Sei sulla pagina 1di 148

Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
Editorial
Caros colegas,
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional
de Medicina Veterinária de Minas Gerais, frente aos
desafios da mudança do clima, trazem nesta edição
informações sobre a contribuição da agropecuária
na emissão dos gases promotores do efeito estufa e
a sua potencialidade de fixação de carbono.
Discussões dessa natureza vêm sendo aprofun-
dadas na medida em que as consequências da emis-
são dos gases do efeito estufa afetam à sociedade.
Um número expressivo de estudos evidencia
que a mudança do clima é uma realidade e que a so-
ciedade precisa rever os seus padrões de consumo e
dos modelos atuais de desenvolvimento.
Os inventários sobre as emissões dos gases que
promovem o efeito estufa colocam o setor agrope-
cuário como um dos principais emissores desses ga-
ses e que há necessidade de tecnologias para mitigar
os impactos provocados por essas emissões.
Universidade Federal
de Minas Gerais Com este Cadernos Técnicos espera-se que es-
Escola de Veterinária sas informações contribuam com as ações dos pro-
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia fissionais das ciências agrárias e produção animal
- FEPMVZ Editora
Conselho Regional de no dia a dia e adotem as tecnologias que reduzam a
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais emissão e amplie a fixação do carbono.
- CRMV-MG Prof. Antonio de Pinho Marques Junior
www.vet.ufmg.br/editora Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ) -
CRMV-MG nº 0918
Correspondência:
FEPMVZ Editora
Prof. José Aurélio Garcia Bergmann
Caixa Postal 567 Diretor da Escola de Veterinária da UFMG - CRMV-MG nº 1372
30161-970 - Belo Horizonte - MG Prof. Marcos Bryan Heinemann
Telefone: (31) 3409-2042
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia - CRMV-MG nº 8451
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva
Presidente do CRMV-MG - CRMV-MG nº 0747
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Marcos Bryan Heinemann
Editor convidado para esta edição:
Prof. Adauto Ferreira Barcelos
Revisora autônoma:
Angela Mara Leite Drumond
Tiragem desta edição:
10.100 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
O Lutador

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da


UFMG)
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
Adauto Ferreira Barcelos - CRMV-MG 0127/Z1
João Ricardo Albanez - CRMV-MG 0378/Z2
1
Pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais -
EPAMIG
2
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas
Gerais – EMATER-MG

O grande desafio da agropecuária bra-


sileira, neste século, é a produção de ali-
mentos de forma sustentável em todos os
aspectos, principalmente os relacionados ao
uso dos recursos naturais. Nesse sentido a
pecuária tem sido considerada vilã devido
à produção de gases de efeito estufa pro-
duzidos pelos ruminantes e pelos resíduos
orgânicos dos animais (monogástricos e
ruminantes). Isso é devido a intensificação
e especialização da produção animal para
atender a crescente demanda da população
por proteína de origem animal. É importan-
te que os produtores rurais, principalmente
os pecuaristas, tenham consciência de que
suas atividades podem afetar negativamente
o meio ambiente, mas ao mesmo tempo de-
vem ser mitigados senão sanadas. Assim as
instituições de pesquisa têm se empenhado
em criar ou adaptar soluções tecnológicas
que minimizem e/ou resolvam estas ques-
tões ambientais, como manejo de dejetos
sólidos e efluentes, manejo das unidades
produtivas de produção animal e manejo
das pastagens. A expectativa é que a ado-
ção dessas tecnologias evite a degradação
da vegetação e do solo, usando sistemas de
Integração Lavoura Pecuária e Floresta e ou
a recuperação das pastagens para aumentar
o sequestro de carbono. Com a recuperação
e maior produção das pastagens, a maior
oferta de alimento volumoso pode, por exem-
plo, antecipar a idade de abate dos bovinos de
corte reduzindo o lançamento de metano ao
ambiente. Com relação a nutrição dos ruminan-
tes, o uso de aditivos e de alimentos adequados,
bem como a manipulação da flora microbiana
podem melhorar a eficiência ruminal e redu-
zir as emissões dos gases promotores do efeito
estufa.
Nesta edição dos Cadernos Técnicos é abor-
dado temas sobre a mitigação dos efeitos da pe-
cuária na mudança do clima, envolvendo a pro-
dução de gases de efeito estufa produzidos pelas
atividades pecuárias. Atentos a esses problemas
busca-se nesta edição apresentar soluções para
a questão e entregar aos nossos profissionais
da área de produção animal ferramentas para
orientar os pecuaristas sobre como minimizar
os impactos negativos da produção animal e
praticar uma pecuária compatível com as atuais
exigências ambientais.
Sumário

1 - As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário.........................................9


João Ricardo Albanez (CRMV-MG 0378/Z)
Ana Cláudia Pinheiro Albanez (CREA-MG 33233)
Apresentação de parte do relatório do IPCC quanto a emissão dos gases
promotores do efeito estufa provenientes dos ruminantes.

2 - Fisiologia da digestão dos ruminantes........................................................25


Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves (CRMV-MG 1070/Z)
Adauto Ferreira Barcelos (CRMV-MG 0127/Z)
A fisiologia da digestão dos ruminantes é importante para entender a
produção de metano ao nível de rúmen e de trato intestinal.

3 - Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de


aditivos, fatores nutricionais e alimentos.................................................44
Heloisa Carneiro (CRMV-MG O512/Z)
Marcio Roberto Silva (CRMV-MG 5558)
Letícia Scafutto de Faria
Apresentação dos aditivos e os alimentos que contribuem para a redução da
emissão de metano nos ruminantes.

4 - Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias............................60


Heloisa Carneiro (CRMV-MG O512/Z)
Marcio Roberto Silva (CRMV-MG 5558)
Ernesto Vega Canizares
Letícia Scafutto de Faria
Gabrielle Dantas Sampedro
Melhorar a eficiência alimentar nos ruminantes por meio de inoculação de
bactérias pode reduzir a produção de metano por estes animais.

5 - Manejo ambiental de unidades de produção animal...................................78


Julio Cesar Pascale Palhares (CRMV-SP 01961/Z )
Correto manejo de unidades produtivas de produção animal pode mitigar a
emissão de gases promotores de efeito estufa.
6 - Alternativas econômicas na utilização dos dejetos sólidos e
efluentes da pecuária.................................................................................95
Renata Soares Serafim (CRMV-SP 02321)
Diferentes formas de utilização dos efluentes produzidos pela bovinocultura, a
sua viabilidade econômica na redução da emissão de gases promotores do efeito
estufa.

7 - Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora


da integração lavoura pecuária................................................................112
Domingos Sávio Queiroz (CRMV-MG 0387/Z)
Maria Celuta Machado Viana
Regis Pereira Venturin (CREA-MG 58691/D)
Edilane Aparecida Silva (CRMV-MG 0962/Z)
Leonardo de Oliveira Fernandes (CRMV-MG 0803/Z)
José Reinaldo Mendes Ruas (CRMV-MG 1356)
João Vitor Franco de Souza
Sistema de Integração Lavoura Pecuária como meio de remoção de gás
carbônico.

8 - Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de


gás carbônico...........................................................................................134
Domingos Sávio Campos Paciullo (CREA-MG 72570/D)
Carlos Renato Tavares de Castro (CREA-MG 48078/D)
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira (CREA-MG 5930)
Carlos Augusto de Miranda Gomide (CREA-MG 80992/D)
Marcelo Dias Müller (CREA-MG 79709/D)
Pastagens bem formadas aumenta o ganho na remoção de gás carbônico com a
redução no tempo de abate.
1. As Mudanças
Climáticas e o Setor
Agropecuário

João Ricardo Albanez1,2,* – CRMV-MG: 0378/Z


Ana Cláudia Miranda Pinheiro Albanez3,4,** – CREA: 33233
1
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais – EMATER-MG
2
Zootecnista. MSc.
* Email para contato: joao.albanez@agricultura.mg.gov.br
3
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais – EMATER-MG
4
Engenheira Agrônoma. M.Sc.
** Email para contato: aclaudia@emater.mg.gov.br

1. Introdução Este será o grande desafio dos agri-


cultores nas próximas décadas: forne-
O crescimento populacional, o au-
cer à sociedade alimentos nutritivos,
mento da expectativa de vida, a maior
funcionais e saudáveis, em quantida-
e melhor distribuição de renda e o au-
mento da demanda de, qualidade e
por alimentos de O crescimento populacional, o preços acessí-
qualidade levam aumento da expectativa de vida, veis, produzidos
ao mundo o desa- a maior e melhor distribuição de com uso inteli-
fio de responder ao renda e o aumento da demanda por gente da tecno-
aumento do con- alimentos de qualidade levam ao logia e dos re-
sumo de alimento mundo o desafio de responder ao cursos naturais,
produzido com aumento do consumo de alimento e que possam
sustentabilidade. produzido com sustentabilidade.
remunerar de
1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 9
forma justa e adequada o seu trabalho. dores do efeito estufa em 36,1% a 38,9%
É previsível uma demanda crescente até 2020, em relação ao que poluiria se
por tecnologias, figurando como fator nada fosse feito. Ou seja, o Estado bra-
preponderante, para a redução do custo sileiro irá conter a emissão de dióxido
de produção e aumento da produtivi- de carbono (CO2) e outros similares na
dade. A expansão da produção deve ser próxima década, adotando ações  para
função dos ganhos em produtividade que as emissões fiquem menores.
em áreas subutilizadas; portanto, sem Nas últimas décadas, com o de-
supressão de vegetação nativa. senvolvimento das tecnologias da
Além desses desafios, os agricultores agricultura tropical, o país vem con-
terão de conviver com a intensificação tribuindo significativamente na pro-
das mudanças climáticas que certamen- dução de alimentos em escala mun-
te provocará adequação nos modelos de dial. Comparando apenas os dados da
produção agropecuária. produção de grãos de 2000 com 2013,
Os Gases de Efeito Estufa  (GEE) constata-se um ganho de 125% na pro-
são responsáveis por um aquecimen- dução do país. Saímos de uma produção
to anormal da temperatura do planeta. de 83 milhões de toneladas para 186,9
Apesar das divergências de vários paí- milhões de toneladas. Esse salto pode
ses, a Organização das Nações Unidas ser aferido pelo aumento da participa-
(ONU) tem trabalhado na perspecti- ção brasileira no mercado internacional
va de que, caso as emissões não sejam de grãos, que passou de 4,4% para 8,2%
controladas e reduzidas, efeitos, como da produção mundial, representando
maior incidência de secas, derretimento um incremento de 103,9 milhões de to-
de geleiras, aumento do nível do mar e neladas no período analisado. Mesmo
até intensificação de surtos epidemioló- com essa expressiva contribuição da
gicos, sairão do controle ainda neste agricultura brasileira, a Organização
século. das Nações Unidas para Alimentação
As lideranças mundiais, diante des- e Agricultura (FAO) confere ainda aos
se cenário catastrófico, vêm promoven- produtores brasileiros a missão de for-
do várias reuniões na busca de ações necer 40% da demanda suplementar de
ordenadas para a redução da emissão alimentos nas próximas duas décadas,
dos GEE. O Brasil, em 2009, com- ou seja, produzir mais 100 milhões de
prometeu-se,  voluntariamente,  na 15ª toneladas de grãos.
Conferência das Partes da Convenção- Há também uma expectativa cres-
Quadro das Nações Unidas sobre cente do aumento do consumo de pro-
Mudanças Climáticas (COP 15), a redu- teína de origem animal no Brasil. O
zir as emissões nacionais de gases causa- Ministério da Agricultura, Pecuária e
10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
Abastecimento (MAPA) bilhões de reais sejam
O Brasil assumiu o
projeta um incremento gerados no agronegó-
compromisso com a
no consumo de leite, de cio, e o setor da pecu-
produção sustentável.
carnes bovina, suína e de
O setor agropecuário é ária será responsável
frango na ordem de 20%,
capaz de atender parte por 48,5% desse valor
42,8%, 18,8% e 26,1%, (Barros, 2014), sendo
da demanda mundial
respectivamente. Dessa
de alimentos e reduzir a subdivididos em vários
forma, a pressão nos emissão de GEE. segmentos: insumos
recursos naturais para (7%), agroindústria
atender a essa demanda (9%), básico (54%) e
de alimentos será crescente. distribuição (30%). A pujança do seg-
O Brasil assumiu o compromisso mento básico (dentro da porteira) é em
com a produção sustentável. Além das função da diversidade e da quantidade
ações de responsabilidade socioam- de espécies domésticas (Tab. 1); conse-
biental,  mostra que o setor agropecuá- quentemente, há uma comercialização
rio é capaz de atender parte da deman- de animais vivos e seus respectivos pro-
da mundial de alimentos e reduzir em dutos que gera riquezas aos pecuaristas.
22,5% a emissão de GEE. Esse será um Esse rebanho efetivo está distribuí-
grande desafio para toda a cadeia pro- do em quase um terço do território mi-
dutiva, bem como para a sociedade, que neiro (Tab. 2). A pecuária bovina ocupa
terá de avaliar seu modelo de consumo quase que a totalidade desse território,
e pagar pelo custo da adoção das tecno- e a maioria dos pecuaristas adota o sis-
logias de produção sustentável e pelos tema de produção em regime de pas-
serviços ambientais. to. Segundo a Associação Nacional de
Confinadores – ASSOCON (2013), em
2. A pecuária em Minas 2012, foram confinadas no Estado 410
Gerais mil cabeças de bovinos, representando
O agronegócio tem uma participa- menos de 2% do rebanho. Isso demons-
ção efetiva na economia do Estado, em tra que a prática de manejo dos bovinos
torno de um terço do Produto Interno se dá com as criações em regime de pas-
Bruto e, nos últimos dez tagens, com uma pequena participação
anos, vem contribuindo de gado de corte em sis-
com uma média anual de O agronegócio tem uma tema de confinação.
36,7% do saldo da balan- participação efetiva na Essa distribuição es-
ça comercial mineira. economia do Estado, pacial, das pastagens em
A estimativa para em torno de um terço do vários biomas do Estado,
2014 é de que R$150,6 Produto Interno Bruto. requer dos pecuaristas
1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 11
Tabela 1. Rebanho efetivo das várias espécies em Minas Gerais e sua
participação relativa no rebanho nacional
Atividades Minas Gerais MG/BR % Ranking
Equinos (mil cabs) 785,3 14,6 1º
Bovinos (mil cabs) 22.965 11,3 2º
Avicultura de postura (milhões cabs) 21,3 10,0 3º
Suinocultura (milhões cabs) 5,2 13,3 4º
Apicultura (mel mil t) 3,4 10,1 4º
Cunicultura (mil cabs) 14,8 7,2 4º
Codornas (mil cabs) 1.376 8,4 4º
Avicultura de corte (milhões cabs) 94,4 9,1 5ª
Pesca extrativista (mil t) 9,8 4,0 7º
Aquicultura (mil t) 25,9 4,8 9º
Caprinocultura (mil cabs) 114,7 1,3 9º
Ovinocultura (mil cabs) 226,0 1,3 14º
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal – 2012

Tabela 2. Ocupação do território com a pecuária


Uso do solo com a pecuária Área (Mil ha) %
Pastagens1 18.217,9 30,9
Forragens2 759,3 1,3
Sistemas Agroflorestais3 845,3 1,4
Outros usos 39,056,5 66,4
Área Total do Estado 58.879,0 100
1- Refere-se às pastagens naturais e plantadas; 2- Refere-se à área plantada com forrageiras para corte; 3- Refere-se à área cultivada
com espécies florestais integrada às lavouras e ao pastoreio por animais. Fonte: Censo Agropecuário 2006.

práticas de manejo que permitam evi- ando em favor do sequestro de carbono


tar a degradação das pastagens; além de (Paulino e Teixeira, 2009).
que, a manutenção A degradação de
do ecossistema pas- A degradação de pastagens é pastagens é um pro-
tagem, com manejo um processo evolutivo de perda cesso evolutivo de
adequado tem um de vigor, de produtividade, de perda de vigor, de
importante papel no capacidade de recuperação produtividade, de
combate ao aumento natural para sustentar os níveis capacidade de recu-
do efeito estufa, atu- de produção. peração natural para
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
sustentar os níveis de forma contínua.
A fermentação entérica
produção e qualidade A fermentação en-
dos ruminantes é outra
exigidos pelos animais, térica dos ruminantes é
fonte importante de
assim como, a capacida- outra fonte importante
emissão de metano
de de superar os efeitos (CH ) na agropecuária. de emissão de metano
4
nocivos de pragas, do- (CH4) na agropecu-
enças e invasoras, culmi- ária. Vários trabalhos
nando com a degradação avançada dos de pesquisa estimam que os bovinos
recursos naturais em razão do manejo emitem em média 56 kg/ano de meta-
inadequado (Macedo, 1995). Mediante no, dados aceitos como referência pelo
esse conceito, estima-se que uma área IPCC, 2007 (Intergovermental Panel
expressiva das pastagens do território on Climate Change). Essa emissão de
mineiro encontra-se em algum estágio CH4, resultante da fermentação entérica
de degradação. Essa situação remete à por ruminantes, é responsável por 22%
necessidade de planos de recuperação da emissão de gases de efeito estufa, e
das pastagens, já que, apesar do poten- constitui a terceira maior fonte em es-
cial existente para a produção de leite cala global (USEPA, 2000). No Brasil, a
e carne, há um enorme risco de não ser pecuária tem sido responsabilizada pela
explorado por causa do mau uso dos emissão de 96% de metano proveniente
recursos naturais disponíveis. Segundo de todas as atividades agrícolas (Lima,
Paulino e Teixeira (2009), a degradação 2002). No entanto, Paulino e Teixeira
da pastagem faz com que haja redução (2009) registram que as produções de
na produtividade e perda de matéria metano pelos bovinos variam de acor-
orgânica do solo, além de aumentar a do com a alimentação e que, dentre
emissão de gás carbônico (CO2) para outras medidas mitigadoras da emissão
atmosfera em consequência da redução de metano, figuram: o uso de aditivos
de sequestro de carbono na pastagem. (ionóforos), uso de volumosos de alta
Os dejetos depositados nos solos qualidade, emprego de variedades de
por animais durante a pastagem são a cana-de-açúcar com melhor relação fi-
fonte mais importante das emissões de bra e açúcares solúveis, uso de consor-
óxido nitroso (N2O) por solos agrícolas ciação leguminosas e gramíneas de alta
em Minas Gerais, devido ao grande re- qualidade, e o manejo adequado das
banho e pelo fato de a criação extensiva pastagens.
ser a prática predominante no Estado. No Estado, suinocultura, avicultu-
Os sistemas de produção ainda se carac- ra de postura e de corte são atividades
terizam por grande extensão territorial, representativas em relação à produ-
com manejo de pastagens realizado de ção nacional, sendo que, na sua grande
1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 13
maioria, adotam siste- IBGE, foram abatidos
Sistema de pleno
ma de pleno confina- 463,4 milhões de fran-
confinamento gera
mento. Esse modelo de gos (peso vivo médio
um elevado volume
produção gera um ele- de 2,2 kg); estimando-
de dejetos e resíduos
vado volume de dejetos -se uma produção de 1,1
orgânicos.
e resíduos orgânicos. bilhão de kg de cama,
Especificamente nas caso as camas não sejam
granjas de suínos, há o uso de água para reutilizadas por mais de um ciclo de
lavagem das instalações, gerando efluen- produção. Com base nas características
tes líquidos que normalmente são arma- quantitativas, qualitativas e pelo alto
zenados em grandes lagoas de resíduos, potencial de emissão de gases de efei-
revestidas com mantas plásticas flexí- to estufa dos dejetos de aves, torna-se
veis e impermeáveis. Miranda (2005) evidente a necessidade de um destino
cita que a produção intensiva de suínos racional para esse resíduo.
é uma importante fonte de emissão de Na avicultura de postura, atualmen-
dióxido de carbono, metano, óxido ni- te, predomina o sistema de produção de
troso e amônia, elemen- poedeiras em gaiolas. Esse sistema de
tos que estão associados produção, se por um lado
A pecuária, em representa ganho em re-
de forma diversa com o
particular os herbívoros lação ao manejo, por ou-
aquecimento global, a di-
ruminantes, constitui, tro aumenta a concentra-
minuição da camada de
em Minas Gerais, uma ção de resíduos sólidos,
ozônio e a chuva ácida. fonte importante de
Na avicultura de cor- podendo a falta de estru-
emissão de metano. tura para reter e tratar os
te, o material distribuído
sobre o piso de galpões dejetos transformar-se
para servir de leito às aves, que é acres- em um problema ambiental.
cido paulatinamente, durante o período A geração de dejetos é um fenôme-
de ocupação das aves, de uma mistura no inevitável e que ocorre diariamente
da excreta, penas e sobra de ração, de- no âmbito da exploração animal, sendo
nominado de “cama”, gera volume signi- que esses resíduos constituem ameaça
ficativo de resíduos sólidos a cada ciclo ao meio ambiente, se não forem mane-
produtivo. Segundo Fukayama (2008), jados e tratados corretamente.
em 42 dias de criação, um frango de Dessa forma, a pecuária, em particu-
lar os herbívoros ruminantes, constitui,
corte produz cerca de 1,75 kg de “cama”
em Minas Gerais, uma fonte importante
(matéria seca)
de emissão de metano. As categorias de
Em 2013, segundo Pesquisa
animais considerados pela metodolo-
Trimestral de Abate de Animais do
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
gia do IPCC (1996) incluem: animais de. A estimativa para o país (Brasil,
ruminantes (gado de leite, gado de cor- 2013) registra que a emissão ocorri-
te, búfalos, ovelhas e cabras) e animais da em 2010 pelos vários setores foi da
não-ruminantes (cavalos, mulas, asnos ordem de 1.246 Tg CO2eq (milhões
e suínos). A categoria de aves é incluída de toneladas de dióxido de carbono
apenas na estimativa das emissões pelo equivalente), sendo que a distribui-
manejo de dejetos animais. ção por setor apresentou a seguinte
Para mitigar a emissão de GEE em proporção: Agropecuária (35,1%);
sistemas agrícolas, é necessário reduzir Energia (32,0%); Mudança do Uso da
a emissão direta de N2O e CH4 e au- Terra e Florestas (22,4%); Processos
mentar o sequestro de carbono no solo Industriais (6,6%); e Tratamento de
(Kimble et al., 2001). Nesse contexto, Resíduos (3,9%).
as atividades agrícolas destacam-se pela A principal fonte de emissão de
flexibilidade econômica e operacional GEE no Brasil é o setor agropecuário.
para reduzir a sua contribuição ao efeito Observa-se que o setor vem ao longo
estufa antrópico (Costa, 2005). das últimas duas décadas apresentando
um crescimento contínuo na emissão
3. Estimativas de do GEE (Tab.3).
Emissões e Remoções de As estimativas apresentadas no
Gases de Efeito Estufa Inventário de Emissões de Gases de
Efeito Estufa do Estado de Minas
do Brasil e do Estado de Gerais (Minas Gerais, 2014) indi-
Minas Gerais cam uma emissão total de 123,4 Tg
Emissões antrópicas de GEE ocor- CO2eq (milhões toneladas de dióxido
rem em diversos setores da socieda- de carbono equivalente) para o ano de

Tabela 3. Emissão de gases do setor agropecuário

Gases Variação (%) de


1990 1995 2000 2005 2010
(Tg CO2eq) 1990 a 2010
CO2 200,3 219,4 226,2 268,1 275,8 37,7
N2O 103,5 116,4 121,7 147,6 161,4 55,9
Total 303,8 335,8 347,9 415,7 437,2 43,9
O Estado de Minas Gerais, através da Fundação Estadual de Meio Ambiente – FEAM, utilizando as
metodologias para elaboração de inventários do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
(IPCC), adaptadas para a escala estadual, quantificou as emissões dos gases mais significativos, como
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), o tetrafluoroetano (CF4) e o he-
xafluoroetano (C2F6), emitidos em menores quantidades, e as remoções de carbono por uso do solo e
florestas (Minas Gerais, 2014).

1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 15


2010 (Tab. 4). As emis- função da importância
O setor agropecuário
sões totais divulgadas do setor na economia
mineiro, em 2010,
no Primeiro Inventário mineira.
apresentou as maiores
Estadual, ano-base O setor de Mudança
emissões (39,3%),
2005, foram de 122,9 do Uso do Solo mos-
com cerca de 48,5 Tg
Tg CO2eq. Contudo, as trou uma forte queda
CO2eq, sendo 60,6 %
melhorias na metodolo- nas emissões líquidas,
da pecuária e 39,4% da
gia de contabilização e reduzidas a aproximada-
agricultura, o que era
consolidação dos dados mente 3,1 Tg CO2eq em
esperado em função da
permitiram um aprimo- comparação com 10,4
importância do setor na
ramento dos cálculos Tg CO2eq em 2007 e
economia mineira.
que resultaram em um 16,8 Tg CO2eq em 2005,
recálculo da emissão o que pode ser atribuído
total de 124,2 Tg CO2eq para o ano de a uma redução acentuada do desmata-
2005. Dessa forma, com base no recál- mento e, em menor grau, a uma expan-
culo realizado, houve um decréscimo são das remoções de carbono por meio
de 0,6% das emissões na comparação de florestas plantadas e unidades de
2005 a 2010, indicando uma estabiliza- conservação em áreas florestais. O recál-
ção das emissões estaduais no período culo das emissões de 2005 revelou uma
considerado. significativa redução de 82% no período
O setor agropecuário mineiro, em de 2005 a 2010 (Minas Gerais, 2014).
2010, apresentou as maiores emissões As emissões do setor agropecuário
(39,3%), com cerca de 48,5 Tg CO2eq, estão subdividas em subsetor pecuá-
sendo 60,6 % da pecuária e 39,4% da ria e subsetor agricultura. A pecuária
agricultura, o que era esperado em é a responsável pela emissão de 29,4

Tabela 4. Emissões Totais de GEE por setor para o


Estado de Minas Gerais. Ano-base 2010
Setores Emissões (Tg CO2eq) %
Energia 44,4 36,0
Indústria 19,5 15,8
Agropecuária 48,5 39,3
Mudanças de Uso do Solo 3,1 2,5
Resíduos 7,9 6,4
Total 123,4 100,0
Fonte: Minas Gerais. Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais – Ano-Base 2010 –
SEMAD/FEAM. 2014.

16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Tg CO2eq, correspon- ma de resíduos agríco-
Os solos cultivados são
dendo a 60,6% do setor las. Essas emissões tota-
responsáveis tanto por
agropecuário, tendo na lizaram 19,1 Tg CO2eq
emissões diretas como
fermentação entérica e (Minas Gerais, 2014).
por indiretas.
no manejo de dejetos Os solos cultivados
os maiores emissores de são responsáveis tanto
GEE (Tab. 5). Com relação às emissões por emissões diretas como por indiretas.
do subsetor agricultura, o cultivo de ar- As diretas são provenientes da adição
roz, a queima de resíduos agrícolas e os intencional de fertilizantes sintéticos e
solos agricultáveis, além das emissões estercos animais ao solo, da incorpora-
por calagem, são as principais ativida- ção ao solo de resíduos de colheita e da
des agrícolas responsáveis pelos GEE. deposição de dejetos animais na pasta-
Os gases considerados foram o CH4, no gem. Já as emissões indiretas são aquelas
caso do cultivo de arroz, o N2O para os provenientes também da porção de ni-
solos agricultáveis, e ambos para a quei- trogenados adicionada aos solos como

Tabela 5. Emissões de GEE do subsetor pecuária


Pecuária Emissões (Gg CO2 eq) %
Fermentação entérica 27.022,6
Gado de corte 18.483,2 68,40
Gado leiteiro 8.007,1 29,63
Ovinos 24,0 0,09
Muar 33,1 0,12
Bubalinos 48,1 0,18
Caprinos 12,5 0,05
Equinos 303,2 0,12
Asininos 5,9 0,02
Suínos 105,5 0,39
Manejo de dejetos 2.399,2 100,00
Gado de corte 513,0 21,38
Gado leiteiro 1.072,0 44,68
Suínos 418,0 17,42
Aves 302,0 12,59
Outros 94,0 3,92
Total 29.421,8 100,00
Fonte: Minas Gerais. Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de efeito Estufa do Estado de Minas Gerais – Ano-Base 2010 –
SEMAD/FEAM. 2014. (Gg Co2eq = mil toneladas de dióxido de carbono).

1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 17


fertilizantes e estercos divulgou o seu com-
O governo brasileiro
que são volatilizados promisso voluntá-
divulgou o seu
e depositados na at- rio de redução entre
compromisso voluntário
mosfera, bem como 36,1% e 38,9% das
de redução entre 36,1%
da fração perdida por e 38,9% das emissões de emissões de GEE pro-
lixiviação. Tais emis- GEE projetada para 2020. jetada para 2020, es-
sões totalizam 17,0 Tg timando o volume de
CO2eq (Tab. 6) (Minas redução em torno de
Gerais, 2014). um bilhão de toneladas de CO2 equiva-
No entanto, há o registro de vários lente (Brasil, 2012). Para tanto, foram
autores sobre o fator complicador do propostas diferentes ações:
cálculo das emissões, pois não existem • reduzir em 80% a taxa de desmata-
metodologias facilmente aplicáveis às mento na Amazônia, e em 40% no
características brasileiras, dado que pre- Cerrado;
valecem diretrizes construídas com base • adotar intensivamente na agricultura a
nas condições dos países desenvolvidos recuperação de pastagens atualmente
e de clima temperado. degradadas; promover ativamente a
integração lavoura-pecuária (ILP);
4. Metas de redução do • ampliar o uso do Sistema Plantio
GEE no Brasil Direto (SPD) e da Fixação Biológica
Durante a 15ª Conferência das de Nitrogênio (FBN);
Partes (COP-15), o governo brasileiro • ampliar a eficiência energética, o uso
Tabela 6. Emissões de GEE do subsetor agricultura – solos cultivados

Agricultura Emissões (Gg CO2eq) %


Emissões dos solos agrícolas 17.002,0
Diretas 10.541,8
Fertilizantes Sintéticos 2.078,9 19,7
Aplicação de Adubo 1.261,9 12,0
Resíduos Agrícolas 909,1 8,6
Animais em Pastagens 6.292,0 59,7
Indiretas 6.460,2
Deposição Atmosférica 1.177,7 18,2
Lixiviação 5.282,5 81,8
Fonte: Minas Gerais. Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais – Ano-Base 2010. (Gg
Co2eq = mil toneladas de dióxido de carbono).

18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


de bicombustíveis, a oferta de hidre- de Baixa Emissão de Carbono), inician-
létricas e de fontes alternativas de bio- do as metas em 2010, com alcance até
massa, de energia eólica e de peque- 2020. Para execução do Plano ABC fo-
nas centrais hidrelétricas, assim como ram propostas as seguintes tecnologias:
ampliar o uso na siderurgia de carvão • recuperar uma área de pastagens de-
de florestas plantadas. gradadas por meio do manejo ade-
Esses compromissos foram ra- quado e adubação;
tificados na Política Nacional so- • aumentar a adoção de sistemas
bre Mudanças do Clima – PNMC de Integração Lavoura-Pecuária-
(Brasil, 2009). A PNMC prevê que o Floresta (ILPF) e de Sistemas
Poder Executivo estabelecerá Planos Agroflorestais (SAFs);
Setoriais de Mitigação e de Adaptação • ampliar a utilização do Sistema
às Mudanças Climáticas visando à Plantio Direto (SPD);
Consolidação de uma Economia de • ampliar o uso da Fixação Biológica
Baixo Consumo de Carbono em vários de Nitrogênio (FBN);
setores da economia, como o da agricul- • promover as ações de reflorestamen-
tura (Brasil, 2009). Para o setor da agri- to no país, expandindo a área com
cultura, estabeleceu-se a constituição Florestas Plantadas, atualmente, des-
do Plano para a Consolidação de uma tinada à produção de fibras, madeira
Economia de Baixa Emissão de Carbono e celulose;
na Agricultura. O Plano Nacional so- • ampliar o uso de tecnologias para tra-
bre Mudança do Clima, integrado pe- tamento de dejetos de animais para
los Planos de Ação para Prevenção e geração de energia e produção de
Controle do Desmatamento nos Biomas composto orgânico.
e pelos Planos Setoriais de Mitigação e Na Tabela 7, encontram-se listados
de Adaptação às Mudanças Climáticas, os compromissos da agricultura que
enfatiza a implementação de ações que constituem a base do Plano ABC, bem
almejem reduzir entre 1.168 Tg CO2eq como suas estimativas de mitigação da
e 1.259 Tg CO2eq do total das emissões emissão de GEE.
estimadas.
A contribuição do setor agropecu-
5. Metas de redução do
ário (Cordeiro et al., 2011) foi deline- GEE em Minas Gerais
ada no Plano Setorial de Mitigação e O governo de Minas Gerais, através
de Adaptação às Mudanças Climáticas da Secretaria de Agricultura, Pecuária e
para a Consolidação de uma Economia Abastecimento, criou o Plano Estadual
de Baixa Emissão de Carbono na de Mitigação e Adaptação às Mudanças
Agricultura (Plano ABC – Agricultura Climáticas na Agricultura para a
1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 19
Consolidação de uma como a disseminação
O Plano ABC-MG tem
Economia de Baixa de sistemas de produ-
como objetivos: reduzir
Emissão de Carbono a emissão e aumentar o ção de baixa emissão
de Minas Gerais sequestro e a fixação de de GEE, com aumen-
– Plano ABC-MG gases do efeito estufa na to do rendimento por
(Minas Gerais, 2013), agropecuária estadual. unidade de área, com
em consonância com a destaque para: plan-
Política Nacional sobre tio direto na palha;
Mudança do Clima – PNMC (Brasil, recuperação de áreas de pastagens de-
2009). gradadas; sistema de integração lavou-
O Plano ABC-MG tem como ob- ra-pecuária-floresta; novas florestas;
jetivos: reduzir a emissão e aumentar o recomposição da Reserva Legal e das
sequestro e a fixação de gases do efeito Áreas de Preservação Permanente; tra-
estufa na agropecuária estadual; incenti- tamento de dejetos animais; e produção
var maior uso de conhecimento técnico de mudas.
de práticas agronômicas de conserva- Para a implementação do Plano ABC-
ção de solo, água e biodiversidade, bem MG, foi criado um Grupo de Trabalho
Tabela 7. Processo Tecnológico, compromisso nacional relativo
(aumento da área de adoção ou uso) e potencial de mitigação por redução de
emissão de GEE (Tg CO2eq)

Compromisso Potencial de
Processo Tecnológico (aumento de área/ Mitigação
uso) (Tg CO2eq)

Recuperação de Pastagens Degradadas1 15,0 milhões ha 83 a 104

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta2 4,0 milhões ha 18 a 22

Sistema Plantio Direto3 8,0 milhões ha 16 a 20

Fixação Biológica de Nitrogênio4 5,5 milhões ha 10

Florestas Plantadas5 3,0 milhões há -

Tratamento de Dejetos Animais6 4,4 milhões m3 6,9

Total 133,9 a 162,9


Notas: 1 - Por meio do manejo adequado e adubação. Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1. ano-1; 2 - Incluindo Sistemas
Agroflorestais (SAFs). Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1ano-1; 3 - Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1.ano-1;
4 - Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1.ano-1; 5 - Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor da side-
rurgia, e não foi contabilizado o potencial de mitigação de emissão de GEE; 6 - Base de cálculo foi de 1,56 Mg de CO2 eq.m-3. (Mg:
megagrama = 1000kg = 1 tonelada.)

20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Interinstitucional, composto pelos se- denar as ações para o cumprimento e o
guintes órgãos: Secretaria de Estado de monitoramento das metas do Plano.
Agricultura, Pecuária e Abastecimento As metas estabelecidas em compro-
– SEAPA; Secretaria de Estado de misso voluntário pelo Estado de Minas
Meio Ambiente e Desenvolvimento Gerais para o uso das tecnologias agro-
Sustentável – SEMAD; Secretaria de pecuárias de baixa emissão de carbono,
Estado de Planejamento e Gestão – até 2020, foram estabelecidas em reuni-
SEPLAG; Superintendência Federal ões com a participação de representan-
de Agricultura – SFA-MG; Empresa tes dos produtores e dos agricultores
de Assistência Técnica e Extensão familiares (Tab. 8).
Rural do Estado de Minas Gerais – O monitoramento estabelecido das
EMATER-MG; Empresa Brasileira de metas pelo governo tem sido através da
Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais aplicação do recurso do crédito rural,
– EPAMIG; Embrapa Milho e Sorgo – linha Agricultura de Baixo Carbono.
EMBRAPA, que terá por atribuições: No Plano Agrícola e Pecuário (safra
formular propostas para articulação 2013/2014) foram assegurados R$ 4,5
técnica e institucional, respeitando as milhões. O Estado de Minas Gerais li-
diretrizes do Plano ABC-MG; estabele- dera na aplicação, quando comparado
cer as metas do Plano ABC-MG; e coor- o período de junho de 2013 a abril de
Tabela 8. Processo Tecnológico, compromisso mineiro e nacional na redução de
emissão de GEE (início 2010)

Metas até 2020


Relação
Tecnologias Brasil Minas Gerais
MG/BR

2,0 milhões
R. de Pastagens Degradadas* 15,0 milhões de ha 13,3%
de ha

0,26 milhão
I. Lavoura-Pecuária-Floresta** 4,0 milhões ha 6,5%
de ha

Sistema Plantio Direto 8,0 milhões ha 0,7 milhão de ha 8,8%

0,15 milhão
Fixação Biológica de Nitrogênio4 5,5 milhões ha 2,7%
de ha

Florestas Plantadas5 3,0 milhões ha 0,8 milhão de ha 26,7%

0,76 milhão de
Tratamento de Dejetos Animais6 4,4 milhões m3 17,3%
m3
Nota: *Recuperação de Pastagens Degradadas e ** Integração Lavoura-Pecuária–Floresta.

1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 21


2014, e também no número de projetos sentaram baixa taxa de aplicação, no en-
financiados (Tab. 9). tanto não menos importante quanto à
As taxas de juros pouco atrativas con- recuperação das pastagens ou à adoção
tinuam sendo um limitador do Programa das tecnologias preconizadas pelo Plano
ABC e um dos principais motivos para ABC-MG.
a baixa adesão dos produtores. Aliada a
isso, está falta de capacitação de técnicos 6. Considerações finais
e produtores rurais, principalmente para A produção agropecuária deve estar
atender às exigências do Programa ABC preparada para atender às exigências da
na concessão do crédito. sociedade mundial quanto à conserva-
As regiões Triângulo, Norte e ção da água e do solo, bem-estar animal
Noroeste apresentaram os maiores vo- e mitigação do efeito estufa na produ-
lumes de recursos do ABC, totalizan- ção animal. Devido a anos de esforços
do 61,7% (Tab. 10). na área de pesquisa e
Nessas regiões estão A produção agropecuária desenvolvimento de
43,2% do rebanho deve estar preparada para tecnologias aplicadas
bovino mineiro, ha- atender às exigências da à pecuária, o sistema
vendo, consequente- sociedade mundial quanto produtivo tem grande
mente, extensas áreas à conservação da água e potencial para colabo-
de pastagens e algum do solo, bem-estar animal rar com a mitigação do
grau de degradação. e mitigação do efeito estufa aquecimento global
As outras regiões apre- na produção animal. causado pelos GEE.

Tabela 9. Aplicação da linha de Crédito Rural ABC por unidade da federação no


período de junho/2013 a abril/2014

Recursos Número
Estados Financeiros (R$ % de %
milhões) Projetos

Minas Gerais 390,8 18,4 1.785 21,0


Mato Grosso do Sul 314,9 14,8 613 7,2
Goiás 295,8 13,9 1.019 12,0
São Paulo 294,5 13,8 1.195 14,1
Mato Grosso 194,8 9,2 496 5,8
Outros Estados 637,7 30,0 3.384 39,8
Total 2.128,50 100,0 8.492 100,0
Fonte: BNDES / BB.

22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Tabela 10. Aplicação percentual da linha de Crédito Rural ABC no Estado de
Minas Gerais, no período de junho/2013 a abril/2014
Participação (%) na aplicação da linha de
Regiões crédito rural ABC
Triângulo 25,34
Norte de Minas 20,44
Noroeste de Minas 15,95
Alto Paranaíba 8,60
Central 7,99
Jequitinhonha/Mucuri 7,28
Zona da Mata 4,84
Sul de Minas 4,46
Centro Oeste 3,07
Rio Doce 1,93
Total 100
Fonte: Banco do Brasil S/A.

7. Referência Brasília, 2009. http://www.planalto.gov.br/cci-


vil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm.
Bibliográfica Acesso em julho de 2014.

1. Associação Nacional de Confinadores - 6. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e


ASSOCON. http://www.assocon.com.br/asso- Abastecimento, Mapa. Estudo Projeções do
con/. Acesso em junho de 2014. Agronegócio – Brasil 2012/13 a 2022/23, Brasília
– DF, 2013. p. 38- 40 e 45-50. http://www.agri-
2. BARROS, G.S.A.C. Relatório PIBAGRO-MINAS. cultura.gov.br/arq_editor/projecoes%20-%20ver-
Centro de Estudos Avançados em Economia sao%20atualizada.pdf. Acesso em julho de 2014.
Aplicada – Cepea. Março de 2014. p.4.
7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
3. BRASIL. Decreto-lei nº 7.390, de 9 de dezembro Abastecimento. Plano setorial de mitigação e de
de 2010. Regulamenta os arts. 6o, 11 e 12 da Lei adaptação às mudanças climáticas para a conso-
no 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que ins- lidação de uma economia de baixa emissão de
titui a Política Nacional sobre Mudança do Clima carbono na agricultura : plano ABC (Agricultura
- PNMC, e dá outras providências. http://www. de Baixa Emissão de Carbono) / Ministério da
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/ Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério
Decreto/D7390.htm. Acesso em julho de 2014. do Desenvolvimento Agrário, coordenação da
Casa Civil da Presidência da República. – Brasília:
4. BRASIL. Governo Federal. Comitê Interministerial
MAPA/ACS, 2012. p.18
sobre Mudança do Clima. Plano Nacional sobre
Mudança do Clima PNMC. Brasília. Brasil. 2008. 8. BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e
http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_clima- Inovação – MCIT. Estimativas anuais de emissões
ticas/_arquivos/plano_nacional_mudanca_cli- de gases de efeito estufa no Brasil. Brasília- DF.
ma.pdf. Acesso em julho de 2014. 2013. p. 11-13 e 35-50.
5. BRASIL. Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 9. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento
2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e
do Clima – PNMC e dá outras providências. Estatística. Pesquisa Pecuária Municipal. http://

1. As Mudanças Climáticas e o Setor Agropecuário 23


www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo9. Tecnologia. 2002. v.19, p. 451-472.
asp?e=c&p=PP&z=t&o=24. Disponivel em:
Acesso em: julho de 2014. 16. MACEDO, M. C. M. Pastagens no ecossistema
Cerrado:pesquisa para o desenvolvimento susten-
10. CORDEIRO, L. A. M; ASSAD, E.D.; tável. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
FRANCHINI, J. C.; SÁ, J. C. M.; LANDERS, BRASILEIRA DE ZOOTECNIA. 32.:SIMPÓSIO
J.N.; AMADO, T.J.C.; RODRIGUES, R.A.R.; SOBRE PASTAGENS NO ECOSSISTEMAS
ROLOFF, G.; BLEY, J.C.; ALMEIDA, H.G.; BRASILEIROS: Pesquisas para o desenvolvi-
MOZZER, G.B.; BALBINO, L.C.; GALERANI, mento sustentável.1995. Brasília. Anais... Brasília:
P.R.; EVANGELISTA, B.A.; PELLEGRINO, G.Q.; Sociedade Brasileira de Zootecnia.1995.p.28-62.
MENDES, T.A.; AMARAL.D.D; RAMOS, E.;
MELLO, I.; RALISCH,R.. O Aquecimento Global 17. MINAS GERAIS. Fundação Estadual do Meio
e a Agricultura de Baixa Emissão de Carbono. Ambiente – FEAM. Inventário de Emissões de
Brasília:MAPA/EMBRAPA/FEBRAPDP,2011.p. Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais.
41-45. Ano Base 2010. Belo Horizonte – MG. 2014. p.
05-38.
11. COSTA, F.S. Estoques de carbono orgânico e
fluxos de dióxido de carbono e metano de so- 18. MINAS GERAIS. Resolução Seapa n.º 1.233,
los em preparo convencional e plantio direto no de 09 de janeiro de 2013. Dispõe sobre o Plano
Subtrópico Brasileiro. Porto Alegre, Programa de Estadual de Mitigação e Adaptação às Mudanças
Pós Graduação em Ciência do Solo, Universidade Climáticas na Agricultura para a Consolidação
Federal do Rio Grande do Sul, 2005. 145p. (Tese de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono
- Doutorado). de Minas Gerais (Plano ABC-MG).). http://
www.agricultura.mg.gov.br/component/content/
12. FUKAYAMA, E. H. Características quantitativas e article/2520-resolucao-seapa-no-1233-de-09-de-
qualitativas da cama de frango sob diferentes reuti- -janeiro-de-2013 Acesso em julho de 2014.
lizações: efeitos na produção de biogás e bioferti-
lizante. UNESP-Jaboticabal, 2008. Tese (doutora- 19. MIRANDA, C. R. de (a). Ordenamento sus-
do) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de tentável da suinocultura em Santa Catarina.
Ciências Agrárias e Veterinárias, 2008. Suinocultura Industrial, n.7, 2005, p.14-19.

13. Intergovernmental Panel on Climate Change. 20. PAULINO, V. T. & TEIXEIRA, E.M.L.
IPCC. Guidelines for National Greenhouse Gas Sustentabilidade de pastagens – Manejo adequado
Inventories. Chapter 10: Emissions from livestock como medida redutora da emissão de gases de efei-
and Manure Management. 2006. p. 10.1-10.84. to estufa. Produção animal sustentável, Ecologia de
Pastagens, IZ, APTA/SAA. 2009. p. 3 – 4.
14. KIMBLE, J.M., LAL, R. & FOLLETT, R.F.
Methods of assessing soil C pools. In: Lal, R., 21. USEPA. Evaluation ruminant livestock ef-
Kimble, J.M., Assessment Methods for Soil ficiency projects and programs: peer review
Carbon. Lewis Publishers, Boca Raton Follett, draft. Washington: United States Environmental
R.F., Stewart, B.A. 1:3-12, 2001. Protection Agency, 2000. 48p.

15. LIMA, M.A. Agropecuária brasileira e as mudan-


ças climáticas globais: caracterização do problema,
oportunidades e desafios. Cadernos de Ciência &

24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


2. Fisiologia
da digestão
dos ruminantes
Clenderson Corradi de Mattos Gonçalves1 – CRMV-MG 1070/Z
Adauto Ferreira Barcelos1 – CRMV-MG 0127/Z
1
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Unidade Regional Sul de Minas

1. Introdução criação de ruminantes, como bovinos,


caprinos e ovinos, ganhou grande im-
Existem relatos da domesticação portância para atender as necessidades
dos ruminantes, principalmente os de alimentos, como a carne e o leite, e
bovinos, de mais de 5.000 anos atrás. a produção de roupas e sapatos com
Antigamente os homens utilizavam a lã e o couro desses
esses animais como animais.
animais de carga e pro- Os ruminantes são Os ruminantes são
dução de leite, sendo animais que possuem pré- animais que possuem
pouco utilizados para estômagos em que vivem pré-estômagos em
produção de carne. bactérias, protozoários que vivem bactérias,
Com o passar dos anos e fungos em simbiose e protozoários e fungos
e o crescimento acele- que proporcionam a esses em simbiose e que
rado da população, a animais a digestão de fibras. proporcionam a esses
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 25
animais a digestão de fibras. Essa pecu- so), abomaso (estômago verdadeiro ou
liaridade proporciona aos ruminantes a glandular), intestino delgado, intestino
produção de proteínas de interesse hu- grosso, reto e ânus. Os órgãos acessórios
mano, como o leite e a carne, por meio são: dentes, língua, glândulas salivares,
do consumo de fibras, como forragens fígado e pâncreas.
e leguminosas, não sendo, dessa forma, O processo de digestão se inicia
competidores do ser humano por fontes com a introdução dos alimentos na cavi-
de alimentos. dade oral. O processo de apreensão dos
Com o constante crescimento da alimentos varia de acordo com a espé-
população e necessidade de maiores cie animal, podendo ser utilizados, em
quantidades de alimentos, houve uma vários graus, os dentes, lábios, língua,
evolução na alimentação e nutrição des- cabeça e as extremidades dos membros
ses animais e aumento do interesse na anteriores (Teixeira, 1996). Nos bovi-
fisiologia do trato digestório, principal- nos, a língua é o principal órgão de apre-
mente dos pré-estômagos, com o intui- ensão dos alimentos e apresenta caracte-
to de maximizar a eficiência dos micror- rísticas próprias, atua como um êmbolo,
ganismos e aumentar produções. no sentido de empurrar o alimento para
O processo de fermentação que a cavidade bucal, e posteriormente, na
ocorre nesses pré-estômagos traz gran- deglutição, para os demais segmentos
de vantagem para os ruminantes em do trato (Furlan et al., 2006).
aproveitamento de fibras na dieta, ge- Os ruminantes não possuem cani-
ram alguns gases, dentre os quais pode- nos nem incisivos superiores. As fór-
mos destacar o metano que, vem sendo mulas das dentições dos bovinos são as
apontado como um dos vilões do aque- temporárias com 2 (I 0/4, C 0/0, P 3/3)
cimento global. = 20 dentes e permanentes com 2 (I
Dessa forma, este capítulo tem 0/4, C 0/0, P 3/3, M 3/3) = 32 dentes.
como objetivo relatar pontos impor- A eficácia da mastigação é uma condi-
tantes da fisiologia da digestão dos ru- ção prévia vital para a digestão em rumi-
minantes, principalmente em relação à nantes porque reduz o material vegetal
fermentação nos pré-estômagos e à pro- a partículas de tamanho pequeno, que
dução de metano. permite o ataque de microrganismos do
rúmen aos carboidratos estruturais.
2. Partes do aparelho A faringe é a porção central da ca-
digestivo vidade bucal e conduz o alimento ao
Compreende o aparelho digestivo esôfago. Sua estrutura anatômica e fun-
dos ruminantes a boca, faringe, esôfago, cional tem papel relevante para a masti-
pré-estômagos (rúmen, retículo, oma- gação e deglutição dos alimentos. Já o
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
esôfago, em bovinos, dia nos bovinos). As
A principal característica
é um tubo de 90 a 105 secreções das princi-
dos ruminantes é o
cm que se estende des- pais glândulas são iso-
estômago multicavitário,
de a faringe até a cár-
em que os compartimentos, tônicas com o plasma
dia, orifício de entrada sanguíneo, não têm
retículo, rúmen e omaso,
no estômago (rúmen) possuem funções associadas conteúdo significati-
(Furlan et al., 2006). ao processo fermentativo vo de amilase, variam
A principal carac- que ocorre nesses locais. sua composição em
terística dos ruminan- resposta à depleção
tes é o estômago mul- de sal, contêm ureia
ticavitário, em que os compartimentos, e álcalis e mantêm uma secreção basal
retículo, rúmen e omaso, possuem fun- contínua mesmo após a desnervação
ções associadas ao processo fermenta- total. As principais glândulas salivares
tivo que ocorre nesses locais, tem um são as parótidas, que produzem cerca
eptélio não glandular, sendo recoberto de 50% da produção diária de saliva, as
por eptélio mucoso, com capacidade glândulas molares inferiores e as glân-
absortiva. O abomaso possui similarida- dulas palatinas bucais e faringeais. Já as
de com o estômago de monogástricos, glândulas submaxilares, sublinguais e la-
apresentando um eptélio de revestimen- biais produzem pequena quantidade de
to com mucosa repleta de glândulas se- saliva hipotônica, mucosa e fracamente
cretoras (ácidos, muco e hormônio) tamponada (Leek, 1996). Na Tabela 1
(Furlan et al., 2006). estão apresentadas as características das
glândulas salivares.
3. Funções da saliva O alto conteúdo salivar de hidroge-
A saliva possui alto teor de umidade nocarbonato ou bicarbonato (HCO3¯)
que facilita a mastigação e a deglutição. e hidrogenofosfato ou fosfato ácido
Durante a mastigação ocorre umidifi- (HPO4=) contribui para sua alta alca-
cação e intumescimento dos alimentos linidade (pH=8,1) e é um mecanismo
e desprendimento de nutrientes essen- importante para a neutralização de cer-
ciais e substâncias que estimulam a sen- ca de 50% dos ácidos graxos voláteis
sibilidade gustativa e a secreção de saliva (AGV) produzidos nos pré-estômagos.
e suco gástrico. Nos ruminantes a lipase Os valores de pK para os sistemas de
salivar atua na hidrólise de moléculas HCO3¯ e HPO4= são de 6,1 e 6,8, res-
dos triglicerídeos (Teixeira, 1996). pectivamente, e ajudam a tamponar o
Os ruminantes produzem diaria- conteúdo ruminal na variação do pH
mente grande quantidade de saliva (6 a normal de 5,5 a 7,0. É importante des-
16 litros/dia nos ovinos; 60 a 160 litros/ tacar que o alto conteúdo de fosfato re-
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 27
Tabela 1. Glândulas salivares e suas propriedades (Carneiro)
Volumes
Glândulas Locais de Estímulos
Salivares Características
Salivares Reflexogênicos
Totais (l/d)
Serosa, isotônica e fortemente Boca, esôfago e
Parótidas 3-8
tamponada rúmen-retículo
Serosa, isotônica e fortemente Boca, esôfago e
Molares inferiores 0,7-2
tamponada rúmen-retículo
Palatina, bucal, Isotônica e fortemente Boca, esôfago e
2-6
faringeana tamponada rúmen-retículo

Mucosa, hipotônica e fraca- Boca durante alimenta-


Submaxilar 0,4-0,8
mente tamponada ção, não ruminando

Muito mucosa, hipotônica e


Sublingual, labial 0,1 Boca
fracamente tamponada

Fonte: Leek (1996). Volume total em carneiro (6-16 l/d).

presenta uma forma de reciclagem, pois sua reciclagem (Leek, 1996).


os microrganismos têm alta demanda Dessa forma, podemos classificar
pelo fosfato para síntese de nucleopro- como papel primário da salivação nos ru-
teínas, fosfolipídios, nucleotídeos, co- minantes o suprimento de quantidades
enzimas, entre outros. contínuas de saliva al-
O nitrogênio salivar, Podemos classificar calina para tamponar
77% do qual vem da como papel primário da os AGV ruminais e
ureia, é uma fonte adi- salivação nos ruminantes o prover uma suspensão
cional importante de suprimento de quantidades aquosa de sólidos que
nitrogênio não protei- contínuas de saliva alcalina estão comprimidos
co (NNP) para síntese para tamponar os AGV nos fibrosos sobre-
de proteína microbia- ruminais e prover uma nadantes. Podemos
na. O alto conteúdo suspensão aquosa de sólidos destacar como papel
de ureia na saliva do que estão comprimidos nos secundário da saliva
ruminante pode ser fibrosos sobrenadantes. a reciclagem da ureia
um fator crítico de so- como fonte de NNP
brevivência em situa- para síntese de prote-
ções de deficiência intensa de proteína ína microbiana e o fosfato para síntese
sempre que os rins possam aumentar a microbiana de ácido nucleico/nucleo-
reabsorção tubular de ureia para facilitar proteína e fosfolipídios de membrana,
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
ação como agente umidificante para as do esôfago. Quando o alimento entra no
ingestas e atua como um possível agente esôfago, surge uma onda antiperistáltica
antiespumante para o rúmen. que leva o material cranialmente para a
boca, iniciando a remastigação. Após a
4. Ruminação deglutição do bolo ruminado, segue-se
Uma particularidade do processo uma pequena pausa, após a qual o pro-
digestivo de ruminantes é a ruminação, cesso se repete (Furlan et al., 2006).
ou seja, o ato de remastigar o bolo ali- O início da ruminação ocorre entre
mentar. A ruminação exerce um efeito meia e uma hora após a ingestão do ali-
importante sobre a redução do tamanho mento. A quantidade de alimento inge-
das partículas dos alimentos e sobre o rido, o número de refeições e a estrutura
movimento do material sóli- (teor de fibra, tamanho de
partículas) influenciam o
do através do rúmen além da Ruminação: ato
número e duração dos ci-
reinsalivação. O material re- de remastigar o
gurgitado para remastigação bolo alimentar. clos de ruminação. Em um
origina-se da porção dorsal dia, podem ser observados
do retículo e possui tama- de 4 a 24 períodos de rumi-
nho e gravidade característica da região nação de 10 a 60 minutos cada, poden-
pastosa. Dessa forma, a ingesta que será do despender até 7 horas diárias com
ruminada não consiste em material gros- formação de 360 a 790 bolos alimenta-
seiro do rúmen, e sim em material que res, com tamanhos que variam de 80 a
já sofreu alguma ativi- 120 gramas. Os movimentos mandibu-
dade digestiva na zona lares variam de 40 a
O início da ruminação 70 vezes durante a ru-
sólida (região dorsal). ocorre entre meia e uma
A ruminação tem iní- minação em períodos
hora após a ingestão do de 45 a 60 segundos
cio com a regurgitação alimento. A quantidade de (Furlan et al., 2006).
do bolo alimentar, que alimento ingerido, o número
ocorre imediatamen- Colocando o tempo
de refeições e a estrutura total de ruminação
te antes da contração influenciam o número
primária do rúmen. durante 24 horas com
e duração dos ciclos de relação à matéria seca
Há uma contração ex- ruminação.
tra do retículo, com (MS) ingerida, obtêm-
relaxamento da cár- -se valores entre 33
dia e uma inspiração profunda com a minutos/Kg de MS para ração concen-
glote fechada. Essa atividade cria uma trada e 133 minutos/Kg de MS de palha
pressão negativa no tórax, favorecendo de aveia (Balch, 1971).
o movimento do alimento para dentro De acordo com Van Soest (1994),

2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 29


o tempo despendido com do ruminal é contido pela
A eructação é um
ruminação é influenciado prega ruminorreticular
mecanismo utilizado
pela natureza da dieta, e no carneiro ou pelo pilar
pelo ruminante
que alimentos concen- ruminal no bovino, e o
para eliminar a
trados reduzem o tempo líquido reticular é força-
grande quantidade
de ruminação, enquanto do ventralmente até que
de gases formados
forragens, com alto teor a cárdia não esteja mais
pela fermentação
de parede celular, tendem microbiana. coberta com líquido. A
a aumentá-lo. Quando o cárdia e o esfíncter eso-
alimento ingerido apre- fágico inferior se abrem e
sentar granulometria fina (< 20 mm), a o esôfago reflexamente se enche de gás.
ruminação pode faltar por completo ou Então ocorre um movimento rápido, no
os animais apresentarem uma rumina- sentido oral, de onda de contração eso-
ção irregular. fágica, junto com a abertura do esfíncter
esofágico craniano e elevação do palato
5. Eructação mole para fechar o orifício nasofaríngeo,
A eructação é um mecanismo uti- permitido assim que a maior parte dos
lizado pelo ruminante para eliminar a gases seja expelida pela boca. Esse ciclo
grande quantidade de gases formados pode ser repetido várias vezes enquanto
pela fermentação microbiana. O pico camadas de gases rodeiam a cárdia. No
da produção de gases ocorre entre 30 entanto, parte do gás da faringe entra na
minutos e 2 horas após a ingestão do traqueia e sistema pulmonar e é absorvi-
alimento (Teixeira e Teixeira, 2001). A da pela corrente sanguínea; isso fornece
produção de gases pode atingir um pico a rota mais comum pela qual os produ-
de até 40 l/h nos bovinos, tos aromáticos do rúmen
2 a 4 horas após a inges- Os pré-estômagos atingem a glândula ma-
tão do alimento e quando dos ruminantes são mária para contamina-
a fermentação está em constituídos de três ções indesejáveis no leite
sua taxa máxima. compartimentos: (Leek, 1996).
O primeiro passo o retículo, o rúmen
para eructação ocorre e o omaso, onde 6. Pré-
quando a camada de gás ocorre a fermentação estômagos
move-se cranialmente microbiana Os pré-estômagos
pela contração do ciclo dos alimentos, dos ruminantes são cons-
secundário (ocasional- principalmente pela tituídos de três compar-
mente o primário) do hidrólise e oxidação timentos: o retículo, o
saco ruminal. O conteú- anaeróbica. rúmen e o omaso, onde
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
ocorre a fermentação microbiana dos É importante destacar que a população
alimentos, principalmente pela hidró- microbiana presente no trato gastroin-
lise e oxidação anaeróbica. O abomaso testinal dos ruminantes possui grande
possui similaridade com o estômago diversidade, e no rúmen está presente
dos monogástricos, com glândulas se- uma das mais variadas e densas popula-
cretoras (ácidos, muco e hormônios). ções microbianas conhecidas na nature-
Se considerarmos que os ruminantes za (Czerkawski, 1986).
ingerem alimentos fibrosos provenientes
6.1.1. Bactérias
principalmente de forragens (celulose,
fibras de baixa ou nenhuma digestibilida- As bactérias ruminais são microrga-
de), os pré-estômagos (retículo, rúmen nismos que variam de tamanho, de 1 a 5
e omaso) têm a função de reter esses µm. No rúmen, apresentam a população
alimentos nesses segmen- mais diversa, tanto em
tos para a ação fermenta- Microrganismos são termos de número de es-
tiva dos microrganismos predominantemente pécies quanto em capaci-
ruminais, que têm papel bactérias, protozoários dade metabólica. A den-
relevante na digestão das e fungos anaeróbios. sidade de bactérias no
fibras, através da fermen- rúmen é uma das maio-
tação anaeróbica e a trans- res em qualquer ecossis-
formação desses nutrientes em AGV, tema conhecido. Frequentemente são
produto final da fermentação anaeróbia observados valores na grandeza de 1010
(Furlan et al., 2006). células/g de conteúdo ruminal. O nú-
mero total de espécies ruminais não é
6.1. Microbiologia Ruminal conhecido; porém, mais de 400 já foram
A colonização dos microrganismos isoladas de diferentes animais. Mais de
para formar a microbiota dos pré-estô- 20 espécies apresentam contagens supe-
magos ocorre imediatamente ao nasci- riores a 107 células/g de conteúdo rumi-
mento e aumenta durante nal (Arcuri et al., 2006).
as primeiras semanas de As bactérias são A classificação ado-
vida. Esses microrganis- classificadas baseadas tada pela maioria dos
mos são predominante- na utilização de pesquisadores é baseada
mente bactérias, protozo- celulose, hemicelulose, no tipo de substrato em
ários e fungos anaeróbios amido, açúcares, que a bactéria atua e nos
que dependem das con- ácidos, proteínas, diferentes produtos fi-
dições fisiológicas do lipídeos e pela nais da fermentação. Por
ruminante para sua exis- produção de metano, esse método, as bactérias
tência (Church, 1988). amônia são classificadas baseadas
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 31
Tabela 2. Nichos tróficos e principais produtos de espécies bacterianas e Archaea
mais estudadas

Espécie Nichos Tróficos Principais Produtos


Fermentadores de carboidratos estruturais
Parede Celular (PC), Succinato (Su), Formato (Fo),
Fibrobacter succinogenes
Celulose (Cel) Acetato (Ac)
Ruminococcus albus Pc, Cel Ac, Fo, Etanol (Et)
Ruminococcus flavefaciens Pc, Cel Su, Fo, Ac
Pc, Cel, Hemicelulose (Hemicel), amido Butirato (Bu), Fo,
Butyrivibrio fibrisolvens
(Am), Pectina (Pec), Açúcares diversos (AD) Lactato (La), Ac
Fermentadores de carboidratos não estruturais
Ruminobacter amylophilus Amido (Am) Su, Fo, Ac
La, Ac, Propionato (Pro), Bu,
Selenomonas ruminantium Am, La, AD
Hidrogênio (H2)
Prevotella sp. Am, Hemicel, Pec, Beta-glucanos, Proteínas Su, Ac, Fo, Pro
Succinomonas amylolytica Am Su, Ac, Pro
Succinivibrio dextrinosolvens Maltodextrinas (Mal) Su, Ac, Fo, La
Streptococcus bovis Am, AD La, Ac, Fo, Et
Eubacterium ruminantiom Mal, AD Ac, Fo, Bu, La
Ac, Pro, Bu, Ácidos graxos voláteis
Megasphaera elsdenii La, Mal, Aminoácidos (AA)
de cadeia ramificada (AGVR)
Organismos fermentadores de pectinas
Lachnospira multiparus Pec, AD La, Ac, Fo
Lipolíticos
Anaerovibrio lipolytica Glicerol (Gli), La Ac, Su, Pro
Proteolíticos
Peptostreptococcus sp. Peptídeos (Pep), AA AGVR, Ac
Clostridium aminophilum Pep, AA Ac, Bu
Clostridium sticklandii Pep, AA Ac, Bu, Pro, AGVR
Wolinella succinogenes Mal, Fumarato Su
Facultativos
Lactobacilus sp. Am, La, AD La, Ac, Pro, Bu, H2
Enterobacter sp. Am, La, AD La, Ac, Pro, Bu, H2
Streptococcus sp. Am, La, AD La, Ac, Pro, Bu, H2
Archaea (metanogênicas)
Methanobrevibacter sp. H2, CO2, Fo Metano (CH4 )
Methanosarcina sp. H2, CO2, Ac, Metanol, metilaminas CH4
Methanomicrobium sp. H2, CO2, Fo CH4
Methanobacterium sp. H2, CO2 CH4
Fonte: Arcuri et al., 2006.

32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


na utilização de celulose, hemicelulose, A classificação dos protozoários
amido, açúcares, ácidos, proteínas, lipí- do rúmen, adotada pela maioria dos
deos e pela produção de metano, amônia pesquisadores, é baseada na morfolo-
e outros. Muitas espécies são capazes de gia da célula. Normalmente, os pro-
atuar em mais de um substrato (Teixeira tozoários encontrados no rúmen são
e Teixeira, 2001). Os principais grupos da classe dos Ciliados e pertencem à
de bactérias ruminais, e mais estudados, família Isotrichidae (na qual os gêneros
estão relacionados com o processo de Isotricha e Dasytricha prevalecem em
degradação da fibra vegetal (Arcuri et maior quantidade no rúmen) e a famí-
al., 2006). Na Tabela 2, estão sumariza- lia Ophryoscolecidae (em que os gêneros
das as características mais importantes Entodinium, Diplodinium, Epidinium
de espécies estudadas de bactérias ru- e Ophryoscolex prevalecem) (Church,
minais e organismos Archeae. 1988).
Os ciliados são microrganismos bas-
6.1.2. Protozoários tante versáteis e apresentam muita habi-
Os protozoários são microrganis- lidade na degradação e fermentação de
mos unicelulares, anaeróbios estritos, um grande número de substratos, como
não patogênicos, com tamanho varian- celulose, hemicelulose, pectinas, ami-
do de 20 a 200 µm (dez a 100 vezes do, açúcares solúveis e lipídeos (Tab.
maior que as bactérias). Apresentam 3). Todos os protozoários armazenam
organização interna com- uma grande quantidade
plexa e altamente diferen- A população de de amido, que é usado
ciada, com estruturas fun- protozoários do como fonte de energia;
cionais similares à boca, conteúdo ruminal são proteolíticos e excre-
esôfago, estômago, reto varia em concentração, tam aminoácidos e amô-
e ânus. Em algumas es- entre 104 e 106 nia como produto final
pécies pode ocorrer uma células/mL de da digestão de proteína.
placa rígida, semelhante conteúdo ruminal. Alguns protozoários
a um esqueleto. A popu- são celulolíticos, mas
lação de protozoários do conteúdo ru- os principais substratos
minal varia em concentração, entre 10 4 utilizados pela fauna ruminal como fon-
e 10 células/mL de conteúdo ruminal. te de energia são os açúcares e amidos,
6

Devido ao seu tamanho, a concentração que são assimilados rapidamente e esto-


de protozoários representa, em geral, de cados na forma de amilopectina ou ami-
40% a 60% da biomassa microbiana to- do protozoário. Portanto desempenham
tal do rúmen (Dehority, 1993; Teixeira importante função como efeito tampo-
e Teixeira, 2001; Ezequiel et al., 2002). nante, pois diminui o acesso das bacté-

2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 33


Tabela 3. Substrato utilizado e produto final obtido por
protozoários encontrados no rúmen

PROOZOÁRIO (Gêneros) SUBSTRATO FERMENTADO PRODUTO FINAL


Isotricha
intestinalis Amido, Glu, Pec, Sacarose Ac, Pr, Bu, La, H2, Lip
prostoma Amido, Glu, Pec, Sacarose Ac, Pr, Bu, La, H2, CO2, Lip
Dasytricha
ruminantium Amido,Maltose, Glu, Cel Ac, Bu, H2, CO2, Lip
Entodinium
bursa Amido, Hemicelulose -
caudatum Amido, Glu, Cel, Maltose Ac, Pr, Bu, H2, CO2, Lip
simplex Amido Lip
Diplodinium
Polyplastron Amido, Glu, Celu, Sacarose Ac, Pr, Bu, La, H2, CO2
Diplodinium Amido, Celu, Hemicelulose -
Diploplastron Amido, Celu, Hemicelulose -
Eudiplodinium Amido, Celu, Hemicelulose Ac, Pr, Bu, La, H2, CO2, Fo
Ostracodinium Amido, Celu, Hemicelulose -
Eremoplastron Amido, Celu, Hemicelulose -
Epidinium
ecaudatum Amido, Celu, Hemicelulose
Ac, Pr, Bu, H2, Lip, La, Fo
Maltose e Sacarose
Ophryoscolex
caudatus Amido, Celu, Hemicelulose Ac, Pr, Bu, H2
Fonte: Adaptado de Church, 1988. As abreviaturas mostradas no quadro significam: Ac – ácido acético; Pr – propiônico; Bu – butírico;
La – lactato; Lip – lipídeo; Fo – fórmico; Glu – glucose; Cel – celobiose; Celu – celulose; Pec – pectina. Nos produtos finais, as siglas
em negrito indicam produtos finais em quantidades importantes, e as siglas sem negrito indicam vestígios.

rias a uma quantidade excessiva de subs- co da presença de protozoários no rú-


tratos prontamente fermentáveis. Dessa men os seguintes aspectos:
forma, a presença de • o aumento da
protozoários no rú- Efeito benéfico da presença estabilidade da fer-
men diminui o risco de protozoários no rúmen: mentação e do pH;
de acidose em dietas o aumento da estabilidade • aumento das
ricas em grãos e açú- da fermentação e do pH, as concentrações de
cares (Arcuri et al., concentrações de AGVs elevadas AGVs elevada e
2006). e estavéis, a degradação da estável;
Pode-se destacar matéria seca, a degradação de • aumento da de-
como efeito benéfi- fibras e a digestão do amido. gradação da maté-
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
ria seca e de fibras; desses estudos, algumas
A fermentação é o
• aumento da digestão do
resultado da atividade pesquisas foram desen-
amido e diminuição das
física e microbiológica volvidas com carneiros
concentrações de ácido que converte os e bovinos, em que se ob-
láctico; componentes dietéticos servou a presença desses
• diminuição dos níveis em ácidos graxos microrganismos. Pouco
de cobre no plasma san- voláteis (AGVs). ainda se sabe sobre a im-
guíneo e fígado; portância dos fungos no
• diminuição da suscep- processo fermentativo,
tibilidade a acidose por ácido láctico; mas existem evidências de que esses
• diminuição da susceptibilidade a toxi- fungos participam ativamente no rom-
dez por cobre e pimento físico da fibra por meio de ri-
• diminuição da susceptibilidade a zoides ou hifas durante o processo de
diarreias. degradação das forragens (Akin, 1988;
Ocorrem também alguns efeitos ad- Akin e Benner, 1988) e estão presen-
versos com a presença de protozoários tes em grande número quando a dieta
no rúmen, como o aumento da con- é rica em forragens. As principais es-
centração de amônia, da atividade pro- pécies identificadas são Neocallimatrix
teolítica, da metanogênese, dos níveis frontalis, Sphaeromonas communis e
plasmáticos de ácidos graxos saturados, Piromonas communis, que degradam
da susceptibilidade ao timpanismo e de os carboidratos e são capazes de atacar
gordura na carcaça, e diminuição da po- os tecidos vasculares lignificados (Akin
pulação bacteriana, da síntese de prote- e Rigsby, 1987).
ína microbiana, do fluxo de nitrogênio
6.2. Fermentação Ruminal
para o intestino delgado, de níveis plas-
máticos de ácidos graxos insaturados, A fermentação é o resultado da ati-
de ganho de peso e da eficiência de con- vidade física e microbiológica que con-
versão alimentar (Arcuri et al., 2006). verte os componentes dietéticos em
ácidos graxos voláteis (AGVs), proteína
6.1.3. Fungos microbiana e vitaminas do complexo B
Orpin (1975) foi o primeiro pes- e vitamina K, metano e dióxido de car-
quisador a demonstrar que alguns dos bono, amônia, nitrato, etc. (Owens e
microrganismos encontrados no ecos- Goetsch, 1988).
sistema ruminal de carneiros, que se A manutenção de uma população
acreditavam serem protozoários flagela- microbiana ruminal ativa depende de al-
dos, eram de fato zoósporos de Fungos gumas características ruminais que são
Phycomycetos anaeróbicos. A partir mantidas pelo animal hospedeiro, como
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 35
o suprimento de alimen- graxos voláteis, incluem
Os AGVs são produtos
tos mastigados ou rumi- o ácido fórmico, acético,
do metabolismo
nados, a remoção dos butírico, isobutírico, 2 –
microbiano suprem
produtos da fermentação, metilbutírico, propiôni-
de 60 a 80% do
a adição de tamponantes requerimento co, valérico, isovalérico
e nutrientes via saliva, a energético dos e traços de ácidos graxos
remoção de resíduos indi- ruminantes. com 6 e 8 carbonos. A
gestíveis dos alimentos e a concentração molar por
manutenção do pH, tem- ordem decrescente de
peratura, anaerobiose e umidade ideais quantidade é de: acético, propiônico e
ao crescimento microbiano (Valadares butírico, com pequenas quantidades de
Filho e Pina, 2006). isobutírico e isovalérico. De uma manei-
ra geral, podemos observar que os pro-
6.2.1. Ácidos graxos voláteis
dutos finais da fermentação ruminal são
Os AGVs são produtos do metabo- similares em suas proporções molares
lismo microbiano e são muito impor- em diferentes espécies de ruminantes
tantes para o hospedeiro, pois suprem (Teixeira e Teixeira, 2001).
de 60 a 80% do requerimento energéti- A quantidade de ácidos graxos volá-
co dos ruminantes. Dessa forma, é im- teis presentes no conteúdo do retículo-
portante que o hospedeiro tenha boa -rúmen é um reflexo da atividade micro-
capacidade de absorção desses AGVs. biana e da absorção ou passagem através
O eptélio dos pré-estômagos oferece da parede ruminal. Após a ingestão de
um ótimo sistema que absorve quase alimentos rapidamente fermentáveis,
todos os AGVs produzidos, com escape aumenta rapidamente a atividade mi-
de pequenas quantidades para as vias crobiana, resultando em um aumento
digestivas inferiores. Para isso, o eptélio na concentração de ácidos graxos vo-
ruminal é organizado em papilas, que láteis. A fermentação da alimentação
possuem a mesma função de expansão afeta a concentração de AGV no rú-
da área que as vilosidades do intestino men. Outro fator que altera o perfil dos
delgado, sendo o crescimento papilar AGVs está relacionado com a dieta, que
estimulado pelos AGVs. Portanto die- pode determinar a predominância de
tas com alta digestibilidade resultam em determinado ácido. Assim, alimentos
altas concentrações ruminais de AGVs, peletizados ou grãos tratados pelo calor
o que estimula o desenvolvimento das produzirão um aumento na concentra-
papilas (Furlan et al., 2006). ção de ácido propiônico. Já em dietas
Os ácidos do rúmen, que são nor- à base de silagens, fenos e pastagens
malmente classificados como ácidos ocorrerá um aumento na concentração
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
de ácido acético, ao passo que um alto em ruminantes, o tecido adiposo e não
nível de ingestão de proteína provocará o fígado é o grande utilizador de aceta-
um aumento na concentração de ácido to (Bergman, 1990). Em ruminantes,
propiônico. o carbono do acetato é incorporado a
Mudanças drásticas na dieta usual- ácidos graxos tanto pelo tecido adipo-
mente resultam em mudanças marcantes so como pela glândula mamária de ani-
na produção de bactérias e protozoários mais lactantes, muitas vezes mais rápido
(o que pode influenciar na composição que o carbono proveniente da glicose
dos produtos finais); no método de pro- (Valadares Filho e Pina, 2006).
cessamento do alimento (aquecimento O propionato e o butirato são me-
do amido e proteína ou gelatinização do tabolizados pelos epitélios ruminal e
amido), aditivos químicos e outros fato- intestinal e pelo fígado. O butirato é
res (Teixeira e Teixeira, 2001). grandemente removido pelos epitélios
Na Figura 1 podem ser visualizadas ruminal e intestinal, enquanto a maior
as principais rotas de fer- parte do propionato
mentação de carboidra- Mudanças drásticas é absorvida pelo fíga-
tos no rúmen e seus pro- na dieta usualmente do. Muito pouco desses
dutos finais (Valadares resultam em AGVs escapam para a cir-
Filho e Pina, 2006). mudanças marcantes culação em geral e, dessa
Os ruminantes absor- na produção forma, o acetato represen-
vem mais acetato e têm de bactérias e ta de 90% a 100% do total
menos glicose no sangue
protozoários. de AGVs na circulação
em relação aos não rumi- arterial (Bergman, 1990).
nantes. A principal diferença no meta- O metabolismo do butirato pelo
bolismo entre eles origina-se da dispo- fígado envolve a enzima butiril-CoA
nibilidade e papel do acetato e glicose sintetase para sua conversão em butiril-
como precursores do acetil-CoA, para -CoA que então pode ser convertido em
uso nos processos de oxidação ou sínte- acetil-CoA, ácidos graxos de cadeia lon-
se, tal como a lipogênese. Somente pe- ga ou corpos cetônicos (Valadares Filho
quena quantidade de acetato absorvido e Pina, 2006). Bergman e Kon (1964)
é utilizada pelo fígado dos ruminantes. relataram que pelo menos um quinto do
Isso concorda com a baixa atividade da butirato injetado intravenosamente em
acetil-CoA sintetase no fígado de rumi- carneiros foi usado na cetogênese hepá-
nantes em relação ao tecido adiposo e tica, sendo o restante oxidado ou usado
músculo e, similarmente, a lipogênese para lipogênese.
em ruminantes é quase que totalmente A atividade da propionil-CoA sin-
realizada no tecido adiposo. Portanto, tetase no fígado de ruminantes é alta e

2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 37


Pecna Hemicelulose Celulose Amido Sacarose
Lacbnospira
mulparus
Prevotella sp.
B. fibrisolvens
Requerem
para cresci- Dextrinolícas e
Xilobiose mento: Vit. Celobiose amilolícas:
A, Ager, B. amyloipbillus
Ácido NH₃ Streptococcus
bovis,
urônicos Dextrinas Succinomonas
amylolyca,
Succinivibrio
dextriinosolvens
Pentoses Hexoses R. albus
R. flavefaciens
F. succinogenes Maltose
B. fibrisolvens
Sacarolícas
revotella sp.,
B. fibrisolvens
Selenomonas
ruminanum
Xilulose Ciclo das Glicose
pentoses

Via de oxoloactetato e succinato


Piruvato F. succinogenes e R. flarefaciens
90% do propionato, exceto
emdietas com amido (75%)
Formato Via acrilato B. ruminícola,
Megasphera elsdennii e
Peptostreptococcus
Acel - CoA
Principal
via de
R. albus Propionato eliminação
Co₂ + H₂ de H’ e c ’
Malonil-CoA Inverso da B - oxidação

Acetato Etanol Burato Butyrivibrium


fibrisolvens
40 - 50%
Ch₄ 6 - 18%

Bactérias metanogênicas
Metbanobacterium ruminanum

Figura 1. Principais rotas de fermentação de carboidratos no rúmen e seus produtos finais. Adaptado
de Valadares Filho e Pina (2006).

38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


a maioria do propionato Possuem ainda quantida-
Os principais
é removida do sangue des variáveis de nitrogê-
gases produzidos
portal pelo fígado. A rota nio (N2), com traços de
são dióxido de
usual para o metabolismo carbono (CO2), que ácido sulfúrico (H2S), hi-
do propionato é entrar no corresponde a 60%, e drogênio (H2) e oxigênio
ciclo de Krebs como suc- o metano (CH4), que (O2). O CO2 origina-se
cinil-CoA e por reações varia de 30 a 40% da das reações de descarbo-
bioquímicas originarem produção desses gases. xilação, durante a fermen-
o oxaloacetato, que pode tação, e das reações de
ser utilizado para formar neutralização do H+ pelo
glicose pela via gliconeogênica. O pro- HCO3- oriundo da saliva ou secretado
pionato é o principal precursor da glico- pelo epitélio ruminal, durante a absor-
se em ruminantes, e o acetato, o butirato ção de AGVs. O CH4 é oriundo da re-
e ácidos graxos de cadeia longa com um dução do CO2 e formado pelas bactérias
número par de átomos de carbono não metanogênicas (Leek, 1996; Valadares
podem contribuir para uma síntese lí- Filho e Pina, 2006).
quida de glicose (Valadares Filho e Pina,
6.3.1. Metano
2006).
Os ruminantes, devido ao processo
6.3. Gases produzidos na digestivo de fermentação entérica, são
fermentação ruminal reconhecidos como importante fonte de
Está bem estabelecido que, durante emissão de metano (CH4) para a atmos-
a fermentação ruminal, ocorre a forma- fera. Além disso, a produção desse gás,
ção de uma quantidade apreciável de que pode variar em função do sistema
gases no retículo-rúmen. A produção de de alimentação, é considerada uma par-
gases atinge um pico de te perdida da energia do
até 40 l/h nos bovinos 2 As maiores fontes alimento, refletindo em
a 4 horas após a ingestão de emissão de CH 4
, ineficiência na produção
do alimento e quando a considerando as animal (Pedreira et al.,
fermentação está em sua atividades agrícolas, 2005). Dessa forma, vá-
taxa máxima. Os prin- são representadas pela rios estudos estão sendo
cipais gases produzidos fermentação entérica feitos em relação à dimi-
são dióxido de carbono em ruminantes, nuição da produção des-
(CO2), que corresponde produção de arroz em se gás com o intuito de
a 60%, e o metano (CH4), terrenos alagados e diminuir impactos am-
que varia de 30 a 40% da fermentação de dejetos bientais, principalmente
produção desses gases. da pecuária. sobre o efeito estufa.
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 39
As maiores fontes de emissão de Para o Brasil, em 1990, foram esti-
CH4, considerando as atividades agríco- madas emissões de 7,9 Tg de metano
las, são representadas pela fermentação proveniente da fermentação entérica
entérica em ruminantes, produção de de animais, correspondendo a 96,3%
arroz em terrenos alagados e fermenta- do total de CH4 emitido pela pecuária,
ção de dejetos da pecuária (Olesen et sendo o gado de corte responsável por
al., 2006). De acordo com Harper et 81,1% dessa emissão. Em 1995, foram
al. (1999), a produção de arroz em ter- estimadas emissões de 9,2 Tg de CH4
renos alagados contribui com 11% do gerado pela pecuária, considerando os
total de CH4 liberado para a atmosfera, efetivos de ruminantes (bovinos, bu-
a fermentação entérica em animais com balinos, ovinos, caprinos) e os animais
16% e a fermentação de dejetos, com monogástricos (equinos, asininos, mua-
17%. res e suínos) e seus dejetos, sendo que
Cotton e Pielke (1995) caracteriza- 96% desse total foram atribuídos à fer-
ram o CH4 como um importante gás de mentação entérica, em que o gado de
efeito estufa, contribuindo com cerca de corte foi responsável por 81,6%, con-
15% para o aquecimento global e tem tribuindo com a emissão de 7,1 Tg de
relação direta com a eficiência da fer- metano (Pedreira et al., 2005; Pedreira
mentação ruminal em virtude da perda e Primavesi, 2006).
de carbono e, consequentemente, perda
6.3.2. Síntese de metano no rúmen
de energia, determinando maior ou me-
nor desempenho animal. As Archaea metanogênicas, respon-
As emissões globais geradas a partir sáveis pela produção de CH4, formam
dos processos entéricos são estimadas um grupo distinto de microrganismos,
em 80 milhões de toneladas por ano possuindo cofatores (coenzima M,
(USEPA, 2000), correspondendo apro- F420, F430) e lipídeos (éteres de iso-
ximadamente a 22% das pranil glicerol) únicos
emissões totais de meta- As Archaea (McAllister et al., 1996).
no geradas por fontes an- metanogênicas, A parede celular desses
trópicas, representando responsáveis pela microrganismos é com-
3,3% do total dos gases produção de CH4. posta por pseudomureína,
de efeito estufa, desem- proteína, glicoproteína ou
penhando importante heteropolissacarídeos,
papel nas modificações climáticas no e a sequência de nucleotídeos indica
mundo, exemplificadas especialmente uma evolução inicial distinta das bacté-
pelo contínuo aumento do aquecimen- rias (Ishino et al., 1998). No rúmen, as
to global (Pedreira et al., 2005). Archaea são encontradas intimamente
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
associadas com protozoários ciliados efeitos adversos do acúmulo de H2 no
e em justaposição com bactérias, não rúmen incluem a inibição da reoxida-
sendo essa, no entanto, uma localiza- ção do NADH e o acúmulo de lactato
ção obrigatória (Finlay et al., 1994). ou etanol, o que proporciona queda de
Para Ushida e Jouany (1996), as me- pH, tendo como consequência a redu-
tanogênicas podem ser encontradas ção da eficiência do crescimento de mi-
tanto aderidas na superfície celular dos crorganismos que degradam a fibra da
protozoários como na fase intracelular dieta. Portanto, o CH4 é um subprodu-
destes. Espécies metano- to da fermentação rumi-
gênicas têm grande afini- O uso de algumas nal, e sua produção serve
dade em sintetizar CH4 a tecnologias, como como principal “dreno”
partir de H2 e CO2 para a manipulação de de hidrogênio ( Johnson
gerar suas necessidades dietas, aumento da e Johnson, 1995).
energéticas para o cres- eficiência produtiva, Apesar da impor-
cimento (Miller, 1995). uso de aditivos tância em reduzir o H2
Elas também têm a capa- alimentares e manejo ruminal, o metano pode
cidade de sintetizar CH2 dos animais, podem ser responsável por per-
a partir do formato e, em influenciar na síntese da de energia bruta da
menor grau, a partir do de metano ruminal. dieta durante o proces-
metanol, mono-, di-e tri- so fermentativo. Dietas
-metilamina e acetato, que possuem grande
mas é a redução do CO2 a via preferen- participação de volumosos podem re-
cial. A conversão anaeróbia da matéria presentar perdas energéticas para os
orgânica em CH4 no rúmen envolve animais em relação à energia inicial
um consórcio de microorganismos consumida, que variam de 6 a 18%
ruminais, com a etapa final realizada (Owens e Goetsch, 1988). De acordo
pelas metanogênicas (McAllister et al., com Johnson e Johnson (1995), em
1996). dietas compostas por cerca de 90% de
As metanogênicas então re- alimentos concentrados, as perdas de
movem H2 e reduzem CO2 para for- energia na forma de CH4 podem ser
mar CH4. Produzindo CH4, mantêm a variáveis, encontrando-se perdas em
concentração baixa de hidrogênio no torno de 2 a 3%, o que representa apro-
rúmen, o que permite às bactérias me- ximadamente a metade do valor nor-
tanogênicas promover o crescimento malmente relatado (6%).
de outras espécies bacterianas e pro- O uso de algumas tecnologias,
ver uma fermentação mais eficiente como a manipulação de dietas, aumen-
(Teixeira et al., 1998). Os principais to da eficiência produtiva, uso de aditi-
2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 41
vos alimentares e manejo dos animais, 7. Considerações Finais
podem influenciar na síntese de metano
A fermentação ruminal é de extrema
ruminal e serão discutidos nos capítulos
importância para que os animais rumi-
posteriores.
nantes consigam digerir alimentos fibro-
6.3.3. Síntese de metano no intestino sos. Os compostos produzidos durante
grosso a fermentação podem sofrer alterações
Os animais ruminantes apresentam por diversos fatores, como tipo de ali-
no intestino, especialmente no ceco, um mento, relação volumoso:concentrado,
tamanho de partículas, uso de aditivos,
ecossistema que se assemelha em muito
entre outros. Dessa forma, através de
ao ecossistema ruminal, em que ocorre
estudos de manipulações desses fato-
um processo fermentativo muito inten-
res, podemos proporcionar maiores
so. Nesse compartimento, como tam-
produções de leite e carne, com meno-
bém no colo e no reto, há uma predo-
res produções de metano pelos animais
minância de espécies anaeróbicas com
ruminantes e, consequentemente, ge-
uma predominância de bactérias, que,
rar menos poluição ao meio ambiente
em sua maioria, são espécies encon-
oriunda da pecuária.
tradas no rúmen (Teixeira e Teixeira,
2001). 8. Referências
A proporção da dieta digerida no bibliográficas
intestino grosso geralmente aumenta
1. AKIN, D.E. Biological structure of lignocelluloses
quando uma dieta de pior qualidade é and its degradation in the rumen. Animal Feed
Science and Tecnology, 21:295, 1988.
oferecida. A digestão fermentativa ocor-
2. AKIN, D.E.; BENNER, R. Degradation of poly-
re principalmente no ceco e cólon pro- saccharides and lignin by ruminal bacteria and
ximal, sendo o tempo de permanência fungi. Apllied and Environmental Microbiology,
54:1117, 1988.
da digesta muito inferior ao do rúmen. 3. AKIN, D.E.; RIGSBY, L.L. Mixed fungal popu-
O intestino grosso é responsável por lations and lignocellulosic tissue degradation in
the bovine rumen. Apllied and Environmental
cerca de 12 a 17% da produção de AGV Microbiology, 53:1987, 1987.
e de 6 a 14% da produção de CH4 do 4. ARCURI, P.B; LOPES, F.C.F.; CARNEIRO,
J.C. Microbiologia do rúmen. In: BERCHIELLI,
animal por dia (Immig, 1996). Desse T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de
total, aproximadamente 89% são absor- Ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006, p.111-150.
5. BALCH, C.C. Proposal to use time spent chewing,
vidos pelo sangue e expirados através as an index of the extent to witch diets for rumi-
dos pulmões, indicando que, apesar de nants possess the physical property of fibrousness
characteristics of roughages. British Journal of
haver produção de CH4 no trato diges- Nutrition, 26: 383, 1971.
tório posterior, a maior parte (98%) do 6. BERGMAN, E.N. Energy contributions of volatile
fatty acids from the gastrointestinal tract in various
total de CH4 produzido é expirado pela species. Physiological Reviews, 70: 567, 1990.
boca e orifícios nasais. 7. BERGMAN, E.N.; KON, K. Factors affecting ace-

42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


toacetate production rates by normal and ketotic 21. MILLER, T.L. Ecology of methane production and
pregnant sheep. American Journal of Physiology, hydrogen sink in the rumen. In: ENGELHARDT,
206: 453, 1964. W. V., LEONHARD-MAREK, S., BREVES, G.,
8. CHURCH, D.C. The ruminant animal diges- GIESSECKE, D. (Ed). Ruminant Physiology:
tive physiology and nutrition. 2 ed. New Jersey: Digestion, metabolism, growth and reproduction.
Prentice Hall, 1988. 564p. Stuttgart: Ferdinand Enke Verlag. 1995. p. 317-332.
9. COTTON, W.R.; PIELKE, R.A. Human impacts 22. OLESEN, J.E.; SCHELDE, K.; WEISKE,
on weather and climate. Cambridge: Cambridge A.; WEISBJERG, M.R.; ASMAN, W.A.H.;
University,1995. 288p. DJURHUUS, J. Modelling greenhouse gas
emissions from European conventional and or-
10. CZERKAWSKI, J.W. An introduction to rumen ganic dairy farms. Agriculture, Ecosystems and
studies. Oxford: New York: Pergamon Press, 1986, Environment, Amsterdam, v.112, 2006, p.207-220.
236p.
23. ORPIN, C.G. Studies on the rúmen flagel-
11. DEHORITY, B.A. Laboratory manual for classifi- late Neocallimastix frontalis. Journal of General
cation and morphology of rumen ciliate protozoa. Microbiology, 91: 249, 1975.
Boca Raton, Fla: CRC Press. 1993, 325p.
24. OWENS, F.N.; GOETSCH, A.L. Ruminal fermen-
12. EZEQUIEL, J.M.B.;MELÍCIO, S.P.L.; tation. In: CHURCH, D.C. The ruminant animal
SANCANARI, J.B.D. et al. Quantificação das digestive physiology and nutrition. New Jersey:
bactérias sólido-aderidas, bactérias e protozoários Prentice Hall, 1988. p.145-171.
líquidos-associados do rúmen de bovinos jovens
alimentados com amiréia. Revista Brasileira de 25. PEDREIRA, M.S.; OLIVEIRA, S.G.;
Zootecnia, Viçosa, v.31, n.2, 2002, p.707-715. BERCHIELLI, T.T.; PRIMAVESI, O. Aspectos
relacionados com a emissão de metano de origem
13. FINLAY, B.J.; ESTEBAN, G.; CLARKE, K.J.; ruminal em sistemas de produção de bovinos.
WILLIAMS, A.G.; EMBLEY, T.M; HIRT, R.P. Archives of Veterinary Science, v. 10, n. 3, 2005, p.
Some rumen ciliates have endosymbiotic metha- 24-32.
nogens. FEMS Microbiology Letters, Delft, v.117,
1994, p.157-161. 26. PEDREIRA, M.S.; PRIMAVESI, O. Impacto
da produção animal sobre o ambiente. In:
14. FURLAN, R.L.; MACARI, M.; FARIA FILHO, BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA,
D.E. Anatomia e fisiologia do trato gastrintestinal. S.G. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: Funep,
In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, 2006, p.497-510.
S.G. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: Funep,
2006, p.1-23. 27. TEIXEIRA, J.C. Fisiologia Digestiva dos Animais
Ruminantes. Lavras: UFLA - FAEPE, 1996, 270p.
15. HARPER, L.A.; DENMEAD, O.T.; FRENEY, J.R.;
BYERS, F.M. Direct measurements of methane 28. TEIXEIRA J.C. & TEIXEIRA L.F.A.C. Do alimen-
emissions from grazing and feedlot cattle. Journal to ao leite: entendendo a função ruminal. Lavras:
of Animal Science, Savoy, v.77, 1999, p.1392-1401. UFLA-FAEPE, 1998, 74p.
16. IMMIG, I. The rumen and hindgut as a source 29. TEIXEIRA, J.C.; TEIXEIRA, L.F.A.C. Princípios
of ruminant methanogenesis. Environmental de nutrição de bovinos leiteiros. Lavras: UFLA -
Monitoring and Assessment, v.42, 1996, p.57-72. FAEPE, 2001, 245p.
17. ISHINO, Y., KOMORI, K., CANN, I.K.O.; 30. UNITED STATES ENVIROMENTAL
KOGA, Y. A novel DNA polymerase family found PROTECTION AGENCY - USEPA. Evaluating
in Archaea. Journal of Bacteriology, Washington, Ruminant Livestock Efficiency Projects and
v.180, 1998, p.2232-2236. Programs In: PEER REVIEW
18. JOHNSON, K.A.; JOHNSON, D.E. Methane 31. DRAFT. Washington, D.C, 2000, 48p.
emissions from cattle. Journal of Animal Science, 32. USHIDA, K.; JOUANY, J.P. Methane produc-
Savoy, v.73, 1995, p.2483-2492. tion associated with rumen-ciliated protozoa and
19. LEEK, B.F. Digestão no estômago de ruminan- its effect on protozoan activity. Letters Applied
tes. In: SWENSON, M.J.; REECE, W.O. (Eds.). Microbiology, Oxford, v.23, 1996, p.129-132.
Dukes: Fisiologia dos Animais Domésticos. 11º 33. VALADARES FILHO, S.C.; PINA, D.S.
edição, Guanabara- Koogan, RJ, 1996, p.353-376. Fermentação ruminal. In: BERCHIELLI, T.T.;
20. McALLISTER, A.T., OKINE, E.K., MATHISON, PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de
G.W.; CHENG, K.J. Dietary, environmental and Ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006, p.151-182.
microbiological aspects of methane production in 34. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the rumi-
ruminants. Canadian Journal of Animal Science, nant. 2 ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994,
Ottawa, v.76, 1996, p. 231-243. 476p.

2. Fisiologia da digestão dos ruminantes 43


3. Redução da
emissão de metano
pelos ruminantes:
o papel de aditivos,
fatores nutricionais e
alimentos
Heloisa Carneiro1,*, PhD - CRMV-MG ZO512
Marcio Roberto Silva1, Dr. - CRMV-MG 5558
Letícia Scafutto de Faria2
* Email para contato: heloisa.carneiro@embrapa.br
1
Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite
2
Estagiária da Embrapa Gado de Leite

1. Introdução fera, que foram estimadas em 16%


segundo Longo (2007). A interação
A ação do homem vem alterando
entre os fatores de produção animal
as concentrações de gases de efei-
to estufa na atmosfera, provocando e o impacto ambiental causado pelas
aquecimento da superfície terrestre. diversas atividades tem sido, cada vez
A agricultura e a pecuária são gran- mais, o objetivo de pesquisas relacio-
des contribuintes para as emissões nadas com as mudanças climáticas
antrópicas de metano (CH4) à atmos- mundiais. Na agricultura são forma-
44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
dos diversos gases co- trópicas, representan-
A formação desses
laboradores do efeito do 3,3% do total dos
gases é ocasionada
estufa, como o óxido gases de efeito estu-
pela fermentação
nítrico (N2O), dióxi- fa. O Brasil possui o
entérica (no rúmen),
do de carbono (CO2) maior rebanho bovino
dejetos, respiração
e metano (CH4). A do solo, adubação comercial do mundo,
formação desses gases com fertilizantes, estimado em cerca de
é ocasionada pela fer- desmatamento, 202 milhões de cabe-
mentação entérica (no queimadas etc. ças de gado, ocupan-
rúmen), dejetos, respi- do pouco mais de 172
ração do solo, aduba- milhões de hectares,
ção com fertilizantes, desmatamento, sendo que 88% da carne bovina pro-
queimadas etc. O CH4 é um dos gases duzida no país são provenientes de
produzidos pela fermentação entérica rebanhos mantidos exclusivamente
anaeróbica de alimentos de vários ani- a pasto, que normalmente produzem
mais, principalmente os ruminantes, mais CH4 pelo fato de geralmente se-
dentre os quais estão os bovinos, ca- rem submetidos a desbalanços nutri-
prinos e ovinos. Realmente os rumi- cionais. Diante desses números, a pe-
nantes são eficientes na produção de cuária tem sido apontada como uma
metano, porém essa produção evoluiu das atividades que mais prejudicam o
com a espécie e é necessária para evi- meio ambiente. Os impactos negati-
tar a intoxicação do animal. O proble- vos causados pela bovinocultura estão
ma é que esse gás apresenta um poten- relacionados com o principal meio de
cial de “efeito estufa” 21 vezes maior produção adotado no Brasil, o sistema
do que o dióxido de carbono (CO2). extensivo (Zen et al., 2008). Por esse
Estima-se que a população mun- fato, o Brasil tem sido apontado como
dial de ruminantes é responsável pela grande contribuinte em emissão de
produção de 15% de todo o gás meta- CH4.
no da atmosfera. As emissões globais Preocupadas com as mudanças
de CH4 geradas a partir dos processos climáticas geradas pelo aumento dos
entéricos são estimadas gases de efeito estufa
em 80 milhões de tone- Estima-se que a (GEE), muitas na-
ladas anuais (USEPA, população mundial de ções desenvolvidas
2004), corresponden- ruminantes é responsável do mundo redigiram
do aproximadamente a pela produção de 15% e assinaram em 1997
22% das emissões totais de todo o gás metano da o Protocolo de Kyoto.
de CH4 por fontes an- atmosfera. O tratado pretendia
3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 45
reduzir as emissões de GEE em 5% responsáveis pelo efeito estufa, e subs-
sobre o total produzido pelo país em tancial perda energéticas na forma de
1990, com validade durante o perío- CH4 e CO2 (Steinfeld et al., 2006).
do de 2008 a 2012. O Brasil foi o 77° A população microbiana no rú-
país a ratificar o Protocolo, em junho men é caracterizada por uma popula-
de 2002, porém ele está incluído no ção altamente diversificada de bacté-
grupo dos países que irão receber in- rias, protozoários, fungos e espécies
centivos para não poluir ainda mais o como as archaea metanogênica. O
meio ambiente. rúmen de um adulto ruminante con-
Os ruminantes, devido ao proces- tém 109-1010 células bacterianas/mL,
so digestivo de fermentação entérica, 105 a 106/mL de protozoários e, pelo
são reconhecidos como importantes menos, seis gêneros de fungos anaeró-
fontes de emissão de CH4 à atmosfera. bios (103 a 104 células/mL) (Hobson
Além disso, a produção desse gás, que e Stewart, 1997). Devido à importân-
pode variar em função do sistema de cia da fermentação ruminal, grande
alimentação, é considerada uma per- esforço tem sido dedicado a investigar
da da energia do alimento, refletindo métodos para manipular esse com-
em ineficiência na produção animal. plexo ecossistema. Uma vasta gama
Essas perdas de energia são estima- de aditivos tem sido investigada, mas,
das em cerca de 2 a 12% do consumo impulsionados por preferências do
de energia bruta ingerida ( Johnson e consumidor para sistemas de produ-
Johnson, 1995). ção mais “naturais”, estudos recentes
A fermentação microbiana dos ru- tendem a concentrar-se em extratos
minantes desempenha um papel im- de probióticos e plantas como mani-
portante em capacitar os ruminantes puladores de dietas destinadas a ru-
para utilizar os substratos fibrosos, minantes. Aqui, apresentamos dados
que fornecem ao animal hospedeiro sobre a importância da fermentação
uma gama substancial de nutrientes, no rúmen, tanto em termos de nutri-
necessários para a produção de carne ção do hospedeiro quanto no contex-
e de leite, além de potenciais consequ- to ambiental. Uma ampla quantidade
ências deletérias ambientais causadas de aditivos está disponível, dos quais
pela emissão de gases de efeito estufa os que se baseiam em probióticos têm
resultante da degradação de proteína sido de longe os mais bem-sucedidos
dietética, levando à excreção excessi- comercialmente. No entanto, recente-
va de nitrogênio (N) nas fezes e urina. mente é crescente a preocupação em
Adicionalmente, resulta na produção relação à possível propagação da re-
de CH4, um importante gás entre os sistência aos antibióticos, a partir de
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
animais, para a população estudos, quantitativos e
Autoridades
em geral. Assim, autori- qualitativos, sobre as po-
governamentais
dades governamentais pulações microbianas
têm proibido o uso
têm proibido o uso desses do rúmen. Acredita-se
desses antibióticos e/
antibióticos e/ou pro- ou promotores de que genes ribossomais
motores de crescimento crescimento em sistemas possam estar presen-
em sistemas de produção de produção animal, e tes em todas as células
animal, e isso tem levado a isso tem levado a um e ter regiões que per-
um interesse renovado na interesse renovado na mitem a utilização de
área de manipulação do área de manipulação do iniciadores (primers)
rúmen por métodos mais rúmen por métodos mais universais para ampli-
“naturais”. “naturais”. ficar todos os DNA ri-
Atualmente, estudos bossomais microbianos
com biologia molecular de uma amostra 16S
têm permitido consideráveis avanços na rRNA, típicos para estudar as bactérias,
identificação da microbiologia ruminal, e 18S rRNA, para estudar fungos e pro-
permitindo entender melhor seu fun- tozoários, altamente conservados, pos-
cionamento, e, dessa forma, novas abor- suindo regiões variáveis que nos permi-
dagens para a manipulação ruminal têm tem distinguir entre diferentes espécies
sido propostas. (Edwards et al., 2008). Assim, os usos de
Os estudos tradicionais em micro- tais técnicas vêm para ajudar ainda mais a
biologia ruminal têm contado com a ca- elucidar o modo e a ação desses extratos
pacidade de cultivar in vitro e caracterizar de plantas e fungos que vivem no rúmen.
os microrganismos do rúmen (Hobson Este artigo tem como objetivo revisar
e Stewart, 1997). No entanto, embora os mecanismos de síntese de metano en-
seja um progresso significativo dessas térico, assim como os fatores nutricionais
técnicas ao longo dos anos, tem se reco- que afetam sua produção e redução.
nhecido que apenas uma proporção rela-
tivamente pequena dos microrganismos 2. Digestão dos
é recuperada por tais técnicas, mostran- ruminantes: o processo
do que ainda estamos distantes de com- fisiológico, as perdas
preender as funções e as atividades da
grande maioria do ecossistema ruminal
energéticas e a produção
(Edwards et al., 2008). de metano
Recentemente, as técnicas molecu- Além das preocupações e pressões
lares baseadas na amplificação de genes ecológicas, a produção do metano con-
ribossomais têm permitido ambos os siste em uma forma de perda de energia
3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 47
digestível (2 a 12%) no sistema ruminal, piônico, ao passo que rações com alta
em virtude da perda de carbono, deter- proporção de alimentos volumosos
minando maior ou menor desempe- (carboidratos estruturais) favorecem
nho animal. A fermentação anaeróbia a produção de ácido acético. Durante
que ocorre durante o metabolismo a formação do ácido acético e butírico,
dos carboidratos no rúmen, efetuado há grande produção do gás de hidrogê-
pela população microbiana, conver- nio (H2); por outro lado, no processo
te os carboidratos em ácidos graxos fermentativo onde o produto resultan-
de cadeia curta, formando principal- te é o ácido propiônico, há “captura” de
mente o ácido acético, propiônico e H2 do meio ambiente. O H2 e o CO2
butírico. Devido a esse processo me- resultantes dos processos metabólicos
tabólico, produz-se calor, que é dis- são utilizados pelas bactérias para pro-
sipado como calor metabólico pela duzir metano, como se pode observar
superfície corporal, CO 2 e CH 4, que na reação abaixo e na Figura 1:
então são eliminados com os gases CO2 + 4H2 ----CH4 +2H2O
respiratórios. Isso resulta em uma relação in-
A proporção dos ácidos graxos versa altamente significativa entre
voláteis (AGVs) está diretamente liga- propionato:metano. Geralmente no
da à dieta, sendo que rações ricas em rúmen, as bactérias são encontradas
grãos (carboidratos solúveis) favore- aderidas aos protozoários ciliados,
cem a maior formação do ácido pro- mostrando uma relação de simbiose,

Plantas: polissacarídios
Celulose, hemicelulose, pecna, amido
Hidrólise por bactéria, fungo ou protozoário
Açúcar
H₂ Fermentação
Piruvato
Fermentação
H₂

H₂ Succinato H₂ Lactato
H₂ Formiato
CO₂
CO₂ H₂
H₂
metanogênese
Acetato Burato Propionato CH₂

Figura 1. Processo metabólico a partir de carboidrato para formação de metano.

48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


em que as archaeas metanogênicas, 3. Estratégias para
por utilizarem o H2 produzido pelos diminuição de metano
ciliados, favorecem a manutenção de
por ruminantes
um ambiente ruminal adequado ao
desenvolvimento desses mesmos mi- O fornecimento de dietas que pos-
crorganismos. Além disso, a presença suem maior quantidade de carboidratos
de H2 prejudica a fermentação e o rapidamente digestíveis, as manuten-
crescimento das archaeas. ções de altos níveis de ingestão, a utiliza-
A emissão de metano provenien- ção de forragens de melhor qualidade e
te de líquido ruminal pode variar em o melhoramento genético dos animais,
função do tipo de animal, nível de priorizando maior desempenho produ-
consumo de alimentos, processamen- tivo, podem reduzir a emissão de CH4.
Estratégias como a redução no número
to da forragem, adição
de animais no sistema
de lipídeos no rúmen, A emissão de metano de produção, bem como
suprimento de mine- proveniente de líquido criações que visam pro-
rais, manipulação da ruminal pode variar dução de carne, devido
microflora ruminal e em função do tipo ao acréscimo no de-
da digestibilidade dos de animal, nível de sempenho dos animais,
alimentos. Segundo consumo de alimentos, que resultam em menor
Pedreira (2004), a mé- processamento da permanência do animal
dia de emissão anual forragem, adição de no sistema, reduzem a
por categoria animal, lipídeos no rúmen, produção do gás durante
subdividindo o gado suprimento de minerais, o ciclo de vida. Porém, a
de corte em fêmeas manipulação da estratégia de inclusão de
adultas, machos adul- microflora ruminal. grãos à dieta, para balan-
tos e jovens, e o gado ceá-la, leva a um incre-
de leite, é de: 58, 57, 42, 57 kg, respec- mento muito maior da emissão de CO
2
tivamente. Esses dados, por serem de proveniente da queima de energia fóssil
animais de países temperados, subesti- pelas máquinas envolvidas nos processos
mam os resultados de estudos realiza- de produção e transporte desses alimen-
dos pelo pesquisador Odo Primavesi, tos, e pode ser causa também de geração
da Embrapa Pecuária Sudeste, em regi- de óxido nitroso (25 vezes mais potente
ões tropicais, uma vez que as forrageiras em reter calor que o CH4), oriundo do
utilizadas são distintas, apresentando nitrato gerado pelos fertilizantes nitro-
maiores conteúdos de parede celulares e genados aplicados nas lavouras de grãos
menores taxas de digestibilidade. e pastagens.
3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 49
Com base nisso, tem sido proposta a pendente da quantidade e da fonte de
utilização de vários recursos alimentares lipídio.
que podem reduzir a emissão de CH4 A recomendação geral é que a gor-
pelos ruminantes para o meio ambiente: dura não exceda 6 a 7% da matéria seca
Lipídeos insaturados: Atua exer- (MS) da dieta ( Jenkins, 1993; Doreau
cendo ação deletéria sobre as archaeas et al., 1997; NRC, 2001). Em geral, os
metanogênicas e protozoários, além ácidos graxos insaturados e os de cadeia
de consumir H2 pelo processo de bio- curta a média apresentam maiores efei-
-hidrogenação, sendo que a intensidade tos na fermentação ruminal do que os
com que ocorre a inibição da produção saturados e os ácidos graxos de cadeia
de CH4 é determinada pelo grau de sa- longa, respectivamente, enquanto os
turação da gordura utilizada e a quanti- sabões de cálcio apresentam mínimos
dade suplementada. No entanto, alguns efeitos sobre a fermentação ruminal
pesquisadores citam que a utilização de (Nagaraja et al., 1997). Os ácidos graxos
alimentos comumente fornecidos na insaturados possuem uma ou mais du-
dieta animal pode apresentar baixa efi- plas ligações, são geralmente líquidos à
ciência como aceptor de elétrons, redu- temperatura ambiente e estão presentes
zindo de forma insignificante a metano- em alta concentração em óleos de ori-
gênese, inviabilizando assim o emprego gem vegetal. Por outro lado, os ácidos
da técnica. A suplementação da dieta graxos saturados não possuem duplas li-
de ruminantes com lipídios é realizada gações, são geralmente sólidos à tempe-
para aumentar a densidade energética ratura ambiente e prevalecem em fontes
da dieta, geralmente com baixo custo, e de origem animal. Como fonte de ácidos
para manipular a fermentação ruminal graxos insaturados tem se explorado a
por meio da alteração na digestão e ab- utilização da canola com 60% de ácido
sorção dos nutrientes. O fornecimento oleico (C18:1), da soja com 50% de li-
de lipídios aos ruminantes geralmente noleico (C18:2) e da linhaça com 47%
provoca redução na digestibilidade da de linolênico (C18:3). Adicionalmente,
fibra. De acordo com Jenkins (1993), a o óleo de coco e o óleo de palma, apesar
digestão dos carboidratos fibrosos pode de serem fontes de origem vegetal, pos-
ser reduzida em até 50% com a adição suem ácidos graxos saturados com 45%
de menos de 10% de lipídios na dieta. de ácido láurico (C12:0) e 40% de pal-
Além disso, ocorre decréscimo na con- mítico (C16:0), respectivamente, po-
centração de protozoários, aumento dendo também serem usados para ma-
no conteúdo de ácidos graxos voláteis nipular a fermentação ruminal (Hristov
e redução na produção de metano no et al., 2003).
rúmen, sendo esse comportamento de- Vários mecanismos têm sido atri-
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
buídos para explicar como os lipídios monensina seleciona as bactérias gram-
interferem na população microbiana e -negativas, que são produtoras de pro-
na fermentação ruminal (Devendra e pionato, em detrimento das gram-posi-
Lewis, 1974). No entanto, o efeito anti- tivas, que são as principais produtoras
microbiano e a teoria do “revestimento” de acetato e butirato, além de diminuir
da partícula de alimento têm recebido as archaea metanogênicas. No entanto,
maior atenção ( Jenkins, 1993; Nagaraja Johnson e Johnson (1995) citam que
et al., 1997). A adsorção dos ácidos gra- os microrganismos podem desenvol-
xos livres à partícula de alimento inibe ver mecanismos de resistência após 30
o contato direto das células microbianas dias de sua administração. A inclusão
com o substrato ou a ligação das celula- de ionóforos na dieta tem aumenta-
ses bacterianas à celulose, diminuindo do a eficiência alimentar, enquanto os
a captação de aminoácidos e a produ- efeitos no ganho de peso e no consumo
ção de ATP pela bactéria (Galbraith e de alimento têm sido variáveis. Já em
Miller, 1973). Isso leva a uma redução animais alimentados com dietas com
na digestão dos nutrien- alta quantidade de con-
tes e a um decréscimo Ionóforos, centrado, geralmente
no crescimento micro- principalmente a observa-se redução no
biano (Henderson et al., monensina, são consumo de alimento,
1973; Maczulak et al., aditivos empregados aumento ou não alte-
1981). O crescimento na alimentação de ração no ganho de peso
de bactérias celulolí- ruminantes que podem e aumento na eficiência
ticas é mais reduzido reduzir a produção de alimentar (consumo/
do que as amilolíticas CH4. ganho). Todavia, em
(Galbraith et al., 1971; animais em pastagem,
Maczulak et al., 1981). a monensina não reduz
Em geral, observa-se que os lipídios o consumo de alimento e o ganho de
diminuem a atividade fibrolítica no rú- peso é aumentado, também como con-
men (Tesfa,1992). O ácido graxo oleico sequência de um aumento na eficiência
foi potente inibidor também das archa- alimentar. A redução ou modulação do
ea metanogênicas. consumo de alimento tem sido obser-
Ionóforos: Os ionóforos, princi- vada, principalmente com monensina
palmente a monensina, são aditivos em- (Goodrich et al., 1984; Schelling, 1984;
pregados na alimentação de ruminantes Oliveira et al., 2005), enquanto outros
que podem reduzir a produção de CH4 ionóforos, como lasalocida, salinomi-
em 25% e a ingestão de alimentos, em cina, laidlomicina propionato, geral-
4%, sem afetar o desempenho animal. A mente não afetam ou podem aumentar
3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 51
o consumo de alimento (Spires et al., insetos e microrganismos, que por pos-
1990). O consistente efeito negativo da suir efeito direto sobre as archaea meta-
monensina no consumo de alimento le- nogênicas, evidenciado pelo acúmulo
vou o NRC (1996) a recomendar que o de H2, é considerado um potencial re-
consumo de matéria seca estimado seja dutor de CH4, mesmo quando presente
diminuído em 4% quando se procede à em pequenas quantidades. Apresenta
suplementação com 27,5 a 33 ppm de como vantagens não causar efeito nega-
monensina. Os mecanismos de redu- tivo sobre a digestão ou saúde animal e
ção do consumo de alimento quando se aparentemente não ocorrer adaptação à
utiliza monensina não são bem entendi- substância.
dos. Em animais alimentados com dieta Estímulo da via acetonogênica: É
volumosa, o decréscimo no consumo um processo em que o CO2 é reduzido
pode ser parcialmente explicado pela utilizando-se o H2 presente no meio para
diminuição na taxa de turnover de sóli- produzir acetato, fonte de energia pron-
dos e líquidos no rúmen e consequente tamente disponível para o ruminante.
aumento do enchimento ruminal (Allen Além disso, consiste em um processo
e Harrison, 1979), enquanto a reduzida natural, que não deixa resíduos no leite
motilidade ruminal induzida pela mo- e carne, sem causar resistência aos pro-
nensina pode ser a causa da diminui- dutos pelos consumidores. Entretanto é
ção do turnover ruminal (Deswysen et dificultado pela metanogênese que, por
al., 1987). Em média, possuir maior afinidade
recomenda-se para bo- 9,10-antraquinona por elétrons, impede a
vinos 33 ppm ou 200 é considerado um competição.
mg/dia de monensina potencial redutor de Extratos naturais
como dose ótima para CH 4
. de plantas: A utiliza-
a obtenção da melhor ção de forragens com
resposta no desempenho (Potter et al., presença de compostos
1976; Wilkinson et al., 1980; Goodrich secundários constitui-se em possibili-
et al., 1984), na eficiência alimentar dades naturais para modificar a fermen-
(Potter et al., 1976), no padrão de fer- tação ruminal. Várias plantas apresen-
mentação ruminal (Potter et al., 1976; tam esses compostos secundários que
Raun et al., 1976), menor produção de protegem do ataque dos fungos, bacté-
metano (O’Kelly e Spiers, 1992) e me- rias, herbívoros e insetos. Saponinas e
nor incidência de timpanismo (May, taninos presentes em algumas plantas
1990). tropicais podem atuar nesse processo.
9,10-antraquinona: Composto de Quando fornecidos em altos níveis, es-
ocorrência natural em algumas plantas, ses compostos podem ter efeitos adver-
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
sos na população microbiana ruminal trabalhos mostrando um decréscimo
e na saúde animal, enquanto em baixos somente na atividade dos protozoá-
níveis apresentam potencial para me- rios, 7 trabalhos não indicando efeito,
lhorar a fermentação ruminal. Esses e 3 trabalhos em que se observou efeito
compostos podem ser fornecidos aos positivo das saponinas nos protozoários
animais diretamente pelo alimento ou ruminais. Os autores chamam atenção
por extratos retirados industrialmente para o fato de que a maioria dos traba-
desses alimentos e adicionados à dieta lhos que demonstraram efeito antipro-
dos animais. O tanino condensado, um tozoário das saponinas foram realizados
composto de defesa produzido pelo me- in vitro, devendo-se esses resultados
tabolismo secundário das plantas, tam- serem avaliados com cuidado por nem
bém vem sendo reportado pela litera- sempre serem consistentes com os re-
tura, apresentando resultados bastante sultados in vivo.
promissores, indicando possível efeito Aditivos microbianos: O uso de
deletério do tanino condensado sobre aditivos contendo células vivas de mi-
as archaea metanogênicas. crorganismos e/ou seus metabólitos
Saponinas: Saponinas são glicosíd- tem aumentado em resposta à demanda
ios presentes naturalmente em plantas pelo uso de substâncias “naturais” pro-
de Medicago sativa (alfafa), Brachiaria motoras do crescimento que melhorem
decumbens, entre outras forrageiras. a eficiência da produção em ruminantes.
Essas substâncias têm sido pesquisa- A suplementação com microrganismos
das como inibidores do benéficos espera preve-
crescimento de proto- Saponinas moduladores nir o estabelecimento
zoários ruminais, bem da fermentação ruminal de microrganismos in-
como moduladores da em bovinos. desejáveis à microflora
fermentação ruminal normal do trato diges-
em bovinos. O uso das saponinas leva tivo, procedimento denominado de
secundariamente à redução na produ- “probióticos”. Vários casos de aumento
ção de amônia, aumento na utilização no desempenho animal são documenta-
do N da dieta, aumento na eficiência dos na literatura quando os ruminantes
de síntese de proteína microbiana, mu- foram suplementados com aditivos mi-
dança no perfil de ácidos graxos voláteis crobianos. Os mecanismos propostos
e diminuição na produção de metano. para o aumento no desempenho animal
Em uma revisão realizada por Wina et estão relacionados com a produção de
al. (2005), os autores citam 28 traba- compostos antimicrobianos (ácidos,
lhos em que as saponinas provocaram bacteriocinas, antibióticos). Além disso,
redução no número de protozoários, 8 tem-se a competição com organismos

3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 53
indesejáveis pela colonização do subs- resposta à suplementação com A. oryzae
trato, produção de nutrientes e outros parece ser maior no início da lactação
fatores de crescimento estimuladores do que no meio ou fim (Wallentine et
de microrganismos desejáveis no trato al., 1986; Kellems et al., 1987; Denigan
digestivo, produção ou estímulo de en- et al., 1992). De acordo com Huber et
zimas, metabolismo ou detoxificação al. (1985), uma maior produção de leite
de compostos indesejáveis, estímulo de ocorreu quando a suplementação com
resposta imune no animal hospedeiro, fungos esteve associada a uma dieta
produção de nutrientes (aminoácidos, com maior quantidade de concentrado
vitaminas) ou outros fatores estimula- na dieta.
dores do crescimento do animal hos- Levedura (Saccharomyce cerevisiae):
pedeiro (Fuller, 1989). O exemplo de As leveduras são fungos unicelulares, es-
maior sucesso de manipulação da fer- pecialmente do gênero Saccharomyces,
mentação ruminal com a inoculação de tradicionalmente utilizados na fermen-
bactérias é a inativação do 3-hidroxi- tação do açúcar para consumo huma-
-4(H)-piridona (DHP) pela bactéria no e ultimamente empregados como
Synergistes jonesii, isoladas de cabras aditivos em suplementos alimentares
do Havaí foram adaptados à forrageira para ruminantes. Na média, os dados
tropical Leucaena leucocephala ( Jones e publicados indicam que os aditivos mi-
Megarrity, 1986). Essa forrageira con- crobianos apresentam efeito positivo
tém um aminoácido não proteico cha- sobre a produção de leite e o ganho de
mado mimosina, que, quando consumi- peso numa magnitude semelhante aos
da por animais não adaptados, o DHP ionóforos (7% de aumento) (Wallace e
liberado no rúmen causa efeitos gastro- Newbold, 1993). Alterações no consu-
gênicos no animal. O organismo S. jone- mo de alimento, na fermentação rumi-
sii responsável pela detoxicação, quando nal e na digestão são as prováveis res-
inoculado e estabelecido no rúmen de ponsáveis pelo aumento na produção.
animais australianos, conferiu proteção Os mecanismos pelos quais a levedura
à toxicidade do DHP (Allison et al., favorece o aumento da população de
1990). Extratos e culturas vivas dos fun- bactérias ainda não estão bem estabe-
gos Aspergillus oryzae e, principalmente lecidos, podendo ser consequência de
de Saccharomyces cerevisiae, também são um aumento na remoção de O2 do am-
explorados como agentes de manipula- biente ruminal (Newbold et al., 1996),
ção ruminal. A utilização de Aspergillus pois se sabe que as bactérias celulolíticas
oryzae na dieta tem gerado muito inte- são extremamente sensíveis ao oxigênio.
resse, mas existem poucas informações Segundo afirmam Roger et al. (1990), a
sobre o modo de ação de Aspergillus. A remoção do oxigênio adsorvido pelas
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
partículas de alimento que entram no fornecem vitaminas que favorecem o
rúmen pode contribuir para melhorar crescimento de Neocallimastix frontalis
a colonização do substrato e aumentar (Chaucheyras et al., 1995b) e de proto-
a digestibilidade, uma vez que o oxigê- zoários no rúmen de novilhos alimen-
nio é prejudicial à ligação das bactérias tados com palha (Plata et al., 1994), os
ao substrato, sugerindo que a suplemen- quais contribuem para o aumento na di-
tação com levedura fornece fatores de gestão da fibra. Em adição, a suplemen-
crescimento solúveis, como ácidos or- tação com levedura pode estimular uma
gânicos, vitamina B e aminoácidos, que espécie de bactéria acetogênica “hidro-
são exigidos por certos grupos de mi- geniotrópica” hábil em usar o H2 para
crorganismos (Guerzoni e Succi, 1972). produção de acetato, em condições in
Extratos aquosos de S. cerevisiae estimu- vitro (Chaucheyras et al., 1995c). Essas
laram, em culturas puras, o crescimen- bactérias estão presentes em grande nú-
to e a atividade das bactérias utilizado- mero no rúmen de bezerros recém-nas-
ras de lactato (Nisbet e Martin, 1991; cidos, antes do estabelecimento da me-
Chaucheyras et al., 1995a, Rossi et al., tanogênese (Morvan et al.,1994), e em
1995). A causa desse estímulo parece bovinos alimentados com dietas com
ser o elevado conteúdo de ácido dicar- baixo volumoso (Leedle e Greening,
boxílico, principalmente ácido málico, 1988). Nas condições normais do rú-
nas leveduras (Nisbet e Martin, 1991), men, essas bactérias utilizam ineficien-
que serve de intermediário para a trans- temente o H2.
formação de lactato em propionato. Apesar da observação de que o im-
Dessa forma, o pH mais elevado, pacto do uso de levedura ou monensina
ou mais estável, pode colaborar para o na produtividade e nos parâmetros de
maior número de bactérias celulolíticas fermentação ruminal de vacas leiterias
e aumento na digestão da fibra com a foi pequeno, sugere-se que as leveduras
suplementação com culturas de fungos possam ser uma melhor opção quando
(Arambel e Klent, 1990; Mathieu et al., utilizadas em vacas com maior potencial
1996). Esse fato explica também o in- de consumo de matéria seca e/ou ine-
cremento observado na produção e pro- rente capacidade para produção de pro-
porção de propionato no rúmen (Miller- teína do leite. Já a monensina pode ser
Webster et al., 2002). Pelo efeito no pH mais apropriadamente usada em vacas
ruminal, trabalhos têm sugerido que os com menor potencial de consumo e/ou
efeitos das leveduras têm sido melhores inerente capacidade para produzir pro-
em dietas com alto concentrado em que teína do leite.
o pH é geralmente menor (Williams et β-glucana na dieta: Os efeitos
al.,1991; Mir e Mir, 1994). As leveduras benéficos da ingestão continuada de
3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 55
β-glucana podem diminuir os riscos de a produção de saliva e a ruminação,
doenças crônicas em humanos e ani- além de ser fonte de nutrientes, como
mais. Em estudo sobre a atividade bio- proteínas e minerais. Visando potencia-
lógica de polissacarídeos da parede ce- lizar a utilização dos alimentos fibrosos
lular de S. cerevisiae na alimentação de pelos ruminantes, pesquisas têm sido
suínos, Kogan e Kocher (2007) ressal- realizadas com o intuito de aumentar a
taram a importância do efeito protetor digestibilidade da MS. Uma das formas
da β-glucana ao organismo pelo estímu- encontradas para esse fim é aumentar a
lo ao sistema imune comum de muco- quantidade de enzimas fibrolíticas pre-
sas, que são áreas permanentemente sentes dentro do rúmen e do intestino,
expostas a patógenos. A β-glucana tem o que pode ser conseguido por meio da
se destacado entre os ingredientes utili- suplementação com enzimas fibrolíticas
zados para produção de alimentos fun- exógenas. A maioria das preparações
cionais (Tokunaka et al., 2002; Ramesh; comerciais enzimáticas é um produto
Tharanathan, 2003). Fragmentos ob- da fermentação fúngica, predominan-
tidos a partir dessa macromolécula, os temente das espécies Trichoderma e
oligossacarídeos, podem atuar como Aspergillus, e bacteriana, principalmente
prebióticos estimulando seletivamente Bacillus. A celulose e hemicelulose são
o crescimento de bactérias do trato in- os principais alvos das enzimas fibrolí-
testinal, e servindo de fonte energética ticas celulases e hemicelulases, respec-
para a microflora benéfica (Przemyslaw; tivamente. A aplicação de enzimas exó-
Piotr, 2003). genas a rações concentradas para vacas
Desde a descoberta das proprieda- leiteiras aumentou a eficiência alimen-
des benéficas da β-glucana para animais tar em 6 a 12%, dependendo do nível de
e humanos, inúmeros processos de iso- adição.
lamento e purificação desse polissacarí-
deo têm sido desenvolvidos (Freimund 4. Considerações finais
et al., 2003). No ecossistema anaeróbio do rú-
Enzimas fibrolíticas: O papel ele- men, os microrganismos fermentam
mentar dos volumosos é fornecer fi- carboidratos e proteína para obterem
bra, que é fonte de carboidratos usados nutrientes necessários para seu cresci-
como energia pelos microrganismos mento. Muitos dos produtos finais des-
ruminais. Os ácidos graxos voláteis pro- sa fermentação, como os ácidos graxos
duzidos durante o processo de fermen- voláteis e a proteína microbiana, são as
tação ruminal são a principal fonte de principais fontes de nutrientes (energia
energia para o animal. A fibra também e nitrogênio) para o ruminante. Em con-
é essencial para estimular a mastigação, trapartida, outros produtos da fermen-
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
tação, como calor, metano e amônia, 2. ALLISON, M.; HAMMOND, A.C.; JONES, R.J.
Detection of rumen bacteria that degrade toxic
representam perdas de energia e prote- dihydroxypridine compounds produced from
ína do alimento para o ambiente. Vários mimosine. Appl. Exp. Microbiol., v.56, p.590-594,
1990.
aditivos apresentam potencial para ma-
3. ARAMBEL, M. J., KENT, B. Effect of yeast culture
nipular o ambiente ruminal, diminuin- on nutrient digestibility and milk yield response in
do a excreção de compostos nitrogena- early- to midlactation dairy cows. J. Dairy Sci., v.73,
p.1560- 1563, 1990.
dos e a emissão de metano, que, além de 4. CHAUCHEYRAS, F. et al. Effects of a strain of
representarem ineficiência do processo Saccharomyces cerevisiae (Levucell SC), a micro-
bial additive for ruminants, on lactate metabolism
fermentativo do rúmen, se constituem in vitro. Canad. J. Microbiol., v.42, p.927-933, 1995a.
em importantes fontes de poluição am- 5. CHAUCHEYRAS, F. et al. Effects of live
biental. Dentre os aditivos, com exceção Saccharomyces cerevisiae cells on zoospore ger-
mination, growth, and cellulolytic activity of the
dos ionóforos, já se conhece o mecanis- rumen anaerobic fungus. Neocallimastix frontalis
mo de ação, mas ainda existe a necessi- MCH3. Current Microbiology, v.31, p.201-205,
1995b.
dade de mais estudos para estabelecer
6. CHAUCHEYRAS, F. et al. In vitro H2 utilization
níveis adequados de suplementação, in- by a ruminal acetogenic bacterium cultivated alone
terações aditivo:microbiologia com os or in association with an Archaea Methanogen is
stimulated by a probiotic strain of Saccharomyces
demais componentes da dieta, tipo de cerevisiae. Appl. Environ. Microbiol., v.61, p.3466-
dieta, tipo de animal e, principalmente, 3467, 1995c.

ação em longo prazo. Porém, a maioria 7. DENIGAN, M.E.; HUBER, J.T.; ALDHADRAMI,
G.; AL-DEHNEH, A. Influence of feeding varying
dos efeitos e mecanismos de ação foi es- levels of Amaferm on performance of lactating
dairy cows. J. Dairy Sci., v. 75, p. 1616-1621, 1992.
tabelecida in vitro, e a confirmação dos
8. DESWYSEN, A.G. Effect of monensin on volun-
resultados deve ser feita in vivo, determi- tary intake, eating and ruminating behavior and ru-
nando a resposta na produção animal e men motility of heifers fed corn silage. J. Anim. Sci.,
v. 64, p.827–834, 1987.
estabelecendo a relação custo:benefício
9. DEVENDRA, C.; LEWIS, D. Fat in the ruminant
na prática. Além disso, é necessário de- diet: a review. Ind. J. Anim. Sci., v.44, p.917-938,
terminar os efeitos do uso desses adi- 1974. DOREAU, M.; CHILLARD, Y. Digestion
and metabolism of dietary fat in farm animals. Br.
tivos na saúde humana, considerando, J. Nutr., v. 78, p. S15-S30, 1997.
entre outros fatores, resistência a bacté- 10. EDWARDS, J. E.; KINGSTON-SMITH, A. H.;
rias e efeito residual e transferência do JIMENEZ, H. R. et al. Dynamics of initial coloni-
zation of nonconserved perennial ryegrass by an-
princípio ativo através dos produtos de aerobic fungi in the bovine rumen. FEMS Microbiol
origem animal. Ecol., v. 66, p. 137-45, 2008.
11. FREIMUND, S.; SAUTER, M.; KÄPPELI, O.;
DUTLER, H. A new non-degrading isolation pro-
5. Referências cess for 1,3-β-D-glucan of high purity from baker’s
Bibliográficas yeast Saccharomyces cerevisiae. Carbohydrate
Polymers, Barking, v. 54, n. 2, p. 159-171, 2003.
1. ALLEN, J.D.; HARRISON, D.G. The effect of 12. FULLER, R. Probiotics in man and animals. J. App.
dietary addition of monensina upon digeston in Microbiol., v.66, p.365- 378, 1989.
the stomachs of sheep. Proceeding of the Nutrition
Society, n.38, p.32A, 1979. 13. GALBRAITH, H.; MILLER, T.B.; PATON, A.M.;

3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 57
THOMPSON, J.K. Antibacterial activity of long- 25. LONGO, C. Avaliação in vitro de leguminosas taní-
chain fatty acids and the reversal with calcium, feras tropicais para a mitigação de metano entérico.
magnesium, ergocalciferol and cholesterol. J. App. 2007. 154f. Tese (Doutorado em Zootecnia) -
Bacteriol., v.34, p.803-813, 1971. Faculdade de Ciências, Universidade de São Paulo,
Piracicaba.
14. GALBRAITH, H.; MILLER, T.B. Effect of long
chain fatty acids on bacterial respiration and amino 26. MACZULAK, A.E.; DEHORITY, B.A.;
acid uptake. J. App. Bacteriol., v.36, p.659-675, 1973. PALMQUIST, D.L. Effect of long-chain fatty ac-
ids on growth of rumen bacteria. Appl. Environ.
15. GOODRICH, R.D.; GARRETT, J. E.; GAST, D.R., Microbiol., v.42, p.856-862, 1981.
et al. Influence of monensin on the performance of
cattle. J. Anim. Sci., v.58, p.1484–98, 1984. 27. MATHIEU, F.; JOUANY, J. P.; SENAUD, J. et al.
The effect of Saccharomyces cerevisiae and Aspegillus
16. GUERZONI, E.; SUCCI, G. Identification of oryzae on fermentations in the rumen of faunated
a peptide, stimulant for acetic bacteria, pro- and defaunated sheep; protozoal and probiotic
duced by a strain of Saccharomyces cerevi- interactions. Reprod. Nutr. Dev., v. 36, p. 271-87,
siae. Ann. Microbiology, v.22, p.167-173, 1972. 1996.
HENDERSON, C. The effects of fatty acids on
pure cultures of rumen bacteria. J. Agric. Sci., v.81, 28. MAY, P.J. Controlling bloat with monensin in cat-
p.107-112, 1973. tle fed diets containing lupin seed. Proc. Aust. Soc.
Anim. Prod., v.18, p.517, 1990.
17. HOBSON, P. N.; STEWART, C. S. (Ed). The ru-
men microbial ecosystem. Reino Unido, 1997. 29. MILLER-WEBSTER, T; HOOVER, W.H.;
719p. HOLT, M.; NOCEK, J. E. Influence of yeast cul-
ture on ruminal microbial metabolism in continu-
18. HRISTOV, A.N.; IVAN, M.; NEILL, L.; ous culture. J. Dairy Sci., v.85, p.2009-2014, 2002.
MCALLISTER, T.A. et al. A survey of potential MIR, Z.; MIR, P. S. Effect of the addition of live
bioactive agents for reducing protozoal activity yeast (Saccharomyces cerevisiae) on growth and car-
in vitro. Anim. Feed Sci. Tech., v.105, p.163–184, cass quality of steers fed high-forage or high-grain
2003. HUBER, J. T.; HIGGINBOTHAM, G. E.; diets and on feed digestibility and in situ degrad-
WARE, D. Influence of feeding vitaferm, contain- ability. J. Anim. Sci., v. 72, p. 537-45, 1994.
ing an enzyme-producing culture from Aspergillus
oryzae, on performance of lactating cows. J. Dairy 30. MORVAN, B.; DORE, J.; RIEU-LESME, F.; et al.
Sci., v. 68(Suppl. 1), 1985. Establishment of hydrogen-utilizing bacteria in the
rumen of the newborn lamb. FEMS Microbioliol.
19. JENKINS, T.C. Lipidic metabolism in the rumen. J. Lett., v. 117, p.249-256, 1994.
Dairy Sci. v.76, p. 3851-63, 1993.
31. NAGARAJA, T.G.; NEWBOLD, C.J.; VAN
20. JOHNSON, K.A.; JOHNSON, D. E. Methane NEVEL, C.J. et al. Manipulation of ruminal fer-
emissions from cattle. J. Anim. Sci., v.73, p.2483-92, mentation In: HOBSON, N.P. (Ed).  Rumen
1995. microbial ecosystem. London: Blackie, 1997.
21. JONES, R. J.; MEGARRITY, R. G. Successful p.523-631.
transfer of DHP-degrading bacteria from Hawaiian 32. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC.
goats to Australian ruminants to overcome the Nutrient requeriments of dairy cattle. 7.rev.ed.
toxicity of Leucaena. Aust. Vet. J., v.63, p.259-262, Washinton, D.C. 2001. 381p.
1986.
33. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC.
22. KELLEMS, R. O.; JOHNSTON, N. P.; Nutrient Requirements of Beef Cattle. National
WALLENTINE, M. V; et al. Effect of feeding Academy Press, Washington, DC. 1996.
Aspergillus oryzae on performance of cows during
early lactation. J. Dairy Sci., v. 70 (Suppl. 1), 1987. 34.   NEWBOLD, C. J.; WALLACE, R. J.;
MCINTOSH, F. M. Mode of action of the yeast
23. KOGAN, G.; KOCHER, A. Role of yeast cell wall Saccharomyces cerevisiae as a feed additive for rumi-
polysaccharides in pig nutrition and health protec- nants. Br. J. Nutr., v. 76, p. 249-61, 1996.
tion. Livestock Science, v. 109, p. 161-165, 2007.
35. NISBET, D.J.; MARTIN, S.A. Effect of a
24. LEEDLE, J.A.Z.; GREENING, R.C. Posprandial Saccharomyces cerevisiae culture on lactate utiliza-
changes in methanogenic and acidogenic bacteria tion by the ruminal bacterium Selenomonas rumi-
in the rumens of steers fed high- or low-forage diets nantium. J. Anim. Sci., v.69, p.4628-4633, 1991.
once daily. Appl. Environ. Microbiol., v.54, p.502-
506, 1988. 36. O’KELLY, J. C.; SPIERS, W. G. Effect of monensin

58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


on methane and heat productions of steers fed lu- FAO, 2006. Disponível em: <http://www.fao.org/
cerne hay either ad libitum or at the rate of 250 g/h. ag/magazinr/0612sp1.htm>. Acessado em: 15
Aust. J. Agric. Res., v.43, p. 1789-93, 1992. ago. 2014.
37. PEDREIRA, M.S. Estimativa da produção de metano 48. TESFA, A.T. Effects of rapeseed oil on rumen en-
de origem ruminal por bovinos tendo como base a utili- zyme activity and in sacco degradation of grass si-
zação de alimentos volumosos: utilização da metodo- lage. Anim. Feed Sci. Tech., v.36, p.77-89, 1992.
logia do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6).
49. TOKUNAKA, K.; OHNO, N.; ADACHI, Y.;
2004. 169f. Tese (Doutorado em Zootecnia) MIURA, N.N.; YADOMAE, T. Application of
- Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Candida solubilized cell wall β-glucan in antitumor
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal. immunotherapy against P815 mastocytoma in
38. PLATA, P. F.; MENDONZA, G. D.; BARCENA- mice. Interl Immunopharmacology, v.2, n. 1, p.59-67,
GAMA, J. R.; GONZALEZ, S. Effect of a yeast 2002.
culture (Saccharomyces cerevisiae) on neutral de- 50. UNITED STATES ENVIROMENTAL
tergent fiber digestion in steers fed oat straw based PROTECTION AGENCY – USEPA. 2004.
diets. Anim. Feed Sci., v. 49, p. 203-10, 1994. Evaluating Ruminant Livestock Efficiency Projects
39. POTTER, E.L.; RAUN, A.P.; COOLEY, C.O.; et and Programs In: Peer Review
al. Effect of monensin on carcass characteristics, 51. Draf. Washington, D.C., 200, 48p.
carcass composition and efficiency of convert-
ing feed to carcass. J. Anim. Sci., v.43, p.678–683, 52. WALLACE, R. J.; NEWBOLD, C. J. Rumen fer-
1976. PRIMAVESI, O.; FRIGHETTO, R.T.S.; mentation and its manipulation: the development of
PEDREIRA, M.S. et al. Metano entérico de bo- yeast cultures as feed additives. In: T. P. Lyons (Ed.)
vinos leiteiros em condições tropicais brasileiras. Biotechnology in the Feed Industry. p. 173. Alltech
Pesq. agropec. bras. v. 39, n.3, p. 277-83, 2004a. Technical Publications, Nicholasville, 1993.
40. PRZEMYSLAW, J. T.; PIOTR, T. Probiotics and 53. WALLENTINE, M. V.; JOHNSTON, N.
Prebiotics. Cereal Chemistry, v. 80, n. 2, p. 113-117, P.; ANDRUS, D.; et al. The effect of fecding
2003. Aspergillus oryme culture-vitamin mix on the per-
formance of lactating dairy cows during periods of
41. RAMESH, H. P.; THARANATHAN, R. N. heat stress. J. Dairy Sci., v. 69 (Suppl. 1), 1986.
Carbohydrates – The renewable raw materials of
high biotechnological value. Crit. Rev. Biotechnol., v. 54. WILKINSON, J.I.D. et al. The use of monensin in
23, n. 2, p. 149-173, 2003. European pasture cattle. Anim. Prod., v.31, p.159–
62, 1980.
42. RAUN, A.P.; COOLEY, E.L.; POTTER, R.P. et
al. Effect of monensin on feed efficiency of feedlot 55. WILLIAMS, P.E.; TAIT, C.A.; INNES, G.M.;
cattle. J. Anim. Sci., v.43, p.670–677, 1976. NEWBOLD, C.J. Effects of the inclusion of yeast
culture (Saccharomyces cerevisiae plus growth medi-
43. ROGER, V. et al. Effects of physiochemical fac- um) in the diet of dairy cows on milk yield and for-
tors on the adhesion to cellulose Avicel of the age degradation and fermentation patterns in the
rumen bacteria Ruminococcus flavefaciens and rumen of steers. J. Anim. Sci. v. 69, p. 3016-26, 1991.
Fibrobacter succinogenes. Appl. Environ. Microbiol.,
56. WINA, E., MUETZEL, S., BECKER, K. The im-
v.56, p.3081-3087, 1990. pact of saponins or saponin-containing plant ma-
44. ROSSI, F. et al. Effect of a Saccharomyces cerevi- terials on ruminant production - A review. J. Agric.
siae culture on growth and lactate utilization by Food Chem., v. 53, p. 8093-8105, 2005.
the ruminal bacterium Megasphaera elsdenii. Ann. 57. ZEN, S.; BARIONI, L. G.; BONATO, D. B. B.
Zootech., v.44, p.403-409, 1995. Pecuária de corte brasileira: impactos ambientais e
45. SCHELLING, G.T. Monensin mode of action in emissões de gases de efeito estufa. Piracicaba São
the rumen. J. Anim. Sci., v.58, p.1518-1527, 1984. Paulo, 2008. Disponível em: <http://cepea.esalq.
usp.br/pdf/Cepea_Carbono_pecuaria_SumExec.
46. SPIRES, H.R.; OLMSTED, A.; BERGER, L.L., et pdf> Acessado em: 15 ago. 2014.
al. Efficacy of la aidlomycin propionate for increas-
ing rate and efficiency of gain by feedlot cattle. J.
Anim. Sci., v.68, p.3382-91, 1990.
47. STEINFELD, H. et al. Livestock´s long shadow:
environmental issues and options. Food and
Agriculture Organization of the United States-

3. Redução da emissão de metano pelos ruminantes: o papel de aditivos, fatores nutricionais e alimentos 59
4. Melhoria da
eficiência ruminal:
Inoculação de
bactérias
Heloisa Carneiro1,*, PhD - CRMV-MG ZO512
Marcio Roberto Silva1, Dr. - CRMV-MG 5558
Ernesto Vega Canizares2, Dr. Veterinário
Letícia Scafutto de Faria3
Gabrielle Dantas Sampedro3
* Email para contato: heloisa.carneiro@embrapa.br
1
Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite
2
Pesquisador do Centro Nacional de Sanidad Agropecuaria, Mayabeque, CUBA
3
Estagiária da Embrapa Gado de Leite

1. Introdução de resíduos agrícolas, o cultivo de arroz


em campos inundados e a criação de ru-
Atualmente, a medição dos gases minantes em larga escala são exemplos
causadores do efeito estufa, como gás de atividades agrícolas que contribuem
metano (CH4), dióxido de carbono para as emissões antrópicas de gases
(CO2) e óxido nítrico (N2O), é uma de efeito estufa. Os microrganismos
prática usual em várias regiões do mun- existentes no estômago de ruminantes
do. O uso intensivo dos solos, a queima degradam os alimentos da dieta para
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
a sua sobrevivência e 0,74g CH4/dia/kg
O CH4 é um dos
multiplicação. O CH4
coprodutos da fermentação de peso vivo (PV),
é um dos coprodutos e valores anuais de
da dieta no estômago
da fermentação da die- 51 a 140 kg de CH4/
desses animais.
ta no estômago desses cabeça, dependendo
animais. Estudos sobre da raça, da categoria
o CH4 expelido da respiração de bovi- animal, da estação do ano e do tipo de
nos, ovinos e caprinos têm sido con- alimentação. O processo fermentativo
siderados de suma importância pelos dos ruminantes, através da degradação
governos dos países desenvolvidos, por- da matéria orgânica, produz o CH4, que
que os ruminantes são responsáveis por é considerado responsável por grande
aproximadamente 90% do CH4 emitido parte da perda de energia durante o pro-
para a biosfera1,2. Consequentemente, cesso de digestão. Desenvolver dietas
os países que aderiram ao protocolo de e estratégias para evitar tais perdas é o
Kyoto estão procurando estudar for- grande desafio nos sistemas produtivos
mas de manipular dietas de ruminantes de ruminantes, pois, além de significar
para reduzir essa emissão de metano3,4,5. maior eficiência produtiva, ainda reduz
No Brasil, poucas informações locais a contribuição negativa da pecuária para
existem sobre o potencial de emissão o aquecimento global. CH4 entérico,
de metano dos nossos rebanhos, prin- produzido em grandes quantidades por
cipalmente daqueles formados predo- sistemas de produção de ruminantes,
minantemente por animais mestiços representa simultaneamente um atribu-
Holandês-Zebu, que são a base da maio- to importante para estimar a quantidade
ria dos rebanhos leiteiros nacionais. de gases com efeito de estufa ou as per-
Recentes esforços têm sido despendi- das de energia pelo animal. Esse metano
dos pela Embrapa Gado de Leite em é produzido por um grupo especializa-
parceria com Universidades, Institutos do de microrganismos, as Archaea me-
estaduais de pesquisa e com o apoio tanogênicas, que desenvolveram muitas
da EPA – Environmental Protection interações com vários outros grupos de
Agency, do governo americano, para microrganismos no rúmen. A produção
medir a emissão de metano por bovinos de hidrogênio e sua utilização tem um
em condições tropicais6, e juntos traba- papel central nessas interações. Várias
lham na busca por soluções para a miti- estratégias estão sendo desenvolvi-
gação do metano entérico, na tentativa das para controlar a produção de CH4
de amenizar os problemas ambientais. ruminal: primeiro, visam ao controle
Os valores médios gerados desses es- das Archaea metanogênicas; segundo,
tudos mostram uma variação de 0,41 a ao controle dos protozoários que são
4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 61
produtores de hidrogênio que será uti- desafio no sistema produtivo de rumi-
lizado pelas Archaea metanogênicas ou nantes é desenvolver dietas ou estraté-
outros grupos microbianos envolvidos gias de manejo que minimizem a produ-
no metabolismo de hidrogênio. Tais es- ção relativa desses gases, possibilitando
tratégias incluem a composição da die- maior eficiência produtiva e redução da
ta, o uso de suplementos alimentares, contribuição negativa da pecuária para
aditivos e biotecnologias. Neste artigo o aquecimento global. O CH4 represen-
serão apresentados os efeitos da adição ta entre 30 e 50% do total dos gases de
de microrganismos e seus efeitos sobre efeito estufa (GEE)7 emitidos a partir de
a eficiência ruminal e redução da emis- animais, principalmente de sistemas ex-
são de gás carbônico. tensivos de produção, que representam
a fonte mais importante, sendo respon-
2. A pecuária e o sáveis por cerca de 80% das emissões de
problema ambiental metano do setor8. A produção de CH4
A criação de ruminantes torna-se representa também uma perda de ener-
cada vez mais crescente, e o Brasil, por gia significativa para a produção animal
deter o maior rebanho comercial bovi- que varia de 2 a 12% do consumo de
no, vem sendo alvo de críticas relacio- energia bruta . Assim, diminuir a pro-
9

nadas ao aquecimento global, uma vez dução de CH4 entérico de ruminantes,


que a má qualidade das pastagens, ge- sem alterar a produção animal, é uma es-
ralmente degradadas, tratégia desejável tanto
influencia no potencial para redução das emis-
Qualidade das pastagens, sões globais de gases
de produção desses
geralmente degradadas, de efeito estufa quanto
animais e no aumen-
influencia no potencial de para a melhoria da efi-
to de produção desses
produção desses animais e ciência da conversão
gases de efeito estufa,
no aumento de produção alimentar.
como o gás metano
desses gases de efeito estufa,
(CH4) e o dióxido de A FAO previu, em
como o gás metano (CH4)
carbono (CO2). Esses 2006, que a demanda
e o dióxido de carbono
gases são resultado do mundial de carne e lei-
(CO2).
processo fermentativo te irá dobrar até 205010.
dos ruminantes, sendo Portanto, é necessário
esse processo essencial para a degrada- identificar tecnologias que ajudem a mi-
ção da matéria orgânica, e sabe-se que tigar as emissões de CH4 sem diminuir
o CH4 é considerado responsável por o número de ruminantes ou sua produ-
grande parte da perda de energia du- tividade. O CH4 produzido no rúmen
rante o processo metabólico. Por isso, o pertence a um grupo especializado de
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
microrganismos que brosos, entretanto a
A população microbiana
pertencem ao domínio fermentação do rúmen
no rúmen possui um
Archaea11. No entanto, tem um potencial dele-
papel importante para
a microbiota ruminal é tério ao meio ambien-
os ruminantes utilizarem
complexa e diversa, e te como resultado da
os substratos fibrosos,
muitos outros micror- quebra de nutrientes
entretanto a fermentação
ganismos podem inter-
do rúmen tem um potencial proteicos que leva à
ferir na produção desse
deletério ao meio ambiente. excreção de compos-
CH4, quer seja através tos através das fezes e
da promoção de um urina. Devido à gran-
ambiente inadequado para o desenvol- de emissão desses gases resultantes da
vimento das Archaea metanogênicas ou quebra dos nutrientes proteicos, algu-
através da introdução de microrganis- mas pesquisas vêm sendo desenvolvidas
mos que aumentam a eficiência ruminal na busca de manipular esse complexo
e reduzem a emissão desses gasses. ecossistema.
Este artigo mostra alguns resultados O rúmen compreende uma popula-
da introdução de microrganismos que ção muito densa e diversificada de mi-
aumentam a eficiência ruminal e redu- cróbios que abrange os três domínios
zem a emissão de gás carbono. da vida: Bactéria, Archaea e Eucariotos,
mostrados na Figura 1. Existe grande di-
3. O rúmen e sua versificação de bactérias, protozoários,
microbiota fungos e archaea no rúmen adulto. As
bactérias são predominantes, e contêm
de 109-1010 células bacterianas/mL do
BACTÉRIAS EUCARIOTOS conteúdo do rúmen ou 109-1010 célu-
las/mL, 105-106/mL de protozoário
e pelo menos seis gêneros de fungos
anaeróbicos, representando 103-104
células/mL12. Os eucariotos incluem
ARCHAEA
protozoários e fungos que podem re-
presentar uma parte importante da bio-
massa microbiana do rúmen. Esses mi-
Figura 1. Esquema mostrando a divisão da popu-
lação microbiana do rúmen nos três domínios da
crorganismos degradam e fermentam os
vida: Bactéria, Archaea e Eucariotos. alimentos ingeridos produzindo como
A população microbiana no rúmen produtos finais os ácidos graxos volá-
possui um papel importante para os teis (AGV) e CO2. As Archaea são es-
ruminantes utilizarem os substratos fi- sencialmente metanogênicas e utilizam
4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 63
principalmente CO2 e H2 produzidos ruminais que passam para o intestino
por outros micróbios para sintetizar o e ali são aproveitados. Fontes externas
CH4. Os microrganismos ruminais de- de nutrientes, tais como carboidratos
senvolveram diversas interações para e proteínas, são parcialmente degrada-
assegurar um funcionamento eficaz dos no rúmen e resultam na produção
que permite a transformação micro- de energia e nitrogênio para o animal,
biana dos componentes das plantas em mostrado na Figura 2. A celulose e ou-
produtos úteis para o animal hospedei- tros polissacarídeos, presentes na pa-
ro (AGV), o que significa cerca de 70 rede celular de vegetais, representam a
a 80% do total das necessidades caló- maior fonte de energia para os animais
ricas do animal hospedeiro por ener- herbívoros. A degradação da parede ce-
gia, devido à eficiente degradação dos lular pelos ruminantes é consequência
carboidratos pelos microrganismos do da simbiose entre muitos microrganis-
rúmen, que utilizam o N para seu de- mos anaeróbios presentes no rúmen,
senvolvimento. Os ruminantes têm a conforme ilustração.
habilidade única de subsistir e produ- As espécies bacterianas no rúmen
zir sem fonte de proteína dietética de- foram inicialmente identificadas por
vido à sintese dos microrganismos do isolamento de cultura, seguido por mé-
rúmen; geralmente contém entre 20 a todos moleculares que mais recente-
60% de sua matéria seca como prote- mente foram incluídos na abordagem
ína bruta que provém dos micróbios metagenoma13,14.

Plantas: polissacarídios
Celulose, hemicelulose, pecna, amido
Hidrólise por bactéria, fungo ou protozoário
Açúcar
H₂ Fermentação
Piruvato
Fermentação
H₂

H₂ Succinato H₂ Lactato
H₂ Formiato
CO₂
CO₂ H₂
H₂
metanogênese
Acetato Burato Propionato CH₂

Figura 2. Degradação dos polissacarídeos no rúmen.

64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


O número total de Uma revisão feita11
O número total de espécies
espécies é estimado
é estimado atualmente em a partir de 14 estudos
atualmente em mais identificou archaea
mais de 5.000.
de 5.000, com base no através das sequências
16S rDNA de diversi- de rDNA, incluindo
dade, embora muitos deles não tenham ovinos e bovinos em diferentes estágios
sido cultivados ainda15. Protozoários fisiológicos e recebendo diferentes die-
e fungos foram estimados por meio tas. Esses autores encontraram 92,3%
da contagem de 106 e 105 células ou dos metanogênicos em três subtipos
zoósporos/g do conteúdo do rúmen, principais: Methanobrevibacter (61,6%
respectivamente. A classificação mor- das sequências), Rumen Cluster C,
fológica identifica mais de 250 espécies também conhecida como linhagem
de ciliados no rúmen16, e seis gêneros de C,Thermoplasmales-associada (15,8%
fungos anaeróbios (Neocallimastigales das sequências) e Methanomicrobium
ordem) tendo sido descrita, mas esse (14,9% das sequências). Mas essa re-
número foi recentemente estendido17. gra está longe de ser sem exceções.
O número total de gêneros e espécies Sequências de novas espécies ainda não
de eucariotos presentes no rúmen são cultivadas foram mais abundantes no
ainda subestimados. Através dos méto- rúmen de caprinos ou ovelhas . Em
28 29

dos de cultura dependentes, estimou-se outros estudos com ovelhas, as metano-


a população Archaea metanogênica entre gênicas predominantes pertenciam ao
106 e 109 células/g de conteúdo rumi- gênero Methanosphaera . Vários fato-
30

nal18,19, porém os métodos moleculares res, tais como a espécie animal e a dieta,
têm frequentemente encontrado den- afetam a quantidade e a diversidade das
sidades metanogênicas de 109 ou supe- archaea do rúmen, além de outros fato-
res, tais como o meio ambiente, estágio
rior20. Cerca de 0,3 a 3,3% de sequências
fisiológico e idade do animal.
recuperadas de rDNA (16S e 18S), a
partir do rúmen, pertenciam ao domí-
nio Archaea21,22, e a maioria era Archaea
4. Como inicia o processo
metanogênicas23, com baixa densidade
de colonização do rúmen
e diversidade. As técnicas moleculares, de recém-nascidos?
tais como impressões digitais DGGE, Ao nascer, o trato digestivo do
mostraram um número limitado de ban- recém-nascido é estéril, mas é rapida-
das (<15) para cada animal, para rúmen mente colonizado por uma microbiota
de bovinos e ovinos24,25,26,27,28. Além dis- complexa, e essa colonização segue vá-
so, apenas sete espécies foram isoladas rias sucessões de ecologia microbiana. A
pela cultura. colonização do rúmen tem sido estuda-
4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 65
da principalmente através de técnicas de hidrogênio é eficaz nas primeiras horas
culturas31, e as abordagens moleculares de vida. No entanto, o seu número dimi-
só recentemente foram aplicadas32,33. Por nuiu enquanto aumentavam as Archaea
conseguinte, a diversidade taxonômica metanogênicas, o que indica que eles
e funcional da microbiota ruminal dos não podem autocompetir por H2 com
pré-ruminantes, bem como os fatores as metanogênicas H2 para limpesa34.
que controlam a sua criação ecológica, Observou-se o aparecimento de fungos
não são bem conhecidos. Bactérias celu- no rúmen durante a primeira semana
lolíticas cultiváveis aparecem durante os de vida em cordeiros35. Os protozoários
primeiros dias de vida e atingem 107-108 são os últimos a colonizar o rúmen, pois
células/mL no sétimo dia31, estando, as- requerem de antemão que a microbiota
sim, presentes em níveis populacionais bacteriana já esteja bem estabelecida36.
bem antes do desmame. Archaea me- Os protozoários Entodinium foram os
tanogênicas também foram detectados primeiros a colonizar e permaneceram
por métodos de cultura durante os três como gênero dominante na maioria dos
primeiros dias de vida em cordeiros, e animais36.
o seu estabelecimento, seguido das B.
celulolíticas34. Trabalhos recentes mos- 5. Como funcionam
traram que Archaea já estavam presen- as interações entre as
tes nos cordeiros nas primeiras 15 horas metanogênicas e outras
de vida, mas não puderam ser cultivadas populações microbianas
nas condições testadas32. Da mesma for-
ma que os adultos, M. ruminantium foi a
no rúmen?
espécie dominante nas primeiras horas O metano, no rúmen, é formado
de vida . Assim, os autores sugeriram
19,32 principalmente pelas Archaea hidroge-
que as metanogênicas adquiridas após o notróficas que ainda reduzem o CO2,
nascimento são mantidas durante todo utilizando H2 e, em certa medida, como
o desenvolvimento do rúmen e da vida. formiato de doadores de elétrons.37
Bactérias hidrogenotróficas são ca- Hungate demonstrou que cerca de 18%
pazes de utilizar o hidrogênio como um de metano no rúmen é formado a partir
agente redutor, ou seja, de formiato, e a maior
homoacetogênicas e parte do restante é for-
O metano, no rúmen, é
sulfato-redutoras são mado a partir de H2. As
formado principalmente
rapidamente coloniza- outras duas vias meta-
pelas Archaea
das no rúmen do re- nogênicas (acetoclásti-
hidrogenotróficas que
cém-nascido, sugerin- ca e metilotrófica) po-
ainda reduzem o CO2,
do que a produção de dem ocorrer no rúmen,
utilizando H2.
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
mas a sua contribuição para a produção tanto os metanogênicos como os proto-
de metano é menor38. Metanogênese zoários42. A remoção de hidrogênio per-
é, portanto, dependente da disponi- mite a fermentação de matéria orgânica,
bilidade de CO2 e H2 no rúmen. Uma principalmente, para formar o acetato e
interação positiva foi observada entre o CO2 à custa da produção de butirato e
os microrganismos produtores de H2 e lactato, resultando na produção de ATP
Archaea metanogênicas. mais eficiente pelo protozoário hospe-
deiro. Segundo Tokura et al. (1997)43,
6. Como funciona os protozoários também produzem uma
a transferência de quantidade considerável de formiato
hidrogênio entre as que também pode ser utilizado, em par-
Archaea metanogênicas, te, como um substrato para a produção
de metano. Os fungos ruminais também
protozoários e fungos? possuem hidrogenossomas específicos
As Archaea metanogênicas associa- para a produção de H2, e co-cultura de
das com protozoários podem represen- fungos e os metanogenos levaram a uma
tar até 25% do metano produzido no mudança nos produtos finais da fermen-
rúmen39. Diversos mecanismos podem tação, bem como no aumento na degra-
explicar a contribuição de protozoários dação da celulose pelos fungos. Isso in-
e a metanogênese: eles são altos pro- dica uma transferência eficaz benéfica
dutores de hidrogênio e servem como de H2 para ambos os microrganismos44.
hospedeiros das Archaea metanogênicas Os protozoários do rúmen não são
e as protegem da toxicidade do oxigê- essenciais para o animal, pois animais
nio. O hidrogênio é um defaunados (remoção
subproduto da fermen- As Archaea de protozoários do rú-
tação, que é produzida metanogênicas associadas men) usam uma gran-
em grandes quantida- com protozoários podem de variedade de técni-
des pelos protozoários representar até 25% do cas químicas e físicas,
em uma equivalente metano produzido no e têm sido amplamente
organela especializada rúmen. utilizados para estudar
para a mitocôndria dos o papel de protozoá-
eucariotas aeróbios: rios ciliados ruminais
o hidrogenossoma. Esse hidrogênio é e suas funções, e em particular o seu
utilizado pelos metanógenos endo e envolvimento na produção de metano.
ecto simbiótico40,41. Essa interação é Uma diminuição média de 10% de me-
um exemplo típico de transferência de tano é observada após defaunação, mas
hidrogênio inter-espécies, que favorece esse valor pode variar dependendo da

4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 67


dieta45. Segundo Eugàne et al. (2004)46, número de protozoários constitui uma
algumas alterações na estrutura da co- estratégia válida para mitigar metanogê-
munidade metanogênica e na orienta- nese do rúmen.
ção da fermentação no rúmen estão as-
sociadas à eliminação dos protozoários 7. Como funcionam as
e frequentemente com um aumento na interações entre Archaea
proporção de propionato à custa de ace- metanogênicas e as
tato e butirato. No estudo de Takenaka bactérias celulolíticas?
e Itabashi (1995)47, o número de b. me-
Os microrganismos que degradam
tanogênicos diminuíram 10 vezes após a
as fibras, e as bactérias celulolíticas em
defaunação. No entanto, esse resultado
particular, têm um papel importante no
não foi confirmado em outros estudos.
ecossistema ruminal. Eles são essenciais
O número de genes archaea por ml de
para o animal, que não pode degradar
conteúdo de rúmen foi dobrado após
as paredes celulares dos polissacarídeos
a defaunação em ovinos48, sem qual-
das plantas.
quer alteração na quantidade de meta-
A maioria das bactérias celulolíticas
no produzido. Consistentemente, um
produz hidrogênio como um produto
aumento no número de cópias do gene final de fermentação, que sob condi-
mcrA foi observado em ovelhas defau- ções fisiológicas normais, poderá ser
nadas durante 3 meses49 (Popova et al., rapidamente utilizado pelas Archaea
2011b) ou 2 anos50. Demonstrou-se metanogênicas. Essa transferência de
que a menor disponibilidade de H2 no hidrogênio inter-espécies (bactérias
rúmen dos carneiros defaunados afeta celulolíticas e Archaea metanogênica)
a metanogênese, reduzindo a expressão foi demostrada como sendo funda-
do gene funcional mcrA49. Na ausência mental para o funcionamento dos
de protozoários, a produção de metano ecossistemas anaeróbicos do rúmen50.
diminuiu e a população metanogênica Se essa transferência for afetada, a
foi 2,5 vezes menos ativa do que na pre- acumulação de hidrogênio no rúmen
sença de protozoários. Por conseguinte, inibe a reoxidação de
afigura-se que a remo- coenzimas envolvidas
ção de protozoários do Os microrganismos que em reações redoxes
rúmen diminui a me- degradam as fibras, e as no interior das célu-
tanogênese, afetando a bactérias celulolíticas em las bacterianas, que,
atividade metanogêni- particular, têm um papel em última análise,
ca e a diversidade em importante no ecossistema acaba deprimindo os
vez de o seu número. ruminal. Eles são essenciais processos de fermenta-
Assim, a redução do para o animal. ção. Essa é a razão pela
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
qual a metanogênese está intimamente como F succinogenes, pode ser uma al-
ligada à degradação da fibra vegetal no ternativa para diminuir as emissões de
rúmen. metano no rúmen, sem prejudicar a de-
gradação da fibra.
8. Como funciona
as interações entre 9. Estratégias de
as comunidades mitigação de Metano
fibrolíticas e as Archaea entérico
metanogênicas? São muitas as tentativas feitas para
O efeito da composição da comu- diminuir a produção de metano entéri-
nidade fibrolítica na produção de me- co no rúmen, uma série de estratégias
tano também tem sido investigado. tem sido utilizada, incluindo alterações
Incubações in vitro de conteúdo de rú- na composição da dieta, utilização de
men de cordeiros isolados com uma flo- produtos químicos, aditivos e extra-
ra controlada compararam tanto os pro- tos naturais de plantas. Infelizmente a
dutores de hidrogênio (Ruminococci maioria dessas estratégias ainda não é
e fungos) ou não produtores de hidro- amplamente utilizada devido à baixa efi-
gênio (Fibrobacter) e microrganismos cácia e seletividade, além da toxicidade
fibrolíticas metanogê- dos produtos químicos
nicos. Os resultados Uma dessas estratégias normalmente utiliza-
demonstraram que o de mitigação envolve dos para com o animal,
metano era produzido a introdução de ou o desenvolvimento
em quantidades mais microrganismos para de resistência micro-
elevadas do inóculo aumentar a eficiência biana aos anti-metano-
contendo a microbiota ruminal e reduzir a gênicos compostos ou
que produzia hidrogê- emissão de gases de efeito mesmo valor econômi-
nio através da celulo- estufa, como o metano e o co muito elevado. Várias
se51. Esses resultados gás carbônico. revisões de literatura
sugerem que a compo- recentes estão à dispo-
sição da comunidade sição do leitor, como
fibrolítica (produtores ou não produto- exemplo: Martin et al. (2010), Attwood et
res de hidrogênio) pode ter um impac- al. (2011), Buddle et al. (2011), Wright
to sobre a acumulação de hidrogênio e Klieve (2011), Goel e Makkar (2012)
e a produção de metano subsequente. e Wang et al. (2012) .
52, 53,54,55,56,57

Assim, a promoção dos microrganismos Uma dessas estratégias de mitigação


fibroliticos produtores de hidrogênio, envolve a introdução de microrganis-
mos para aumentar a eficiência ruminal
4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 69
e reduzir a emissão de gases de efeito es- capacidade desses animais em utilizar
tufa, como o metano e o gás carbônico. substratos fibrosos. No entanto, a fer-
Essas interações de microrganismos se- mentação ruminal também causa con-
rão mais detalhadas no tópico a seguir. sequências ambientais deletérias, como
a emissão de gases de efeito estufa e de-
10. A introdução de gradação de proteína dietética, levando
probióticos e prebióticos à excreção excessiva de N em fezes e
na tentativa de aumentar urina. Uma série de aditivos está sendo
a eficiência ruminal e investigada, e a tendência é concentrar-
-se em extratos de plantas e probióticos
reduzir a emissão de gás como manipuladores de rúmen. Um
carbônico e metano levantamento da literatura nas últimas
Probióticos - O termo probiótico duas décadas mostrou que as doses
surgiu na década de 1960 para descre- administradas variaram de 0,5 a 80g/
ver substâncias produzidas por orga- cabeça/dia de leveduras Saccharomyces
nismo que estimulava outro indivíduo. cerevisae mostradas na Tabela 1.
Newbold, em 199658, cita Parker (1974) As respostas ao uso de leveduras
como o primeiro a utilizar o termo para têm sido bastante variáveis e peque-
descrever aditivos alimentares que apre- nas, dependendo do processamento, da
sentavam efeito indireto e benefício ao cepa, da dose suplementada e da dieta.
hospedeiro, por atuar na microbiota do Os resultados encontrados demonstra-
trato digestivo. ram diminuição não significativa de 3
Em ruminantes, a fermentação mi- a 5 % ou nenhum efeito na produção
crobiana que ocorre no rúmen desem- de metano como uma percentagem da
penha um papel muito importante na matéria seca ingerida. No entanto, com
Tabela 1. Doses versus fonte da suplementação com Saccharomyces cerevisiae
Doses (g/MS) Material utilizado Fontes
10 YC; S. Cerevisiae Willians et al., 199159
2,5 Levedura S. cerevisiar Fiems et al., 199360
0, 6 e 60 S. cerevisiae Fiems et al., 199561
2, 4, 6, 8 e 10 S. cerevisiae Dolezal et al., 200562
20 e 80 S. cerevisiae Dobieki et al., 200763
0, 10, 20 e 30 S. cerevisiae Lomas e Pupiales, 200764
10 Levedura cepa KA 500 Menezes, 200865
0,10 e 30 S. cerevisiae Ribeiro, 201266
0,5 e 50 S. cerevisiae Pinloche et al., 201367

70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


o aumento do conhecimento dos meca- ruminal associado alimentando uma
nismos de ação das leveduras, poderá dieta à base de cereais e esta parece estar
ser possível predizer em que condições associada com uma diminuição na con-
dietéticas estas serão mais benéficas. centração de lactato ruminal72.
Num estudo compararam os efeitos da O pH ruminal é um dos mais impor-
suplementação com duas estirpes de tantes determinantes da função ruminal,
Saccharomyces cerevisiae em vacas lei- particularmente para as bactérias (rú-
teiras e, embora as estirpes influencias- men), fator que deixam de crescer em
sem os perfis de AGV do rúmen de uma pH 6,0 e abaixo73. O pH do rúmen cai
maneira diferente, nenhuma alteração como resultado da fermentação reforça-
significativa na produção de metano foi da devido ao aumento de concentrado
observada75. Alguns estudos mostraram na dieta. Essa queda inibe a degradação
que Saccharomyces cerevisiae pode esti- dos componentes fibrosos da dieta e é a
mular a produção de propionato à custa causa, em parte pelo menos, dos efeitos
de acetato51,69, ao passo que sugeriram associativos negativos entre forragens e
que essa levedura possa estimular o cres- concentrados. Tem sido sugerido que
cimento de bactérias acetogênicas, con- os aditivos com base em S. cerevisiae po-
sumindo H2 no rúmen51. Esses autores deriam ajudar a atenuar essa queda pós
mostraram previamente que o consumo alimentação do pH ruminal59, resultan-
de H2 por uma bactéria acetogênica em do em uma fermentação ruminal mais
co-cultura com uma estirpe metanogê- estável74.
nica foi estimulado por Saccharomyces Enfim, culturas vivas de S. cerevisiae
cerevisiae, mas o consumo de H2 e a pro- podem ajudar a evitar uma queda no
dução de metano pelas metanogênica pH pós alimentação em animais alimen-
não foram afetadas70. tados com dietas de concentrado, redu-
Culturas de leveduras com base em zindo assim a provável acidose clínica
Saccharomyces cerevisiae são amplamen- e subclínica. Isso parece ser devido à
te utilizadas em dietas de ruminantes. capacidade de a levedura seletivamente
Os produtos disponíveis variam am- estimular o crescimento de lactato utili-
plamente, como a cepa de S. cerevisiae zando Megaspharera e Selenomonas no
utilizada e o número e viabilidade de cé- rúmen.
lulas de levedura presentes. Observaram O uso de técnicas moleculares mo-
que nem todas as cepas de levedura dernas tem mostrado que leveduras não
são capazes de estimular a digestão no só estimulam a atividade bacteriana no
rúmen39,71. rúmen, mas também alteram a compo-
Certas cepas de S. cerevisiae podem sição da população bacteriana. Estamos
ajudar a prevenir a diminuição do pH agora usando as técnicas descritas para
4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 71
investigar o uso de leveduras, probióti- yacon em dietas com capim elefante e
cos e extratos de plantas para manipular capim braquiária aumentou a produção
a população microbiana no rúmen, a fim de CH4 e CO2, não funcionando como
de melhorar a produtividade e reduzir a mitigador de metano. Esse foi um es-
emissão de gases de efeito estufa. tudo preliminar in vitro que abordou o
Prebióticos - O yacon (Smallanthus potencial de prebiótico na mitigação de
sonchifolius), uma planta que produz raí- CH4 e CO2, e uma avaliação mais apro-
zes tuberosas semelhantes à batata-doce, fundada in vivo está sendo recomenda-
está sendo estudada por sua capacidade da79. Recentemente a mesma equipe,
prebiótica75,76,77. A planta produz raízes trabalhando em ensaios in vitro com a
tuberosas que armazenam FOS, em vez adição de Lactobacilus acidophilus em
de amido, como energia. A raiz contém doses crescentes na MS, não encontra-
0,3-3,7% proteína e 70-80% de matéria ram decréscimo na produção de CH4 e
seca em sacarídeos, principalmente FOS CO2.
com grau de polimerização de 09:57 Vacinas: Várias vacinas foram for-
(trissacarídeos-decasaccharides)78. Ao muladas até esta data80, mas os resul-
contrário de outras fontes comerciais de tados não se mostraram eficientes na
FOS, yacon é tão rica nesse ingrediente redução das emissões de metano54. As
prebiótico que uma dose eficaz pode ser razões foram, provavelmente, que as
assegurada por consumir uma quanti- vacinas não atigiram o alvo de todas
dade moderada de raiz. Outra caracte- as espécies metanogênicas presentes
rística importante é que o rendimento no rúmen. Pode-se especular que uma
de yacon no campo é superior a outras melhor proporção da população leva-
fontes convencionais75. Folhas e raízes ria a uma maior redução das emissões
dessa cultura possuem uma gama de de metano. No entanto, a diversidade
compostos bioativos e alguns com pro- de A. metanogenicas está sujeita a altera-
priedades antioxidantes, antiglicêmica, ções com o regime alimentar do animal
antibacteriana e antifúngica. hospedeiro, que faz com que a formula-
Recentemente, o yacon tem sido ção de uma vacina seja eficaz. Por outro
testado como mitigador de metano. lado, a adaptação de flora metanogênica
Porém a sua administração não tem é de se esperar, e deve ser considerando
contribuído para o decréscimo da pro- a fim de predizer a eficácia da vacina ao
dução de CH4 e CO2, comum forma de longo do tempo 53.
perda de energia por degradação rumi-
nal resultante da quebra de polissacarí- 11. Considerações finais
deos no rúmen. O controle comparado Há uma urgência em encontrar ma-
com o tratamento contendo até 70% do neiras para reduzir as emissões de meta-
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
no por ruminantes, sem alterar a produ- desses microrganismos no ecossistema
ção animal. Várias estratégias têm sido ruminal.
testadas, inclusive utilizando estratégias Independentemente das estratégias
nutricionais e vários aditivos. Essas es- utilizadas para mitigação de gases de
tratégias têm o alvo na efeito estufa, elas de-
inibição das Archaea Essas estratégias têm verão levar em conta
metanogênicas, na re- o alvo na inibição das aspectos ambientais,
dução de protozoários Archaea metanogênicas, sociais, econômicos e
(produtores de H2), na na redução de protozoários de saúde publica.
estimulação de outras (produtores de H2), na
vias que consomem H2
estimulação de outras Referências
disponível no ambien-
vias que consomem H2 bibliográfica
te ruminal ou na utili-
disponível no ambiente 1. CLARK, H,
ruminal ULYATT, M. J (2002): A
zação de várias destas Recalculation of Enteric
simultaneamente. Methane Emissions from New
Zealand Ruminants 1990-2000 with Updated
O desenvolvimento de novas abor- Emission Predictions for 2010. A report prepared
dagens exige esforços consideráveis for the Ministry of Agriculture and Forestry. June
2001.
para aumentar o conhecimento sobre o
ecossistema ruminal e principalmente 2. MARTIN, C.; MORGAVI, D.P.; DOREAU, M.
Methane mitigation in ruminants: from microbe
das Archaea metanogênicas, microrganis- to the farm scale. Animal, v. 4, p. 351–365, 2010.
mos que produzem metano.
Assim, a fim de diminuir a ativida- 3. GOVERDE, M.; BAZIN, A.; SHYKOFF, J.A. et al.
Influence of leaf chemistry of Lotus corniculatus
de metanogênica, mais pesquisas são (Fabaceae) on larval development of Polymmatus
icarus (Lepidoptera, Lycaenidae): effects of elevat-
necessárias para caracterizar e entender ed CO2 and plant genotype. Functional Ecology, v.
plenamente essa comunidade microbia- 13, p. 801-10,1999.
na. A introdução recente das tecnolo- 4. O’ HARA, P.; FRENEY, J.; ULYATT, M. J.
gias de sequenciamento permitirão a ca- Abatement of agricultural non-carbon dioxide
greenhouse gas emissions. A study of research re-
racterização de microbiomas ruminais e quirements. A report prepared for the Ministry of
conduzirão à melhor identificação das Agriculture and Forestry. Ministry of Agriculture
and Forestry, Wellington., 2003, 171p.
Archaea e outros microrganismos.
Estudos de reconstrução do geno- 5. KEBREAB, E.; STRATHE, A.; FADEL, J. et al.
Impact of dietary manipulation on nutrient flows
ma de Archaea a partir de dados do me- and greenhouse gas emissions in cattle. Rev. Bras.
tagenoma, bem como o sequenciamen- Zootec., v. 39, p. 458-64, 2010.
to do genoma de estirpes recentemente 6. LIMA, M. A.; PRIMAVESI, O; DEMARCHI,
isoladas, seriam também particularmen- J. J.A. A. Inventory improvements for methane
emissions from ruminants in Brasil. Jaguariúna,
te úteis para uma melhor compreensão SP: Embrapa, June 2005. 17p. (EPA Grant n.X-
do metabolismo, fisiologia e função 82926201-0. Final Report).

4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 73


7. STEINFELD, H.; GERBER, P.; WASSENAAR, acetogenic and sulfate-reducing bacteria and me-
T. et al. Livestock’s long shadow environmental thanogenic archaea from digestive tract of diffe-
issues and options, FAO, 2006 p. 390. rent mammals. Current Microbiology, v. 32, p. 129-
133, 1996.
8. 8. GILL, M.; SMITH, P.; WILKINSON, J.M.
Mitigating climate change: the role of domestic 19. SKILLMAN, L.C.; EVANS, P.N.; NAYLOR,
livestock. Animal, v. 4, p. 323-333, 2010. G.E., et al. 16S ribosomal DNA-directed PCR
primers for ruminal methanogens an d i den-
9. JOHNSON, K.A.; JOHNSON, D.E. Methane t i f i cat i o n of methanogens colonising young
emissions from cattle. J. Anim. Sci. v. 73, p. 2483- lambs. Anaerobe, v. 10, p. 277-285, 2004.
2492, 1995.
20. DENMAN, S.E.; TOMKINS, N.W.;
10. FAO, 2006. World agriculture: towards MCSWEENEY, C.S. Quantitation and diversity
2030/2050. Interim Report, Food and Agriculture analysis of ruminal methanogenic populations in
Organization of the United Nations, Global response to the antimethanogenic compound bro-
Perspective Studies Unit, Rome. mochloromethane. FEMS Microbiol. Ecol., v. 62, p.
313-322, 2007.
11. JANSSEN, P.H.; KIRS, M. Structure of the ar-
chaeal community of the rumen. Appl. Environ. 21. LIN, C.; RASKIN, L.; STAHL, D.A. Microbial
Microbiol., v. 74, p. 3619-3625, 2008. community structure in gastrointestinal tracts
of domestic animals: comparative analyses using
12. HOBSON, P. N.; STEWART, C. S. (Ed). The ru- rRNA-targeted oligonucleotide probes. FEMS
men microbial ecosystem. Reino Unido, 1997. Microbiol. Ecol., v. 22, p. 281-294, 1997.
719p.
22. SHARP, R.; ZIEMER, C.J.; STERN, M.D., et al.
13. BRULC, J.M.; ANTONOPOULOS, D.A.; Taxon-specific associations between protozoal
MILLER, M.E., et al. Gene-centric metagenom- and methanogen populations in the rumen and a
ics of the fiber- adherent bovine rumen microbi- model rumen system. FEMS Microbiol. Ecol., v. 26,
ome reveals forage specific glycoside hydrolases. p. 71-78, 1998.
Proc. Natl. Acad. Sci. USA, v. 106, p. 1948-1953,
2009. 23. YANAGITA, K.; KAMAGATA, Y.;
KAWAHARASAKI, M., et al. Phylogenetic
14. HESS, M.; SCZYRBA, A.; EGAN, R., et al. analysis of methanogens in sheep rumen ecosys-
Metagenomic discovery of biomass-degrading tem and detection of Methanomicrobium mobile
genes and genomes from cow rumen. Science, v. by fluorescence in situ hybridization. Bioscience,
331, p. 463-467, 2011. Biotechnology, and Biochemistry, v. 64, p. 1737-
1742, 2000.
15. KIM, M.; MORRISON, M.; YU, Z. Status of the
phylogenetic diversity census of ruminal micro- 24. WRIGHT, A.-D.; MA, X.; OBISPO, N.
biomes. FEMS Microbiology Ecology, v. 76, p. 49- Methanobrevibacter Phylotypes are the Dominant
63, 2011. Methanogens in Sheep from Venezuela. Microbiol.
Ecol., v. 56, p. 390-394, 2008.
16. WILLIAMS, A.G.; COLEMAN, G.S., 1992. The
rumen protozoa. Springer-Verlag New York Inc., 25. POPOVA, M.; MARTIN, C.; EUGÈNE, M., et al.
New York. Effect of fibre- and starch-rich finishing diets on
methanogenic Archaea diversity and activity in
17. KITTELMANN, S.; NAYLOR, G.E.; the rumen of feedlot bulls. Animal Feed Science
KOOLAARD, J.P., et al. A proposed taxonomy and Technology v. 166-167, p. 113-121, 2011a.
of anaerobic fungi (class neocallimastigomyce-
tes) suitable for large-scale sequence-based com- 26. ZHOU, M.; HERNANDEZ-SANABRIA, E.;
munity structure analysis. PLOS One 7, e36866, GUAN, L.L. Characterization of variation in
2012. rumen methanogenic communities under dif-
ferent dietary and host feed efficiency condi-
18. MORVAN, B.; BONNEMOY, F.; FONTY, G., tions, as determined by PCR-denaturing gra-
et al. Quantitative determination of H -utilizing dient gel electrophoresis analysis. Appl. Environ.
2
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
Microbiol., v. 76, p. 3776-3788, 2010. 36. FONTY, G.; SENAUD, J.; JOUANY, J.P., et al.
Establishement of ciliate protozoa in the rumen
27. DESNOYERS, M.; GIGER-REVERDIN, S.; of conventional and conventionalized lambs:
BERTIN, G et al. Meta-analysis of the influence influence of diet and management conditions.
of Saccharomyces cerevisiae supplementation on Canadian Journal of Microbiology, v. 34, p. 235-241,
ruminal paraments and milk production of rumi- 1988.
nants. J. Dairy Sci., v. 92, p. 1620-1632, 2009.
37. HUNGATE, R.E.; SMITH, W.; BAUCHOP, T.,
28. CHENG, Y.F.; MAO, S.Y.; LIU, J.X., et al. et al. Formate as an intermediate in the bovine
Molecular diversity analysis of rumen metha- rumen fermentation. Journal of Bacteriology, v. 102,
nogenic Archaea from goat in eastern China by p. 389-397, 1970.
DGGE methods using different primer pairs.
Letters in Applied Microbiology, v. 48, p. 585-592, 38. OPPERMANN, R.A.; NELSON, W.O.;
2009. BROWN, R.E. In vivo studies of methanogen-
esis in the bovine rumen: dissimilation of acetate.
29. WRIGHT, A.-D.G.; TOOVEY, A.F.; PIMM, C.L. Journal of General Microbiology, v. 25, p. 103-111,
Molecular identification of methanogenic ar- 1961.
chaea from sheep in Queensland, Australia reveal
more uncultured novel archaea. Anaerobe, v. 12, p. 39. NEWBOLD, C.J.; LASSALAS, B.; JOUANY, J.P.
134-139, 2006. The importance of methanogens associated with
ciliate protozoa in ruminal methane production in
30. WRIGHT, A.-D.G.; WILLIAMS, A.J.; WINDER, vitro. Letters in Applied Microbiology, v. 21, p. 230-
B., et al. Molecular Diversity of Rumen 234, 1995.
Methanogens from Sheep in Western Australia.
Appl. Environ. Microbiol, v. 70, p. 1263-1270, 2004. 40. STUMM, C.K.; GIJZEN, H.J.; VOGELS, G.D.
Association of methanogenic bacteria with ovine
31. FONTY, G.; GOUET, P. Establishment of mi- rumen ciliates. British Journal of Nutrition, v. 47, p.
crobial populations in the rumen. Utilization of 95-99, 1982.
an animal model to study the role of the different
cellulolytic micro-organisms in vivo. In The Roles 41. FINLAY, B.J.; ESTEBAN, G.; CLARKE, K.J.,
of Protozoa and Fungi in Ruminant Digestion, et al. Some rumen ciliates have endosymbiotic
Armidale NSW, 1989. p.39-49. methanogens. FEMS Microbiology Letters, v. 117, p.
157-162, 1994.
32. GAGEN, E.J.; MOSONI, P.; DENMAN, S.E., et
al. Methanogen colonization does not signifi- 42. USHIDA, K.; NEWBOLD, C.J.; JOUANY, J.P.
cantly alter acetogen diversity in lambs isolated Interspecies hydrogen transfer between the ru-
17 h after birth and raised aseptically. Microbial men ciliate Polyplastron multivesiculatum and
Ecology, 2012. Methanosarcina barkeri. Journal of General and
Applied Microbiology, v. 43, p. 129-131, 1997.
33. LI, R.W.; CONNOR, E.E.; LI, C., et al.
Characterization of the rumen microbiota of 43. TOKURA, M.; USHIDA, K.; MIYAZAKI, K.,
pre-ruminant calves using metagenomic tools. et al. Methanogens associated with rumen cili-
Environmental Microbiology, v. 14, p. 129-139, ates. FEMS Microbiology Ecology, v. 22, p. 137-143,
2012. 1997.

34. MORVAN, B.; DORE, J.; RIEU-LESME, F., 44. BAUCHOP, T.; MOUNTFORT, D.O. Cellulose
et al. Establishment of hydrogen-utilizing bac- fermentation by a rumen anaerobic fungus in
teria in the rumen of the newborn lamb. FEMS both the absence and the presence of rumen-
Microbiology Letters, v. 117, p. 249-256, 1994. methanogens. Appl. Environ. Microbiol., v . 42, p.
1103-1110, 1981.
35. FONTY, G.; GOUET, P.; JOUANY, J.P., et al.
Establishment of the microflora and anaerobic 45. MORGAVI, D.P.; FORANO, E.; MARTIN, C., et
fungi in the rumen of lambs. Journal of General al. Microbial ecosystem and methanogenesis in
Microbiology, v. 133, p. 1835-1843, 1987. ruminants. Animal, v. 4, p. 1024-1036, 2010.

4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 75


46. EUGÈNE, M.; ARCHIMÈDE, H.; SAUVANT, de methane mitigation? Animal Feed Science and
D. Quantitative meta-analysis on the effects of de- Technology 166-167, 248-253, 2011.
faunation of the rumen on growth, intake and di-
gestion in ruminants. Livestock Production Science, 56. GOEL, G.; MAKKAR, H.P. Methane mitiga-
v. 85, p. 81-97, 2004. tion from ruminants using tannins and saponins.
Tropical animal health and production, v. 44, p. 729-
47. TAKENAKA, A.; ITABASHI, H. Changes in 739, 2012.
the population of some functional groups of ru-
men bacteria including methanogenic bacteria by 57. WANG, J.K.; YE, J.A.; LIU, J.X. Effects of tea
changing the rumen ciliates in calves. Journal of saponins on rumen microbiota, rumen fermen-
General and Applied Microbiology, v. 41, p. 377-387, tation, methane production and growth perfor-
1995. mance a review. Tropical animal health and pro-
duction, v. 44, p. 697-706, 2012.
48. MACHMÜLLER, A.; SOLIVA, C.R.;
KREUZER, M. Effect of coconut oil and de- 58. PARKER, R.B. Probiotics, the other half of the an-
faunation treatment on methanogenesis in sheep. tibiotic story. Anim. Nutr. Health v.29, p.4–8, 1974.
Reproduction Nutrition Development, v. 43, p. 41-55,
2003. 59. WILLIAMS, P.E.; TAIT, C.A.; INNES, G.M.,
et al. Effects of the inclusion of yeast culture
49. POPOVA, M.; MORGAVI, D.P.; DOREAU, (Saccharomyces cerevisiae plus growth medium)
M., et al. Production de méthane et interactions in the diet of dairy cows on milk yield and forage
microbiennes dans le rumen. INRA Productions degradation and fermentation patterns in the ru-
Animales, v. 24, p. 447-460, 2011b. men of steers. J Anim Sci, v. 69, p. 3016-3026, 1991.

50. WOLIN, M.; MILLER, T.; STEWART, C., 1997. 60. FIEMS, L.O; COTTYN, B.G; DUSSERT, L;
Microbe-microbe interactions, In: Hobson, VANACKE, J.M. Effect of a viable yeast culture
P., Stewart, C. (Eds.), The Rumen Microbial on digestibility and rumen fermentation in sheep
Ecosystem, Chapman & Hall, London, pp. fed different types of diets. Reprod Nutr Dev, v.33,
467-491. p.43-49, 1993

51. CHAUCHEYRAS-DURAND, F.; MASSEGLIA, 61. FIEMS, L.O; COTTYN, B.G; BOUCQUÉ, CH.V.
S.; FONTY, G., et al. Influence of the composi- Effect of yeast supplementation on health, per-
tion of the cellulolytic flora on the development formance and rumen fermentation in beef bulls.
of hydrogenotrophic microorganisms, hydro- Archiv für Tierernaehrung, v.47, n.3, p.295-300,
gen utilization, and methane production in the 1995.
rumens of gnotobiotically reared lambs. Appl.
Environ. Microbiol., v. 76, p. 7931-7937, 2010. 62. DOLEZAL, P.; DOLEZAL, J.; TRINACTY, J.
The effect of Saccharomyces cerevisiae on ruminal
52. MARTIN, C.; MORGAVI, D.P.; DOREAU, M. fermentation in dairy cows. Czech J. Anim. Sci, v.50,
Methane mitigation in ruminants: from microbe p.503–510, 2005.
to the farm scale. Animal, v. 4, p. 351–365, 2010.
63. DOBICKI, A.; PREŚ, J.; ZACHWIEJA, A. et al.
53. ATTWOOD, G.T.; ALTERMANN, E.; KELLY, Influence of yeast preparations on chosen bio-
W.J., et al. Exploring rumen methanogen geno- chemical blood parameters and the composition
mes to identify targets for methane mitigation of cow milk. Medycyna weterynaryina, v.63, p.951-
strategies. Animal Feed Science and Technology, 954, 2007
166-167, 65-75,2011.
64. LOMAS, E.; PUPIALES, M.L. Efectos de cuatro
54. BUDDLE, B.M.; DENIS, M.; ATTWOOD, niveles de Saccharomyces cerevisiae como aditivo
G.T., et al. Strategies to reduce methane emis- alimentício en vacas del tropico para mejorar la
sions from farmed ruminants grazing on pasture. produccion lechera en la Provincia de Imbabura,
The Veterinary Journal, v. 188, p. 11-17, 2011. Canton Cotacachi, sector San Jose de Magdalena.
Informe Final de Tesis, Previo a la obtención del
55. WRIGHT, A.-D.G.; KLIEVE, A.V. Does the com- Título de Ingeniería Agropecuaria, 2007. 177p.
plexity of the rumen microbial ecology preclu-

76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


65. MENEZES, B. Suplementação de vacas leitei- populations. Journal of Dairy Science., v.71, p.2967-
ras com Saccharomyces cerevisiae cepa KA500. 2975, 1988.
Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias)–
Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, 2008. 75. OJANSIVU,I, FERREIRA,C.L.L.F., Salminem
52p. J Seppo YACON, A NEW SOURCE OF
PREBIOTIC OLIGOSACCHARIDES WITH A
66. Ribeiro, D. Resposta digestiva de bovinos a dosis HISTORY OF SAFE USE. Trends in Food Science
de levadura autolisada. Dissertação Universidade & Technology, v.22, p.40-46, 2010.
Federal de Lavras, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Veterinárias, 2012. 58p. 76. RODRIGUES, K.L , CAPUTO, L.R.G,
CARVALHO, J.C.T. et al. Antimicrobial and heal-
67. PINLOCHE, E.; MC, E.; MARDEN, J.P; et al. The ing activity of kefir and kefiran extract. International
effect of a probiotic Yeast on the bacterial diversity Journal of Antimicrobial Agents., v.25, n. 5, p.404-
and population structure in the Rumen of cattle. 408, 2005.
Plos one, v.8, p.1-10, 2013.
77. RODRIGUES F.C , CASTRO A.S, RODRIGUES,
68. CHUNG, Y.H.; WALKER, N.D.; MCGINN, OLIVEIRA V.C et al. Yacon flour and bifidobacte-
S.M., et al. Differing effects of 2 active dried yeast rium longum nodulate bone health in rats. Journal
(Saccharomyces cerevisiae) strains on ruminal aci- of Medicinal Food., v.xx, p.1-7, 2012.
dosis and methane production in nonlactating
dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 94, p. 2431- 78. GOTO, S.; BONO, H.; OGATA, H. et al.
2439, 2011. Organizing and computing metabolic pathway
data in terms of binary relations. eds  Altman 
69. NEWBOLD, C.J.; RODE, L.M. Dietary addi- R.B.,  DunkerK.,  Hunter  L.,  Klein  T.E.  (World
tives to control methanogenesis in the rumen. Scientific, Singapore), p. 175–186, 1996.
International Congress Series 1293, p. 138-147,
2006. 79. CARNEIRO, H, LIMA N.R, ARAÚJO R.C.C.
et al. O uso de yacon como mitigador de metano.
70. CHAUCHEYRAS, F.; FONTY, G.; BERTIN, G., Anais de Congresso, Brasília, Sociedade Brasileira
et al. In vitro H utilization by a ruminal aceto- de Zootecnia : A produção animal no mundo em
genic bacterium2cultivated alone or in associa- transformação, ppl1-3. 2012.
tion with an archaea methanogen is stimulated
by a probiotic strain of Saccharomyces cerevisiae. 80. WILLIAMS, Y.J.; POPOVSKI, S.; REA, S.M.,
Applied and Environmental Microbiology, v. 61, p. et al. A vaccine against rumen methanogens can
3466-3467, 1995. alter the composition of archaeal populations.
Applied and Environmental Microbiology, v. 75, p.
71. NEWBOLD, CJ.; FRUMHOLTZ, P.P.; 1860-1866, 2009.
WALLACE, R.J. Influence of Aspergillus oryzae
fermentation extract on rúmen fermentation and
blood constituents in sheep given diets of grass hay
and barley. Journal of Agricultural Science., v.119,
p.423-427, 1992.

72. NEWBOLD, C.J.et al. Different strains of


Saccharomyces cerevisiae differ in their effects on
ruminal bacterial numbers in vitro and in sheep.
Journal of Animal Science., v.73, p.1811-1818, 1995.

73. STEWART, C.S Factors Affecting the Cellulolytic


Activity of Rumen Contents.  Appl Environ
Microbiol., vol.33, n.3 p.497–502,1977.

74. HARRISON, G.A. et al. Influence of addition


of yeast culture supplement to diets of lactating
dairy cows on ruminal fermentation and microbial

4. Melhoria da eficiência ruminal: Inoculação de bactérias 77


5. Manejo Ambiental
de Unidades de
Produção Animal
Julio Cesar Pascale Palhares1,*
1
Embrapa Pecuária Sudeste, Rod. Washington Luiz km 234 13560-970 São Carlos-SP-Brazil
* Email para contato: Julio.palhares@embrapa.br

1. Introdução ções de bem-estar e sanidade, entende-


-se que esse tipo de manejo deve fazer
Segundo o Dicionário Michaelis, a
parte das atividades cotidianas de uma
palavra manejo tem na área zootécnica
unidade de produção animal.
a seguinte definição: ato de submeter os
Com isso, pergunta-se: O mane-
animais a cuidados de alimentação, trato e
higiene, a fim de torná-los mansos, limpos jo ambiental faz parte do cotidiano da
e sadios. Considerando que a execução produção? Respondo, considerando a
do manejo ambiental maior parte das uni-
de um sistema de pro- Manejo: ato de submeter dades produtivas
dução e da proprie- os animais a cuidados de brasileiras, que esse
dade rural também alimentação, trato e higiene, manejo NÃO está in-
contribui para manter a fim de torná-los mansos, serido no cotidiano
os animais em condi- limpos e sadios. produtivo. As justifi-
78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
cativas para essa resposta são: empresas e agroindústrias devem ter
• Não há uma definição clara do concei- capacitação ambiental constante a fim
to de manejo ambiental da unidade de de identificar as questões ambientais
produção animal, o que o compõe e inerentes à sua atividade;
como deve ser feito; • Manejar o ambiente é entendido
• Há um entendimento simplista, de como algo de custo elevado, que de-
todos os atores das cadeias produtivas manda tempo e mão de obra, e que
e dos consumidores, de que manejo não gera recursos financeiros.
ambiental significa cumprir a legisla- Na Figura 1, propõe-se uma defini-
ção ambiental, e cumprir a legislação ção para o conceito de manejo ambien-
ambiental é entendido como possuir tal de unidades de produção animal e os
as licenças ambientais exigidas para a manejos que o compõem. Ressalta-se
atividade. Manejar o ambiente é mui- que a definição proposta tem um cará-
to mais amplo do que cumprir a lei, e ter mais focado, baseando-se nos resí-
esse manejo deve ser uma ação coti- duos gerados e nos principais recursos
diana, e não um ato administrativo; naturais utilizados pelas atividades, não
• Os atores das cadeias produtivas ani- considerando outros aspectos que tam-
mais possuem reduzido conhecimen- bém devem estar presentes no manejo
to ambiental. Atualmente, essa con- ambiental, como o manejo da biodi-
dição é a maior barreira a um salto versidade, da paisagem, entre outros. A
de qualidade ambiental das unidades consideração dos outros aspectos propi-
produtivas. Produtores devem ser ciará a gestão ambiental, conceito mais
assistidos em técnicas e práticas am- amplo que o de manejo ambiental.
bientais, profissionais agropecuários Observa-se na Figura 1 que todos os
devem também ter na sua formação as manejos devem estar baseados nas dire-
ciências ambientais, e profissionais de trizes e padrões ambientais vigentes nas

MANEJO AMBIENTAL
Uso codiano de conhecimentos, prácas e tecnologias que sustentem o eficiente uso de
nutrientes e insumos, conservem os recursos naturais e propiciem a adequação legal da avidade.

MANEJO DE RESÍDUOS MANEJO HÍDRICO MANEJO DO SOLO


Uso codiano de Uso codiano de Uso codiano de conhecimentos,
conhecimentos, prácas e conhecimentos, prácas e tecnologias que
tecnologias que reduzam o prácas e tecnologias que garantam a produção vegetal, a
impacto ambiental da avidade garantam a oferta de água qualidade do solo e a reduzida
e melhorem a eficiência de uso em quandade e emissão de elementos para as
de nutrientes. qualidade. águas e para o ar.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Figura 1. Definições dos manejos necessários à unidade de produção animal.

5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 79


legislações federal, es- ser 5% em nenhuma re-
Não há experiência
tadual e municipal, mas gião. Essa realidade de-
no mundo que tenha
não se limitando ao cum-
mudado uma realidade monstra a importância
primento dessas diretri-
ambiental adversa sem do sistema de extensão
zes e padrões. As ciências que a educação fizesse rural para o país. A gran-
zootécnicas e ambientais parte dessa mudança. de maioria dos produ-
têm elevado dinamismo, tores não tem condição
o qual muitas vezes não é financeira para contratar
acompanhado pelas legislações, mas os um profissional a fim de auxiliá-lo no
manejos devem considerar isso. manejo ambiental da produção, portan-
Realizar o manejo ambiental não é to precisam ser assistidos pelos sistemas
um processo simples, devido aos inú- públicos e pelos órgãos de classe.
meros fatores que isso envolve, sendo Contudo, o nível educacional não
eles: a atividade em si; o meio ambiente é um problema só da classe dos produ-
e seus recursos; as interações da ativida- tores. Os profissionais agropecuários
de com outras atividades produtivas; as ainda são formados com um reduzido
legislações; os parâmetros econômicos conhecimento em ciências ambientais.
e os valores sociais e culturais. Portanto, Estes apresentam dificuldades básicas,
o manejo deve ser muito bem realizado, como: elaborar um projeto de adequa-
caso contrário, as ações poderão ter efei- ção ambiental, estipular indicadores de
tos adversos ao ambiente e à atividade e desempenho ambiental para o acompa-
sua imagem. nhamento da atividade,
Não há experiência Os profissionais dimensionar um sistema
no mundo que tenha agropecuários ainda de aproveitamento ou
mudado uma realidade são formados com um tratamento de resíduos,
ambiental adversa sem reduzido conhecimento relacionar outras ciên-
que a educação fizesse em ciências ambientais. cias, como a nutrição
parte dessa mudança. O animal, com o manejo
último censo agropecu- ambiental, realizar uma análise do cus-
ário realizado pelo Instituto Brasileiro to ambiental da atividade, etc. Não há
de Geografia e Estatística mostra que como promover um salto de qualidade
o produtor rural tem um baixo nível de ambiental sem um profissional que dê
educação formal, sendo que muitos de- suporte para isso. A formação univer-
les, principalmente nas regiões Norte sitária de nossos profissionais deve ser
e Nordeste, não têm o ensino primário revista para que eles sejam capazes de
completo. Na outra ponta, os produto- praticar o manejo ambiental.
res com ensino superior não chegam a Essa revisão também passa por ques-
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
tões ideológicas. Antigamente, bastava A busca pelo significado dessas pa-
produzir proteína animal. Atualmente, lavras, em qualquer dicionário da lín-
a sociedade quer proteína animal com gua portuguesa, nos faz concluir que
segurança dos alimentos, bem-estar realmente as palavras são sinônimas.
dos animais, qualidade ambiental, res- Segundo o Novo Dicionário Aurélio,
peito ao trabalhador, etc. Portanto, a preservação significa: “livrar de algum
formação filosófica do profissional deve mal [...] conservar [...]”. E conservação
acompanhar os atuais e futuros “quere- significa: “ato ou efeito de conservar(-
res” da sociedade. -se)”. Mas o significado destas, conside-
O manejo ambiental dará retorno rando a teoria das ciências ambientais,
econômico, pois, quando praticado, nos conduz a outra conclusão.
reduz o custo de produção devido ao De acordo com o Dicionário
menor consumo de água, ração, energia, Brasileiro de Ciências Ambientais, o
fertilizantes e combustíveis; melhora significado de preservação é: “ação de
a eficiência no uso de insumos, princi- proteger, contra a modificação e qual-
palmente nitrogênio e fósforo; otimiza quer forma de dano ou modificação,
a mão de obra; aumenta a vida útil de um ecossistema, área geográfica, etc.”.
máquinas e equipamentos; melhora o O significado de conservação é: “uti-
nível de instrução e a capacidade técnica lização racional de um recurso natural
de produtores e colaboradores; disponi- qualquer, garantindo-se, entretanto,
biliza mais área agricultável por unidade sua renovação ou sua autossustenta-
produtiva. ção, difere da preservação por permitir
o uso e o manejo da área”.
2. Preservação ou A partir dessas definições, fica a
Conservação? pergunta. Os profissionais agropecu-
A Constituição Brasileira, promul- ários devem preservar ou conservar o
gada em 1988, em seu Artigo 225, diz: meio ambiente? A resposta correta é:
“todos têm direito a um meio ambiente Devem fazer ambos.
ecologicamente equilibrado, bem de uso co- Serão preservacionistas quando
mum do povo e essencial à sadia qualidade mantiverem a área de mata ciliar nas
de vida, impondo-se ao poder público e à propriedades. Isso possibilita a preser-
coletividade o dever de defendê-lo e preser- vação da água dos rios em quantidade
vá-lo para as presentes e futuras gerações”. e qualidade. E serão conservacionis-
No cotidiano, podemos notar que tas quando utilizarem a água de poços
as palavras “preservação” e “conser- para a dessedentação dos animais de
vação” são utilizadas como se fossem forma racional, ou seja, respeitando o
sinônimas. tempo que a natureza leva para repor
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 81
essa água, assim a água estará disponível fissional que visa à qualidade ambien-
no longo prazo, e os animais não sofr- tal das unidades de produção animal.
erão com a escassez desse recurso, bem Esses limitantes estão presentes em
como os seres humanos. todas as regiões brasileiras. Além dis-
Conclui-se que os profissionais de- so, esses limitantes desgastam a ima-
vem desempenhar dois papéis funda- gem dos bons profissionais, bem como
mentais, o da preservação e o da con- dificultam a mudança dos modelos
servação. O primeiro possibilitará a produtivos.
perpetuação das atividades produtivas Traduzimos esses limitantes na
no longo prazo, bem como da convivên- proposição de “teorias” que impe-
cia pacífica com a sociedade. O segun- dem e/ou dificultam a atuação pro-
do contribuirá para que, no futuro, não fissional. A proposição dessas teorias
discutamos mais os problemas ambien- foi feita considerando-se: o pensa-
tais, pois os recursos naturais utilizados, mento de nossa sociedade e a realida-
hoje, estarão sendo conservados, ou de produtiva brasileira, os históricos
seja, se manterão em quantidade e com e as realidades de países tradicionais
padrão de qualidade que os tornarão na produção de proteína animal e as
disponíveis para essas produções e para experiências científica e prática. As
toda a sociedade. teorias são comuns a todas as cadeias
Alguns podem pensar que as discus- de produção e se farão presentes em
sões teóricas, relacionadas aos proble- maior intensidade nas regiões e ca-
mas ambientais das produções animais, deias com maior histórico de confli-
são perda de tempo, que temos pro- tos ambientais.
blemas graves a serem resolvidos e não Se os limitantes não forem consi-
podemos perder mais tempo com dis- derados, mais difícil será o manejo am-
cussões que não conduzem a soluções biental, significando maior demanda
imediatas. Mas devemos lembrar que de tempo e recursos financeiros para as
muitos dos problemas ambientais de
soluções e maiores os conflitos entre os
hoje são fruto da falta de consideração
atores das cadeias produtivas e destes
de conceitos, sendo que muitos deles
com a sociedade.
são anteriores aos problemas.
As teorias propostas são:
3. Desafios ao manejo Teoria da “Caça às Bruxas”
ambiental O conflito faz parte de qualquer
Tem-se verificado que alguns fato- processo ambiental. Saber lidar com
res de dimensão social e cultural estão ele é fundamental para se ter sucesso e
atuando como limitantes à atuação pro- propor as melhores soluções. Por isso,
82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
em sua atuação, o profis- Teoria dos Paraquedistas
O profissional
sional pecuário deverá
pecuário deverá ser Qualquer ativida-
ser o mediador desses
o mediador conflitos, de pecuária apresenta
conflitos, pois ele tem
tem os conhecimentos um passivo ambiental
os conhecimentos ne- necessários para considerável, principal-
cessários para esclare- esclarecer os impactos mente na eficiência de
cer os impactos posi- positivos e negativos das uso de nutrientes, o que
tivos e negativos das potenciais soluções. se traduz em elevado
potenciais soluções. risco de poluição das
Há conflitos desne- águas, solo e ar.
cessários, que além de consumirem Paralelo a essa realidade, meio
tempo, fomentam o pessimismo, o ambiente é um assunto que tem dado
descrédito e o radicalismo. Esses reconhecimento e proporcionado
conflitos também consomem recur- ganhos financeiros a qualquer pro-
sos financeiros. fissional que deseja atuar na área.
É muito comum ouvirmos dos Ultimamente, veem-se muitos profis-
atores das cadeias agropecuárias sionais atestarem que têm a solução
questionamentos a respeito de quan- para os problemas ambientais da pe-
to poluente é a produção animal fren- cuária, quando na verdade não têm
te a outras atividades humanas. Um conhecimento dos conceitos básicos
fato muito recorrente é a comparação em manejo ambiental e da produção
da poluição causada pelos dejetos de animais.
de animais e aquela causada pelos Esses paraquedistas estão presen-
esgotos urbanos. O momento, con- tes em todos os segmentos sociais,
siderando a situação ambiental do na política, no empresariado, nas or-
Brasil e do planeta, não é de buscar ganizações não governamentais, nas
culpados. Enquanto se perde tempo universidades e institutos de pesqui-
com isso, caçando-se bruxas, os pro- sa e na mídia. E com certeza os que
blemas se agravam. Tanto os esgotos mais sofrem com a existência deles
urbanos como os pecuários são pro- são os produtores rurais, pois muitas
blemas que devem ser atacados com vezes estes não dispõem de nenhum
vigor, pois impactam a saúde ambien- conhecimento em manejo ambiental,
tal e a qualidade de vida de todos. Os estando suscetíveis a aceitar qualquer
problemas originados por qualquer intervenção ou tecnologia que lhes é
atividade urbana ou rural serão mais oferecida a fim de resolver seus pro-
facilmente equacionados se ocorrer blemas no menor tempo possível e
uma união para resolvê-los. com o menor custo.
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 83
Um bom profissio- cia de vida no planeta.
Um bom profissional
nal ambiental sabe que Portanto, passado o
ambiental sabe
manejar meio ambiente momento de meio am-
que manejar meio
demanda dois conceitos ambiente demanda dois biente ser um modismo
básicos, visão sistêmica e conceitos básicos, visão de alguns, estamos no
intervenções adaptadas à sistêmica e intervenções momento de conhecer,
realidade produtiva, eco- adaptadas à realidade fazer, avaliar e fazer de
nômica, social, cultural e produtiva. novo. Para isso preci-
ambiental do produtor samos nos educar am-
e da produção. De outra bientalmente. Caso isso
forma, nenhuma proposição terá valida- não aconteça no curto e médio prazo, o
de no tempo, e o produtor e os atores Brasil corre o risco de perder em quanti-
das cadeias produtivas estarão sempre dade e qualidade sua riqueza ambiental
em busca de “milagres” ambientais. e consequentemente sua capacidade e
A melhor forma de evitar esses pa- competitividade como grande produtor
raquedistas é tendo um conhecimento de produtos agropecuários.
básico em manejo ambiental, o que irá Muitos têm a solução para os pro-
conferir capacidade de discernimento blemas amazônicos sem nunca terem
ao cliente, ou demandar profissionais ido à Amazônia, somente conhecendo-a
que sejam tradicionais no mercado e pela mídia. Muitos exigem a produção
tenham formação ambiental e pecuária. de proteína animal em bases ambiental-
mente mais equilibradas, mas não têm
Teoria Meio Ambiente/Futebol/Política
o mínimo conhecimento de como essa
O brasileiro tem como característica proteína é produzida e quais as caracte-
cultural achar que domina vários assun- rísticas econômicas, sociais, ambientais
tos. Nos anos recentes, o meio ambiente e culturais dessa produção.
começou a sofrer desse mal. É salutar Se o conhecimento simplificado das
que meio ambiente seja discutido por questões ambientais fosse suficiente
todos, tornando-se uma conversa coti- para resolver os problemas, europeus e
diana, mas há uma linha tênue entre dis- norte-americanos, que têm maiores his-
cutir meio ambiente e a discussão sem tóricos de produção animal, não teriam
fundamentação, o que, na grande parte preocupações ambientais com a ativida-
das vezes, levará a posições e decisões de, mas, mesmo dispondo de conheci-
infundadas, tomadas com base em opi- mento apurado, histórico de pesquisa e
niões pessoais e interesses particulares. internalização dos problemas na socie-
As questões ambientais são mui- dade, os desafios ambientais nesses con-
to sérias, pois determinam a existên- tinentes ainda são enormes.
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
Se não tivermos conhecimento do des de outros países, e demonstrar uma
que estamos fazendo e quais as estrei- total falta de comprometimento com o
tas relações da produção pecuária com futuro da sociedade e pecuária brasilei-
a preservação e conservação do meio ra. Certamente, os que defendem isso
ambiente, iremos ter a mesma situação não utilizam a palavra afrouxamento,
internacional: regulações extremamen- usam termos mais simpáticos, como
te restritivas, cotas produtivas relacio- modernização e atualização. Justificam
nadas ao manejo dos resíduos, altas ta- que querem a alteração com base nas
xações sobre excesso de nutrientes por informações geradas pela ciência, mas
área, obrigatoriedade de reduzir os reba- faltam-lhes argumentos científicos para
nhos em regiões de histórico produtivo basear suas proposições.
e conflitos sociais intensos. Há que se fazer uma ressalva. Muitos
padrões, limites, etc., determinados pe-
Teoria do “Afrouxamento Legal”
las leis ambientais brasileiras, não en-
A história mostra que existem duas contram sustentação científica. Esse fato
formas para se alterar a realidade am- não deve ser utilizado como oportuni-
biental de uma cadeia produtiva ou dade para questionarmos as leis a fim de
sociedade: a existência de legislação afrouxá-las, mas sim como necessidade
ambiental tecnicamente embasada e su- de se fazer estudos cientificamente váli-
portada por uma estrutura legal e fiscali- dos para se chegar às mudanças neces-
zatória robustas e a mudança da relação sárias. Se todos concordam que as leis
do ser humano com o ambientais devem base-
meio ambiente – essa Defender o ar-se no conhecimento
mudança ocorrerá via afrouxamento das e que o conhecimento é
educação. A legislação leis ambientais com dinâmico, portanto em
promove a preservação a justificativa de que constante evolução, as
e conservação ambien- estão impedindo o leis devem acompanhar
tal no curto e médio desenvolvimento da essa evolução. Assim o
prazo, enquanto a edu- pecuária é desconhecer processo de avaliação
cação promoverá no as nuanças produtivas e das leis ambientais deve
longo prazo.
ambientais da atividade. ser comum à sociedade.
Defender o afrouxa- No Brasil, algumas legis-
mento das leis ambientais com a justifi- lações já trazem em seu conteúdo a obri-
cativa de que estão impedindo o desen- gatoriedade de revisão.
volvimento da pecuária é desconhecer Cita-se como exemplo a questão
as realidades produtivas e ambientais dos recursos hídricos. É fato validado
da atividade, as experiências e realida- pela ciência a importância da existên-

5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 85


cia de matas ciliares para preservação rios, o uso dos resíduos animais como
e conservação dos recursos hídricos. A fertilizante sem considerar o princípio
não existência desta ou sua existência do balanço de nutrientes e a significati-
em uma quantidade insuficiente causará va emissão de gases e odores. O afrou-
a degradação dos recursos hídricos em xamento das leis fomentará campanhas
quantidade e qualidade, impossibilitan- pela redução do consumo de proteína
do seu uso direto. Quanto maior a escas- animal devido aos passivos ambientais
sez de água, menor a competitividade da atividade, contestações do merca-
da atividade pecuária, pois maior será do interno e externo quanto à qualida-
o custo de produção. Água é o principal de ambiental de nossos produtos e a
alimento e ativo ambiental em qualquer reduzida preocupação com o manejo
atividade pecuária. Não tê-la na quan- ambiental da atividade por nossos pro-
tidade e qualidade necessárias limitará fissionais, produtores, agroindústrias e
a produção. Então uma regulação, que cooperativas.
vise preservar e conservar esse recurso
Teoria do Custo de Produção x Custo
natural não pode ser alvo de contestação
Ambiental
do pecuarista e profissional agropecuá-
rio, tão dependente do recurso para sua Justifica-se que o grande impedi-
sobrevivência. mento para realização das intervenções
Leis e regulações ambientais pro- e manejos ambientais são os custos
porcionarão a mudança do compor- elevados. Muitos têm defendido que
tamento produtivo e da atuação dos eles só serão possíveis se considerarem
profissionais pecuários, o que terá o conceito ganha-ganha, ou seja, a in-
como consequência a melhoria da per- tervenção ou manejo só se justifica se
formance ambiental das der lucro. Esse tipo de
produções. Performance O afrouxamento pensamento contradiz
também deve ser enten- das leis ambientais o princípio básico: as
dida como redução dos perpetuará práticas intervenções e manejos
custos de produção devi- ainda cotidianas em são implementados para
do a menor consumo de nossa pecuária e lesivas preservar e conservar o
recursos naturais renová- à saúde humana e ambiente a fim de que as
veis e não renováveis. ambiental. produções se perpetuem
O afrouxamento das no tempo.
leis ambientais perpetu- Atualmente, tam-
ará práticas ainda cotidianas em nossa bém há uma confusão, muitas vezes pro-
pecuária e lesivas à saúde humana e am- posital a fim de tumultuar as discussões
biental, como o descarte de esgotos nos e/ou justificar a não correção ambien-

86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


tal, de que, se fossem disponibilizados gunta: Qual o custo ambiental do qui-
recursos financeiros ao produtor na for- lograma da carne suína, de frango, etc.,
ma de subsídios, créditos e pagamento do litro de leite, entre outros. A resposta
pelos serviços ambientais que ele pres- ainda é a mesma. Não sabemos!
ta à sociedade, os problemas estariam Então, como dizer que esse custo
resolvidos. Todas as formas citadas são é inviável se nem sabemos quanto é.
instrumentos econômicos que devem Muitos confundem custo ambiental
ser considerados, mas nunca serão a com o custo para obtenção da licença
solução única para os problemas. Se as- ambiental. O custo do licenciamento
sim fosse, outros países, com todo seu será um dos quesitos que entrará no cus-
histórico de subsídios to ambiental.
ambientais e produtivos, Os profissionais A argumentação
não teriam problemas agropecuários têm a de que o custo é muito
graves e generalizados função de promover alto só poderá ser aceita
relacionados à atividade impactos positivos e não quando tivermos conhe-
pecuária. somente de corrigir os cimento de quanto é esse
Mesmo as formas impactos negativos. custo. Para isso os resí-
mais simples de inter- duos não devem mais ser
venção, como a esterqueira, que é um entendidos como uma
tanque de armazenamento de dejetos, externalidade da atividade, mas sim
tem seu custo questionado, pois se diz como parte do processo de criação, e
que esse é proibitivo para a realidade de como tal, devem fazer parte das análises
alguns produtores. Ressalta-se que o ris- de custo de produção.
co ambiental de uma esterqueira é mui-
to alto devido aos gases que são emiti-
4. Impacto ambiental das
dos; a possibilidade de contaminação produções animais
do solo, se a estrutura não for correta- Os atores das cadeias pecuárias têm
mente construída, a poluição das águas a percepção de que os impactos am-
superficiais por escoamento e subterrâ- bientais são sempre negativos, mas es-
neas por infiltração. Então se pergunta: tes também podem ser positivos. Uma
O custo da esterqueira frente ao custo área de pastagem que foi degradada
de toda degradação que o incorreto pelo intenso uso sem reposição de nu-
manejo dos resíduos pode causar, não trientes ao solo pode ser recuperada.
compensa? Essa recuperação caracteriza um impac-
A fragilidade da argumentação de to ambiental positivo. Portanto, os pro-
que os custos ambientais inviabilizam a fissionais agropecuários têm a função
produção é verificada na resposta à per- de promover impactos positivos e não
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 87
somente de corrigir os impactos negati- potenciais impactos que as produções
vos. A correção sempre significará maio- animais podem causar.
res custos. Outro erro de interpretação diz res-
A percepção de negatividade se dá peito ao que avaliar. É senso comum que
pelo fato de a avaliação de impacto am- a AIA deve avaliar o impacto da ativida-
biental (AIA) sempre ocorrer no mo- de na quantidade e qualidade dos recur-
mento do licenciamento da atividade. A sos naturais renováveis e não renová-
pecuária nacional ainda não internalizou a veis. Mas a AIA não se limita somente às
avaliação de impacto como uma rotina da questões ambientais, devendo compre-
produção, só realizando-a por uma obriga- ender também as sociais e econômicas.
ção legal. A avaliação de impacto deve ter A legislação brasileira, por meio da
um caráter preventivo e não corretivo. Resolução CONAMA 01, de 23 de ja-
A principal função de uma avaliação neiro de 1986, define impacto ambien-
de impacto é propiciar a tomada de de- tal como qualquer alteração das proprie-
cisão a partir da análise de cenários, ou dades físicas, químicas e biológicas do
seja, comparar a situação presente com meio ambiente, causada por qualquer
a que ocorrerá a partir da implantação forma de matéria ou energia resultante
do empreendimento, analisar se os be- das atividades humanas que, direta ou
nefícios e potenciais prejuízos ambien- indiretamente, afetam:
tais, sociais e econômicos justificam a I - a saúde, a segurança e o bem-estar
atividade. Na Figura 2 observam-se os da população;

Água Solo Ar Condições de saúde


das pessoas

Clima
Condições sanitárias
do rebanho

Biodiversidade PRODUÇÃO ANIMAL

Custo de produção
da criação
Paisagem

Custo de vida da Qualidade


população de vida

Figura 2. Potenciais impactos que as produções animais podem causar nas dimensões ambientais, so-
ciais e econômicas.

88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


II - as atividades sociais e econômicas; agravada, pois grande parte dos produ-
III - a biota; IV - as condições estéti- tores desconhece o conceito de balanço
cas e sanitárias do meio ambien- de nutrientes. Como resultado, aplica-
te; V - a qualidade dos recursos -se dejeto em excesso; isso faz com que
ambientais. a atividade se torne uma fonte de polui-
De acordo com a Resolução, perce- ção difusa. Esse tipo de poluição é defi-
be-se que realizar a AIA não é um pro- nido como aquela resultante de proces-
cesso simples e esta não pode ser reali- sos de escoamento de água superficial,
zada somente por um profissional, mas precipitação atmosférica, drenagem e
sim por um grupo de profissionais que infiltração no solo, uso de agroquími-
possuam conhecimentos em ciências cos e processos hidrológicos que foram
agrárias, econômicas, sociais e exatas. modificados.
A AIA e os processos de licencia-
mento ambiental das atividades estão 5. Uso de resíduos
sendo feitos por somente um profis- animais como fertilizante:
sional que se limita a demonstrar para estudo de caso
a agência ambiental que o empreendi-
mento não irá causar impacto ambien- É uma afirmação correta que os
tal, pois os resíduos irão ser aproveita- resíduos animais são ricos em nutrien-
dos e tratados de forma correta. tes; assim, podem ser aplicados no solo
Mesmo com essa abordagem, a como meio de proporcionar o cresci-
atividade poderá adquirir a licença, mento das culturas vegetais, bem como
mas ser fonte de polui- reduzir os custos com
ção. Tomando-se como O aproveitamento adubação química. O
exemplo a suinocultura, dos resíduos como aproveitamento dos re-
as leis estaduais de licen- fertilizante é a forma de síduos como fertilizante
ciamento da atividade manejo predominante é a forma de manejo pre-
permitem que os dejetos nas produções animais dominante nas produ-
sejam utilizados como brasileira e mundial. ções animais brasileira e
fertilizante; assim, se o mundial. Tendo em vista
produtor atestar que ele dispõe de área a contínua intensificação
agrícola suficiente para receber a quan- e concentração territorial dessas produ-
tidade de dejetos gerada, ele obterá a li- ções, verifica-se um crescente excedente
cença. Muitas vezes, após a obtenção da de resíduos em relação à área agrícola
licença, não existe uma fiscalização a fim apta disponível para sua aplicação.
de avaliar se o produtor está cumprindo A utilização de estercos, dejetos,
com o acordado. Essa realidade ainda é compostos, biofertilizantes e lodos
como fertilizantes e condicionadores fí-
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 89
sicos e químicos dos solos é aconselhá- tratamento de resíduos e/ou a expor-
vel, desde que realizada considerando o tação dos resíduos para outras áreas
conceito de Balanço de Nutrientes e o que tenham carência de nutrientes.
preceito dos quatro Cs (produto certo, Ambas as alternativas podem significar
taxa certa, tempo certo, local certo). Na maiores custos e, no caso de sistemas
Figura 3, observa-se o que deve ser con- de tratamento, demanda mão de obra
siderado para o cálculo do balanço de capacitada.
nutrientes. Os dados produtivos considerados
Neste estudo de caso, apresenta-se para a realização do balanço de nu-
o balanço de nutrientes, considerando trientes foram coletados em uma pro-
uma propriedade rural diversificada, priedade localizada no Município de
condição que facilita o manejo am- Concórdia, Santa Catarina. Na Tabela 1,
biental e o uso dos resíduos como fer- observam-se as culturas vegetais e ani-
tilizante. Propriedades com baixo nível mais da propriedade com suas respec-
de diversificação produtiva, duas ou tivas áreas de cultivo e plantéis. A área
três atividades agrícolas e/ou pecuárias, total da propriedade era de 21 ha.
terão maior dificuldade no aproveita- Para calcular-se a quantidade total
mento dos resíduos como fertilizante, de dejetos de suínos produzidos na pro-
pois as áreas aptas à agricultura podem priedade, utilizou-se as quantidades es-
não comportar toda a carga de nutrien- pecificadas para animais em terminação
tes. Nessa condição, duas alternativas estipuladas na Instrução Normativa n0
se apresentam: o uso de sistemas de 11, de Santa Catarina. A quantidade to-

PRODUTO CERTO TAXA CERTA

Recomendação Agronômica Balanço de Caracteríscas dos


da Cultura Vegetal Nutrientes Resíduos
(Quandades de Nitrogênio, (Quandade a ser (Quandades de Nitrogênio,
Fósforo e Potássio) aplicada de resíduos) Fósforo e Potássio)

Caracteríscas de
Ferlidade do Solo
(Análise de Ferlidade
do Solo)
TEMPO CERTO LOCAL CERTO
(Condições Climácas) (Aspectos Agronômicos e Legais)

Figura 3. Premissas a serem consideradas no balanço de nutrientes.

90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Tabela 1. Culturas vegetais e animais desenvolvidas na propriedade de estudo
Atividades Agrícolas Área ocupada (ha)
Milho 6,5

Erva-Mate 2,5

Gramínea anual de inverno (Azevém) 7,5

Gramíneas de estação quente (Milheto e Braquiária) 3,0

Atividades Pecuárias Plantel

Suinocultura (Unidade de Terminação) 450 suínos

Frangos de Corte criados sob cama de maravalha 14.000 aves

Bovinos de Leite (criação semiextensiva) 36 UA*


*
Unidade Animal (UA) equivalente a 450 kg de peso vivo.

tal de cama de frango foi calculada con- da Comissão de Fertilidade do Solo –


siderando-se uma produção de 1,5 T de RS/SC (2005).
cama por 1.000 frangos, e disponibilida- Estipular a quantidade de dejetos
de para utilização como adubo após seis gerados por cada categoria animal não
ciclos de produção. A concentração de é uma tarefa fácil, pois os dados dispo-
nitrogênio e fósforo presente na cama níveis na literatura técnico-científica
de maravalha foi calculada de acordo são muito variáveis. As quantidades de
com as recomendações da Comissão de nutrientes nos resíduos também são
Fertilidade do Solo – RS/SC (2005). variáveis devido a fatores como: o ma-
Para o cálculo da quantidade de de- nejo nutricional dos animais, sexo, ge-
jetos gerados pelos bovinos leiteiros, nética, manejo hídrico da propriedade,
utilizou-se a relação de 39 kg de dejeto condições de conforto ambiental nas
por Unidade Animal. A concentração instalações e qualificação da mão de
de nitrogênio e fósforo presente nos obra. Para o cálculo do balanço de nu-
dejetos bovinos foi calculada de acordo trientes, o mais recomendável é que se
com as recomendações da Comissão de faça uma análise dos diversos resíduos
Fertilidade do Solo – RS/SC (2005). originados na propriedade, em vez de
No balanço de nutrientes foram to- se utilizarem referenciais da literatu-
mados como elementos referenciais o ra, mas para isso deve-se considerar o
nitrogênio (N) e o fósforo (P). Com custo das análises e a proximidade de
isso, calculou-se a necessidade desses laboratórios. Se a análise dos resíduos
elementos para cada cultura vegetal, se- não for possível, sugere-se utilizar in-
gundo as recomendações agronômicas formações da literatura, considerando
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 91
condições ambientais e produtivas se- das devem ser consideradas no manejo
melhantes à propriedade. ambiental.
A Tabela 2 apresenta o balanço de O balanço total de nutrientes da
nutrientes por atividade zootécnica e propriedade demonstra um deficit de
na propriedade. Analisando-se cada nitrogênio, mas um excesso de fósforo.
produção animal em separado e rela- A quantidade total de fósforo em exces-
cionando esta com a necessidade das so proporcionada pelos dejetos animais
culturas, verifica-se que há um défi- foi de 2.076,47 kg de P2O5 ano-1, isso
cit de nitrogênio e fósforo para todas. significa 38,4% além da exigência das
Isso indicaria a necessidade de se rea- culturas. Portanto o manejo de resíduos
lizar uma adubação química. Mas essa e ambiental da propriedade deveria ter
seria uma visão errada e de alto risco como referencial esse elemento, e não o
ambiental, pois a propriedade é um nitrogênio. O déficit de nitrogênio seria
mosaico de atividades produtivas, e to- preenchido pela adubação química.

Tabela 2. Balanço de nutrientes por atividade zootécnica e na propriedade

Quantidades de Disponibilidade Residual de


Balanço de
Animais nutrientes fornecidas dos nutrientes no nutrientes
Nutrientes**
pelos resíduos primeiro cultivo* no solo

SUÍNOS
kg de N ano-1 2.897,40 1.448,70 - 1.406,30 1.448,70
kg de P2O5 ano-1 2.368,50 1.421,10 - 78,90 947,40
AVES
kg de N ano-1 735 367,50 - 2.487,50 367,50
kg de P2O5 ano -1
798 478,80 - 1.021,20 319,20

BOVINOS DE LEITE

kg de N ano-1 717,44 358,72 - 2.497,00 358,72


kg de P2O5 ano -1
409,97 245,98 - 1.254,00 163,99

Balanço da Propriedade

kg de N ano-1 4.349,84 2.174,92 - 680,08 2.174,92


kg de P2O5 ano -1
3.576,47 2.145.88 645,88 1.430,59
*
a disponibilidade de N no primeiro cultivo é de 50% e a de P2O5, de 60%, segundo a Comissão de
Fertilidade do Solo – RS/SC (2005).
**
Balanço de Nutrientes é a subtração da disponibilidade dos nutrientes no primeiro cultivo pela neces-
sidade de N e P2O5 das culturas da propriedade.

92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Destaca-se que grande parte desses fertilizante é uma prática que sempre
elementos não estarão disponíveis para estará presente nas unidades de produ-
as plantas no primeiro ciclo de cultivo, ção animal. Para que este seja feito de
mas presentes no solo de forma residu- forma correta e com reduzido risco am-
al. O residual deverá, obrigatoriamente, biental, necessita-se manejar a proprie-
ser considerado nas adubações futuras. dade considerando todas as atividades
Ele pode ser reduzido pelo uso de sis- econômicas; caso contrário, esse apro-
temas de tratamento, como biodigesto- veitamento será um constante foco de
res e plataformas de compostagem, os poluição difusa. A realização do balanço
quais mineralizarão a matéria orgânica, sempre deverá ser iniciada pela unidade
tornando os nutrientes mais disponíveis produtiva, mas também deve ser consi-
para o primeiro cultivo, ressaltando que derado o balanço de nutrientes da bacia
o aumento da disponibilidade inicial hidrográfica.
obrigará a uma menor aplicação de re-
síduos. O residual é ambientalmente 6. Zootecnia de
preocupante para o nitrogênio, pois este Conservação
apresenta elevada mobilidade, podendo As atividades zootécnicas estão
atingir os corpos d’água na forma de ni- numa encruzilhada, ou se continua a
trato. O fósforo é um elemento de baixa produzir proteína animal da forma atual,
mobilidade nos solos brasileiros, mas, com a certeza de que o passivo ambien-
por processos de escorrimento superfi- tal será grande, o que poderá inviabilizar
cial e erosão, o elemento poderá atingir as produções em determinadas regiões
as águas superficiais. devido à escassez de recursos naturais
Pode-se intervir de e/ou comprometimen-
quatro formas para di- Quatro formas para to da qualidade destes,
minuir a quantidade de diminuir a quantidade ou inserimos o manejo
nutrientes ofertada e o de nutrientes ofertada ambiental no cotidiano
residual no solo: melho- e o residual no solo: das produções. A deci-
rar o manejo nutricional, melhorar o manejo são está em nossas mãos.
utilizar culturas vegetais nutricional, utilizar Estamos frente a uma
que proporcionem maior culturas vegetais que oportunidade. Podemos
demanda de nutrientes, ex- proporcionem maior mostrar que a produção
portar os resíduos para ou- demanda de nutrientes, animal brasileira pode
tras áreas e utilizar sistemas exportar os resíduos ser grande, não só pelos
de tratamento de resíduos. para outras áreas e seus índices produtivos,
O aproveitamen- utilizar sistemas de mas também pelo seu
to dos resíduos como tratamento de resíduos. padrão ambiental.
5. Manejo Ambiental de Unidades de Produção Animal 93
Assim, preci- conhecimento das várias
Zootecnia de
samos pensar em práticas e tecnologias de
Conservação: área da
uma Zootecnia de aproveitamento e trata-
ciência zootécnica que
Conservação. Defino-a mento dos resíduos ani-
promove a conservação
como: área da ciência mais; o conhecimento da
dos ecossistemas
zootécnica que promove a economia da produção e
por meio do manejo
conservação dos ecossiste- ambiental; o conheci-
ambiental das
mas por meio do manejo mento da sociedade e de
produções, pautando-
ambiental das produções, seus valores ambientais,
se pela manutenção
pautando-se pela manu- econômicos e culturais.
das condições de
tenção das condições de É possível produ-
bem-estar social,
bem-estar social, cultural zirmos proteína animal
cultural e econômico
e econômico dos indivídu- com conservação am-
dos indivíduos, da
os, da propriedade e do biental. Para isso mu-
propriedade e do
entorno. danças, principalmente
entorno.
A aplicação des- culturais, devem ocorrer
sa Zootecnia de em todos os elos das ca-
Conservação depende do domínio dos deias de produção. Na última década,
seguintes conhecimentos: o conheci- avanços ocorreram na melhoria das
mento dos recursos naturais renováveis condições ambientais de nossas pro-
e não renováveis e como estes se relacio- duções. Esses avanços foram, em gran-
nam com a produção animal; o conheci- de parte, resultado de pressões sociais
mento dos conceitos fundamentais das e de legislação, e, por assim serem, não
ciências ambientais; o conhecimento causaram as mudanças culturais neces-
quantitativo e qualitativo dos resíduos sárias e as práticas não foram integral-
gerados; o conhecimento da legislação mente internalizadas, pois as mudan-
ambiental; o conhecimento de outras ças foram promovidas para atender a
atividades que podem ser parceiras na um objetivo que não era o manejo am-
viabilização do manejo ambiental; o biental das atividades.

94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


6. Alternativas
Econômicas na Utilização
dos Dejetos Sólidos e
Efluentes da Pecuária
Renata Soares Serafim – CRMV-SP 02321
Profª. Drª. das Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU

Introdução tar a densidade animal, de forma a in-


tensificar a produção animal (bovinos,
Estimativas indicam que, se a po- aves e suínos).
pulação mundial continuar crescendo Contudo, a intensificação dos siste-
como o previsto, haverá um adicional mas agropecuários com o intuito de au-
de dois bilhões de pessoas até 205012. mentar a produção de proteína animal,
Com o aumento da população mundial, de forma a atender a demanda mundial,
aumenta-se a deman- acarreta aumento da
da pela produção de A intensificação dos poluição ambiental,
alimentos, e com isso sistemas agropecuários que representa uma
todos os segmentos com o intuito de aumentar ameaça à saúde públi-
da agropecuária fazem a produção de proteína ca e dos animais.
uso de áreas cada vez animal acarreta aumento O Brasil conta com
menores para aumen- da poluição ambiental. rebanhos bastante nu-
6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 95
Os sistemas de produção de Quantificação
merosos, nos quais se
destacam a bovinocul-
suínos do Brasil propiciam dos dejetos
tura, com aproxima-
elevada produção de
damente 209 milhões Suinocultura
dejetos líquidos.
de cabeças16, a suino-
cultura, que responde Conhecendo-se a
pelo quarto maior efetivo mundial, com produção diária de dejetos de cada es-
quase 39 milhões de animais29, e a avicul- pécie e os fatores responsáveis pela va-
tura, cujo plantel, em 2011, foi de mais riação das características e quantidades
de um bilhão de aves (1.028,181)16. dos mesmos, como a espécie, sexo, ta-
Para que haja maior controle da ati- manho, raça, atividade, idade do animal,
vidade pecuária praticada, de forma a digestibilidade, teor de proteína e fibra
atender os preceitos da sustentabilidade da dieta, temperatura ambiente , etc., o
7

ambiental, permitindo menores emis- planejamento da criação torna-se mais


sões de gases poluentes, como os gases seguro ambientalmente, com margem
de efeito estufa (GEE), deve-se sempre de segurança para a ampliação do plan-
levar em consideração a produção de tel, e consequentemente alternativas
dejetos gerada por cada uma das espé- viáveis para a destinação dos efluentes
cies supracitadas, o dimensionamento gerados. As variações nas característi-
das instalações, que atualmente abrigam cas dos dejetos de suínos, por exemplo,
rebanhos mais numerosos em menores também ocorrem quando os animais
áreas, a destinação dos dejetos produ- estão sob condições de estresse ambien-
zidos e o tratamento destes antes de se- tal, fisiológico ou social.
rem utilizados na reciclagem energética Os sistemas de produção de suínos
e de nutrientes. do Brasil propiciam elevada produção

Tabela 1. Produção média diária de dejetos nas diferentes


fases produtivas dos suínos26
Dejetos
Fases de Esterco Esterco + urina/ Produção m³/ani./mês
líquidos L/
Produção kg/dia dia (kg) dejetos líquidos
dia
25 - 100 kg 2,30 4,90 7,00 0,25
Porcas gestantes 3,60 11,00 16,00 0,48
Porcas lactação 6,40 18,00 27,00 0,81
Macho 3,00 6,00 9,00 0,28
Leitões creche 0,35 0,95 1,40 0,05
Média 2,35 5,80 8,60 0,27

96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


de dejetos líquidos (Tab. 1), gerando ma considerável no volume de dejetos
problemas de manejo, armazenamen- produzidos pela suinocultura é o con-
to, distribuição e poluição ambiental. A teúdo de água presente nos dejetos,
concepção das edificações, alimentação, o que também afeta as características
tipo de bebedouros, sistema de limpeza físico-químicas destes. O dejeto é consi-
e manejo determinam, basicamente, as derado pouco diluído quando apresen-
características e o volume total dos de- ta mais de 4% de matéria sólida (MS),
jetos produzidos. Considerando-se es- muito diluído, com menos de 2,5% de
ses aspectos, deve-se prever a instalação MS, e de média diluição, com 2,6 a 3,9%
de bebedouros adequados, a aquisição de MS. Estima-se que a produção de
de equipamentos de limpeza de baixa efluentes das unidades de Ciclo comple-
vazão e alta pressão, e a construção de to seja 100 L/matriz/dia, 60 L/matriz/
sistemas que escoem a água de desper- dia para as unidades produtoras de lei-
dício dos bebedouros e de limpeza para tões e 7,5 L/terminado/dia. Portanto,
sumidouros e que evitem a entrada da uma granja em Ciclo completo, com 80
água do telhado e das enxurradas nas matrizes e dejetos “poucos diluídos”,
calhas e esterqueiras9. gera 8000 L/dia, cerca de 12.000 L/dia
Os dados apresentados na Tabela 1 com “diluição média” e 16.000 L/dia
evidenciam a variação da produção de quando “muito diluído28.
dejetos líquidos em função da categoria Assim sendo, os valores de produ-
animal e, de acordo com o volume pro- ção total dos dejetos de suínos somen-
duzido, deve-se dispensar maior aten- te poderão ser avaliados corretamente
ção ao armazenamento desses resíduos quando se considerar também o seu
e à sua destinação. grau de diluição30.
A época do ano também exerce Geralmente os animais são inefi-
grande influência sobre a quantidade de cientes em transformar os nutrientes a
resíduos produzidos pelos suínos, e o eles oferecidos em produto (carne, leite,
que se observa é que no verão o aumen- ovos). No caso de aves, estima-se que
to das dejeções ocorre devido às perdas somente 35 a 45% do nitrogênio pro-
de água. Alguns autores verificaram que teico consumido seja transformado em
a produção total de dejetos de suínos produto animal; e para suínos em cres-
variou de 3,6 kg/animal/dia, no inver- cimento, há ocorrências de utilização de
no, a 8,4 kg/animal/dia no verão, com nitrogênio e fósforo ingeridos na dieta
uma média de 5,7 kg/animal/dia; e em de 30 a 35%19.
relação ao PV do animal variou de 6,4% De maneira geral, para reduzir as
a 16,9%, com média de 10,7%23. perdas desses nutrientes nos dejetos, e
Outro aspecto que interfere de for- consequentemente a emissão de GEE
6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 97
proveniente desses aqueles criados em re-
A geração de resíduos
elementos, alguns pa- gime de confinamento,
na bovinocultura de leite
râmetros nutricionais
advém principalmente do com peso vivo de 454
devem ser observados, kg, excretam aproxi-
esterco.
dentre eles a composi- madamente 28 kg de
ção bromatológica dos dejetos líquidos dia-
ingredientes, a digestibilidade dos nu- riamente (85% de umidade). Devido
trientes poluentes em cada um dos in- ao aumento da ingestão de alimentos e
gredientes e as tecnologias disponíveis diminuição da digestibilidade da ração,
para aumentar tal digestibilidade, os ní- a quantidade de matéria seca do estru-
veis requeridos de N e P nas diferentes me produzido aumenta à medida que o
fases de produção, etc. teor de forragem da dieta aumenta. A di-
gestibilidade da porção concentrada da
Bovinocultura dieta também pode afetar a produção de
A geração de resíduos na bovinocul- dejetos8.
tura de leite advém principalmente do Considerando o rebanho bovino
esterco (puro e/ou diluído com água) brasileiro, superior a 209 milhões de
recolhido na sala de ordenha e do ester- animais, com uma produção média de
co mais cama dos estábulos. Quando o 28 kg de fezes por dia, pode-se prever
gado leiteiro é mane- a quantidade exor-
jado em instalações do Bovinos alimentados bitante de fezes pro-
tipo free stall, o mane- com dietas ricas em duzidas diariamente
jo do esterco pode ser concentrados excretam (5.852.000.000 kg),
feito na forma líquida, aproximadamente 28 com um teor de sólidos
semissólida e sólida. Se kg de dejetos líquidos totais (ST) de 15%, em
o regime de confina- diariamente. média. A partir daí, o
mento é total e a opção tal volume merece es-
é por esterco líquido, pecial atenção devido
todos os dejetos (fezes, urina e água) se- aos prejuízos ambientais que podem
rão coletados3. causar pela falta de tratamento e de ma-
Os dejetos nas granjas leiteiras têm nejo adequado. Esses resíduos orgâni-
recebido crescente atenção, devido às cos, quando bem manejados e recicla-
perdas de nutrientes que podem causar dos adequadamente no solo, saem da
contaminação do ar, do solo, de águas condição de poluentes e passam a cons-
superficiais e subterrâneas. tituir valiosos insumos para a produção
Bovinos alimentados com dietas agrícola sustentável. Produzir de forma
ricas em concentrados, especialmente sustentável implica reduzir os custos e

98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


evitar desperdícios de Pesquisadores austra-
60% do consumo de N é
energia e de matérias- lianos observaram que
volatilizado à atmosfera
-primas, aumentando a bovinos alimentados
na forma amônia
produtividade, a com- dos 70 aos 300 dias de
(NH3), N2O e outros
petitividade do capital compostos nitrogenados idade com rações con-
e da mão de obra .5
caracterizados como tendo sorgo apresenta-
A alimentação de gases de efeito estufa ram excreções de 71,0
bovinos confinados, e contribuintes do a 85,5 kg/animal/ano
nutricionalmente ba- aquecimento global. e 10,4 a 13,0 kg/ani-
lanceadas, com alta mal/ano de nitrogênio
energia, pode apresen- e fósforo, respectiva-
tar várias vantagens sobre os sistemas mente, e de 65,0 a 76,5 kg/animal/ano
de criação extensiva, e alguns riscos po- e 9,1 a 11,3 kg/animal/ano de nitrogê-
tenciais também. A dieta desses animais nio e fósforo, respectivamente, quando
acarreta a concentração de nutrientes receberam dieta à base de cevada36.
em áreas geográficas relativamente pe- Alguns autores avaliaram a produ-
quenas. Nesse sentido, alguns nutrien- ção de dejetos de vacas leiteiras de alta
tes de preocupação ambiental primária produção, com peso corporal médio de
para a agricultura são o nitrogênio (N), 454 kg, recebendo dieta basal por qua-
fósforo (P), carbono (C) e enxofre (S). tro períodos de coleta, e estimaram pro-
Além desses elementos, hormônios en- duções médias de 48,10 kg de matéria
dógenos e exógenos, antibióticos e ou- natural (fezes e urina) por dia, dos quais
tros aditivos alimentares podem se acu- 6,08 kg eram de matéria seca25. Em ou-
mular nos dejetos36. tros trabalhos, em que os autores forne-
Cerca de 90% de N presente na die- ceram diferentes dietas às vacas leiteiras,
ta de bovinos confinados é excretado e as produções médias de dejetos obtidas
apenas 14% é retido pelo animal8, e cer- foram de 29,21; 31,97; 27,80 e 26,10 kg,
cade 60% de consumo de N é volatiliza- respectivamente, para as dietas conten-
do à atmosfera na forma amônia (NH3), do silagem de milho, cana-de-açúcar in
N2O e outros compostos nitrogenados natura, cana-de-açúcar hidrolisada com
caracterizados como gases de efeito es- cal virgem e com cal hidratada37.
tufa e contribuintes do aquecimento A geração de dejetos em bovinos
global .
36
leiteiros é altamente dependente do
Os ingredientes utilizados na for- consumo de alimentos, que, por sua vez,
mulação das dietas também contribuem se relaciona à produção diária de leite.
com as variações das taxas de excreção Vacas holandesas – estimaram para va-
de nitrogênio e fósforo nos dejetos. cas holandesas –, consumindo em mé-
6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 99
dia 18,7 kg de matéria a biodigestão anaeró-
A quantidade de dejetos
seca/dia e produzindo
produzidos por bovinos de bia, compostagem ou
em torno de 22 kg de
corte é inferior à produzida lagoas de decantação.
leite/dia, geram dia- por bovinos leiteiros, Cada resíduo, de acor-
riamente 62,48 kg de principalmente quando do com sua caracte-
fezes + urina .
34
se toma por base animais rística físico-química,
De maneira geral, a em pastejo, sistema será aproveitado com
quantidade de dejetos predominante no Brasil. maior eficiência em um
produzidos por bovi- ou outro sistema de
nos de corte é inferior à tratamento, resultando
produzida por bovinos leiteiros, princi- em produto estabilizado e com elevado
palmente quando se toma por base ani- valor agregado.
mais em pastejo, sistema predominante
Biodigestão anaeróbia dos
no Brasil. Bovinos de corte com 450 kg
dejetos animais
de peso vivo (1 UA) excretam 8,5 tone-
ladas por ano, e bovinos leiteiros, 12 to- Devido à crescente dependência do
neladas/ano de dejetos frescos11. mundo em relação aos combustíveis
derivados do petróleo, houve algumas
Tratamento dos dejetos mudanças desde o início do século que
O próprio sistema de produção in- possibilitaram o uso de fontes alterna-
dicará a opção mais adequada para o tra- tivas para produção de energia, como
tamento dos dejetos, os óleos vegetais, ga-
de forma a serem, pos- sogênio, gás natural e
teriormente, utilizados O processo de digestão biogás.
como biofertilizantes
anaeróbia caracteriza- O processo de di-
(estado líquido) em
se pela transformação gestão anaeróbia carac-
substituição parcial ou
de compostos orgânicos teriza-se pela transfor-
complexos em substâncias
total aos adubos quí- mação de compostos
mais simples que são
micos, ou compostos orgânicos complexos
metabolizadas, resultando
(estado sólido). em substâncias mais
em uma mistura de gases
Dentre os proces- simples que são meta-
que formarão o biogás.
sos biológicos passí- bolizadas, resultando
veis de serem utiliza- em uma mistura de
dos no tratamento dos resíduos gerados gases que formarão o biogás: metano
pela produção animal (bovinocultura (CH4), dióxido de carbono (CO2),
leiteira e de corte, suinocultura, avicul- amônia (NH3), gás sulfídrico (H2S),
tura, etc.), pode-se citar, dentre outros, além da energia2, 22, 23, 31.
100 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
Material orgânico em suspensão:
proteínas, carboidratos, lipídeos

Hidrólise

Aminácidos, açúcares Ácidos graxos

Acidogênese

Piruvato Burato Propionato Ácidos graxos, álcoois

Acetogênese

Acetato, NH₃.-N; H₂S Hidrogênio. CO₂

Metanogênese

Metano + CO₂

Figura 1. Sequência de processos na digestão anaeróbia de macromoléculas complexas24.

A microbiologia do processo de recuperada para o uso na agricultura31.


biodigestão anaeróbia pode ser esque- Esse processo apresenta outros,
matizada no fluxograma representado como o tratamento de resíduos, tanto
na Figura 1, o qual ilustra as fases da na forma líquida quanto na forma só-
transformação da matéria orgânica em lida, constituindo uma eficiente forma
biogás. de tratamento por trabalhar quanti-
O processo de biodigestão anaeró- dades consideráveis de material, alta
bia apresenta ser um eficiente modelo redução de DBO, produção de biofer-
para reciclagem energética de resíduos, tilizante, pequena produção de lodo,
principalmente por fornecer um trata- baixos custos operacionais e de inves-
mento adequado ao efluente, tornando- timento, obtenção de energia, através
-o apto para sua utilização como biofer- do biogás, redução de impactos am-
tilizante após a estabilização da matéria bientais, de patógenos e de odor, e de-
orgânica. A maioria dos nutrientes per- manda pequenos espaços de terra para
manece no material tratado e pode ser o tratamento21.

6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 101


O efluente tratado ra o processo de fer-
O efluente tratado através
através do processo mentação anaeróbia,
do processo anaeróbio pode
anaeróbio pode ser portanto não necessita
ser reutilizado na irrigação
reutilizado na irriga- de um tempo de de-
de pastagens sem qualquer
ção de pastagens sem composição adicional
impacto negativo.
qualquer impacto ne- quando lançado ao
gativo relacionado a solo, e não contamina o
maus odores, e tanto o biogás quanto o mesmo com bactérias nocivas nem per-
biofertilizante somente serão utilizados mite a proliferação de ervas daninhas.
após sua estabilização, a fim de se evitar
Potenciais de produção de
problemas relacionados com mau odor,
biogás
moscas, contaminação do solo, plantas,
águas subterrâneas e superficiais devido O biogás é produzido em biodiges-
à presença de nutrientes em formas não tores anaeróbios, caracterizados como
assimiláveis38. Em trabalho realizado uma câmara fermentativa, na qual se
com a aplicação de 0 a 600 m³ de bio- processa a fermentação da matéria orgâ-
fertilizante/ha/ano, obtido a partir do nica. Os biodigestores são acompanha-
efluente de suinocultura, foi observa- dos de uma campânula acumuladora do
do um aumento na produção de mas- gás desprendido da biomassa, conheci-
sa de forragem e da proteína bruta em da como gasômetro. Na escolha do tipo
pastagem de Brachiaria brizantha CV. do biodigestor deve-se levar em consi-
Marandu, utilizando-se a maior dose de deração o resíduo a ser tratado (sólidos
aplicação (Tab. 2). ou líquidos), sendo que, em cada tipo,
O biofertilizante já se encontra em o processo poderá ocorrer com maior
sua forma assimilável quando se encer- ou menor eficiência, dependendo dos

Tabela 2. Produção de massa de forragem e proteína bruta da Brachiaria


brizantha CV. Marandu adubada com biofertilizante 33

Tratamentos Produção de Massa Seca (kg/ha/ano) Proteína Bruta (PB)

Testemunha 1348 D 8,43 D

100 m³ 1884 C 11,04 C

200 m³ 2155 BC 12,78 B

300 m³ 2434 B 13,00 AB

600 m³ 2847 A 14,39 A


* Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5%.

102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


meios disponíveis para sua construção humana e de animais e ao meio ambien-
e dos objetivos que se pretende atingir te, caso não fosse tratado. Os dados da
com sua concepção. Tabela 4 apresentam algumas equiva-
A produção de biogás varia em fun- lências energéticas de 1,0 m³ de biogás.
ção da composição química da matéria- Ao projetar um biodigestor para
-prima utilizada, da espécie animal (Tab. atender às demandas energéticas de
3), de fatores relacionados ao manejo uma família, alguns autores encontra-
nutricional dos animais, da temperatu- ram parâmetros importantes e eficazes
ra ambiente e da eficiência do sistema quanto ao uso do biogás, como, por
digestor. exemplo: gás necessário para cocção,
O conhecimento da equivalência 0,24 m³ de biogás por pessoa por dia;
energética do biogás constitui-se um iluminação, 0,12 a 0,15 m³ de biogás
importante parâmetro para a escolha por hora por lâmpada; motores, 0,45 m³
do processo da biodigestão anaeróbia de biogás por HP por hora32. Em outros
como alternativa de tratamento dos de- estudos, foi possível verificar que 16 m³
jetos animais. Além da reciclagem ener- de biogás são suficientes para movimen-
gética e de nutrientes, o processo favo- tar um motor de 5 HP durante 5 horas/
rece a agregação de valor a um resíduo dia, produzindo eletricidade para ilumi-
que poderia ser uma ameaça à saúde nação e movimentando máquinas; para

Tabela 3. Produção de biogás de acordo com a espécie animal

Dejeto/dia Produção gás/kg Gás/animal/dia


Fonte de esterco (kg) (m³) (m³)
Bovino 10,00 0,0371 0,37
Suíno 2,25 0,0636 0,18
Galinha (2 kg) 0,18 0,0050 0,01
Fezes humanas 0,35 0,0707 0,03
Ovino 2,80 - -
Equino 10,00 - -

Tabela 4. Equivalência energética do biogás26


Gás Equivalência energética
0,66 L de diesel
0,7 L de gasolina
Biogás (m³)
0,6 a 0,8 L de petróleo
0,43 a 0,55 kg de GLP (gás liquefeito de petróleo)

6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 103


uma geladeira ligada está em sua forma ins-
Entende-se por
continuamente e um tável, para formas orgâ-
compostagem o processo
fogão para cozinhar biológico aeróbio nicas estáveis, redução
para oito pessoas20. responsável pela do volume do resíduo,
decomposição do material a natureza do resíduo, e
Compostagem
orgânico biodegradável em o material compostado
Entende-se por húmus. ainda pode ser usado
compostagem o pro- como fertilizante15, 31.
cesso biológico aeróbio Alguns fatores po-
responsável pela decomposição do mate- dem comprometer a eficácia do processo
rial orgânico biodegradável em húmus, de compostagem, como a temperatura,
por ação dos microrganismos, em am- aeração, conteúdo da mistura, pH, rela-
biente úmido, aquecido, com produção ção C:N, tamanho das partículas e grau
de dióxido de carbono, água, minerais. O de compactação15.
material humidificado é facilmente ma- Para a obtenção de um composto
nuseado, estocado, e contribui para a fer- estabilizado e ideal para uso agrícola, a
tilidade e estrutura do solo. Esse processo relação C/N deve ser mantida em tor-
caracteriza-se pela redução de patógenos, no de 25 a 40:1, o teor de umidade, por
conversão do nitrogênio amoniacal, que volta de 60%, e a temperatura, entre 60-

Tabela 5. Gases atmosféricos, fontes e contribuição


para o aumento do efeito estufa6
Gás Carbônico Metano Óxido Nitroso Clorofluorcarbonetos
(CO2) (CH4) (N2O) (CFC's)
Conbustíveis Arroz cultiva- Fertilizantoes e
Principal fon- Refrigeradores e proces-
fósseis e do inundado conversão do uso da
te antrópica sos industriais
desmatamento e pecuária terra
Tempo de
vida na 50-200 anos 9-15 anos 150 anos 60-100 anos
atmosfera
Taxa anual de
0,5% 0,9% 0,3% 4%
contribuição
Contribuição
relativa ao 60% 15% 5% 12%
efeito estufa
Potencial
calórico em 1 21-25 298-310 3.800-16400
relação ao CO2

104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


70°C. Valores superio- global do planeta.
A agricultura pode
res para a relação C/N Segundo o subse-
contribuir com a redução
significam que não há cretário-geral da ONU
da temperatura média
nitrogênio suficiente e diretor executivo do
global, já que as emissões
para um ótimo cresci- diretas desse setor são Programa das Nações
mento das populações responsáveis por 11% do Unidas para o Meio
microbianas, e a veloci- total global de gases de Ambiente (PNUMA),
dade de decomposição efeito de estufa. Achim Steiner (2013),
será reduzida. Por ou- “a agricultura pode
tro lado, baixos valores contribuir com a re-
de C/N induzem perdas de nitrogênio dução da temperatura média global, já
na forma de amônia, causando odores que as emissões diretas desse setor são
indesejáveis³5. responsáveis por 11% do total global de
gases de efeito de estufa”. Os principais
Redução na emissão de gases de gases do efeito estufa responsáveis pelo
efeito estufa
adicional em relação aos níveis pré-in-
Estima-se que a população mundial dustriais são o gás carbônico (CO2), o
chegue a 9,5 bilhões de pessoas no ano metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O),
de 2050. A FAO (2013) estimou que a conforme pode-se observar na Tabela 5.
produção mundial de alimentos deverá O relatório da Agência Nacional
aumentar em aproximadamente 70% de Proteção Ambiental dos Estados
para atender aos estes efeitos desse cres- Unidos (2014) considerou o gás meta-
cimento da população mundial. no (CH4) como o segundo gás de efei-
Muito tem se discutido sobre o meio to estufa mais prevalente emitido nos
ambiente e aquecimento global ultima- Estados Unidos. Em 2012, foi responsá-
mente, com o intuito de promover uma vel por cerca de 9% de todas as emissões
conscientização acerca da escassez dos de gases de efeito estufa das atividades
recursos naturais, que estão se exaurin- humanas nos Estados Unidos. Os pro-
do de forma rápida devido às atividades cessos naturais no solo e reações quími-
antrópicas, como queima de combustí- cas na atmosfera ajudam a remover esse
veis fósseis, aumento da frota de veícu- gás da atmosfera. Seu tempo de vida na
los, produção de resíduos, como o lixo, atmosfera é muito mais curto do que o
e a produção animal. Como consequên- do dióxido de carbono (CO2), embora
cia dessas atividades, pode-se destacar a seja mais eficiente na captura de radia-
emissão de gases de efeito estufa (GEE) ção do que o CO2. Considerando o po-
para o meio ambiente, os quais favore- tencial de aquecimento global durante
cem o aumento da temperatura média um período de 100 anos, o impacto do
6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 105
CH4 sobre a mudan- O que se observa,
O manejo adotado para
ça climática é 20 ve- na maioria das vezes,
a estocagem e destinação
zes maior do que o do dentro dos modelos de
dos dejetos animais exerce
CO2. produção de proteína
influência considerável na
A pecuária de corte animal, é que os produ-
concentração de metano
e leite busca explorar tos classificados como
gerado e emitido ao meio.
áreas cada vez meno- resíduos (dejetos, ca-
res e alojar um maior mas, restos de alimen-
número de animais, com o intuito de in- tação) recebem uma destinação inade-
tensificar a produtividade (kg carne ou quada, contribuindo para o aumento da
leite/ha), em sistemas confinados, e por emissão de GEE e reduzindo a lucrativi-
isso tem sido apontada como potencial dade da base da cadeia produtiva.
poluidor ambiental, devido à elevada Mesmo rotulada negativamente
produção de dejetos gerada no sistema sobre seus reflexos ambientais, a pecu-
e altas concentrações de GEE que con- ária nacional apresenta alta capacida-
tribuem com o aquecimento global. de de redução e sequestro de carbono
A mídia tem abordado o assunto atmosférico.
rotulando a produção de carne bovina Emissões de metano a partir
como inimiga ambiental, principalmen- da pecuária e do manejo dos
te devido à necessidade de se produzir dejetos bovinos
proteína animal de melhor qualidade e Levando-se em consideração que
eficiência, sob a ótica do bem-estar ani- um bovino de 450 kg de peso vivo pro-
mal, de forma a atender proporcional- duz 8,5 toneladas de dejetos por ano, e
mente ao crescimento populacional de uma vaca, 12 t11, torna-se possível di-
modo sustentável. E atender a essa de- mensionar os impactos causados pelas
manda ainda é um grande desafio. exorbitantes produções de dejetos em
A produção animal deve caminhar sistemas confinados, principalmente.
ao lado da sustentabilidade ambiental, Os dejetos produzidos por bovinos con-
uma vez que, para promover-se a inten- finados são considerados os principais
sificação dos sistemas de produção, tor- fornecedores de metano para a atmosfe-
na-se necessário explorar de forma mais ra, uma vez que são manipulados como
expressiva o potencial genético dos ani- líquidos em lagoas ou tanques27.
mais, e com isso melhorar a qualidade O manejo adotado para a estocagem
dos alimentos utilizados na formulação e destinação dos dejetos animais exer-
das dietas, ocasionando menor excreção ce influência considerável na concen-
dos principais nutrientes promotores de tração de metano gerado e emitido ao
impactos ambientais. meio. Daí a importância de se projetar
106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
adequadamente as instalações para cap- diais de metano (CH4), cabendo à agro-
tarem os dejetos de forma ambiental- pecuária 30% e aos ruminantes, 25% do
mente segura e sustentável, impedindo total emitido18. No contexto das ativida-
que consideráveis volumes de resíduos des agropecuárias, a produção do arroz
sejam lançados em mananciais hídricos. contribui com aproximadamente 11%
Em sistemas de produção de leite, de todas as fontes do metano, e com
a questão do tratamento dos dejetos relação aos ruminantes, a fermentação
torna-se mais relevante, uma vez que, entérica contribui com 16% e a degra-
diariamente, as matrizes em lactação dação de dejetos e resíduos, com 17%10.
são ordenhadas e mantidas em curral Das fontes de metano entéricas, os reba-
de espera e sala de ordenha por um de- nhos de corte e tração participam com
terminado período do dia, favorecendo 50%, o rebanho leiteiro, com 19%, e ovi-
maior manipulação e movimentação de nos, com 9% da produção14.
dejetos27.
O manejo inadequado e a falta de
Redução na emissão de gases
promotores do efeito estufa
tratamento dos dejetos da produção
animal podem acarretar sérios proble- As fermentações entéricas oriun-
mas ambientais. Nos grandes produ- das do metabolismo da digestão de
tores de carne bovina, como Estados carboidratos celulósicos ingeridos pe-
Unidos, Austrália, Brasil e Argentina, os los animais ruminantes constituem um
efluentes oriundos da produção animal processo anaeróbio, efetuado pela mi-
são a principal fonte de poluição dos re- crobiota ruminal, que converte carboi-
cursos hídricos, superando até mesmo dratos em ácidos graxos de cadeia curta,
os índices das indústrias4. principalmente ácido acético, propiôni-
Em 1994, as emissões de metano co e butírico. Nesse processo fermenta-
provenientes da pecuária foram estima- tivo, são produzidos também o dióxido
das em 9,8 Tg, sendo que 9,4 Tg foram de carbono (CO2) e o metano (CH4),
atribuídos à fermentação entérica e 0,4 em maior ou menor quantidade, depen-
Tg aos sistemas de manejo de dejetos dendo da concentração e proporções
animais. Naquele ano, a categoria de bo- relativas dos ácidos produzidos.
vinos de corte foi responsável por 81% O impacto da suplementação pro-
das emissões de metano provenientes teico-energética na emissão de CH4 de
da pecuária no Brasil, e a categoria de novilhos, durante a recria, em pastagem
gado leiteiro contribuiu com 13%, e as de capim mombaça, foi estudado por
demais categorias de animais, com 6% alguns autores, e, dentre os resultados
das emissões17. Fontes antrópicas con- obtidos, verificaram produções de CH4
tribuem com 70% das emissões mun- por kg de matéria seca (MS) ingeri-
6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 107
da (g/kg) de 21,51 e A produção de
A intensidade da emissão
29,76, para animais metano pelos bovinos
de metano proveniente
suplementados e não e outros ruminantes
da fermentação ruminal
suplementados, res- constitui tema fre-
depende principalmente
pectivamente. Quanto do tipo de animal, do quente de debates nos
à perda diária de ener- consumo de alimentos e do meios acadêmicos e
gia na forma de CH4, grau de digestibilidade da científicos. Estima-se
não foram observadas massa ingerida. que no mundo as fer-
diferenças significa- mentações entéricas
tivas, mas, quando a dos rebanhos produ-
perda de energia foi expressa como zam de 160 a 200 milhões de tonela-
porcentagem da EB ingerida, os ani- das de metano por ano. O Inventário
mais suplementados tiveram menor de Emissões de Gases de Efeito Estufa
perda (P<0,05) que os não suplemen- dos EUA acompanhou a tendência na-
tados. Os valores de perda de energia cional de emissões de gases de efeito
na forma de metano, como porcen- estufa de 1990-2012, conforme apre-
tagem de EB ingerida, foram de 6,36 sentado na Tabela 6.
e 8,59, para suplementados e não su- Os dados da Tabela 6 indicam que
plementados, respectivamente, o que houve uma redução na emissão total
comprovou que a suplementação com de metano de 1990 a 2012, atribuída,
concentrado age de forma efetiva na principalmente, aos aterros e tratamen-
mitigação da emissão de metano, redu- to de efluentes, cujos tratamentos são
zindo a proporção da energia perdida realizados por processos anaeróbios,
na forma de CH4 13. enquanto a compostagem emite meta-
A intensidade da emissão de meta- no para a atmosfera, por se tratar de um
no proveniente da fermentação rumi- método aeróbio.
nal depende principalmente do tipo O USDA (Departamento de
de animal, do consumo de alimentos Agricultura dos Estados Unidos), a
e do grau de digestibilidade da massa Agência de Proteção Ambiental (EPA)
ingerida. As estratégias para a redução e o Departamento de Energia dos
das emissões de metano pela pecuária Estados Unidos (DOE), em parceria
estão ligadas à melhoria da dieta e das com a indústria de laticínios, lançaram
pastagens, à suplementação alimen- em junho de 2014 um conjunto de
tar, ao aumento da capacidade produ- estratégias voluntárias para acelerar a
tiva dos animais e a outras medidas adoção de biodigestores e outras tec-
que refletem em melhor eficiência nologias de baixo custo para reduzir a
produtiva27. emissão de gases de efeito estufa no se-
108 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
tor de lácteos dos Estados Unidos, em tecnologia do biodigestor, fornecendo
25%, até 2020. O USDA e a EPA con- assistência técnica e financeira através
tinuarão apoiando a implantação da de programas de voluntariado.

Tabela 6. Emissões de metano e óxido nitroso de diferentes resíduos1


Fontes/Gás 1990 2005 2008 2009 2010 2011 2012

CH4 7,678 6,048 6,159 6,190 5,926 5,798 5,580

Aterros 7,036 5,339 5,444 5,492 5,234 5,112 4,897

Tratamento de
626 635 635 623 619 611 608
Efluentes

Compostagem 15 75 80 75 73 75 76

N2O 12 20 21 21 21 22 22

Tratamento de
águas residuais 11 14 15 16 16 16 16
domésticas

Compostagem 1 6 6 6 5 6 6

Referências bibliográficas em sistemas intensivo de produção de leite. Circular


Técnica, n. 75, EMBRAPA, Juiz de Fora, p. 1-5,
1. Agência de Proteção Ambiental - EPA, 2014. 2003.
Capítulo 8 – Waste. Disponível em: http://epa.
5. CAMPOS, A. T.  Tratamento de dejetos de bovinos
gov/climatechange/Downloads/ghgemissions/
de leite. Embrapa Gado de Leite. Notícias. Juiz de
US-GHG-Inventory-2014-Chapter-8-Waste.pdf.
Fora, 2008.
Acesso em 15/07/2014.
6. CHIZZOTTI, M. L.; LADEIRA, M. M.;
2. CAMARERO, L.; DIAZ, J. M.; ROMERO, F. Final
MACHADO NETO, O. R.; LOPES, L. S. Mitigação
treatment for anaerobically digested piggery slurry
dos gases de efeito estufa na pecuária de corte, 2012.
effluents. Biomass and Bioenergy, v. 11, n. 6, p. 483-
Disponível em: http://www.beefpoint.com.br/
489, 1996.
cadeia-produtiva/sustentabilidade/mitigacao-
3. CAMPOS, A.T. Análise da viabilidade da reciclagem -dos-gases-de-efeito-estufa-na-pecuaria-de-corte.
de dejetos de bovinos com tratamento biológico, em
7. CLANTON, C. J.; NICHOLS, D. A.; MOSER, R.
sistema intensivo de produção de leite. 1997. 161p.
L.; AMES, D. R. Swine manure characterization as
Tese (doutorado em Agronomia) – Faculdade de
affected by environmental temperature, dietary le-
Ciências Agronômicas, Universidade Estadual
vel intak, and dietary fat addition. Transactions of
Paulista, Botucatu.
the ASAE, v. 34, n.5, p.2164-2170, 1991.
4. CAMPOS, A. T., CAMPOS, D. S., CAMPOS, A.
8. COLE, N. A.; TODD, R. W.; HALES, K. E.;
T., PIRES, M. F. Tratamento de águas residuárias

6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 109


PARKER, D. B. et al. Nutritional management Physical Science Basis. Contribution of Working
of feedlot cattle optimize performance and mini- Grop I to the Fourth Assessment Report of the
mize environmental impact. In: SIMPÓSIO Intergovernmental Panel on Climate Change.
DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, [Solomon, S.; D. Qin, M. Manning, et.al.(eds.)].
8, e II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE Cambridge University Press, Cambridge, United
PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, Viçosa. Kingdom and New York, NY, USA, 996p., 2007.
Anais..., Viçosa, 2012.
19. JONGBLOED, A. W.; LENIS, N. P.; MROZ, Z.
9. DARTORA, V.; PERDOMO, C. C.; TUMELERO, Impact of nutrition on reduction of environmental
I. L. Manejo de dejetos de suínos. EMBRAPA- pollution by pigs: an overview of recent research.
EMATER, ano 7, n.11, 1998 (Boletim Informativo Vet. Quart, v.19, p.130-134, 1997.
de Pesquisa). 20. KONZEN, E. A. Manejo e utilização dos deje-
10. DEMARCHI, J. J. A. A.; BERNDT, A.; tos de suínos. Concórdia: EMBRAPA – CNPSA,
PRIMAVESI, O.; LIMA, M. A.; Emissões de gases 1983. 32p. (Circular técnica, 6).
de efeito estufa e práticas mitigadoras em ecossiste- 21. LEMA, J.M.; OMIL, F. Anaerobic treatment: a key
mas agropecuários - bovinos de corte. Pesquisa & technology for a sustainable management of wastes
Tecnologia, v. 3, n. 1 Jan-Jun, 2006. in Europe. Water Science & Technology, v. 44, n. 8,
11. ENSMINGER, M. E.; OLDFIELD, J. E.; p. 133–140, 2001.
HEINEMANN, W. W. Feeds and nutrition. 2. Ed. 22. LETTINGA, G. Digestion and degradation, air
Clovis, Califórnia. The Ensminger Publishing for life. Water Science & Technology, v. 44, n. 8, p.
Company, 1990. 1544p. 157–176, 2001.
12. FAO. Statistical Yearbook – World food and agricul- 23. LUCAS JR., J. Algumas considerações sobre o uso do
ture, Rome, 307 p., 2013. estrume de suínos como substrato para três sistemas
13. FONTES, C. A. A. et al. Emissão de metano por bo- de biodigestores anaeróbios. Jaboticabal, 113p. Tese
vinos de corte, suplementados ou não, em pastagem de (Livre-Docência) – Faculdade de Ciências Agrárias
capim mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça). e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista.,
I-Perdas energéticas. In.: REUNIÃO ANUAL DA 1994.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 24. MASSÉ, D. I.; DROSTE, R. L. Comprehensive
48. O Desenvolvimento da Produção Animal e a model of anaerobic digestion of swine manure slur-
Responsabilidade Frente a Novos Desafios Belém ry in a sequencing batch reactor. Water Resource, v.
– PA, 18 a 21 de julho de 2011. 34, n.12, p. 3087-3106, 2000.
14. FREITAS, V. O.; ARALDI, D. F. Impacto ambiental 25. MORSE, D. et al. Production and characteristics
da emissão de gases pela pecuária. In: SEMINÁRIO of manure from lactating dairy cows in Florida.
INTERINSTITUCIONAL DE ENSINO, Transactions of the ASAE, St. Joseph, v. 37, n. 1, p.
PESQUISA E EXTENSÃO. XVI Mostra de 275-279, jan/feb, 1994.
Iniciação Científica e IX Mostra de Extensão, 2011.
26. OLIVEIRA, P. A V. de. Manual de manejo e utili-
15. IMBEAH, M. Composting piggery waste: a review. zação dos dejetos de suínos. EMBRAPA-CNPSA,
Bioresource Technology, v.63, p.197-203, 1998. Documentos, 27, 1993.188 p.
16. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 27. PEDREIRA, S.M; PRIMAVESI, O. Impacto
E ESTATÍSTICA. IBGE. Produção da Pecuária da produção animal sobre o ambiente. In:
Municipal. 2011. Disponível em ftp://ftp.ibge.gov. BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G.
br/Producao_Pecuaria/Producao_da_Pecuaria_ (Eds.) Nutrição de ruminantes. 1.ed. Jaboticabal:
Municipal/2011/ppm2011.pdf. Acesso em março Funep, 2006. p.497-511.
de 2013.
28. PERDOMO, C. C.; LIMA, G. J. M. M. De;
17. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON NONES, K. Produção de suínos e meio am-
CLIMATE CHANGE – IPCC, 1996. Guidelines biente. In.: SEMINÁRIO NACIONAL DE
for National Greenhouse Gas Inventories: Reference DESENVOLVIMENTO DA SUINOCULTURA,
Manual. 9. 2001, Gramado. Anais...Concórdia: EMBRAPA
Suínos e Aves, 2001, p. 8-24.
18. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
CLIMATE CHANGE - IPCC, 2007: The 29. PORKWORL. Região Sul detém quase 50% do

110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


rebanho de suínos do Brasil, 2013. Disponível em: 35. VALENTE, B.S.; XAVIER, E.G.; MORSELLI,
http://www.porkworld.com.br/noticia/regiao- T.B.G.A.; JAHNKE, D.S.; BRUM JR, B.S.;
-sul-detem-quase-50-do-rebanho-de-suinos-do- CABRERA, B.R.; MORAES, P.O.; LOPES, D.C.N.
-brasil. Acesso em 18/07/2014. Fatores que afetam o desenvolvimento da compos-
tagem de resíduos orgânicos. Arch. Zootec. v.58,
30. RODRIGUES, L. S.; SILVA, I. J.; LOPES, B. C. p.59-85. 2009.
Caracterização de águas residuárias em sistemas de
produção animal. Cadernos Técnicos de Veterinária e 36. WATTS, P. J; McGAHAN, E. J.; BONNER, S.
Zootecnia, n. 66, ago., 2012, pág. 52-70. L.; WIEDEMANN, S. G. Meat and Livestock
Australia (MLA) - Final Report. Literature Review
31. SALMINEN, E. A.; RINTALA, J. A. Anaerobic - Feedlot Mass Balance, 2011.
digestion of organic solid poultry slaughterhouse
waste – a review. Bioresource Technology, v.83, p.13- 37. XAVIER, C.A.N.; LUCAS JÚNIOR, J.;
26, 2002. TEIXEIRA JÚNIOR, D.J.; COSTA, L.V.C.;
SILVA, A.A. Quantificação de dejetos de vacas em
32. SEIXAS, J.; FOLLE, S.; MARCHETII, D. lactação confinadas recebendo diferentes volumo-
Construção e funcionamento de biodigestores. Brasília, sos na dieta. In.: SIMPÓSIO INTERNACIONAL
EMBRAPA-CPAC, 1981. 60p. (EMBRAPA- SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
CPAC. Circular Técnica, 4). DE ANIMAIS, 5, 2009, Florianópolis. Anais....
33. SERAFIM, R. S. Produção e composição química Florianópolis, 2009, p. 589-594.
da Brachiaria brizantha CV. Marandu adubada 38. YANG, P. Y.; GAN, C. An on-farm swine waste
com água residuária de suinocultura. Jaboticabal, management system in Hawaii. Bioresource
96p. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Technology, v. 65, p.21-27, 1998.
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista, 2010.
34. VAN HORN, H. H., WILKIE, A. C. POWERS,
W. J., NORDSTEDT, R. A. Components of dairy
manure management systems. J. Dai. Sci. 77(7):
2008-2030, 1994.

6. Alternativas Econômicas na Utilização dos Dejetos Sólidos e Efluentes da Pecuária 111


7. Emissão de gases
de efeito estufa
pela pecuária e
ação mitigadora da
integração lavoura
pecuária
Domingos Sávio Queiroz1,* 1
Zootecnista Pesquisador da EPAMIG, Bolsista da FAPEMIG
Maria Celuta Machado Viana2 * Email para contato: dqueiroz@epamig.br
Regis Pereira Venturin3
2
Engª. Agrônoma, Pesquisadora da EPAMIG
3
Eng. Agrônomo, Pesquisador da EPAMIG
Edilane Aparecida Silva4 4
Zootecnista, Pesquisadora da EPAMIG
Leonardo de Oliveira Fernandes5 5
Zootecnista, Pesquisador da EPAMIG
José Reinaldo Mendes Ruas6 6
Médico Veterinário, Pesquisador da EPAMIG
João Vitor Franco de Souza7
7
Estudante de Zootecnia, Bolsista Iniciação Científica EPAMIG

Introdução por essa instituição indicam um cresci-


mento de 37% da população mundial
Segundo a FAO, um dos maiores
nos próximos quarenta anos, quando
desafios para a humanidade será a pro-
dução de alimentos atingiremos 9,6 bi-
para fazer frente ao Maiores desafios para a lhões de pessoas1.
crescimento da po- humanidade será a produção Para atender a esse
pulação mundial nas de alimentos para fazer frente crescimento, a pro-
próximas décadas. ao crescimento da população dução mundial de
Estimativas feitas mundial nas próximas décadas. alimentos precisará
112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
ser duplicada. Estima-se que a demanda a expansão dessas culturas. Isso implica
de carne e leite deve aumentar em 73% mobilização de imensas áreas de terra
e 58%, respectivamente, com base nos para essas duas culturas e para a cana-
níveis de 20102. A elevação nos níveis -de-açúcar. As espécies oleaginosas para
de renda da população dos países em a produção de biodiesel, embora em
desenvolvimento faz com que haja uma menor intensidade que a cana, também
alteração nos hábitos de consumo, em apresentam expansão da área cultivada.
que produtos de origem animal, como Outro setor do agronegócio que passa
carne e leite e seus derivados, passam por forte expansão é o setor florestal,
a contribuir com maior quantidade na com foco nas cadeias do carvão e da ce-
dieta. A nova ordem mundial sinali- lulose e, mais recentemente, do etanol
za que esse crescimento deve levar em da madeira. Considerando que o foco
conta as questões de sustentabilidade e de todas essas transformações está con-
de conservação do meio ambiente. Para centrado nas regiões Sudeste e Centro-
intensificar a produção de alimentos, Oeste do Brasil, para onde vai desaguar
fibras e energia renovável dentro dessa a expansão dessas culturas em termos de
nova ordem, os sistemas de produção terras ocupadas? Não há dúvida de que
devem ser reformulados para aumentar a expansão avançará em áreas ocupadas
a eficiência de produção e atender aos pela pecuária. Esse movimento já foi de-
preceitos da proteção ecológica. Este tectado pelas estatísticas. Os resultados
artigo se propõe a trazer algumas infor- do Censo Agropecuário de 20063 apon-
mações sobre a tecnologia de integração tam que a área de lavouras no país au-
lavoura-pecuária e de como ela poderá mentou 83,5% em relação ao Censo de
contribuir para aumentar a eficiência de 1995, enquanto a de pastagens reduziu-
produção e incluir elementos de conser- -se em aproximadamente 3,0%, confir-
vação ambiental nos sistemas de produ- mando um modelo de desenvolvimento
ção da agropecuária do Brasil. do setor com expansão das fronteiras
O agronegócio brasileiro vem pas- agrícolas. Em relação ao censo de 1995,
sando por intensas transformações nos a área de pastagens reduziu de 178 mi-
últimos anos. Alguns setores vêm expe- lhões de hectares para 172 milhões em
rimentando forte expansão, como é o 2006, enquanto a área de culturas ex-
caso da produção de grãos e da bioener- pandiu de 52 milhões para 76 milhões3.
gia, com destaque especial para o etanol, Em Minas Gerais esse mesmo fenôme-
biodiesel e bioquerosene. A utilização no vem ocorrendo, com redução na área
do milho para produção do etanol nos de pastagem de 25 milhões em 1995
Estados Unidos e do óleo de soja para para 20,5 milhões em 2006. Estima-se
biodiesel no Brasil pressiona os preços e que no Brasil, nos próximos anos, cerca

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 113
de 30 milhões de hectares de pastagens imobilizada 2/3 do tempo com lavoura
serão ocupados pela agricultura, espe- e 1/3 com pecuária e silvipastoril, em
cialmente soja, milho, cana-de-açúcar e que a população de árvores é reduzida,
eucalipto. as projeções elevam a área necessária
Strassburg et al.4 realizaram um estu- para atender à demanda, mas os dois se-
do prospectivo para investigar se a me- tores, pecuária e lavouras, são atendidos
lhoria na produtividade das pastagens (Tab. 1). Vale lembrar que a capacidade
cultivadas (115 milhões ha) liberaria de suporte atual das pastagens no Brasil
terra suficiente para atender à produção ainda é muito baixa e um aumento de
de carne, lavouras, madeira e biocom- 50% nessa capacidade pode ser obtido
bustíveis, respeitando as limitações eda- somente com melhorias no manejo das
foclimáticas de cada região e incluindo pastagens. Tomando-se como base um
os impactos previstos das mudanças rebanho de 200 milhões de cabeças e
climáticas. Tomando como base as pro- a área de pastagens de 170 milhões de
dutividades atuais, eles concluíram que hectares, tem-se uma taxa de lotação de
um aumento de 49 a 52% na capacidade 1,18 animais/ha, considerando-se todas
de suporte das pastagens, mantendo-se as faixas etárias do rebanho. Em unida-
as taxas atuais de crescimento de pro- des animais (UA=450 kg de peso vivo)
dutividade do rebanho, haveria terras por hectare, essa taxa de lotação é mais
suficientes para atender à demanda de baixa.
lavoura e produtos florestais sem neces-
sidade de conversão de nenhum ecos- Pecuária bovina brasileira
sistema natural. Adotando-se sistemas O rebanho bovino brasileiro pro-
integrados de produção, como sistema porciona o desenvolvimento de dois
lavoura-pecuária, em que a terra fica segmentos lucrativos: as cadeias produ-

Tabela 1. Área necessária para atender à demanda projetada de soja, milho,


cana-de-açúcar e florestas plantadas até 2040. Soja e milho foram alocados
em sistema lavoura-pecuária, cana-de-açúcar em áreas exclusivas e florestas
plantadas em sistemas silvipastoris4

Área demandada Área disponibilizada


Uso da terra Sistema cultivo
(milhões ha) (milhões ha)
Soja 18.4 Lavoura-pecuária 28.0
Milho 1.3 Lavoura-pecuária 1.9
Cana-de-açúcar 6.1 Cana-de-açúcar (exclusiva) 6.1
Florestas plantadas 7.7 Silvipastoril 23.0
Total 33.5 Total 59.0

114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


tivas da carne e leite. O valor bruto da deverá ocorrer menor importação e
produção desses dois segmentos, esti- maior exportação.
mado em R$ 67 bilhões, aliado à pre- No caso da pecuária bovina de cor-
sença da atividade em todos os estados te do Brasil, reconhece-se que é uma
brasileiros, evidencia a importância das mais competitivas do mundo. Nos
econômica e social da bovinocultura últimos 30 anos, a taxa de abate da bo-
em nosso país5. vinocultura de corte passou de 12% ao
Na pecuária de leite, o crescimento ano para em torno de 22% nos últimos
anual tem sido em torno de 4% ao ano, anos. A bovinocultura é um dos prin-
mas o MAPA prevê uma desaceleração cipais destaques do agronegócio bra-
desse crescimento para a próxima déca- sileiro no cenário mundial. O Brasil é
da, com uma taxa média de 1,9%, o que dono do segundo maior rebanho do
vai impactar a produção em 610 a 770 mundo, mas, com objetivo comercial, é
milhões de litros ao ano. Mantendo-se o maior rebanho do mundo, com cerca
essas previsões, especula-se que a pro- de 200 milhões de cabeças. Além dis-
dução atinja 41,3 bilhões de litros em so, desde 2004, assumiu a liderança nas
2023. Com a produção atual em torno exportações, com um quinto da carne
de 34 bilhões de litros, calcula-se que, comercializada internacionalmente e
nos próximos dez anos, o volume de vendas em mais de 180 países. A pro-
leite brasileiro aumente sete bilhões de dução brasileira de carne bovina cres-
litros. Já o consumo de lácteos, segundo ceu 62% nos últimos 20 anos, chegan-
as projeções, deverá crescer a uma taxa do a 9,3 milhões de toneladas em 2012,
média anual de 1,9%, acompanhando ocupando o segundo lugar no ranking
a produção nacional. Dessa forma, o dos países produtores, atrás apenas dos
Brasil continuará sendo importador. O EUA, com 12,04 milhões de tonela-
volume previsto para as importações é das. São três os fatores principais que
equivalente a um bilhão de litros/ano. justificam o aumento da produção de
As projeções são de que, até 2023, a carne no Brasil: o crescente volume
quantidade de leite aumente 20,7%; o de exportações; o aumento da deman-
consumo, 20,2%; as importações, 12%; da interna, impulsionada pelo cresci-
e as exportações de produtos lácteos, mento da economia; e o maior poder
33,3%. O MAPA faz uma ressalva de aquisitivo da população, que tende a
que, se as políticas públicas específicas aumentar o consumo de proteína ani-
para o setor forem implantadas e pro- mal. O país se manteve na liderança do
duzirem o resultado esperado, como o mercado de carne bovina mundial ao
Programa Mais Leite, a quantidade de bater novo recorde de exportações para
leite produzida será maior e, portanto, o primeiro semestre de 2014, atingindo

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 115
um faturamento de US$ 3,404 bilhões Emissão de gases de
e volume negociado de 762 mil tonela- efeito estufa (GEE) pela
das. É o maior faturamento da história pecuária
já registrado em um primeiro semestre.
Os números são 13,3% (faturamento) Recentemente o IPCC publicou
o relatório com o total de emissão dos
e 12,7% (volume) superiores aos re-
GEE decorrentes das ações antropogê-
gistrados no mesmo período do ano
nicas no período de 1970 a 2010 (Fig.
passado – faturamento de US$ 3,004
1). O total emitido no mundo em 2010
bilhões e volume exportado de 675,7 alcançou 49 Gt CO eq./ano7. Apesar do
2
mil toneladas6. investimento nas políticas de mitigação
Apesar dos avanços que o Brasil das mudanças climáticas, as emissões
vem apresentando na pecuária, a pro- continuaram a crescer. O IPCC alerta
dutividade ainda é muito baixa. A que o ritmo de crescimento anual na dé-
criação de bovinos é feita em bases cada 2000-2010 (2,2%) foi maior que
empíricas, caracteri- nas décadas anteriores
zando a atividade, na A criação de bovinos é de 1970-2000 (1,3%). O
maioria das proprie- feita em bases empíricas, total de CO2 relacionado
dades, como extrati- caracterizando a aos combustíveis fós-
vista, particularmente atividade, na maioria seis representou a maior
em relação ao uso do
das propriedades, contribuição e, do pon-
como extrativista, to de vista percentual,
pasto. Nesse aspecto,
particularmente em cresceu nos últimos 40
os pecuaristas não se relação ao uso do pasto. anos de 55% para 65%.
apropriaram das tec- Com origem no metano,
nologias disponíveis, a contribuição é de 16%
como tem ocorrido na agricultura. E do CO equivalente, mas a contribuição
2
não é por falta de tecnologia que isso percentual reduziu de 19% para 16% en-
ocorre, pois o Brasil dispõe de bom tre 1970 e 2010, indicando que essa fon-
número de pesquisadores nos diversos te de gases cresceu menos que as outras
biomas brasileiros e de bom volume fontes. A mesma tendência seguem os
de pesquisas em produção de bovinos. gases oriundos de queima de florestas,
Prova disso é que se encontram nichos turfas e outros usos do solo (FOLU),
de criação, tanto de gado de corte quan- com forte declínio no percentual de
to de leite, que aplicam altíssimos níveis contribuição, de 17% para 11%. Isso
se deve grandemente ao decréscimo
de tecnologia, com produtividade equi-
nas taxas de desmatamento e aumento
valente à de países desenvolvidos.
116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
do plantio de florestas processos industriais se
O setor pecuário mundial
cultivadas. A atividade devem à cadeia de su-
apresenta emissões
agropecuária, ao lado primentos e produção
estimadas em 7,1 Gt CO2
da atividade florestal, de concentrados e vo-
eq./ano, representando
pode exercer importan- lumosos para alimentar
14,5% das emissões de
te papel nas políticas de os animais, parte para
GEE induzidas pelo
mitigação dos GEE, ao o processamento e dis-
homem.
reduzir o desmatamen- tribuição dos produtos
to, implantar áreas flo- oriundos da cadeia. Até
restais e melhorar o manejo dos cultivos mesmo parte dos gases relacionados à
e áreas de pastagem e na restauração de derrubada e queima da floresta e do uso
solos orgânicos. do solo se deve à expansão da atividade
Das emissões apresentadas na pecuária, mas as pressões da sociedade
Figura 1, pode-se atribuir parte dos ga- e da fiscalização pelo poder público vêm
ses gerados na forma de N2O e CH4 à reduzindo essas contribuições.
atividade pecuária, associadas ao ma- Segundo a FAO2, o setor pecuário
nejo de dejetos e ao metano entérico. mundial apresenta emissões estimadas
Se incluirmos toda a cadeia de produ- em 7,1 Gt CO2 eq./ano, representando
ção, parte dos combustíveis fósseis e 14,5% das emissões de GEE induzidas

60

2,0%
50 F-Gases
Emissões de GEE (GtCO2 eq/ano)

6,2%

1,3% 16%
40 0,81% N₂O
7,4% 6,9%
0,44% 11%
18% 16%
7,9%
30 CH₄
0,67% 19% 13%
7,9% 16%
18% 17%
20 FOLU
15%
65%
62%
10 59% combusveis
55% fósseis e
58%
processos
0 industriais
1970 1980 1990 2000 2010

Figura 1. Total anual de emissões antropogênicas de GEE entre 1970 a 2010 (Gt CO2 eq./ano), no ano
de completar a década, e o percentual de contribuição de cada grupo de gases no interior das barras
(F-Gases = gases fluorados, FOLU = CO2 oriundo de florestas e outros usos do solo). (Adaptado.)7

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 117
pelo homem. A produ- eq./ano ou 5,65% do
No Brasil, houve emissão
ção e o processamento total das emissões.
de 1,25 Gt CO2 eq.8, o
de alimentos para os No Brasil, tomando
que representa 2,5% do
animais respondem por como base os dados de
total mundial.
41% das emissões do se- 2010, houve emissão
tor pecuário, o metano de 1,25 Gt CO2 eq.8, o
entérico, por 39%, estocagem e manejo que representa 2,5% do total mundial
de dejetos, por 10%, sendo o restante relativamente aos dados mundiais de
devido ao processamento e transpor- 49 Gt CO2 eq./ano, apresentados pelo
te de produtos animais. A produção de IPCC7. Observa-se forte oscilação nas
carne bovina contribui com 41% des- emissões brasileiras, associadas prin-
se total, enquanto a produção de leite cipalmente ao uso da terra e florestas
de vaca contribui com 20% das emis- (Fig. 2). Esse efeito decorre das ações
sões do setor. A produção de carne su- de controle de desmatamentos e quei-
ína contribui com 9%, e a produção de madas conduzidos na região Norte
carne de aves e de ovos contribui com do Brasil. Sinaliza que o Brasil pode
8%. Considerando-se apenas o meta- exercer intenso controle no fluxo de
no entérico, colocado pela mídia como emissões de GEE apenas com ações
o vilão da pecuária bovina, observa-se de combate ao desmatamento, con-
que a contribuição não é tão alarmante, forme sinalizado na Figura 2. Somente
estimada em 39% das emissões do setor nos últimos cinco anos a redução de
pecuário, o que equivale a 2,77 Gt CO2 emissões nesse setor foi de 76,0%. Os

3.000 Uso da terra


e florestas
2.500
Agropecuária
2.000 Processos
industriais
Tg CO₂eq

1.500
Tratamento
1.000 de resíduos
Energia
500

0
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010

Tg = milhões de toneladas

Figura 2. Emissões brasileiras de gases de efeito estufa no período de 1990 a 2010 em eq. CO28.

118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


demais setores mantêm uma trajetória É importante? Sim, mas não é a prin-
de crescimento ao longo dos últimos cipal fonte de emissões no país e não
20 anos. Analisando o crescimento das merece a fama que lhe é atribuída pela
emissões por setor nos últimos cin- mídia de um modo geral. Por exemplo,
co anos, o setor de energia aumentou a queima de combustível representou
21,4%, o de resíduos, 16,4%, os pro- 30% das emissões de GEE do Brasil em
cessos industriais, 5,3%, e a agropecu- 2010.
ária, 5,2%8. Novamente sinaliza que a Entretanto, apesar de o setor da pe-
agropecuária não é o vilão apregoado cuária bovina contribuir com uma par-
pela mídia, pois as emissões cresceram cela significativa das emissões antrópi-
menos que os demais setores, embora cas de GEE no Brasil, também pode
represente 35% do total emitido pelo contribuir com uma parte significativa
Brasil. do esforço de mitigação necessário. O
Focando o setor pecuário, segundo uso de alimentos de melhor qualida-
os dados do MCTI8 em 2010, a agrope- de e o balanceamento da dieta podem
cuária apresentou emis- contribuir para reduzir
sões de 0,44 Gt CO2 A pecuária bovina o metano entérico e
eq./ano. Desse total, representou 17,4% emissões de gases dos
0,25 Gt CO2 eq./ano das emissões de GEE dejetos. O manejo e a
refere-se à fermentação do Brasil na forma de disposição dos deje-
entérica, ou 56,4% do metano entérico, mas tos podem assegurar
setor agropecuário. não é a principal fonte de a recuperação e a reci-
Solos agrícolas con- emissões no país. clagem dos nutrientes,
tribuem com 35,2%, e contribuindo para a
dejetos animais, com mitigação. As pasta-
4,9%, ficando mais 3,5% com a cultura gens podem fixar quantidade conside-
do arroz e queima de cana-de-açúcar. rável de carbono. Outras tecnologias
Gado de corte representa 75% do me- que podem contribuir para a redução
tano entérico do setor agropecuário e da produção de metano entérico, tais
gado de leite, outros 12%, totalizando como os aditivos de alimentos, tais
87% do metano entérico para os bovi- como substancias halogênicas, ionófo-
nos, ou 0,22 Gt CO2 eq./ano, restando ros, leveduras, nitrato, taninos, saponi-
0,03 Gt CO2 eq./ano para as demais nas, lipídeos, vacinas, ainda carecem de
criações (caprinos e ovinos, principal- mais estudos e apresentam limitações
mente). A pecuária bovina representou para sua aplicação em animais criados
17,4% das emissões de GEE do Brasil em pasto, que é a principal forma de ex-
na forma de metano entérico em 2010. ploração da pecuária bovina no Brasil.
7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 119
A chave para a redução das emissões das emissões por unidade de produto
de GEE no Brasil pela pecuária bovi- animal (kg CO2/kg de carne ou L de
na está no aumento da produtividade. leite) varia grandemente entre os pro-
Para aumentar o desempenho animal, dutores em função da tecnologia e dos
aumenta-se o consumo de alimentos e insumos empregados nos sistemas de
a produção de dejetos (fezes e urina), produção. Gerber et al.9 compilaram da-
consequentemente emite-se mais GEE, dos de produção de leite de 178 países e
só que, quando se converte a emissão mostraram o impacto que ações de me-
por produto animal, animais mais pro- lhoria na produtividade de leite podem
dutivos emitem menos que animais me- ter sobre a emissões de GEE por quilo
nos produtivos. Nesse de produto obtido (Fig
aspecto, o Brasil tem A chave para a redução 3). Tomando-se o caso
um longo caminho a das emissões de GEE do Brasil, cuja produti-
percorrer, pois as pro- no Brasil pela pecuária vidade média está em
dutividades ainda são bovina está no aumento torno de 1.400 kg de
muito baixas. Como
da produtividade. leite/vaca.ano10, pode-
o principal sistema de -se reduzir as emissões
criação de bovinos é em pastagem, o uso por kg de leite produzido pela metade
de técnicas para intervir no processo se dobrarmos nossa produtividade para
de digestão, tais como aditivos aos ali- em torno de 3.000 kg/vaca.ano. Práticas
mentos, não é o mais importante, pois simples, como o uso de animais mesti-
sua administração em animais soltos no ços, pastos com boa oferta de forragem
pasto é muito difícil, principalmente no e pequeno fornecimento de concentra-
caso da pecuária de corte. Para vacas de dos garantem esse patamar de produ-
leite que são alimentadas no momento ção. Ruas et al. , analisando 867 lac-
11

da ordenha, fica mais fácil, ou para ani- tações de vacas mestiças meio-sangue
mais de corte em confinamento, mas holandês/gir na Fazenda Experimental
essa prática ainda é pequena no Brasil de Felixlândia, da EPAMIG, durante
e somente em parte da vida o animal 10 anos, obtiveram uma média de pro-
é mantido preso. Vale lembrar que os dução de 3.587 kg de leite/lactação. A
bovinos de corte representam 75% do alimentação das vacas consistia em pas-
metano entérico emitido pela pecuária to de capim braquiária no verão e sila-
bovina. gem de milho ou cana-de-açúcar+ureia
Segundo o documento da FAO2, no período seco. Além da alimentação
tecnologias e práticas que podem ajudar volumosa, as vacas eram suplementadas
a reduzir as emissões existem, mas não com concentrado numa relação média
são amplamente usadas. A intensidade de 0,33 kg /kg de leite produzido. Nesse
120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
patamar de produção, as emissões de PN+sal proteinado+energia (Tab. 2).
GEE por kg de leite produzido ficariam O tempo necessário do nascimento ao
abaixo de 2 kg CO2 eq/kg de leite, se- peso de abate variou de 840 dias (pas-
gundo a análise de Gerber et al.9, valor to natural) a 485 dias (PNM+sorgo). A
muito próximo daquele obtido com va- capacidade de suporte variou de 930 kg
cas de alta produção, em torno de 7.000 PV/ha (azevém+sorgo) a 397 kg PV/ha
a 9.000 kg/ano (Fig. 3). (PN). Esses ganhos de produtividade
No caso da pecuária de corte, os refletiram fortemente nas emissões mé-
efeitos da produtividade sobre as emis- dias calculadas, que variaram de 20 kg
sões de GEE também são muito re- CO2 eq./kg de ganho de peso vivo no
levantes. Ruiviaro et al.12 conduziram pasto cultivado de azevém+sorgo a 42,6
um estudo no sul do Brasil com sete kg CO2 eq./kg de ganho de peso vivo
sistemas de criação de bovinos aber- no PN, uma redução de mais de 50%
deen angus de corte, do nascimento ao nas emissões com a redução no tempo
peso de abate (430 kg de peso vivo): necessário para atingir o peso de abate.
pastagem natural (PN), pastagem na- Vislumbrando os efeitos da me-
tural melhorada (PNM), PN+azevém, lhoria da produtividade agropecuária
PNM+sorgo, pasto cultivado de na emissão dos GEE, o Brasil assumiu,
azevém+sorgo, PN+sal proteinado e em 2009, na 15ª Conferência das Partes
12

10
kg CO₂-eq/kg leite*

0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

Produção anual de leite*/vaca

Figura 3 - Relação entre emissão de gases (kg de COa equivalente) por kg de leite de vaca de acordo com
o nível de produção (*corrigido para teor de proteína - 3,3% e gordura - 4,0%) (média de 178 países
analisados)9.

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 121
Tabela 2. Resumo das emissões calculadas em equivalente CO2 do nascimento
ao peso de abate, durante as várias fases de crescimento dos animais em cada
sistema de criação12
CO2 equivalente, kg CO2 eq./kg de ganho de peso vivo
Sistemas
Mínimo Média Máximo Desvio padrão Período (dias)
Pasto natural (PN) 39,3 42,6 46,5 1,79 840
PN melhorado (PNM) 18,7 20,2 22,0 0,85 510
PN+azevém 27,2 29,6 32,6 1,42 669
PNM+sorgo 21,1 23,4 25,4 1,04 485
Azevém+sorgo 18,3 20,0 21,8 0,91 502
PN+suplementação 1
30,6 33,3 36,6 1,56 660
PN+suplementação 2
21,1 23,4 26,1 1,26 510

Suplementação com proteína e sal mineral


1

Suplementação com proteína, energia e sal mineral


2

(COP-15), o compromisso de reduzir responsáveis pela emissão dos GEE da


suas emissões de GEE de 36,1% a 38,9% mudança do clima. Dentre esses esfor-
em relação ao que emitiria em 2020 caso ços, destaca-se a Lei nº 12.187, de 29 de
nada fosse feito. A parte correspondente dezembro de 2009, que trata da Política
ao setor agropecuário foi a de eliminar Nacional sobre Mudança do Clima
do total da sua projeção de emissões (PNMC), e o recente plano setorial de
algo entre 133 a 166 milhões de tonela- mitigação e de adaptação às mudanças
das de CO2 equivalente, ao mesmo tem- climáticas visando à consolidação de
po em que propôs reduzir o desmata- uma economia de baixa emissão de car-
mento na Amazônia em bono na agricultura.
80%, também até 2020. Brasil lançou o programa Recentemente o
Ações governamentais “Agricultura de Baixo Brasil lançou o pro-
estão sendo conduzidas Carbono – Programa grama “Agricultura
na tentativa de ameni- ABC” como um dos de Baixo Carbono –
zar os efeitos adversos eixos para atender aos Programa ABC”13 como
decorrentes do proces- compromissos de redução um dos eixos para aten-
so de mudança do uso da emissão de carbono, o der aos compromissos
e cobertura das terras, qual prevê a recuperação de redução da emissão
os quais têm colocado de 50 milhões de hectares de carbono, o qual pre-
a agricultura brasileira de áreas degradadas no vê a recuperação de 50
como um dos principais meio rural até 2020. milhões de hectares de
122 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
áreas degradadas no zir o desmatamento e a
O Programa ABC
meio rural até 2020. incorporação de novas
objetiva compatibilizar
São sete programas dis-
a produção de alimentos áreas são muito grandes
tintos, com destaque e a expansão das áreas
e de bioenergia com
especial para aquele vol- de lavouras deve con-
redução dos gases
tado à recuperação de de efeito estufa, com tinuar. Nessa situação,
pastagens degradadas, foco na integração a intensificação do uso
que sozinho é capaz de lavoura-pecuária-floresta. dos pastos e a utilização
trazer mais de 60% das de insumos para au-
reduções prometidas. mentar a produtividade
O Programa ABC objetiva compatibili- serão inevitáveis. A pergunta é: O Brasil
zar a produção de alimentos e de bioe- dispõe de tecnologias para responder
nergia com redução dos gases de efeito a essa demanda no aumento da produ-
estufa, com foco na integração lavou- tividade? Não há dúvida de que sim. A
ra-pecuária-floresta, plantio de florestas exploração de pastagens é feita em bases
comerciais, recuperação de pastagens empíricas, caracterizando a atividade,
degradadas, plantio direto na palha, na maioria das propriedades, como ex-
fixação biológica de nitrogênio e trata- trativista, em que quase nenhum insu-
mento de resíduos animais. mo é utilizado.
Corrobora a débil aplicação de tec-
Situação das pastagens nologias na exploração de pastagens a
O clima tropical e a extensão terri- ocorrência de degradação até os dias
torial do Brasil contribuem para a des- atuais. Alguns pesquisadores estimam
tacada produção de bovinos de corte que até 80% das áreas de pasto, prin-
e de leite, criados em sua maioria em cipalmente no bioma cerrado, encon-
pastagens. Atualmente ainda se verifica tram-se degradados ou em processo
aumento do efetivo bovino, que alcança de degradação. Na Zona da Mata de
211 milhões de cabeças10. Entretanto, Minas Gerais, um estudo foi conduzi-
paralelamente a esse processo de expan- do com o objetivo de identificar os ní-
são da pecuária, observa-se uma redu- veis de degradação das pastagens14. Da
ção na área de pastagens. Isso significa área de 3.670 ha avaliada, aproximada-
que houve melhoria da produtividade mente 70% correspondem a pastagens.
animal, mas também da taxa de lota- De acordo com os resultados, as pasta-
ção dos pastos. É provável que a redu- gens com nível de degradação modera-
ção nas áreas de pastagens continue, do, forte e muito forte ocupam 8,21%,
podendo até mesmo se intensificar, já 56,46% e 5,07% da área, respectivamen-
que as pressões da sociedade para redu- te. Quase 70% das áreas de pasto apre-
7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 123
sentaram sinais de degradação. As áreas de integração lavoura-pecuária (ILP)
com nível de degradação forte e muito trouxe novo impacto para o processo
forte ocorrem predominantemente em de renovação dos pastos, pela possibi-
áreas de relevo forte ondulado, e, em si- lidade de custear total ou parcialmente
tuações mais graves, já se observa perda o gasto necessário. A ILP não é nova no
acentuada de solo. Brasil e foi praticada desde a década de
Como o processo de degradação 70, na abertura do cerrado e no bioma
é contínuo, é inevitável que em algum Amazônia, com a cultura do arroz. A
momento se faça a recuperação dessas novidade atual é a possibilidade de utili-
áreas. Isso faz com que milhões de hec- zar diversas culturas, técnicas de cultivo
tares de pastagens sejam formados anu- mínimo e manipular doses e épocas de
almente no Brasil e realçam uma pujan- fertilização do solo. A ILP com foco na
te indústria de produção de sementes exploração da atividade pecuária apro-
de forrageiras, de alto nível tecnológico, veitou-se parcialmente do grande de-
para atender a essa demanda e que hoje senvolvimento tecnológico do plantio
já é exportadora de sementes. A recupe- direto no Brasil, em muitos casos utili-
ração de pastagens degradadas permite zando gramíneas forrageiras tropicais
diversas abordagens, dependendo da para a formação da cobertura vegetal
condição do produtor e de seus interes- junto ou em sucessão à lavoura.
ses em relação ao uso do pasto. Entende-
se por recuperação direta de pastagens
Integração lavoura-
as práticas que não fazem uso de uma pecuária na recuperação
cultura associada. As operações são fei- de pastagens
tas diretamente nos pastos e podem in- Os sistemas integrados de produção
cluir ações mecânicas, tais como aração, agrícola e pecuária são caracterizados
gradagem, subsolagem e escarificação por sistemas planejados para explorar
ou ações químicas, como a calagem, ges- sinergismos e propriedades emergentes
sagem e adubações parciais ou comple- frutos de interações nos compartimen-
tas. Pode-se incluir a manutenção da es- tos solo-planta-animal-atmosfera de
pécie anterior (sem alterar a vegetação), áreas que integram atividades de produ-
manter a espécie anterior introduzindo ção agrícola e pecuária15. São interações
nova(s) espécie(s), como, por exem- planejadas em diferentes escalas espaço-
plo, uma leguminosa (alteração parcial temporais que abrangem a exploração
da vegetação) ou fazer a substituição de cultivos agrícolas e produção animal
por outra espécie ou cultivar forrageira na mesma área, de forma concomitante
(com alteração total da vegetação). ou sequencial, entre áreas distintas ou
O desenvolvimento da tecnologia em sucessão.
124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
A integração lavou- ou parcialmente o custo
A integração lavoura-
ra-pecuária-f loresta de formação do pasto17.
pecuária-floresta
(ILPF) é definida como
(ILPF) é definida como Apresenta o inconve-
“uma estratégia de pro- niente de exigir do pe-
“uma estratégia de
dução sustentável que produção sustentável cuarista treinamento e
integra atividades agrí- que integra atividades maquinário para o cul-
colas, pecuárias e flores- agrícolas, pecuárias e tivo da lavoura. Quando
tais realizadas na mesma florestais realizadas na o pecuarista não tem as
área, em cultivo con- mesma área, em cultivo condições exigidas, par-
sorciado, em sucessão consorciado, em sucessão cerias podem ser feitas
ou rotação” . Os efei-
16
ou rotação”. com agricultores, cuja
tos sinérgicos entre os negociação pode incluir
componentes incluem o pasto formado após a
a adequação ambiental e a viabilidade colheita da lavoura. Os ganhos em pro-
econômica da atividade agropecuária. dutividade obtidos pelo melhoramento
Pode-se utilizar a ILPF para implantar do pasto com o uso ou não da ILP po-
um sistema agrícola sustentável, com dem ser visualizados na Tabela 3.
base nos princípios da rotação de cul- As propostas mais recentes incluem
turas e do consórcio entre culturas de a introdução de fileiras de eucalipto jun-
grãos, forrageiras e espécies arbóreas, to com a lavoura e o pasto. Após a co-
para produzir, na mesma área, grãos, lheita da lavoura, tem-se o pasto forma-
carne ou leite e produtos madeireiros e do e a espécie florestal em crescimento.
não madeireiros ao longo de todo o ano. No caso da introdução de espécies
A busca de alternativas de produ- florestais, pode ser necessário espera
ção agropecuária econômica, social maior para iniciar o pastejo, asseguran-
e ecologicamente sustentável, funda- do que os animais não danifiquem as
mentada em tecnologias não agressivas árvores. Nesse contexto, a ILPF promo-
ao meio ambiente, tem apontado o de- ve o incremento no estoque de carbono
senvolvimento de sistemas integrados e reduz os impactos negativos decor-
como alternativa mais adequada de rentes da emissão dos gases do efeito
exploração agropecuária, uma vez que estufa. Comparativamente às pastagens
combina árvores, culturas e animais tradicionais, aos monocultivos florestais
em um conceito de imitação dos ecos- e agrícolas, a ILPF possui alta capacida-
sistemas naturais. Há inúmeros casos de de fixação de carbono, pelo fato de
de sucesso na formação do pasto pelo serem formados por diferentes compo-
Brasil afora, com a vantagem de que a nentes e de se beneficiarem das intera-
integração com lavoura amortiza total ções entre estes. Portanto, a utilização
7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 125
Tabela 3. Ganho médio de peso anual ao longo de 11 anos em diversos sistemas
de exploração, em região de cerrado, no município de Campo Grande-MS18

Ganho de peso (kg/


Sistema ha.ano)
Pasto degradado de Urocloa decumbens (U.d.=Brachiaria
141
decumbens)

Pasto recuperado de U.d. sem adubação de manutenção 328

Pasto recuperado de U.d. com adubação de manutenção 381

Rotação: 4 anos de lavoura seguidos de 4 anos de pasto 1


495

Rotação: 1 ano de lavoura seguido de 3 anos de pasto2 518

Pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia (média dos anos com pasto) e 2pasto de U. brizantha cv
1

Marandu (média dos anos com pasto).

desse sistema é uma alternativa das mais eucalipto, como é praticado por em-
promissoras e sustentáveis para recupe- presas da área florestal, existem muitos
ração de áreas degradadas tanto de pas- estudos e a tecnologia já está bem con-
to quanto de culturas, considerando seu solidada. Normalmente o arroz é planta-
reduzido custo ambiental, além de ser do por ocasião do plantio do eucalipto,
economicamente viável em várias regi- e a soja, no ano agrícola seguinte, com
ões do Brasil. a formação do pasto nas entrelinhas do
Esse sistema difere daquele que vem eucalipto com dois anos de idade e de
sendo aplicado e difundido por algumas porte suficiente para conviver com o
empresas da área florestal, em que o pas- pastejo .
19

to é introduzido no segundo ano, após


dois cultivos de lavoura (normalmente Fixação de carbono em
arroz e soja). Os estudos com a implan- sistemas integrados
tação simultânea da lavoura, do pasto e Não é possível falar em manejo
da espécie florestal não da pastagem para me-
geraram uma recomen- A primeira ação lhorar o desempenho
dação tecnológica bem para aumentar a animal quando se tem
consolidada ainda e di- produtividade de animais pastagens de qualidade
versas recomendações em pastejo é ofertar muito baixa. A primei-
são encontradas na li- forragem com quantidade ra ação para aumentar
teratura. No caso da in- e qualidade. Para isso, a produtividade de
trodução do pasto após a recuperação do pasto animais em pastejo é
dois anos do plantio do degradado é essencial. ofertar forragem com
126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
quantidade e qualidade. Para isso, a re- biomassa para o solo, oriundo da for-
cuperação do pasto degradado é essen- ragem não consumida pelos animais.
cial. A introdução da ILP ou da ILPF Mesmo em sistemas intensivos, com
em áreas de pasto degradado tem este utilização de pastejo rotacionado, em
propósito: recuperar a produtivida- que a eficiência de colheita é alta, pelo
de do pasto pelo aproveitamento dos menos 30% da forragem produzida é
resíduos de fertilizante deixados pela “perdida” para o solo. Pode-se ver na
lavoura, custear o processo de recu- Figura 4 a intensa redução da eficiên-
peração do pasto e atender aos objeti- cia de pastejo com o aumento da oferta
vos de produção de grãos pela lavoura de forragem de 5% para 20% em siste-
associada. ma de pastejo rotacionado20. A oferta
Dentro dessa nova visão que o refere-se à quantidade de forragem,
aquecimento global trouxe para a ati- em kg de massa de forragem seca dis-
vidade agropecuária, outro beneficio ponível no pasto para cada 100 kg de
pode ser contabilizado na utilização peso vivo animal. Mesmo na menor
da ILP ou ILPF, o aumento dos esto- oferta de forragem, de 5 kg de massa
ques de carbono no solo. Nesse aspec- de forragem seca para cada 100 kg de
to, pode-se considerar o pasto como peso vivo, pouco mais de 60% da for-
um sistema conservador, pois, inde- ragem disponível foram colhidos pe-
pendentemente da forma como ele foi los animais. A elevação da oferta para
recuperado, há um grande retorno de 20% fez com que os animais deixassem
80
2003 L***; Q***; C***
Eficiência de pastejo (%)

2004 L***; Q***; C**


60

40

20

0
5 10 15 20

Oferta de forragem (%)

Figura 4. Eficiência de pastejo em pastagens de capim-marandu em resposta à oferta de forragem nos


anos de 2003 e 2004. As barras verticais correspondem ao erro padrão da média20.

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 127
mais de 80% da forragem disponível ao um sistema de integração com soja no
saírem dos piquetes para o descanso verão e pasto de azevém+aveia preta
do pasto. Grande parte das folhas não no inverno, durante 10 anos, no Rio
consumidas morrerá e não será mais Grande do Sul. Durante o período de
pastejada no ciclo seguinte, retornan- pastejo, no inverno, o pasto era subme-
do ao solo para decomposição. O ciclo tido a pastejo com lotação contínua e
de renovação dos perfilhos faz com que mantido nas alturas de 10, 20, 30 e 40
os colmos não consumidos morram e cm. O balanço de carbono foi negativo
também retornem ao solo para decom- com o pastejo a 10 cm e positivo e cres-
posição. Pode-se avaliar por aí o po- cente nas alturas de 20 a 40 cm (Tab.
tencial de incorporação de carbono ao 4). Nesse caso do pastejo a 10 cm, a
solo em pastagens produtivas. sobra de forragem não consumida pelo
Esse não é o caso de pastagens de- gado não foi suficiente para manter o
gradadas, normalmente superpasteja- balanço de carbono positivo. Deve-se
das, em que pouca biomassa retorna levar em conta que o trabalho foi con-
ao solo. Nesse caso a incorporação de duzido com forrageiras temperadas
carbono ao solo pode ser menor que de alto valor nutritivo, cuja perda de
as perdas, resultando em balanço nega- forragem é bem menor que quando se
tivo, com liberação de carbono para a usa forrageiras tropicais, de maior po-
atmosfera. Mesmo com o uso de siste- tencial de produção e mais baixo valor
mas integrados, dependendo da inten- nutritivo.
sidade de pastejo, o sistema pode agir Diversos estudos na literatura com-
como fonte ou sumidouro de carbono param os estoques de carbono no solo
atmosférico. Silva et al.21 estudaram de áreas de pastagem em relação a áreas

Tabela 4. Balanço de carbono do solo em diferentes alturas de pastejo na


camada de 0-20 cm de profundidade21

Intensidade de Entrada de carbono1 Estoque de carbono Balanço de carbono


pastejo (m) Mg/ha

0,10* 2,54d 44,08a -0,04d


0,20 3,21c 46,60a 0,06c

0,30 4,06b 45,00a 0,25b

0,40 4,80a 46,51a 0,37a


Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey (p<0,05).
*
Altura do pasto. 1Entrada anual: azevém consorciado com aveia preta no inverno + soja no verão.

128 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


de vegetação nativa. sistemas com pastagem
Estudos mostram
De modo geral, esses permanente, enquan-
que pastagens bem
estudos mostram que to os menores valores
manejadas podem
pastagens bem mane- ocorrem nos sistemas
acumular carbono em
jadas podem acumular com lavouras, e os valo-
níveis semelhantes ou
carbono em níveis se- res intermediários, nos
mesmo superiores aos
melhantes ou mesmo sistemas com integra-
da vegetação nativa do
superiores aos da vege- ção lavoura-pastagem.
bioma.
tação nativa do bioma. Outra possibili-
Salton et al.22 apresenta- dade é a implantação
ram resultados de 11 anos de avaliação de sistemas agrossilvipastoris em que
em três municípios de Mato Grosso do o componente arbóreo arbustivo seja
Sul. As três áreas estudadas já haviam so- constituído por espécies oleaginosas. A
frido algum distúrbio antes do inicio do demanda por biocombustíveis é muito
experimento que provocaram alteração grande, pois a queima de combustíveis
nos estoques de C orgânico em relação à fósseis é a principal responsável pelas
vegetação nativa. A aplicação dos trata- emissões de GEE no mundo, e esse se-
mentos provocou alterações na dinâmi- tor quer melhorar sua imagem na socie-
ca de acúmulo de C ao longo do período dade, mirando no uso de combustíveis
e esses efeitos foram diferentes de acor- renováveis. Essa opção, além de contri-
do com a região estudada (Tab. 5). De buir para evitar a degradação das pas-
modo geral, os autores concluíram que tagens, irá proporcionar produção de
maiores taxas de acúmulo e maiores es- matéria-prima para a indústria de óleos
toques de carbono no solo ocorrem nos vegetais, com particular interesse para

Tabela 5. Efeito de sistemas de manejo nos estoques de


carbono orgânico total (Mg/ha) na camada de 0 a 20 cm de profundidade,
após 11 anos de avaliação em Mato Grosso do Sul (Adaptado)22
Local
Sistemas
Campo Grande Maracaju Dourados
Estoque inicial carbono 1
51,30 51,68 41,92
Lavoura – plantio convencional 46,30 - 44,10
Lavoura – plantio direto 47,40 56,60 42,60
Rotação soja-pasto (2 anos) 50,50 61,40 48,02
Pasto permanente 2
53,50 65,80 50,11
Vegetação nativa 53,98 68,70 44,49

Estoque de carbono ao início do experimento, exceto na área de vegetação nativa e 2Urochloa decumbens = Brachiaria decumbens
1

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 129
a produção de biocombustíveis. Nessa tas podem aumentar. Mas há outra con-
linha, já existem estudos com macaú- tribuição decorrente da baixa produti-
ba (Acrocomia aculeata), pinhão man- vidade, pois grandes extensões de terra
so (Jatropha curcas L.), além de outras podem ser disponibilizadas para reflo-
palmáceas oleaginosas, como o babaçu restamento artificial ou regeneração na-
(Orrbignya oleifera), o dendê (Elaeis gui- tural com o aumento da produtividade,
neensis) e o coco (Cocos nucifera). contribuindo para o balanço positivo
das emissões no Brasil. Aí entra a ILP, a
Considerações finais ILPF e os sistemas silvipastoris. A recu-
A demanda crescente por alimentos, peração de pastagens com o emprego de
produtos florestais e energia para aten- sistemas integrados impacta na produti-
der às necessidades humanas continua- vidade do pasto e, consequentemente,
rá a pressionar o uso da terra. Dentro da na produtividade dos animais, além de
nova ordem imposta pelo aquecimento contribuir na mitigação dos GEE emi-
global, esse crescimento deverá incluir tidos pela pecuária. Os sinergismos que
uma nova pauta: redução ou paralisação podem ser obtidos nesses sistemas são
da expansão de novas áreas em ecossis- incontestáveis: aumento da biodiver-
temas naturais e miti- sidade, incremento do
gação da emissão dos Dentro da nova ciclo orgânico e de nu-
GEE, seja pela redução ordem imposta pelo trientes, principalmen-
das emissões ou com- aquecimento global, esse te quando se utilizam
pensação das emissões crescimento deverá incluir espécies fixadoras de
pela fixação de carbono uma nova pauta: redução nitrogênio, fornecimen-
dos sistemas atuais de ou paralisação da to de madeira, lenha,
produção. Isso exigirá expansão de novas áreas postes, mourões, que
o aumento da eficiên- em ecossistemas naturais podem ser utilizados
cia desses sistemas. No e mitigação da emissão na propriedade rural
Brasil, cuja produtivi- dos GEE. e/ou produtos de base
dade média do setor florestal com agregação
agropecuário ainda é de valor econômico,
muito baixa, há um longo caminho a melhoria das propriedades físicas, quí-
percorrer. A baixa produtividade, em- micas e biológicas do solo, controle da
bora seja um problema, passa a ser uma erosão, fixação de carbono no solo, ofer-
aliada, pois permite grande expansão ta de pasto de melhor qualidade para os
na produção ao mesmo tempo em que animais, quebra dos ciclos de doenças e
reduz as emissões por quilo de produto insetos-praga nas lavouras, redução dos
obtido. Entretanto, as emissões absolu- riscos econômicos pela diversificação
130 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
da produção, recuperação e manuten- um importante instrumento de fomen-
ção das pastagens com baixo custo. to, sendo que, ao valor de U$ 25,00 por
Apesar dos benefícios incontestá- Certificado de Redução de Emissões (1
veis que os sistemas de integração po- tonelada de CO2 equivalente), o produ-
dem proporcionar, existem algumas ne- tor obteria ganhos econômicos expres-
cessidades que precisam ser atendidas. sivos, devido à implantação de sistemas
Embora a mídia, o setor acadêmico e de ILP. São políticas que o poder públi-
o setor técnico promo- co e a sociedade devem avaliar.
vam a disseminação de Ao mesmo tem-
informações acerca des-
Embora a mídia, o po há necessidade de
setor acadêmico e o aprofundar os estudos
ses sistemas, dos seus
setor técnico promovam de balanço de carbono
benefícios, das técnicas
a disseminação de e de ciclo de vida de
de implantação e de seu
informações acerca produtos oriundos de
manejo, os produtores
desses sistemas, dos seus sistemas de integração,
não irão adotar práticas
benefícios, das técnicas considerando que esses
que lhe tragam perdas fi-
de implantação e de seu efeitos somente se con-
nanceiras, a não ser que manejo, os produtores
recebam algum subsí- solidam após muitos
não irão adotar práticas anos de implantação.
dio. Fernandes e Finco23 que lhe tragam perdas
realizaram um estudo Concomitantemente
financeiras. aos benefícios da fixa-
na região Centro-Norte
do Mato Grosso em ção de carbono, outros
que avaliaram o potencial de sistemas aspectos, como os efeitos benéficos na
de integração como alternativa de baixa conservação e uso do solo e da água,
emissão de carbono em relação aos sis- devem ser estabelecidos. Para isso, ex-
perimentos de longa duração devem ser
temas tradicionais de cultivo praticados
conduzidos e estimulados pelos agentes
na região. Os autores concluíram que
de financiamento de pesquisa nos vários
os sistemas de ILP não se apresentam
ecossistemas do país para que resultados
como alternativa atraente para os pro-
consistentes sejam obtidos e possam ser
dutores da região, existindo estratégias
transferidos aos produtores sem deixar
de produção que geram ganhos econô-
margens de dúvidas quanto às vantagens
micos superiores. Da mesma forma, as
econômicas e ecológicas que o sistema
ferramentas implantadas pelo Programa
proporciona. Sistemas integrados de la-
ABC não se mostraram suficientes para
voura e pecuária podem ser a chave para
o fomento da produção agropecuária
a intensificação ecológica dos sistemas
em sistemas de ILP. Sugerem que o sis-
de produção, com potencial para pro-
tema de crédito de carbono pode ser
7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 131
vocar um grande impacto na produção Madruga, R.; Sokona, Y.; et al. (eds)]. Cambridge
University Press, Cambridge, United Kingdom
pecuária bovina do Brasil e transformar and New York, NY, USA, 2014, 31 p.
o país numa alternativa para a segurança
8. MINISTERIO DA CIENCIA, TECNOLOGIA
alimentar mundial com sustentabilida- E INOVAÇÃO, Estimativas anuais de emissões
de ambiental. de gases de efeito estufa no Brasil, Brasília, 2013,
76 p.

Referências bibliográficas 9. GERBER, P.T.; VELLINGA, T.; OPIO, C.;


STEINFELD, H. Productivity gains and green-
1. SEARCHINGER, T.; HANSON, C.;
house gas emissions intensity in dairy systems.
RANGANATHAN, J. I et al. Creating a sustain-
Livestock Science, v.139, n.1-2, p. 100-108, 2011.
able food future. A menu of solutions to sustain-
ably feed more than 9 billion people by 2050.
10. IBGE. Produção da pecuária municipal. v.40,
World resources report 2013-14: interim findings.
2012, 68p.
Washington, DC, 2014. 154 p.
11. RUAS, J.R.M.; SILVA, E.A.; QUEIROZ, D.S.;
2. GERBER, P.J.; STEINFELD, H.; HENDERSON,
et al. Vacas F1 Holandês x Zebu uma opção para
B. et al. Tackling climate change through live-
sistema de produção de leite em condições tropi-
stock – A global assessment of emissions and
cais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.35,
mitigation opportunities. Food and Agriculture
Edição Especial, 2014 (Artigo em impressão).
Organization of the United Nations (FAO),
Rome, 2013. 115 p. 12. RUVIARO, C.F.; LÉIS, C.M.; LAMPERT, V.N.;
et al. Carbon footprint in different beef produc-
3. IBGE. Censo Agropecuário 2006. Disponível
tion systems on a Southern Brazilian farm: a case
em:< http://www.ibge.gov.br/home/estatis-
study. Journal of Cleaner Production, (article in
tica/economia/agropecuaria/censoagro/2006>.
press), p.1-9, 2014.
Acesso em: julho 2014.
13. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
4. STRASSBURG, B.B.N.; LATAWIEC, A.E;
Abastecimento. Plano setorial de mitigação e de
BARIONI, L.G. et al. When enough should be
adaptação às mudanças climáticas para a conso-
enough: Improving the use of current agricultural
lidação de uma economia de baixa emissão de
lands could meet production demands and spare
carbono na agricultura: plano ABC (Agricultura
natural habitats in Brazil. Global Environmental
de Baixa Emissão de Carbono) / Ministério da
Change, v.28, p.84–97. 2014.
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério
do Desenvolvimento Agrário, coordenação da
5. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
Casa Civil da Presidência da República. – Brasília
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Animal:
: MAPA/ACS, 2012. 173 p.
Espécies: Bovinos e Bubalinos. Disponível em:
<http://www.agricultura.gov.br/animal/espe-
14. NASCIMENTO, M.C.; RIVA, R.D.D.;
cies/bovinos-e-bubalinos> Acessado em julho
CHAGAS, C.S. et al. Uso de imagens do sensor
2014.
ASTER na identificação de níveis de degradação
em pastagens. Revista Brasileira de Engenharia
6. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS
Agrícola e Ambiental, v.10, n.1, p.196-202, 2006.
INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE
– ABIEC. Exportações Brasileiras de Carne
15. MORAES, A.; CARVALHO, P.C.F.; BARRO,
Bovina: janeiro a abril 2014. Disponível em:
R.S.; et al. Perspectivas da pesquisa em siste-
<http://www.abiec.com.br/download/exporta-
mas integrados de produção agrícola e pecuária
cao-jan-abr-2014.pdf> Acessado em: julho 2014.
no Brasil e os novos desafios. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
7. IPCC, Summary for Policymakers, In: Climate
ZOOTECNIA, 49, Brasília, Anais...Brasília: [s.n.]
Change 2014, Mitigation of Climate Change.
2012 (CD Room).
Contribution of Working Group III to the Fifth
Assessment Report of the Intergovernmental
16. BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. O.; STONE,
Panel on Climate Change [Edenhofer, O.; Pichs-

132 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


L. F. (Ed.). MARCO REFERENCIAL EM
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-
FLORESTA (ILPF). Brasília, DF: Embrapa
Informação Tecnológica, 2011.

17. SOUZA, J.A.; TEIXEIRA, M.R. Experiências


com a implantação do sistema integração la-
voura-pecuária. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v.28, n.240, p.112-119, 2007.

18. MACEDO, M. C. M. Integração lavoura e pe-


cuária: o estado da arte e inovações tecnológicas.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.133-146,
2009 (suplemento especial).

19. MACEDO, R.L.G.; VALE, A.B.; VENTURIN,


N. Eucalipto em sistemas silvipastoris e agrossil-
vipastoris. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,
v.29, n.242, p.71-85, 2008.

20. BRAGA, G.J.; PEDREIRA, C.G.S.; HERLING,


V.R.; LUZ, P.H.C. Eficiência de pastejo de capim-
-marandu submetido a diferentes ofertas de for-
ragem. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, n.11,
p.1641-1649, 2007.

21. SILVA, F.D.; AMADO, T.G. C.; FERREIRA, A.O.;


et al. Soil carbon indices as affected by 10 years of
integrated crop–livestock production with differ-
ent pasture grazing intensities in Southern Brazil.
Agriculture, Ecosystems and Environment, v.190,
p.60–69, 2014.

22. SALTON, J.C.; MIELNICZUK, J.; BAYER, C.


et al. Teor e dinâmica do carbono no solo em
sistemas de integração lavoura-pecuária. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v.46, n.10, p.1349-1356,
2011.

23. FERNANDES, M.S.; FINCO, M.V.A. Sistemas


de integração lavoura-pecuária e políticas de mu-
danças climáticas. Pesquisa Agropecuária Tropical,
v.44, n.2, p.182-190, 2014.

7. Emissão de gases de efeito estufa pela pecuária e ação mitigadora da integração lavoura pecuária 133
8. Pastagens
degradadas e
recuperadas: emissão
ou resgate de gás
carbônico
Domingos Sávio Campos Paciullo1,*
Carlos Renato Tavares de Castro1
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira1
Carlos Augusto de Miranda Gomide1
Marcelo Dias Müller1
1
Embrapa Gado de Leite – Rua Eugênio do Nascimento, 610, Dom Bosco, Juiz de Fora, MG
* Email para contato: domingos.paciullo@embrapa.br

1. Introdução ploração animal baseados em pastagens


degradadas, tal crítica tem sido funda-
Apesar da reconhecida importância mentada nas perdas de solo associadas
da agropecuária brasileira na produção ao processo de erosão e na geração de
de alimentos e geração de renda, atual- quantidades significativas de gases de
mente muito se discute sobre o impac- efeito estufa (GEE), entre eles o dióxi-
to ambiental das do de carbono,
atividades pecu- A degradação das áreas se iniciou o metano e o
árias. Além dos após a eliminação gradativa da óxido nitroso.
baixos índices vegetação original de floresta para a A degra-
zootécnicos, implantação de cultivos agrícolas e/ dação das áreas
verificados em ou atividades pecuárias, e se acentuou se iniciou após a
sistemas de ex- com o uso inadequado das pastagens. eliminação gra-
134 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
dativa da vegetação original de floresta tante para mitigação de impactos negati-
para a implantação de cultivos agrícolas vos do setor agropecuário. Atualmente,
e/ou atividades pecuárias, e se acen- a recuperação de pastagens degradadas
tuou com o uso inadequado das pasta- é uma prática oficialmente reconhecida
gens. No Brasil, as pastagens cultivadas como uma das alternativas para redução
de gramíneas tiveram grande expansão das emissões de GEE pela agropecuária.
entre as décadas de setenta e noventa, O governo se comprometeu a recuperar
principalmente com o plantio de espé- 15 milhões de ha de áreas de pastagens
cies do gênero Brachiaria com predomi- degradadas, o que reduziria de 83 a 104
nância de B. decumbens milhões de toneladas de CO2eq.
e B. brizantha. Essas Serão discutidos
pastagens foram for-
A degradação de neste trabalho aspectos
pastagens é o fator mais da degradação de pas-
madas, na maioria das
importante, na atualidade, tagens, suas consequ-
vezes, em solos de bai-
que compromete a ências para emissão de
xa fertilidade natural, o
sustentabilidade da GEE e alguns impactos
que contribuiu para o
produção animal, sendo positivos que a recu-
avanço do processo de
um processo dinâmico peração de pastagens
degradação observa-
de queda relativa da degradadas poderiam
do poucos anos após o produtividade.
estabelecimento. A de- gerar, com ênfase no
gradação das pastagens sequestro e armazena-
é um problema que ocorre em extensas mento de carbono. O texto traz também
áreas; estima-se que cerca de 60 milhões comentários sobre os benefícios do uso
de ha dos 100 milhões de pastagens cul- de sistemas silvipastoris como forma de
tivadas existentes no Brasil estejam de- recuperação de pastagens e produção
gradados ou em processo de degradação animal sustentável, trazendo evidências
(Macedo, 2009). da contribuição dessa tecnologia para o
Sabe-se que pastagens produtivas resgate de CO2.
e manejadas adequadamente, além de
propiciarem condições favoráveis para
2. A degradação de
aumentos significativos no desempenho pastagens no Brasil
animal, também podem absorver grande A degradação de pastagens é o fa-
parte do carbono emitido pela atividade, tor mais importante, na atualidade,
tornando-se um componente importante que compromete a sustentabilidade da
no balanço de GEE na pecuária. Por isso, produção animal, sendo um processo
o investimento na recuperação de pasta- dinâmico de queda relativa da produti-
gens degradadas é uma estratégia impor- vidade. Dentre os fatores relacionados
8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 135
com a degradação das pastagens, desta- produção vegetal significativa. A redu-
cam-se o manejo animal inadequado e a ção da produção de forragem trará como
falta de reposição de nutrientes. A taxa consequência a queda contínua na capa-
de lotação excessiva, sem os ajustes para cidade de suporte da pastagem, tendo re-
uma adequada capacidade de suporte, e flexos negativos para a produção animal.
a ausência de adubação de manutenção Portanto, o primeiro problema associado
têm sido os aceleradores do processo de à degradação de pastagens é a baixa efi-
degradação (Macedo et al., 2012). ciência zootécnica dos sistemas de pro-
Segundo Dias-Filho (2005), a dução animal, a qual coloca em risco a
degradação pode ser inicialmente ca- viabilidade econômica do sistema.
racterizada apenas pela mudança na Ao lado da ineficiência zootécni-
composição botânica da pastagem, em ca, estão os problemas ambientais de-
decorrência do aumento na proporção correntes da degradação de pastagens,
de plantas daninhas e da consequen- especialmente aqueles decorrentes
te diminuição na proporção de capim. da emissão de gases de efeito estufa.
Do ponto de vista ecológico, esse tipo Dados obtidos em diferentes sistemas
de degradação da pastagem nada mais de uso do solo indicaram que pastagens
seria do que a evolução do processo de degradadas estabelecidas em solos de
sucessão secundária, isto é, mudança baixa fertilidade apresentaram perdas
na composição botânica devido à reco- de carbono (C) da ordem de 1,53 Mg/
lonização da área por plantas oriundas ha/ano. Em contrapartida, pastagens
do banco de sementes e propágulo do implementadas em solos férteis mostra-
solo. Nesse caso, não haveria, necessa- ram acúmulo médio de C de 0,46 t/ha/
ano (Carvalho et al., 2010). Portanto,
riamente, a perda de capacidade do solo
as pastagens podem funcionar como
em promover e sustentar o acúmulo e
fonte ou sumidouro de carbono atmos-
biomassa vegetal (acumular carbono),
férico, dependendo do manejo adotado
que, em certos casos, pode até aumentar
(Ruggieri et al., 2011).
na pastagem tida como degradada, ou
em degradação, em relação à pastagem
3. Emissões de gases de
original. Por outro lado, o mesmo autor
descreve que a degradação da pastagem
efeito estufa provenientes
pode ser caracterizada também pela in- de atividades
tensa diminuição da biomassa vegetal agropecuárias
da área, provocada pela degradação do
solo, que, por diversas razões de natu- 3.1. Emissões de CO2
reza química, física ou biológica, estaria Nos países de clima temperado,
perdendo a capacidade de sustentar a a maior fonte de CO2 é a oxidação de
136 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
combustíveis fósseis literatura em relação
Nos países de clima
(veículos, sistemas de à alteração do conteú-
tropical, as emissões de
aquecimento e de re- do de carbono no solo
CO2 são provenientes
frigeração, indústrias), decorrente da substi-
principalmente da
que geram os maiores tuição do ecossistema
mudança do uso da
volumes globais anu- natural por pastagem
terra, em particular da
ais de CO2. Nos países conversão de florestas para ainda são contraditó-
de clima tropical, as o uso agropecuário. rios. Diferenças em
emissões de CO2 são relação aos tipos de
provenientes princi- ecossistemas naturais
palmente da mudança do uso da terra, substituídos, tipo de solo, produção de
em particular da conversão de flores- biomassa da gramínea, clima, manejo
tas para o uso agropecuário (Ruggieri da pastagem, dentre outros, condicio-
et al., 2011). Nesse caso, a liberação nam o padrão de variação da matéria
de CO2 ocorre durante as queima- orgânica do solo, podendo aumentar
das e durante o revolvimento do solo, ou diminuir o seu conteúdo. Por exem-
com entrada de oxigênio, que permite plo, alguns anos após a implantação
a mineralização ou a das pastagens, os es-
oxidação da matéria O processo de toques de carbono no
orgânica (Primavesi desmatamento diminui solo podem aumentar,
et al., 2007). De fato, o estoque de carbono com possibilidade de
em anos recentes, do solo, sendo a perda até superar o estoque
os desmatamentos proporcional ao nível de originalmente presen-
de áreas da Floresta perturbação durante esse te sob a vegetação na-
Amazônica, do processo. tiva, desde que a pas-
Cerrado e da Mata tagem receba manejo
Atlântica foram segui- adequado, o que implica que não haja
dos, predominantemente, pelo estabe- deficiência de nutrientes e que seja
lecimento de pastagens de gramíneas respeitada a capacidade de suporte do
introduzidas da África, principalmente pasto ( Jantalia et al., 2006a). Em con-
do gênero Brachiaria ( Jantalia et al., dições de manejo inadequado, as pas-
2006a). O processo de desmatamento tagens podem se tornar fonte de CO .
2
diminui o estoque de carbono do solo, Carvalho et al. (2010) verificaram
sendo a perda proporcional ao nível que pastagens degradadas estabele-
de perturbação durante esse processo. cidas em solos de baixa fertilidade
Em revisão sobre o assunto, Ruggieri et apresentaram perdas de C da ordem
al. (2011) afirmaram que os relatos na de 1,53 Mg/ha/ano.

8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 137


3.2. Metano e óxido nitroso e Bovinos produzem de 150 a 420 li-
suas relações com a atividade tros de CH4 por dia e ovinos, de 25 a 55
pecuária L/dia (Holter e Young, 1992; McAllister
Além do CO2, outros dois gases são et al., 1996), o que corresponde a emis-
relacionados às atividades agropecuá- sões anuais de 39,1 a 109,5 kg e de 6,5
rias: o metano (CH4) e o óxido nitroso a 14,4 kg, respectivamente. A Índia e
(NO2). O gás metano apresenta po- o Brasil lideram o ranking mundial de
tencial de aquecimento global 25 vezes emissão total de metano entérico, com
maior que o CO2 e tempo de vida na at- 14,5 e 10,3 Tg de CH4/ano, respectiva-
mosfera de 9 a 15 anos, sendo sua taxa mente. Quando é considerada apenas a
de crescimento anual de 7,0% (IPCC, emissão por bovinos, o Brasil é apontado
2006). A produção de metano resulta como o maior emissor (9,6 Tg de CH4/
da fermentação anaeró- ano), seguido da Índia
bica da matéria orgânica O gás metano (8,6 Tg de CH4/ano)
em ambientes alagados, apresenta potencial de e dos Estados Unidos
campos de arroz culti- aquecimento global 25 da América (5,1 Tg de
vados por irrigação de vezes maior que o CO2. CH4/ano) (Thorpe,
inundação, fermentação 2009). Segundo re-
entérica, tratamento anaeróbico de resí- sultados preliminares
duos animais e queima de biomassa. do Segundo Inventário Nacional de
O metano produzido em sistemas de Emissões de GEE (MCT, 2009), no ano
produção de bovinos origina-se, principal- de 2005 a agropecuária foi responsável
mente, da fermentação entérica (85 a 90%), por 22% do total das emissões de meta-
sendo o restante produzido a partir dos de- no no Brasil.
jetos desses animais. Do metano produzido Além de ser caracterizado como um
por fermentação entérica no rúmen, 95% é importante GEE, o metano de origem
excretado por eructação, e daquele produ- entérica tem relação direta com a efici-
zido no trato digestivo posterior, 89% é ex- ência da fermentação ruminal em virtu-
cretado via respiração, e aproximadamente de da perda de carbono e, consequente-
1% pelo ânus (Murray et mente, perda de energia,
al., 1976). O metano de- Bovinos produzem de influenciando o desem-
rivado da fermentação 150 a 420 litros de penho animal (Cotton e
entérica de ruminantes CH 4
por dia. A Índia Pielke, 1995; Bell et al.,
representa cerca de ¼ das e o Brasil lideram o 2011). O conhecimen-
emissões antropogênicas ranking mundial de to dos mecanismos de
desse gás (Wuebbles e emissão total de metano síntese de metano e os
Hayhoe, 2002). entérico. fatores que afetam sua

138 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


produção são importan- importante para mitiga-
tes. O desafio no sistema
O óxido nitroso é
ção de impactos negati-
produtivo de ruminan-
considerado um dos
vos do setor agropecu-
tes é desenvolver dietas
três mais importantes
ário. De acordo com o
e estratégias de manejo
gases de efeito estufa do
relatório da FAO (2006),
que minimizem a produ-
planeta.
as pastagens (nativas e
ção relativa de metano cultivadas) representam
(metano/kg de leite, carne ou lã), pos- a segunda maior fonte potencial global
sibilitando maior eficiência produtiva e de sequestro de C, com capacidade de
redução da contribuição negativa da pe- drenar da atmosfera 1,7 bilhão de to-
cuária para o aquecimento global. neladas por ano, ficando atrás somente
O óxido nitroso é considerado um das florestas, cuja capacidade estimada
dos três mais importantes gases de chega a 2 bilhões de C por ano. De for-
efeito estufa do planeta. A nitrificação ma geral, o uso de práticas de manejo
e a desnitrificação são os processos adequadas em pastagens possibilita o
que dão origem às emissões de N2O do acúmulo de C no solo a
solo. Os fatores envol- uma taxa de 0,3 Mg/ha/
vidos nos processos de As práticas de manejo ano (IPCC, 2000), o que
nitrificação e desnitri- adotadas, entre elas a
corresponde aproxima-
ficação e na difusão de intensidade de pastejo
damente à mitigação de
gases do solo estão bem utilizada, é que fará da
1,1 Mg CO2 equivalen-
discutidos por Jantalia et pastagem um dreno ou
te/ha/ano. Esse valor,
al. (2006b). Em relação uma fonte de C.
bastante conservador,
à pecuária, as emissões
seria suficiente para anu-
são decorrentes principalmente da de-
lar cerca de 80% da emissão anual de
posição de dejetos de animais em pas-
metano de um bovino de corte adulto,
tagem, embora o uso de fertilizantes
estimada em 57 kg (IPCC, 1996), que
em pastagem, os resíduos de colheita,
equivale a 1,42 MgCO2 (57 kg de CH4/
dentre outros, contribuam para a emis-
ano x 25 potencial de aquecimento glo-
são de N2O.
bal do gás = 1,42 MgCO2eq).
4. Recuperação e manejo É importante salientar que a pasta-
gem per si não se constitui dreno de C.
adequado de pastagens:
estratégias para aumentar As práticas de manejo adotadas, entre
elas a intensidade de pastejo utilizada, é
o estoque de C que fará da pastagem um dreno ou uma
O investimento na recuperação de fonte de C (Carvalho et al., 2010). Por
pastagens degradadas é uma estratégia exemplo, Wolf et al. (2011) estudaram
8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 139
o potencial de áreas de pastagem para ções moderadas incrementaram seus
o sequestro de C. Verificaram que o estoques de C de forma contínua ao
uso de taxas de lotação animal acima longo de 10 anos.
da capacidade de suporte da pastagem De forma mais detalhada, os dados
resultou em superpastejo e propiciou extraídos do trabalho de Conant et al.
perdas de C do sistema. Os autores (2001) indicam valores potenciais de
afirmaram que, devido ao superpas- algumas práticas de manejo capazes
tejo, o C sequestrado durante a época de aumentar a taxa de sequestro de C
chuvosa não foi suficiente para com- (Tab. 1). Enquanto a fertilização e o
pensar as perdas de C durante a época manejo do pastejo contribuiriam para
seca do ano. Nesse caso, o ecossistema o sequestro de C, a taxas de aproxi-
de pastagem se tornou uma fonte de C madamente 0,30 a 0,35 Mg/ha/ano, a
para a atmosfera. Os autores concluí- introdução de gramíneas melhoradas,
ram que a redução na taxa de lotação com elevado potencial de produção
para ajustar à capacidade de suporte do e bom valor nutricional, em substi-
pasto seria uma medida fundamental tuição a outras menos produtivas e/
para reverter o processo de perda de C ou em algum estádio de degradação
e degradação do sistema. Outro exem- da pastagem, poderia contribuir para
plo interessante foi apresentado por o sequestro de até 3,04 Mg/ha/ano,
Carvalho et al. (2011). Os autores rela- sendo essa a prática individual mais
taram que, numa escala temporal de 10 promissora para aumentar as taxas de
anos, pastos manejados com excesso sequestro de C.
de lotação animal se constituíram em Trabalhos desenvolvidos por
fonte emissora a partir do terceiro ano, Amézquita et al. (2010), na Colômbia
enquanto pastos conduzidos com lota- e na Costa Rica, comparando o esto-

Tabela 1. Práticas de manejo associadas às pastagens com potencial de aumento


nas taxas de sequestro de carbono no solo
Prática de manejo Taxa de sequestro de carbono (Mg/ha/ano)
Fertilização 0,30

Manejo do pastejo 0,35

Irrigação 0,11

Introdução de gramíneas melhoradas 3,04

Introdução de leguminosas 0,75


Fonte: Adaptado de Conant et al. (2001).

140 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


que de C no solo em di- desenvolvido no extre-
Potencial de pastagens
ferentes sistemas de uso mo sul da Bahia, durante
adequadamente
do solo, demonstraram nove anos. O objetivo
manejadas, para
o potencial de pastagens foi comparar pastagens
o sequestro e
adequadamente maneja- exclusivas de B. humidi-
armazenamento de C.
das, para o sequestro e ar- cola com pastagens de B.
mazenamento de C (Tab. humidicola consorciadas
2). Por exemplo, pastagens exclusivas com a leguminosa Desmodium ovalifo-
de Brachiaria brizantha e B. decumbens lium (Tarré et al., 2001). Os resultados
apresentaram valores 40 e 47% maio- demostraram que, até a profundidade
res no estoque de C do que pastagens de 30 cm, houve maior acúmulo de C
degradadas. Nesses estudos, os autores no solo sob as pastagens consorciadas
verificaram que a introdução de legumi- quando comparadas ao monocultivo.
nosas em consorciação com gramíneas Os autores estimaram que, em média, a
foi uma estratégia ainda mais promis- taxa de acumulação de C no solo sob as
sora para incrementar o sequestro de pastagens consorciadas foi de 1,17 Mg/
C em pastagens. Na Costa Rica, o esto- ha/ano, sendo esse valor praticamente o
que de C em pastagens constituídas de dobro daquele observado na monocul-
B. brizantha em consórcio com Arachis tura (0,66 Mg/ha/ano).
pintoi foi aproximadamente 80% maior Portanto, pastagens produtivas e
que aquele encontrado na pastagem de- manejadas adequadamente, além de
gradada (Tab. 2). Outro exemplo do be- propiciarem condições favoráveis para
nefício do consórcio para o sequestro de aumentos significativos no desempenho
C pode ser verificado em um trabalho animal, também podem absorver gran-
Tabela 2. Carbono (Mg/ha) no solo, na biomassa da pastagem (parte aérea e
raízes) e total, conforme o sistema de uso da terra, em regiões da Costa Rica e da
Colômbia
Sistema C solo C pastagem C total
Sistemas de produção da Costa Rica
B. brizantha + A. pintoi 181 3,0 184,0
SSP (A. mangium + A. pintoi) 165 5,4 170,4
B. brizantha 138 3,4 141,4
Pastagem degradada 95 5,4 100,4
Sistemas de produção da Colômbia
B. decumbens 136 9,1 145,1
Pastagem degradada 97 1,6 98,6
Fonte: Adaptado de Amézquita et al. (2010).

8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 141


de parte do C emitido pela atividade, propriedades físicas e químicas do solo;
tornando-se um componente impor- c) contribuição para a conservação do
tante no balanço de GEE na pecuária. solo por proporcionarem maior contro-
le da erosão; d) melhoria do conforto
5. Sistemas silvipastoris: térmico para os animais, ao fornecerem
oportunidade para a sombra para o gado e proporcionarem
recuperação de pastagens um ambiente com temperatura mais
degradadas e o aumento amena; e) melhoria do valor nutricional
do sequestro de CO2 da forragem para os animais; d) possi-
bilidade de suplementação alimentar
Os sistemas agrossilvipastoris repre- para os animais por meio do pastejo, ou
sentam uma alternativa interessante para fornecimento no cocho, da forragem
recuperação de pastagens degradadas e produzida pelas árvores e arbustos; e)
para melhoria da eficiência do uso dos obtenção de mais de um produto co-
recursos naturais, financeiros, de mão mercializável na mesma área (leite/car-
de obra, equipamentos, entre outros.
ne + cultura agrícola +
De acordo com suas ca-
Os sistemas madeira), possibilitando
racterísticas, os sistemas
agrossilvipastoris aumento e diversificação
têm sido classificados de
representam uma da renda do produtor.
diferentes maneiras, tais
Ao lado desses be-
como: lavoura-pecuária alternativa interessante
para recuperação de nefícios, muito tem se
ou agropastoril; lavoura-
-pecuária-floresta ou pastagens degradadas discutido recentemente
e para melhoria da sobre os mecanismos
agrossilvipastoril; pecu-
ária-floresta ou silvipas- eficiência do uso dos de compensação para as
toril e lavoura-floresta ou recursos naturais. atividades ambientais
silviagrícola. positivas geradas em sis-
Esses sistemas possibilitam a in- temas agrossilvipastoris,
tensificação da produção por meio do por essa ser uma estratégia poderosa
manejo integrado dos recursos natu- para mitigar os processos negativos as-
rais, evitando sua degradação (Sousa et sociados à pecuária na América tropical.
al., 2010; Paciullo et al., 2011; 2014). Murgueitio et al. (2011) destacaram,
Alguns benefícios atribuídos ao uso dentre outros processos ecológicos, a
desses sistemas são: a) aumento da bio- mitigação de gases de efeito estufa, prin-
diversidade, ou seja, da variedade de cipalmente dióxido de carbono (CO2),
organismos vivos habitantes da área em metano (CH4) e óxido nitroso (N2O),
que forem implantados; b) melhoria das como um benefício potencial derivado
de sistemas agrossilvipastoris.
142 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014
De acordo com pro- hectare de sistema agro-
Em sistemas
jeções recentes, a área
silvipastoris, o sequestro florestal manejado ade-
mundial plantada com quadamente poderia po-
de carbono envolve
sistemas agrossilvipasto- tencialmente compensar
primariamente a
ris aumentará substan- captura do CO2 5 a 20 hectares de des-
cialmente em um futuro atmosférico durante matamento (Dixon et al.,
próximo. Sem dúvida, a fotossíntese e a 1993).
isso terá um grande im- transferência do Em sistemas silvipas-
pacto sobre o armazena- C fixado para o toris, o sequestro de car-
mento e o fluxo de C em armazenamento. bono envolve primaria-
um longo prazo na bio- mente a captura do CO2
sfera terrestre (Dixon, atmosférico durante a
1993). Agroecossistemas desempe- fotossíntese e a transferência do C fixa-
nham um papel central no ciclo global do para o armazenamento, tanto acima
de C e contêm aproximadamente 12% quanto abaixo do solo. Acima do solo, o
de C terrestre do mundo (Dixon et al., C é fixado em caules e folhas de árvores
1994). e plantas herbáceas, enquanto abaixo do
Embora os sistemas agrossilvipas- solo é fixado em raízes, organismos do
toris possam envolver práticas que fa- solo, além do C estocado em diferentes
vorecem a emissão de GEE, incluindo a horizontes do solo (Nair, 2011). Com
agricultura intinerante, uso da adubação base na hipótese de que a incorporação
nitrogenada, entre outras (Dixon, 1993; de árvores em áreas de pastagens pode-
Le Mer; Roger, 2001), vários estudos ria resultar em maior quantidade líquida
têm mostrado que a inclusão de árvores de C estocado (Haile et al., 2008), acre-
em áreas agrícolas e pecuárias, em geral, dita-se que sistemas silvipastoris apre-
melhora a produtividade dos sistemas, sentam maior potencial para sequestrar
oferecendo oportunidades para aumen- C que monocultivos de pastagens ou
tar o sequestro de C (Dixon et al., 1993; culturas agrícolas.
Montagnini e Nair, 2004; Ibrahim et al., O aumento no estoque de C em um
2007; Andrade et al., 2008). Além disso, determinado período é simplesmente o
os sistemas agrossilvipastoris podem ter primeiro passo. Em sistemas agrossilvi-
um efeito indireto no sequestro de C, na pastoris, o sequestro de C é um proces-
medida em que contribuem para redu- so dinâmico que pode ser dividido em
zir a pressão sobre as florestas naturais, várias fases. Durante o estabelecimento,
que são o maior sumidouro de C terres- muitos sistemas podem tornar-se fonte
tre (Montagnini e Nair, 2004). Dentro de gases, pelas perdas de C e N da vege-
de regiões tropicais, estima-se que um tação e do solo. Segue-se um período de
8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 143
rápida acumulação, quando toneladas em estudos que levem em consideração
de C são armazenadas em caules, folhas, o tempo, pois a evolução dos seus teores
raízes e solo. Na fase de colheita das no solo e as respectivas interações de-
árvores, uma consideração importante correntes das práticas de manejo adota-
se refere ao uso da biomassa arbórea das tendem a ser lentas. Um exemplo do
em sistemas silvipastoris. Se as árvores benefício de leguminosas arbóreas em
colhidas são usadas como madeira para pastagem de Brachiaria decumbens sub-
produção de móveis e construções, o C metida ao pastejo de bovinos leiteiros
estará fixado por longo período. Por ou- foi apresentado nos trabalhos de Castro
tro lado, o sequestro pode ser de curto et al. (2009) e Paciullo et al. (2011). O
período se as árvores são queimadas ou sistema silvipastoril foi implantado no
destinadas à produção de papel. O se- início da década de 1990, com o obje-
questro efetivo somente pode ser con- tivo de verificar o efeito de leguminosas
siderado se o balanço líquido positivo arbóreas nas características de pasta-
de C ocorre após várias décadas, em gens degradadas em áreas montanho-
relação ao estoque inicial (Albrecht e sas da região Sudeste (Carvalho et al.,
Kandji, 2003). 2001). Os dados obtidos após 13 anos
O aumento no estoque de matéria de implantação do sistema silvipastoril
orgânica do solo é proveniente do se- indicaram aumentos significativos nos
questro de C atmosférico, via fotossínt- teores de MO e de vários nutrientes do
ese, sendo, do ponto de vista ambiental, solo, com reflexos positivos na massa de
muito importante na mitigação da emis- forragem, à medida que se aumentou a
são de gases do efeito estufa (Lal, 2002). percentagem de cobertura arbórea na
O entendimento da dinâmica da maté- pastagem (Tab. 3). Esses resultados evi-
ria orgânica no solo somente ocorrerá denciam que a inclusão do componente

Tabela 3. Características do solo e do pasto de B. decumbens após 13 anos de


manejo, sob três condições de cobertura por leguminosas arbóreas
Cobertura por leguminosas arbóreas (%)
Característica
0 20 30
K (mg/dm3) 30,6 35,0 47,6
P (mg/dm3) 1,87 2,90 5,20
MO (%) 1,70 2,10 2,53
CTC efetiva (cmolc/dm ) 3
1,25 1,45 1,86
CTC potencial (cmolc/dm ) 3
5,60 6,87 7,53
Massa de forragem (kg/ha) 1.595 2.051 3.139
Fonte: Adaptado de Castro et al. (2009) e Paciullo et al. (2011).

144 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


arbóreo, constituído por leguminosas, semelhantes demonstram a vantagem
pode contribuir para o aumento do se- comparativa para o sequestro e arma-
questro de carbono no solo sob pasta- zenamento de C de sistemas silvipas-
gens de gramíneas, além de que ajuda na toris quando comparados ao cultivo de
recuperação e persistência de pastagens gramíneas em sistema de monocultura
de B. decumbens em áreas montanhosas. (Sharrow e Ismail, 2004; Kaur et al.,
O trabalho de Müller et al. (2009) 2002).
objetivou estimar o estoque de biomas-
sa e carbono em um sistema silvipastoril 6. Considerações finais
misto com Eucalyptus grandis e Acacia A produção pecuária brasileira é
mangium, implantado na Zona da Mata baseada em pastagens que se encon-
mineira. O sistema apresentava uma tram em grande parte em processo de
densidade de árvores de 105 plantas degradação. Nesse cenário, os níveis de
por hectare, sendo 60 árvores de euca- produtividade do pasto e do animal são
lipto e 45 árvores de acácia. Foi quanti- baixos, e as emissões de gases de efeito
ficado o volume do fuste estufa têm se destacado,
das árvores aos 10 anos
de idade, e a biomassa Estudos demonstram a principalmente quando
residual média da pasta- vantagem comparativa se avalia a relação entre
para o sequestro e a quantidade de produ-
gem, durante o período to animal por unidade
de 4 anos. Os resultados armazenamento de C
de equivalente carbono
obtidos evidenciaram a de sistemas silvipastoris emitido. Nesse contexto,
grande contribuição do quando comparados
um dos grandes desafios
componente arbóreo no ao cultivo de gramíneas da agropecuária é manter
armazenamento de C em sistema de
monocultura. a produção de alimentos
(Tab. 4). Outros estudos em níveis tais que sus-

Tabela 4. Biomassa total e carbono estocados (Mg/ha) no fuste das árvores de


Eucaliptus grandis e Acacia mangium e na parte aérea do pasto, aos 10 anos de
estabelecimento do sistema
Característica Biomassa total Carbono
Sistema silvipastoril
Eucalipto 24,81 11,17
A. Mangium 6,93 3,12
B. decumbens 1,28 0,58
Total 33,02 14,87
Fonte: Adaptado de Müller et al. (2009).

8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 145


tentem uma população em crescimento native forests in ecosystems of tropical America.
IN: Grassland carbon sequestration: management,
sem, com isso, contribuir para aumentar policy and economics. FAO. 2010.
a degradação do meio ambiente. 2. ALBRECHT, A.; KANDJI, S.T. Carbon sequestra-
O aumento na eficiência dos proces- tion in tropical agroforestry systems. Agriculture,
Ecosystems and Environment, v. 99, p.15–27,
sos vem sendo uma preocupação cres- 2003.
cente em todos os sistemas de produção
3. ANDRADE, E.J.; BROOK, R.; IBRAIHM, M.
agropecuários. É provável que a agrope- Growth, production and carbon sequestration of
cuária seja cada vez mais afetada pelas silvopastoral systems with native timber species in
the dry lowlands of Costa Rica. Plant an Soil, v.30,
imposições de limitações nas emissões p.11-22, 2008.
de carbono e pela legislação ambiental. 4. BELL, M.J.; WALL, E.; SIMM, G.; RUSSEL,
A tendência ou obrigação legal de miti- G. Effects of genetic line and feeding system on
methane from dairy systems. Animal Feed Science
gar as emissões de gases de efeito estufa Technology, 166-167, p. 699-707, 2011.
influenciará diretamente a necessidade 5. CARVALHO, J.L.N.; RAUCCI, G.S.; CERRI,
de aumento da eficiência zootécnica C.E.P. et al. Impact of pasture, agricultura and crop-
-livestock systems on soil C stocks in Brazil. Soil &
nos sistemas pecuários, atrelado ao ma- Tillage Research, v.110, p.175-186, 2010.
nejo nutricional dos animais a ser ado-
6. CARVALHO, M. M. Contribuição dos sis-
tado. O desenvolvimento de estratégias temas silvipastoris para a sustentabilidade da
de mitigação e a viabilidade da aplica- atividade leiteira. In: SIMPÓSIO SOBRE
SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS DE
ção prática dessas estratégias são áreas PRODUÇÃO DE LEITE A PASTO E EM
atuais de pesquisa em todo o mundo. CONFINAMENTO. 3., 2001, Juiz de Fora.
Anais... Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite,
Informações sobre sequestro de carbo- 2001. p. 85-108.
no e emissão de metano e óxido nitroso 7. CARVALHO, P.C.F.; ANGHINONI, I.;
em sistemas de produção pecuária ainda MORAES, A. et al. Managing grazing animals to
achieve nutrient cycling and soil improvement
são escassas. Não obstante, a prática de in no-till integrated systems. Nutrient Cycling in
recuperação de pastagens degradadas, Agroecosystems, v.88, p.259-273, 2010.
a adequação no manejo das pastagens 8. CARVALHO, P.C.F.; NABINGER, C.; LEMAIRE,
e o uso de sistemas agrossilvipastoris G. et al. Challenges and opportunities for livestock
production in natural pastures: the case of Brazilian
representam alternativas com potencial Pampa Biome. In: FELDMAN, S.R.; OLIVA, G.E.;
para mitigar gases de efeito estufa, além SACIDO, M.B. (Org.). International Rangeland
Congress – Diverse rangelands for a sustainable
de trazerem benefícios para o aumen- society. Rosario. 2011, p.9-15.
to da eficiência produtiva dos sistemas 9. CASTRO, C.R.T.; PACIULLO, D.S.C.; GOMIDE,
pecuários. C.A.M. et al. Características agronômicas, massa
de forragem e valor nutritivo de Brachiaria decum-
bens em sistema silvipastoril. Pesquisa Florestal
7. Referências Brasileira, v.60, p.19-25, 2009.
bibliográficas 10. COTTON, W.R.; PIELKE, R.A. Human impacts
on weather and climate. Cambridge: Cambridge
1. AMÉZQUITA, M.C.; MURGUEITIO, E.; University, 1995, 288p.
IBRAHIM, M.; et al. Carbon sequestration in
pasture and silvopastoral systems compared with 11. CONANT, R.T.; PAUSTIAN, K.; ELLIOTT, E.T.

146 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014


Grassland management and conversion into grass- 21. IPCC - Intergovernmental Panel on Climate
land: effects on soil carbon. Ecological Application, Change. Revised IPCC guidelines for national
v.11, p.343-355, 2001. greenhouse gas inventories: reference manu-
al. Cambridge: University Press, 1996. 297p.
12. DIAS-FILHO, M.B. Degradação de pastagens: Disponível em: http://www1.ipcc.ch/ipccre-
processos, causas e estratégias de recuperação. 2 ed. ports/. Acesso em: 05 fev. 2010.
Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2005.173p.
22. JANTALIA, C.P.; TARRÉ, R.M.; MACEDO, R.O.
13. DIXON, R.K; WIMJUM, J.K; LEE, J.J. et al. Inte- et al. Acumulação de carbono no solo em pastagens
grated systems: assessing of promising agrofor- de Brachiaria. In: ALVES, B.J.R., URQUIAGA,
est and alternative land-useland-use practices to S., AITA, C. et al. Manejo de sistemas agrícolas:
enhance carbon conservation and sequestration. impacto no sequestro de C e nas emissões de ga-
Climate Change, v.30, p.1–23, 1994. ses de efeito estufa. Porto alegre: Genesis, 2006a.
14. DIXON, R.K; WINJUM, J.K; SCHROEDER, p.157-170.
P.E. Conservation and sequestration of carbon: 23. JANTALIA, C.P.; ZOTARELLI, L.; SANTOS,
the potential of forest and agro-forest manage- H.P. et al. Em busca da mitigação da produção de
ment practices. Global Environmental Change, óxido nitroso em sistemas agrícolas: avaliação de
v.2, p.159–173, 1993. práticas usadas na produção de grãos no sul do país.
In: ALVES, B.J.R.; URQUIAGA, S.; AITA, C. et al.
15. FAO – Food and Agriculture Organization of Manejo de sistemas agrícolas: impacto no seques-
the United Nations. Livestock’s long shadow: envi- tro de C e nas emissões de gases de efeito estufa.
ronmental issues and options. Roma: FAO, 2006. Porto alegre: Genesis, 2006b. p.81-108.
391p. Disponível em: http://www.fao.org/do-
crep/010/a0701e/a0701e00.HTM. Acesso em: 24. LAL, R. The potential of soils of the tropics to se-
12 out. 2009. quester carbon and mitigate the greenhouse effect.
Advances in Agronomy., 74:155-192, 2002.
16. HAILE, S.G; NAIR, P.K.R.; NAIR, V.D. Carbon
storage of diferent soil-size fractions in Florida 25. MACEDO, M.C.M. Integração lavoura e pecuária:
silvopastoral systems. Journal Environmental o estado da arte e inovações tecnológicas. Revista
Quality., 37:1789–1797, 2008. Brasileira de Zootecnia, v.38, p.133-146, 2009.
26. MACEDO, M.C.M.; ARAÚJO, A.R. Sistemas
17. HOLTER, J.B.; YOUNG, A.J. Methane produc- de integração lavoura-pecuária: alternativas
tion in dry and lactating dairy cows. Journal of para recuperação de pastagens degradadas. In:
Dairy Science, n.75, p.2165-2175, 1992. BUNGENSTAB, D.J. (Ed.). Sistemas de integra-
ção lavoura-pecuária-floresta: a produção susten-
18. IBRAHIM, M.; CHACÓN, M.; CUARTAS, tável. 2 ed. Brasília, DF: Embrapa, 2012. p.27-48.
C. Almacenamiento de carbono en el suelo y la
biomasa arbórea en sistemas de usos de la tierra 27. MCALLISTER, T.A.; BAE, H. D.; JONE, G. A. et
en paisajes ganaderos de Colombia, Costa Rica y al. Microbial attachment and feed digestion in the
Nicaragua. Agroforestería en las Américas, n.45, rumen. Journal of Animal Science. 72, 3004-3018,
2007. 1994.

19. IPCC - Intergovernamental Panel on Climate 28. MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia.
Change. Emissions from livestock and manure Inventário Brasileiro das Emissões e Remoções
management. In: Eggleston, H. S.; Buendia, L.; Antrópicas de Gases de Efeito Estufa. Informações
Gerais e Valores Preliminares, 2009. Disponível
Miwa, K.; Ngara, T.; Tabane, K. (eds). IPCC
em: Acesso em: http://www.mct.gov.br. Acesso
Guideliness for nacional greenhouse gas invento-
em: 18 fev. 2010.
ries. Hayama: IGES, 2006. chap. 10, p. 747-846.
29. MONTAGNINI, F.; NAIR, P.K.R. Carbon se-
20. IPCC - Intergovernmental Panel on Climate
questration: An under exploited environmental
Change. Land use, land use change and forestry.
benefit of agroforestrys ystems. Agroforestry
A special report of the IPCC. Cambridge, United
Systems, v..61, p.281–295, 2004.
Kingdom: Cambridge University Press, 2000.
Disponível em: http://www1.ipcc.ch/ipccre- 30. MÜLLER, M.; FERNANDES, E.N.; CASTRO,
ports/sres/land_use/index.htm. Acesso em: 05 C.R.T. et al. Estimativa do acúmulo de biomassa e
fev. 2010. carbono em sistema agrossilvipastoril na Zona da

8. Pastagens degradadas e recuperadas: emissão ou resgate de gás carbônico 147


Mara Mineira. Pesquisa Florestal Brasileira, v.60, ses de efetio estufa na atividade pecuária. In:
p.11-17, 2009. EVANGELISTA, A.R., BERNARDES, T.F.,
CHIZOTTI, F.H.M. et al. As forragens e suas re-
31. MURGUEITIO, E. Sistemas Agroflorestales lações com o solo, ambiente e o animal. Lavras:
para la Producción Gandera en Colombia. In: UFLA, 2011. p.53-77.
POMAREDA C., STEINFELD, H. (Ed.). In:
Intensificación de la ganadería en centro améri- 39. SHARROW, S.H.; ISMAIL, S. Carbon and ni-
ca – beneficios económicos y ambientales. San trogen storage in agroforests, tree plantations and
José, Costa Rica: CATIE/ FAO/SIDE, 2000. p. pastures in western Oregon, USA. Agroforestry
219-242. Systems, v. 60, p. 123-130, 2004.
32. MURRAY, R. M.; BRYANT, A. M.; LENG, R. A. 40. SOUSA, L.F.; MAURÍCIO, R.M.; MOREIRA,
Rates of production of methane in the rumen and G.R. et al. Nutritional evaluation of ‘‘Braquiarão’’
large intestines of sheep. British Journal Nutrition, grass in association with ‘‘Aroeira’’ trees in a sil-
v.36, p.1-14, 1976. vopastoral system. Agroforestry Systems, v.79,
p.179-189, 2010.
33. NAIR, P. K. R. Carbon sequestration studies in
agroforestry systems: a reality-check. Agroforestry 41. TARRÉ, R.; MACEDO, R.; CANTARUTTI,
Systems, v.86, p.243-253, 2011. R.B. et al. The effect of the presence of a forage le-
gume on nitrogen and carbono levels in soil under
34. PACIULLO D.S.C.; CASTRO, C.R.T.; GOMIDE, Brachiaria pastures n the Atlantic forest region of
C.A.M. et al. Performance of dairy heifers in a sil- the South of Bahia, Brazil. Plant and Soil, v.234,
vopastoral system. Livestock Science, v.141, p.166- p.15-26, 2001.
172, 2011.
42. THORPE, A. Enteric fermentation and ruminant
35. PACIULLO, D.S.C.; PIRES, M.F.A.; AROEIRA, eructation: the role (and control?) of methane in
L.J.M. et al. Sward characteristics and performance the climate change debate. Climatic change. 93,
of dairy cows in organic grass-legume pastures 407-431, 2009.
shaded by tropical trees. Animal, v.8, p.1264-1271,
2014. 43. TSUKAMOTO FILHO, A.A. Fixação de carbono
em um sistema agroflorestal com eucalipto na re-
36. PACIULLO, D.S.C.; CASTRO, C.R.T.; MULLER, gião do cerrado de Minas Gerais. 2003. 98 f. Tese
M.D. et al. Fertilidad del suelo y biomasa de for- (Doutorado em Ciência Florestal) - Universidade
raje en pasturas manejadas con diferentes cober- Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
turas arbóreas. In: CONGRESO FORESTAL
DE CUBA. 5. 2011, Anais... Habana: Instituto de 44. WUEBBLES, D. J.; HAYHOE, K. Atmospheric
Investigaciones Forestais, 2011. 5p. 1 CD. methane and global change. Earth-Science Review,
57, 177–210, 2002.
37. PRIMAVESI, O.; ARZABE, C.; PEDREIRA, M.S.
Aquecimento global e mudanças climáticas: uma 45. WOLF, S.; EUGSTER, W.; POTVIN, C. et al.
visão integrada tropical. São Carlos: Embrapa Carbon sequestration potential of tropical pasture
Pecuária Sudeste, 2007. 213p. compared with afforestation in Panama. Global
Change Biology, v.17, p.2763-2780, 2011.
38. RUGIERRI, A.C; BRITO, L.F.; MAGALHÃES,
M.A. et al. O pasto como mitigador de ga-

148 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 74 - setembro de 2014

Potrebbero piacerti anche