O ser humano é um ser social e somente existe em função de seus
relacionamentos grupais. O fato de que o indivíduo nasce, aprende, trabalha e morre em grupo, torna evidente a necessidade do estudo da vida grupal. Para Zimerman e Osório (1997), todo indivíduo é um grupo na medida em que, no seu mundo interno, há um grupo de personagens introjetados, como os pais, os irmãos entre outros, que convivem e interagem entre si.
O estudo da ciência do comportamento, sendo uma dessas ciências a
Psicologia, no envelhecimento populacional e no atendimento de idosos iniciou durante o século XX na Europa e nos Estados Unidos. O motivo para pesquisar mais a fundo o assunto ocorreu pelo fato do aumento da população idosa em todo o mundo. Em alguns países mais desenvolvidos o número de idosos ativos, saudáveis e envolvidos socialmente cresceu, diferente dos países com mais desigualdades sociais.
A Psicologia mudou seus pressupostos no intuito de contemplar a
velhice como uma importante fase do desenvolvimento humano, uma vez que os seres humanos têm aumentado quantitativamente os anos vividos. A Psicologia também estava responsável por proporcionar boas condições para estabelecer estratégias e técnicas de intervenção na velhice. Começou-se a considerar que o desenvolvimento e o envelhecimento são processos multidimensionais e multidirecionais na busca de um equilíbrio tênue entre vantagens e limitações.
A Psicologia do envelhecimento tem o foco nas mudanças de
desempenhos cognitivos, sociais, afetivos e algumas alterações na motivação, interesses e atitudes que se caracterizam durante os anos da velhice. Há um enfoque nas diferenças intra e interindividuais quais são caracterizados pelos diferentes processos psicológicos na idade mais avançada. Esses processos psicológicos levam em consideração à idade, o sexo, a bagagem educacional e sociocultural. Frente ao crescimento da população idosa e às mudanças ideológicas em curso, a atuação do psicólogo com os idosos constitui-se a partir da interação da psicologia com outros campos da saúde e do atendimento social. Boa formação científica e humanística e cultivo do trabalho multiprofissional permitem bem atuar nos campos de trabalho, saúde, planejamento ambiental, lazer, educação, sociabilidade, família, comunidade, reabilitação e tratamento, construção de instrumentos e técnicas de avaliação, pesquisa e ensino de psicologia do envelhecimento, criando soluções apropriadas às várias realidades de velhice normal e patológica.
Em virtude do envelhecimento que pode se manifestar em cada idoso
em períodos diferentes, originou-se uma visão negativa do conceito de Envelhecimento centrada na perda de capacidades e regressões, e que é fomentada pelos meios de comunicação social, acabando por trazer consequências para o idoso. Ele próprio tem tendência a adotar uma atitude na qual os aspetos negativos deste processo são vistos como centrais e primordiais (FERNANDES , 2000)
No processo de envelhecimento, estão envolvidas, portanto, dimensões
psicológicas, influenciadas por fatores que contribuem para a percepção de aspectos subjetivos, que irão determinar o enfrentamento e a qualidade de vida do idoso. O envelhecimento é marcado por peculiaridades de cada indivíduo, tornando-se necessário levar em consideração a capacidade de manutenção funcional ou disfuncional do idoso para realizar suas atividades cotidianas, já que a maneira de enfrentar o processo desencadeado pelo envelhecimento contribui para a qualidade de vida na velhice.
Apoio e suporte familiar são considerados de fundamental importância
para que o idoso possa preservar sentimentos de reconhecimento e pertencimento junto às pessoas que ama, sendo que o despertar de tais sentimentos tem grande probabilidade de motivá-lo na busca de novas relações.
Uma das alternativas atuais é a participação em grupos de terceira
idade, uma vez que estes oportunizam novas possibilidades e perspectivas de vida. É de fundamental importância, para o bem viver da população idosa, incentivar que as pessoas, na velhice, busquem manter boas expectativas para a vida com planejamento e crença no futuro.
Intervenções grupais com idosos
Foi de autoria de Kurt Lewin o desenvolvimento da Teoria da Dinâmica
dos Grupos que procura compreender a estrutura, o poder, a liderança e a comunicação grupal. O autor e colaboradores desenvolveram a prática de dinâmica de grupo como técnica e método educativo de treinar as capacidades humanas. O principal objetivo era levar as pessoas a novos comportamentos por meio da exposição, discussão e decisão em grupo, um método totalmente diferenciado do ensino tradicionalmente utilizado.
Ao longo dos estudos e pesquisas da Psicologia do Envelhecimento
houve várias contribuições à promoção e a recuperação do bem-estar nessa fase da vida. Há um conjunto de técnicas diagnósticas, de avaliação e de intervenção voltadas ao tratamento dos problemas psicológicos e comportamentais que constantemente afetam o funcionamento e o bem-estar subjetivo dos idosos. Esse conjunto de técnicas visa o aperfeiçoamento, a manutenção ou a recuperação da saúde psicológica dos idosos que vivem de forma independente ou restrita, com saúde ou de forma patológica, na comunidade ou em instituições.
Além disso, os psicólogos podem utilizar esses procedimentos
possibilitando intervenções em muitas áreas como diretamente na saúde do idoso com ênfase na promoção em saúde, reabilitações cognitivas ou motoras, orientação, psicoterapia e cuidados paliativos. Nas relações sociais, envolvendo treino de habilidades sociais em programas de ação gerontológica. Na família, oferecendo informações e promoção de relações saudáveis e relações de interdependência entre gerações, podendo atuar também em situações de crise. Em instituições de assistência social à saúde do idoso, oferecendo treinamento de habilidades profissionais e/ou apoio psicológico aos que trabalham com idosos, sendo um possível facilitador nessas instituições. Na área da educação, lazer e sociabilidade, atuando em atividades grupais com o objetivo de aprimorar as habilidades sociais, tratando o idoso como participante ativo no grupo. Em situações de vulnerabilidade social, atuando em programas de prevenção e atendimento à população mais pobre, com história de abandono e maus-tratos, podendo também atuar na criação de políticas públicas para os idosos que passam por tais situações.
A intervenção psicológica pode promover nos idosos recursos para lidar
com o processo de Envelhecimento, ajudar a lidar com problemas emocionais, bem como auxiliar no desenvolvimento de relações interpessoais, aumentar a autoestima e autoconfiança, atenuando os sentimentos de impotência, aumenta a qualidade de vida do idoso (Kaplan&Sadock, 1997 citado por Campos, 2009). Com o aumento da idade diminuem os contactos com o outro e a procura de relações sociais agradáveis e significativas. Nesse sentido a intervenção psicológica em grupo torna-se um aliado importante no combate à solidão. A intervenção Psicológica em grupo permite estabelecer uma rede de apoio e suporte, através da criação de um espaço acolhedor onde cada participante pode falar sobre a sua vida, promovendo a troca de experiências, potenciando assim o relacionamento entre os componentes, melhorando a sua qualidade de vida (Campos, 2009)
É importante que os profissionais que lidam com idosos possam
escolher quais ferramentas mais podem auxilia-los a se trabalhar com idosos, uma vez que exige habilidades e conhecimentos que muitas vezes não fazem parte de seu repertório ou área de atuação. As avaliações e expectativas centradas no declínio e nas perdas do envelhecimento, bem como a aceitação indiscriminada e pouco reflexiva de uma visão negativa da velhice, limitam o reconhecimento das habilidades dos idosos, influenciam negativamente o seu engajamento em comportamentos positivos de saúde, e têm efeitos sobre o tratamento oferecido.
O uso desses conceitos para o desenvolvimento de dinâmicas de grupos
para idosos apresenta-se como uma opção, que deve abordar e interpretar os fenômenos da velhice, suas realidades sociais e constantes variáveis como as mudanças de papeis sociais, com significados positivos, ao mostrar oportunidades de aquisição e uso de novas habilidades, e o desempenho de certas tarefas evolutivas como forma de organização da vida que possibilitem até a aceitação da morte.
Considerações finais
É importante destacar o papel do psicólogo como facilitador do processo
grupal, pois ele possibilita a socialização e a revisão das experiências em comum, que precisam ser mantidas ou resgatadas. Portanto, a formação de grupos de idosos torna-se uma alternativa bastante viável na promoção e na prevenção da saúde biopsicossocial dos idosos e constitui uma experiência enriquecedora, que proporciona a formação de uma rede de suporte psicossocial entre os participantes enquanto modalidade de intervenção psicológica que contribui tanto para a valorização da identidade como para o reconhecimento da alteridade pelo idoso.
Desse modo, as atividades propostas pelo psicólogo com grupos de
idosos devem ser utilizadas no cotidiano da psicogerontologia como recurso de atendimento psicológico, visto que podem oportunizar novas perspectivas de vida e a expansão das fronteiras de seu valor pessoal, a manutenção de atividades prazerosas e o planejamento de projetos de vida e crença no futuro, o que possibilita a aquisição ou manutenção de estratégias para o enfrentamento do processo de envelhecimento.
Referências
MORAIS, Olga Nazaré Pantoja de. Grupos de idosos: atuação da
psicogerontologia no enfoque preventivo. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 29, n. 4, p. 846-855, 2009 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000400014&lng=en&nrm=iso>. access on 30 Sept. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932009000400014. Falcão, D. V. S., & Dias, C. M. S. B. (2006). Maturidade e velhice: pesquisas e intervenções psicológicas. São Paulo: Casa do Psicólogo. ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Artmed Editora, 2009. Neri, A. (2006). Contribuições da psicologia ao estudo e à intervenção no campo da velhice. Revista Brasileira De Ciências Do Envelhecimento Humano, 1(1). https://doi.org/10.5335/rbceh.2012.46 Liberalesso A, Unidos E. Contribuições da psicologia ao estudo e à intervenção no campo da velhice. 2004;69–80.