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R E V I S T A

HOMINIS
Saúde e Humanidades
Publicação científica dirigida à produção acadêmica, na área de Ciências da Saúde e Humanidades.
Publicará preferencialmente estudos científicos inseridos na realidade brasileira e divulgará contribuições
visando a melhoria da qualidade do Ensino, da Investigação Científica, da Assistência à Saúde no Brasil
e o que concerne às mais variadas questões humanas.

Corpo Editorial:
*Profa. PhD Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS,
Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG e Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Renata Cristian Oliveira Pamplin
Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Juliana Carvalho Ribeiro
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. Dra. Patricia Scotini Freitas
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas
*Profa. PhD Claudia da Silva Bittencourt
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas e Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE
*Profa. Dra. Daniela Cristina de Macedo Vieira
Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL
*Profa. PhD Regiane Luz Carvalho
Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas e Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - UNIFAE
*Profa. PhD. Erika Maria Parlato-Oliveira
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
*Profa. Dra. Norida Teotônio de Castro
Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS
*Prof PhD Rita de Cássia Ferreira
Universidade Estadual de Roraima - UER
*Prof PhD Elaine Cristina Morari
Universidade Estadual de Roraima - UER
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Saúde e Humanidades
Editorial
A publicação do segundo número da Revista HOMINIS é resultado do trabalho entre
professores e alunos, por meio de pesquisas e orientações. Desta forma agradecemos aos
autores que continuaram acreditando na revista e na iniciativa de se criar um veículo de
publicação na área de Saude e Humanas.
Não é fácil a tarefa de se manter a periodicidade de uma revista, especialmente quando esta
tem sua criação muito recente. Para tanto, o envio de manuscritos pelos autores e o auxílio
imprescindível dos pareceristas na revisão dos artigos foram essenciais para que a revista
pudesse ter sucesso na veiculação do seu segundo número.
A disponibilização desses artigos, certamente, colaborará positivamente para o acesso às
informações e servirá também como instrumento de pesquisa e, principalmente, fonte de
leituras. São artigos que têm a pretensão de ser o ponto inicial de leituras e debates das
questões aqui levantadas.
A Faculdade Pitágoras vem investindo em publicações e divulgações dos trabalhos dos
professores e assim contribuindo para a formação dos seus alunos e a interação com a
comunidade
Novamente salientamos e agradecemos a confiança dos autores em publicar na Revista
Hominis.

Profa. Me. Yula de Lima Merola


Farmacêutica
Comitê Executivo Revista Hominis

Poços de Caldas, outubro de 2015.

HOMENAGEM

A saudade nos faz mais uma visita. Não sabemos porque você se foi, mas com
corações mais confortados, dedicamos estas palavras para relembrar os bons
momentos que foram compartilhados e como a presença de uma pessoa tão querida
foi capaz de transformar tantas vidas abençoadas. A sua lembrança continuará
sempre viva entre nós. Deus agora tem você em seus braços, mas teremos você
eternamente em nossos corações. Obrigada Profa. Dra. Mariana de Oliveira Fonseca
Machado, pelo convívio e amizade...

Profa. Dra. Patrícia Scotini Freitas


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Saúde e Humanidades
Expediente
A Revista Hominis: Saúde e Humanidades, é um periódico de acesso livre e gratuito,
publicado quadrimestralmente pela Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas «Brasil»,
apenas na versão eletrônica disponível no sitio da internet
http://www.faculdadepitágoras.com.br/paginas/revista-hominis.aspx.
Tem como missão disseminar o conhecimento científico, revisto por pares, desenvolvido
por pesquisados das áreas de Ciências da Saúde e Humanidades. Publica artigos em
português, inglês ou espanhol, destinados à divulgação de resultados de pesquisas
originais, artigos de revisão sistemática, revisão integrativa e editorial. Os artigos
submetidos para análise não devem ter sido previamente publicados ou apresentados
em outros periódicos.

FACULDADE PITÁGORAS DE POÇOS DE CALDAS


Diretor
Prof. Me. Lázaro Quintino Alves

Curso de Administração
Profa. Me. Andreza Aparecida Barbosa

Curso de Enfermagem
Profa. Me. Giovanna Vallim Jorgetto

Curso de Farmácia
Profa. Me. Yula de Lima Merola

Curso de Psicologia
Profa. PhD Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly
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Conselho Editorial
Editor

Profa. Dra. Renata Cristian de Oliveira Pamplim

Faculdade Pitágoras Poços de Caldas

Conselho Editorial

Profa. Dra. Gisela Pizarro de Mattos Barreto

Faculdade Pitágoras Poços de Caldas

Corpo Editorial

Avaliadores Internos

Profa. Dra. Lilian Cristiane Villas Boas, Prof. Me. Cristiano de Carvaho Baliero,

Prof. Dr. Melchior Antonio Momesso, Prof. Me. Geraldo Flávio Canavez, Profa.

Me. Regiane das Graças Sorce Ferreira, Profa. Me. Luiza Luciana Martins, Prof.

Me. Marcos Nogueira de Lima, Profa. Me. Tânia da Costa Bertoli Mayrink, Profa.

Me. Yula de Lima Merola.

Avaliadores Convidados Externos

Profa. Dra. Cristiane Maria da Costa Silva

Profa. Me. Elaine Cristina Faria

Prof. Dr. Francisco Rafael do Lago Godoi

Prof. Dr. Aun Assad Neto.

Comitê Executivo
Profa. Me. Giovanna Vallim Jorgetto, Profa. Me. Yula de Lima Merola
e Profa. Dra Patrícia Scottini Freitas
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Sumário
Revista Hominis: Saúde e Humanidades, v.1, n.2, ago./nov. 2015.
Artigo Original / Origi: nal Article / Articulo Original

- Análise das respostas glicêmicas, lipídeos plasmáticos e índice de massa corporal após
treinamento físico em indivíduos portadores de diabetes mellitus Tipo 2
Analysis of glycemic responses, plasma lipids and body mass index after exercise training in
individuals with Type 2 diabetes mellitus
Análisis de respuestas glucémicas, lípidos plasmáticos y el índice de masa corporal después de la
práctica de ejercicio en personas con diabetes mellitus tipo 2
Juliana Vallim Jorgetto; Giovanna Vallim Jorgetto; Daniele Albano Pinheiro

- Importância da comissão de controle de infecção hospitalar no controle da resistência


microbiana
Importance of hospital infection control committee in controlling antimicrobial resistance
Importancia del comité de control de infecciones hospitalarias en el control de la resistencia
antimicrobiana
Taís Cristina Lima; Bárbara Carvalho Santos; Giovanna Vallim Jorgetto

- Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho: um desafio à gestão de pessoas


nas organizações
Inclusion of persons with disabilities in the labor market: a challenge to the management of
people in organizations
La inclusión de personas con discapacidad en el mercado laboral: un desafío para la gestión de
personas en las organizaciones
Marcos José da Silva Rossi; Anali Gonçalves de Carvalho; Graziela Pomárico Braz; Adolfo Plínio
Pereira; Patrícia Scotini Freitas; Renata Christian de Oliveira Pamplin

- O COMÉRCIO JUSTO NO BRASIL E EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: reflexões ao


crescimento econômico no mercado Fair Trade em cooperativas e associações de agricultores
familiares
The FAIR TRADE IN BRAZIL AND IN DEVELOPING COUNTRIES: reflections on economic growth in
Fair Trade market in cooperatives and farmers associations
El COMERCIO JUSTO EN BRASIL Y EN LOS PAÍSES EN DESARROLLO: reflexiones sobre el crecimiento
económico en el mercado de Comercio Justo en las cooperativas y asociaciones de agricultores
Andreza Aparecida Barbosa; Paulo Roberto Alves Pereira

- Estudo sobre o perfil da sociedade brasileira em relação à automedicação


Study on the profile of Brazilian society in relation to self-medication
Estudio sobre el perfil de la sociedad brasileña en relación a la automedicación
Regiane Souza Santos; Gisela Pizarro de Mattos Barretto; Yula de Lima Merola

- Secretariar o Alienado – uma proposta de análise acerca do sinthôme através dos personagens
Batman e Alfred
Secretary of the alienated - an analysis of proposal about the sinthome through the characters
Batman and Alfred
Secretario de los alienados - un análisis de la propuesta sobre el sinthome través de los
personajes de Batman y Alfred
Carolina de Siqueira Coutinho; Roberta Ecleide de Oliveira Gomes-Kelly
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título: Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de
trabalho: um desafio à gestão de pessoas nas organizações

Marcos José da Silva Rossi: Pós-Graduado pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso MBA
em Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: mjsr@oi.com.br
Anali Gonçalves de Carvalho: Pós-Graduada pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso
MBA em Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: analigoncalves@yahoo.com.br
Graziela Pomárico Braz: Pós-Graduada pela Faculdade Pitágoras, Campus Poços de Caldas, Curso MBA em
Gestão de Pessoas com Ênfase em Resultados. e-mail: grazipomarico@gmail.com
Adolfo Plínio Pereira: Mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida pelo Centro
Universitário das Faculdades Associadas de Ensino UNIFAE. Professor da Faculdade Pitágoras, Campus
Poços de Caldas. e-mail: adolfoplinio@terra.com.br
Patrícia Scotini Freitas: Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Fundamental da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Professora da Faculdade
Pitágoras, Poços de Caldas. e-mail: patricia.freitas@kroton.com.br
Renata Christian de Oliveira Pamplin: Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São
Carlos (UFSCAR). Professora da Faculdade Pitágoras, Poços de Caldas. e-mail:
renata.pamplin@yahoo.com.br

RESUMO ABSTRACT
Diante de fatalidades, imprudências, descuidos ou Faced with fatalities, recklessness, carelessness or
devido a disfunções genéticas, as pessoas com due to genetic disorders, people with disabilities,
deficiência, cada vez mais, buscam formas de
increasingly seek ways of inclusion in society.
inclusão na sociedade. No entanto, nem toda a
sociedade está disposta a auxiliar e compreender However, not every company is willing to assist and
este processo, o que faz com que as próprias understand this process, which makes the very
pessoas com deficiência se arrisquem e mostrem people with disabilities take a chance and show your
suas habilidades e competências. O objetivo deste skills and competencies. This work is motivated by
trabalho é motivar a compreensão por parte da the understanding of society, especially the
sociedade, principalmente da comunidade academic community of people who in the past
acadêmica, de que pessoas que, no passado, eram were seen as incapable and that bothered today
vistas como incapazes e que incomodavam, hoje se
have become true masters of their destiny, fighting
tornaram verdadeiros mestres de seus destinos,
lutando por seus direitos individuais e sociais. No for their individual and social rights. In Brazil,
Brasil, milhões de pessoas com deficiência buscam a millions of people with disabilities are seeking long
tão sonhada inclusão no mercado de trabalho. A lei awaited inclusion in the labor market. The law quota
de cotas tem sido a esperança de vários destes has been the hope of many of these Brazilians.
brasileiros. Dentre os diversos obstáculos Among the many obstacles faced in the inclusion
enfrentados no processo de inclusão, a rotulação de process, the lettering incapable and unskilled labor
incapazes e sem qualificação no mercado de market has been overcome and today the situation
trabalho tem sido superada e, atualmente, a
is changing, as many prove they are capable and
situação está se modificando, pois muitos provam
que são capazes e desempenham suas atribuições perform their duties with competence, with results
com competência, com resultados, por vezes, além sometimes beyond the expected. The process of
do esperado. O processo de inclusão de inclusion of disabled employees in the organization
colaboradores com deficiência na organização exige requires adaptations, not only physical, but also the
adaptações, não só físicas, mas também whole team behavior, beyond even greater
comportamentais de toda equipe, além do commitment of the leader, involving the whole team
empenho ainda maior do líder, envolvendo toda a of people management. Disability should not be
equipe de gestão de pessoas. A deficiência não deve
ser vista como obstáculo para contratação ou seen as an obstacle to hiring or firing of an
demissão de um funcionário, bem como os direitos employee, as well as the rights and duties should
e deveres devem ser igualmente aplicados como aos also be applied as for other employees.
demais colaboradores. Resta, ainda, a necessidade Furthermore, there remains the need to break some
do rompimento de alguns preconceitos e culturas prejudices and corporate cultures that permit the
empresariais que permitam a ampliação de expansion of skills and that people with disabilities
competências e que pessoas com deficiência can occupy more supervisors, managers and
possam ocupar mais cargos de chefias, gerências e directors positions within organizations. This
diretorias dentro das organizações. Esta missão,
certamente, cabe aos gestores de pessoas nas mission certainly fits the people managers in
organizações. organizations.
Palavras-chave: Inclusão; Deficiência; Trabalho. Keywords: Inclusion; Disability; Work.
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INTRODUÇÃO tornar uma pessoa paraplégica ou tetraplégica,


A partir de uma visão simplista, pode-se dizer podendo levá-la a perda de sua capacidade
que as pessoas com deficiência “incomodam”. motora, sensorial ou intelectual. Da mesma
Diante de uma pessoa com deficiência física ou forma, o diabetes, tumores no cérebro,
motora, sensorial ou intelectual as pessoas quadros de glaucoma ou surtos de parasitas
vivem sentimentos contraditórios: desde a podem levar pessoas à cegueira. Grande parte
repulsa até a compaixão. Tem sido assim ao das pessoas com deficiência não nasceu assim,
longo da história. Perante os diferentes, as sendo vítimas de imprudências, descuidos ou
pessoas com deficiência, os que apresentam fatalidades.
um problema de relacionamento social ou Cada vez mais, as pessoas com deficiência
comportamental, as sociedades sempre emergem como protagonistas de suas vidas e
viveram um misto de fascínio e rejeição. destinos, deixando de ser meros objetos de
Conforme o Texto Base da Campanha da ações de assistência individual e social. A luta
Fraternidade de 2006, o grau de civilização de pela inclusão familiar, escolar, eclesial, social e
um povo pode ser medido pela atenção que no mundo do trabalho e da cultura mobiliza
dedica aos mais fracos, aos mais frágeis, às hoje as pessoas com deficiência, seus
pessoas com deficiência (CONFERÊNCIA movimentos e organizações, as comunidades
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – CNBB, eclesiais, e deve transformar a sociedade,
2005). marcada por contravalores que ameaçam os
A busca da eliminação física das pessoas com princípios de humanidade (CNBB, 2005). De
deficiência existe desde os tempos mais acordo com Monteiro (2009, p. 104), “o bem
remotos e continua sendo praticada hoje, tanto comum gera um sentido de pertença, de valor e
em contextos tribais como em sociedades de sentido da existência e ao mesmo tempo
modernas. As ideias de purificação e responsabilidade e dependência mútua, não
aperfeiçoamento da espécie humana havendo espaço para superioridade de uns
encontram defensores desde a Grécia antiga, sobre os outros”.
passando pelo nazismo, até o seio de alguns A situação concreta das pessoas com
redutos da atual ciência genética. Para alguns, deficiência no Brasil é um universo
as pessoas com deficiência não deveriam ter praticamente desconhecido, difícil de mapear.
direito à vida (CNBB, 2005). No entanto, existe um imenso universo de
Segundo Oliveira (2003), a preocupação de experiências positivas a serem conhecidas,
estimular a proliferação dos melhores apoiadas e desenvolvidas no seio das famílias,
humanos, cercear, proibir ou não permitir a dos profissionais que lidam cotidianamente
sobrevivência de pessoas com deficiências com as mais diversas deficiências e das
físicas e/ou intelectuais, são atitudes tão organizações dedicadas às pessoas com
antigas quanto a humanidade e estão na deficiência. Reafirmando as conclusões da
origem de crimes como os praticados por CNBB (2005), na Campanha da Fraternidade de
nazistas contra judeus, eslavos, ciganos etc. 2006, refletir sobre essas situações concretas,
Apesar de proibidos no Brasil, os contribui para descobrir a pessoa humana na
procedimentos de detecção de anomalias deficiência, sem reduzir nem identificar
visando o aborto têm sido tristemente deficiente e deficiência. É um caminho de
assumidos por muitos casais, com ajuda de sabedoria para que cada um viva suas próprias
profissionais da área da saúde. deficiências.
Conforme relatos da CNBB (2005), mesmo que Assim, este trabalho propõe uma reflexão, por
todos nascessem “perfeitos”, as deficiências e
as pessoas com deficiência continuariam sendo
2 A incidência dessa doença no Brasil atinge entre
uma realidade social. Disfunções genéticas,
dois e três milhões de pessoas. O glaucoma, segunda
pré-natais, acidentes na concepção e no parto,
causa de cegueira no Brasil e no mundo, é gerado por
não são as únicas razões das deficiências. um problema na pressão ocular, geralmente acima
Acidentes de trânsito ou no trabalho, balas do limite. A demora no diagnóstico e a falta de
perdidas ou erros médicos, acidente de todos tratamento levam à perda gradual da visão, podendo
os tipos e tantas outras circunstâncias podem ocasionar cegueira (CNBB, 2005).
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parte da sociedade, de gestores e da Segundo Sassaki (2005), a noção de deficiência
comunidade acadêmica em geral, no sentido de ainda é confundida com a de incapacidade.
se buscar alternativas que permitam a inclusão Alguém pode ser considerado parcialmente ou
das pessoas com deficiência no mercado de totalmente incapaz de realizar uma atividade
trabalho de forma legal e justa, com base em em comparação ao que se considera parâmetro
princípios, como a igualdade e a valorização da normal de um ser humano. Alguém pode ser
diversidade. incapaz de ler e escrever porque tem apenas
dois anos de idade, porque nunca estudou ou
OBJETIVOS devido a uma profunda deficiência intelectual.
Apresentar, através de pesquisa bibliográfica, O meio ambiente e o contexto cultural e
elementos que fundamentem as ações dos socioeconômico podem incapacitar. Por,
gestores de pessoas dentro das organizações, exemplo, se não houver rampas de acesso em
no processo de inclusão de pessoas com um edifício, uma pessoa com deficiência
deficiência no mercado de trabalho, através da motora, em cadeira de rodas, não pode entrar.
conscientização dos envolvidos neste processo. Se não houver código braile nos botões de um
elevador, uma pessoa com deficiência visual
MÉTODOS não poderá subir sozinho a um determinado
A metodologia utilizada foi a pesquisa andar. A incapacidade é a perda ou limitação
bibliográfica, com abordagens feitas a partir de das oportunidades de participar da vida em
relatos de autores nacionais, documentos de igualdade de condições com os demais. Pessoas
entidades, análises de leis e normas com deficiências diferentes enfrentam
governamentais relacionadas ao tema. barreiras diferentes, cuja superação ou redução
exige soluções também diferenciadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como nomear as pessoas com deficiência?
O QUE É UMA DEFICIÊNCIA? QUEM É Diante dessa realidade complexa, as sociedades
DEFICIENTE? construíram termos e expressões para designar,
A palavra deficiência evoca ausência, anomalia caracterizar e diferenciar as pessoas com
ou insuficiência de um órgão, de uma função deficiência.
fisiológica, intelectual ou até social. Fala-se de A lista é enorme: paralítico, anormal,
uma deficiência respiratória, visual, auditiva ou mongolóide, aleijado, portador de
cardíaca, em referência ao funcionamento do necessidades especiais, coxo, manco, especial,
corpo humano. Fala-se de suprir as deficiências cego, inválido, surdo-mudo, imperfeito,
da educação básica ou do atendimento retardado, débil mental, excepcional, paralisia
hospitalar no Brasil, referindo-se a uma questão cerebral, etc. Esses termos foram incorporados
social. A noção de deficiência é complexa e está pelas culturas das diversas localidades, fazem
associada à idéia de perfeição, fraqueza, parte dos dicionários e até dos textos bíblicos.
carência, perda de qualidade e quantidade. O E s s a s p a l av ra s e ró t u l o s ex p re s s a m
termo vem do latim tardio deficientia e significa posicionamentos diante das realidades
falta, enfraquecimento, abandono. Seu humanas, em diversos contextos históricos e
emprego exige cuidado e reflexão. A palavra culturais, mais ou menos preconceituosos,
deficiência não é negativa em si mesma e podendo ser conceitos ou preconceitos,
designa uma realidade. Alguns confundem a retratando, por vezes, não somente um evento
deficiência com a pessoa. Quando a deficiência biológico ou acidental, mas todo um
é utilizada para classificar a pessoa, esse termo relacionamento afetivo e social com o outro, em
é discriminatório e injusto. A deficiência passa a sua diferença e alteridade. A palavra cego,
ser vista como mancha, defeito, mácula e até comum na Bíblia, pode ser vista como ofensa
como vício. Importa refletir sobre essa por quem prefere o termo deficiente visual,
realidade, saber distinguir e ver a pessoa na como também, a palavra surdo, para quem acha
deficiência e não a pessoa como um deficiente que o termo deficiente auditivo seria mais
(CNBB, 2005). adequado. A expressão deficiente mental não é
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bem recebida por quem prefere o termo 201.032.714 de habitantes.


especial, excepcional, deficiente intelectual ou Com suas famílias, as pessoas com deficiência
cognitivo (CNBB, 2005). representam diretamente 25% da população
Na maioria das vezes, o uso de determinados brasileira afetada por essas realidades, lutando
termos pode reforçar a segregação e a por seus direitos individuais e sociais. Mesmo
exclusão. Assim, o termo portador implica em assim, para muitos, é como se esse contingente
algo que se porta, que é possível se desprender de milhões de brasileiros não existisse. As
tão logo se queira ou chegue-se a um destino. pessoas com deficiência não podem ser
Remete, ainda, a algo temporário, como portar tratadas como uma curiosidade ou algo
um talão de cheques, um documento ou ser particular. As deficiências podem ser
portador de uma doença. A deficiência, ao prevenidas, em muitos casos, e evitadas com
contrário, é algo permanente, não cabendo, políticas públicas adequadas. Elas exigem e têm
portanto, o termo portadores. Além disso, sido objeto de políticas públicas de inclusão e
quando se rotula alguém como portador de valorização. Elas assumem cada vez mais seu
deficiência, a deficiência passa a ser a marca papel de protagonistas, num mundo marcado
principal da pessoa, em detrimento de sua por ideologias do corpo e da saúde perfeita,
condição humana (SILVA, 2009). pelos contravalores do consumismo e
Assim, percebe-se que a forma correta de competitividade exacerbada (CNBB, 2005).
nomeação seja pessoas com deficiência, que Ainda de acordo com a CNBB (2005), em todos
compreende todo o contexto de uma pessoa, os momentos da história da humanidade, as
em seu sentido mais amplo e humano, que pessoas com deficiência foram alvo de
possui uma deficiência que não deve ser comportamentos e reações distintas e
ignorada, mas que não se confunde com esta contraditórias de exclusão e integração,
em sua essência. conforme os diferentes contextos da
sociedade. Esses comportamentos foram
As pessoas com deficiência no mundo, na mudando de acordo com as transformações
América Latina e no Brasil sociais, as descobertas científicas e
De acordo com Lira (2005), dados do Banco tecnológicas e as mudanças culturais e
Mundial apontavam que na primeira década econômicas ocorridas. Resta, portanto, à
deste século, havia pelo menos 50 milhões de geração atual, marcar época, reestruturando o
pessoas com deficiência na América Latina e no acolhimento e a inclusão destas pessoas à
Caribe, o que representava, aproximadamente, sociedade como um todo.
10% da população regional. A deficiência era, e
ainda hoje é, uma das mais importantes causas PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O MERCADO DE
e consequências da pobreza. Cerca de 80% das TRABALHO
pessoas incapacitadas dessas regiões vivem na De acordo com Silva (1981), o primeiro registro
pobreza, o que na maioria dos casos também de reserva de vagas de emprego para pessoas
afeta os membros da família. com deficiência que se tem notícia na história
Segundo dados da Organização Mundial de do Brasil, teria sido no século XVIII. O indivíduo
Saúde (BRASIL, 2006), cerca de 10% da com deficiência via na atividade educacional a
população de qualquer país em tempo de paz é chance de se inserir no mercado de trabalho.
portadora de algum tipo de deficiência, das Eram os Padres Jesuítas que desenvolviam,
quais: 5% portadora de deficiência intelectual; precariamente, a instituição do ensino no país e
2% de deficiência física; 1,5% de deficiência com a expulsão da Companhia de Jesus do
auditiva; 0,5% de deficiência visual; e 1% de Brasil pelo Marquês de Pombal, o sistema de
deficiência múltipla. Partindo destes dados, ensino da colônia entrou em decadência.
pode-se concluir que no Brasil, há mais de 2 Foram abertas, então, inscrições para pessoas
milhões de pessoas com deficiência, pois que teriam a função de ensinar, em substituição
segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro aos jesuítas. Para se inscrever, o candidato
de Geografia e Estatística – IBGE (2013), a deveria ser licenciado para ensinar. Há registro
população brasileira atingiu a marca de de um requerimento de um candidato à
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licenciatura para mestre, no qual ele alega que § 1º A dispensa de trabalhador
a deficiência física é uma forte razão para que reabilitado ou de deficiente habilitado
lhe fosse concedida a licença, por não poder ao final de contrato por prazo
exercer outra profissão: determinado de mais de 90 (noventa)
dias, e a imotivada, no contrato por
O suplicante não pretende ordenado, prazo indeterminado, só poderá
só licença para ensinar os que ocorrer após a contratação de
quiserem ouvir suas lições; se tem substituto de condição semelhante.
capacidade para isso, como faz ver § 2º O Ministério do Trabalho e da
pelo atestado de pessoas interessadas Previdência Social deverá gerar
neste negócio, e pela amostra da sua e stat í st i ca s s o b re o to ta l d e
letra, confia merecer a licença pedida empregados e as vagas preenchidas
[...]. Se, porém, suas moléstias o por reabilitados e deficientes
impedirem do exercício a que se habilitados, fornecendo-as, quando
propõe, seus discípulos o largarão e o solicitadas, aos sindicatos ou
monopólio do ensino recairá entidades representativas dos
naturalmente nas mãos do mestre empregados.
hábil: lembrando que o aleijão do
suplicante é menos um impedimento
que um motivo para o exercício a que A lei de cotas, nestes anos de existência, tem
se propõe, no que será mais assíduo, sido importante instrumento de inserção de
por não poder lançar mão de outro: a pessoas com deficiência no mercado de
boa polícia tem mesmo sempre em trabalho, mas por si só não resolve todos os
vista esta apropriação para não problemas que essa temática demanda e, como
ficarem no ócio e miséria braços toda medida impositiva, gera polêmica, visto
imperfeitos, havendo empregos que seu cumprimento ainda não é uma
acomodados à sua capacidade. Pede, realidade para grande número de empresas.
portanto, licença para ensinar por ser Segundo dados do Ministério do Trabalho e
este o 'único emprego' que pode Emprego (ATHAYDE, 2012), entre os anos de
exercer (SILVA, 1981, p. 121-122). 2007 e 2009, houve 960.000 contratações
formais de pessoas com deficiência, sendo que
Mais recentemente, a Lei 8.213 (BRASIL, 1991), tais pessoas eram encaminhadas para ocupar
conhecida como a lei de cotas, dispõe, em um cargos de níveis operacionais, mesmo
único artigo, as cotas de vagas de empregos possuindo currículos que permitiam a
para pessoas com deficiência, em seu artigo 93: ocupação de cargos e posições melhores. A
A empresa com 100 (cem) ou mais empregados justificativa para isto é sempre a “falta de
está obrigada a preencher de 2% (dois por qualificação”. No entanto, a realidade mostra
cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos que existe certo “preconceito” oculto e a
com beneficiários reabilitados ou pessoas “discriminação” implícita nos processos de
portadoras de deficiência, habilitadas, na escolha e contratação, que dificultam e, quase
seguinte proporção: sempre, impedem a ascensão profissional de
pessoas com deficiência dentro das
I- Até 200 empregados . . . . . . . . 2%; organizações.
II- de 201 a 500 . . . . . . . . . . . . . . 3%; A inclusão de pessoas com deficiência no
III- de 501 a 1.000 . . . . . . . . . . . . 4%; mercado de trabalho é um desafio que pode ser
IV- de 1.001 em diante . . . . . . . . 5%. visto pelas empresas como uma dificuldade ou
como uma oportunidade. Estudos mostram
que promover a diversidade no ambiente de
trabalho traz benefícios para empregados e
empregadores. Pessoas diferentes, com visões
diferentes sobre os mesmos problemas,
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proporcionam uma visão holística, com maior que o colaborador seja incluído, deve-se levar
criatividade nas decisões, pois na em conta a importância da preparação da
heterogeneidade é que se verifica maior equipe, analisando-se cuidadosamente o posto
coesão e capacidade de inovação. Além disso, a que o colaborador deverá assumir, uma vez que
presença de pessoas com deficiência promove se deve atentar para vários aspectos referentes
a humanização do local de trabalho (DAMASIO, às tarefas que lhes serão atribuídas, sempre
2012, p. 44). observando a segurança e a acessibilidade que
o indivíduo necessita, resguardando suas
Portanto, cabe aos gestores das organizações condições físicas, psicológicas e patológicas.
este desafio, visto que a legislação, pura e A adequação do espaço físico para receber um
simplesmente, é insuficiente. colaborador com deficiência deve ser
estudada, sempre que possível, de acordo com
Desafios do processo de inclusão as necessidades da pessoa, criando facilidades
Para incluir pessoas com deficiência é para o desenvolvimento de suas funções. No
necessário que as empresas promovam entanto, com as normas técnicas disponíveis,
pequenas adaptações que estão, em grande em especial a NBR 9050 (ASSOCIAÇÃO
parte, muito mais relacionadas a questões BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT,
comportamentais do que propriamente físicas. 2004), é possível a estruturação ou
Primeiramente, a equipe que recebe uma reestruturação de espaços físicos de forma a
pessoa com deficiência deve ser treinada e atender todas as pessoas igualmente,
preparada para qualquer tipo de situação. É antecipando a acessibilidade sem
importante que os demais colaboradores discriminação ou segregação.
conheçam o tipo de deficiência da pessoa que A inclusão de um colaborador com deficiência é
estará recebendo para poder se relacionar um trabalho conjunto entre o setor de Recursos
melhor com ela em seu processo de adaptação. Humanos, que deve cuidar da admissão, e de
É muito comum, nas empresas, encontrar um médico da empresa, que deve conhecer o
pessoas despreparadas para lidar com as local e as condições de trabalho do local para
diferenças e, principalmente, com as onde o colaborador está sendo direcionado.
adaptações no ambiente de trabalho, quando Este trabalho pode evitar futuros transtornos à
recebem uma pessoa com deficiência. Nestes empresa e aos colaboradores (BRASIL, 2007).
casos, é preciso analisar a situação, apontar Segundo Rebelo (2008), caso a empresa conte
ações através de um diálogo aberto e franco e, com outros colaboradores que possuam algum
dependendo da gravidade, relocar tipo de deficiência, estes devem ser inseridos
colaboradores que não estiverem abertos à no processo de integração com os novatos, pois
adaptação com a nova situação. O líder, em possuem experiências com relação às barreiras
conjunto com a pessoa com deficiência, devem existentes e que podem ser rompidas
avaliar as adaptações e adequações antecipadamente.
necessárias, e os devidos ajustes, contando O processo de inclusão deve ser sempre
sempre com a ajuda de outros profissionais, a considerado pela empresa em seu contexto
fim de obterem sucesso nas modificações. O global, partindo do princípio que as pessoas
comportamento do líder é fundamental neste com deficiência, colaboradores ou clientes,
processo, pois terá um peso enorme sobre seus deverão ter acesso a todos os locais,
colaboradores, uma vez que será como espelho informações e demais necessidades comuns a
para os demais. Desta forma, as vantagens todos os cidadãos. Conforme relata Rebelo
surgirão tanto para as pessoas quanto para as (2008), também devem ser considerados os
organizações (REBELO, 2008, p. 58-59). riscos ocupacionais e as questões relacionadas
Muitas vezes, a decisão de contratar à segurança industrial, incluindo planos de
colaboradores com deficiência não parte da evacuação e de resgate, em caso de ocorrência
livre e espontânea vontade da empresa, mas de acidentes.
sim da necessidade de se cumprir as exigências A fragilidade física e mental de um colaborador
legais. Mas, independentemente da forma com com deficiência deve ser vista de uma maneira
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humana por parte dos companheiros de Internacional das Pessoas com Deficiência em
trabalho. Não se deve olhar a pessoa com 2004: “Nada sobre nós sem nós” (BRASIL, 2007,
piedade, mas colocar-se no lugar da pessoa e p. 30).
imaginar as dificuldades que ela passa no seu A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu
dia a dia. Isto pode fazer com que a relação de artigo 7º, XXXI, coíbe qualquer tipo de
ambos torne-se agradável e naturalmente discriminação no tocante aos salários e critérios
confortável para todos no ambiente de de admissão do trabalhador com deficiência.
trabalho. Assim, o processo de seleção de profissionais
com deficiência deve obedecer todas as etapas
O papel da gestão de pessoas na inclusão da previstas para um profissional convencional,
pessoa com deficiência no ambiente de porém cumprindo algumas exigências que
trabalho garantam legitimidade do processo.
A inclusão da pessoa com deficiência nas Desta forma, torna-se fundamental que os
empresas deve vislumbrar um aspecto requisitos exigidos para a contratação da
transformador, capaz de integrar este indivíduo p e s s o a co m d ef i c i ê n c i a p o s s u a m a s
em condições de trabalho acessíveis, especificações necessárias que caracterize a
equiparando-o a outros funcionários, porém vaga, de fato, para estes indivíduos,
respeitando suas particularidades. Para impossibilitando uma pessoa sem restrição de
operacionalizá-la, a empresa deve dispor de ocupar tal cargo e tão pouco fazendo distinção
uma gestão de pessoas que assuma seu papel de deficiência, pois o que deve ser buscado pela
relevante na organização, e cujas ações empresa é a pessoa e não a deficiência. As
permeiam e interferem em todas as etapas da pessoas com deficiência devem ser respeitadas,
vida funcional do trabalhador (REBELO, 2008). seja qual for a natureza e a severidade da sua
Para incluir a pessoa com deficiência e para que deficiência (BRASIL, 2007).
esta ação seja realizada com sucesso, é de Além disso, a empresa não deve exigir
fundamental importância que a empresa esteja experiência profissional destes candidatos. A
preparada para fazê-la através de um processo Cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego
cauteloso e planejado de Gestão de Pessoas, (BRASIL, 2007), que trata da inclusão da pessoa
sendo pautado nos preceitos descritos em Lei. com deficiência no mercado de trabalho,
O primeiro passo será estabelecer em quais justifica que antes de ser instituída a
atividades da empresa é possível receber os obrigatoriedade de contratação de pessoas
deficientes, quais tipos de deficiência são com deficiência, raras eram as empresas que as
compatíveis com os trabalhos realizados, as empregavam. Portanto, a elas não eram dadas
adaptações necessárias à admissão dos oportunidades para terem, em seu currículo,
deficientes, a disponibilidade de recursos experiência profissional.
financeiros para realizá-las e as pessoas que Neste caso, se houver a necessidade de
serão responsáveis pela gestão de mudanças conhecimentos prévios para a ocupação do
(REBELO, 2008, p. 61). cargo, a organização deve oferecer ensejos que
Para conduzir esta inclusão de forma íntegra, é propiciem o desenvolvimento das habilidades e
necessário que a organização possua uma competências para o desempenho da função.
equipe qualificada, capaz de selecionar, Em relação à escolaridade, a empresa deve
receber, treinar e integrar o novo funcionário também considerar o histórico excludente
de uma maneira que estimule sua segurança e destas pessoas, pois “à ela não foram dadas
seu bem estar no ambiente de trabalho. oportunidades iguais de acesso à escolarização,
Ocorrendo dificuldades neste processo, a tendo, muitas vezes, acesso ao conhecimento e
empresa pode procurar apoio e assessoria à certificação por meio do apoio da família ou
junto às entidades e escolas de pessoas com da comunidade local” (BRASIL, 2007, p. 27).
deficiência que detêm conhecimentos a Portanto, mesmo não apresentando a
respeito da matéria e podem se constituir em formação acadêmica desejada, a pessoa com
importantes parceiras desse processo. Nesse deficiência pode possuir os saberes
sentido, é proverbial o lema do Ano imprescindíveis para o desenvolvimento das
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funções, os quais poderão ser observados admissão do deficiente, mais de que em


através da realização de testes e similares. qualquer outro exame médico admissional ou
Ambas as atitudes obedecem aos preceitos exame médico de retorno ao trabalho, a
descritos na Recomendação nº 168 da avaliação é personalizada e específica, levando-
Organização Internacional do Trabalho (OIT), se em consideração a capacitação profissional,
que, em seu artigo 36, alínea “c”, assim dispõe: as exigências do trabalho, as normas de
Sempre que possível e apropriado, as segurança e a possibilidade de adaptação dos
organizações de empregadores deveriam processos, instalações e fluxos envolvidos na
tomar medidas para: [...] c) assessorar seus execução das tarefas, para minimizar ou
membros sobre os ajustes que poderiam mesmo neutralizar o impacto das limitações do
efetuar-se para os trabalhadores portadores deficiente e garantir sua integridade física e
de deficiência nas tarefas essenciais ou nas integração social (REBELO, 2008, p. 58).
exigências dos empregos apropriados (BRASIL, De posse destas informações, a empresa pode
2007, p. 28). adotar atitudes para viabilizar a inserção deste
Nas entrevistas, na aplicação de testes e colaborador na organização, considerando que,
durante todo processo de integração de muitas vezes a pessoa com deficiência, pela sua
funcionários com deficiência, a empresa deve limitação, não consegue desenvolver o
dispor de profissionais capacitados para conjunto das funções inseridas num mesmo
auxiliá-los, considerando a deficiência dos cargo, mas pode realizar grande parte delas. A
candidatos, que, no ato de inscrição da vaga, empresa, sempre que possível, deve verificar a
deve fazer menção de suas restrições. Os possibilidade de desmembrar as funções de
instrumentos utilizados devem estar em forma a adequar o cargo às peculiaridades dos
formato acessível para as diferentes candidatos (BRASIL, 2007).
deficiências, como, por exemplo, a presença de A integração do novo colaborador com
intérprete de sinais, quando o candidato for deficiência deve ser realizada desde suas
surdo, teste em braile para os cegos etc primeiras horas no ambiente organizacional,
(BRASIL, 2007). contemplando a apresentação da empresa,
Para a efetivação da contratação da pessoa acolhimento pelos colegas e a orientação sobre
com deficiência, a empresa deve seguir os suas futuras atividades, proporcionando-lhe
procedimentos e normas gerais descritos na estímulo e segurança para o exercício de sua
legislação trabalhista. Os salários e os função.
benefícios ofertados ao funcionário com Aos gestores compete, antes mesmo da fase de
deficiência serão iguais aos demais seleção dos candidatos, tornar esta ação
funcionários que ocupam a mesma função. Em participativa e sensibilizar todos os
alguns casos, pode haver flexibilidade de funcionários da organização, já que a
horário e redução de carga horária, com integração do grupo depende do envolvimento
pagamento salarial proporcional. de todos os níveis hierárquicos, sendo
Outro importante elemento no processo de indispensável a preparação dos supervisores e
contratação é o exame admissional, que colegas de trabalho, para que possam criar um
contribuirá significativamente para a ambiente organizacional propício ao
integração do colaborador com deficiência no acolhimento do colega com deficiência
ambiente de trabalho e fazer com que a (REBELO, 2008). De tal modo, devem-se criar
empresa conheça suas restrições e, a partir daí, estratégias para elucidar o assunto, a fim de que
encontre meios para anular os entraves que todos se sintam bem dispostos para receber e
possam ocorrer no seu desenvolvimento conviver com o novo colega:
profissional, em todos os aspectos, Cada colaborador da área deve estar
propiciando soluções que garantam o sensibilizado sobre as questões referentes à
desempenho de suas funções, de forma plena deficiência e à diversidade de forma geral. Uma
e eficaz: vez conscientizado, o ambiente se torna
Esta interação é particularmente importante, propício à comunicação aberta, sem qualquer
devido à constatação de que, no processo de tipo de receio e os pré-conceitos em torno das
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pessoas com deficiência são derrubados. Os procedimentos de capacitação e qualificação
trabalhos de sensibilização corporativa são destes profissionais.
f u n d a m e n ta i s p a ra a re t e n ç ã o d o s Segundo Ribeiro (2012), a contratação de
profissionais com deficiência na empresa, e pessoas com deficiência deve ser vista como
são peças chave desta empregabilidade qualquer outra contratação, visto que se espera
(FEBRABAN, 2006, p.13). do trabalhador, em quaisquer condições,
No momento da recepção, todo quadro profissionalismo, dedicação e assiduidade,
funcional deve estar movido, no sentido de enfim, valores esperados de qualquer
eliminar preconceitos, estereótipos e outras empregado.
atitudes que atentem contra o direito das Portanto, não existe concessão em Lei que
pessoas de serem iguais, permitindo, dessa estabeleça a estabilidade para estes indivíduos.
forma, o respeito e a convivência com as Caso não apresente os elementos e
pessoas com deficiência (BRASIL, 2007). competências esperadas de um bom
O gestor deve conduzir este processo com profissional, a empresa pode realizar o
receptividade e sabedoria, fazendo com que desligamento do funcionário. Demitir, seja qual
todos os colaboradores vejam na inclusão uma for o motivo, não é uma tarefa fácil. O
oportunidade de crescimento pessoal e importante é que a deficiência não seja a causa
profissional, pois a convivência salutar com desta demissão, que o funcionário saiba disso e
pessoas com deficiência pode ser um que receba as devidas explicações (FEBRABAN,
importante facilitador do relacionamento 2006).
interpessoal e um exemplo a ser seguido de O cargo deixado pela pessoa com deficiência
perseverança e superação de dificuldades deve, obrigatoriamente, ser preenchido por
(REBELO, 2008). outro cotista, nos termos do parágrafo 1º do
Demonstrar equidade de condições, também artigo 93 da Lei 8.213 (BRASIL, 1991).
poderá contribuir para minimizar as diferenças Assumir a responsabilidade pela inclusão e
neste processo, já que em uma empresa aplicá-la através da gestão de pessoas, faz com
inclusiva todos os funcionários trabalham que as organizações cumpram seu papel,
juntos e possuem igualdade de oportunidades oferecendo dignidade ao ser humano. A
(FEBRABAN, 2006). própria sociedade, hoje, cobra das empresas o
Uma das formas de acompanhamento do compromisso de assumirem seu papel social, o
trabalhador deficiente é através da avaliação que modifica a sua imagem junto à sociedade.
de desempenho. Esta deve ser realizada com
especial atenção, considerando suas CONSIDERAÇÕES FINAIS
limitações e suas peculiaridades, ponderando, As reflexões deste estudo remetem à
se seu acesso aos instrumentos e regras da necessidade e aos desafios da
instituição lhe foi proporcionado de forma gestão de pessoas em incluir a pessoa com
compreensível. Se os critérios utilizados forem deficiência no mercado de
usados como padrões de avaliação, não trabalho de forma íntegra, legítima e
estariam sendo respeitadas as peculiaridades responsável.
das pessoas com deficiência (BRASIL, 2007). Em contraponto à visão simplista, de que as
O responsável pela aplicação da avaliação pessoas com deficiência incomodam, pode-se
necessita de aptidão para reconhecer as concluir que, além de não incomodarem, elas
necessidades e potencialidades do indivíduo. ensinam e são efetivamente construtoras da
Para tanto, é de fundamental importância que sociedade, através de seu trabalho,
as chefias sejam treinadas para efetivar sua experiências e conquistas.
aplicação de maneira integra, dinâmica e A legislação, apesar de impor à sociedade o
eficaz, permitindo ao avaliado a exposição de processo de inclusão, permitiu a todos a
suas expectativas e críticas sobre a convivência e o conhecimento de que
organização. Este deve ser um procedimento paradigmas podem ser rompidos e conquistas
norteador para auxiliar no processo de podem ser obtidas através da determinação e
inclusão social e visar a construção de da ajuda mútua, em um processo de troca de
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experiências e de vidas entre pessoas com e BRASIL. Constituição Federal de 1988 da


sem deficiências visíveis, uma vez que todos os República Federativa do Brasil. Brasília:
seres humanos, de certa forma, têm algum tipo Senado Federal, Centro Gráfico. 1988.
de deficiência em relação aos demais e que, às BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991.
vezes, umas são mais aparentes do que as Dispõe sobre os Planos de Benefícios da
outras. Previdência Social e dá outras providências.
No entanto, ainda são poucas as organizações 1991. Diário Oficial da União. Disponível em:
que aderem a esta prática de maneira eficaz, <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l82
devido a dificuldades e falta de conhecimento 13cons.htm>. Acesso em: 27 jan. 2014.
na implantação e gerenciamento de estratégias BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
que garantam a contratação e permanência da Atenção à Saúde. Departamento de Ações
pessoa com deficiência em seus quadros. Programáticas Estratégicas. Manual de
Muitas destas contratações são meramente em legislação em saúde da pessoa com deficiência.
cumprimento aos preceitos legais, sem garantir – 2ª. ed. rev. atual. Brasília: Editora do
nenhuma perspectiva ao funcionário com Ministério da Saúde. 2006.
deficiência, o que acaba refletindo diretamente BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego –
no resultado deste procedimento. Secretaria de Inspeção do Trabalho. A inclusão
Diante deste processo, o papel primordial da de pessoas com deficiência no mercado de
gestão de pessoas é conscientizar a todos os trabalho. 2ª. ed. MTE-SIT, Brasília. 2007.
envolvidos no processo quanto aos benefícios CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
da inclusão para a organização. Além da BRASIL - CNBB. Campanha da Fraternidade
imagem positiva da empresa, são inestimáveis 2006: Texto Base / CNBB. São Paulo: Ed.
os benefícios no ambiente de trabalho, já que a Salesiana. 2005.
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< h t t p : / / w w w. a m b i t o j u r i d i c o . c o m . b r /
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índice de massa corporal após treinamento físico em indivíduos
portadores de diabetes mellitus Tipo 2
título: Análise das respostas glicêmicas, lipídeos plasmáticos e

Juliana Vallim Jorgetto


Mestre em Ciências Médicas/Endocrinologia Clínica-UNIFESP e Docente da Faculdade
Pitágoras Campus Poços de Caldas/MG. email:juliana.jorgetto@pitagoras.com.br

Giovanna Vallim Jorgetto


Mestre em Ciências da Saúde e Docente da Faculdade Pitágoras Campus Poços de Caldas.
email:giovanna.jorgetto@pitagoras.com.br

Daniele Albano Pinheiro


Doutora em Ciências Fisiológicas e Docente do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino de São João da Boa Vista-UNIFAE. email:danalpi@uol.com.br

RESUMO ABSTRACT
A prática regular de atividade física tem Regular physical activity has been
sido recomendada para a prevenção e recommended for the prevention and
reabilitação de doenças cardiovasculares
rehabilitation of cardiovascular diseases by
por diferentes associações de saúde no
different health associations in the world.
mundo. Analisar o efeito do exercício físico
regular de 36 semanas no controle To analyze the effect of regular exercise for
glicêmico, lipídeos plasmáticos e Índice de 36 weeks in glycemic control, plasma lipids
Massa Corporal em indivíduos diabéticos and body mass index in type 2 diabetic
tipo 2 de uma Unidade de Saúde de um subjects of a Health Unit in a city of São
município do interior paulista. As variáveis Paulo. The variables studied were fasting
estudadas foram glicemia plasmática de plasma glucose, total cholesterol and
jejum, colesterol total e frações, e Índice de
fractions, and body mass index (n = 25) and
Massa Corporal (n= 25) e a medição
anthropometric measurement of height
antropométrica por peso e altura. Utilizou-
se o teste T-pareado, e os resultados foram and weight. We used the paired t-test, and
expressos em média e desvio padrão. the results were expressed as mean and
Houve redução estatisticamente standard deviation. There was a statistically
significante (p‹0,05) nas médias das significant reduction (p <0.05) in the
variáveis estudadas após o programa de variables studied after physical training
treinamento físico. Estes resultados program. These results suggest that
permitem concluir que o exercício físico é
physical exercise is very important in
de grande importância no controle
metabolic control, lipids and body mass
metabólico, lipídeos e índice de massa
corporal nos diabéticos, diminuindo assim index in diabetics, thus decreasing these
esses parâmetros. parameters.
Palavras-Chave: Exercício físico, Índice Keywords: Physical exercise, glycemic
glicêmico, Lipídeo plasmático, IMC, index, Plasma Lipid, BMI, diabetes
Diabetes Mellitus. mellitus.
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INTRODUÇÃO de diabetes mellitus tipo 2 como também para
Atualmente, o diabetes mellitus é considerado a prevenção secundária de suas complicações
como uma das principais doenças crônicas que metabólicas.
afetam o homem. É um problema de saúde Os efeitos da prática da atividade física regular
universal, acometendo todas as classes para a saúde têm sido amplamente
socioeconômicas e afetando populações de documentados (JORGETTO, PINHEIRO, 2011).
países em todos os estágios de Há evidências de que os resultados inicialmente
desenvolvimento, pois é uma doença crônica obtidos num programa de atividade física só
que afeta milhões de pessoas e suas serão mantidos se os indivíduos continuarem
complicações têm cada vez mais efeitos na praticando exercício apropriado em longo
qualidade de vida e mortalidade (DANIELE et al., prazo (SNEL et al., 2012; RENNIE et al., 2003).
2013). O objetivo do presente estudo foi analisar o
Por se tratar de uma síndrome decorrente da efeito do exercício físico regular de 36 semanas
falta ou produção diminuída de insulina e/ou da no controle glicêmico, lipídeos plasmáticos e
incapacidade desta em exercer IMC em indivíduos diabéticos tipo 2 de uma
adequadamente seus efeitos metabólicos, o Unidade de Saúde de um município do interior
DM caracteriza-se pelo aumento da glicose no paulista.
sangue (hiperglicemia) e pela perda de glicose
na urina (glicosúria), associada ou não a outras MATERIAIS E MÉTODOS
substâncias, ocasionando modificações no Trata-se de uma pesquisa do tipo quase
metabolismo dos carboidratos, lipídeos e experimental, retrospectiva e comparativa, do
proteínas. Essas alterações metabólicas podem tipo antes e depois, na qual foram analisados
apresentar-se de forma aguda ou crônica, dados obtidos dos prontuários de uma amostra
comprometendo várias funções do organismo de diabéticos (n=25), atendida em uma
(GARCIA, SANZ, SANZ, 2013). Unidade de Saúde de um munícipio do interior
O número de pessoas com diabetes tipo 2 paulista.
(DM2) passará de 135 milhões em 1995 para Os indivíduos foram convidados a participar do
300 milhões em o ano de 2025. Assim, as estudo, por ocasião de sua consulta agendada.
medidas de prevenção da diabetes e síndrome Quando preenchiam os critérios de inclusão
metabólica são vitais para reduzir o custo (DM tipo 2, idade entre 45 a 75 anos, estar
crescente desta doença altamente endêmica. participando do programa HIPERDIA (programa
Muitas complicações associadas com diabetes, desenvolvido pelo Ministério da Saúde voltado
tais como a hipertensão, acidente vascular para pacientes diabéticos e hipertensos), idade
cerebral, saúde mental deficiente, fraqueza diagnóstico maior que 5 anos e apresentar ou
muscular, depressão, e sonolência diurna não patologia associada) e aceitaram participar
também têm sido associadas à vida sedentária do estudo, assinaram um termo de
(MURANO et al., 2014). Além disso, tem sido consentimento. Os critérios de exclusão foram:
amplamente demonstrado que as intervenções faltar ao programa de exercícios físicos, e os
no estilo de vida, que incluem atividade física indivíduos que tiveram seus tratamentos
regular e hábitos alimentares saudáveis ?são medicamentosos modificados durante o
b e n éf i ca s p a ra p a c i e nte s d i a b ét i co s programa de exercícios (antidiabéticos orais
(GUCCIARDI, CHAN, MANUEL, SIDAMI, 2013). e/ou insulina).
O controle metabólico de indivíduos com a A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
doença em evolução consiste em um dos em Pesquisa da FAE- Faculdades Associadas de
maiores desafios dos serviços de saúde pública Ensino de São João da Boa Vista, e os
americanos e do Brasil (CRAWFORD et al., participantes que aceitaram participar da
2010). Por isso, o desenvolvimento de pesquisa assinaram o Termo de Consentimento
programas eficazes e viáveis aos serviços Livre e Esclarecido.
públicos de saúde para a prevenção primária de Utilizou-se um modelo experimental de pré-
diabetes mellitus tipo 2 em população de risco é teste e pós-teste aplicado ao grupo, sem fazer
necessário tanto para o controle de incidência uso de grupo controle. Foram analisadas as
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página 14 Saúde e Humanidades

variáveis glicemia plasmática de jejum, lipídeos a aplicação do teste estatístico T-pareado,


plasmáticos: colesterol total, colesterol de alta sendo considerado significante os resultados
densidade (HDL), colesterol de baixa densidade com variação de 95% entre o grupo pré e pós-
(LDL) e índice de massa corporal (IMC) pré e treinamento físico (p<0,05), compatível com
pós-treinamento. Essas variáveis foram valores da área da saúde e apresentados sob a
coletadas apenas no primeiro e último dia de forma de gráficos.
treinamento físico do grupo e descritas em seus
prontuários médico e de atividade física, antes RESULTADOS
e após as 36 semanas no período de julho/2002 Foram analisados prontuários de 25 sujeitos
a abril/2003 pela mesma equipe que apresentavam idade diagnóstica entre 5 a
multidisciplinar. 15 anos de doença, tratados com antidiabéticos
A coleta de sangue em jejum foi realizada na o ra i s e /o u i n s u l i n a , d i eta e o u t ro s
Unidade Básica de Saúde pelos profissionais da medicamentos para patologias associadas.
área de enfermagem, visando à glicemia Todos os participantes também eram
plasmática de jejum e os lipídeos plasmáticos. hipertensos, e deste apenas um havia sofrido
Em contrapartida, a avaliação antropométrica um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e outro
(peso e altura) foi realizada no Centro apresentava coronariopatia.
Comunitário Luis de Freitas, onde estes A glicemia de jejum dos sujeitos da amostra
pacientes faziam seus exercícios físicos por encontra-se representada no gráfico 1. Os
profissionais da educação física e fisioterapia e resultados indicam diminuição significativa
também a coleta de dados referentes a (p=0,0018) entre os grupos pré (146,93 ±52,21
fármacos, tipo de diabetes, tempo de mg/dl) e pós-teste (121,16±63,57 mg/dl) após
diagnóstico, idade e sexo anotados em um programa de exercício físico regular.
prontuários específicos para treinamento físico
desses sujeitos.
Os dados citados anteriormente não foram
coletados para posterior análise, e sim, para a
seleção e descrição da amostra.
Tanto a coleta de sangue como os exercícios
físicos aplicados já faziam parte da rotina no
local do estudo.
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado O gráfico 2 apresenta as médias pré-teste
mediante divisão do peso (kg) pela altura (m) (215,96±78,62 mg /dl) e pós-teste
ao quadrado. Os participantes foram (195,05±103,29 mg /dl) dos lipídeos
categorizados segundo os valores de IMC entre plasmáticos, e verifica-se que os indivíduos
18 e 24,9 kg/m2, 25 e 29,9 kg/m2 para e st u d a d o s a p re s e n ta ra m d i m i n u i ç ã o
sobrepeso e > 30 kg/m2 para obesidade estatisticamente significante (p=0,0010) nessas
(TOBIAS et al., 2014). variáveis.
Foi realizado um programa de exercícios físicos
de 36 semanas, sendo três sessões por semana
com 50 minutos de duração. Cada sessão
estava assim dividida: 5 minutos de
aquecimento com exercícios de alongamento
de Membros Superiores (MMSS) e Membros
Inferiores (MMII) e circundução de membros e
tronco; 35 minutos de caminhada e/ou
hidroginástica e 10 minutos de resfriamento
com exercícios de alongamento e técnicas de O gráfico 3 mostra o efeito do programa de
respiração e relaxamento. treinamento físico no IMC com diminuição nos
Os resultados foram analisados realizando-se a valores da média do grupo (p=0,0036). A
média e desvio padrão das variáveis, bem como média e desvio padrão pré-teste foram
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Saúde e Humanidades página 15
30,65±15,79 Kg/cm e no pós-teste foram de se que o exercício físico ativa o transportador
28,29±11,16 Kg/cm). de glicose (GLUT-4) mesmo com alteração na
produção e liberação de insulina (BROWN et al.,
2014).
Os resultados desse estudo mostraram um
papel benéfico da aplicação de um programa de
36 semanas de treinamento físico para
melhorar o perfil lipídeo dos voluntários.
Alguns estudos (MAHDIREJEI et al., 2013;
ZHANG et al., 2013; HERBST et al., 2014)
demonstraram que a resposta ao exercício
físico melhora os níveis de C-TOTAL, HDL-C E
DISCUSSÃO
A associação entre inatividade física e LDL-C, destacando o importante papel do
resistência à insulina foi sugerida pela primeira treinamento físico no aumento do HDL
vez em 1945, e desde então surgiram novos colesterol. Os achados desse estudo são
estudos epidemiológicos demonstrando essa concordantes com os benefícios de um
relação com a presença de fatores de risco programa de exercícios de três meses, que
cardiovascular como hipertensão arterial, reduziu o LDL e elevou o HDL em 10%, quando
entre outros (LAKKA et al., 2003). Por outro comparado aos níveis basais, dentro da
lado, a prática de atividade física tem sido primeira semana de treinamento físico
considerada uma importante ferramenta na (GUSTAT et al., 2002).
prevenção e tratamento de indivíduos com Segundo Van Dyck et al. (2014), o IMC é
diabetes principalmente do tipo 2, onde considerado medida antropométrica pela
programas de exercícios físicos têm mostrado relação entre massa e altura do indivíduo,
eficácia no controle glicêmico, melhorando a sendo considerada uma variável
sensibilidade `a insulina e tolerância à glicose, importantíssima devido os fatores de risco
diminuindo a glicemia sanguínea, os valores de cardiovascular (CASTANEDA, 2001).
lipídeos plasmáticos e consequentemente o Para Huang, Zhang, Gandra, Chin, Meltzer,
IMC desses indivíduos, como mostrou Lazarevic 2008, levando em consideração a tendência de
et al., 2006, em seu estudo. aumento da prevalência do diabetes, é de se
Conforme recomendação da OMS sobre prever que a prática regular de atividade física
prevenção de doenças crônicas, a seja recomendada para a prevenção e
implementação de programas de mudança de reabilitação de doenças cardiovasculares por
estilo de vida em indivíduos portadores de diferentes associações de saúde no mundo,
fatores de risco deve ser associada a alterações sendo também considerada uma importante
ambientais que favoreçam as escolhas ferramenta na prevenção e tratamento de
individuais na adoção e manutenção do estilo indivíduos com diabetes principalmente do
de vida saudável. tipo 2, tratados ou não com insulina.
Como pode-se observar nesse estudo, a Um programa de exercício físico regular de 36
glicemia de jejum após as 36 semanas de semanas, demonstrou eficácia no controle
treinamento físico diminuiu comparada com glicêmico, além dos níveis de lipídeos
valores do pré-treinamento, indo de encontro plasmáticos e IMC dos indivíduos pesquisados,
aos resultados de COSTA et al., 2003. embora essa eficácia seja apenas sugestiva,
Esses resultados concordam com resultados da pois neste estudo não tivemos um grupo
literatura (KAIZU et al., 2014; LINDEN et al., controle.
2014; ROBERTS, LITTLE, THYFAULT, 2013) já que Programas de intervenção de estilo de vida para
com o treinamento físico há maior mobilização DM2 tem sido previamente verificada em
e liberação de glicose (glicogenólise), mas muitos estudos controlados, pois o exercício
também, ocorre maior utilização desse físico apresenta efeitos moduladores sobre o
substrato para a produção de energia e controle glicêmico do que apenas terapias
manutenção da atividade física. Também, sabe- medicamentosas isoladas, assim como no
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página 16 Saúde e Humanidades

estudo de Penn et al., 2009. a aptidão física, os sintomas da doença e


Arora, Shenoy, Sandhu, 2009 e Winnick et al., qualidade de vida em DM2 são fortemente
2008, descrevem que o treinamento de observados nos estudos de Praet et al., 2008 e
resistência isolado ou acompanhado de Atkinson, Davenne, 2007, levando em
exercício aeróbio pode melhorar tanto o ajuste consideração que as mudanças
glicêmico como os valores de lipídeos e comportamentais são necessárias para atingir
consequentemente o IMC. os objetivos do treinamento físico sobre a
O excesso de adiposidade é um fator de risco redução da obesidade, resistência à insulina e
bem estabelecido para a morte prematura na complicações cardiovasculares.
população em geral, incluindo a morte devido à
d o e n ç a c a r d i o v a s c u l a r. E v i d ê n c i a s CONCLUSÕES
epidemiológicas provenientes de estudos Conclui-se que a prática regular de atividade
prospectivos sugerem um efeito protetor para física é recomendada para pacientes
o diabetes mellitus tipo 2 por intermédio da diabéticos, pois nesta amostra, promoveu
adoção de um estilo de vida saudável. O Nurses controle glicêmico, diminuindo a glicemia
Health Study, conduzido com 84.941 mulheres sanguínea desses indivíduos, ajudou a diminuir
americanas, observou que a ausência de os valores de lipídeos plasmáticos e de IMC. Por
tabagismo, prática de trinta minutos de isso, a manutenção de uma vida saudável e
atividades físicas diária, manutenção de peso e peso corporal devem continuar a ser a pedra
padrão alimentar habitual rico em fibras e angular no controle do diabetes.
ácidos graxos polinsaturados, pobre em
gorduras saturadas e ácidos graxos trans com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
baixo índice glicêmico reduziu em 91,0% o risco ARORA, E.; SHENOY, S.; SANDHU, J. S. Efeitos do
de desenvolver o diabetes mellitus tipo 2 após treinamento resistido sobre o perfil
16 anos de seguimento, segundo Tobias et al., metabólico de adultos com diabetes tipo 2.
2014. Indian Journal Medicine Residence, v.129,
Observou-se que após o treinamento físico p.515-9. 2009.
aeróbio o IMC dos voluntários diminui, ou seja, ATKINSON, G.; DAVENNE, D. Relação entre
houve redução de peso, o que significa que a sono, atividade física e saúde humana.
atividade física é o efeito mais variável do gasto Physiology Behavior, v.90, p.229-35. 2007.
energético diário, pelo que a maioria das BROWN, R .E. et al. All-cause and
pessoas conseguem gerar taxas metabólicas cardiovascular mortality risk in U.S. adults
que são 10 vezes maiores que seus valores em with and without type 2 diabetes: Influence of
repouso durante exercícios com participação physical activity, pharmacological treatment
de grandes grupos musculares, como and glycemic control. Journal of Diabetes and
caminhada, corridas e hidroginástica, segundo Its Complications, p. 311–315. 2014.
Pollock (2001). CASTANEDA, C. et al. A randomized controlled
Monfort-Pires et al. (2014) evidenciaram que o trial of resistance exercise training to improve
treinamento físico composto por exercícios glycemic control in older adults with type 2
físicos aeróbios diminui a quantidade de diabetes. Diabetes Care, v.25, p.2335-41. 2002.
gordura corporal em indivíduos idosos, e isso COSTA, A. C. F.; ROSSI, A.; GARCCIA, N. B.;
pode mediar alguns efeitos metabólicos do MOREIRA, A. C.; FOSS, M. C. Análise dos
exercício físico aeróbio, principalmente pelo critérios diagnósticos dos distúrbios do
excesso da gordura abdominal estar associada metabolismo de glicose e variáveis associados
com a resistência à insulina e hiperinsulinemia. à resistência insulínica. Jornal Brasileiro de
Nossos dados estão de acordo com outros Patologia Médica e Laboratorial; v.39, n.2,
estudos de Yavari et al. (2014); Molsted, p.125-30. 2003.
Johnsen, Snorgaard (2014); Hankonen et al. CRAWFORD, A. G. et al. A prevalência de
(2014), que também observaram a diminuição obesidade, diabetes mellitus tipo II,
do IMC após um programa de treinamento dislipidemia e hipertensão nos Estados
físico aeróbio. Unidos: resultados do banco de dados GE
No geral, os efeitos benéficos do exercício sobre Centricity eletrônico Medical Record.
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Saúde e Humanidades página 19
hospitalar no controle da resistência microbiana
título: Importância da comissão de controle de infecção

Taís Cristina Lima


Bárbara Carvalho Santos
Discentes do Curso de Especialização em Prevenção e Controle de Infecção em Serviços
de Saúde da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) campus Poços de
Caldas/MG.
email: tais.ziza.lima@bol.com.br; babi_scarvalho@yahoo.com.br

Giovanna Vallim Jorgetto


Mestre em Ciências da Saúde. Orientadora, Professora convidada do Curso de
Especialização em Prevenção e Controle de Infecção em Serviços de Saúde da
Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) campus Poços de Caldas/MG.
Coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas.
email: giovanna.jorgetto@pitagoras.com.br

RESUMO ABSTRACT
A Comissão de Controle de Infecção The Hospital Infection Control Committee's
Hospitalar tem como finalidade principal main purpose is to control and prevent
controlar e prevenir infecção hospitalar e, hospital infection and one of its measures is
uma de suas medidas é racionar o uso to ration the indiscriminate use of
indiscriminado de antimicrobianos. O antibiotics. This study aimed to search and
presente estudo teve como objetivo buscar evaluate evidence available in the national
e avaliar as evidências disponíveis na literature about the importance of Hospital
literatura nacional acerca da importância Infection Control Commission in controlling
da Comissão de Controle de Infecção microbial resistance. This study adopted as
Hospitalar no controle da resistência methodological way, the literature review,
microbiana. Neste estudo foi adotada, in the period 2002-2012 and for the
como forma metodológica, a revisão de selection of items, used - if the data base
literatura, no período compreendido entre LILACS LIS and MEDCARIB. The sample
2002 a 2012 e para a seleção dos artigos, consisted of 14 articles on the topic. Among
utilizou – se a base de dado LILACS, LIS e the theme of gaps investigated, there is the
MEDCARIB. A amostra constitui-se de 14 need for a radical change in the behavior
artigos sobre o tema. Dentre as lacunas do and attitude of health professionals outside
tema investigado, destaca-se a necessidade the control of bacterial resistance within
de uma mudança radical no the context of hospital infection.
comportamento e atitude dos profissionais Keywords: Infection; Bacterial Drug
de saúde frente ao controle da resistência Resistance; CCIH.
bacteriana dentro do contexto da infecção
hospitalar.
Palavras-Chave: Infecção Hospitalar;
Farmacorresistência bacteriana; CCIH.
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INTRODUÇÃO assistência hospitalar, de alguma maneira,


De acordo com Brasil (1996) a Portaria nº estão permanentemente participando do
2.616, de 12 de maio de 1998, do Ministério trabalho em serviço, do trabalho em saúde
da Saúde (MS), Infecção Hospitalar (IH) é como um todo e também são responsáveis
aquela adquirida após a admissão do pela estrutura, processo e resultados dos
paciente e que se manifeste durante a Programas de Prevenção e Controle de
internação ou após a alta, quando puder ser Infecção Hospitalar.
relacionada com a internação ou Segundo Azambuja, Pires e Vaz (2004) as
procedimentos hospitalares. infecções hospitalares são decorrentes
Oliveira e Maruyama (2008) afirmam que a tanto das condições intrínsecas do
Portaria mencionada acima determina a paciente/cliente quanto de
obrigatoriedade da existência de um ações/procedimentos realizados pela
Programa de Controle de Infecção equipe multiprofissional e têm sido tema
Hospitalar (PCIH) em todos os hospitais do de muitas discussões e reflexões entre os
país, trata da organização e competências profissionais de saúde.
da Comissão de Controle de Infecção Carneiro et al. (2011) ressaltam que as
Hospitalar – CCIH; estabelece os conceitos e infecções adquiridas em ambiente
critérios diagnósticos das Infecções hospitalar são causadas por
Hospitalares, dá orientações sobre a microrganismos que provavelmente não
vigilância epidemiológica das infecções causariam infecções em indivíduos sadios,
hospitalares e seus indicadores; faz mas tornam-se causa freqüente de doenças
recomendações sobre a higiene das mãos e em pessoas hospitalizadas, cujas defesas
enfatiza a observância de publicações orgânicas encontram-se diminuídas.
anteriores do Ministério da Saúde quanto A IH representa um dos principais
ao uso de germicidas, microbiologia, problemas da qualidade da assistência à
lavanderia e farmácia. saúde, devido a sua grande incidência,
A Comissão de Controle de Infecção letalidade significativa, aumento no tempo
Hospitalar (CCIH) deve possuir ainda de internação e no consumo de
membros de dois tipos: consultores e medicamentos (GONÇALVES; KREUTZ; LINS,
executores, um dos membros executores 2004).
da CCIH deve ser preferencialmente um Segundo Moura et al. (2007) a problemática
enfermeiro (BRASIL, 1996). da IH no Brasil cresce a cada dia,
Pereira et al. (2005) afirmam que na década considerando que o custo do tratamento
de 70 houve uma verdadeira reformulação dos clientes com IH é três vezes maior que o
das atividades de controle de infecção, os custo dos clientes sem infecção. Mesmo
hospitais americanos criaram núcleos para com a legislação vigente no país, os índices
o controle de infecção e aprofundaram os de IH permanecem altos, 15,5%, o que
estudos sobre o tema; no Brasil surgiram as corresponde a 1,18 episódios de infecção
primeiras Comissões de Controle de por cliente internado com IH nos hospitais
Infecção Hospitalar (CCIH). Na década de 80 brasileiros.
começou a ocorrer uma conscientização Segundo Pereira et al. (2005) a maior parte
dos profissionais de saúde a respeito do das IH manifesta-se como complicações de
tema com a instituição da CCIH em vários pacientes gravemente enfermos, em
estados do país. consequência da hospitalização e da
Para Moura et al. (2007) todos os execução de procedimentos invasivos ou
p ro f i s s i o n a i s d a s a ú d e e d e m a i s imunossupressores a que o doente, correta
profissionais inseridos na estrutura da ou incorretamente, foi submetido.
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21
Os riscos de IH estão presentes no antimicrobianos. Já no segundo caso
ambiente hospitalar, e para se alcançar um entende-se que, quando há resistência aos
controle de infecções efetivo, há antimicrobianos de gerações mais
necessidade da construção de modernas, costuma-se observar in vivo a
conhecimentos específicos aos resistência aos antimicrobianos de
profissionais da área da saúde (CARDOSO; gerações mais antigas.
SILVA, 2004). Devido ao uso irracional de
Gonçalves, Kreutz e Lins (2004) ressaltam antimicrobianos e a administração
que a ocorrência de IH depende da empírica, vários problemas de resistência
existência de uma fonte de infecção, das microbiana surgiram como um novo
formas de transmissão do agente desafio para a terapêutica, causando
etiológico e da susceptibilidade do cliente, elevados índices de mortalidade (QUEIROZ,
podendo se tornar um “ciclo” que deve ser 2012).
interrompido. Daí a importância da Para Fontana e Lautert (2006) com a
existência e da atuação de uma comissão evolução da tecnologia, antimicrobianos
de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). foram sendo aperfeiçoados, por outro lado,
A CCIH faz parte do Programa de Controle a invasão dos microrganismos
de Infecção Hospitalar (PCIH) e é um órgão multirresistentes e a luta contra esta
de assessoria à autoridade máxima da resistência fragilizam o ambiente do
instituição e de execução das ações de cuidado humano e desafiam as ações dos
controle de infecção hospitalar, dentre trabalhadores da saúde no que se refere à
suas competências consta controle do uso prevenção das infecções hospitalares.
racional de antimicrobianos. Sem dúvida que, a associação dos
Para Carneiro et al. (2011) e Andrade; microrganismos multirresistentes à
Leopoldo; Haas (2006), os antimicrobianos infecção hospitalar agravou a situação
são fármacos com a propriedade de gerando expectativas sombrias para o
suprimir o crescimento dos patógenos ou futuro, se medidas urgentes não forem
destruí-los e cuja utilização na prática tomadas (ANDRADE; LEOPOLDO; HAAS,
clínica modificou o curso natural, além de 2006).
melhorar o prognóstico das doenças Para Queiroz et al. (2012) o uso meticuloso
infecciosas. Eles podem ser utilizados de dos antimicrobianos em ambientes clínicos
forma profilática e terapêutica, porém, seu adequados e praticas cuidadosas de
emprego crescente e indiscriminado é o controle de infecções permanecem sendo a
principal fator relacionado com a melhor defesa contra a emergência e a
emergência de cepas bacterianas disseminação da resistência microbiana.
resistentes. Frente ao exposto foi verificado que a
Resistência bacteriana é definida como resistência microbiana é um problema
capacidade do germe de crescer in vitro em grave e importante, torna-se necessário
presença da concentração inibitória dessa enfatizar o papel do serviço de infecção
droga quando na corrente sanguínea hospitalar no controle da propagação das
(QUEIROZ et al., 2012). cepas microbianas multirresistentes.
Segundo Pinhati, Moura e Damasceno
(2010) a aquisição de resistência pelos OBJETIVOS
microrganismos costumam ser em pacotes O presente estudo teve como objetivo
ou hierarquizadas. No primeiro caso a realizar revisão sistemática da literatura,
resistência não se direciona a apenas um caracterizando as publicações quanto ao
antimicrobiano, mas a toda família de
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página 22 Saúde e Humanidades

ano de publicação, tipo de estudo, número RESULTADOS E DISCUSSÃO


de autores, país de publicação, revista Os dados da TAB. 01 demonstram o número
publicada e importância da CCIH no de referências bibliográficas encontradas
controle da resistência microbiana. nas bases de dados eletrônicas
pesquisadas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste estudo foi adotada, como forma
metodológica, a revisão sistemática de
literatura, no período compreendido entre
2002 a 2012, através da seguinte questão
norteadora: dentre as publicações
encontradas em artigos científicos, nas
bases de dados LILACS, LIS e MEDCARIB,
encontramos artigos que tratam do tema
relacionado à importância da comissão de
controle de infecção hospitalar no controle
da resistência microbiana?
A pesquisa foi realizada no site da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através
da base de dado LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde), LIS e MEDCARIB, que disponibiliza Após análise da tabela acima, podemos
acesso livre e gratuito às informações observar que foram utilizados 14 artigos de
técnico-científicas publicadas relevância relacionados aos descritores
nacionalmente e internacionalmente e propostos por esse estudo, devido critérios
contém artigos científicos considerados de inclusão deste. Através da análise deste
autênticos e de fontes seguras. material, todos abrangem questões
Dentre os critérios utilizados para a seleção referentes à resistência microbiana, CCIH e
estão: artigos publicados em português e infecção hospitalar.
ano de publicação no período de 2002 a De acordo com Santos (2004),
2012, que apresentassem o assunto atualmente a resistência microbiana é um
relacionado aos objetivos deste estudo e grave e importante problema nos hospitais,
que seu acesso completo fosse livre e sendo consequência do uso indiscriminado
gratuito. Foi utilizado como critério para de antibióticos, uma vez que seu uso está
exclusão, os artigos publicados sob forma entre as principais forças envolvidas nas
de resumo e os publicados em língua não infecções hospitalares. Os pacientes
portuguesa. Os descritores utilizados hospitalizados possuem alto risco de
foram: Infecção Hospitalar; adquirir infecções hospitalares,
Farmacorresistência bacteriana; CCIH. ressaltando-se os seguintes fatores
Foram utilizados 14 artigos para a predisponentes:
realização deste trabalho. - Pacientes hospitalizados tendem a ser
Concomitantemente à seleção dos artigos mais susceptíveis a infecções, devido sua
pertinentes, foi realizada a leitura, condição de doente e o risco aumento
interpretação e análise do material quando são expostos a antibióticos.
selecionado, utilizando-se o operador AND - Paciente imunossuprimido (AIDS, câncer,
aos descritores. uso de corticoides e antibióticos) possui
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maior risco para adquirir infecção
hospitalar;
- Nestas circunstâncias, os microrganismos
que normalmente não são patogênicos,
tornam-se capazes de causar infecção
hospitalar.
A autora citada acima ressalta que o
crescente interesse em estudar e analisar o
problema da infecção hospitalar está
voltado, principalmente, para o fenômeno
das bactérias antibióticorresistentes.

Os artigos analisados discorrem sobre


desafios e perspectivas da infecção
hospitalar, bactérias multirresistentes e
CCIH.
Pereira et al. (2005) reforçam que infecção
hospitalar (IH) é um evento histórico, social
e não apenas biológico, requerendo
investimentos científicos, tecnológicos e
humanos para incorporação de medidas de
prevenção e controle.
Gonçalves, Kreutz e Lins (2004) afirmam
que os profissionais de saúde,
especialmente os enfermeiros, são muito
importantes diante deste desafio, devendo
se tornar os articuladores e motivadores
dos saberes e fazeres relacionados ao
controle de infecção.
Também se destaca nos artigos a
importância do uso racional de
antimicrobianos. Carneiro et al. (2011)
refo rça m a n e c e s s i d a d e d a C C I H
desenvolver um programa de
racionalização do consumo de
antimicrobianos, visando a qualidade da
assistência no âmbito da prevenção de
infecções e, este programa além da redução
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da indução de cepas multirresistentes Segundo Oliveira (2012) a emergência de


objetiva otimizar efeitos terapêuticos e bactérias multirresistentes no ambiente
minimizar efeitos indesejáveis dessas hospitalar tem sido progressiva nas últimas
drogas, como por exemplo, a toxicidade. décadas, constituindo-se em uma ameaça à
Lima, Andrade e Hass (2007) citam que saúde pública em todo mundo. O problema
desde a introdução do mais antigo pode ser explicado pelo uso indiscriminado
antimicrobiano até o mais recente, vem se e inadequado dos antimicrobianos;
registrando uma pressão seletiva dos adicionalmente verifica-se a inobservância
microrganismos causada, principalmente ou a baixa conformidade com os protocolos
pelo uso indiscriminado de e medidas de controle de infecção.
antimicrobianos, resultando no Conforme Lima, Andrade e Hass (2007) é de
desenvolvimento de espécies resistentes. extrema importância que cada instituição
Atualmente, um número considerável de defina sua situação em termos de
microrganismos desenvolveu resistência microbiota hospitalar bem como a
aos antimicrobianos convencionais, como multirresistência e quais são os critérios
também alguns estão impenetráveis aos utilizados para definir cepas
novos fármacos. multirresistentes. Isso justifica as ações de
A escolha, uso, administração, cuidado na prevenção e controle das infecções
dosagem a fim de evitar terapêuticas e hospitalares que incluem vigilância do
doses inadequadas de antimicrobianos perfil microbiológico e de sensibilidade dos
que levam à resistência bacteriana é a microrganismos e uso racional de
responsabilidade que cabe à equipe de antimicrobianos.
saúde como um todo. (HOEFEL; LAUTERT, Para Santos (2004), há uma necessidade
2006) que ocorra, urgentemente uma mudança
Santos (2004) refere que a resistência consciente e radical no comportamento e
microbiana tornou-se o principal problema de atitude de todos os profissionais de
de saúde pública do mundo e ela é uma saúde, do consumidor (paciente), dos
inevitável consequência do uso pesquisadores, dos empresários das
indiscriminado de antibióticos em indústrias farmacêutica, da administração
humanos e animais. hospitalar e do próprio governo e de muitos
A autora citada acima destaca, também, a outros envolvidos no processo do controle
importância de controlar a infecção da resistência bacteriana no contexto da
hospitalar, pois, não havendo este tipo de infecção hospitalar, pois, infecção
infecção, não há necessidade do uso de hospitalar controlada significa resistência
antibióticos para tratá-la, diminuindo a bacteriana diminuída.
pressão seletiva sobre as bactérias do
ambiente hospitalar e dos pacientes. CONCLUSÃO
Como conclusão do presente estudo fica
evidente que o uso inapropriado e abusivo
de antibióticos contribui para o aumento
progressivo da resistência bacteriana, fato
este, que tem merecido atenção especial
crescente nos últimos anos.
Neste contexto percebe-se que o uso
indiscriminado dessas drogas se tornou um
grande desafio para a comissão de controle
de infecção hospitalar. Sabendo que a
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comissão tem como finalidade principal BRASIL, Portaria n° 2.616 de 12 de maio de
controlar e prevenir infecção hospitalar, a 1998. Expede na forma de anexos,
mesma deve desenvolver e implementar diretrizes e normas para prevenção e
novas políticas e práticas que assegurem o controle das infecções hospitalares. 1998.
uso criterioso de antimicrobianos, elaborar CARDOSO, R.S.; SILVA, M.A. A percepção
estratégias para monitorar o uso destas dos enfermeiros acerca da comissão de
drogas, como formulários altamente infecção hospitalar: desafios e
restritivos justificando a necessidade de tal perspectivas. Texto contexto- enferm.,
antimicrobiano, e os profissionais da v.13, p.50-57. 2004.
Comissão de Controle de Infecção CARNEIRO, M. et al. O uso de
Hospitalar (CCIH) devem ser habilitados no antimicrobianos em um hospital de
controle do uso de antimicrobianos para ensino: uma breve avaliação. Rev. Assoc.
aconselhamento das prescrições e Med. Bras., v.57, n.4, p.421-424. 2011.
elaboração de protocolos. Agindo assim, a FONTANA, R.T.; LAUTERT, L. A prevenção e o
comissão intervirá de forma efetiva para a controle de infecções: um estudo de caso
promoção do uso racional de com enfermeiras. Rev. Bras. Enferm., v.13,
antimicrobianos, de forma a minimizar a n.3, p.257-261, jun. 2006.
pressão seletiva sobre as bactérias. GONÇALVES, D.C.; KREUTZ, I.; LINS, J.F.
Outra estratégia a ser adotada pela Alencastro B. de Albuquerque. A infecção
comissão é a divulgação do perfil de hospitalar em Mato Grosso: desafios e
sensibilidade dos microrganismos perspectivas para a enfermagem. Texto
prevalentes e do uso de antimicrobianos, contexto – enferm., v.13, p.71-78. 2004.
para conhecimento do corpo clínico. HOEFEL, H.H.K.; LAUTERT, L. Administração
O controle da resistência bacteriana endovenosa de antibióticos e resistência
depende de um raciocínio complexo, b a c te r i a n a : re s p o n s a b i l i d a d e d a
envolvendo indicações de uso, protocolos enfermagem. Rev. Eletr. Enferm.,v.8, n.3,
de utilização, formas de administração e p.441-449, 2006.
questões políticas referentes aos hospitais LIMA, M.E.; ANDRADE, D.; HASS, V.J.
e interesses da indústria de medicamentos. Avaliação prospectiva da ocorrência de
Destaca-se também, a importância do infecções em pacientes críticos de unidade
trabalho multidisciplinar, a fim de que seja de terapia intensiva. Rev. Bras. Ter.
promovida uma mudança radical no Intensiva; v.19, n.3, p.342-347. 2007.
comportamento e atitude dos profissionais MOURA, M.E.B.; CAMPELO, S.M.A.; BRITO,
de saúde. O envolvimento destes F.C.P.; BATISTA, O.M.A.; ARAÚJO, T.M.E.;
profissionais é essencial para o controle de OLIVEIRA, A.D.S. Infecção hospitalar:
infecções hospitalares, principalmente, estudo de prevalência em um hospital
àquelas causadas por bactérias público de ensino. Rev. Bras Enferm; v.60,
antibioticorresistentes. n.4, p.416-421, jul.-ago. 2007.
OLIVEIRA, A.C. et al. Colonização por
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS micro-organismo resistente e infecção
ANDRADE, D.; LEOPOLDO, V.C.; HAAS, V.J. relacionada ao cuidar em saúde. Acta Paul.
Ocorrência de bactérias multirresistentes Enferm; v.25, n.2. 2012.
em um centro de terapia Intensiva de OLIVEIRA, R.; MARUYAMA, S.A.T. Controle
Hospital Brasileiro de Emergências. Rev. de infecção hospitalar: histórico e papel do
Bras. Ter. intensiva, v.18, n.1, p.27-33, Mar. estado. Rev. Eletr. Enf., v.10, n.3, p.775-783.
2006. 2008.
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página 26 Saúde e Humanidades

PEREIRA, M.S. et al. A infecção hospitalar e QUEIROZ, G.M.; SILVA, L.M.; PIETRO,
suas implicações para o cuidar da R.C.L.R.; SALGADO, H.R.N.
enfermagem. Texto contexto – enferm., Multirresistência microbiana e opções
v.14, n.2, p.250-257, jun. 2005. terapêuticas disponíveis. Rev. Bras. Clin.
P I N H AT I , H . M . S . ; M O U R A , E . B . ; Med. v. 10 n.2, p.132-8, mar-abr. 2012.
DAMASCENO, C.M.G. Bactérias SANTOS, N.Q. A resistência bacteriana no
multirresistentes: enfoque sobre os gram- contexto da infecção hospitalar. Texto
negativos. Brasília med., v.47, n.4, p.460- contexto – enferm., v.13, p.64-70. 2004.
464. 2010.
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reflexões ao crescimento econômico no mercado Fair Trade
título: O COMÉRCIO JUSTO NO BRASIL E EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO:

em cooperativas e associações de agricultores familiares

Andreza Aparecida Barbosa


Coordenadora do curso de Administração da Faculdade Pitágoras de Poços de Caldas.
email: andreza.aparecida@pitagoras.com.br

Paulo Roberto Alves Pereira


Doutor em Engenharia Química. Docente do curso de Engenharia Química e do Mestrado
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida, ambos do UNIFAE de São João da
Boa Vista-SP. email: prapereira@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT
Este artigo se baseou no estudo de uma This article was based on the study of a
dissertação de mestrado que evidenciou o dissertation which showed the
processo de conquista da certificação Fair achievement process of certification Fair
Trade (comércio justo) em uma associação Trade (fair trade) in an association of
de agricultores familiares, certificada em farmers, certified in 2009 in southern Minas
2009, no Sul de Minas Gerais. Para Gerais. To transform this group of farmers in
transformar esse grupo de agricultores association were necessary some actions as
numa associação foram necessárias the implementation of an adequate
algumas ações como a implementação de strategic planning, cultural change and
um planejamento estratégico adequado, management, among others. Given this
uma mudança cultural e de gestão, entre perspective, the social movement of fair
outras. Diante desta perspectiva, o trade practices helped to structure and to
movimento social das práticas de comércio support the association's constitution, in
justo ajudou a estruturar e embasar a order to identify positive implications on
constituição da associação, de modo a the business association itself and its
identificar implicações positivas no negócio members, after the conquest of certified
da própria associação e em seus Fair Trade. Thus, this research proposal is
associados, após a conquista da presented as a tool to excel the relationship
certificação Fair Trade. Sendo assim, esta between economic growth of fair trade
proposta de pesquisa se apresenta como practices in sport in Brazil and in developing
instrumento para abalizar a relação entre o countries, focusing on economic impacts
crescimento econômico das práticas na on productivity in the Fair Trade market.
modalidade de comércio justo no Brasil e The methodological process will be based
em países em desenvolvimento, com on the literature, in which the empirical
enfoque nos impactos econômicos sobre a study be made through exploratory
produtividade no mercado Fair Trade. O research whose data were treated in a
processo metodológico será qualitative way.
fundamentado na pesquisa bibliográfica, Keywords: Fair Trade Certification.
no qual o aprofundamento empírico se deu Association. Cooperative. Economic
por meio de pesquisa exploratória, cujos growth. Fairtrade.
dados foram tratados de maneira
qualitativa.
Palavras-chave: Certificação Fair Trade.
Associação. Cooperativa. Crescimento
Econômico. Comércio Justo.
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INTRODUÇÃO mais.
O Brasil está entre os países que mais Porém, é bom compreender que o Fair
produzem e consomem café e quando se Trade não pensa apenas na comunidade
bebe uma pequena xícara é difícil pensar que será beneficiada pela sua política. O Fair
quanto o produtor recebeu do preço pago. Trade trabalha a nível global. Os produtos
Além disso, raramente se pensa em agrícolas produzidos dentro do esquema
quantas crianças morrem diariamente de Fair Trade advém de muito trabalho,
fome, miséria, doenças e pobreza, causas dedicação, buscando qualidade e preço
que podem ser modificadas por uma justo, provendo salários justos e decentes
condição de vida e trabalho melhores. É para os trabalhadores, além de
isso que o Fair Trade propõe: um providenciar empregos e outras
componente essencial para modificar a necessidades para a comunidade, tais como
vida das pessoas mais pobres para melhor, educação, conhecimento, proteção ao meio
priorizando o lucro em prol das pessoas ambiente, saúde, ou seja, o Fair Trade pensa
vulneráveis. Esse fenômeno global coloca na criação de um mundo melhor para todos.
as pessoas antes dos lucros, focando em Muitos se questionam sobre o porquê de
um salário justo, a sustentabilidade pagar mais pelos produtos Fair Trade. Se for
ambiental e a justiça social. pensar nos benefícios criados pela política
O Fair Trade ou comércio justo é um Fair Trade, os produtos se tornam baratos,
movimento positivo que envolve alimento pois a sua produção busca garantir um
e bens. Quando os compradores adquirem mundo melhor não apenas para os
produtores de agricultores que trabalham produtores, mas também para os
dentro do conceito do Fair Trade, ainda que consumidores.
esses produtores sejam mais caros que os Adaptar os atores, sejam eles produtores ou
produzidos dentro dos conceitos consumidores, ao esquema do mercado
tradicionais de produção, é preciso global, porém dentro dos valores
compreender o porquê desse acréscimo. fundamentais e esquemas do comércio
Os produtos advindos do Fair Trade justo não é tarefa fácil, pois essa adaptação
geralmente estão localizados em áreas leva tempo. Os mercados vêm crescendo
afetadas pela prática desleal para os seus cada vez mais, as empresas e os produtos
produtos, em áreas localizadas em locais de vêm evoluindo e para inserir os pequenos
conflito ou em áreas pobres. produtores nesse mercado é preciso: criar
O Fair Trade possui as condições e condições para que as relações comerciais
ferramentas para mudar essa situação de diretas entre os produtos e compradores
vida dos pequenos produtores, tornando- sejam pensadas a longo prazo; o ideal é
os participantes do comércio internacional pensar em uma ação coletiva ou em uma
e também satisfazendo as suas ação cooperativa entre os produtores para
necessidades sem agredir o meio que os lucros sejam igualmente distribuídos
ambiente. Alguns exemplos dos produtos entre todos e as melhorias também sejam
afetados pelo Fair Trade são: café, algodão, para todos, afinal a comunidade precisa ser
linho, frutas exóticas e outros. Os o centro das atenções; é preciso modificar
produtores inseridos no esquema Fair as produções agrícolas de maneira a
Trade conseguem receber o suficiente ou o produzir produtos certificados; é preciso
preço justo para sustentar as suas famílias, ajudar os pequenos produtores a buscarem
fortalecer a comunidade em que vivem, e encontrarem crédito a preços acessíveis; o
prover educação para os filhos e muito trabalho precisa estar inserido dentro das
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políticas da Organização Internacional do sindicatos de agricultores e trabalhadores
Trabalho, ou seja, sem trabalho escravo, organizados de maneira a estabelecer um
infantil ou forçado e com direito a piso mínimo de preços para os produtos),
negociação coletiva; é preciso focar em proibição de trabalho forçado e infantil, o
educação como um forma alternativa de esforço em conjunto dos grupos para
informar aos produtores e consumidores trabalharem mais diretamente possível
sobre as práticas e sobre o comércio dos com os importadores de maneira a eliminar
produtores envolvidos nas práticas do intermediários e quaisquer custos
comércio justo internacional; a gestão adicionais fazendo com que os
ambiental precisa estar no foco das trabalhadores recebam mais lucro pelos
relações entre o homem produtor e o meio seus produtos e ganhando competências
ambiente (isso inclui a não produção com empresariais. O lucro alcançado pelas
pesticidas e herbicidas). cooperativas acaba por beneficiar toda a
Os pequenos produtores rurais comunidade, ajudando-a a crescer. Outro
encontraram nas práticas do Fair Trade fator importante é a sustentabilidade
condições para se encaixarem no mercado ambiental, já que os métodos de cultivo e
mundial de modo que pudessem técnicas de produção ecologicamente
determinar os preços e as condições que os corretos e destinados a serem sustentáveis
favorecessem. Além disso, encontraram para poderem preservar o solo; o uso de
condições para criarem cooperativas que produtos químicos é totalmente proibido.
beneficiassem a todos, com preços justos, Os princípios do Fair Trade conseguem
menos burocracia, menores custos e mais alterar a vida das pessoas, quebrando o
controles independentes dos outros. ciclo da pobreza, da fome e da desigualdade
O Fair Trade também criou condições para o social, apoiando as famílias dos pequenos
consumo ético e para a negociação produtores e das comunidades de um
realizada de forma justa. Assim, todos os modo geral.
a t o r e s d o Fa i r Tra d e t o r n a m - s e Portanto, o Fair Trade vem ajudando países
protagonistas de suas próprias vidas, em desenvolvimento a obterem um melhor
decisões, práticas comerciais, valores, n e g ó c i o n o â m b i t o d o c o m é rc i o
preço, facilidades de cumprimento de internacional, já que se trata de uma aliança
prazos, entre outros, não se sentindo mais entre consumidores de países ricos e
sozinhos contra os grandes comerciantes produtores de países pobres, aumentando
mundiais. Isso ocorre porque o Fair Trade a consciência pública, participação social e
regula normas e valores por meio de seus desafiando as regras comerciais mundiais
inspetores qualificados de maneira a injustas. A tarefa agora é levar esse modelo
garantir o cumprimento desses padrões. de sucesso para mais pessoas,
Enfim, o Fair Trade é um símbolo de comprovando que todos os parceiros do
solidariedade simbolizando a crença de Fair Trade, num esforço de trabalho em
que todos juntos podem imaginar, idealizar conjunto, podem tornar uma visão ou uma
e criar um mundo diferente, justo, social e ideia em realidade.
melhor para todos. Sendo assim, este artigo se apresenta na
Os pequenos produtores rurais perspectiva de uma concepção social
perceberam que os mercados estão cada econômica relacionada às práticas do
vez mais globais. O mercado é cada vez comércio justo (Fair Trade) articulada à
mais um intercâmbio internacional devido construção de conhecimento na área social
aos avanços da tecnologia e transporte. e econômica. Parte do panorama geral para
Assim o preço justo (cooperativas e
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o específico, buscando observar em outros países, tais como a Alemanha,


cooperativas e/ou associações certificadas Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha,
dentro dos critérios de comércio justo no Finlândia, Inglaterra, França, Itália, Suécia e
Brasil e em países emergentes, a relevância Suíça. E não apenas os países europeus
de se evidenciar o crescimento econômico ficaram interessados no movimento, pois
n o m e r c a d o Fa i r Tr a d e c o m o os Estados Unidos, Canadá e Japão também
oportunidades de desenvolvimento e de se incorporaram ao movimento mundial
negócios aos participantes envolvidos no (INSTITUTO RESSOAR, 2012;
processo. WIELEWCHOWSKI, ROMAN, 2012).
Para tanto, tem como objetivo se Em 1990, várias organizações não
apresentar como instrumento para abalizar governamentais e de comércio alternativo
a relação entre o crescimento econômico que já praticavam o comércio justo, criaram
das práticas na modalidade de comércio a European Fair Trade Association (EFTA), a
j u sto n o B ra s i l e e m p a í s e s e m International Federation for Alternative
desenvolvimento, com enfoque nos Trade (IFAT), a Organização de Certificação
impactos econômicos sobre a de Produtos de Comércio Justo, a Fair Trade
produtividade no mercado Fair Trade. Labelling Organization (FLO), a Fair Trade
Quanto ao processo metodológico International-Certification (FLO-CERT),
destinado a este artigo, foi fundamentado instituição vinculada à FLO, com a
na pesquisa bibliográfica, no qual o responsabilidade específica de certificação
aprofundamento empírico se deu por meio às organizações participantes (PEDINI,
de pesquisa exploratória, cujos dados 2011).
foram tratados de maneira qualitativa. De acordo com o relatório da FLO (2005a,
2005b), os produtos certificados pelo Fair
RESULTADOS E DISCUSSÃO Trade estão em franca expansão (MACIEL,
O comércio justo, comércio solidário ou Fair 2007).
Trade pode ser definido como “uma prática Para Santos (2010), para que se possa fazer
comercial que busca oferecer melhores parte do comércio justo, as entidades
condições financeiras a pequenos precisam respeitar os sete princípios
produtores do terceiro mundo, por meio de p r o p o s t o s p e l a E F TA . S ã o e l e s :
mecanismos que têm caráter de alterar a transparência e corresponsabilidade;
estrutura da cadeia de produção envolvida” treinamento e apoio; preço justo/bônus;
(OLIVEIRA; ARAÚJO; SANTOS, 2008, p. 211). igualdade de gêneros; adequação a
A base do desenvolvimento sustentável é a legislação e norma; proteção do meio
ideia de que é possível, criar ao mesmo ambiente; certificação de produtos do
tempo, valor nos três polos: sociedade, o comércio justo.
meio ambiente e a economia. Trata-se da O comércio justo criou alternativas para a
noção do triple bottom line (pessoas, subsistência e para a desigualdade social,
aspectos sociais; planeta, aspectos que segundo Weber (2004), a igualdade
ambientais; lucros, aspectos econômicos), entre as pessoas se torna de grande
lançada por John Elkington, em 1994. Esse importância e valia para a sociedade.
triplo balanço social, econômico e Quanto às alternativas, isto acabou levando
ambiental tornou-se necessário para a conquista da certificação internacional do
avaliar o desempenho global de uma comércio justo (Fair Trade), contribuindo
organização (LAVILLE, 2009). enormemente para o empowerment dos
O comércio justo nasceu na Holanda, em envolvidos, no caso, pequenos produtores
1969. Logo, o movimento atingiu vários
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rurais associados. As práticas do Fair Trade Brasil existem relativamente poucos
surgiram da aplicação dos conceitos de produtores de café Fair Trade, revelando
sustentabilidade e do preço justo nas desconhecimento e dificuldades para obter
propriedades de pequenos agricultores a certificação.
familiares. Esse movimento nasceu do A certificação Fair Trade vem amparando os
interesse de promover uma ajuda agricultores familiares para enfrentar
humanitária aos países do Hemisfério Sul novos desafios diante da crescente
por parte dos países do Hemisfério Norte, mecanização agropecuária e globalização.
de acordo com Pedini (2011). Essas novas funções responderam aos
A busca e a conquista da certificação estão problemas do desenvolvimento territorial
associadas a superações e adoção de sustentável, devido às noções de
critérios. O comércio justo opera em multifuncionalidade da agricultura e do
comunidades de produtores certificados desenvolvimento local (LAFORGA; EID,
que adotem métodos baseados em 2005; SILVEIRA et al., 2006).
normas padronizadas de produção Ao atuar nas duas pontas da cadeia
sustentáveis, tanto nas relações de produtiva – produtor e consumidor – o
produção quanto no meio social. comércio justo, ético e solidário, busca
Wielechowski e Roman (2012) apontam o possibilitar que o ponto mais fraco consiga
Fair Trade como melhoria contígua para se desenvolver, ainda a diversidade cultural
condições comerciais, promoção da (FRANÇA, 2003).
sustentabilidade e qualidade de vida ao No Brasil, ainda se pratica muito a
trabalhador. Além disso, observam que se agricultura tradicional. Os planos
trata de uma iniciativa muito importante, governamentais não conseguiram mudar
como um programa para modificar a essa condição, principalmente em locais
realidade local e elevar o padrão de vida de com estrutura agrária atrasada e dominada
populações de regiões carentes. Porém pelos grandes proprietários de terra. Para
existem controvérsias atualmente sobre o que esses pequenos produtores possuam
funcionamento do mercado Fair Trade. condições de atuarem no mercado nacional
O café pode ser considerado um dos pilares e até mesmo internacional, é preciso que as
básicos da economia brasileira. Seu cultivo políticas de desenvolvimento regional e
no território brasileiro data do século XVIII, agrícola recebam nova formulação,
porém a sua expansão deu-se no século transformando-as em empreendimentos
XIX. Tornou-se o principal produto de modernizados, caso contrário elas
exportação da economia brasileira durante tenderão a desaparecer. (VELOSO FILHO,
todo o século XIX e XX (a Europa e os 1998).
Estados Unidos se interessaram pelo Para França (2003) “o comércio ético e
produto) ajudando a financiar a indústria solidário” ou comércio justo, assemelha-se
brasileira. (REYDON; OLIVEIRA, 2012). a essa lógica. Trata-se de uma forma de
O comércio justo é um movimento social comercialização em que o objeto produzido
que objetiva ajudar os produtores de é apenas uma das dimensões do ato de
países em desenvolvimento, para comprar. Tão importante quanto o objeto
promover a sustentabilidade e para em si, é o território ocupado pelas pessoas
conseguir melhores condições comerciais. que o produziram. Mas pode-se ir além da
O café é o produto Fair Trade mais necessidade de territorialização. É
comercializado no mundo, beneficiando condição necessária para se fortalecer o elo
produtores familiares de vários países. mais fraco da cadeia produtiva, da cultura e
Diante do volume de café produzido no
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do meio ambiente local. produtos com alto risco de perigo. A


Trata-se de uma relação em que o bem segunda deriva de prática e exigências do
comercializado não é o único elemento a mercado, dando confiabilidade aos
ser valorizado. Sendo assim, identificar produtos (PRADO, 2011).
princípios e critérios que componham um Entre as certificações que se voltam para as
comércio solidário e ético precisa ser questões ambientais, o ponto em comum
legitimamente brasileiro, apoiado em entre elas é a análise em relação ao sistema
opiniões dos diferentes atores convencional, a qual se esquece da
interessados no tema, e não apenas a cópia preservação dos ecossistemas naturais, da
de um modelo europeu, e que seja proteção ao trabalhador, da fiscalização das
coadunado com os interesses das relações comerciais, privilegiando apenas o
entidades, das empresas, da sociedade lucro (PALMIERI, 2008; APUD PRADO,
civil, das organizações e dos consumidores 2011).
(FRANÇA, 2003). Nos últimos anos, vários selos e normas
Como cada vez mais os consumidores estão surgiram motivados pelas associações com
ficando exigentes com relação aos serviços, as Organizações Não-Governamentais
aos produtos e ao sistema como estes (ONGs). A Rainforest Alliance Certified
estão sendo produzidos, os produtos (RAS) apoia agricultores e trabalhadores
certificados pelo Fair Trade saíram de uma rurais em todo o mundo, melhorando os
simples estratégia de marketing para seus meios de subsistência e protegendo o
comporem um mercado diferenciado. Os planeta, sendo válido evidenciar que, a
consumidores estão verdadeiramente FLO–CERT e a Rainforest são exemplos de
pagando mais para terem este tipo de certificações internacionais que seguem os
produto. princípios de sustentabilidade
Desse modo, o café produzido em bases socioambiental. A IBD Certificações, a Fair
sustentáveis e que atenda ao tripé da for Life e a ECOCERT são mais recentes
viabilidade econômica, responsabilidade (VIANA; JULIÃO, 2011).
social e ambiental está se tornando mais A IBD Certificações é uma empresa 100%
rentável e atingindo ágios de US$ 7 a US$ nacional que desenvolve atividades de
20 por saca (RODRIGUES, 2009 apud inspeção e certificação agropecuária, de
PRADO, 2011). Sem dúvida, o pequeno processamento e de produtos orgânicos,
produtor se preocupa com os custos das extrativistas, biodinâmicos e de mercado
transformações das atividades produtivas justo. A ECOCERT certifica produtos
tradicionais do comércio sustentável, mas oriundos da agricultura orgânica para o
ele também sabe que a preocupação com o mercado interno por meio da ECOCERT
ambiente, com os empregados, com os Brasil e também atua pela ECOCERT S.A.
consumidores e com sua família, para os mercados internacionais, sempre
elementos estes preconizados pela primando pela gestão da qualidade,
certificação, já está começando valer a principalmente aplicando os seus conceitos
pena e dar lucros (PRADO, 2011). de certificação para os principais mercados
Triantafyllou (2003), citado por Pereira, mundiais de produtos orgânicos. É
Bartholo e Guimarães (2004), menciona credenciada junto ao Ministério da
dois tipos de certificação: compulsória e Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a
voluntária. A primeira emana de Fair for Life oferece aos produtores que
regulamentações de cunho legal, buscam a certificação uma combinação
ocorrendo por meio de leis, decretos ou entre os rigorosos padrões de comércio
outros e que pode ser aplicada em
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justo e social com capacidade de adaptação Como se diz popularmente, a união faz a
às condições locais. Certifica não apenas força, e isso os pequenos produtores
produtos alimentares e não alimentares, agrícolas conseguem entender melhor
tais como cosméticos e serviços turísticos. quando trabalham em cooperativas
O momento vem se tornando cada vez mais orientadas pelos métodos e práticas do Fair
favorável para que um maior número de Trade. Inclusive os órgãos do Estado,
pessoas possa ter acesso à informação enquanto agente político-jurídico e
sobre o Comércio Justo e a Certificação Fair financeiro dessas cooperativas participam
Trade, além do aumento da conscientização de maneira mais direcionada, contribuindo
dos consumidores. Isto resultará num para o desenvolvimento todo do sistema.
sistema justo de relações de trabalho, na Essas instituições governamentais
valorização da cultura local e na precisam ser capazes de interferir devido às
remuneração justa do trabalhador. mudanças do mercado em geral e da
De acordo com estudos desenvolvidos pelo agricultura em particular, observando se as
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e metas foram alcançadas, sem se esquecer
Pequenas Empresas (SEBRAE, 2009), o de tornar as suas ações o mais transparente
comércio justo já é responsável pela possíveis para que as transformações das
geração trabalho e renda em muitos estruturas materiais deem suporte à
municípios brasileiros. Embora ele ainda elaboração de políticas econômicas de
seja uma novidade, já existe no país uma caráter nacional, como afirma Panzutti
quantidade expressiva de (1996).
empreendimentos de Comércio Justo e Para Viegas (2012), o sistema econômico
Economia Solidária, gerando mais de dois vigente atua de duas maneiras sobre a
milhões de postos de trabalho e faturando produção agrícola: de uma lado propõe
mais de oito bilhões reais anualmente. concentração, padronização e exclusão,
A certificação de Comércio Justo assegura o mas de outro pode possibilitar o
cumprimento com os critérios pré- desenvolvimento de algumas áreas de
estabelecidos e mudanças, podem mudar acordo com as características de seus
os requisitos de certificação. Aqueles que produtos, serviços, processos e também
gostariam de ser ou já são certificados pelo dos próprios trabalhadores. Assim, conclui
Comércio Justo Fair Trade devem verificar a autora, o Fair Trade poderia ser uma
regularmente os critérios de cumprimento proposta que possibilitaria a inserção de
e políticas de certificação pendentes ou produtores com restrito potencial de
concluídas no site do órgão de certificação inserção no mercado convencional,
Fair Trade International-Certification (FAIR valorizando aspectos qualitativos até então
T R A D E L A B E L L I N G O RG A N I ZAT I O N não considerados tão importantes em
INTERNATIONAL, 2011). função do foco na viabilidade econômica.
No Brasil, por conta dos movimentos Logo, para que os pequenos produtores
sociais, os trabalhadores se apropriam mais possam ter condições de se desenvolverem
dos modelos de cooperativas, que a e participem ativamente do mercado, é
princípio, parecem ser o mais ideal para importante que as relações de apoio
alavancar os negócios de pequenos técnico, organizacional, informacional e
produtores, o que por meio desta pesquisa, subsídios estejam presentes para que as
poderá ser diagnosticado suas reais redes funcionem.
influências para este tipo de certificação, Assim, pode-se concluir que as práticas do
bem como suas implicações. mercado Fair Trade possuem condições de
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página 34 Saúde e Humanidades

oferecer benefícios importantes tais como: Assim, o presente artigo demonstra quais
preços estáveis, preço justo, qualidade de as oportunidades que o mercado Fair Trade
vida, oportunidade de investimento em pode proporcionar aos pequenos
educação e saúde, melhorias agrícolas, produtores de países emergentes de
chances de aumentar a renda familiar, maneira a proporcionar maior
oportunidades de parceria, prêmios e desenvolvimento nos negócios, melhoria
certificações dentro de uma estratégia da qualidade de vida de todos os
global, capacitação de trabalhadores participantes no processo.
agrícolas, produtos melhores para os No entanto, salienta-se que esses
consumidores, um impacto positivo para as produtores precisam estar reunidos em
empresas que adquirirem os produtos, cooperativas ou associações para que os
cuidados com o meio ambiente (erosão, seus produtos possam ser certificados e
gestão de resíduos, preservação da mata co l o ca d o s d e u m a m a n e i ra m a i s
nativa, equilíbrio entre a proteção do meio competitiva no mercado nacional e global.
ambiente e bons resultados de negócio). Apesar disso, é importante ressaltar que
apesar dos desafios propostos pelo
CONCLUSÃO comércio Fair Trade, a existência de um
Muitos pensam que o Fair Trade traz uma comércio ético é uma alternativa para os
imagem de pessoas trabalhando felizes e pequenos produtores, já que muitos
tendo uma boa vida dentro de uma passam a ter uma condição de vida melhor
cooperativa democrática, que tudo de modo geral, preservando o meio
funciona bem e fácil. Porém, nem tudo é ambiente, aumentam a produtividade,
bem assim. As práticas do preço justo conquistam um espaço mais significativo
realmente são importantes para os no mercado nacional e global, impedem o
pequenos produtores de países t ra b a l h o e s c ravo, i nfa nt i l e co m
emergentes, porém conquistar periculosidade em virtude da não utilização
certificações, mudar mentalidades de agrotóxicos.
tradicionais de produção, alterar vidas de
várias pessoas ao mesmo tempo não é uma REFERÊNCIAS
tarefa que se conclua em pouco tempo e BARBOSA, A.A. et. al. O processo de
muito menos de maneira fácil. conquista da certificação Fair Trade por
É uma fantasia pensar que apontar as uma associação de cafeicultores do Sul de
práticas do preço justo para os produtos de Minas Gerais. XXXIII EnANPAD Encontro da
pequenos produtores agrícolas os ajudará Associação Nacional dos Programas de Pós-
a ter uma vida melhor em pouco tempo. No Graduação em Administração. Rio de
entanto, as pequenas comunidades Janeiro, RJ, 2014.
agrícolas reunidas em cooperativas geridas BARBOSA, A.A. Associação dos
pelas práticas do Fair Trade sentem a agricultores familiares do Córrego D'antas
mudança desde que esses se unam em prol de Poços de Caldas: um estudo voltado às
de toda a comunidade, ou seja, em prol de implicações da certificação Fair Trade.
todos, que estejam dispostos a mudar o 2014. Dissertação (Mestrado). Centro
modo como desenvolvem a agricultura e Universitário das Faculdades Associadas de
que compreendam que há muito trabalho a Ensino – FAE. Programa de Pós Graduação
ser feito. Além disso, as organizações que em Desenvolvimento Sustentável e
organizam esse tipo de produção precisam Qualidade de Vida, área de concentração
ajudar nos primeiros passos, inclusive com Desenvolvimento Sustentável de
obter crédito e fornecendo amparo técnico.
Operações. São João da Boa Vista, SP, 2014.
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HOMINIS
Saúde e Humanidades página 35
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Saúde e Humanidades página 37
título: Estudo sobre o perfil
da sociedade brasileira em relação à automedicação

Regiane Souza Santos


Aluna do curso de Farmácia da Faculdade Pitágoras Campus Poços de Caldas/MG.

Gisela Pizarro de Mattos Barretto


Doutora em Ciências de Alimentos. Docente da Faculdade Pitágoras Campus Poços de
Caldas/MG. email: giselapizmatbar@hotmail.com

Yula de Lima Merola(3)


Mestre em Saúde. Coordenadora do curso de Farmácia da Faculdade Pitágoras Campus
Poços de Caldas/MG. email: yula.merola@pitagoras.com.br

RESUMO ABSTRACT
No Brasil, de acordo com a Associação In Brazil, according to the Brazilian
Brasileira das Indústrias Farmacêuticas Association of Pharmaceutical Industries
(2013), cerca de 80 milhões de pessoas são (2013), about 80 million people are adept at
adeptas da automedicação. Este trabalho self-medication. This study aimed to know
teve como objetivo conhecer e analisar o and analyze the profile of Brazilian society in
perfil da sociedade brasileira em relação à relation to self-medication and evaluate
automedicação e avaliar o que faz ela what makes it happen. A study was
ocorrer. Foi desenvolvido um estudo em developed in Pocos de Caldas - MG in
Poços de Caldas – MG, em setembro 2013, September 2013 with over 18 years.
com pessoas maiores de 18 anos. Conforme According to the results, the increased use
os resultados, a maior utilização de of self-medication for medicines occurs
medicamentos por automedicação ocorre between 21-35 years (36%). A class of drugs
entre 21 a 35 anos (36%). A classe de constitutes the most prevalent group of
medicamentos com maior prevalência analgesics, antipyretics and anti-
constituiu o grupo dos analgésicos, inflammatories (37%). The main reasons
antipiréticos e anti-inflamatórios (37%). Os were headaches, muscle and abdominal
principais motivos foram dores de cabeça, pain (39%). According to the data obtained
muscular e cólica (39%). De acordo com os in this study, it is proven practice of self-
dados obtidos nesse estudo, fica medication among the population. These
comprovada a prática de automedicação results reinforce the need to inform the
entre a população. Tais resultados reforçam public about the proper use of medications,
a necessidade de informar a população thus promoting rational use of medicines.
sobre o uso adequado de medicamentos, Keywords: Self-medication; Prescriptions;
promovendo assim o uso racional de Painkillers.
medicamentos.
Pa l a v ra s - C h a v e : A u t o m e d i c a ç ã o ;
Prescrições; Analgésicos.
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página 38 Saúde e Humanidades

INTRODUÇÃO (SINITOX, 1999) os medicamentos ocupam


A automedicação é um procedimento o primeiro lugar entre os agentes
caracterizado fundamentalmente pela causadores de intoxicação em seres
iniciativa de um doente, ou de seu humanos. Somente em 2002, segundo o
responsável, em obter, ou produzir e sistema, os medicamentos provocaram
utilizar um produto que, acredita lhe trará 26,9% do total de intoxicações registradas
benefícios no tratamento de doenças ou no País (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
alívio de sintomas (PAULO; ZANINE, 1988).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi
Considerando a automedicação como uma
conhecer e analisar o perfil da sociedade
necessidade, e inclusive de função
brasileira em relação à automedicação,
complementar aos sistemas de saúde,
particularmente em países pobres, a avaliar o que faz com que haja crescimento
Organização Mundial da Saúde (OMS) na procura de medicamentos isentos de
publicou diretrizes para a avaliação dos prescrição médica.
medicamentos que poderiam ser
empregados em automedicação
denominando-os como medicamentos de MÉTODOS
venda livre (WHO, 1989; APUD INFARMA, Foi desenvolvido um estudo quantitativo
2004). com amostra aleatória conduzida no Estado
Os medicamentos isentos de prescrição de Minas Gerais na cidade de Poços de
MIP's são os medicamentos aprovados Caldas (154.974 habitantes) durante o mês
pelas autoridades sanitárias para tratar de setembro 2013.
sintomas e males menores, disponíveis No estudo foram incluídas todas as pessoas
sem prescrição ou receita médica devido à
maiores de 18 anos que buscam
sua segurança e eficácia desde que
medicamentos sem apresentar prescrição
utilizados conforme as orientações
médica ou conselho direto do
disponíveis nas bulas e rotulagens (WHO,
1993; ABIMIP, 2013). farmacêutico.
No Brasil, de acordo com a Associação Foi utilizado como instrumento para coleta
Brasileira das Indústrias Farmacêuticas de dados um questionário com perguntas
(2013), cerca de 80 milhões de pessoas são fechadas contendo as seguintes variáveis:
adeptas da automedicação. A má - nome comercial da especialidade
qualidade de oferta de medicamentos, o farmacêutica,
não cumprimento da obrigatoriedade da - os componentes ativos da mesma,
apresentação da receita médica e a - motivo do uso,
carência de informação e instrução na - a data da última visita ao médico,
população em geral justificam a - idade e o sexo da pessoa que usaria o
preocupação com a qualidade da medicamento e
automedicação praticada no País (WHO, - origem da recomendação do
1993; IVANNISSEVICH, 1994). É evidente
medicamento solicitado.
que o risco dessa prática também exerce
uma grande relevância nos riscos implícitos
RESULTADOS
da automedicação (CAMPOSET, 1985;
APUD INFARMA, 2004). Dentre os 148 questionários respondidos
De acordo com o Sistema Nacional de 98 (66%) foram do sexo feminino e 50 (34%)
Informações Tóxico-Farmacológicas do sexo masculino. A Figura 1 ilustra a
frequência de utilização de medicamentos
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Saúde e Humanidades página 39
DISCUSSÃO
A frequência de utilização de
medicamentos por automedicação,
conforme ilustrada na Figura 1, mostrou
que a faixa etária predominante foi a de
indivíduos entre 21 a 35 anos (36%) e a
menor entre as pessoas com mais de 52
anos. Este comportamento demonstra que
as pessoas mais velhas preferem consultar
o médico, provavelmente, por que já devem
Figura 1. Frequência das faixas etária dos
fazer uso de algum medicamento.
clientes que adquiriram medicamentos
A classe de medicamentos (Figura 2) com
isentos de prescrição médica.
maior prevalência de utilização por
automedicação constituiu o grupo dos
A Figura 2 mostra a porcentagem dos
a n a l gé s i co s , a nt i p i rét i co s e a nt i -
medicamentos que apresentam maior
inflamatórios (37%), provavelmente,
frequência de solicitação dos
porque a população deve considerar que
consumidores que adquirem estes
determinados sintomas, que são facilmente
produtos sem receita médica.
resolvidos com o consumo dos
medicamentos citados, não necessitam de
uma ida ao médico para serem resolvidos.
Porém, às vezes, estes sintomas podem
estar indicando algo mais grave e se não
forem diagnosticados logo podem
acometer complicações futuras. Em
seguida o grupo de medicamentos para o
trato gastrointestinal (16%), que talvez
sejam considerados pela população como
Figura 2. Classes terapêuticas de maior de pouco risco, ou seja, que não
frequência na prática de automedicação. apresentam efeitos colaterais e, por isso,
podem ser consumidos sem prescrição
Também foram avaliados os principais médica. Em relação, ao uso de
motivos que geraram a automedicação. medicamentos caseiros ou fitoterápicos
Estes motivos estão representados na (11%) esta é uma prática que faz parte da
Figura 3: rotina de alguns pacientes, pois está ligada
a cultura popular. De acordo com Gordon,
citado por Paulo e Zanini (1988), o remédio
caseiro, muitas vezes, é tido como
milagroso, que cura todos os males.
De acordo com os resultados obtidos a
respeito das classes de medicamentos mais
consumidas, os dados sobre os principais
motivos que geraram a automedicação
correspondem aos dados obtidos, entre
eles estão: dores de cabeça, dor muscular e
cólica (39%); desconforto abdominal, má
Figura 3: Motivos que geraram a digestão (24%); fraquezas e cansaço (15%);
automedicação.
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página 40 Saúde e Humanidades

alergias (7%); resfriados (10%) e outros Med., v. 32, n. 2, p. 188-96. 2008.


(5%). Agrupando algumas das variáveis FARIAS, et al. Indicadores de prescrição
fechadas do presente estudo observou-se médica nas unidades básicas de Saúde da
há prevalência na procura de Família no município de Campina grande,
medicamentos que se relaciona a sintomas PB. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.
dolorosos (dor de cabeça, dor muscular, 10, n. 2, p. 149-159. 2007.
cólica, dismenorreia, outros). FURINI-CRUZ AA, LIMA ALZ, ATIQUE TSC.
Análise de indicadores de prescrições em
CONCLUSÃO crianças de 0-12 anos em São José do Rio
Preto. Rev. Bras. Farm., v. 90, n. 3, p. 175-
De acordo com os dados obtidos nesse
179. 2009.
estudo, fica comprovada a prática de
GIROTTO E, SILVA PV. A prescrição de
automedicação entre a população. Ao medicamentos em um município do Norte
levarmos em conta a classe terapêutica do Paraná. Rev. Bras. Epidemiologia, v. 9, n.
mais procurada, existe prevalência entre a 2, p. 226-34. 2006.
classe dos anti-inflamatórios, com relatos 1- GOMES M. J. V. M., REIS A. M. M. Uma
de dores de cabeça, musculares e cólicas. Abordagem em Farmácia Hospitalar. São
Tais resultados reforçam a necessidade de Paulo: Editora Atheneu. 2001.
informar a população sobre o uso MARIN N, LUIZA VL, OSÓRIO-DE-CASTRO
adequado de medicamentos, promovendo CGS, MACHADO DOS SANTOS S. Assistência
assim o uso racional de medicamentos. farmacêutica para gerentes municipais.
Organização Pan-Americana de Saúde
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R E V I S T A
HOMINIS
Saúde e Humanidades página 41
título: Secretariar o Alienado – uma proposta de análise acerca
do sinthôme através dos personagens Batman e Alfred

Carolina de Siqueira Coutinho


Psicóloga, Especialista em Esquizoanálise: clínica de Grupos, Organizações e Redes
Sociais, Especialista em Gestão Avançada de Pessoas. Docente da Faculdade Pitágoras de
Poços de Caldas.
email: carolina.coutinho@pitagoras.com.br

Roberta Ecleide de Oliveira Gomes-Kelly


Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Psicologia, Doutora em Psicologia Clínica, Pós-Doutora
em Filosofia da Educação. Coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras
de Poços de Caldas. email: roberta.kelly@pitagoras.com.br

RESUMO ABSTRACT
O artigo aborda a questão da psicose e as This article adresses the question of
formas de sua condução, de acordo com a
psychosis and the forms of its conduction,
psicanálise lacaniana. No texto de 1955-
according lacanian Psychoanalysis. In the
1956, Lacan anuncia que não se pode
text of 1955-1956, Lacan announces it's can
recuar diante da psicose, sendo que o
not back down before psychosis, and the
analista deve ocupar o lugar de Secretário
do Alienado. Partindo desta proposta, analist must be the Alienated's Secretary.

utiliza-se de um personagem das histórias Stating this proposal, it makes use of a


em quadrinhos, Alfred, o mordomo do character of comic literature, Alfred,
Batman, para mostrar qual a forma de
Batman's butler, to show which technician
condução técnica para a psicose; qual seja,
form to psychosis; namely, giving conditions
dar condições para conduzir e viabilizar o
to conduct and to enable the everyday.
cotidiano, secretariar o alienado.
Key-words: Lacanian Psychoanalysis,
Palavras-chave: Psicanálise lacaniana,
Psicose, Sintoma e Sinthôme. Psychosis, Symptom and Sinthôme.
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página 42 Saúde e Humanidades

INTRODUÇÃO vilões (Dr. Hurt, líder da organização secreta


Este artigo aborda a questão da psicose e as criminosa Luva Negra) para perturbar
formas de sua condução, de acordo com a Batman, é inegável que Bruce Wayne
psicanálise lacaniana. No texto de 1955- “herda” as características deste pai por
1956, Lacan anuncia que não se pode adoção.
recuar diante da psicose, sendo que o Brevemente, sobre Bruce Wayne e sobre
analista deve ocupar o lugar de Secretário Batman:
do Alienado. Partindo desta proposta, Os pais de Bruce Wayne, Thomas e Martha,
lançamos mão de um personagem, Alfred, são mortos quando ele tinha 08 anos. O
o mordomo do Batman, como aquele que, menino seria criado, então, por Alfred e
por estar a serviço de seu patrão, conduz e pela Dra. Elise Thompikins, médica do
viabiliza seu cotidiano. Assim, o mordomo Serviço Social Federal, com quem Alfred
Alfred daria ao Batman as condições de sua teria um envolvimento (amoroso?). Uma
identidade real (Batman) e as formas de sua das metas de Bruce seria a de vingar a
identidade secreta (Bruce Wayne). morte dos pais e chega a se candidatar para
ser agente do FBI, após a conclusão do
1. Bruce Wayne, Batman e Alfred período escolar, aos dezessete anos.
Pennyworth Não sendo possível cumprir sua meta
Batman surge pela primeira vez em através do FBI, Bruce parte para viver uma
quadrinhos em novembro de 1939. Após a série de aventuras pelo mundo, estudando
morte dos pais, Bruce Wayne foi criado na em universidades europeias e americanas
Mansão Wayne por seu tio Philip Wayne apenas o que lhe interessa. Busca, no
(Batman Era de Ouro). A versão da Era de mundo do crime, como parceiro de um
Prata é que Bruce Wayne foi criado pelo matador de aluguel, David Caine, conhecer
mordomo Alfred Pennyworth, seu tutor as formas de se pensar clandestinamente.
(Batman Era de Prata - 1956 a 1970). Bruce aprende, também, com o francês
A Era de Bronze (1969 ou 1973 a 1985), a Henri Ducard, como ser detetive. Com 21
mais sombria e solitária do homem anos, parte para o Oriente e, com o Mestre
morcego, vai fazer de Alfred um grande Yuro, no Tibet, aprende artes marciais. Aos
parceiro – este é o momento, também, de 25 anos, então, Bruce Wayne retorna a
surgimento do Asilo Arkham, de onde saem Gotham City, no que se considera o Ano Um
os vilões e para onde são encaminhados de Batman.
quando cometem crimes e são pegos. Brevemente, sobre Alfred:
Há uma das histórias, R.I.P., que revelaria O personagem apareceu nos quadrinhos
que Alfred seria, na verdade, o pai de Bruce quatro anos após o lançamento da revista,
Wayne. Embora, nesta história, esta em 1943. Antes dele, haveria outro
suposição seja uma artimanha de um dos funcionário, Jarvis (depois descrito como
Jarvis Pennyworth, sendo pai de Alfred em
uma das versões), mas, após promessa de
1 As informações sobre Batman foram recolhidas de amizade de Thomas Wayne, Alfred passa a
Hickman (2013) e Manning (2011), além de sites de
servir a família (TERRA ZERO, 2012).
Comics, identificados ao longo do texto.
2 As fases de produção de revistas em quadrinhos Alfred Thadeus Craine Pennyworth teria
(comics) de super-heróis tiveram várias fases, sido agente da Scotland Yard e sido ator; há
designadas como Era de Ouro, Era de Prata, Era de versões de que teria sido um ex-médico da
Bronze e Era Moderna (atual). De uma para outra, Marinha Britânica. Sua primeira aparição
podem mudar os super-heróis, os agrupamentos e
nos quadrinhos foi em 1943.
as situações, reconfigurando-os.
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Saúde e Humanidades página 43
Com habilidades adquiridas nas antigas estruturação de defesa na medida em que
profissões, Alfred dá novas competências se subjetivar, existir como sujeito (barrado
ao menino Bruce (e ao próprio Batman): pela castração, como na neurose, ou não,
ensina-o a imitar vozes alheias (como ator), como na psicose), obter algum estatuto
as artimanhas da investigação (como ex- simbólico, alguma significação é necessário
agente) e cura suas inúmeras feridas (como para que o sujeito seja algo distinto do Real
ex-paramédico). do seu corpo, algo Outro e mais do que
Alfred é o responsável por várias alguns quilos de carne. Por isso o sujeito se
mensagens e cuidados dirigidos ao estrutura em uma operação de defesa.
Batman, para ajudar a protegê-lo, bem (CALLIGARIS, 1989, p. 13)
como fomentando as possibilidades de que O sujeito se defende imaginariamente,
a identidade de Bruce Wayne seja um então, do que seria seu destino, veiculado
disfarce e manutenção do próprio Batman. nos ditos e falas das relações com a
Neste sentido, Alfred costuma ser demanda que acredita ser feita pelo Outro.
chamado “o Batman do Batman”. A operação de defesa implica um certo tipo
de metáfora, ou seja, implica — é o próprio
2. Psicanálise e Psicose da metáfora — que a significação possa
Em Psicanálise, a discussão da clínica é prevalecer, possa substituir ao pedaço de
atravessada pelo eixo Complexo de carne uma significação subjetiva. Como a
Édipo/Complexo de Castração, que pode metáfora permite isso? Precisa que algo
ser brevemente definido como a prevaleça sobre a Demanda imaginária da
interpolação das vivências de transmissão qual seríamos objeto e de preferência um
educativas (vivências edípicas) e o saber sobre esta Demanda mesma. Assim,
aprendizado dos limites, sendo a morte a referidos à demanda somos referidos ao
experiência balizadora da castração, que, saber sobre a Demanda temos uma
por não poder ser enunciada a partir de sua significação que nos mantém defendidos,
vivência, inaugura a dimensão simbólica. como sujeitos. Esta operação de defesa é a
Assim, as formas de articulação (ditas mesma, acredito, para qualquer sujeito que
mecanismos) destes polos axiomáticos se estruture, que tenha uma significação.
indicariam as apresentações clínicas, a Mas o saber com o qual o sujeito se
saber: Neurose (Recalque), Perversão defende, ao qual se refere, não é o mesmo
(Recusa), Psicose (Forclusão) e a Quarta na neurose e na psicose.
Estrutura (Elisão). Na vertente lacaniana, as (CALLIGARIS, 1989, p. 13)
manifestações clínicas se configurariam O Outro (A) é mais que uma pessoa física,
como estruturas a serem discernidas pelo conceituada como outro (a), diz respeito à
discurso. De um lado, o sujeito responde função que cada um, a partir de sua
com uma modalidade clínica ao eixo das pessoalidade (Real do próprio corpo)
vivências edípicas. De outro, responde com imaginariamente ordenada, cumpre no
os mecanismos ao confronto sofrido pelo Laço Social. Dada a impossibilidade de laço
confronto à castração. Estes mecanismos natural, a única saída é o Laço Social
são estratégias defensivas: (LACAN, 1969/70) – a forma como as
Qualquer tipo de estruturação do sujeito, pessoas se encontram, através da
seja neurótica ou psicótica, é uma linguagem, no discurso.
estruturação de defesa, no sentido Em linhas gerais, está-se no Laço Social em
freudiano, no sentido em que Freud fala de nome de algo (uma ideia), direcionando-se
p s i c o n e u r o s e d e d e fe s a . É u m a
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ao cuidado do outro. É no e pelo Laço Social colocação do Seminário 23 (LACAN,


que somos reconhecidos (amados) e que 1975/76), com o quarto nó: o sinthoma
n o s e n c o n t r a m o s (sinthôme).
(ilusoriamente/imaginariamente) Não muito diferente do sintoma, o sintoma
protegidos do vazio existencial, no com th é o que designa fazer bem com o
discurso. próprio sintoma, índice de final de análise e
Na lógica da neurose (mecanismo de que apresenta Outro lugar para a psicose.
Recalque), a metáfora aparece em relação No que isso se refere ao Batman?
à outra figura de linguagem, a metonímia.
As palavras se encadeiam por contiguidade 3. Batman: psicótico?
(metonímia) e são retraduzidas por outro Uma das motivações para este trabalho
conjunto de palavras (metáfora). Assim, adveio da leitura do artigo de Vieira (2005),
está-se, continuamente, dizendo e sobre um texto de Lacan (1969/2003), Nota
redizendo o dito. sobre a criança. Neste artigo, o autor
Na psicose, o discurso se configura em uma menciona sobre Batman:
lógica metonímica em que nem sempre o Hoje estamos em um mundo meio
encadeamento permite a retradução. De psicanalítico, a pessoa chega e fala: 'Estou
acordo com isso, há a dificuldade de vindo aqui porque estou me sentindo
encontrar outras palavras que digam a muito culpada, eu tive um filho com
mesma coisa, prejudicando a Síndrome de Down'. Isso não é uma culpa -
metaforização do discurso. indicação de Lacan que é muito preciosa.
Portanto, o discurso psicótico é não- Sabemos muito bem que uma mãe pode
organizado, carece da articulação falar isso e ficar dez anos sem que nada
metafórico-metonímica, podendo ser aconteça, isso seria uma culpa irreparável,
considerado um discurso metonímico. uma culpa atestada. A culpa irreparável não
Embora respeite a denominação das coisas é uma culpa que possibilite trabalho para
e a estrutura de linguagem, não se orienta reparar. Dizendo de outra maneira, para
de forma a dar lugar à expressão do que uma análise comece, é preciso que a
posicionamento do sujeito em relação ao culpa se desloque, não seja uma culpa
Complexo de Édipo/Complexo de evidente; é preciso que ela se desloque
Castração. para uma culpa que não se sabe bem do
A amarração imaginária, portanto, parece que é, isso faz começar o trabalho de uma
falhar ou não se dar de forma a garantir um análise e se faz quase que naturalmente.
posicionamento do sujeito em relação à Lacan está dizendo apenas que temos de
demanda do Outro; que, em última visar um deslocamento nessa culpa, e não
instância, é a resposta ao lugar que ocupou achar que ela é o indício de que a haverá
nas vivências edípicas/de castração. Os análise. Por exemplo, alguém que não quis
chamados sintomas psicóticos viajar, o Batman. O Batman era um menino
(alucinações e delírios), então, seriam muito rico, seus pais eram os donos da
tentativas de articular, no Real, o que falta cidade de Gotham City. Ele era também um
ao psicótico – a amarração imaginária e a menino mimado, que um dia forçou a barra
articulação simbólica. com os pais – que estavam cansados – para
Esta articulação, ternária, quanto aos três
registros – Real, Imaginário e Simbólico – 3 Não se pode considerar a existência de sintomas
permite as reflexões de Lacan no Seminário na psicose, posto que o sintoma é o retorno do
3 (LACAN, 1955/56). Mas soma-se à recalcado. Se não há recalque, não há sintoma.
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ir ao teatro. Quando estavam voltando, um fundamento da estrutura paranoica é que o
ladrão os assalta e mata seus pais na frente sujeito compreendeu alguma coisa que ele
dele. O garoto fica culpado, gravemente formula, a saber: que alguma coisa tomou
culpado. Isso é o que chamaríamos de uma forma de palavra falada, que lhe fala”
culpa atestada. Essa culpa não leva à (LACAN, 1955/56, p. 53).
análise, leva a um analista. A pessoa vai O que parece fragmentar sua identidade,
para o analista porque quer resolver aquela que o choca, diz respeito a ele, concerne-
culpa que a angustia demais. Se o analista lhe, e é somente disso – da redenção desta
ou a análise não conseguir um mínimo de culpa através da defesa da cidade – que ele
deslocamento, ele vai rodar aquela culpa pode dar testemunho (LACAN, 1955/56, p.
trinta anos, e o próprio sofrimento de estar 119). Somando-se a essa missão grandiosa,
chorando, e vivendo de novo aquela podemos também observar Bruce Wayne
situação, alimenta o gozo do sintoma. É como prisioneiro de um mundo fechado em
assim que Lacan diria. Então, o Batman é si mesmo, em que seu heroísmo se
inanalisável. O Batman seria alguém difícil apresentaria como um delírio (organizado,
de analisar, ainda mais depois de ter virado estruturado, persistente, pleno de sentido
o homem-morcego. subjetivo), fundamentando e
(VIEIRA, 2005, p. 17) possibilitando sua existência como Batman.
Se, de acordo com a proposta lacaniana, Este delírio característico da paranoia é
algum agenciamento das estruturas explicado por uma regressão narcísica da
sempre acontece, mesmo que seja outro, libido, com investimento pulsional
em que sentido haveria a impossibilidade direcionado ao próprio EU. Traz uma
de análise para o Batman? A culpa, por ter a s s i n at u ra m a rca d a p o r d eta l h e s
impelido Bruce ao Batman, impediria este importantes que fazem referência a Bruce,
acesso? como a figura do morcego estar associada
Outra indagação: Batman seria psicótico? aos animais moradores do subterrâneo da
Batman costuma ser descrito como o mais mansão Wayne e a lembrança de seu pai,
louco de todos (diz-se que não há nada mais Thomas Wayne, vestido de Zorro nas noites
louco que o Batman!). A resposta para essa de Halloween, com sua máscara, a roupa
indagação, à luz da interpretação proposta sempre preta, a capa e a promessa de
por este trabalho é que sim, Batman é aniquilação de tudo aquilo que pudesse ser
psicótico, Batman é PARANOICO. considerado injusto.
Isso pode ser defendido através de vários Um padrão constante também pode ser
pontos em sua história, a saber: identificado na montagem e identificação
O problema maior de Bruce Wayne não é a dos vilões combatidos pelo Príncipe de
realidade do assassinato dos seus pais, mas Gotham. São todos excêntricos, usam
a certeza de que é culpado por isso. Esta
culpa atestada, intuição delirante
caracteristicamente estrutural (LACAN,
1955/56, p. 45), já pode ser reconhecida 4 Em Batman Begins (2005) e Batman Cavaleiro das
Trevas (2008), aparece outro personagem que tem
clinicamente como a assinatura do delírio
uma função semelhante - Lucius Fox. Fox é amigo e
paranoico, que teria levado Bruce Wayne a homem de confiança de Bruce Wayne em seus
ter a crença, a revelação, de que somente negócios, além de ter sido o responsável pela criação
e l e p o d e s a l va r G o t h a n C i t y d a dos artefatos do Batman, chegando a assumir o
criminalidade, somente ele pode caçar os controle das Indústrias Wayne. Estes filmes,
juntamente com O Retorno do Cavaleiro das Trevas
m o n st ro s d a c i d a d e . “O p ró p r i o
compõem a Trilogia de Christopher Nolan.
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roupas extravagantes e egressos do Asilo dúvida que o neurotizaria.


Arkham, instituição psiquiátrica para onde E Alfred? Para quê?
voltam após serem capturados pelo
Homem Morcego. 4. Alfred: secretário?
Os vilões nunca são presos pela polícia, Se assim for, se Batman é louco, psicótico,
nem mandados para a cadeia ou julgados paranoico, a consequência é que Alfred é o
por um tribunal “comum”, eles voltam para mordomo de um louco, secretariando seus
o Asilo Arkham e lá ficam à espera da delírios, a serviço de suas maluquices. Nada
próxima aventura, que sempre traz o distante da proposta de Lacan, no
mesmo objetivo que é voltar a perseguir... Seminário 3, de que, diante da psicose não
Batman! Admitida por Bergeret (2006, p. se recue, mas que haja um único e só
175) como condição essencial da oferecimento: ser o secretário do alienado.
organização objetal do paranoico, essa Alfred costuma ser mencionado como “o
relação de objeto entre Batman e (seus) Batman do Batman”, destacando-se, assim,
vilões só pode ser considerada na medida sua função de bastidor, de aparato, de
em que lhe permite assumir e confirmar a sustentáculo. Desde aí, configurar-se-ia a
onipotência de seu controle sobre eles. ação de possível enlaçamento ao psicótico.
Uma contrapartida narcísica evidente, cuja A referência a um secretariado na psicose
onipotência o coloca no centro, como aponta para o mesmo lugar: o de estar a
agente determinante e criador, ao qual o postos para toda e qualquer escuta; coisa
objeto “deverá sua vida e sua função” que, usualmente, os alienistas, diz Lacan
(BERGERET, 2006, P. 175). (1955/56), não fazem. Também na psicose
Emocionalmente exausto, James Gordon há um equilíbrio significante-significado,
caiu de joelhos. ainda que precário, e se posicionar como
- O que está fazendo aqui? alguém que está disposto a ouvir é
- Vim porque você precisa de mim. – condicionar o psicótico – ele também – a
sussurrou o morcego. – Porque a caçada um lugar de sujeito.
não terminou... Os monstros ainda estão lá Neste momento, Lacan (1955/56) pensava
fora. que o delírio poderia funcionar como
(HICKMAN, 2013, p. 56) metáfora (Metáfora Delirante) para
Algumas apresentações sobre o tema, nas substituir a falta do Nome-do-Pai. De
revistas e nos filmes, parecem dizer acordo com Beneti (2005), a função do
também de uma possibilidade obsessiva. secretário do alienado nessa primeira
Todavia, vale uma nota final a este respeito. clínica lacaniana, em se tratando de um
Na neurose obsessiva, como em todas as caso de paranoia, era a de fazer uso da
neuroses, há um mito em torno do qual o metáfora delirante para preencher a falha
neurótico se organiza, sendo ele a ficção de simbólica, produzir um esvaziamento do
sua origem. imaginário transbordado de sentido,
Assim, poderíamos ver, na história de garantindo, assim, um apaziguamento do
Bruce, um mito, tal como o mito individual sujeito. A metáfora delirante, utilizada de
do neurótico (LACAN, 1953)? Não, pois os forma acertada pelo secretário do alienado,
detalhes de sua história estão servia como “ponto de basta”, ancorando o
estreitamente enlaçados à sua identidade sujeito no Laço Social.
de tal forma que, em nenhum momento, há O ra , o m o rd o m o A l f re d fa z i s s o
questionamento sobre eles como verdade brilhantemente! Ele está sempre a serviço
absoluta. Na certeza, Bruce se distancia da do jovem Bruce. Não só atende suas
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solicitações, como também organiza todas sujeito psicótico, fazendo por ele na medida
as suas relações interpessoais, da sua necessidade, mapeando a sua
principalmente nos momentos em que errância. Do sintoma ao sinthome, a
Brune Wayne se encontra diferença, a outra possibilidade, a
demasiadamente fagocitado, nomeado, novidade, está em que o secretário do
ordenado pelo Batman. Alfred lembra alienado na segunda clínica permite que o
sempre que ele tem uma vida e que deve sujeito faça uso do seu Saber delirante para
aprender a perceber e respeitar seus inventar a SUA solução, a SUA saída para o
limites. Os limites de Bruce Wayne, claro! Já sofrimento.
que o Batman não tem limites. Beneti (2005) afirma que o secretário do
Entretanto, apesar de secretariar o alienado não deve ocupar o lugar do
alienado servindo-se da metáfora delirante significante mestre, ao invés disso ele
como “ponto de basta” ser muito precisa executar o trabalho cuidadoso de,
funcional, também pode gerar um custo ao mesmo tempo em que dá sustentação
subjetivo muito alto, condenando o sujeito ao sujeito psicótico, deixar o lugar do
psicótico a prosseguir infinitamente significante mestre vazio para que o sujeito
dependente das ações de seu secretário. possa produzir ali o seu Sinthome.
Beneti (2005) afirma que, como não há Nada como um bom secretário, um
garantia de sustentação do Laço Social pela mordomo, para arcar com tal peso.
metáfora delirante, uma vez que o
secretário saia de cena, por qualquer que CONSIDERAÇÕES FINAIS
seja o motivo, isso pode facilmente levar a Como dito anteriormente, este trabalho foi
um novo desencadeamento da psicose motivado pelo texto de Vieira (2005), em
após um período de estabilização. que o autor faz a proposição de um Batman
A solução seria ir além? “Mais além da inanalisável. Isso poderia ser aceito se
possibilidade de construção de uma ainda considerássemos que a psicose é
metáfora delirante não haveria outras resistente ao tratamento psicanalítico, uma
possibilidades?” (BENETI, 2005, p. 10). vez que a libido narcísica retornaria para o
Após percorrer uma longa e profícua EU do sujeito, criando uma barreira para a
trajetória de produção teórica, em transferência ao analista.
1975/76, Lacan aponta que uma Lacan (1955/56) vai além, propõe que não
apresentação sintomática pode ser o nó de se recue frente à psicose e que o secretário
amarração para que a psicose se sustente, do alienado seja, não a babá do louco, mas
sendo o sintoma o quarto elo, uma função aquele que tem condições que ouvir o
reparadora do nó borromeano. Neste discurso psicótico ao pé da letra, utilizando
outro momento, Lacan (1975/76) a metáfora delirante como ponto de basta,
apresenta uma clínica baseada no garantindo a ancoragem simbólica no furo
Sinthome (fazer bem com seu sintoma, o deixado pela forclusão do Nome-do-pai.
estilo sinthomático do falasser), que E assim como o mordomo Alfred, sem
permite pensar a psicose como uma nunca desistir ou recuar, Lacan (1975/76)
proposta que deve ser aceita. vai mais-além, abre novas possibilidades
Na segunda clínica lacaniana, assim como quando aposta que o Sinthome pode ser
na primeira, o secretário do alienado ainda encarado como uma possibilidade de
deve garantir a ancoragem do sujeito existência, sendo vital para o sujeito
psicótico na matriz simbólica, deve psicótico. Propõe que o secretário do
continuar fazendo isso estando a serviço do alienado não pense na cura, nem tente
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entender o delírio, muito menos adaptar o LACAN, J. O Seminário, Livro 17. O Avesso
s u j e i t o, m a s p r o c u r e m a n e j a r a da Psicanálise. Rio de janeiro: Zahar. 1992
transferência no sentido da produção do (1969/70).
Sinthome, seja ele qual for. LACAN, J. O Seminário, Livro 23. O
Assim, Batman é o Sinthome de Bruce Sinthoma. Rio de janeiro: Zahar. 2007
Wayne, sustentado pelo mordomo Alfred. (1975/76).
O secretário que o reconheceu na solução L A P L A N C H E , J . Vo c a b u l á r i o d e
inventada pelo próprio sujeito, ainda que Psicanálise/Laplanche e Pontalis. São
ele fosse extravagante, culpado, mascarado Paulo: Martins Fontes. 1992.
e paranoico. MANNING, M. The Batman Files. Andrews
MacMeel Publishing. 2011. Disponível na
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS i n t e r n e t e m :
BATMAN: a trajetória do homem-morcego http://books.google.com.br/books?id=Ou
nos quadrinhos. Disponível em: Z0VXQqGAkC&printsec=frontcover&hl=pt-
https://hqrock.wordpress.com/2011/11/0 BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v
8 / b at m a n - a - t ra j e to r i a - d o - h o m e m - =onepage&q&f=false – Acesso em 12 de
morcego-nos-quadrinhos/ - Acesso em 11 novembro de 2014.
de novembro de 2014. NICÉAS, C. A. Introdução ao narcisismo. O
BENETI, A. Do discurso do analista ao nó amor de si. Rio de Janeiro: Civilização
borromeano: contra a metáfora delirante. Brasileira. 2013.
Opção lacaniana online, n. 3. 2005. SOLER, C. O Inconsciente a céu aberto da
BERGERET, J. Psicopatologia: teoria e psicose. Rio de Janeiro: Zahar. 2007.
clínica. Porto Alegre: Artmed, 2006. TASSI, V. S. Batman e a questão da loucura
HICKMAN, T. Wayne de Gotham. Rio de na história do Cavaleiro das Trevas.
Janeiro: Casa da Palavra. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) –
LACAN, J. O mito individual do neurótico. Curso de Psicologia, Universidade
Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. 2003 Bandeirante de São Paulo, São Paulo. 2010.
(1953). TERRA ZERO. Como Alfred conheceu
LACAN, J. O Seminário, Livro 3. As Psicoses. B at m a n ? D i s p o n í ve l n a i nte r n e t :
Rio de Janeiro: Zahar. 1985 (1955/56). http://www.terrazero.com.br/v2/2012/08
LACAN, J. Nota sobre a criança. Outros /como-alfred-conheceu-o-batman/ -
Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. 2003 (1969). Acesso em 12 de novembro de 2014.

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