbios fisiológicos ou traumas orgânicos. Além disto,
como o sangue circula por todos os tecidos, algum equilíbrio pode ser esperado entre a
concentração do agente no sangue (dose interna) e nos tecidos, inclusive no sítio de ação
(dose efetiva). Assim, a concentração plasmática fornece melhor avaliação da ação tóxica
do que a dose (a não ser quando a concentração plasmática é muito baixa em relação à
concentração nos tecidos).
Sítios de armazenamento no organismo

A distribuição do toxicante, através do organismo ocorre de maneira não uniforme, devido


a uma série de fatores que podem ser reunidos em dois grupos: afinidade por diferentes
tecidos e presença de membranas. O papel da ligação às proteínas plasmáticas na
distribuição desigual dos xenobióticos é o fator mais estudado. Os principais locais de
depósito são discutidos a seguir.

Afinidade por diferentes tecidos

Ligação às proteínas plasmáticas

Várias proteínas do plasma podem se ligar a constituintes endógenos (ex.:


ácidos graxos, triptofano, hormônios, bilirrubinas, etc.) e também aos
xenobióticos. A principal proteína, sob o ponto de vista da ligação a
xenobióticos, é a albumina. Algumas globulinas também apresentam papel
relevante na ligação aos agentes exógenos, especialmente àqueles de
caráter básico. Destaca-se aqui a α1-glicoproteína ácida.

Com exceção das substâncias lipossolúveis de caráter neutro que,


geralmente, se solubilizam na porção lipídica das lipoproteínas, a ligação de
fármacos às proteínas plasmáticas é feita, usualmente, pela interação de
grupos polares ou não polares dos toxicantes com o(s) grupamento(s)
protéico(s).
Ex.: os fármacos de caráter ácido, ligam-se em um único sítio de albumina,
possivelmente, ao nitrogênio do aminoácido terminal, que é, no homem, o
ácido aspártico.

O elevado peso molecular das proteínas plasmáticas impede que o


complexo toxicante – proteína plasmática atravesse as membranas dos
capilares restringindo-o ao espaço intravascular. Assim, enquanto ligado às
proteínas plasmáticas, o agente tóxico não estará disponível para a
distribuição no espaço extravascular. Deve-se observar, no entanto, que
esta ligação é reversível (geralmente feita por pontes de hidrogênio, forças
de van der Waals, ligação iônica) e, à medida que o agente livre se difunde
através da membrana capilar, a fração ligada se dissocia das proteínas
tornando-se apta para ser distribuída. Esta ligação atua, portanto,
graduando a distribuição dos xenobióticos e, consequentemente, a chegada
ao sítio de ação.

Efeitos tóxicos severos podem aparecer quando há um deslocamento


anormal dos xenobióticos de seus sítios de ligação protéica. Entre os
fatores que afetam esta ligação destacam-se:

 competição entre toxicantes - as proteínas plasmáticas não


possuem sítios específicos de ligação e duas ou mais substâncias que
se ligam ao mesmo sítio protéico, irão competir entre si por esta
ligação. Esta competição pode ocorrer entre dois ou mais
xenobióticos ou entre xenobióticos e substratos endógenos. Como
conseqüência ocorrerá um aumento na concentração livre de uma
das substâncias e, portanto, o risco de intoxicação. Ex.:
sulfonamidas e bilirrubina competem pelo mesmo sítio da albumina;
a varfarina (anticoagulante) é geralmente deslocado pelo ácido
acetil-salicílico.
 condições patológicas - algumas doenças alteram a conformação
do sítio de ligação na proteína, outras alteram o pH do plasma e
podem provocar a ionização do complexo agente-proteína e outras,
ainda, modificam a quantidade de proteínas plasmáticas. Ex.: a
síndrome nefrótica, que permite a eliminação da albumina através
da urina, causando hipoalbuminemia.

 concentração do agente - quanto maior a concentração do


fármaco no plasma, maior a ligação protéica. Ex.: fenitoína. Se a
concentração deste anticonvulsivante for muito elevada no plasma a
ligação protéica aumenta mais do que o esperado e a fração livre
disponível para a distribuição e ação é pequena. Neste caso o efeito
terapêutico pode não ser alcançado.

 concentração protéica - o aumento das proteínas plasmáticas


resulta em maior ligação dos xenobióticos. Ex.: aumento de
lipoproteína implica em maior ligação da imipramina.

 pH - para alguns toxicantes o pH do plasma altera a ligação às


proteínas. Ex.: a teofilina terá uma maior ligação às proteínas
plasmáticas quando o pH do sangue está aumentado.

 idade - a concentração de algumas proteínas plasmáticas é alterada


com a idade. Ex.: as crianças possuem quantidade de albumina
menor do que o adulto. Conseqüentemente, os toxicantes que se
ligam essencialmente à albumina estarão mais livres e serão mais
rapidamente distribuídos, causando efeitos tóxicos mais severos,
mesmo com doses não muito grandes.

Ligações celulares

Embora menos estudado que a ligação às proteínas plasmáticas, a ligação a


outros tecidos exerce um papel muito importante na distribuição desigual
dos agentes pelo organismo. A ligação de toxicantes a componentes
teciduais poderá alterar significativamente a distribuição dos xenobióticos,
já que a fração destes ligada aos tecidos será inclusive maior do que a
ligada às proteínas plasmáticas. Sob o aspecto de ligação a xenobióticos, o
tecido hepático e o renal têm um papel especial. Esses órgãos possuem
elevada capacidade de se ligarem aos agentes químicos e apresentam as
maiores concentrações destes (e também de substâncias endógenas),
quando comparados com outros órgãos.
Os mecanismos através dos quais estes órgãos removem os agentes do
sangue não estão bem estabelecidos, no entanto, sabe-se que as proteínas
intracelulares são componentes fundamentais na ligação dos agentes
tóxicos ao tecido hepático e renal. Por exemplo, a proteína Y ou “ligandina”,
presente no citoplasma das células hepáticas, tem alta afinidade pela
maioria dos ácidos orgânicos e parece ter importante papel na transferência
de ânions orgânicos do plasma para o fígado.
A metalotineína, outra proteína tecidual, tem sido encontrada no fígado e
rins ligada ao cádmio, cobre e zinco. A rapidez com que o fígado se liga a
xenobióticos pode ser exemplificada pelo chumbo que, 30 minutos após a
administração, tem sua concentração hepática 50 vezes maior do que a
plasmática.
Tecido adiposo

Como a lipossolubilidade é uma característica fundamental para o


transporte por membranas, é lógico imaginar que os agentes tóxicos
lipossolúveis, de uma maneira geral, poderão se concentrar no tecido
adiposo. Os xenobióticos armazenam-se nesse local através da simples
dissolução física nas gorduras neutras do tecido.
Assim, um agente tóxico, com elevado coeficiente de partição óleo/água,
pode ser armazenado no tecido adiposo em grande extensão e isto
diminuirá a sua biodisponibilidade (concentração disponível para atingir o
sítio alvo). O tecido adiposo constitui 50% do peso de um indivíduo obeso e
20% de um magro. Sendo o armazenamento um mecanismo de defesa,
pode-se pensar que a toxicidade de uma agente químico será menor para a
pessoa obesa como para uma pessoa magra. Mais real, no entanto, é
pensar na possibilidade de um aumento súbito da concentração do agente
tóxico no sangue e no sítio de ação, devido a uma rápida mobilização das
gorduras.

Tecido ósseo

Um tecido relativamente inerte como o ósseo pode também servir como


local de armazenamento de agentes químicos inorgânicos, tais como flúor,
chumbo e estrôncio. O fenômeno de captura dos xenobióticos pelos ossos
pode ser considerado essencialmente um fenômeno químico, no qual as
mudanças ocorrem entre a superfície óssea e o líquido que está em contato
com ela. O líquido é o fluido extracelular e a superfície envolvida é a matriz
inorgânica do osso. Recordando: a superfície óssea possui uma matriz
orgânica e outra inorgânica, esta sendo formada pelos cristais de
hidroxiapatita [3Ca3(PO4)2Ca(OH)2]. Após ser trazido até o cristal ósseo
através do fluido extracelular, o toxicante poderá penetrar na superfície do
cristal, de acordo com o seu tamanho e sua carga molecular. Assim, por
exemplo, o fluoreto (F-) pode ser facilmente colocado no lugar da hidroxila
(OH-) e o chumbo e estrôncio no lugar do cálcio.
O armazenamento de xenobióticos no tecido ósseo poderá, ou não,
provocar efeitos tóxicos no local. O chumbo não é nocivo para os ossos,
mas o flúor pode provocar fluorose óssea e o estrôncio radioativo,
osteossarcoma e outras neoplasias.
Esse armazenamento não é irreversível. O agente tóxico pode ser liberado
dos ossos por dissolução da hidroxiapatita pela atividade osteoclástica
(destruição do tecido ósseo provocado pela ação dos osteoclastos, células
do próprio tecido ósseo que têm tal função); aumento da atividade
osteolítica (destruição do tecido ósseo provocada por substâncias químicas,
enzimas, etc) pela ação do paratormônio, hormônio da paratireóide, que
tem ação descalcificante óssea pois, se no lugar do cálcio o osso contiver
um toxicante, este será deslocado para a corrente sangüínea, aumentando
a sua concentração plasmática e por troca iônica.

Leite materno

A mulher que amamenta e se expõe a agentes tóxicos poderá passá-los para o leite com
conseqüentes prejuízos para o lactente. Por ser mais ácido que o plasma, os compostos
básicos podem se concentrar no leite. Ao contrário, a concentração de substâncias ácidas
no leite é menor que a do plasma. Não eletrólitos como etanol, por exemplo, distribuem-
se prontamente no leite e atingem concentrações similares à do plasma, independente do
pH deste líquido.

Presença de membranas ou barreiras de exclusão

As substâncias químicas, como foi visto, podem se acumular em


determinados sítios, mas, podem também ser excluídas de outros.

Barreira Hematoencefálica

A chamada barreira hematoencefálica, que protege o cérebro da entrada de


substâncias químicas, é um local menos permeável do que a maioria de
outras áreas do corpo. A barreira do sistema nervoso central (SNC) possui
três mecanismos de exclusão:

 as células endoteliais dos capilares do SNC são muito finas e


encontram-se intimamente unidas e não deixam poros aquosos entre
elas. Isto impede a difusão de substâncias polares de baixo peso
molecular;
 os capilares do SNC são circundados pelos astrócitos (tecido
conectivo glial), o que impõe uma película a mais a ser transposta;

 a concentração protéica no fluido intersticial do SNC é a mais baixa


de todo o organismo.

Assim, em contraste com outros tecidos, o toxicante tem dificuldade em se


mover entre os capilares, tendo que atravessar não somente o endotélio
capilar, mas também a membrana das células gliais, para alcançar o fluido
intersticial. Como este fluido é pobre em proteínas, o agente tóxico não
pode usar a ligação protéica para aumentar a distribuição dentro do SNC.
Estes fatos juntos atuam como um mecanismo de proteção, que diminui a
distribuição e ação dos toxicantes no SNC, já que eles não entram no
cérebro em quantidades significativas. A eficiência da barreira
hematoencefálica varia de uma área do cérebro para outra. Ex.: o córtex, o
nucleopineal e o lóbulo posterior da hipófise são mais permeáveis do que
outras áreas cerebrais. Não está claro se a maior permeabilidade destas
áreas decorre de um suprimento maior sangüíneo ou de uma
permeabilidade mais adequada da barreira ou dos dois fatores juntos.

Os princípios que regem o transporte das substâncias através de


membranas são também os que comandam a entrada de xenobióticos no
cérebro. Assim, somente a forma livre estará apta para entrar no cérebro,
desde que seja lipossolúvel. A lipossolubilidade é um fator preponderante
na velocidade e quantidade de toxicante que entra no SNC, ou seja, a
velocidade de entrada no SNC é proporcional ao coeficiente de partição
óleo/água da substância.
A barreira hematoencefálica não está totalmente desenvolvida por ocasião
do nascimento e esta seria uma das razões para a maior toxicidade de
substâncias químicas em recém-nascidos.

“Barreira” Placentária

Durante anos, o termo “barreira” placentária demonstrou o conceito que a


principal função da placenta era proteger o feto contra a passagem de
substâncias nocivas provenientes do organismo materno. Sabe-se hoje, que
ela possui funções mais importantes, tais como a troca de nutrientes (O2,
CO2, etc.). Esse material vital, necessário para o desenvolvimento do feto,
é transportado por processo ativo, com gasto de energia. Já a maioria dos
xenobióticos que se difundem através da placenta o fazem por difusão
passiva. Na verdade, a placenta não representa uma barreira protetora
efetiva contra a entrada de substâncias estranhas na circulação fetal.

Anatomicamente a placenta é o resultado de várias camadas celulares


interpostas entre a circulação fetal e materna. O número de camadas varia
com a espécie e com o período de gestação e isto, provavelmente, afeta a
sua permeabilidade. Na espécie humana ela possui ao todo seis camadas,
três de origem materna e três de origem fetal.

Poderia se pensar que as espécies que apresentam placenta com maior número de
camadas são mais protegidas contra agentes tóxicos durante a gestação. Entretanto, a
relação entre o número de camadas e a permeabilidade placentária não está
suficientemente estudada. Embora não totalmente efetiva na proteção do feto contra a
entrada de xenobióticos, existem alguns mecanismos de biotransformação, que podem
prevenir a passagem placentária dessas substâncias.

Volume aparente de distribuição (VD)

O volume aparente de distribuição (VD) é uma forma de relacionar a


quantidade de agente tóxico presente no organismo com a sua
concentração plasmática, ou seja, é um parâmetro toxicocinético que indica
a extensão de sua distribuição. É calculado, dividindo-se a dose
administrada pela concentração plasmática e expresso em litros.

VD = dose (mg) / concentração plasmática (mg/L)

Os compostos que se ligam fortemente com as proteínas ou que são muito


lipofílicos, apresentam-se em concentrações muito baixas no plasma,
fazendo com que sejam estimados volumes aparentes de distribuição muito
grandes, 100 litros ou mais, o que indica que o xenobiótico distribui-se a
vários compartimentos do organismo e encontra-se em baixa concentração
no plasma. Ao contrário, para uma substância com VD relativamente
pequeno, a maior fração permanece no plasma, provavelmente, como
resultado da fixação protéica.

Assim, a toxicidade do xenobiótico depende de seu VD, mas, nem sempre o local que
contém a maior fração do toxicante é o mais lesado. Muitas vezes, esse sítio funciona
como um simples depósito. Entretanto, a redução do VD pode determinar um aumento
nas concentrações plasmáticas com risco de ocasionar intoxicação.

Redistribuição

O término do efeito tóxico de uma substância costuma ocorrer por


biotransformação ou excreção, mas, também pode resultar da
redistribuição da substância do seu sítio de ação para outros tecidos.
Entretanto, ela ainda estará armazenada nestes locais na forma ativa e sua
saída definitiva dependerá de biotransformação e excreção. Se houver
saturação do local de armazenamento com a dose inicial, uma dose
subseqüente pode produzir efeito prolongado.

Um exemplo clássico é o uso endovenoso do anestésico tiopental, um


fármaco altamente lipossolúvel. Como o fluxo sangüíneo cerebral é muito
alto, o fármaco alcança sua concetração máxima no cérebro, cerca de um
minuto após sua administração. Após o término da injeção, a concentração
plasmática do tiopental cai, à medida que ele se difunde para outros tecidos
como os músculos. A concentração do fármaco no cérebro segue a do
plasma, porque há pouca ligação com componentes cerebrais. Desse modo,
o início da anestesia é rápido e o término também, pois ambos estão
diretamente relacionados com a concentração da substância no cérebro.

Para reduzir a possibilidade de uma substância desencadear uma resposta


tóxica, o organismo apresenta mecanismos de defesa que buscam diminuir
a quantidade da mesma, que chega de forma ativa ao tecido alvo assim
como, diminuir o tempo de permanência desta em seu sítio de ação. Para
isso, é necessário diminuir a difusibilidade do toxicante e aumentar a
velocidade de sua excreção.

A propriedade física que facilita a absorção de muitos xenobióticos através


da pele, pulmões e trato gastrintestinal – denominada lipofilicidade -
constitui um obstáculo à sua eliminação, porque as substâncias lipofílicas
podem ser reabsorvidas e tendem a se acumular no organismo. Os
compostos hidrofílicos, por sua vez, apresentam absorção mais precária,
porém, são facilmente excretados pelos rins. Conseqüentemente, a
eliminação de um xenobiótico, freqüentemente, depende de sua conversão
para compostos hidrossolúveis através de um processo conhecido como
biotransformação, o qual é catalisado por enzimas presentes no fígado e
em outros tecidos.

Assim, se uma substância lipofílica, que se difunde rapidamente, for


transformada em um composto mais polar, tem-se uma redução na
velocidade de difusão e um aumento da solubilidade em água, o que facilita
sua excreção urinária. Por exemplo, a destoxificação do benzeno, que
apresenta uma solubilidade de 1g em 1.500 mL de água, consiste em sua
oxidação a fenol, que é 100 vezes mais hidrossolúvel. A posterior
sulfatação do fenol produz um composto que possui uma solubilidade em
água de 1g em 3 mL. Como resultado dessas duas reações, obtém-se uma
substância que é 500 vezes mais hidrossolúvel do que o xenobiótico original
(benzeno) e que, portanto, será muito mais facilmente excretada pela
urina.

A biotransformação pode ser, então, compreendida como um conjunto de alterações


químicas (ou estruturais) que as substâncias sofrem no organismo, geralmente,
ocasionadas por processos enzimáticos, com o objetivo de formar derivados mais polares
e mais hidrossolúveis.
Embora existam autores que consideram a biotransformação como um dos processos de
eliminação, esse passo da toxicocinética será abordado, aqui, separadamente.

Mecanismos de biotransformação

A biotransformação pode ocorrer através de dois mecanismos:

 mecanismo de ativação ou bioativação - que produz metabólitos


com atividade igual ou maior do que o precursor. Ex.: a piridina é
biotransformada no íon N-metil piridínico que tem toxicidade cinco
vezes maior que o precursor. O mesmo ocorre com o inseticida
paration que é biotransformado em paraoxon, composto responsável
pela ação tóxica do praguicida;
 mecanismo de desativação - quando o produto resultante é
menos tóxico que o precursor.

É comum encontrar-se na literatura científica, os termos metabolização e


destoxificação como sinônimos de biotransformação. Hoje, no entanto,
utiliza-se o termo metabolismo para descrever o comportamento geral das
substâncias (endógenas e exógenas) no organismo, o que inclui absorção,
distribuição, biotransformação e eliminação. Esse termo é comumente
usado para se referir à biotransformação o que é compreensível, visto que
os produtos da biotransformação de xenobióticos são conhecidos
metabólitos.

Entretanto, a destoxificação não é sinônimo de biotransformação. Isto porque,


destoxificação significa diminuição de toxicidade e nem todas as reações de
biotransformação, como citado acima, produzirão metabólitos menos tóxicos ou
ativos que o seu precursor.

Sítios de biotransformação

A biotransformação pode ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico


como, por exemplo, no intestino, rins, pulmões, pele, testículos, placenta,
etc. No entanto, a grande maioria das substâncias, sejam elas endógenas
ou exógenas são biotransformadas no fígado.

O fígado é o maior órgão do corpo humano com diversas e vitais funções, destacando-se
entre elas, as transformações de xenobióticos e nutrientes. Por ser o sítio primário para a
biotransformação, o fígado é potencialmente vulnerável à ação tóxica de um xenobiótico
que sofre bioativação. A biotransformação é efetuada, geralmente por enzimas,
principalmente, aquelas existentes nos chamados microssomas hepáticos (pequenas
vesículas presentes no retículo endoplasmático) e na fração solúvel do citoplasma
(citosol). As mitocôndrias, núcleos e lisossomas possuem menor capacidade de
biotransformação. Assim, as reações de biotransformação são referidas, freqüentemente,
como microssômicas ou citosólicas, de acordo com as localizações subcelulares das
enzimas envolvidas.

Fases da biotransformação

As reações de biotransformação são categorizadas, não somente pela


natureza da reação envolvida (oxidação, redução, etc.), mas, também pela
seqüência normal com que elas ocorrem. Essas reações catalizadas pelas
enzimas biotransformadoras de xenobióticos são classificadas em reações
de fase I (ou pré-sintéticas) e reações de fase II (sintéticas ou de
conjugação).

A fase I compreende um conjunto de reações de oxidação, redução e


hidrólise que preparam os toxicantes para as reações da fase II. Essas
reações, geralmente, modificam a estrutura química da substância
mediante adição de um grupo funcional (-OH, -NH2, -SH, ou -COOH), o que
resulta em um pequeno aumento de hidrofilicidade. As reações de
biotransformação de fase II, também chamadas de reações de conjugação,
incluem glicuronidação, sulfonação (mais conhecida como sulfatação),
acetilação, metilação, conjugação com glutationa e conjugação com
aminoácidos. Os substratos endógenos dessas reações interagem com
grupos funcionais presentes na molécula do xenobiótico ou que foram
introduzidos ou expostos durante a fase I. Na maioria das reações de
conjugação formam-se compostos altamente polarizados e hidrossolúveis
que são prontamente excretados pelos rins.

As substâncias que possuem grupos funcionais hidrofílicos sofrem


conjugação direta, com formação de produtos facilmente excretáveis.
Entretanto, para os compostos lipossolúveis, pouco polares, tem-se sempre
as reações pré-sintéticas como condição para posterior conjugação.
Portanto, a velocidade de excreção do agente tóxico está relacionada com
sua estrutura química.

Um bom exemplo é o fenol que é excretado após conjugação direta, enquanto a


biotransformação do benzeno requer ambas as reações, ou seja, ele é inicialmente
biotransformado em fenol pela introdução de um grupo hidroxila (-OH) durante a fase I
(oxidação) e, o fenol formado, é então conjugado por uma reação de fase II (sulfatação)
em fenil sulfato.

Reações de fase I

1. Oxidação

A oxidação é uma reação química na qual o substrato perde elétrons. A


reação por adição de oxigênio foi a primeira a ser descoberta e, por essa
razão, recebeu essa denominação. Como exemplo de reações por adição de
oxigênio destacam-se a hidroxilação, epoxidação e sulfoxidação.
Entretanto, muitas reações de oxidação não envolvem oxigênio. A mais
simples delas é a desidrogenação que consiste na remoção de hidrogênio
da molécula. A maioria dessas reações são evidenciadas pelo nome da
reação ou enzima envolvida. Por exemplo: desidrogenação alcoólica,
hidroxilação aromática, desaminação, desalquilação, dessulfuração, entre
outras.

O principal sistema enzimático responsável pela oxidação de xenobióticos é


o Citocromo P450. Esta enzima é uma hemoproteína, com o átomo de ferro
em seu núcleo, chamado de P450 porque, em sua forma reduzida está ligado
ao monóxido de carbono, e tem um pico de absorbância no comprimento
de onda de 450nm. O Cit P450 parece estar localizado nas camadas
profundas na membrana do retículo endotelial liso, mais especificamente,
nos microssomos hepáticos. Esta enzima é a oxidase terminal do sistema
de oxidases mistas que recebe os elétrons provenientes de outras fases da
reação, se reduz e se liga ao oxigênio e ao toxicante, promovendo de fato a
oxidação do composto. Outras enzimas estão presentes nos microssomos
hepáticos e, embora menos conhecidas e importantes que o Cit P 450 podem
também biotransformar xenobióticos. É o caso, por exemplo, do citocromo
b5, que está localizado fora das membranas do retículo endoplasmático.

2. Redução

Essa é uma reação química através da qual o substrato ganha elétrons. São
catalisadas por redutases microssômicas e citosólicas e pelas bactérias
intestinais. As reações de redução podem ocorrer através da formação de
duplas ligações nitrogênio-nitrogênio (azo-redução) em grupos nitro (NO 2).
Nesses casos, os compostos amino formados são oxidados e formam
metabólitos tóxicos. Assim, as reações de redução, freqüentemente
resultam na ativação do xenobiótico em vez de destoxificação. A natureza
dessas reações também é evidenciada pela sua denominação, como por
exemplo, azo-redução, desalogenação redutora, redução de carbonila entre
outras.
A redução pode ser efetuada enzimaticamente, envolvendo enzimas
microssômicas ou não. A enzima Cit P450 redutase, NADPH dependente,
localizada fora da membrana do REL, é responsável pela redução de uma
série de produtos.

3. Hidrólise

É uma reação na qual a adição de uma molécula de água separa o


toxicante em dois fragmentos ou moléculas menores. O grupo hidroxila (-
OH) é incorporado em um fragmento e o hidrogênio no outro.
Certos xenobióticos são lisados antes de sofrerem outras reações de
biotransformação. A mais comum destas reações é a hidrólise de ésteres,
embora amidas, nitrilas e hidrazidas, também possam ser hidrolizadas. A
hidrólise de ésteres (R-COOR) é feita pelas enzimas denominadas
esterases, que podem ser de origem microssômica ou não. Geralmente
essas esterases não possuem uma boa especificidade, ou seja, uma
esterase pode, além de hidrolisar ésteres, provocar a quebra de
acetanilidas, amidas e outros derivados da anilina.

Reações de fase II
Um fator importante na toxicidade de um xenobiótico é a sua capacidade
de ser excretado, e parece que os rins dos vertebrados é constituído de
maneira e excretar eletrólitos mais facilmente que não eletrólitos. Assim,
quanto mais ionizado estiver um ácido orgânico no pH do meio, mais
rapidamente ele será excretado pelos rins. A ionização, por sua vez,
depende do chamado momento dipolo (ou grau de polaridade), ou seja, da
distância entre o centro geométrico de todas as cargas positivas e de todas
as cargas negativas. É claro que moléculas com momento dipolo baixo
(carga positiva perto da carga negativa) terão uma simetria maior e,
portanto, uma ionização mais difícil. Já moléculas com grandes dipolos (ou
seja, moléculas onde as cargas positivas e negativas estão distantes) terão
uma menor simetria e, conseqüentemente, maior ionização.

Nas reações de conjugação, os xenobióticos, provenientes ou não da fase


pré-sintética, ligam-se a substratos endógenos do organismo formando
metabólitos com tamanho molecular elevado e, conseqüentemente, mais
excretáveis e menos tóxicos. Ou seja, na conjugação observa-se: aumento
do tamanho maior polaridade maior ionização maior excreção menor
toxicidade.

Os principais compostos endógenos envolvidos nas reações de conjugação


são:

 Aminoácidos e seus derivados, tais como a glicina e cisteína


 Carboidratos e seus derivados, especialmente o ácido glicurônico

 Conjugação com compostos simples como, por exemplo, sulfato e


acetato

O composto endógeno envolvido na conjugação está, geralmente, na sua


forma “ativa”, ou seja, ligado a uma coenzima da qual é transferido para o
xenobiótico. As enzimas envolvidas incluem a coenzima A, onde está ligado
o acetato ou outros ácidos graxos de cadeia curta, a adenosina ou
fosfoadenosina fosfato (PAP) onde está ligado o sulfato, metionina e
etionina e a uridina difosfato (UDP) onde se liga o ácido glicurônico e a
glicose. As conjugações mais freqüentes são aquelas feitas com ácido
glicurônico e com o sulfato.

1. Conjugação com ácido glicurônico

O ácido glicurônico é um derivado 6-carboxil da glicose, formado durante o


metabolismo desse açúcar. Sua forma forma ativa, o ácido uridino difosfato
glicurônico (UDPGA) é formado enzimaticamente na fração solúvel do
fígado. Esta forma ativa doa o ácido glicurônico para se conjugar com o
xenobiótico e esta reação é catalisada pela transglicuronilase ou
glicuroniltransferase, presente na fração microssômica hepática. Os
conjugados glicurônicos ou glicuronídios são muito polares e, portanto,
facilmente excretados do organismo. Em relação às substâncias endógenas,
são poucas aquelas capazes de sofrerem conjugação glicurônica. Exemplo:
tiroxina e bilirrubina. É como se o organismo tivesse “guardado” este tipo
de conjugação para a biotransformação de xenobióticos.
2. Conjugação com sulfato

Este tipo de conjugação é quase tão comum quanto a anterior. Os produtos


da conjugação com sulfatos são sais de sulfatos ácidos (SO 3) ou de
sulfamatos (NHSO3), que, em pH fisiológico são totalmente ionizados e
rapidamente excretados pelos rins. Os íons sulfatos presentes no
organismo também terão que ser ativados para se conjugarem com os
xenobióticos. Esta ativação envolve o uso de ATP e é feita pelas enzimas
ATP-sulfato-adenil-transferase e ATP-adenil-sulfato-3-fosfotransferase.
Forma-se, então, o PAPS (3-fosfoadenosina-5-fosfossulfato), que é a forma
ativa do sulfato, presente na fração microssômica hepática e que sob ação
da sulfoquinase cede o sulfato ao xenobiótico, formando o conjugado.

3. Conjugação com aminoácidos

A reação consiste na formação de uma ligação peptídica entre o grupo


amino de um aminoácido, geralmente, a glicina, e o grupo carbonila do
xenobiótico. Para que essa reação ocorra, é indispensável que o toxicante
possua um grupo carboxila. Os compostos formados são excretado na urina
porque o sistema de transporte do rim reconhece o aminoácido.

4. Conjugação com glutationa

Nessa reação, a glutationa (GSH), através de seu grupo sulfidrila


(nucleofílico), une-se a um carbono eletrofílico do toxicante. A reação é
catalisada pela enzima glutationa-S-transferase que tem como cofator o
própio glutation. A glutationa é um tripeptídio (ácido glutâmico-glicina-
cisteína). O conjugado formado se rompe nos rins produzindo o Cis-
derivado, que se acetila para produzir um conjugado do ácido mercaptúrico
que é excretado pela urina. Essa reação é importante na destoxificação de
epóxidos e peróxidos. A glutationa-S-transferase encontra-se em células de
muitos tecidos do organismo. Se essa reação diminui significativamente os
níveis celulares de glutationa, o organismo pode sofrer danos consideráveis
devido à peroxidação lipídica ou por outros tipos de agressão química.

5. Metilação

Tem papel de menor importância na biotransformação de xenobióticos,


exceto na destoxificação do arsênico. Os compostos inorgânicos do arsênico
transformam-se em metabólitos mono e dimetilados, que são menos
tóxicos. A reação consiste na transferência de um grupo metila (-CH 3) a um
grupo funcional hidroxila, amina ou sulfidrila, catalisada pelas
metiltransferases e o composto doador de grupos metila é a SAM (S-
adenosil-metionina). A metilação é uma reação importante na
transformação de compostos endógenos e participa da biossíntese de vários
aminoácidos e esteróides, assim com na metilação do DNA. Enquanto as
reações de fase I ativam grupos funcionais, a metilação os mascara,
impedindo que participem das reações de fase II e, portanto, se o
xenobiótico é metilado, sua taxa de eliminação diminui.
Fatores que modificam a biotransformação

A eficiência dos processos de biotransformação depende de vários fatores


que incluem dose e freqüência de exposição, espécie, idade, gênero,
variabilidade genética, estado nutricional, estado patológico e a exposição a
outros agentes que podem inibir ou induzir as enzimas biotransformadoras
de xenobióticos.

Dose e freqüência da exposição - a dose geralmente altera a via de


biotransformação. Certas enzimas possuem elevada afinidade, mas baixa
capacidade para biotransformar substâncias exógenas. Por isso, serão
rapidamente saturadas quando doses elevadas do agente tóxico são
administradas e outras vias secundárias passam a ter um papel mais
importante. Exemplo: cerca de 90% do acetaminofeno (paracetamol), em
doses baixas (15 mg/Kg), é biotransformado através da conjugação com
sulfato. Em doses elevadas (300 mg/kg), apenas 43% será excretado como
tal, passando a serem significativas as excreções como glicuronídio e ácido
mercaptúrico (conjugação com glutationa). Em relação à freqüência, esta
pode levar a uma sensibilização ou indução de receptores enzimáticos,
aumentando a biotransformação.

Espécie – as diferenças interespecíficas na capacidade de


biotransformação de substâncias químicas são bem conhecidas e
constituem, normalmente, a base da toxicidade seletiva, utilizada para o
desenvolvimento dos testes de segurança de medicamentos realizados em
animais.
Variabilidade genética – a capacidade biotransformadora varia amplamente
de um indivíduo para outro em função de diferenças genéticas. Por
exemplo, a reação de acetilação da isoniazida em humanos é
particularmente influenciada por fatores genéticos. Algumas pessoas
conseguem acetilar essa substância rapidamente, enquanto outras, o fazem
lentamente.

Gênero - para algumas substâncias, existem diferenças entre as respostas


tóxicas em animais machos e fêmeas. Estudos realizados em ratos
demonstraram que as fêmeas são mais suscetíveis a uma dose de
hexobarbital do que os machos (elas dormem por um tempo maior). Esse
fato é explicado pela menor capacidade do fígado das fêmeas de
biotransformar xenobióticos, tornando-as mais suscetíveis à ação da
maioria dos agentes tóxicos. A menor atividade hepática em fêmeas, no
entanto, diminuirá a ação de substâncias que são biotransformadas pelo
mecanismo de bioativação (ex.: o tetracloreto de carbono e halotano).
Acredita-se que as diferenças entre os gêneros sejam causadas pelos
hormônios sexuais, tendo em vista que, ao se administrar testosterona às
fêmeas, ocorre aumento na capacidade de biotransformação e com a
castração de machos há uma diminuição dessa capacidade. A influência do
sexo sobre a biotransformação também pode ser observada em processos
que ocorrem em outros órgãos como, por exemplo, nos rins. Ex.: animais
machos são mais suscetíveis à ação tóxica do clorofórmio, provavelmente,
por biotransformar mais rapidamente este solvente, originando o fosgênio,
metabólito intermediário ativo. Embora essas diferenças sejam mais
pronunciadas em ratos, outras espécies, entre elas o homem, também
apresentam estas modificações (ex.: nicotina, ácido acetilsalicílico,
heparina, etc.).

Idade - com relação à idade, tanto os animais jovens, quanto os velhos,


apresentam menor capacidade de biotransformar xenobióticos e,
conseqüentemente, são mais suscetíveis aos seus efeitos tóxicos.
Geralmente, o Cit P450 dos recém-nascidos tem apenas 20% a 50% da
atividade observada em adultos. Em relação aos idosos, não só a atividade
diminuída do Cit P450, mas também outros fatores, tais como menor fluxo
sangüíneo e menor eficiência no sistema da excreção renal e biliar,
contribuem para a menor biotransformação dos xenobióticos.

Dieta e estado nutricional - o estado nutricional é bastante importante


para a biotransformação pois pode alterar a atividade do Cit P450 (oxidase
ou redutase). As deficiências em vitaminas, especialmente, a C, E e do
complexo B, reduzem a velocidade de biotransformação. Elas estão direta
ou indiretamente envolvidas na regulação do Cit P450. Além disso, suas
deficiências podem alterar a energia e o estado redox das células,
diminuindo a produção de cofatores necessários para a fase de conjugação.
Dietas pobres em proteínas diminuem a síntese enzimática e,
conseqüentemente, a biotransformação e, dessa forma, podem aumentar a
toxicidade de substâncias ativas, mas, podem também reduzir o potencial
tóxico daqueles agentes que necessitam de biotransformação prévia para
se tornarem ativos.

Estado patológico – muitas patologias podem alterar a capacidade


individual de biotransformação de xenobióticos, em particular, as doenças
hepáticas como cirrose, icterícia obstrutiva, carcinomas e hepatite, devido a
uma redução drástica das atividades enzimáticas do fígado. Distúrbios
cardiovasculares, que acarretam diminuição do fluxo sangüíneo, modificam
igualmente a biotransformação e a depuração dos agentes tóxicos.

Inibição e indução enzimática - o sistema enzimático Cit P450 é


influenciado por uma série de substâncias, que podem induzir ou inibir a
sua atividade, alterando a biotransformação de determinados compostos.
Por exemplo, a fenilbutazona (antiinflamatório e antireumático) e o
cloranfenicol podem inibir a biotransformação enzimática da tolbutamida,
medicamento hipoglicemiante. Com isto, uma dose terapêutica desse
medicamento poderá causar graves crises de hipoglicemia, devido à
diminuição excessiva de glicose no sangue. A inibição enzimática envolve
mecanismos diversos, desde a inibição da síntese protéica até a competição
entre os substratos pelos centros ativos comuns das enzimas. Ao contrário,
o fenobarbital e o álcool são exemplos de indutores enzimáticos, que
aumentam a concentração do Cit P450 e, conseqüentemente, a
biotransformação de várias substâncias e a sua própria, o que pode resultar
em tolerância farmacocinética.
Os xenobióticos que penetram no organismo são, posteriormente,
excretados através da urina, bile, fezes, ar expirado, leite, suor e outras
secreções, sob forma inalterada ou modificada quimicamente. Este
processo é, muitas vezes, denominado "Eliminação", embora pelo conceito
atual a eliminação envolve o processo de biotransformação. A excreção
pode ser vista como um processo inverso ao da absorção, uma vez que os
fatores que interferem na entrada do xenobiótico no organismo, podem
dificultar a sua saída. Basicamente existem três classes de excreção:

 eliminação através das secreções, tais como a biliar, sudorípara,


lacrimal, gástrica, salivar, láctea;
 eliminação através das excreções, tais como urina, fezes e catarro;

 eliminação pelo ar expirado.

O processo mais importante para a Toxicologia é a excreção urinária.

Excreção urinária

A capacidade de um órgão realizar uma determinada função está


intimamente relacionada com a sua anatomia, e os rins possuem um
elevado desenvolvimento anatômico, voltado para a excreção de
substâncias químicas.

Os glomérulos renais filtram cerca de 20% do fluxo cardíaco (os rins


recebem 25% deste fluxo) e apresentam poros bastantes largos (cerca de
40 Å enquanto o de outros tecidos medem cerca de 4 Å). Assim, os
glomérulos filtram substâncias lipossolúveis ou hidrossolúveis, ácidas ou
básicas, desde que tenham peso molecular menor do que 60.000 daltons.

A filtração glomerular é um dos principais processos de eliminação renal e


está intimamente ligado a um outro processo que é a reabsorção tubular.
As substâncias, após serem filtradas pelos glomérulos, podem permanecer
no lúmem do túbulo e serem eliminadas, ou então, podem sofrer
reabsorção passiva através da membrana tubular. Isto dependerá de
alguns fatores, tais como o coeficiente de partição óleo/água; o pKa da
substância e o pH do meio. De modo geral, as substâncias de caráter
alcalino são eliminadas na urina ácida e as substâncias ácidas na urina
alcalina. Isto porque nestas condições, as substâncias se ionizarão,
tornando-se hidrossolúveis e a urina é, em sua maior parte, formada de
água.

Outro processo de excreção renal é a difusão tubular passiva. Substâncias


lipossolúveis, ácidas ou básicas, que estejam presentes nos capilares que
circundam os túbulos renais, podem atravessar a membrana por difusão
passiva e caírem no lúmem tubular. Dependendo do seu pKa e do pH do
meio, elas podem, ou não, se ionizarem e, conseqüentemente, serem
excretadas ou reabsorvidas.

O terceiro processo de excreção renal é a secreção tubular ativa. Existem dois processos de
secreção tubular renal, um para substâncias ácidas e outro para as básicas. Estes sistemas
estão localizados, provavelmente, no túbulo proximal. A secreção tubular tem as características
do transporte ativo, ou seja, exige um carregador químico, gasta energia, é um mecanismo
competitivo e pode ocorrer contra um gradiente de concentração. Algumas substâncias
endógenas, tais como o ácido úrico, são excretadas por este mecanismo e a presença de
xenobióticos excretados ativamente, pode interferir com a eliminação de substratos
endógenos. A Penicilina é um exemplo de xenobiótico secretado ativamente pelos túbulos. O
uso de Probenecid (fármaco excretado pelo mesmo sistema) evita que este antibiótico seja
secretado muito rapidamente do organismo. Geralmente, o que ocorre no organismo é uma
combinação dos três processos de excreção renal, para permitir uma maior eficácia na
eliminação dos xenobióticos.

Excreção pelas fezes e catarro

Não são processos muito importantes para a Toxicologia. Os toxicantes encontrados nas fezes
correspondem à fração ingerida e não absorvida ou então ao agente tóxico que sofreu
secreção salivar, biliar ou gástrica. As partículas que penetram pelo trato pulmonar podem ser
eliminadas pela expectoração no trato gastrintestinal e, se não forem reabsorvidas, serão,
também, excretadas pelas fezes.

Excreção pela bile

Dentre as secreções orgânicas, a mais significativa para a excreção de


xenobióticos é a biliar. O fígado tem uma posição vantajosa na remoção de
substâncias exógenas do sangue, principalmente, daquelas absorvidas pelo
trato gastrintestinal. Isto porque, o sangue proveniente do trato gastrintestinal,
através da circulação porta, passa inicialmente pelo fígado, e somente depois
entra na circulação sistêmica. No fígado parte do xenobiótico pode ser
biotransformado e os metabólitos ou mesmo o produto inalterado podem ser
secretados pela bile no intestino.

Existem três sistemas de transporte ativo para a secreção de substâncias


orgânicas na bile: para substâncias ácidas, básicas e neutras. É quase certa a
existência de um outro sistema para os metais. Uma vez secretado no
intestino, os xenobióticos podem sofrer reabsorção ou excreção pelas fezes.
Não se conhece o mecanismo que determina se a excreção será urinária ou
biliar.

Esquematicamente tem-se:
É o chamado ciclo entero-
hepático, e a morfina é um
exemplo típico de xenobiótico
que apresenta esse ciclo. Ela é
conjugada com ácido glicurônico
no fígado e o glicuronídio de
morfina é secretado pela bile no
intestino. Neste local, pela ação
da enzima α-glicuronidase, a
morfina é liberada e reabsorvida.
O glicoronídio que não for lisado
será excretado pelas fezes. É
importante observa que os
agentes tóxicos que apresentam
recirculação entero-hepática, podem ter
sua ação prolongada.

Excreção pelo ar
expirado

Gases e vapores inalados ou


produzidos no organismo são
parcialmente eliminados pelo ar
expirado. O processo envolvido é a difusão pelas membranas que, para
substâncias que não se ligam quimicamente ao sangue, dependerá da
solubilidade no sangue e da pressão de vapor. Estes xenobióticos são
eliminados em velocidade inversamente proporcional à retenção no sangue,
assim, gases e vapores com coeficiente de distribuição K elevado (pouco
solúveis no sangue) são rapidamente eliminados, enquanto os de K baixo (muito solúvel
no sangue) são lentamente excretados pelo ar expirado. A freqüência cardíaca e
respiratória afetam a excreção destes agentes: a primeira nos de K alto e a segunda nos de
K baixo. Em relação à pressão de vapor, os líquidos mais voláteis serão, quase
exclusivamente, excretados pelo ar expirado.

Excreção por outras vias

A eliminação através da secreção sudorípara já é conhecida há alguns anos.


Desde 1911 sabe-se que substâncias tais como iodo, bromo, ácido
benzóico, ácido salicílico, chumbo, arsênio, álcool, etc., são excretadas pelo
suor. O processo parece ser o de difusão passiva e pode ocorrer dermatites
em indivíduos suscetíveis, especialmente quando se promove a sudorese
para aumentar a excreção pela pele.

A secreção salivar é significativa para alguns xenobióticos. Os lipossolúveis


podem atingir a saliva por difusão passiva e os não lipossolúveis podem ser
eliminados na saliva, em velocidade proporcional ao seu peso molecular,
através de filtração. Geralmente as substâncias secretadas com a saliva
sofrem reabsorção no trato gastrintestinal.

Existe interesse em relação à secreção de xenobióticos no leite, pois este


acaba sendo ingerido por recém-nascidos. Geralmente as substâncias
apolares sofrem difusão passiva do sangue para o leite e como esta
secreção é mais ácida (pH = 6,5) do que o sangue, os compostos básicos
tendem a se concentrarem nesse líquido. Já os compostos ácidos
apresentam concentração láctea menor que a sangüínea. Várias
substâncias são, sabidamente, eliminadas pelo leite: DDT, PCB (bifenil
policlorados), chumbo, mercúrio, arsênio, morfina, álcool, entre outros.

Fatores que interferem na velocidade e via de


excreção
 Via de introdução: a via de introdução interfere na velocidade de
absorção, de biotransformação e, também, na excreção;
 Afinidade por elementos do sangue e outros tecidos: geralmente o
agente tóxico na sua forma livre está disponível à eliminação;

 Facilidade de ser biotransformada: com o aumento da polaridade a


secreção urinária está facilitada;

 Freqüência respiratória: em se tratando de excreção pulmonar, uma


vez que, aumentando-se a freqüência respiratória, as trocas gasosas
ocorrerão mais rapidamente.

 Função renal: sendo a via renal a principal via de excreção dos


xenobióticos, qualquer disfunção destes órgãos interferirá na
velocidade e proporção de excreção.

Essa fase é caracterizada pela exteriorização dos efeitos do agente tóxico, ou seja, o
aparecimento de sinais e sintomas da intoxicação ou alterações laboratoriais causadas
pela substância química. No diagnóstico das intoxicações, deve-se lembrar que um mesmo
órgão pode ser afetado por uma grande variedade de toxicantes e que uma única
substância química pode atingir vários órgãos ou produzir diferentes efeitos relacionados a
um mesmo órgão. Nesse amplo espectro de efeitos tóxicos, distinguem-se:

Efeito imediato, crônico e retardado


 efeitos imediatos ou agudos - são aqueles que aparecem
imediatamente após uma exposição aguda, ou seja, exposição única
ou que ocorre, no máximo, em 24 horas. Em geral são efeitos
intensamente graves e a evolução pode levar o paciente à morte, ou
a uma recuperação total ou parcial com seqüelas ou lesões
persistentes.
 efeitos crefeitos crônicos - são aqueles resultantes de uma
exposição crônica, ou seja, exposição a pequenas doses, durante
vários meses ou anos. Nas intoxicações crônicas, os sinais clínicos
podem advir de dois mecanismos:

o somatória ou acúmulo do agente tóxico no organismo: a


velocidade de eliminação é menor que a de absorção, assim,
ao longo da exposição o toxicante vai sendo somado no
organismo, até alcançar um nível tóxico. Como exemplo,
destaca-se o saturnismo (intoxicação crônica pelo chumbo);

o somatória de efeitos: ocorre quando o dano causado é


irreversível e, portanto, vai sendo aumentado a cada
exposição, até atingir um nível detectável ou, então, quando o
dano é reversível, mas o tempo entre cada exposição é
insuficiente para que o organismo se recupere totalmente.
esse tipo de efeito é exemplificado pela exposição crônica ao
dissulfeto de carbono (CS2). As alterações bioquímicas ou
fisiológicas se acentuam após cada exposição ao agente até o
surgimento dos sintomas clínicos.

Quando o efeito apresenta um quadro intermediário é classificado


como sobreagudo. As intoxicações por exposições repetidas podem
conduzir o indivíduo a estados progressivos de deficiência biológica
que impedem a sua recuperação e tornam sua reabilitação
deficiente.

 efeitos retardados - são aqueles que só ocorrem após um período


de latência, mesmo quando já não mais existe a exposição.
Exemplo: efeitos carcinogênicos que têm uma latência de 20-30
anos.

Deve-se, no entanto, fazer distinção entre exposição a curto prazo (aguda) ou a longo
prazo (crônica) e os efeitos agudos e crônicos. Por exemplo, uma exposição a curto prazo
(aguda) pode determinar um efeito crônico, ou seja, a exposição a uma única dose de
triortocresilfosfato (TOCP) pode produzir, no homem, lesão persistente no SNC. Em certos
casos, como nas exposições agudas ao tálio, paraquate e derivados cumarínicos, a
intoxicação se manifesta no decorrer de alguns dias (efeito sobreagudo).

Efeito local ou sistêmico

O efeito local refere-se àquele que ocorre onde acontece o primeiro contato
entre o agente tóxico e o organismo. Os xenobióticos que possuem ação
irritante direta sobre os tecidos, reagem quimicamente, no local de contato,
com componentes destes tecidos. Dependendo da intensidade da ação pode
ocorrer irritação, efeitos cáusticos ou necrosantes. Os sistemas mais
afetados são pele e mucosas do nariz, boca, olhos, garganta e trato
pulmonar. Destacam-se nesse grupo, a ação dos gases irritantes (fosgênio,
gás mostarda, NO2, cloro) e lacrimogênicos (acroleína, bromo, cloro). Outra
ação irritante de tecidos é a dermatite química. Os xenobióticos que
apresentam esta ação tóxica (substâncias vesicantes como as mostardas
nitrogenadas ou agentes queratolíticos como o fenol), lesam a pele e
facilitam a penetração subseqüente de outras substâncias químicas.

O efeito sistêmico, de ocorrência mais comum, é produzido em local distante do sítio de


penetração do toxicante, portanto, exige uma absorção e distribuição da substância, de
modo a atingir o sítio de ação, onde se encontra o receptor biológico. Existem substâncias
que apresentam os dois tipos de efeitos. (ex.: benzeno, chumbo tetraetila, etc.).

Efeito reversível ou irreversível

O efeito reversível desaparece quando cessa a exposição, enquanto o irreversível persiste


mesmo após o término da exposição. São exemplos de efeitos irreversíveis os carcinomas,
as mutações e cirrose hepática. A manifestação de um ou outro efeito depende,
principalmente, da capacidade do tecido lesado em se recuperar. Assim, lesões hepáticas
são geralmente reversíveis, já que este tecido tem grande capacidade de regeneração,
enquanto as lesões no SNC são, geralmente, irreversíveis, uma vez que as células nervosas
são pouco renovadas.

Reações idiossincrásicas

As reações idiossincrásicas correspondem às respostas anormais a certos agentes tóxicos,


provocados por alterações genéticas. O indivíduo pode ter uma resposta adversa com
doses baixas (não-tóxicas) ou então ter uma resposta extremamente intensa com doses
mais elevadas. Exemplo: sensibilidade anormal aos nitritos e outros agentes
metemoglobinizantes, devido à deficiência, de origem genética, na NADH-metemoglobina
redutase.

Reações de hipersensibilidade ou sensibilização

Corresponde ao aumento na suscetibilidade do organismo. Aparece após


exposição única ou após meses/anos de exposição. Os principais tipos de
reações de hipersensibilidade são:

 alergia química - esse tipo de ação tóxica só é desenvolvida após


absorção do xenobiótico pelo organismo e ligação com a proteína
formando o antígeno (o agente tóxico funciona como hapteno). Com
a formação do antígeno, ocorre, conseqüentemente, o
desenvolvimento de anticorpos e do complexo antígeno/anticorpo.
Este complexo se liga às células teciduais ou basófilos circulantes,
sensibilizando-as, ou seja, desenvolvendo grânulos internos,
contendo histamina, bradicinina, entre outros. Quando ocorre uma
segunda exposição do organismo ao mesmo xenobiótico, os
anticorpos previamente desenvolvidos promovem a alteração da
superfície celular com conseqüente degranulização celular. Estes
grânulos secretam na corrente sangüínea histamina e bradicinina,
que são os responsáveis pela sintomatologia alérgica. Essa
sintomatolgia é bastante semelhante, independente do tipo de
xenobiótico que a desencadeou. Os órgãos mais afetados são
pulmões e pele. As reações alérgicas ou alergia química, também
conhecidas como de hipersensibilidade ou sensibilização, são reações
adversas que ocorrem somente após uma prévia sensibilização do
organismo ao agente tóxico, ou a um produto quimicamente
semelhante.
Alguns autores não concordam que as alergias químicas sejam
efeitos tóxicos, já que elas não obedecem ou apresentam uma
relação dose-resposta (elas não são dose-dependente). Entretanto,
como a alergia química é um efeito indesejável e adverso ao
organismo, pode ser reconhecido como efeito tóxico.
 fotoarlegia (prometazina, sabões, desodorante, hexaclorofeno): as
características deste tipo de ação tóxica são bastante semelhantes
às da alergia química. A diferença primordial entre as duas é que, na
fotoalergia, o xenobiótico necessita reagir com a luz solar (reação
fotoquímica), para formar um produto que funciona como hapteno.
Após a sensibilização, sempre que houver exposição ao sol, na
presença do xenobiótico, haverá o aparecimento dos sintomas
alérgicos. É importante ressaltar que a fotoalergia só aparece após
repetidas exposições.

 fotossensiblização (agentes branqueadores, furocumarinas): esses


xenobióticos, quando em contato com a luz solar, formam radicais altamente
reativos que produzem lesões na pele, muito semelhante às queimaduras de sol.
Essa reação pode aparecer logo na primeira exposição. As lesões resultantes da
fotossensibilização podem persistir sempre que houver contato com o sol, mesmo
sem nova exposição ao agente químico.

Efeitos morfológicos, funcionais e bioquímicos


 efeitos morfológicos - os efeitos morfológicos referem-se às
mudanças micro e macroscópicas na morfologias dos tecidos
afetados. Muitos desses efeitos são irreversíveis como, por exemplo,
a necrose e a neoplasia.

 efeitos funcionais - em geral, representam mudanças reversíveis


nas funções dos órgãos-alvo. Essas mudanças geralmente são
detectadas antes ou em exposições a baixas doses quando
comparadas às alterações morfológicas.

 efeitos bioquímicos – apesar de todos os efeitos tóxicos estarem associados


a alterações bioquímicas, quando se faz referência a efeitos bioquímicos, significa
que os efeitos manifestam-se sem modificações morfológicas aparentes. Por
exemplo, a inibição da acetilcolinesterase decorrente da exposição a inseticidas
organofosforados ou carbamatos.

Efeitos somáticos ou germinativos

Os efeitos somáticos são aqueles que afetam uma ou mais funções


vegetativas e os efeitos germinais correspondem às perturbações
determinadas nas funções de reprodução, sobre a integridade dos
descendentes e desenvolvimento de tumores.
Uma vez que o agente tóxico alcança o seu alvo em concentração adequada,
ele desencadeará alterações bioquímicas e fisiológicas que serão responsáveis
pelo seu efeito deletério.

Algumas substâncias precisam, antes, passar pela bioativação para então


desencadearem os efeitos tóxicos. A bioativação envolve a biotransformação da
molécula original levando à formação de um metabólito tóxico. Assim sendo, os
desencadeadores do efeito tóxico podem ser:

 Agente tóxico original: ex. chumbo, tetrodotoxina, cianeto;


 Metabólito do agente tóxico: ex. fluorocitrato (metabólito do
fluoroacetato), ácido oxálico (metabólito do etilenoglicol);

 Espécies reativas de oxigênio ou de nitrogênio: formação do radical


hidroxila desencadeada pelo herbicida paraquate;

 Compostos endógenos: ex. bilirrubina deslocada da albumina pela


sulfonamida.

Quanto ao modo de ação, os agentes tóxicos podem ser:

 Inespecíficos: ex. ácidos ou bases que atuam indistintamente sobre


qualquer tecido, causando irritação e corrosão nos tecidos de contato;
 Específicos: são mais seletivos e causam injúrias em determinado(s)
tecido(s), sem lesar outros. A suscetibilidade de determinado(s)
tecido(s) deve-se à presença de moléculas nas quais o agente tóxico se
liga. Essas moléculas-alvo exercem importantes funções no organismo e
podem ser enzimas, moléculas transportadoras, canais iônicos, proteínas
reguladoras, ácidos nucléicos, etc.

Logicamente, quanto menor for a distribuição da molécula-alvo pelo organismo,


mais seletiva será a ação do agente tóxico.

Entretanto, não é só a presença da molécula-alvo entre os diferentes tecidos


que confere seletividade de ação aos agentes tóxicos. Às vezes, um agente
pode ser potencialmente tóxico para vários tecidos, mas como ele se distribui
em maior concentração para determinados tecidos, esses se tornam os alvos.
Essa distribuição seletiva pode ser devido a:

 porosidade do endotélio capilar: células endoteliais dos sinusóides


hepáticos e capilares peritubulares renais têm fenestras maiores que as
de outras células. Isto favorece acúmulo de agentes tóxicos nos rins e
fígado, fazendo destes órgãos alvos freqüentes;
 transporte de membrana especializado: por exemplo, no pneumócito
existe um carreador de membrana que captura o herbicida paraquate e,
assim, a concentração deste herbicida no pneumócito pode ser até 50
vezes maior do que nas outras células. Isto faz do pneumócito o
principal alvo da intoxicação com paraquate;
 ligação a compostos intracelulares: como exemplo, podemos citar a ligação da
neurotoxina MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina) ao pigmento melanina
presente em grande quantidade na substância negra encefálica. Devido à essa
afinidade, a MPTP acumula-se nesta estrutura e, quando metabolizada pela enzima
monoaminooxidase-B, presente nos astrócitos, gera o metabólito MPP+ (1-metil-4-
fenilpiridina) que lesará seletivamente os neurônios dopaminérgicos da substância
negra.

Relação dose-resposta ou concentração-resposta

Um conceito fundamental na Toxicologia é o da relação dose-resposta proposta


por Paracelsus: “Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio." Ela
correlaciona a exposição e a intensidade dos efeitos tóxicos produzidos. As
curvas dose-resposta são construídas a partir de observações feitas em estudos
experimentais com animais ou células isoladas, bem como observação clínica
ou epidemiológica de humanos.

Acredita-se que, quanto maior a dose, maior e mais intensos (quanti e/ou
qualitativamente) serão os efeitos e que deve existir uma condição de
exposição que seja segura para a saúde humana, com exceção das substâncias
mutagênicas.

Dependendo da variável que estiver sendo avaliada, existem dois tipos de


relações possíveis:

 Quantitativa: para variáveis que podem ser mensuradas em intensidade.


Neste caso, quanto maior a dose do agente, mais intenso o efeito.
Alguns toxicologistas chamam a relação quantitativa de relação dose-
efeito. Ex: hipertrofia hepática;
 Quantal: para variáveis do tipo tudo ou nada, como por exemplo, morte,
convulsão. Nesse caso, quanto maior a dose, maior o número de
indivíduos que apresentam tal efeito. Sempre será expressa em
porcentagem de indivíduos que respondem a determinado efeito e só
pode ser avaliada quando uma população de indivíduos é estudada, ao
contrário da quantitativa, que pode ser avaliada em um indivíduo.

Existem dois tipos de curvas dose-resposta:

1. Para efeitos que apresentam limiar de segurança (“threshold”): a curva


geralmente tem a forma de uma curva sigmóide e baixas doses não são
tóxicas, já que o organismo tem capacidade para biotransformar o agente
tóxico, bem como reparar eventuais injúrias que tenham sido causadas. O
ponto no qual a toxicidade começa a se manifestar é conhecido como limite de
segurança (“threshold”).
2. Para efeitos que não apresentam limiar de segurança (“threshold”): a curva
é linear, pois se assume que qualquer dose produzirá um efeito deletério. Esse
tipo de curva é usada para agentes mutagênicos.

Mecanismos de toxicidade

Os mecanismos pelos quais os diferentes agentes tóxicos específicos produzem


seus efeitos deletérios podem ser agrupados em:

1. Alteração da expressão gênica;


2. Alteração química de proteínas específicas;

3. Alteração do funcionamento de células excitáveis;

4. Prejuízo da síntese de ATP;

5. Aumento de cálcio intracelular;

6. Indução de estresse oxidativo.

Alteração da expressão gênica


O DNA é composto por genes que codificam a síntese de proteínas estruturais e
regulatórias. No processo de transcrição, uma das fitas do DNA é lida, gerando
o RNA mensageiro. Uma vez formado, o RNA mensageiro levará à síntese de
proteínas, processo chamado de transdução.

Muitos são os mecanismos pelos quais um agente tóxico pode influenciar a


expressão gênica. Lembrem-se de que expressão gênica inadequada pode levar
a alteração do número ou da estrutura da proteína que está sendo sintetizada.
Alteração na expressão gênica pode levar a efeitos tóxicos como carcinogênese,
teratogênese, etc.

Abaixo estão dois exemplos de agentes tóxicos que desencadeiam seus efeitos
por alterar a expressão gênica:

 Herbicida amitrole: hormônios da hipófise anterior exercem efeitos


mitogênicos sobre glândulas periféricas agindo em receptores na
membrana plasmática. A produção dos hormônios pela hipófise é
controlada por retroalimentação negativa dos hormônios produzidos
pelas glândulas periféricas. O herbicida amitrole, ao inibir a produção de
hormônios tireoideanos estimula a secreção do hormônio tireo-
estimulante (TSH) pela hipófise. Isso estimulará a divisão celular na
tireóide levando à neoplasia tireoideana.
 Arsenito: este composto promove uma ativação sustentada do fator de crescimento
epidérmico, aumentando a transcrição do DNA e, conseqüentemente, promovendo
mitose. Sugere-se que esse seja o mecanismo envolvido na formação de neoplasias de
pele pelo arsenito.

Alteração química de proteínas específicas

Alguns agentes tóxicos são capazes de se complexar com proteínas específicas, ativando ou
inibindo-as. Metais, complexam-se com o grupamento sulfidrila de proteínas e inibem a função
das mesmas. Os praguicidas organofosforados inibem a função da enzima acetilcolinesterase,
responsável pela degradação do neurotransmissor acetilcolina, porque se ligam e fosforilam tal
enzima.

Alteração do funcionamento de células excitáveis

O funcionamento das células excitáveis (neurônios, músculo cardíaco, músculo


liso e músculo esquelético) é regulado por moléculas sinalizadoras
(neurotransmissores) que agem em receptores de membrana. A ligação dos
neurotransmissores aos receptores levará à manifestação do efeito biológico
por aumento dos níveis de cálcio intracelular, fosforilação protéica ou alterações
do potencial de membrana (potencial de repouso).

Os agentes tóxicos podem alterar o funcionamento de células excitáveis agindo


em diferentes estágios da neurotransmissão. A seguir estão relacionados os
principais estágios que podem ser alterados e exemplos de agentes tóxicos que
atuam nos mesmos.

Alteração da disponibilidade do neurotransmissor


Para alterar a disponibilidade do neurotransmissor, um agente tóxico pode
alterar a síntese, a liberação, a recaptura ou a metabolização do mesmo. São
exemplos:

 a toxina botulínica, que promove paralisia flácida por clivar os


microfilamentos que ancoram as vesículas de armazenamento da
acetilcolina, impedindo a exocitose do neurotransmissor decorrente do
desencadeamento de um potencial de ação;
 a cocaína, que bloqueia a bomba de recaptura de noradrenalina,
dopamina e serotonina aumentando a concentração dessas monoaminas
na fenda sináptica e, conseqüentemente, os efeitos mediados pelas
mesmas.

Interação com o receptor

Os agentes tóxicos podem se ligar a receptores e ativá-los ou não. Se o agente


ativar o receptor, ele será chamado de agonista e, se não ativá-lo, de
antagonista. O efeito do antagonista decorrerá da prevenção da ligação do
neurotransmissor ao seu receptor. Como exemplos, pode-se citar:

 o alucinógeno ácido lisérgico (LSD) é agonista do receptor 5-HT 2A da


serotonina, envolvido no controle da percepção e humor;
 o relaxante muscular curare é antagonista do receptor nicotínico da
acetilcolina, presente nas fibras musculares esqueléticas e responsável
pela contração muscular.

Interação com canais iônicos

A ação em canais iônicos influenciará diretamente o potencial de membrana e,


conseqüentemente, a probabilidade de um potencial de ação ser deflagrado e
estimular a célula. Os agentes tóxicos podem tanto bloquear quanto abrir
canais iônicos. Alguns exemplos:

 a tetrodotoxina, uma toxina presente em algumas espécies de peixe


comuns no Japão (no Brasil, é encontrada no baiacu), bloqueia canais de
sódio do músculo esquelético induzindo paralisia flácida;
 os antidepressivos tricíclicos bloqueiam canais de sódio na musculatura
cardíaca promovendo arritmias;

 os praguicidas piretróides bloqueiam canais de cloro no sistema nervoso


central levando à hiperexcitabilidade neuronal;

 a batracotoxina, uma toxina encontrada na pele de algumas espécies


sul-americanas de sapo, e os praguicidas organoclorados prolongam o
tempo de abertura do canal de sódio promovendo hiperexcitabilidade
celular.

Alteração da fluidez das membranas

Acredita-se que compostos muito lipofílicos, como os solventes orgânicos, possam se intercalar
na fase lipídica da membrana plasmática desestruturando-a e prejudicando seu
funcionamento.

Prejuízo da síntese de ATP


Em condições aeróbias, a síntese de ATP ocorre em três estágios:

 produção de acetil-coenzima A (acetil CoA) a partir de aminoácidos,


ácidos graxos ou piruvato (produzido na glicólise);
 ciclo do ácido
cítrico (Krebs ):
acetil CoA é
oxidada

enzimaticamente na matriz mitocondrial até CO2 e a energia liberada é


conservada nos transportadores de elétrons reduzidos;

 fosforilação oxidativa: nas cristas mitocondriais, os transportadores são


oxidados, desfazendo-se de prótons (H+) e elétrons. Os elétrons são
conduzidos ao longo da cadeia respiratória (proteínas integrais da
membrana capazes de aceitar ou doar elétrons) até uma molécula de
oxigênio (O2), o qual eles reduzem para formar água. A transferência de
elétrons é acompanhada pelo bombeamento de prótons para fora da
membrana mitocondrial interna, o que leva a uma diferença
transmembrana na concentração de prótons, já que a membrana interna
é impermeável aos mesmos. Essa diferença de concentração de prótons
gera energia eletroquímica, chamada de força próton-motora.
Entretanto, na membrana, existem transportadores para os prótons
representados pela enzima ATP-sintase. À medida que os prótons fluem
passivamente de volta para a matriz através dos poros formados por
esta enzima, a energia eletroquímica impulsiona a ATP-sintase a
catalisar a incorporação de um fosfato ao ADP formando um ATP. Esse
processo é chamado de fosforilação oxidativa e notem que a fosforilação
do ADP é acoplada à transferência de elétrons e uma etapa não ocorre
sem a outra.

Os agentes tóxicos podem interferir com a formação de ATP:


 inibindo a formação de acetil-CoA: como exemplo, temos o etanol que
reduz a formação de coenzima A; o arsenito que inibe a piruvato
desidrogenase;
 inibindo o ciclo do ácido cítrico: como exemplo, o fluoracetato que inibe
a aconitase; o etanol que inibe a α-cetoglutarato; a diclorovinilcisteína
que inibe a succinato desidrogenase;

 inibindo o transporte de elétrons: pode-se ter tanto compostos que


funcionam como aceptores de elétrons (tetracloreto de carbono,
doxorrubicina) quanto compostos que inibam as proteínas da cadeia
respiratória (rotenona, cianeto, CO);

 inibindo a chegada de oxigênio à cadeia transportadora: agentes que


causam paralisia respiratória (depressores do sistema nervoso central,
agentes convulsivantes); agentes que causam isquemia (alcalóides do
ergot, cocaína); agentes que inibem o transporte de oxigênio pela
hemoglobina (monóxido de carbono, agentes metahemoglobinizantes);

 inibindo a fosforilação do ADP tem-se dois grupos: os inibidores da ATP-


sintase, representados pela oligomicina, DDT, clordecona e os agentes
chamados desacopladores da fosforilação oxidativa. Estes agentes
prejudicam a formação da força próton-motora por serem ionóforos, ou
seja, formam poros na membrana levando à dissipação do gradiente
eletroquímico. Como exemplos, destaca-se o fungicida pentaclorofenol,
vários herbicidas e a amiodarona.

Logicamente, a depleção de ATP, por qualquer um dos mecanismos citados acima, terá
conseqüências importantes na célula, pois interferirá com a integridade da membrana,
funcionamento de bombas iônicas, síntese protéica, enfim, todos os processos ATP-
dependentes. Se for intensa, levará à perda das funções celulares e morte celular.

Aumento de cálcio intracelular

O cálcio é essencial para várias funções celulares, como exocitose, contração


muscular, ativação de algumas enzimas, etc. Entretanto, em excesso, ele é
citotóxico. Assim, a célula dispõe de vários mecanismos para manter os níveis
intracelulares de cálcio dentro de uma faixa adequada de concentração, como
por exemplo, as bombas de cálcio e de cálcio-sódio (responsáveis pela extrusão
de cálcio da célula); seqüestro de cálcio no retículo endoplasmático e na
mitocôndria. É interessante notar que, como o transportador presente na
mitocôndria tem menor afinidade para o cálcio do que o transportador presente
no retículo endoplasmático, o seqüestro pela mitocôndria é importante em
elevadas concentrações citoplasmáticas de cálcio.

Os agentes tóxicos podem aumentar o cálcio intracelular através dos seguintes


mecanismos:

 Aumento do influxo (entrada) de cálcio: pode ocorrer por abertura de


canais iônicos de cálcio operados por ligante (ex, glutamato) ou dano à
membrana plasmática. Os agentes que danificam podem ser ionóforos
(clordecona, metilmercúrio), enzimas hidrolíticas (fosfolipases ofídicas),
indutores de peroxidação lipídica (tetracloreto de carbono).
 Diminuição do efluxo (saída): ocorre quando o funcionamento dos
transportadores responsáveis pela saída do cálcio da célula ou pela
captura do mesmo pelo retículo endoplasmático ou mitocôndria é
prejudicado. Isso pode ocorrer quando os agentes se ligam ao carreador
prejudicando sua função (ex, paracetamol, clorofórmio, tetracloreto de
carbono, DDT) ou por diminuição dos níveis de ATP, já que tais
transportadores são ATP-dependentes.

 Mobilização de reservatórios intracelulares: pode ocorrer com agentes


que lesem a membrana mitocondrial ou do retículo endoplasmático ou
que sejam agonistas do receptor para inositol trifosfato (IP 3), o qual está
acoplado a canais de cálcio na membrana do retículo endoplasmático e
cujo estímulo promove abertura desses canais com conseqüente saída
do cálcio. O praguicida lindano possui tal atividade.

O aumento de cálcio intracelular pode trazer, como conseqüências:

 Depleção das reservas de ATP: com a elevação dos níveis


citoplasmáticos de cálcio, ocorre uma diminuição da síntese do ATP, bem
como aumento do seu consumo. A diminuição da síntese ocorre tanto
porque a captura do cálcio pela mitocôndria dissipa a força próton-
motora da membrana quanto porque o cálcio ativa enzimas oxidativas
que produzem espécies reativas lesivas à membrana. Já o aumento do
consumo é provocado pelo aumento do trabalho dos transportadores de
cálcio na tentativa de reduzir seus níveis citosólicos.
 Dissociação dos microfilamentos: filamentos de actina mantêm a
morfologia celular por ancoramento a proteínas presentes na membrana
plasmática. O aumento do cálcio citoplasmático dissocia a actina dessas
proteínas levando à formação de bolhas na membrana (“blebbing”) e
predispondo-a a rupturas.

 Ativação de enzimas hidrolíticas: existem proteases, fosfolipases,


DNAses e RNAses cálcio-dependentes. A ativação sustentada dessas
enzimas levará à citotoxicidade.

 Geração de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio: o cálcio ativa enzimas


envolvidas na geração de espécies reativas, como desidrogenases, xantina oxidase, etc.

Indução de estresse oxidativo

Radicais livres são átomos, íons ou moléculas que têm um elétron não pareado
no orbital externo. Caracterizam-se por uma grande instabilidade e,
conseqüentemente, elevada reatividade por tenderem a acoplar o elétron não
pareado a um outro presente em estruturas próximas à sua formação (pois têm
meia-vida curta), como proteínas, lipídios, carboidratos. Eles também iniciam
reações autocatalíticas, ou seja, as moléculas com as quais eles reagem são
convertidas em radicais livres, ocorrendo lesão em cadeia.

Várias reações do metabolismo celular levam à formação de radicais livres e,


portanto, nosso organismo possui um sistema de defesa antioxidante para
remover radicais livres conforme eles vão sendo formados. Esse sistema é
composto por enzimas (superóxido dismutase, catalase, glutationa peroxidase)
e pequenas moléculas sem atividade enzimática (ácido ascórbico, tocoferol,
glutationa).
Em condições normais, existe um equilíbrio entre a formação e a remoção de
radicais livres no organismo e agentes tóxicos podem desequilibrar esse
sistema aumentando a formação de radicais livres (ex, tetracloreto de carbono,
paraquate, paracetamol, cromo) e/ou diminuindo a função do sistema de
defesa antioxidante (chumbo, mercúrio). Nesta situação de desequilíbrio, temos
o chamado estresse oxidativo, que pode levar a injúria celular. Três reações
são importantes para a injúria celular decorrente de estresse oxidativo:

 Peroxidação lipídica das membranas: o dano oxidativo começa quando a


ligação dupla de ácidos graxos insaturados é atacada por radicais livres,
especialmente radical hidroxila. Isso leva à formação de peróxidos que
também são instáveis e reativos e uma reação autocatalítica em cadeia é
iniciada (propagação), que pode resultar em dano extenso à membrana
plasmática;
 Peroxidação protéica: radicais livres oxidam resíduos de aminoácidos de
cadeias laterais, formam ligação cruzada entre proteínas e alteram a
estrutura protéica. Com isso, podem levar à fragmentação da proteína
e/ou perda de função;

 Lesões ao DNA: radicais livres podem interagir com o DNA, modificando bases
e produzindo mutações.

Considerações finais

Como pôde-se observar, muitos são os mecanismos de toxicidade. O objetivo


desta seção foi familiarizar os leitores com os principais mecanismos existentes.

É importante reconhecer:

 Mais de um mecanismo pode ser responsável pela toxicidade de um


agente e eles podem ocorrer concomitantemente ou seqüencialmente. O
chumbo altera proteínas específicas, mobiliza cálcio e gera estresse
oxidativo ao mesmo tempo. Já a toxicidade do herbicida paraquate
inicia-se com a geração de radical livre no pneumócito o que lesa a
membrana e leva, secundariamente, ao aumento de cálcio intracelular.
 Alguns agentes tóxicos têm mecanismos mais seletivos enquanto outros
têm múltiplos mecanismos e induzem múltiplos efeitos. Como exemplo
de agente mais seletivo temos o curare que é um antagonista do
receptor nicotínico da acetilcolina e produz, na sua intoxicação, paralisia
flácida. Já o chumbo leva a: efeitos hematológicos por inibir enzimas
com grupamento sulfidrila; efeitos neurotóxicos por alterar a
neurotransmissão; hipertensão por induzir estresse oxidativo e alterar os
níveis de cálcio.

 Alguns efeitos tóxicos resultam de múltiplos mecanismos. Assim, a


hipertensão induzida pelo chumbo origina-se da geração de espécies
reativas de oxigênio que são vasoconstrictoras; da inibição da enzima
oxido nítrico-sintase que produz o óxido nítrico, importante vasodilatador
endógeno; do aumento de tônus vascular promovido pelo aumento de
cálcio na musculatura lisa; da liberação de renina provocada pelo
aumento de cálcio nas células justaglomerulares.
Interações

Geralmente, estamos expostos a uma mistura de substâncias químicas e não a uma substância
química isolada. Por exemplo, na água de beber podemos encontrar pequenas quantidades de
praguicidas, metais, solventes, produtos formados durante a cloração, etc. Logicamente, essas
diferentes substâncias químicas podem interferir nos efeitos umas das outras, tanto os
aumentando quanto os diminuindo. Esta interferência é chamada de interação. Apesar da
comunidade científica reconhecer a existência e a importância deste fenômeno, a
compreensão da toxicologia de misturas ainda está longe de ser atingida devido à dificuldade
de se prever quali e quantitativamente as combinações possíveis. Existem três mecanismos de
interações:

Toxicocinética

Ocorre quando um agente tóxico modifica a toxicocinética (absorção,


distribuição, biotransformação ou a excreção) do outro.

Como exemplo de uma interação toxicocinética que resulta em aumento de


efeito, podemos citar a interação entre o anticoagulante varfarina e o
antiinflamatório fenilbutazona. A taxa de ligação da varfarina à albumina é de,
aproximadamente, 98%, o que significa que somente 2% fica na forma livre
(farmacologicamente ativa). Como a fenilbutazona também se liga à albumina,
na presença dela há um aumento da fração livre da varfarina, o que pode
causar hemorragia fatal.

Como exemplo de uma interação toxicocinética que resulta em diminuição de efeito, podemos
citar a alcalinização da urina com bicarbonato feita em pacientes intoxicados agudamente com
barbituratos. Como o barbiturato é um ácido fraco, a elevação do pH urinário pelo bicarbonato
aumenta a fração do barbiturato na forma iônica (polar) e, portanto, aumenta a taxa de
eliminação do mesmo.

Toxicodinâmica

Ocorre quando um agente modifica o efeito do outro por ligação aos seus
receptores ou estruturas-alvo.

O álcool produz depressão do sistema nervoso central por aumentar a ligação


do neurotransmissor inibitório acido gama-aminobutírico ( GABA) no receptor
GABAA e por diminuir a ligação do neurotransmissor excitatório glutamato no
receptor NMDA. Os benzodiazepínicos também são drogas depressoras do
sistema nervoso central que atuam aumentando a ligação do GABA no receptor
GABAA. Assim, dizemos que a interação entre álcool e benzodiazepínicos é
toxicodinâmica e resulta em um aumento do efeito dos dois compostos.

Um outro exemplo de interação toxicodinâmica é a que ocorre entre opióides


(morfina, heroína) e a naloxona (Narcan®). Os opióides produzem seus efeitos ligando-
se a receptores opioidérgicos presentes no organismo. A naloxona é um antagonista destes
receptores, ou seja, liga-se a eles, não os estimula, mas impede os agonistas (morfina, heroína)
de se ligarem. Neste exemplo temos uma interação toxicodinâmica que resulta em diminuição
do efeito do agente tóxico.

Químico
Envolve uma interação química direta entre os dois agentes tóxicos. O exemplo
clássico deste tipo de interação é a que ocorre entre metais e agentes
quelantes (dimercaprol, EDTA, etc). Devido à grande afinidade que os metais
têm por alguns grupos funcionais dos quelantes, quando uma pessoa intoxicada
com metais é tratada com um quelante, o metal liga-se ao agente quelante e
deixa de produzir seus efeitos tóxicos, pois o complexo metal-quelante é
desprovido de atividade tóxica.

Como visto, uma vez que uma interação tenha ocorrido, o efeito resultante
poderá ser maior ou menor. As interações do tipo adição, sinergismo e
potenciação resultam em aumento de efeito, enquanto o antagnismo resulta
em diminuição de efeito. Esses tipos de interação são discutidos a seguir.

 Adição – é um tipo bastante comum de interação caracterizada quando


o efeito induzido por dois ou mais compostos juntos, é igual à soma dos
efeitos de cada agente em separado. Assim, quando dois praguicidas
organofosforados estão presentes, observa-se um prejuízo da condução
nervosa igual ao que se observaria se fossem somados o efeito de cada
um deles separadamente.
 Sinergismo - é o tipo de interação na qual o efeito induzido por dois ou
mais compostos juntos é maior do que a soma dos efeitos de cada
agente em separado. Quando os agentes são sinérgicos, a toxicidade dos
mesmos deve ser reavaliada considerando suas propriedades
sinergísticas, pois o sinergismo pode ter sérios efeitos sobre a saúde.
Como exemplo, podemos citar a interação entre cigarro e exposição a
asbesto. Sabe-se que a exposição a esses dois compostos produz um
risco de desenvolvimento de câncer de pulmão muito maior do que a
soma dos riscos de cada composto em separado.

 Potenciação - este tipo de interação ocorre quando um agente


desprovido de atividade tóxica aumenta a toxicidade de um agente
tóxico. Um exemplo é a interação entre o tetracloreto de carbono e
isopropanol. Embora o isopropanol não seja hepatotóxico, ele aumenta a
hepatotoxicidade desencadeada pelo tetracloreto de carbono. Um outro
exemplo é o que ocorre entre os componentes do chá de Santo Daime,
usado em seitas religiosas. Este chá é feito com um cipó (Banisteriopsis
caapi - “mariri”) e folhas de (Psychotria Viridis - “chacrona”). Quando
administradas individualmente, nenhuma das duas plantas produz
alucinação. Entretanto, quando administradas em conjunto, observa-se
alucinação e isso ocorre porque o mariri impede o metabolismo de
primeira passagem do princípio ativo alucinógeno dimetiltriptamina,
encontrado na chacrona.

 Antagonismo - no antagonismo, um agente leva à diminuição do efeito


de um outro agente. Na Toxicologia, este efeito é sempre desejado, já
que resulta em uma diminuição da toxicidade e é o modo de ação de
muitos antídotos usados no tratamento de diferentes intoxicações.

Os diferentes livros de Farmacologia apresentam diferentes classificações dos


tipos de antagonismo. Nesta seção, optou-se pela mais simplificada para
facilitar a compreensão.

Assim sendo, de uma maneira geral, existem três tipos principais de


antagonismo:
Antagonismo farmacológico: é aquele no qual um agente diminui a ação do
outro evitando sua ligação no receptor. Existem dois tipos de antagonismo
farmacológico:

 Competitivo: o antagonista combina-se com o mesmo sítio do receptor


que o agonista mas não induz nenhuma resposta. O antagonista
compete com o agonista pelo sítio de ligação do receptor. Liga-se ao
receptor aquele composto que estiver em maior concentração na biofase
e, portanto, o antagonismo é reversível. Como exemplos, cita-se o
antagonismo entre naloxona e opióides; atropina e acetilcolina; curare e
acetilcolina, etc.
 Não competitivo: o antagonista liga-se no receptor ou em um sítio fora
do receptor do agonista alterando estruturalmente o receptor. Assim, o
antagonismo é irreversível pois não adianta aumentar a quantidade de
agonista na biofase, uma vez que não haverá receptor para ele se ligar.
Como exemplo, pode-se citar a fenoxibenzamina que forma ligações
covalentes com adrenoceptores.

Antagonismo funcional: é aquele no qual dois agentes tóxicos atuam em


receptores diferentes produzindo efeitos opostos. Assim, indiretamente, cada
um deles irá anular ou reduzir o efeito do outro. Como exemplo, podemos citar
a interação entre DDT e benzodiazepínicos. O DDT promove hiperexcitabilidade
neuronal por lentificar o fechamento dos canais de sódio, deixando a membrana
parcialmente despolarizada. Os benzodiazepínicos promovem hiperpolarização
da membrana por aumentarem a ação do neurotransmissor inibitório GABA,
que abre canais de cloreto. Por isso, uma pessoa intoxicada com DDT que
apresenta convulsão é tratada com benzodiazepínico.

Antagonismo químico: já descrito acima na interação medicamentosa do tipo


química.

O quadro abaixo, retirado do site do NIH (National Institutes of Health), ilustra


qualitativamente a porcentagem da população afetada pela exposição aos agentes A e B em
separado, bem como a uma combinação dos dois, simulando os diferentes tipos de exposição.

Tipo de Efeito tóxico do Efeito tóxico do Efeito combinado de A +


interação agente A agente B B
Adição 20% 30% 50%
Sinergismo 5% 10% 100%
Potenciação 0% 20% 50%
Antagonismo 20% 30% 5%

É interessante notar que diferentes tipos de interações podem ocorrer em


diferentes sistemas com a mesma combinação de agentes. Por exemplo,
inseticidas clorados e solventes halogenados (presentes nas formulações),
podem produzir uma interação do tipo adição quanto à hepatotoxicidade e uma
interação do tipo antagonismo funcional no sistema nervoso central, já que os
inseticidas são estimulantes e os solventes, depressores do sistema nervoso
central.

Os inseticidas pertencem a quatro grupos químicos principais:


• Inibidores da acetilcolinesterase: Organofosforados e Carbamatos
• Organoclorados: São derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do
ciclodieno. Foram muito utilizados na agricultura, como inseticidas, porém, seu
emprego tem sido progressivamente restringido ou mesmo proibido. Ex:
Aldrin®, Endrin®, BHC®, DDT®, Endossulfan®, Heptacloro®, Lindane®, Mirex®;
• Piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas químicas
semelhantes à piretrina, substância existente nas flores do crisântemo
(Pyrethrum). Alguns desses compostos são: aletrina, resmetrina, deltametrina,
cipermetrina e fenpropanato. Ex: Decis®, Protector®, K-Othrine®, SBP®.

Inseticidas inibidores da colinesterase: Organofosforados (OF) e Carbamatos


(CARB)

A crescente preocupação sobre a poluição ambiental por inseticidas clorados


não degradáveis no ambiente, tem levado ao uso dos organofosforados e
carbamatos para várias finalidades: agricultura, pecuária, ambiente doméstico
e em saúde pública.

Este aumento é deve-se à sua eficácia como inseticidas, assim como ao fato de
que estes compostos não se acumulam na natureza e são de decomposição
relativamente rápida após a aplicação. Embora ofereçam menor risco para o
meio ambiente, os inseticidas organofosforados (OF) e carbamatos (CARB) são
altamente tóxicos para animais e humanos e as intoxicações provocadas por
esses compostos têm aumentado, particularmente, nos países em
desenvolvimento.

Apresentação: Estes agrotóxicos encontram-se sob a forma de pó, grânulos,


líquidos ou aerossóis, em diferentes concentrações de acordo com a utilização,
se produtos para uso veterinário, fitossanitário, ou aplicadores profissionais
(muito concentrados) ou aerossóis de uso doméstico (pouco concentrados). As
preparações líquidas em geral vêm dissolvidas em hidrocarbonetos (xileno,
tolueno...).

Os inseticidas organofosforados são compostos orgânicos derivados do ácido


fosfórico e seus homólogos (ácido fosfórico, tiofosfórico, ditiofosfórico e
fosfônico).
Os compostos organofosforados (OF) são, possivelmente, os inseticidas mais
amplamente usados no mundo e os que mais causam intoxicações e grande
número de mortes, com mais de 35.000 formulações diferentes em uso nos
últimos 40 anos. Mais de 50.000 compostos OF são conhecidos pelo homem,
mas, pouco mais de 40 são usados como praguicidas. O primeiro OF sintetizado
foi o tetraetilpirofosfato (TEEP) em 1854. A partir de 1932 começou-se a
investigar esses agentes, inicialmente como praguicidas e mais tarde para uso
como agentes de guerra.

São exemplos de Organofosforados: Azinfós etílico (Gusathion A ®), Clorpirifós


(Dursban®, Lorsban®), Diclorvos (DDVP®, Nuvan®, Vapona®), Dimetoato
(Dimexion®, Perfektion®), Diazinon (Basudin®, Diazitol®), Fenitrotion
(Sumigran®, Sumithion®), Fention (Baytrex®, Lebaycid®), Fosfamidon
(Dimecron®), Malation (Carbofós®, Malatol, Malaton®), Metamidofós
(Tamaron®), Monocrotofós (Azodrin®, Nuvacron®), Paration metilico (Folidol®).
Os carbamatos (CARB) fazem parte de um grande grupo de praguicidas
sintéticos, derivados de ésteres do ácido carbâmico. Foram desenvolvidos e
usados em grande escala nos últimos quarenta anos e mais de cinqüenta
carbamatos são conhecidos (WHO, 1986). Apresentam alta eficiência
praguicida, principalmente, atividade inseticida, baixa ação residual e baixa
toxicidade em longo prazo, com amplo espectro de uso (MÍDIO e SILVA, 1995;
ROSATI e col., 1995; MORAES et al., 1996).

Atualmente, os carbamatos disponíveis no mercado são: Aldicarb (Temik ®),


Aminocarb (Metacil®), Carbaril (Sevin®), Carbofuran (Carboran®, Furadan®),
Landrin (Landrin®), Metacalmato (Bux®), Metiocarb (Mesurol®), Metomil
(Lannate®, Nudrin®), Mexacarbato (Zectran®), Propoxur (Baygon®, Unden®)
(CCIn, 2000).

Ação

Os inseticidas OF e CARB exercem suas ações biológicas principalmente por


inibição de enzimas. As esterases são o alvo. Há inibição da acetilcolinesterase
(AChE), que tem a ação de degradar o neurotransmissor acetilcolina (ACh).

Com a AChE inibida, há


acúmulo de ACh nos receptores
muscarínicos, nicotínicos e no
Sistema Nervoso Central.
De acordo com o tempo de
recuperação da colinesterase,
esta inibição é considerada
"irreversível", tendo em vista a
formação de um complexo mais
estável - no caso dos OF, e
reversível - no caso dos
carbamatos, já que o complexo
é menos estável, permitindo a
recuperação da colinesterase
mais rapidamente.

A fisiopatologia da intoxicação
por carbamatos difere dos
organofosforados em
importantes aspectos:

1. Os carbamatos inativam a
acetilcolinesterase
temporariamente. A enzima
carbamilada é instável e a regeneração da acetilcolinesterase é relativamente
rápida quando comparada com a enzima fosforilada. Assim, os praguicidas
carbamatos são menos perigosos com relação à exposição humana do que os
organofosforados.
2. A dose necessária para provocar a morte e a dose necessária para
determinar poucos sintomas de intoxicação é substancialmente ampla para
compostos carbamatos do que com os compostos organofosforados.

3. Os carbamatos penetram pobremente o SNC

Cinética

São bem absorvidos por todas as vias (oral, dérmica, respiratória, pele e
mucosas) por serem altamente lipossolúveis. A presença de solvente orgânico
(hidrocarboneto), comumente adicionado às formulações dos agrotóxicos,
intensifica a absorção. A meia-vida plasmática é relativamente curta, podendo
variar de poucos minutos a horas, dependendo do composto e da quantidade
absorvida. Os inseticidas e seus produtos de biotransformação são rapidamente
distribuídos por todos os tecidos atingindo concentrações maiores no fígado e
rins, mas não se acumulam por tempo prolongado. Os organofosforados,
diferentemente dos carbamatos, atravessam com facilidade a barreira
hematoencefálica, produzindo quadros neurológicos. A eliminação é urinária
para a maioria dos compostos nas primeiras 48h.

Dinâmica

Farmacologia da transmissão do impulso nervoso

Para que haja a transmissão sináptica é necessário que a ACh seja liberada do
neurônio terminal e difundida através da fenda sináptica, ligando-se a um
receptor pós-sináptico, transmitindo assim o impulso nervoso para um receptor
colinérgico.

A ACh é sintetizada no neurônio a partir da acetilcoenzima A e da colina e é


responsável pela neurotransmissão nas fibras pré-ganglionares simpáticas e
parassimpáticas, nas pós-ganglionares parassimpáticas e na placa mioneural.

A acetilcolina liga-se a receptores na membrana da célula pós-sináptica,


permitindo íons fluir para dentro da célula pós-sináptica. Para cessar a
estimulação e restabelecer a sensibilidade do receptor à nova transmissão
nervosa, a ACh precisa ser hidrolisada pela acetilcolinesterase continuamente.
Na superfície da acetilcolinesterase (AChE) existe um centro ativo para
inativação (inativação por hidrólise) da ACh, com formação de colina e ácido
acético. A colina é reutilizada pela célula pré-sináptica para produzir nova
acetilcolina.

Como os OF e os CARB são inibidores da AChE, ocorre acúmulo de ACh na


sinapse. O excesso de acetilcolina inicialmente estimula e então,
subseqüentemente, paralisa a transmissão na sinapse colinérgica. Há
estimulação dos receptores muscarínicos (efetor em células colinérgicas), nos
receptores nicotínicos (junções neuromusculares esqueléticas) e no Sistema
Nervoso Central.
Os inseticidas inibidores da colinesterase ligam-se ao centro esterásico da
molécula de AChE e cada um tem uma diferente afinidade nesse sítio. A inibição
ocorre porque os compostos OF fosforilam a enzima, formando um complexo
estável e geralmente irreversível. Os compostos CARB carbamilam a enzima e
formam complexos menos estáveis, permitindo a recuperação da enzima mais
rapidamente.

A taxa de reativação da enzima carbamilada é relativamente rápida quando comparada à da


enzima fosforilada nos OF. Então a inibição da AChE pelo CARB é tão frágil que nenhuma
reação de envelhecimento é possível, como ocorre com a enzima fosforilada.

Toxicidade

A toxicidade dos CARB e OF são extremamente variáveis (ver Quadro XX).


Vários fatores influem na toxicidade:

Organofosforados:

- Potencial de risco de cada substância, dose, tempo e via de exposição;


- Atravessam a barreira hematoencefálica e penetram no SNC, levando a
quadros de moderados a graves;
- Condições de saúde: algumas doenças alteram níveis de AchE;
- Idade: neonatos e grávidas têm baixa atividade colinesterásica;
- Alguns compostos altamente lipofílicos (fention, dissulfoton) depositam-se no
tecido adiposo atuando por mais tempo e persistindo por longos períodos nos
tecidos.

Carbamatos:

- Têm inibição colinesterásica de curta duração;


- Não penetram efetivamente no SNC, resultando toxicidade limitada;
- Gravidade do quadro: usualmente leve a moderada;
- O aldicarb (um carbamato) especialmente, tem alta toxicidade podendo levar
a quadros severos e podem evoluir ao óbito em poucas horas.

Apresentação de alguns OF e CARB de acordo com o tipo de uso e a toxicidade - DL50 VO


(mg/kg)

Organofosforados DL50 mg/Kg Carbamatos DL50 mg/Kg


Azametiofós 1010 Aldicarb 0,93
Bromofós 1600 Bendiocarb 55
Diazinon 300 Carbaril 300
Diclorvos (DDVP) 56 Carbofuran 8
Dimetoato 150 Carbosulfan 90
Disulfoton 2,6 Dioxacarb 90
Fenitrotion 503 Furatiocarb 137
Fention 330 Isoprocarb 403
Fentoato 400 Metomil 17
Malation 100 Oxamil 6
Metamidofós 30 Pirimicarb 147
Mevinfós 4 Propoxur 95
Monocrotofós (Azodrin) 14 Tiodicarb 39
Naled 430
Paration 13
Temefós 4202
Triclorfon (Dipterex) 560

Manifestações clínicas

Os sintomas apresentam-se sob várias combinações, típicos daqueles por


excessiva estimulação dos diferentes receptores pela acetilcolina no sistema
nervoso central e autônomo, assim como na junção neuromuscular esquelética.

Receptores Muscarínicos

Glândulas exócrinas: sialorréia, sudorese, lacrimejamento;


Olhos: miose, borramento visual, hiperemia conjuntival;
Trato gastrintestinal: náusea, vômito, diarréia, tenesmo, dor abdominal,
incontinência fecal;
Sistema respiratório: hipersecreção brônquica, rinorréia, sibilos,
broncoespasmo, dispnéia, cianose;
Sistema cardiovascular: bradicardia, hipotensão, bloqueio AV;
Aparelho urinário: aumento freqüência urinária, incontinência urinária.

Receptores Nicotínicos

Sistema cardiovascular: taquicardia, hipertensão, palidez, midríase;


Músculo esquelético: fasciculações musculares, fraqueza muscular, fadiga,
cãibras, paralisia, tremores, arreflexia, paralisia flácida, insuficiência ou parada
respiratória por fraqueza muscular.

Receptores Sistema Nervoso Central

Sonolência, letargia, labilidade emocional, coma, cefaléia, confusão mental,


ataxia, tremores, respiração tipo Cheyne-Stokes, dispnéia, fadiga, convulsões,
depressão respiratória e cardiovascular.

Atentar:

- A gravidade e o tempo de início dos sintomas dependem da composição química do


inseticida, do tempo e da via de exposição;
- Após ingestão maciça, os sintomas aparecem em minutos;
- Na maioria dos casos têm início de 30 min a 12 h. Nos compostos lipossolúveis pode retardar
até 24 h;
- A manifestação mais grave e usual causa de óbito é a falência respiratória do centro
respiratório, agravado por excessiva secreção traqueobrônquica e broncoespasmo;
- Perda da consciência e vômito predispõem à aspiração do conteúdo gástrico;
- O quadro clínico apresentado pelo paciente constitui, freqüentemente, uma emergência
médica que requer atendimento urgente;
- Produtos com solventes à base de hidrocarbonetos podem predispor a pneumonia química
por aspiração.

Organofosforados

Os sintomas em geral aparecem em 1-2h após a exposição, podendo ser retardados em 12-24h
sendo que, inicialmente, predominam as manifestações muscarínicas e nicotínicas. O
aparecimento de quadro nicotínico e do SNC indicam gravidade. Alguns pacientes intoxicados
com certos orfanofosforados podem apresentar hálito de alho.

Carbamatos

Têm ação rápida e efeitos imediatos, cessando logo após término da exposição.
As manifestações são de menor gravidade (leve a moderada), com predomínio
de efeitos muscarínicos. O diagnóstico é clínico, com início em 30 min e até 1-2
h após a exposição, com cerca de 6 h de duração. Os sintomas são
autolimitados pela reversão espontânea da colinesterase. A recuperação é
completa em 24 h. Os casos severos podem ser mais prolongados.

A presença de grânulos escuros de Temik (Aldicarb), vulgarmente conhecido


como "chumbinho", na lavagem gástrica, pode certificar o diagnóstico.

Complicações

Convulsões prolongadas (conseqüentes à hipóxia, na maioria das vezes), insuficiência renal


(devido à rabdomiólise e fasciculações) e pulmonares (intubação prolongada, ventilação
mecânica e pneumonia aspirativa). Outras complicações: hipoglicemia, hiperglicemia,
hepatotoxicidade, coagulopatias, pancreatite.

Diagnóstico laboratorial

- Determinação da atividade da colinesterase

A dosagem da atividade pseudocolinesterase é um exame útil na intoxicação


aguda, mas, com pouco valor na intoxicação crônica.

Os testes para determinação da atividade da colinesterase não estão


disponíveis na grande maioria dos serviços de saúde que prestam assistência
aos pacientes agudamente intoxicados. Mesmo obtidos, a interpretação pode
ser difícil, pois os níveis podem não correlacionar com o estado clínico e, além
disso, uma determinação da colinesterase isolada pode não confirmar, nem
excluir uma exposição, porque o nível normal é baseado na população estimada
(valores de referência) e existem altas variações intra e inter-individuais nos
níveis de colinesterase eritrocitária e plasmática.

Alguns quadros patológicos podem levar à diminuição da atividade da


colinesterase plasmática: hepatite, cirrose, uremia, câncer, alergias, gravidez.
Por sua vez, alguns fármacos podem diminuir a atividade enzimática: sulfatos,
fluoretos, citratos, fenotiazinas, codeína e outros.
O diagnóstico das intoxicações por CARB usualmente é fundamentado na
avaliação clínica, pois os níveis de colinesterase normalizam-se rapidamente.

- Creatinofosfoquinase (CPK)
- Eletromiografia (nas intoxicações por OF com déficit neuromotor)
- Outros: hemograma, ionograma, gases arteriais, uréia, creatinina, ECG, Rx de
tórax

Correlação entre a gravidade, o quadro clínico e a atividade da colinesterase plasmática


das intoxicações por organofosforados e carbamatos.

Atividade da
Gravidade Quadro clínico colinesterase
plasmática
Exposição
Sem sinais ou sintomas 50-90%
rápida
Náuseas, fadiga, mal-estar, miose, sialorréia discreta,
Intoxicação
deambulação normal, fraqueza muscular mínima, cólicas 20-50%
Leve
abdominais sem diarréia.
Salivação, lacrimejamento, miose, broncorréia,
broncoespasmo; bradicardia, vômitos, sudorese, cólicas
Intoxicação
abdominais, incontinência urinária e fecal, tremores, 10-20%
Moderada
fraqueza, não deambula, fasciculações, confusão,
letargia, ansiedade.
Agravamento do quadro moderado; insuficiência
Intoxicação
respiratória, pupilas puntiformes, arritmias, paralisias, 10% ou menos
Grave
coma, convulsões.

Diagnóstico diferencial

Deve ser feito com outras intoxicações (cogumelos de ação muscarínica,


opióides, medicamentos de ação colinérgica e barbitúricos), traumatismo
cranioencefálico, acidente vascular cerebral, síndrome comicial e edema agudo
de pulmão de origem cardiogênica.

Tratamento

Da Crise Colinérgica Aguda:


O sucesso do tratamento depende de rápida e simultânea implementação:

- Correção dos distúrbios colinérgicos com administração de doses adequadas


de atropina;
- Manutenção das funções vitais;
- Descontaminação.

Se o paciente tiver história de exposição, mas apresentar-se assintomático,


deve-se mantê-lo em observação por 6-8h.
1. Esvaziamento gástrico (êmese ou Lavagem Gástrica) + Carvão Ativado
seguido de catártico;

2. Na ingestão de OF e certos carbamatos, usar CA em múltiplas doses devido


ao ciclo enteroepático;

3. Antagonista: SULFATO DE ATROPINA (Atropina ®): este fármaco bloqueia os


efeitos muscarínicos decorrentes da estimulação colinérgica

- Dose: Adultos: 1-4mg/dose, EV. Crianças: 0,01-0,05mg/kg/dose, EV;


- Pode ser repetida a cada 15-30 min até que o paciente apresente sinais de
atropinização: secura das secreções pulmonares e de mucosas e o aumento da
freqüência cardíaca;
- Alcançados esses sinais de atropinização, ajustar a dose. A retirada da
atropina deve ser gradual e restituída se surgirem manifestações colinérgicas;

4. As intoxicações por organofosforados normalmente necessitam de doses


mais elevadas de atropina;

5. Os carbamatos, em geral, têm recuperação em cerca de 6h. Na persistência


do quadro, considerar possibilidade de outro diagnóstico ou associação a OF;

6. Antítodo: PRALIDOXIMA (Contrathion ®): Age na reativação enzimática da


colinesterase e proteção da enzima não inibida. Tem maior eficácia quando
administrado nas primeiras 24h da exposição. Tem efeito nas manifestações
nicotínicas (fraqueza muscular, depressão respiratória, etc.).

Lembrar que potencializa os efeitos da atropina reduzindo suas doses


terapêuticas

- Doses: adultos: 1 a 2g, a cada 4-6h, EV, diluída em 150mL de soro


fisiológico, de 30-45 minutos. Não exceder 200mg/min. Crianças: 25-50mg/kg,
EV, a cada 4-6h, diluída em 150mL de SF, por 30 minutos. Não exceder
0,4mg/kg/min;
- Não é indicado na intoxicação por carbamatos. Contra-indicado nas
intoxicações por carbaril.
- Efeitos colaterais: taquicardia, laringoespasmo, rigidez muscular e bloqueio
neuromuscular transitório (relacionados à infusão rápida), náuseas,
hiperventilação, cefaléia, tontura, diplopia;

7. Medidas para aumentar a eliminação:

- Diálise e Hemoperfusão: não são indicadas pelo grande volume de distribuição


dos OF e devido à curta duração do quadro nas intoxicações por carbamatos. A
diurese forçada não é efetiva;

8. Medidas sintomáticas e de manutenção:

- Controle hidreletrolítico: somente repor as perdas (vômitos, diarréia,


sudorese intensa);
- Convulsões: usar benzodiazepínicos, EV (seu uso impossibilita avaliação de
outros parâmetros);
- Insuficiência respiratória: cuidados com a intubação e/ou ventilação
mecânica.

Contra-indicação

Aminofilina, succinilcolina, morfina e fenotiazinas por aumentarem o risco de arritmias


cardíacas graves.

Complicações neurológicas

1. Síndrome intermediária (SI)

Esta Síndrome tem sido relatada com o uso do paration, metil-paration,


monocrotofós, metamidofós, fention e dimetoato. É de aparecimento agudo,
surgindo freqüentemente entre 24-96 h (1-4 dias) após a recuperação da crise
colinérgica aguda. Afetam pacientes conscientes, sem fasciculações ou outras
manifestações colinérgicas.

Caracteriza-se por fraqueza muscular especialmente flexores do pescoço,


músculos respiratórios e musculatura proximal de membros superiores e
pescoço. Há risco de óbito pela paralisia respiratória súbita.

O diagnóstico é clínico. Suspeitar quando, após recuperação da crise


colinérgica, desenvolve-se dificuldade respiratória. O pronto e efetivo controle
da insuficiência respiratória é o fator preponderante para o tratamento da SI.
Todos os intoxicados com produtos possíveis de causarem SI devem
permanecer no hospital por 3-5 dias após a intoxicação e melhora da crise
colinérgica aguda

2. Polineuropatia tardia induzida por OF

Relatada com metamidofós, clorpirifós, fention, triclorfon, merfós, mipafós,


fenofosfon, malation, isofenfós, leptofós. Esse quadro desenvolve-se de 10 dias
a três semanas (2-4 semanas) após a exposição e após a crise colinérgica.
Segundo alguns autores, precisa existir agressão do OF a uma esterase
identificada como “esterase neurotóxica” ou “neurophaty target esterase”
(NTE). O mecanismo de ação tóxica necessita de maiores investigações.

As manifestações clínicas são progressivas e irreversíveis: debilidade, ataxia,


fraqueza muscular e paralisia, inicialmente distal (em pernas, progredindo para
extremidades superiores), cãibras dolorosas, parestesia, hiporreflexia. Após um
período de vários dias a algumas semanas o processo se completa com lenta
recuperação. Nos casos leves, os pacientes podem se recuperar após vários
anos, mas, nos casos mais severos ocorrem sintomas persistentes como
espasticidade resultante do dano da medula espinhal.

Nenhuma droga terapêutica específica tem provado ser útil no tratamento. O uso de atropina e
pralidoxima durante a fase aguda não previne a polineuropatia. A fraqueza muscular melhora
com exercícios ou outras formas de fisioterapia.
O piretro é um inseticida natural obtido da trituração das flores de algumas
plantas pertencentes à família Compositae, gênero Chrysanthemum
(Pyrethrum) e espécie cinerariaefolium, um dos mais antigos inseticidas
conhecidos pelo homem. Por suas vantagens, os piretros foram sintetizados
e denominados piretróides e, o ácido crisantêmico foi o primeiro dos cinco
componentes do éster natural a ser sintetizado. A síntese do ácido
crisantêmico abriu novos caminhos para a obtenção de piretróides
sintéticos, sendo a aletrina o principal piretróide sintético produzido
comercialmente.

Os piretróides foram descobertos a partir de estudos que procuravam


modificar a estrutura química das piretrinas naturais, e, uma vez que
apresentavam maior capacidade letal para os insetos, propriedades físicas e
químicas muito superiores, maior estabilidade à luz e calor e menor
volatilidade, despertaram o interesse dos cientistas.
Apesar de suas inúmeras vantagens podem causar intoxicações em
indivíduos potencialmente expostos às suas diversas apresentações
(espirais, sprays ou vaporizadores).

Usos

Foram introduzidos no mercado em 1976 e, ainda que sejam mais caros


por unidade de peso em relação aos outros praguicidas, os piretróides têm
sido bastante empregados na área da Saúde e na Agricultura. Isto ocorre
devido à alta eficiência, sendo necessárias menores quantidades de produto
ativo, resultando em menor contaminação nas aplicações. Com isso, vêm
ocupando rapidamente o lugar dos organofosforados. Outra vantagem
destes praguicidas é que eles admitem a sinergia, ou seja, a
potencialização pela adição de um sinergista, dando lugar a um aumento da
eficácia. Utilizado na Agropecuária (controle de insetos em plantações,
grãos armazenados, silos); na Veterinária (controle de ectoparasitas,
principalmente carrapaticidas) em grandes ou pequenos animais; nas
Campanhas de Saúde Pública (combate ao vetor da dengue) e em
ambientes domésticos, na desinsetização de residências, sendo as
formulações freqüentemente mais elevadas. Para erradicação de vetores ou
insetos domiciliares, seu uso está restrito aos aplicadores profissionais.

Características

Piretro: Piretros são derivados naturais do ácido crisantêmico, extraídos de


flores do crisântemo.

Butóxido de Piperonila associado: inibe a enzima oxidase, potencializa a


ação inseticida, aumentando o efeito inseticida.
Ação

No Sistema Nervoso Central e Periférico, prolongam a abertura dos canais de sódio da


membrana celular retardando a repolarização, o que determina paralisia nervosa.

Cinética

Absorção: são bem absorvidos no trato gastrintestinal. Pela via dérmica


ocorre absorção em menor grau que a via oral. A exposição por inalação
pode causar irritação de vias aéreas e reações de hipersensibilidade.

A metabolização é rápida em mamíferos, sem acumulação em tecidos. Seus


metabólitos são inativos. A eliminação é urinária.

Meio ambiente

Os piretróides são rapidamente degradados no solo e nas plantas. São


muito instáveis à luz, ar e condições alcalinas. Não são esperados resíduos
em plantas e alimentos.

Toxicologia

Os piretros e piretrinas têm elevado potencial alergênico enquanto os


piretróides (sintéticos) têm reduzido potencial de hipersensibilidade.

A intoxicação aguda ou superdosagem é pouco freqüente, mas, pode


ocorrer devido à elevada concentração nos produtos agrícolas. A
intoxicação por ingestão é rara, provavelmente, pela rápida metabolização
hepática. A absorção intestinal é pequena assim como a absorção por pele
intacta é baixa. São rapidamente excretados pela urina.

Classificação, uso, toxicidade e DL50 mg/kg (ratos ou camundongos) dos píretros e


piretróides(**)

Substância Toxicidade DL50 mg/Kg


Aletrinas
Aletrina baixa-moderada 230 - 310
δ–aletrina Baixa *
Bioaletrina baixa-moderada 425
Esbiotrin baixa-moderada *
Resmetrinas
Resmetrina Baixa >2.500
Bio-resmetrina Baixa 675-1.244
Cipermetrina Moderada 160-300
α-cipermetrina moderada-alta 80
Cialotrina Moderada 144-243
Lambda-cialotrina Alta 56-79
Fenotrina (sumitrin) Baixa >5.000
Fenvalerato baixa-moderada 52-3.200
Tetrametrina Baixa >5.000
Bifentrin Alta 54,5
Deltametrina moderada-alta 31-139
Fenproatrin Alta 18-36

**Fonte: Monografias em Toxicologia de Urgência, v. 2

Manifestações Clínicas

Intoxicação Aguda

A intoxicação aguda por superdosagem é rara. As manifestações clínicas


geralmente estão associadas com hipersensibilidade ou irritação direta.

Pele
Causa eritema, vesículas ou bolhas com prurido intenso, edema, queimação
e parestesia.

Olhos
Podem ser irritantes locais.

Inalação
Irritação de vias aéreas, asma, reações de hipersensibilidade. Aspiração
pulmonar leva a pneumonite. Com solvente derivado de petróleo há risco
de pneumonia química.

Ingestão
Os piretróides podem determinar, além dos distúrbios alérgicos,
perturbações neurológicas caracterizadas por cefaléia, hiperexcitabilidade,
tontura, hiperreflexia, fasciculações musculares, incoordenação motora,
convulsões, paralisias e distúrbios do equilíbrio.
O butóxido de piperonila está associado com epigastralgia, náuseas,
vômitos, diarréia, depressão leve do SNC.

Manifestações alérgicas (leves): espirros, secreção nasal serosa,


obstrução nasal, broncoespasmo, dermatite, cefaléia, rinite, asma,
pneumonite.

Reação anafilática grave (rara): colapso vascular periférico, dificuldade


respiratória, broncoespasmo, edema de orofaringe, hipotensão.

Contra-indicações – precauções

São contra-indicados em asmáticos ou pacientes com problemas


respiratórios. Seus produtos não devem ser usados em ambientes com
pouca ventilação, principalmente, em presença de crianças.
Tratamento
 Na exposição da pele, olhos ou inalação: descontaminação conforme
o caso.
 Na ingestão: Ingestão de pequena quantidade: descontaminação
local com água corrente

 Ingestão de risco: carvão ativado + catártico;

 Na superdosagem, não provocar vômito. Se necessário proceder a


lavagem gástrica (na presença de solvente);

 Lavagem Gástrica + intubação prévia: se o produto contém derivado


de petróleo (devido ao risco de aspiração);

 Em caso de reação anafilática (rara): assistência respiratória,


adrenalina, anti-histamínico, corticóide e fluidos EV.

 Medidas sintomáticas e de manutenção;

 Anti-histamínicos para os processos alérgicos;

 Diazepam na hiperexcitabilidade ou convulsões.

Obs: Nos pacientes com possibilidade de ingestão de risco, observar 4-6h


devido ao risco de aparecimento de sinais de depressão do SNC ou
convulsões.

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