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CULTO
CRISTÃO
James F. White
SEMINÁPIO Oíf^ÓRDIA
São Le peido
- 6 I 3 U '' T E G A -
Seminário Coneórdia
i
V-
I E P G ßSinodal
1997
Traduzido do original Introduction to Christian Worship, edição revis-
ta. © 1990 Abingdon Press, Nashville (TN), Estados Unidos da América.
Notas
P assada mais uma década em que lecionei culto cristão, fico estupe
fato com quantas mudanças os últimos dez anos trouxeram para o
mundo, para a igreja, para a ciência litúrgica e para as minhas próprias
perspectivas. Uma nova edição parece necessária para que este livro
Bibliografia continue atendendo adequadamente a seus leitores e suas leitoras.
Abreviaturas O próprio mundo aproximou-se mais daquilo que parece ser uma
era de paz e um futuro de esperança. A igreja mudou em vários
índice Remissivo sentidos, e uma das mais importantes mudanças é a ampla aceitação
de novas práticas no culto, as quais, em certas igrejas, acabaram
sacramentadas pela inclusão em novos manuais de culto. A t é mesmo
os livros católicos romanos pós-Vaticano I I estão sendo editados em
novas versões, como o recente Ritual de Exéquias (1989); igualmente
traduções dos últimos livros revisados (Ritual de Bênçãos, Cerimonial
dos Bispos) finalmente saíram do prelo (1989). Outras igrejas produzi-
ram novos manuais de culto, como The United Methodist Hymnal
(1989) e The Preshyterian Hymnal (1990), que fazem com que livros
anteriores fiquem obsoletos.
A ciência litúrgica também não parou no tempo. Durante a última
década fomos supridos com mais estudos acadêmicos sobre o culto do
que em qualquer década anterior. Diversas editoras estão pela primeira
vez apresentando títulos sobre culto em seus catálogos. Provavelmente
há mais liturgistas nos Estados Unidos hoje do que na soma de todas as
outras épocas da nossa história. A minha própria ótica a respeito de
muitas coisas mudou na medida em que, após 23 anos de docência em
seminário, passei a ensinar aqueles/as que estão agora lecionando em
seminário ou brevemente passarão a fazê-lo. Aprendi muito com meus
alunos e minhas alunas e fico feliz em constatar que suas contribuições
para a igreja e para o mundo acadêmico se ampliam cada vez mais.
Muito do que aprendi durante esses últimos dez anos acarretou as
mudanças que se encontram nestas páginas.
Fico maravilhado e ao mesmo tempo perplexo pelo sucesso deste
livro, que superou em muito as minhas expectativas. A o que parece, ele
se tornou o compêndio sobre culto mais amplamente usado em seminá-
rios americanos, tanto católicos romanos quanto protestantes, e até
mesmo ortodoxos e carismáticos. Isto me intimida um pouco; eu não
gostaria de alterar qualquer que seja a fonte do seu atrativo. Mas quero,
sim, torná-lo mais útil para todos/as. Por isso tentei adaptá-lo mais aos
católicos romanos e a uma gama mais diversificada de protestantes.
Prefácio
Isto exigiu certas mudanças estruturais. A g o r a há mais material sobre
culto e justiça, bem como capítulos à parte sobre a oração diária e
sobre a liturgia da palavra. A seção sobre a reconciliação foi transferida ( E d i ç ã o de 1980)
do capítulo sobre a iniciação para o capítulo final, acrescentando-se ali
mais material sobre o comissionamento ou profissão religiosa. Essas
alterações, assim espero, farão com que o material seja mais fácil de
acompanhar.
N o livro faço referência às edições atuais de cerca de 50 dos manuais D epois de passar 20 anos lecionando, a gente necessariamente acaba
por formar uma opinião sobre algumas questões. Daqui a duas
décadas tenho certeza de que o meu juízo a respeito de certos assuntos
de culto mais amplamente usados na A m é r i c a do Norte de fala inglesa e
nas Ilhas Britânicas. Essas referências se encontram em tabelas ao estará mais maduro. Mas, a meio caminho andado, esta parece ser uma
final de cada seção em questão. Os cerca de 600 termos em negrito se boa ocasião para reunir o que ensinei e antever aquilo que ainda
revelaram úteis para estudantes ao recapitularem o vocabulário básico preciso aprender. A experiência de escrever este livro é um maravilho-
necessário para o estudo do culto. Cada termo é definido no contexto. so exercício de condensar num único volume tudo que fiz ao longo de
Pensei em incluir ilustrações. Hesitei, entretanto, não só pelo que isto vários anos. Quando embarquei neste ministério, havia poucos que
lecionavam culto cristão. Atualmente, nada me dá prazer maior do que
teria significado para o preço, mas também pelo fato de cada ilustração
ter tantos/as companheiros/as novos/as neste trabalho com os/as quais
ser tão específica culturalmente, que ela tende a limitar a imaginação a
posso compartilhar os resultados do labor que desenvolvi até hoje e
si própria, quando em quase todos os casos eu gostaria de retratar uma
visualizar o futuro para onde eles/as irão. Espero que este livro lhes
grande variedade de possibilidades. Muitas vezes se pode fazê-lo mais ajude em seu ensino, até que encontrem maneira melhor de interpretar o
facilmente sem fotografias do que com elas. culto cristão. Com Pedro Lombardo posso dizer: "Se alguém conseguir
Gostaria de agradecer a diversos/as estudantes por suas contribui- explicar isto melhor, não ficarei com inveja."
ções, particularmente a meus assistentes de pós-graduação, Michael
Moriarty e Grant Sperry-White, que foram muito além de checar deta- Tentei expor nestas páginas de forma tão sucinta quanto possível
lhes, apresentando sugestões concretas para importantes melhorias. tudo aquilo que considero ser informações essenciais para munir al-
Agradeço igualmente a Nancy Kegler, Sherry Reichold e Cheryl Reed guém dos elementos necessários para o ministério da liderança no
por sua habilidade em produzir um manuscrito claro a partir de meu culto. Tentei incluir tudo que realmente se precisa saber para planejar,
original desordenado. Por fim, tenho uma grande dívida para com preparar e conduzir um culto cristão, deixando fora os detalhes referen-
minha esposa, Dr Susan J. W h i t e , por sua habilidade acadêmica em
8 tes aos costumes ou aos manuais de culto pertinentes à denominação de
melhorar o manuscrito e pela paciência com o autor tantas vezes preo- cada um/a. A s informações contidas neste livro deveriam ser relevantes
cupado. Que esta nova edição venha prestar um bom serviço às igrejas. por igual tanto para pastores/as ou sacerdotes quanto para membros
leigos de comissões de culto. Naturalmente terão que complementar
este material com sua familiaridade com seus próprios costumes ou
Universidade de Notre Dame
manuais de culto.
18 de setembro de 1989
James F. W h i t e Para facilitar essa tarefa, fiz referência neste livro aos manuais de
culto mais amplamente usados, ou seja, àqueles usados pela maioria
dos cristãos de língua inglesa nos Estados Unidos. Alusão freqüente é
feita aos manuais católicos romanos revisados, particularmente o ritu-
al, o sacramental e o pontifical. O novo Lutheran Book oí Worship foi
publicado justamente quando estas páginas foram iniciadas, e é bem
provável que o novo Book oí Common Prayer americano receba aprova-
ção final pouco antes da publicação deste livro. Assim sendo, pude fazer Embora boa parte do livro seja de natureza acadêmica, todo ele está
referência a ambos. Como estou profundamente envolvido na edição do direcionado para o aspecto pastoral no sentido de fortalecer a liderança
Supplemental Worship Resources da Igreja Metodista Unida, foi possí- de culto nas comunidades cristãs. Boa parte está formulada de maneira
vel fazer referência àqueles volumes já publicados e àqueles ainda por descritiva a fim de descrever o que foi e por que, porém a maioria dos
serem publicados, bem como ao Book of Worship de 1965. Remeto o/a capítulos são concluídos com uma seção normativa sobre o que deveria
leitor/a também ao Worshipbook presbiteriano de 1970 e ao Services of ser, e por que o deveria, nas igrejas hoje em dia. A s seções descritivas
the Church (1969) e ao Hymnal (1974) da Igreja Unida de Cristo. fornecem o pano de fundo para as partes normativas. Qualquer pessoa
A ocasião é adequada para se resumir o que foi realizado na onda de encarregada de liderança no culto tem a responsabilidade de tomar
revisões litúrgicas pós-Vaticano II, quase completas atualmente. N o muitas decisões. Entretanto, essas decisões só podem estar bem infor-
túmulo do papa Martinho V estão gravadas as palavras: "Sua época foi madas quando se basearem em todos os fatores relevantes. Por isso em
de felicidade." Esta parece ser uma descrição apropriada da situação cada capítulo as informações históricas e teológicas precedem as se-
ecumênica do culto na nossa época. Podemos v e r na última década e ções pastorais. Quando normas pastorais para ações são enunciadas,
meia de revisão litúrgica um período de felicidade em que as igrejas do isto sempre é feito em termos daquilo que os cristãos têm praticado e
mundo se aproximaram mais compartilhando suas riquezas de culto como têm refletido a respeito dessas práticas. O culto cristão, da mes-
umas com as outras. Não há evidência maior das conquistas ecumênicas ma forma como a ética cristã, é um assunto tanto descritivo quanto
do nosso tempo do que a reaproximação ocorrida no culto cristão nos normativo. Decisões específicas precisam ser tomadas localmente em
anos 60 e 70. Assim sendo, é possível agora escrever uma introdução ao função das pessoas e dos lugares, porém tentei esboçar normas amplas
culto cristão que, assim espero, atenderá tanto a católicos romanos dentro das quais se possam tomar decisões pastorais.
quanto a protestantes. Não é fácil condensar toda uma disciplina nas páginas de um livro de
O estudo do culto cristão pode oferecer a qualquer pesquisador/a modestas dimensões. Quase cada parágrafo representa material que
interessado/a um recurso valioso para a compreensão do próprio cris- poderia preencher um livro inteiro ou vários livros. Tive que reduzir
tianismo. N ã o há maneira melhor de se descobrir o cerne do cristianis- livros a parágrafos, capítulos a frases, dando pouco espaço para funda-
mo do que tornar-se mais ciente daquilo que os cristãos fazem quando mentar afirmações. Essa frustração foi ligeiramente atenuada pela rela-
se reúnem para o culto. Tanto a pessoa cristã quanto a não-cristã ção da bibliografia afim ao final do livro e nas notas. Muitos livros
podem aprender muito sobre a tradição religiosa dominante na cultura essenciais estão citados nas notas, e essas referências não são repeti-
ocidental ao incrementar seu conhecimento sobre o culto cristão. das nas bibliografias. Tive que me concentrar em prioridades de interes-
Este livro pretende ser uma introdução ao culto cristão. Mas é tam- se mais amplo, eliminando todas as outras. U m número desproporcio-
bém uma interpretação do assunto. Não hesitei em arriscar novas nalmente reduzido destas páginas discute o culto nas igrejas ortodoxas
percepções e interpretações a que eu próprio cheguei. Outras pessoas orientais, uma vez que a maioria de minhas leitoras e meus leitores
podem e hão de refutar algumas delas. Aquilo que for válido nessas representa a cristandade ocidental e terá interesse maior em sua pró-
interpretações permanecerá; o que não o for será substituído por al- pria ascendência linear do que numa linha colateral. Pouco se encontra
guém mais perceptivo. Experimentei e aprimorei ao longo dos anos a aqui sobre a liturgia do bispo, que interessa a uma minoria reduzida (e
organização básica do assunto e vários detalhes ao usá-los com minhas não oprimida). Também os interesses específicos de congregações mo-
alunas e meus alunos. É estimulante antever que outras pessoas desen- násticas receberam pouca atenção.
volverão interpretações mais satisfatórias nos próximos anos. Muita Concentrei-me nas práticas e conceitos da igreja dos primeiros qua-
pesquisa ainda precisa ser feita em estudos litúrgicos. Muitas áreas tro séculos. Se se sabe quais foram as decisões tomadas pela igreja
ainda são misteriosas, como as origens do culto sinagogal, as fontes do neste período e seu porquê, todo o resto é simples. Boa parte da cristan-
Dia de Reis (Epifania), os detalhes do ofício das catedrais, o cânone dade hoje em dia se encontra num estágio de resgate das práticas e
romano entre Hipólito e Ambrósio e a gênese do culto dominical normal conceitos dos primórdios. O futuro é que julgará se romantizamos
usado nas tradições americana reformada, metodista e das igrejas li- demais ou não o período inicial. Seja como for, o conhecimento das
vres. Se este livro puder induzir outras pessoas a ficar na expectativa decisões tomadas no período inicial é essencial para se compreender
prazerosa por pesquisa vindoura, terá sido uma bem-sucedida introdu- todos os desdobramentos subseqüentes.
ção e interpretação. A fim de facilitar o estudo, coloquei nomes e termos centrais e algu-
mas datas em negrito. Boa parte da introdução a qualquer assunto
consiste na familiarização com o vocabulário básico. A s palavras e
expressões essenciais para os estudos litúrgicos são tornadas mais
conspícuas, de modo que os/as estudantes possam fazer a recapitula-
ção verificando sua familiaridade com tais termos. Capítulo 1
Hoje em dia estamos mais conscientes do que nunca de quão rapida-
mente nossa linguagem está mudando. Isto é particularmente evidente no
caso de termos que indicam identidade sexual. A resolução futura dessas
mudanças ainda é incerta, e termos que usamos hoje ainda têm caráter
Que Queremos Dizer
provisório. Alguns dos que adotei indubitavelmente parecerão desconhe- com "Culto Cristão"?
cidos e duros. Mas a infelicidade é melhor do que a injustiça, e apenas o
tempo dirá que termos virão a prevalecer no que se refere a Deus. Tenho
que solicitar que meus leitores e minhas leitoras sejam indulgentes com
termos provisórios enquanto evolui o uso no vernáculo.
Este livro representa a contribuição de muitas pessoas que deram de
si para torná-lo uma obra melhor. Sou grato às seguintes pessoas: Dr.
P ara se falar de modo inteligente sobre '!ciillQ_ cristão", é preciso
decidir primeiro o que o termo significa exatamente. Não é uma
expressão fácil de definir. Mas enquanto não se fizer uma reflexão
H o y t L. Hickman, Dr. Richard Eslinger e Elise Shoemaker, da Seção sobre o que distingue o culto cristão autêntico, é fácil confundir esse
sobre Culto da Junta de Discipulado da Igreja Metodista Unida; meus culto com acréscimos irrelevantes de culturas atuais ou passadas em
colegas da Perkins School of Theology, professor H. Grady Hardin, que os cristãos celebraram culto.
professor V i r g i l P. Howard e decano Joseph D. Quillian, Jr.; professor E m primeiro lugar, a própria palavra "culto" já é exasperadoramente
Don E. Saliers, da Candler School of Theology; Arlo Duba, do Princeton difícil de se definir. O que distingue o culto de outras atividades huma-
Theological Seminary; professor W i l l i a m Crocket, da Vancouver School nas, particularmente daquelas que se caracterizam por sua freqüente
of Theology; Louise Shown e I r m ã Nancy Swift, do St. John's Seminary, repetição? Por que o culto é uma atividade diferente das tarefas diárias
por lerem e comentarem com muita propriedade o manuscrito. Ainda ou de qualquer ato habitual? Mais especificamente, qual é a diferença
estou aprendendo muito com meu professor de seminário Paul W. Hoon, entre o culto e outras atividades que se repetem na própria comunidade
que continuou a ensinar-me por meio de seus comentários e suas corre- cristã? Por exemplo, o que distingue o culto da educação cristã ou de
ções a respeito destas páginas. O professor Decherd H. Turner, Jr., obras de caridade?
diretor da Bridwell Library, tem dado muito de si para ajudar muitas
E m segundo lugar, depois de resolver o que queremos dizer com
outras pessoas a abraçarem a carreira acadêmica. Reconheço sua cons-
"culto", como vamos determinar o que torna t a l culto "cristão"?
tante generosidade dedicando este livro a ele.
Nossa cultura está cheia de vários outros tipos de culto. Diversas
Bonnie Jordan fez prodígios ao decifrar meu manuscrito a uma dis- r e l i g i õ e s orientais foram introduzidas em muitas comunidades.
tância de 1.900 milhas e transformá-lo em cópia limpa e ordenada. Muitas praticam culto, porém obviamente ele não é cristão. Quais
Minha esposa e filhos foram muito negligenciados durante esses dias características distintivas tornam " c r i s t ã o " este ou aquele culto?
em que mereciam mais da companhia que dediquei exclusivamente à A l i á s , será sempre " c r i s t ã o " todo culto celebrado pela comunidade
máquina de escrever. Peço o seu perdão e espero ficar mais humano cristã?
agora que estas páginas estão concluídas.
Nenhuma dessas questões é fácil de se resolver, mas elas certamente
precisam ser examinadas. E não são pura e simplesmente assunto
Passumpsic, Vermont especulativo de interesse apenas teórico. A definição do que caracteri-
5 de março de 1979 za especificamente o culto cristão é uma ferramenta prática vital para
qualquer pessoa que tenha a responsabilidade de planejar, preparar ou
conduzir o culto cristão. Em anos recentes, o aparecimento de muitas
formas novas de culto fez com que este tipo de análise básica se tornas-
se ainda mais crucial para as pessoas encarregadas do ministério do
culto. Elas precisam constantemente participar de decisões ao servi-
rem à comunidade cristã através da condução do culto. Quanto mais „ções, elas têm demonstrado notável durabilidade. Uma maneira de des-
prática é a decisão, tanto mais necessária se torna muitas vezes a crever o culto cristão é simplesmente alistar (como faremos agora)
fundamentação teórica. Será determinado ato, como por exemplo o voto essas principais estruturas e ofícios. Não precisamos entrar em gran-
de lealdade à bandeira nacional, adequado dentro de um culto cristão? des detalhes aqui, uma vez que a maior parte dos outros capítulos do
Ou estará fora de lugar? Deveriam outros atos, como a celebração da livro o farão de forma bem mais aprofundada.
adoção de uma criança, que não temos habitualmente incluído no culto, Mesmo dentro do. Novo Testamento vemos indicações da existência
ter um lugar na vida cultual da igreja? Ou é algo impróprio no culto de uma estrutura semanal do tempo. Essa estrutura foi elaborada cedo,
cristão? Somente tendo uma definição funcional de "culto cristão" é que em diversos calendários anuais para comemorar eventos na memória da
se pode enfrentar esse tipo de problema. comunidade cristã: a morte e ressurreição de Cristo, por exemplo, e
Explorarei três métodos para esclarecer o que queremos dizer com atos em memória de diversos mártires locais. Posteriormente elabora-
"culto cristão". Tenho sentido cada vez mais que a abordagem mais ram-se horários diários para a oração pública e particular. A programa-
adequada é a fenomenológica, a qual simplesmente relata e descreve o ção temporal diária, semanal e anual continuam sendo componentes
que os cristãos em geral fazem ao se reunir para o culto. Embora este importantes do culto cristão; a sua utilização será estudada no capítulo
possa parecer o método mais simples e direto, a observação cuidadosa 2. Mas, tendo em vista nosso objetivo imediato, j á podemos dizer que o
é essencial se quisermos entender exatamente o que significam de fato j3ulto cristão é um tipo de culto que se baseia fortemente na estruturação
as estruturas ou ofícios que os cristãos usam repetidas vezes para o do tempo para cumprir seus objetivos.
culto. A maior parte deste livro se concentrará na descrição do desenvol- Da mesma forma como julgaram necessário estruturar o tempo, os
vimento, da teologia e do uso de estruturas ou ofícios que estão efetiva- cristãos sempre acharam conveniente organizar o espaço para abrigar
mente em prática. E m segundo lugar convém explorar algumas defini- B possibilitar seu culto. Embora diversas formas tenham sido experi-
ções de maior abstração, as quais uma série de pensadores cristãos mentadas ao longo dos séculos e em diferentes culturas, as exigências
usaram para expor o que entendem ser o culto cristão. E um terceiro em termos de espaço e mobiliário também têm sido notavelmente con-
método consistirá em examinar algumas das palavras-chave que os sistentes. A elas nos dedicaremos no capítulo 3.
cristãos escolhem com maior freqüência (em diversos idiomas) p a r a v
' Antigo e contínuo é o uso de um pequeno número de tipos básicos de
expressar o que experimentam como culto. Esses três métodos deve- ofícios. Em primeiro lugar estão os ofícios de oração pública diária.
riam forçar-nos a refletir sobre o que queremos dizer quando falamos Eles podem tomar várias formas (como veremos no capítulo 4), mas a
de "culto cristão". E finalmente, antes de aceitarmos definições demasi- função de oração e louvor faz deles um componente característico do
ado simples, precisamos considerar também alguns dos fatores que culto cristão.
proporcionam tanto diversidade quanto constância ao. culto cristão.
Outro tipo de ofício tem seu foco na leitura e pregação da Escritura,
sendo por isso muitas vezes denominado 'liturgia da palavra". É conhe-
cido como o culto dominical protestante habitual; também é a primeira
- O Fenômeno do Culto Cristão -- parte da eucaristia ou ceia do Senhor. Examinaremos as formas deste
tipo básico de ofício no capítulo 5. Ele constitui um tipo constante, que
U m a das melhores maneiras de resolver o que queremos dizer com muitos cristãos identificariam como sua experiência primordial do que
culto cristão é descrever as formas exteriores e visíveis através das é culto cristão.
quais os cristãos praticam culto. Esta abordagem encara todo o fenôme- Praticamente toda comunidade cristã tem meios de distinguir entre
no do culto cristão como ele poderia se apresentar a um observador as pessoas que fazem parte dela e as estranhas. Em termos de culto,
desvinculado e alheio tentando entender o que é que os cristãos fazem isto ocorre em várias cerimônias de iniciação cristã. O batismo é o mais
ao se reunir. amplamente conhecido desses ritos, porém a catequese, confirmação,
Isto fica mais fácil pelo fato de que, apesar de ocorrer em diferentes primeira comunhão e várias formas de renovação, afirmação ou
culturas e épocas históricas, o culto cristão tem utilizado formas nota- reafirmação do compromisso batismal também são partes importantes
velmente estáveis e permanentes. Designaremos essas formas como do processo ritual. Nos últimos anos a maioria das denominações cris-
estruturas (como um calendário para organizar o culto ao longo de um tãs teve que repensar sua teologia e prática para o preparo de um
ano) ou ofícios (como a ceia do Senhor). Apesar de constantes adapta- cristão, conforme veremos no capítulo 7.
Desde os tempos do Novo Testamento temos testemunho de cristãos dizemos é um esforço contínuo, sujeito a revisão à medida que nossa
reunindo-se para celebrar o que Paulo chama de "ceia do Senhor" (1 Co compreensão do culto cristão amadurece e se aprofunda.
11.20). Para muitos cristãos esta é a forma arquetípica do culto cristão. O professor Paul W. Hoon deu uma grande contribuição para os
Somente uma pequena minoria evita celebrá-la em formas exteriores. estudos litúrgicos em seu importante livro The Integrity of Worship,
Em muitas igrejas ela é uma experiência semanal ou mesmo diária. O publicado em 1971. Escrevendo a partir da tradição metodista, Hoon
capítulo 8 se ocupará das formas e do significado da ceia do Senhor. preocupa-se com "discernimento teológico bem como sensibilidade para
Finalmente, existe uma variedade de ritos pastorais comuns, sob culturas". Do princípio ao fim ele enfatiza o centro cristológico do culto
uma ou outra forma, a quase todas as comunidades cristãs cultuantes. cristão, o qual "por definição é cristológico, e a análise do significado
A l g u n s deles assinalam etapas na jornada da vida que podemos ou não do culto também precisa ser fundamentalmente cristológica" . Tal culto
1
repetir: ofícios de perdão e reconciliação, ou ofícios de cura e bênção é profundamente encarnacional por ser governado por todo o evento de
para os doentes e moribundos. Outros são ritos de passagem como Jesus Cristo. Q-culto-cristão está vinculado diretamente aos eventos da
casamentos, ordenações, profissão religiosa ou funerais. Muitos desses história da salvação. Cada evento nesse culto está ligado diretamente
ritos pastorais são ofícios ocasionais celebrados apenas quando a oca- ao tempo e à história enquanto cria pontes para eles e os traz para
sião assim exige. Muitas etapas e experiências da vida são comuns a dentro do nosso presente. O "núcleo do culto", diz Hoon, " é Deus agindo
todas as pessoas, sejam elas cristãs ou não. Ofícios ocasionais para para dar sua vida ao ser humano e para levar o ser humano a participar
assinalar essas jornadas ou passagens encontraram lugar permanente dessa vida". Por isso, tudo que fazemos como indivíduos ou como igreja
no culto cristão. Exploraremos esses ritos pastorais no capítulo 9. é afetado pelo culto. A vida cristã, afirma Hoon, é uma vida litúrgica.
Obviamente, essas sete estruturas e ofícios básicos não cobrem todas Hoon sustenta que " o culto cristão é a auto-revelação de Deus em
as possibilidades do culto cristão, mas descrevem efetivamente a vasta Jesus Cristo e a resposta do ser humano", ou uma ação dupla: a ação de
maioria de casos em que esse culto ocorre. Podem-se acrescentar a elas "Deus para com a alma humana em Jesus Cristo e a ação responsiva do
diversos encontros para oração, concertos sacros, reavivamentos, novenas ser humano através de Jesus Cristo". Por meio de sua palavra, Deus
e uma ampla gama de devoções. Mas na maior parte do cristianismo "revela e comunica seu próprio ser ao ser humano". As palavras-chave
todos estes elementos são claramente subsidiários em relação aos sete na compreensão de Hoon a respeito do culto cristão parecem ser "reve-
mencionados e são até certo ponto dispensáveis. Conseqüentemente, l a ç ã o " e "resposta". N o centro de ambas está Jesus Cristo, que revela
nossa exposição neste livro se ocupará sobretudo das sete estruturas e Deus a nós e por meio do qual damos a nossa resposta. Trata-se de uma
ofícios básicos, mencionando ocasionalmente outras possibilidades. relação recíproca: Deus toma a iniciativa dirigindo-se a nós por meio de
Assim, nossa primeira resposta para a pergunta: "Que é culto cris- Jesus Cristo e nós respondemos por meio de Jesus Cristo, usando uma
t ã o ? " é simplesmente relacionar e descrever as formas básicas que ele variedade de emoções, palavras e ações.
assume e dizer que estas são as que melhor o definem. M a s precisamos O pensamento de Peter Brunner, teólogo luterano que lecionou por
investigar também outras abordagens. muitos anos na Universidade de Heidelberg, é paralelo ao de Hoon em
muitos aspectos, porém ele se expressa em termos bastante diferentes
em sua importante obra Worship in the Name of Jesus. Brunner desfruta
da clara vantagem de usar o termo alemão para designar o culto,
Definições de Culto Cristão
Gottesdienst, que tem tanto a conotação de serviço de Deus aos seres
humanos quanto a de serviço dos seres humanos a Deus. Brunner apro-
Nossa intenção ao examinar as várias maneiras como diferentes veita essa ambigüidade e fala da "dualidade" do culto. O cerne do livro
pensadores cristãos falam sobre o culto cristão não é fazer um estudo consiste em dois capítulos intitulados "Culto como serviço de Deus à
comparativo, mas estimular a reflexão. A melhor maneira de se enten- comunidade" e "Culto como serviço da comunidade perante Deus". Nes-
der o significado de qualquer termo é observá-lo em uso, ao invés de dar ta dualidade vemos similaridades com os conceitos de revelação e respos-
uma simples definição. Portanto, daremos uma olhada por sobre os ta de Hoon, porém mais uma vez é necessário cautela, uma vez que Deus
ombros de pensadores protestantes, ortodoxos e católicos para ver é atuante em ambas. Do início ao fim, é Deus sozinho que torna o culto
como usam o termo. Nenhum dos seus variados usos do termo exclui possível: "A dádiva de Deus evoca a entrega humana a Deus." 2
daquilo que Deus já fez. O culto, diz ele, "resume e confirma sempre de Idéias um tanto semelhantes são expressas a partir da perspectiva
novo a história da salvação cujo ponto culminante se encontra na inter- ortodoxa pelo falecido professor Georg Florovsky: " O culto cristão é a
venção encarnada do Cristo. Nesse resumo e confirmação reiterados, o resposta dos seres humanos ao chamado divino, aos 'prodígios' de
Cristo continua sua obra salvadora por meio do Espírito Santo" . Tal
3
Deus, cuhiiinandono ato redentor de Cristo," Florovsky faz questão de
5
culto está estreitamente ligado à crônica bíblica dos eventos salvíficos. enfatizar a natureza comunitária desta resposta ao chamado de Deus:
Ele proporciona uma síntese renovada do que Deus fez e uma antecipa- "A existência cristã é essencialmente comunitária; ser cristão significa
ção renovada do que ainda virá a ser. estar na comunidade, na igreja." É nesta comunidade que Deus atua no
culto, tanto quanto os próprios cultuadores. Como resposta à obra de
A descrição de von Allmen a c e r c a do culto da igreja apresenta
Deus tanto no passado quanto em nosso meio, " o culto cristão é primor-
outros aspectos importantes. Q culto é a "epifania da igreja", a qual,
dial e essencialmente um ato de louvor e adoração, que também implica
visto que resume a história da salvação, capacita a igreja a "tornar-se
grato reconhecimento pelo amor abrangente e bondade redentora de
ela mesma, tomar consciência de si mesma e se confessar entidade
Deus" .
6
secular professe indiferença em relação àquilo que os cristãos fazem mesma forma que Brunner, Nissiotis enfatiza a "absoluta prioridade de
quando se reúnem. O culto cristão contesta a justiça humana e aponta Deus e seu ato", que os seres humanos somente podem reconhecer. Pelo
para o dia em que todas as conquistas e fracassos serão julgados, poder do Espírito Santo, a igreja como corpo de Cristo pode oferecer o
oferecendo, porém, esperança e promessa pela afirmação de que, e m culto que é agradável como ato tanto proveniente da trindade quanto
última análise, tudo está nas mãos de Deus. Para von Allmen, o culto direcionado para ela.
cristão tem três dimensões-chave: recapitulação, epifania e juízo. Em círculos católicos romanos tem sido comum descrever o culto
Escrevendo a partir da tradição anglo-católica, Evelyn Underhill pu- como "a glorificação de Deus e a santificação da humanidade". Esta
blicou seu clássico estudo Worship em 1936. Ela expressou uma série expressão provém de um motu próprio clássico de 1903 sobre música
de concepções de que j á tratamos, apresentando, porém, algumas per- na igreja, de autoria do papa Pio X, no qual ele falou do culto como
cepções distintas. Seu livro principia com as palavras: "O culto, em sendo para "a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis" . O8
papa Pio XII repetiu esta expressão em sua encíclica de 1947 sobre o
culto, intitulada Mediator Dei. A mesma definição aparece com fre- seu poder para salvar. O que Cristo realizou no passado volta a ser
qüência na Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Vaticano II, de concedido à pessoa que presta culto, para que o experimente e aproprie
1963, que " e m mais de 20 passagens corrige a definição anterior de no tempo atual. É uma forma de viver com o Senhor. A igreja apresenta
liturgia e fala primeiro da santificação do ser humano e então da o que Cristo realizou por meio da nova representação desses eventos
glorificação de Deus" . Esta inversão de ordem lança a insistente per-
9 pela comunidade cultuante. A pessoa participante do culto pode assim
gunta: o que tem precedência, a glorificação de Deus ou tornar santas as voltar a experienciá-los para sua própria salvação.
pessoas? Muitos dos debates sobre o culto em anos recentes têm girado Cada uma dessas diversas definições é apenas uma estação no trajeto
em torno dessa questão, que é particularmente pertinente para os músi- do/a próprio/a leitor/a rumo a uma compreensão pessoal do culto cristão.
cos de igreja. É preciso ficar aberto para descobrir outras definições e chegar a uma
Deveria o culto ser a oferta dos nossos melhores talentos e artes a compreensão mais profunda das mesmas, à medida que se continua a
Deus, mesmo que em formas inusitadas ou mesmo incompreensíveis fazer experiências e refletir sobre o que define o culto cristão.
para as pessoas? Ou deveria, antes, articular-se em linguagem e estilos
familiares de modo que o significado seja captado por todos, embora o
resultado seja artisticamente menos impressionante? Felizmente essas
O Linguajar Cristão sobre o Culto
alternativas são falsas. Glorificação e santificação formam uma unida-
de. Ireneu nos diz que a glória de Deus é um ser humano plenamente
Outramaneira útil de esclarecer o que queremos dizer com "culto
vivo. Nada glorifica a Deus mais do que um ser humano tornado santo;
cristão" 6 verificar""algumas palâvras-chave que a comunidade cristã
nada tem maior probabilidade de tornar santa uma pessoa do que o
escolheu para falar sobre seu culto. Muitas vezes essas palavras eram
desejo de glorificar a Deus. Tanto a glorificação de Deus quanto a
de origem secular, mas foram escolhidas como o meio menos inadequa-
santificação das pessoas caracterizam o culto cristão. Tensões aparen-
do de expressar o que a comunidade reunida experimentava no culto.
tes entre elas são superficiais. O uso que Hoon faz dos conceitos de
revelação e resposta lança luz sobre isto: é preciso abordar as pessoas Há uma rica gama dessas palavras em uso no passado e na atualida-
em termos que elas possam compreender, e elas precisam expressar de. Cada palavra e cada idioma acrescentam nuanças de significado que
seu culto em formas que tenham integridade. Tanto a abordabilidade complementam os outros. Um rápido apanhado dos termos mais ampla-
quanto a autenticidade fazem parte do culto. A l é m disso, pessoas artis- mente usados com relação ao culto em diversas línguas ocidentais pode
ticamente ingênuas muitas vezes criaram arte elevada pela sinceridade mostrar as realidades que estão sendo expressas.
de sua expressão. Já nos deparamos com uma palavra importante, o termo alemão
Outra maneira de se falar sobre o culto cristão tornou-se comum em GoÉüesdiensíwTrata-se de uma palavra da qual a língua inglesa poderia
anos recentes. Trata-se da tendência a descrever o culto cristão como "o ter inveja. Para reproduzi-la, é necessário um punhado de palavras do
mistério pascal". Boa parte da popularidade deste termo se deve aos vernáculo: "o serviço de Deus e nosso serviço para Deus". O equivalen-
escritos de Odo Casei, O.S.B., monge beneditino alemão falecido em te a "Deus" (Gott) pode-se discernir, porém menos familiar é dienst.
1948. A s raízes desse termo são tão antigas quanto a igreja. O mistério Pessoas viajadas a reconhecerão como a palavra que identifica postos
pascal é o Cristo ressurreto presente e ativo em nosso culto. "Mistério" de gasolina em terras germânicas. Serviço é o equivalente mais aproxi-
neste sentido é a auto-revelação divina daquilo que ultrapassa o enten- mado, e é interessante que também em inglês esta palavra é usada
dimento humano, a revelação do até então oculto. O elemento "pascal" é tanto para referir-se a serviço no sentido de culto quanto a postos de
o ato redentor central de Cristo em sua vida, ministério, sofrimento, gasolina. " S e r v i ç o " significa algo feito para outros, não importa se
morte, ressurreição e ascensão. Podemos falar do mistério pascal como estamos falando de serviço doméstico, serviço municipal de água e
a comunidade cristã compartilhando os atos redentores de Cristo ao esgoto ou serviço social. Ele reflete o trabalho prestado ao público,
celebrar culto. mesmo que geralmente a troco de ganho particular. Em última análise
ele vem do termo latino servus, um escravo que era obrigado a servir
Casei discorre sobre a maneira em que os cristãos vivem, por meio do
outras pessoas. O termo oficio^ do latim officium, serviço ou tarefa,
culto, "nossa própria história sagrada". Quando a igreja comemora os
também é usado para designar um serviço de culto. GaUQsdienstrsSler.
eventos da história da salvação, "o próprio Cristo está presente e age
te um Deus que "eavaziourse a si mesme-e assumiu a-eondição de servn".
por meio da igreja, sua ecclesia, enquanto ela age com ele" . Assim,
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Em nenhum outro ponto a constância do culto cristão tem sido tão que chamaríamos de rubricas era registrado, nos primórdios, em diver-
evidente como nos ofícios pastorais encontrados no ritual. Os metodistas sos ordines, que também tratavam de ofícios atualmente encontrados no
americanos continuam se casando com quase os mesmos votos usados pontifical ou ritual, bem como da eucaristia. Também aqui atuavam
pelos católicos ingleses no séc. 14. A s necessidades humanas básicas forças semelhantes às que influenciaram o breviário, o ritual e o
para as quais o ritual presta assistência são comuns: nascimento, casa- pontifical. A o final do período medieval, o clero havia ficado com todos
mento, doença e morte. A o longo do caminho precisamos do perdão e da os livros, uma vez que as leituras, partes musicais e rubricas foram
invocação da bênção de Deus para as pessoas e coisas ao nosso redor. reunidas no missal, de modo que um único homem podia "rezar" a
A história dos ritos referentes ao bispo é semelhante. A s orações missa sozinho. A partir do final do séc. 10, o missal simplesmente fazia
para ordenações ocorriam originalmente nos sacramentários e nos eco ao monopólio clerical do culto, que já se instalara por intermédio de
ordines (coletâneas de instruções). De forma gradativa, por um proces- diversas outras forças. Com exceção de algumas poucas dioceses ou
so ainda não plenamente compreendido, os ritos especiais dos bispos ordens religiosas, o séc. 16 estandardizou o missal. O Missale Romanum
vieram a ser coletados num volume especial, o pontifical. N a última de 1570 sofreu pouquíssimas modificações (à exceção de novos dias
parte do séc. 13, o bispo Guilherme Durand, de Mende, na França festivos) por 400 anos, até a publicação da revisão do Vaticano II. Mais
meridional, editou um pontifical que veio a dar forma a todos os uma vez as leituras foram relegadas a um volume em separado, o
pontificais subseqüentes que surgiram no Ocidente. Nele havia ofícios lecionário, e voltou-se a encorajar outras pessoas além do celebrante a
para a bênção ou consagração de pessoas diversas, como confirmação, exercer funções ministeriais na missa.
tonsura, ordenações, as bênçãos dos abades, das abadessas, a consagra- Os conteúdos do missal provaram ser não menos essenciais para os
ção de virgens, a coroação de reis e rainhas, etc. A l é m disso, havia ritos reformadores. A maior parte deles produziu sua própria ordem da mis-
para a bênção ou consagração de objetos como igrejas, uma mesa de sa e a incorporou em seus manuais de culto, por vezes acompanhada de
altar, vasos, vestimentas, sinos, cemitérios e assim por diante. E final- coletas e leituras apropriadas para os vários dias do ano eclesiástico.
mente havia uma variedade de ritos para excomunhão, reconciliação de Até mesmo na fronteira americana os metodistas preservaram um míni-
penitentes, consagração de óleos sagrados, procissões e similares. mo irredutível de formas fixas para a eucaristia. Os conteúdos do mis-
Parte desse material, como os ofícios de ordenação, aparece como sal são o que existe de mais universal no cristianismo e oferecem um
ordinal em manuais de culto protestantes. Muitos manuais de culto fascinante estudo de constância.
contêm ritos para confirmação bem como para bênção e consagração Assim sendo, os conteúdos dos livros litúrgicos parecem testemu-
de pessoas e objetos diversos, como ofícios para a instalação de profes- nhar as constancias que estamos procurando. A Reforma apenas arre-
sores/as de escola dominical ou para a colocação de pedra fundamental. matou os processos de compressão e padronização já bem encaminha-
O pontifical católico romano foi revisado desde o Vaticano II. Não existe dos no catolicismo romano. Alguns dos reformadores conseguiram so-
paralelo protestante para uma coletânea tardia chamada Caeremoniale car em um único volume o calendário, o breviário, o ritual, o processional,
Episcoporum, uma compilação de rubricas e instruções sobre cerimo- o pontifical e o missal. Vários martirologios protestantes foram ampla-
niais para bispos, de 1600. Uma nova revisão deste texto foi publicada mente usados para a leitura devocional. O povo e o clero partilhavam os
recentemente, sob o título Cerimonial dos Bispos. mesmos livros. Os resultados, seja no Livro de Oração Comum, no
A outra coletânea principal de livros é a que trata da eucaristia. Já "Livro de Ordem Comum", no Sunday Service ("Culto Dominical") de
nos deparamos com o mais importante desses livros, o sacramentário, John Wesley, ou vários outros, têm semelhança notável em seu consenso
que incluía orações apropriadas a épocas e eventos diversos para serem sobre os pontos essenciais do culto cristão.
usadas pelo sacerdote. O termo "sacramentário" foi reavivado em anos Naturalmente existem diferenças entre livros do mesmo tipo. O estu-
recentes para designar o abrangente livro usado na mesa do altar em do comparativo dos ritos é conhecido como liturgiologia e se tornou
uma ciência altamente especializada nos últimos cem anos. O fato
marcante, porém, continua sendo o notável grau de constância existen-
te entre esses livros de épocas e lugares diferentes no que diz respeito
às profundas necessidades humanas refletidas no culto.
Este rápido apanhado do fenômeno, das definições e dos termos- Capítulo 2
chave do culto cristão, juntamente com a exposição da diversidade e
constância em tal culto, ajudará o/a leitor/a, assim espero, a refletir
sobre o que ele ou ela entende por culto cristão. Mais estudo, mais A Linguagem do Tempo
experiências de culto e a reflexão contínua ajudarão a ampliar esta
compreensão.
principalmente com o testemunho do domingo. E a história realmente A semana tinha uma forma ainda mais diferenciada para a igreja
começa com o primeiro dia da criação, quando "Deus disse: 'Haja luz'; e antiga. Lucas fala do fariseu que disse: "Jejuo duas vezes por semana"
houve luz. (...) Houve tarde e manhã, o primeiro dia" (Gn 1.3-5). Todos os (18.12). Mas a Didaqué, com toda a seriedade, determinou aos cristãos:
quatro evangelhos se esmeram em declarar que foi na manhã do primei- "Vossos jejuns não (...) sejam ao mesmo tempo com os hipócritas; com
ro dia, isto é, no dia em que iniciou a criação e Deus "separou a luz e as efeito, eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; vós, porém,
trevas", que foi descoberto o túmulo vazio. jejuai na quarta-feira e na sexta" . Razões comemorativas para tal ha-
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Em pelo menos três lugares o Novo Testamento indica um tempo viam aparecido na época em que se escreveu (provavelmente na Síria) o
especial para o culto, provavelmente o domingo. Paulo disse aos cris- documento As Constituições Apostólicas, do final do séc. 4: "Jejua (...)
tãos de Corinto para separar dinheiro para a coleta no primeiro dia da no quarto dia da semana, (...) tendo Judas então prometido traí-lo por
semana (1 Co 16.2). E m Trôade, depois de falar até a meia-noite do dinheiro; e (...) na [sexta-feira], porque neste dia o Senhor sofreu a morte
sábado, Paulo partiu o pão (presumivelmente a eucaristia) e continuou na cruz." H á indícios de que alguns dos primeiros cristãos também
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conversando com os cristãos ali até a madrugada de domingo (At 20.7 e tinham certa consideração pelo sábado como "a comemoração da cria-
11). João nos diz que "achava-se em espírito" e que isso aconteceu "no ção", obra da qual Deus descansara no sétimo dia. Tertuliano, norte-
dia do Senhor" (Ap 1.10). A o final do séc. 1, o termo "dia do Senhor" se africano do início do séc. 3, nos diz que havia "alguns poucos que se
transformara num termo cristão para designar o primeiro dia da sema- abstêm de ajoelhar-se no sábado". Todos esses outros dias eram menos
na. Inácio, bispo de Antioquia, escreveu por volta de 115 d.C. aos importantes do que o domingo.
cristãos em Magnesia, falando daqueles que deixaram de observar " o O domingo sobressaía acima de todos os outros dias como o aniversá-
sábado [sétimo dia judaico], mas viviam segundo o dia do Senhor, no rio semanal da ressurreição. N a igreja antiga o domingo também come-
qual nossa vida se levantou por Ele e Sua morte" . 1
morava a paixão e morte do Senhor, mas era, antes de mais nada, o dia
A Didaqué, uma ordem da igreja escrita em fins do séc. 1 ou no início em que o Salvador ressuscitara dos mortos. Mesmo hoje o domingo tem
do séc. 2, admoesta os cristãos literalmente: "Reuni-vos no dia do Senhor, precedência em relação à maior parte das outras observancias. Cada
para a fração do pão e (...) celebrai a eucaristia" . Até mesmo pagãos
3 domingo dá testemunho do Senhor ressurreto. É o dia do Senhor, o dia
perceberam que "num dia combinado eles [cristãos] costumavam reunir- do sol levantado das trevas, o início da nova criação. Tertuliano nos
se antes do raiar do dia", embora Plínio, o administrador romano da conta que os cristãos nunca se ajoelhavam no domingo, " o dia da
Bitínia, que escreveu estas palavras por volta do ano de 112, dificilmente ressurreição do Senhor". Os domingos do Advento e da Quaresma
tenha entendido isto como uma reunião para a ceia do Senhor . 3 permanecem dias de alegria, embora se encontrem em períodos
penitenciais. Cada domingo testifica a ressurreição. Cada domingo é
Outro termo apareceu em meados do séc. 2. Escrevendo em Roma, o
uma pequena Páscoa semanal, ou melhor, cada Páscoa é um grande
apologeta do séc. 2 Justino Mártir dizia a seus leitores pagãos por volta
domingo anual. A primazia do domingo e da ressurreição é clara.
do ano de 155 que "celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque
foi o primeiro dia, em que Deus, transformando as trevas e a matéria, Até mesmo o dia comum transformou-se para a igreja antiga numa es-
fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, trutura de louvor. A Didaqué instruía os cristãos a rezar o Pai-Nosso "três
ressuscitou dos mortos" . Os cristãos cedo adotaram o termo pagão
4 vezes ao dia". Em fins do séc. 4, Crisóstomo admoestava cada cristão
"dia do sol", comparando a ressurreição de Cristo dentre os mortos com recém-batizado a iniciar o trabalho diário com uma oração pedindo pela
o nascer do sol. M e s m o hoje os idiomas inglês e alemão falam em "dia força para fazer a vontade de Deus e a finalizar o dia prestando "contas ao
do sol" [Sunday, respectivamente Sonntag], ao passo que o francês e o Mestre de todo o seu dia, e pedir perdão pelas suas quedas" . O dia9
italiano [bem como o português] se referem ao "dia do Senhor" [domin- cristão, portanto, muito cedo desembocou num ciclo diário de lembrar
go]. A Carta de Barnabé chamava o domingo um "oitavo dia, isto é, o Cristo ao longo do labor cotidiano em meio a preocupações mundanas.
começo de outro mundo (...) no qual Jesus ressuscitou dos mortos" . Os
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Os cristãos adotaram o sentido judaico do dia como tendo início ao
temas de uma nova criação e da luz são importantes dimensões na anoitecer ("veio a noite, veio a manhã, o primeiro dia" - Gn 1.5). Desta
celebração cristã do domingo como dia da ressurreição. forma, a véspera de uma festa (por exemplo, véspera do Natal, véspera
da Páscoa e véspera de Todos os Santos) faz parte do dia litúrgico que modificar esta atribuição usual, referir-nos-emos sempre a ele como seu
continua ao raiar do dia e termina com o ocaso do sol. Os cristãos autor.
fizeram relativamente pouco uso do mês como ciclo repetitivo, embora
outrora os anglicanos o usassem como base para leituras diárias dos Nos inícios do séc. 4 a igreja finalmente convencionou que, diferente-
Salmos e alguns protestantes atualmente o usem para celebrações mente da Páscoa judaica, que podia incidir em qualquer dia da semana, a
mensais da eucaristia. Páscoa cristã sempre deveria ser celebrada num domingo. Anteriormen-
te a controvérsia quartodecimana implicara um longo debate entre aque-
Assim como a semana e o dia testemunhavam Jesus Cristo, também les que observavam a Páscoa em domingo e aqueles (os quartodecimanos)
o ano cristão (ano litúrgico ou ano eclesiástico) se tornou uma estrutu- que seguiam a datação judaica, o que muitas vezes resultava numa
ra para comemorar o Senhor. Assim como o domingo era o centro da celebração em dia útil. A resolução dessa controvérsia reconhece clara-
semana, também o ano enfocou o evento da Páscoa como seu elemento
mente o significado simbólico do domingo: "Jamais o mistério da ressur-
central. A Páscoa fora o centro do ano judaico, como comemoração da
reição do Senhor dentre os mortos deveria ser celebrado em qualquer
libertação da escravidão; ela não era menos importante para os cris-
outro dia senão no dia do Senhor, (...) somente nesse dia deveríamos
tãos. Paulo adotou propositalmente a linguagem da festa dos pães
ázimos ou asmos (a Páscoa) judaica: observar o final do jejum pascal." Desta forma as comemorações sema-
11
de forma mais completa em 1955, sob Pio XII, os ritos da Semana Santa
ra vez se fez referência à Quaresma como "40 dias", fazendo-a preceder foram reformados após o Vaticano II, aparecendo agora também em
imediatamente a Páscoa. Em cerca de 350, o bispo Cirilo de Jerusalém muitos manuais de culto protestantes.
dizia aos batizandos: "Tendes um longo período de graça, 40 dias para
arrependimento." N a época de Agostinho, a Quaresma se tornara um
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palavra com longas intercessões, adoração da cruz (beijá-la ou ajoe- séc. 4 Eusébio fala da "augusta e sagrada solenidade de Pentecostes
lhar-se diante dela), o canto dos impropérios (baseado em Lm 1.12) e [isto é, os 50 dias], que se distingue por um período de sete semanas,
possivelmente distribuição da comunhão com elementos consagrados selado por aquele dia no qual as Sagradas Escrituras atestam a ascen-
na Quinta-Feira Santa. U m rito hispânico do séc. 17, oriundo do Peru, são do nosso Salvador comum para o céu e a descida do Espírito
as Três Horas, baseia-se nas últimas sete palavras de Jesus na cruz. O Santo" . E m outras palavras, por quase quatro séculos o Dia de Pente-
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ofício de trevas pode ocorrer em qualquer um dos últimos três dias da costes comemorou tanto a ascensão de Cristo quanto a descida do
Semana Santa, ou em todos eles, com a recitação de salmos juntamente Espírito Santo. A o final do séc. 4 essas duas comemorações haviam
com leituras bíblicas, ou de uma narrativa da paixão, em ambos os sido separadas. A s Constituições Apostólicas descrevem os 40 dias
casos acompanhada do gradativo apagar das velas num grande candela- após a Páscoa como o tempo adequado para "celebrar a festa da Ascen-
bro especial. são do Senhor". Mais uma vez o testemunho bíblico foi tomado em
A véspera da Páscoa alcança o clímax de todo o ano com a Vigília sentido literal ao ser interpretado como meio de datar temporalmente
Pascal, quando a igreja se reúne na escuridão para celebrar a ressurrei- eventos passados. Neste caso, A t 1.3 e sua menção de um período de "40
ção. Tradicionalmente isto inclui o acender de uma nova chama e de dias", durante o qual Jesus ensinara aos seus discípulos, parece ter
uma vela grande especial, o círio pascal, o cantar do antigo Exsultet sido a fonte usada para se precisar a data da ascensão. Onde antes
pascal, a recitação de nove leituras bíblicas, do Antigo Testamento em houvera uma festa, ao final do séc. 4 havia duas: Dia da Ascensão e Dia
sua maioria, a bênção da água para batismo ou renovação de votos de Pentecostes. Cristo estava no céu, e o Espírito Santo habitava a santa
batismais, ou ambos, e a celebração da eucaristia pascal. igreja na terra. Tratava-se de uma realidade diária que a igreja podia
E m tempos antigos a Semana Pascal era dedicada à instrução dos experimentar, não de uma abstração.
recém batizados a respeito do significado dos sacramentos, à assim O terceiro evento principal do calendário ao final do séc. 4 era a
chamada catequese mistagógica. Coletâneas do séc. 4 dessas preleções Epifania. Suas origens são obscuras; elas certamente não eram judai-
catequéticas sobrevivem, sendo atribuídas a Cirilo de Jerusalém, cas, mas talvez egípcias. A data pode estar relacionada com a crença de
Ambrósio, João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuéstia. Essas preleções que Jesus foi concebido na data de sua morte, às vezes suposta como
são documentos muito importantes para a recuperação tanto das práti- sendo 6 de abril, colocando-se seu nascimento em 6 de janeiro.
cas de diversos centros cristãos quanto das diferentes interpretações A Epifania significava várias coisas, e todas elas tinham uma relação
que eles dão aos sacramentos. No domingo subseqüente à Páscoa, os com os inícios da manifestação de Deus através da obra de Jesus Cristo.
novos cristãos abandonavam suas vestes brancas, uma vez que agora Esta festa referia-se ao nascimento de Cristo (com o qual iniciam dois
eram membros plenamente iniciados e instruídos do corpo de Cristo. evangelhos), aos magos (no Ocidente), ao batismo de Jesus (com o qual os
O segundo lugar em importância nos primeiros séculos era ocupado outros evangelhos iniciam) e ao primeiro milagre, a respeito do qual o
pela celebração de outro evento, o Dia de Pentecostes. Tal como a Evangelho de João diz: "Com este deu Jesus princípio a seus sinais, em
Páscoa, era também uma festa judaica: "Até ao dia imediato ao sétimo Caná da Galileia; manifestou [ephanérosen] a sua glória e os seus discí-
pulos creram nele" (2.11). O tema comum de todos esses eventos é Jesus U m processo semelhante àquele que havia subdividido a Páscoa numa
Cristo manifestando Deus aos seres humanos. Apropriadamente a igreja série de comemorações operou-se também com o Natal. Como menino
antiga muitas vezes chamava este dia de "A Teofania" (manifestação de judeu, Jesus provavelmente teria sido circuncidado e recebido um nome
Deus), prática esta ainda continuada por algumas igrejas ortodoxas ori- no oitavo dia após seu nascimento. Conta-nos Lucas: "Quando se comple-
entais. O prólogo do quarto evangelho coloca o tema: " O Deus unigénito, taram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de
que está no seio do Pai, é quem o revelou" (1.18). Aparentemente, em Jesus" (2.21). Correspondentemente, a comemoração em 1° de janeiro se
algumas igrejas o dia 6 de janeiro assinalava o início do ano, simbolizado tornou conhecida como festa da Circuncisão ou do [Santíssimo] Nome
pelo início da leitura de um evangelho nesta data .18
proclamado "meu Filho amado"). E os poderosos sinais e ensinamentos, alguém para a eternidade (morte) era muito mais importante do que o
narrados nos evangelhos à medida que Jesus realizava essa manifesta- seu nascimento para dentro do tempo. O ciclo temporal ficou cada vez
ção, oferecem uma oportunidade no período após a Epifania para come- mais obscurecido pelas comemorações de santos, principalmente de-
morar aquelas obras e ensinamentos de Jesus que conduziram aos pois que relíquias de santos começaram a ser levadas de um lugar para
eventos finais em Jerusalém. outro. A lista dos dias dos santos locais posteriormente veio a ser
complementada com nomes de santos de outras regiões.
U m concílio realizado na Espanha no ano de 380 decretou que "a
partir de 17 de dezembro até o Dia da Epifania, que é 6 de janeiro, Poucos acréscimos significativos ocorreram após o séc. 4. O Domin-
ninguém tem a permissão de se ausentar da igreja" . Este é um prece-
22 go da Trindade, que é o domingo após o Dia de Pentecostes, foi introdu-
dente para o Advento numa época em que o próprio Natal ainda era zido por volta do ano 1000. Diferentemente de outras festas, ele repre-
desconhecido na Espanha. No séc. 5, um período de 40 dias para a senta um doutrina teológica não-relacionada a um evento histórico. N o
preparação da Epifania estava sendo praticado em partes da Gália. séc. 9 o dia I de novembro foi designado, no Ocidente, como Dia de
o
(Este era um paralelo da Quaresma, e começava mais ou menos quando Todos os Santos. Ele tinha precedentes anteriores na primavera, porém
o Advento começa atualmente.) Por fim Roma adotou um Advento de a sua colocação na estação da colheita por parte da igreja galicana foi
quatro semanas antes do Natal. aceita por Roma em cerca de 835. Nessa época também a Assunção da
Bem-Aventurada Virgem Maria era observada em todo o Ocidente em 15
de agosto. N o séc. 13, a quinta-feira após o Domingo da Trindade mos as festas da Purificação [Apresentação] e da Anunciação como
começou a ser observada como Corpus Christi. Bem mais tarde, desdo- festas de Cristo, da mesma forma como a Epifania e a Circuncisão." A 26
bramentos ocorridos no catolicismo romano levaram à observância com- partir do ciclo santoral, a Igreja da Inglaterra reteve material para
pulsória da Imaculada Conceição em 8 de dezembro (séc. 18), Sagrado comemorar apenas aqueles santos mencionados na Bíblia e o Dia de
Coração (séc. 19) e Cristo Rei [do Universo] (séc. 20). Todos os Santos.
Recapitulemos. João Crisóstomo, num sermão feito em 386, resume A Igreja da Escócia foi mais radical. Em seu Book of Discipline de
efetivamente o ano litúrgico: 1560 ela condenou todas as "festas (como as chamam) dos apóstolos,
mártires, virgens, do Natal, Circuncisão, Epifania, Purificação e outras
Pois se Cristo não tivesse nascido na carne, ele não teria sido batizado, o
apreciadas festas de Nossa Senhora. Coisas estas que, pelo fato de não
que vem a ser a Teofania [Epifania], nem teria sido crucificado [alguns
textos acrescentam: e ressuscitado], o que vem a ser a Páscoa, nem teria terem nenhum mandamento ou base nas Escrituras de Deus, devem ser
enviado o Espírito, o que vem a ser Pentecostes. 24 totalmente abolidas deste âmbito, em nosso juízo; afirmando ainda que
os obstinados mantenedores e propagadores de tais abominações não
No séc. 4, das três grandes festas primitivas - a Epifania, a Páscoa e o deveriam escapar da punição do magistrado civil." Oitenta e cinco
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Dia de Pentecostes - se haviam desmembrado datas afins: Natal, Sexta- anos mais tarde, The Westminster Directory fazia eco ao mesmo senti-
Feira da Paixão e Ascensão, além de outras datas menores. mento: "Dias festivos, vulgarmente chamados de dias santos, que não
Gregory Dix interpretou esses desdobramentos como sinal de que a têm base alguma nas palavras de Deus não devem ser continuados." 28
igreja do séc. 4 estava "se reconciliando com o tempo" e perdendo sua Entretanto, insistia que se observassem dias de "solene jejum público"
fervorosa expectativa do final dos tempos . Porém essa reconciliação
25 ou "de ações de graças públicas", conforme o garantiam o julgamento
com o tempo era inevitável. A s pessoas querem saber, visualizar, expe- ou as graças de Deus.
rimentar por si próprias; este é um desejo humano muito normal. O John Wesley (1703-1791), o pragmático de sempre, aboüu "a maioria dos
culto se desenvolve a partir de nossa humanidade. Assim sendo, o que dias santos (...) uma vez que atualmente não respondem a nenhuma finali-
ocorreu no séc. 4 foi que a igreja desenvolveu uma forma mais dramáti- dade de valor" . Seu calendário incluía os quatro domingos do Advento, o
29
ca de expressar as realidades centrais experimentadas pelos cristãos - Dia do Natal, até 15 domingos após o Natal, "o domingo anterior à Páscoa",
manifestação, ressurreição e o Espírito presente. O fervor escatológico a Sexta-Feira Santa, o Dia da Páscoa, cinco domingos após a Páscoa, o Dia
se havia arrefecido muito antes da paz da igreja sob Constantino. da Ascensão, o domingo após o Dia da Ascensão, o Domingo de Pente-
Porém a imaginação dos cristãos dirigida para o passado não era costes, o Domingo da Trindade e até 25 domingos após a Trindade. Os
menos frutífera e intensificou sua percepção da encarnação. O sucesso diários de Wesley revelam uma apreciação pessoal pelo Dia de Todos os
dessas inovações do séc. 4 se mostra em sua vívida presença entre nós Santos. Tanto o calendário de Wesley quanto as suas leituras logo se
até mesmo hoje em dia. Obviamente elas mostraram que correspondem perderam entre os metodistas americanos.
tanto à fé cristã quanto à experiência humana.
Interesse renovado pelo ano eclesiástico entre os protestantes ameri-
E m suma, o ano eclesiástico é um reflexo muito satisfatório da vida canos ocorreu nos anos 20 e 30 deste século, período em que as aborda-
e da fé da igreja antiga e continuou a ser usado com poucas alterações gens estéticas ao culto tenderam a aumentar. U m esforço no sentido de
desde então. Esforços modernos para sistematizá-lo e organizá-lo nun- rearranjar o ano foi feito na forma de um novo período, Kingdomtide
ca foram muito satisfatórios. E verdade que o antigo ano eclesiástico ["tempo do Reino"]. Ele parece ter sido amplamente promovido pelo
deixa amplas lacunas no tempo, principalmente depois do Dia de professor Fred Winslow Adams da Boston University School of Theology.
Pentecostes. P o r é m seu ponto forte está na sua firme apreensão do Kingdomtide originalmente apareceu numa publicação do Conselho
cerne da experiência cristã e em sua capacidade de refletir de forma Federal de Igrejas, The Christian Year, publicado em 1937 e 1940. A
vívida o fato de Cristo ter tornado Deus manifesto, de Cristo ter primeira edição sugeria a observância de Kingdomtide nos seis últimos
ressuscitado dos mortos e de Cristo ter enviado o Santo Espírito para meses do ano eclesiástico; em 1940 isto foi dividido em Whitsuntide
habitar na santa igreja. ["tempo de Pentecostes"] e Kingdomtide .30
Hoje em dia os metodistas
Os reformadores do séc. 16 abordaram o calendário de diversas unidos têm as opções de observar todo o período seja como Kingdomtide
maneiras. Martinho Lutero (1483-1546) purificou-o dos dias dos santos ou como tempo após Pentecostes. Uma experiência algo semelhante foi
procurando "celebrar apenas em dias do Senhor e em festas do Senhor, brevemente tentada pelos presbiterianos americanos. Eles experimenta-
abolindo completamente as festas de todos os santos. (...) Nós considera- ram uma sugestão feita em 1956 por Allan McArthur, um pastor esco-
cês, de se ter um período de "Deus P a i " no outono . A p ó s quatro anos
31
como por exemplo a observância do domingo após a Epifania como o nos lembram que a salvação é uma dádiva que nos é oferecida em todos
Batismo do Senhor, ou o último domingo do ano como Cristo Rei [do os seus diferentes aspectos. O ano cristão pode ajudar-nos a escolher-
Universo]. A prática luterana de comemorar o domingo antes da Quar- mos nós mesmos nossas reais prioridades. Observar o tempo com os
ta-Feira de Cinzas como Transfiguração do Senhor foi adotada pelos ritmos da igreja antiga pode ser uma forma importante de fazê-lo.
metodistas unidos e muitos protestantes americanos. (Os católicos ro- Nos termos mais breves, o ano da graça da igreja opera de modo a
manos o têm observado em 6 agosto desde o séc. 15.) Pela primeira vez manifestar Jesus Cristo até que ele volte, testemunhando que enquanto
em 400 anos um calendário ecumênico está sendo seguido por protes- isso o Espírito Santo habita a igreja. O ano litúrgico é tanto proclama-
tantes e católicos romanos em todo o mundo. H á uma concordância ção quanto ação de graças. De uma forma bastante semelhante à manei-
básica sobre a maioria das festas principais, atualmente chamadas de ra como uma oração judaica e cristã recita aquilo pelo qual damos
solenidades pelos católicos romanos; menos observância comum das graças, assim o ano cristão proclama e dá graças a Deus pelas suas
festas secundárias e menos ainda de memórias ou dias de santos. O maravilhosas ações. Os cristãos e judeus exaltam a Deus não em ter-
calendário mais recente é o resultado de uma cuidadosa tentativa de mos abstratos, mas recitando as suas maravilhosas obras. Trata-se de
resgatar a estrutura e o significado do mais antigo calendário, aquele um processo de pensar e agradecer pelo qual glorificamos a Deus pela
completado no séc. 4. O novo calendário proporciona um forte testemu- rememoração do que ele fez. O ano litúrgico reflete a própria natureza
nho das prioridades da fé cristã, exatamente como o faziam os mais da oração cristã e nossa relação com Deus. Boa parte da sua força vem
antigos calendários cristãos. através da reiteração, o que também se aplica à oração diária. A n o após
ano, semana após semana, hora após hora, os atos de Deus são comemo-
rados e nossa compreensão dos mesmos é aprofundada. Esses ciclos
O Calendário nos resguardam de uma espiritualidade superficial, baseada em nós
mesmos, apontando, ao invés, para as obras de Deus.
APB, 11-15 HCY, 13-15 SWR, #6, 9-11
ASB, 15-29 LBW, 9-12 TP, 172-91 A observância do tempo, naturalmente, também pode tornar-se um
BAS, 14-33 LW, 8-9 WB, 167-75 expediente idólatra como qualquer outra coisa que é boa. O tempo pode
BCO, 126-32 MDE, 40-45 WBCP, vii-xv ser usado simplesmente para enfeitar nossos cultos e para dar-lhes a
BCP, 15-33 Saa, 58-75 aparência de estar na moda. A observância do ano eclesiástico pelas
WS, 130-36
BofS, 172-82 SBCP, xi-xv razões erradas é pior do que inútil, u m a vez que podemos acabar
prestando culto a nossos próprios expedientes, em vez de a Deus. Mas
quando efetivamente usamos as estruturas do tempo para nos aproxi-
marmos mais de Deus, elas podem servir muito bem a tal objetivo ao g o após a Epifania ou Transfiguração do Senhor, na qual Jesus é mais
nos levarem ao encontro da plenitude do evangelho. uma vez proclamado: "Meu filho amado".
Como é que o tempo nos aproxima mais de Deus? O ano cristão é A Quaresma é o período em que participamos daquela viagem final
uma forma pela qual revivemos por nós mesmos tudo aquilo que impor- para Jerusalém e da natureza autodoadora do amor mostrada na paixão
ta da história da salvação. A o lembrar os eventos passados da salvação, e morte de Cristo. Tudo muda quando Cristo se doa a nós como o
eles se tornam vivos em seu poder atual de salvar. Nossos atos de ressurreto na Páscoa. O tempo pascal começa com a véspera da Páscoa
lembrança trazem de volta para nós os eventos originais com todo o seu e termina com o Dia de Pentecostes. O Dia da Ascensão comemora o
significado. E assim continuamos a "proclamar a morte do Senhor até final da visibilidade histórica de Cristo e o início de sua visibilidade
que ele venha" (1 Co 11.26). Os diversos atos de ensaio da história da sacramental.
salvação renovam para nós os benefícios daquilo que Deus fez em nosso
O tempo após Pentecostes (ou tempo comum, ou Kingdomtide) sinali-
favor nesses eventos passados. O nascimento de Cristo, seu batismo,
za o longo ínterim da igreja da nova aliança até a vinda de Cristo em
morte, ressurreição e assim por diante nos são todos dados novamente
glória. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento nos lembram da conti-
para nossa própria apropriação por intermédio da lembrança comunitá-
nuação das obras salvíficas de Deus. O Último Domingo após Pentecos-
ria desses eventos, de modo a torná-los de novo presentes. Esses even-
tes, ou Cristo Rei, nos leva a antecipar a consumação de todas as coisas
tos deixam de ser simplesmente dados desconexos do passado, para se
quando Cristo vier em glória como Rei de tudo, e todos os fracassos e
tornar parte da nossa própria história pessoal ao revivermos a história
realizações humanas serão enfim tornados insignificantes, o que vem a
da salvação ensaiando-a em nosso culto. Desta forma Cristo morre em
ser uma doutrina altamente confortadora. E então, na semana seguinte,
nossa consciência a cada Sexta-Feira Santa. E em cada Páscoa e a cada
estamos novamente no Advento, quando se reinicia o ano.
dia do Senhor somos testemunhas da ressurreição.
As festas cristológicas menores têm valores evangélicos que esta-
O ano cristão passa a ser um meio vital e revigorante por meio do
mos apenas começando a descobrir. O Nome de Jesus, a Apresentação, a
qual Deus nos é dado. É um dar que jamais se exaure. Cada ocasião, o
Anunciação e a Visitação são cristológicos e chamam a atenção para a
ano, a semana e o dia nos impelem um pouco mais fundo para o
encontro com Deus. Percebemos um aspecto do batismo de Cristo neste plena humanidade de Cristo e para a sua identificação com padrões
ano, outro no próximo ano, mas nunca chegamos ao fundo. Desta forma sociais humanos. O Dia de Todos os Santos também é cristológico. Ele
o ano litúrgico é um meio constante da graça pelo qual recebemos as não se detém nas virtudes dos santos, mas no amor de Cristo que atua
dádivas que Deus nos dá. nas pessoas ao longo do tempo para realizar os objetivos de Deus. O
principal benefício em se comemorar os santos está no reconhecimento
O ano da graça trata do que Deus faz por nós, não dos nossos de Cristo por intermédio deles, do Cristo que nunca nos deixa sem
esforços. Toda a estrutura chama a atenção para a obra de Deus, não a testemunha. Se a comemoração de distintos santos pudesse nos ajudar
nossa. E a obra de Deus é tornada conhecida de diversas maneiras por a perceber isto, então tal piedade poderia novamente servir a um "fim
meio dos eventos e necessidades cambiantes de cada tempo e lugar no valioso".
qual os cristãos prestam culto.
N a vida real da paróquia o ano cristão é apenas u m entre muitos
O Advento é tempo tanto de agradecimento pela dádiva de Cristo a calendários segundo os quais vivem as congregações. Existem vários
nós no passado quanto de expectativa de sua segunda vinda. Ele con- calendários nacionais que acrescentam eventos que muitas vezes me-
tém tanto ameaça quanto promessa. O Natal celebra a autodoação de recem comemoração nas igrejas. Nas Ilhas Britânicas datas como o
Deus no nascimento de Jesus Cristo. O tempo do Natal continua esta Domingo das Mães, a Festa da Colheita ou o Domingo da Lembrança
comemoração até o fim da Epifania.
geralmente são reconhecidas em orações e hinos. Raramente nos Esta-
N o tempo após a Epifania (ou tempo comum) os evangelhos indica- dos Unidos o Dia das Mães, Dia da Independência, Dia do Trabalho e
dos salientam as diversas maneiras com que Jesus Cristo manifestou Dia de Ação de Graças passam desapercebidos. Grupos étnicos man-
Deus a nós ao tornar o Pai conhecido por meio de poderosos sinais e têm sua identidade por meio de outras festas (Dia de São Patrício,
ensinamentos. Estes começam com o Batismo do Senhor (quando a Dyngus Day). A vida da igreja ainda é afetada pelo ano acadêmico, que
filiação de Jesus é declarada e se inicia o seu ministério). Os domingos também determina os planos de férias dos pais. E o ano financeiro é um
após a Epifania continuam com leituras sobre os sinais e ensinamentos fato na vida da igreja que dificilmente pode ser ignorado.
por meio dos quais Jesus tornou conhecida a sua glória manifestando a Mais diretamente, as igrejas locais em geral desenvolvem seu próprio
Deus. Em algumas igrejas este período se conclui com o Último Domin- calendário pragmático, o que proporciona uma estrutura necessária
para a vida congregacional. U m evento anual para muitas igrejas rurais porém a singularidade de cada reunião vai além disso. A vida da
é o D o m i n g o de R e g r e s s o ao Lar, no qual antigos residentes voltam comunidade local, bem como aquela das comunidades nacionais e glo-
para o culto e para uma refeição ao ar livre, muitas vezes perto do bal, nunca é a mesma a cada semana. O culto cristão reflete isto em sua
cemitério onde parentes estão sepultados. Mais comum é o reavivamento afirmação de que cada domingo ou dia especial é uma ocasião diferen-
anual, uma semana de cultos de pregação que muitas vezes se concluem te. O Natal não é a Páscoa, nem o domingo após a Páscoa é a mesma
com a eucaristia. O Dia do Encontro assinala o início do ano da Escola coisa que o domingo antes do Dia do Trabalho, embora os participantes
Dominical; o D o m i n g o da L e a l d a d e conclama a assumir compromissos possam ser mais ou menos os mesmos. Um casamento não é um funeral,
financeiros para sustentar o ministério da congregação; e o auto de embora as flores possam ser semelhantes. N e m mesmo um culto de
N a t a l é um evento anual que envolve todas as gerações. Muitas vezes se domingo à noite é a mesma ocasião que o culto da manhã, uma vez que
reservam domingos para levantar recursos para diversas obras de cari-
as pessoas estão propensas a se comportar de modo mais relaxado. De
dade ou para promover boas causas. Muitas igrejas protestantes obser-
modo semelhante não há duas refeições familiares idênticas. Cada oca-
vam o primeiro domingo de outubro como D o m i n g o da Comunhão
sião de culto é única.
Mundial.
Variedade é, portanto, uma importante característica do culto cris-
Todos estes são eventos importantes na vida das congregações lo- tão, uma vez que o culto está relacionado tanto com o evangelho eterno
cais. Eles efetivamente chamam mais a atenção para a atividade huma- quanto com a vida diária. Uma crítica freqüente ao culto cristão tem
na do que para as ações de Deus, porém salientam certos aspectos do sido a da monotonia. Entretanto, ela só se aplica quando o culto cristão
ministério da congregação junto ao mundo. O calendário pragmático é infiel à sua própria natureza. A maneira mais segura de evitar a
com seu foco sobre nós mesmos sempre precisa do equilíbrio do ano monotonia da repetição constante consiste em regalar-se com a rica
cristão tradicional que aponta para além de nós, para a obra de Deus em variedade inerente ao ano cristão. E a melhor maneira de garantir a
nosso favor. E m última análise é isto que torna possível nossa obra em monotonia é ignorar tão variada gama de possibilidades.
favor de outros. Não existe fonte melhor de variedade e interesse no culto cristão do
que a meticulosa observância do ano cristão. A estrutura do ano é como
um quadro mural ordenado no qual podemos afixar todas as nossas
Funcionamento do Ano Cristão melhores idéias e é um excelente estímulo para a criatividade. A primei-
ra questão a ser levantada ao planejar qualquer culto é: quando estará
Cada ofício do culto cristão é composto de dois tipos de atos de culto: ele ocorrendo no ano cristão? A resposta deveria fornecer a nossa
ordinários e próprios. Os elementos ordinários são aqueles que perma- primeira e melhor pista para orientar nosso planejamento.
necem os mesmos: a ordem básica do ofício e elementos deste como o O calendário, dissemos, é o fundamento da maior parte do culto
Pai-Nosso, as ofertas, o credo e uma doxologia. Os próprios são aqueles cristão. O calendário impresso no diagrama 3 é aquele do L e c i o n à r i o
elementos que mudam diária ou semanalmente. Recitamos leituras dife- Comum utilizado em algumas igrejas norte-americanas e semelhante
rentes, cantamos hinos variados, fazemos orações diversas e (assim àquele de muitas outras . O/A leitor/a provavelmente desejará consultá-
33
esperamos!) ouvimos um sermão algo diferente sempre que nos reuni- lo freqüentemente ao ler o que se segue.
mos para o culto.
A importância dos próprios no culto cristão é que eles proporcionam
variedade e interesse. Embora as partes ordinárias forneçam uma cons-
tância necessária, o culto cristão sem as partes próprias seria de uma
monotonia fatal, uma repetição de exatamente as mesmas coisas sema-
na após semana. E sem as constantes que as partes ordinárias forne-
cem, o culto cristão seria um caos.
A variedade é um ingrediente importante. A boa nova do evangelho é
demasiadamente ampla e profunda para ser abarcada por um único
culto ou mesmo todo um período. Cada vez que uma congregação se
reúne para o culto, trata-se de um evento diferente. Nunca dantes nem
depois estarão exatamente as mesmas pessoas reunidas para o culto.
O CALENDÁRIO COMUM Um calendário um pouco diferente está sendo usado por muitas das
igrejas das Ilhas Britânicas. Ele foi elaborado pelo Grupo Litúrgico
TEMPO DO ADVENTO Conjunto em 1967 . Consiste em nove domingos antes do Natal (inclu-
34
Primeiro Domingo do Advento até Quarto Domingo do Advento indo quatro do Advento), véspera do Natal e Dia do Natal, um ou dois
TEMPO DO NATAL domingos após o Natal, a Epifania do Nosso Senhor, seis domingos
Véspera do Natal, Dia do Natal após a Epifania (ou oito após o Natal) até nove domingos antes da
Primeiro Domingo após o Natal Páscoa (incluindo Quarta-Feira de Cinzas e cinco domingos na Qua-
Véspera do Ano Novo - Dia do Ano Novo ou Santíssimo Nome de Jesus resma), o Domingo de Ramos e os outros dias da Semana Santa e da
Segundo Domingo após o Natal Semana Pascal, seis domingos após a Páscoa, Dia da Ascensão, Pente-
Epifania costes, até 22 domingos após Pentecostes (ou 21 após Trindade), fina-
TEMPO APÓS A EPIFANIA (ou tempo comum) lizando tudo com o Último Domingo após Pentecostes.
Primeiro Domingo após a Epifania (Batismo do Senhor)
E m ambos os casos o calendário está baseado em dois ciclos: aquele
Segundo Domingo após a Epifania até o Oitavo Domingo após a Epifania
que culmina na ressurreição no Dia da Páscoa e aquele que focaliza a
Último Domingo após a Epifania (Domingo da Transfiguração)
encarnação no Dia do Natal. O Advento e a Quaresma servem de tempos
TEMPO DA QUARESMA
de preparação e expectativa; os tempos do Natal e da Páscoa rejubilam
Quarta-Feira de Cinzas
nos eventos que comemoram. O tempo após a Epifania e o tempo após
Primeiro Domingo da Quaresma até o Quinto Domingo da Quaresma
Semana Santa Pentecostes têm significado menos distinto e na realidade funcionam
Paixão / Domingo de Ramos como tempo comum.
Segunda-feira na Semana Santa A l g u n s detalhes são necessários ao se acompanhar o tempo observa-
Terça-feira na Semana Santa do pela igreja. O número de domingos no Advento, na Quaresma e no
Quarta-feira na Semana Santa tempo pascal é constante. Há um ou dois domingos no tempo do Natal.
Quinta-Feira Santa O número de domingos após a Epifania ou Pentecostes (tempo comum)
Sexta-Feira Santa varia, e diferentes igrejas têm meios diversos de escolher as leituras
Sábado Santo (Sábado de Aleluia) bíblicas para os mesmos. Para a maioria dos protestantes norte-ameri-
TEMPO DA PÁSCOA canos o derradeiro domingo do tempo após a Epifania (imediatamente
Vigília Pascal antes da Quarta-Feira de Cinzas) é sempre o Último Domingo após a
Páscoa Epifania (Domingo da Transfiguração). Essas igrejas e os católicos
Noite da Páscoa romanos observam o domingo anterior ao Advento como Cristo Rei
Segundo Domingo da Páscoa até o Sexto Domingo da Páscoa (Último Domingo após Pentecostes).
Ascensão (sexta quinta-feira da Páscoa)
Sétimo Domingo da Páscoa Pode ser útil lembrar que, no tocante aos domingos e dias festivos,
Pentecostes cada tempo, com exceção do Advento, começa e termina com um dia
TEMPO APÓS PENTECOSTES (ou tempo comum ou Kingdomtidé) especial. O tempo do Natal se estende da véspera e do Dia do Natal até a
Domingo da Trindade (Primeiro Domingo após Pentecostes) Epifania; o tempo após a Epifania, do Batismo do Senhor até a Transfi-
Domingos após Pentecostes guração do Senhor; a Quaresma, da Quarta-Feira de Cinzas até o Sába-
Cristo Rei (Último Domingo após Pentecostes) do Santo (Sábado de Aleluia); o tempo pascal, da véspera e do Dia da
DIAS ESPECIAIS Páscoa até o Dia de Pentecostes; e o tempo após Pentecostes, do Domin-
Apresentação (2 de Fevereiro) g o da Trindade até Cristo Rei. Trajes e paramentos brancos geralmente
Anunciação (25 de Março) são usados em todos esses dias especiais, exceto em Quarta-Feira de
Visitação (31 de Maio) Cinzas, Sábado Santo (Sábado de Aleluia) e Dia de Pentecostes.
Santa Cruz (14 de Setembro) A l g u m a s datas podem não ser familiares ou apresentar problemas
Todos os Santos ( I de novembro ou primeiro domingo de novembro)
o
especiais. E m várias igrejas o Dia da Epifania pode ser celebrado no
Dia de Ação de Graças primeiro domingo de janeiro, combinado com o Primeiro Domingo após
o Natal, ou com o Batismo do Senhor. O Batismo do Senhor é uma nova
Diagrama 3 festa para os cristãos ocidentais, embora esteja estreitamente associado
com a Epifania. O Batismo do Senhor incide sobre o primeiro domingo utilização no culto como base da pregação afetou o culto de milhares de
após 6 de janeiro (Epifania). congregações. Antes disso, ocorria com demasiada freqüência que os
O Domingo da Paixão / de Ramos é hoje considerado um único dia, métodos aleatórios de escolha da passagem da Escritura na verdade
no qual geralmente se lê a narrativa da paixão. A Vigília Pascal eliminavam extensas porções da palavra de Deus, reconfigurando a
comumente é celebrada na véspera ou noite anterior ao Dia da Páscoa. Escritura segundo a imagem do próprio pregador. Os ativistas sociais
E o Dia da Ascensão por vezes é comemorado no Sétimo Domingo da talvez preferissem passagens dos livros proféticos, e os conservadores
Páscoa. O Dia de Pentecostes recuperou seu antigo lugar como 50* dia e as passagens mais rígidas das epístolas pastorais. Ambos, entretanto,
último domingo do tempo pascal, todo o tempo outrora conhecido como ao escolher trechos que lhes eram convenientes, estavam, com efeito,
"Pentecostes". O Dia de Todos os Santos, em algumas igrejas, pode ser reescrevendo a Escritura. Liberais e conservadores tinham culpa igual
observado no primeiro domingo de novembro, quando 1 de novembroQ
por corrigir a palavra de Deus segundo suas preferências pessoais.
não é um domingo. O último domingo de outubro, Domingo da Refor-
U m dos mais úteis resultados da era pós-Vaticano I I foi o lecionário
ma, foi suprimido por muitas igrejas. A o invés disso, parece mais
ecumênico. Iniciado após o Vaticano II pela Igreja Católica Romana, o
adequado, hoje em dia, comemorar nosso legado comum com o Dia de
trabalho de vários anos feito por uma equipe de tempo integral e 800
Todos os Santos, em lugar de fazê-lo com uma ocasião divisora.
consultores - protestantes, católicos e judeus - levou-o à sua forma
Para aqueles que observam as festas cristológicas menores, há ou- atual. Publicado como O Lecionário para católicos romanos, trata-se do
tras possibilidades. Para cada uma delas a cor geralmente é branco. O lecionário mais cuidadosamente preparado em toda a história cristã.
Santíssimo N o m e de Jesus ( l de janeiro) lembra a humanidade de
2 Os episcopais (BCP, 888-931), luteranos (LBW, 13-41) e presbiterianos
Jesus e sua plena identificação com a sociedade humana (cf. Lc 2.15-21). (WB, 167-75) fizeram suas próprias versões do mesmo. O Common
A Apresentação (2 de fevereiro) era tradicionalmente denominada de Lectionary, publicado em 1983, é uma tentativa de melhorar cada uma
Purificação da Bem-aventurada V i r g e m Maria ou Nossa Senhora da dessas variantes, particularmente permitindo que longas narrativas do
Candelária, ou das Candeias, uma vez que as velas a serem usadas num Antigo Testamento se desdobrem no tempo após Pentecostes. Ele é
determinado ano eram abençoadas nesta ocasião. Essa data também utilizado por metodistas unidos, presbiterianos, pela Igreja Unida de
pode chamar a atenção para os idosos da nossa sociedade, entre os Cristo, pelos Discípulos de Cristo e outros protestantes norte-america-
quais estavam aqueles, conforme nos conta Lucas, que foram os primei- nos, fazendo com que seja a variante mais amplamente usada do
ros a proclamar o Senhor (Ana e Simeão) (cf. Lc 2.22-40). A A n u n c i a ç ã o lecionário dominical católico romano.
- Dia de Nossa Senhora em certos países (25 de março) - chama a Como funciona o lecionário ecumênico? Trata-se de um lecionário de
atenção para o poder da pessoa mais humilde ao cumprir a vontade de três anos, designados A , B e C. O ano C é qualquer ano, como 1989,
Deus (cf. Lc 1.25-38.). A Visitação (31 de maio), com seu diálogo entre divisível sem resto pelo número 3. O ano eclesiástico inicia entre 27 de
duas mulheres, chama a atenção para a encarnação e contém o Cântico novembro e 3 de dezembro do ano civil precedente, de modo que o
de Maria, o radical Magníficat, que em essência é o credo social do Advento em dezembro do ano civil de 1989 é parte do ano eclesiástico de
cristianismo (cf. Lc 1.39-56). A Santa Cruz ou Triunfo da Cruz (14 de 1990, estando portanto no ano A .
setembro) focaliza o sacrifício de Cristo. Os católicos romanos também
Para cada domingo ou festa estão indicadas três leituras: a primeira
observam outras solenidades: Maria M ã e de Deus ( I de janeiro), José
o
Figura 3
ícones (imagens) de santos circundam a congregação, lembrando-a de
que está celebrando culto em meio a todas as hostes celestiais.
N o Ocidente as igrejas tenderam a desenvolver-se longitudinalmente,
em parte por causa da tecnologia. (A largura máxima das abóbodas Não deveria nos causar surpresa que essas igrejas altamente especia-
góticas era de cerca de 27 m, porém a repetição de intercolúnios permi- lizadas tenham tido um efeito desproporcional sobre as igrejas paroqui-
tia que uma igreja fosse aumentada no comprimento.) Mas isto também ais, onde a maioria das pessoas celebravam culto no seu vilarejo (figura
era resultado da crescente complexidade nas formas de culto e da 5). Esses prédios também acabaram abrigando grandes coros dotados de
especialização dos sacerdotes e do clero menor, bem como dos integran- anteparos, espaços usados somente pelo clero local e pela família senho-
tes das ordens religiosas. O testemunho mais dramático dessa comple- rial. Porém a congregação não era formada por monges ou clérigos, e sim
xidade e especialização é o recuo da mesa do altar, que foi sendo por leigos, relegados à nave donde podiam vislumbrar a missa sendo
afastada do espaço congregacional até que o espaço da mesa do altar rezada na mesa do altar na outra extremidade do coro. A nave
acabou se localizando na extremidade mais distante do e s p a ç o freqüentemente continha um púlpito ao redor do qual podiam ficar de pé.
congregacional no prédio.
nave e coro, tão funcional numa igreja monástica, era um desastre nas
igrejas paroquiais, porém mesmo assim imitada zelosamente. A igreja
paroquial medieval se tornara um lugar excelente para devoções pesso-
ais (que constituía efetivamente o principal uso que o povo dela fazia);
entretanto, era um lugar muito precário para um culto litúrgico genuí-
no com aquela "plena, cônscia e ativa participação das celebrações
litúrgicas, que a própria natureza da Liturgia e x i g e " (CSL, par. 4).
A mesma variedade de experimentação continuou nos Estados Unidos
Outra evolução medieval foi a atribuição de significados simbólicos a
do séc. 18. A figura 7 mostra (em cima) uma típica casa de reuniões
cada detalhe do espaço, dos móveis e atos do culto. Esse crescimento
lento e fantasioso muitas vezes revelava uma perda da compreensão do c o n g r e g a c i o n a l , u m dos muitos arranjos e x p e r i m e n t a d o s pelos
caráter funcional e da óbvia finalidade que os diversos elementos ti- anglicanos e (embaixo) uma casa de reuniões quacre, com a divisória
nham no passado. móvel entre as reuniões dos homens e das mulheres indicada pela linha
em ziguezague.
A s reformas protestante e católica trouxeram grandes alterações nas
disposições. Os jesuítas, que não precisavam de espaço coral para rezar
o ofício diário em conjunto, tomaram a frente entre os católicos romanos
na construção de suntuosas igrejas onde a missa podia ser um deslum-
brante espetáculo. A mesa do altar voltou a ser conspícua, sem o espaço
interveniente de um coral. Púlpitos ornamentados eram comuns.
E difícil fazer generalizações sobre os experimentos protestantes na
arquitetura litúrgica, de tão ricamente variados que foram na tentativa de
dar um salto sobre os desdobramentos medievais para alcançar aquilo
que eles, correta ou erroneamente, consideravam ser padrões primitivos
(da igreja antiga) em termos de construção. Era difícil, se não impossível,
ensinar o sacerdócio de todos os crentes num prédio rigidamente dividi-
do em coro clerical e nave leiga. Os prédios medievais foram adaptados
trazendo todos os comungantes para dentro do coro para a comunhão ou
transferindo todo o culto para dentro da nave. Em alguns casos o coro
simplesmente foi isolado com paredes e usado como escola.
Quando os protestantes começaram a erigir numerosos prédios nos
sécs. 17 e 18, foi extraordinária a diversidade de formas que experimen-
Que têm estes arranjos em comum, se é que têm? Nenhum deles tem A figura 10 mostra um arranjo que poderia aparecer tanto numa
um coro; ele praticamente desapareceu das construções protestantes igreja protestante quanto numa católica romana construída hoje. Os
por cerca de três séculos. A o invés, o espaço congregacional é aumenta- protestantes estariam mais inclinados a colocar a pia batismal em
do, ao passo que os espaços do coral e da mesa do altar encolheram ou frente à congregação, embora isto não seja estranho a igrejas católicas
desapareceram. A construção quacre consiste inteiramente de espaço romanas novas. Os católicos romanos mais provavelmente teriam uma
congregacional e de movimentação. U m acréscimo protestante caracte- cadeira do oficiante; os protestantes atualmente estão reagindo a uma
rístico foram as galerias, para que os oradores pudessem ser ouvidos posição demasiado dominante da cadeira clerical. Ambos se inclinam a
por grande número de pessoas. A s galerias também ajudavam a aproxi- buscar formas centralizadas, com a congregação reunida ao redor da
mar toda a comunidade do púlpito e da mesa do Senhor, embora dificul- mesa do altar.
tassem a movimentação. Algumas das características mais pronunciadas da atual construção
O séc. 19 viu uma estranha inversão. O romantismo do movimento de igrejas são resultado da necessidade econômica e de novos métodos
de Cambridge levou muitas igrejas no mundo de fala inglesa a enxergar de construção. Porém outras, como prédios de perfil modesto, espaço
a Idade Média à luz da lua e clamar por um tipo neomedieval de interior não-direcional e flexibilidade na disposição dos bancos ou
construção (figura 8; compare com figura 5). O reavivamentismo, por cadeiras, mostram tentativas deliberadas de recuperar parte da hospita-
outro lado, enfatizando grandes pregadores e corais de massas, plane- lidade e intimidade das igrejas domésticas nas quais os primeiros
jou o arranjo tipo palco para concertos (figura 9). cristãos celebravam.
Que conclusões práticas para nosso tempo podemos tirar desse rápi-
do apanhado da experiência cristã com o espaço litúrgico? Obviamente
existe diversidade suficiente para dificultar generalizações de qualquer
tipo. Mesmo assim, ao encararmos essas experiências com um olho
crítico, em cada uma delas há muito que admirar e muito que deplorar.
Figura 8 Obviamente a nossa época tem padrões de julgamento diferentes daque-
les de outras épocas, porém se aceitarmos a limitação de estarmos
falando a partir de um ponto de vista do final do séc. 20, podemos
elaborar alguns critérios de relevância prática para aqueles que cons-
troem ou remodelam o espaço para o culto cristão hoje em dia.
, Nosso primeiro critério é o da utilidade. Quão bem funciona um
prédio ao ser usado - não admirado, mas usado - pelos celebrantes? A
questão pode ser resolvida observando-se apenas quão adequadamente
o prédio serve para falar, agir e tocar em nome de Deus. Se a fala não
Figura 9 puder ser ouvida por causa de uma acústica terrível, embora o espaço
funcione bem para a música, dificilmente pode-se considerá-lo adequa-
Nos anos recentes houve muitas mudanças, principalmente desde o do. Ou se a fala soar clara, mas a congregação ficar segmentada em
Vaticano II. E m comum, muitas dessas mudanças representam um galerias inacessíveis de modo que a distribuição da comunhão fique
passo em direção a um plano centralizado, embora com as concessões difícil, o prédio será deficiente. Evidentemente é preciso fazer conces-
necessárias para fazer com que a palavra falada funcione bem e mesmo sões entre uma igreja ideal para a pregação e uma igreja perfeita para o
assim permita arranjos concêntricos das pessoas. sacramento. O critério da utilidade cobre todos os usos. Igrejas são
construídas para ser usadas, e não são monumentos para a admiração
dos turistas e o relato dos historiadores da arte.
Boa parte do sucesso do espaço organizado com a maior utilidade
para o culto cristão é resultado da devoção à simplicidade. Somente
quando entendermos o que é básico e essencial no culto é que construi-
remos bem para o mesmo. A parcimônia e a disciplina são cruciais. U m
Figura 10 número excessivamente grande de prédios de igreja foi arruinado pelo
fato de se gastar dinheiro e esforço em demasia em aspectos não- fácil de se obter. Altura considerável parece ser quase que o único fator
essenciais e por falta de atenção para com elementos básicos. Os seis constante associado a tornar belo o espaço de culto. Outras característi-
espaços litúrgicos essenciais e os três ou quatro centros litúrgicos cas de design continuarão a mudar na medida em que arquitetos tentam
constituem o cerne da nossa disciplina da simplicidade. Saber quando construir o melhor espaço possível do qual a sua época é capaz.
parar é de suma importância. É preciso falar de culto antes de se falar Utilidade, simplicidade, flexibilidade, intimidade e beleza parecem
de arquitetura. Comissões de construção de igrejas são notórios maus ser os critérios pelos quais melhor podemos julgar quão adequadamen-
clientes por não cumprirem sua tarefa, decidindo arbitrariamente o que te a arquitetura litúrgica serve à igreja hoje. Estes obviamente não são
a igreja é e o que ela faz em seu culto. Sem essa informação até mesmo os padrões pelos quais as grandes catedrais do séc. 13 foram construídas,
os melhores arquitetos não podem projetar edifícios adequados para o ou mesmo as igrejas dos anos 50 do séc. 20, embora possamos aprender
culto. O máximo que podem fazer é desenhar fachadas muito atraentes. muita coisa com ambos os tipos. Porém a forma direta e honesta busca-
Nosso apanhado mostrou que as circunstâncias do culto cristão e as da em nosso tempo pode mostrar novos caminhos a se somarem ao
necessidades percebidas estão sujeitas à mudança. Os eventos dos variado legado de outrora.
últimos anos, especialmente, também ensinaram-nos a importância da A s pessoas que têm a responsabilidade de construir ou renovar espa-
flexibilidade. Apesar da constância existente no culto cristão, há pode- ço para uma congregação celebrante têm uma maravilhosa oportunida-
rosas forças moldando e mudando as formas exteriores por meio das de de renovar a vida da sua comunidade. Um projeto de construção pode
quais essas constantes são expressas. A s igrejas mais difíceis de se ser o catalisador que torna possível a renovação da igreja. Também
lidar hoje em dia são aquelas construídas há não muito tempo, quando pode ser um puro inferno. O processo (planejamento para a construção)
ainda não havíamos aceito a realidade da mudança no culto. Um novo pode ser mais importante para a vida da congregação do que erigir o
elemento muitíssimo importante hoje em dia em nosso pensamento produto (o prédio). Afinal de contas, a igreja é gente, e não um prédio.
sobre arquitetura eclesial é a franca aceitação da mudança. A idéia Porém o planejamento de uma construção muitas vezes pode ajudar as
romântica de John Ruskin de que "quando construímos, pensemos que pessoas a descobrir ou redescobrir o que significa ser a comunidade da
estamos construindo para sempre" pertence a outra época. E m vez graça de Deus. Muito depende da liderança exercida na orientação do
disso, deveríamos dizer: "Ao construirmos, não amarremos o futuro." processo de planejamento e da disposição para se tomar o tempo neces-
Isto porque sabemos que será diferente, talvez até dentro de pouquíssimo sário para uma preparação adequada.
tempo. Bancos irremovíveis, púlpitos maciços, bancos fixos para o
coral, tudo isso pertence a uma época que não podia nem sequer Mas o prédio não deixa de ser importante também. Depois de
imaginar a possibilidade de mudança. Mas tanto a história quanto a construído, ele continuará a moldar a imagem do culto durante gera-
experiência recente nos ensinaram que aquilo que parece tão verdadei- ções. Embora não seja totalmente verdade que o prédio sempre prevale-
ro e óbvio em determinado período talvez não o seja no próximo. Não cerá, ao menos precisamos reconhecer que ele pode ser um poderoso
tentemos impor irremediavelmente nossa vontade em concreto àqueles aliado ou um formidável inimigo. Suas testemunhas durarão mais tem-
que v ê m depois de nós. Eles também merecem ser ouvidos. po do que seus construtores. Quanto mais cuidadosamente estudarmos
e refletirmos sobre o culto cristão, melhor equipados estaremos para
U m elemento elusivo ao longo do nosso panorama histórico tem sido a ajudar a planejar um prédio que seja um instrumento valioso a nos
necessidade de construções que promovam uma sensação de intimidade. ajudar a falar, agir e tocar em nome de Deus.
Esta certamente existiu na igreja antiga, foi recuperada em muitas tradi-
ções da Reforma e é ardentemente buscada ao se construir hoje. A
sensação de intimidade é importante ao enfatizarmos a participação de
toda a comunidade celebrante. A atual reação contra construções monu- Música e Espaço Litúrgicos
mentais é um sinal saudável de que um povo servidor aprendeu que a
arquitetura deve servir à comunidade, e não a dominar. Isto implica O espaço determina muitas coisas no culto, porém uma das mais
construções menores e menos dispendiosas, que permitam a cada partici- fácil e tragicamente esquecidas é como ele afeta o som. Cada prédio de
pante do culto sentir que está no palco desempenhando um papel impor- igreja forma um ambiente acústico. Cada qual é único. E poucas coisas
tante no culto, ao invés de ser um espectador solitário perdido na platéia. afetam o culto mais profundamente do que a forma como o som se
O espírito humano associa culto com beleza. A beleza é uma qualidade comporta no espaço. O som naturalmente também existe no tempo, e
elusiva, e o consenso sobre quais coisas e lugares são belos nem sempre é poderia muito bem ter sido tratado no capítulo 2. Porém a relação do
som com o espaço precisa ser enfatizada, particularmente por ser es- ta aprecia um pouco de reverberação. Concessões entre os dois geral-
quecida com tanta freqüência no planejamento do espaço litúrgico. mente são necessárias.
Igrejas são construídas para ser usadas. Em geral são fotografadas Embora tenhamos que nos dar conta de que há muitos outros compo-
vazias, sem gente, porém uma igreja funciona principalmente quando nentes audíveis no culto, nossa atenção principal deve ser dirigida à v o z
ocupada pelas pessoas de uma congregação. O próprio ato de as pes- falada e à música. Diremos mais sobre ambas em capítulos subseqüen-
soas se reunirem é um evento sonoro, muitas vezes iniciado por sinos tes, mas pode ser útil dizer algumas palavras neste ponto sobre música
chamando-as do mundo para a igreja. sacra de modo geral, particularmente na medida que é afetada pelo
O som, então, existe no espaço, assim como no tempo. Nossa preocu- espaço. Assim como a arquitetura é a organização do espaço, a música
pação aqui é com todos os sons que existem dentro de uma igreja e com é a organização do som.
a maneira como esses sons agem nesse espaço para dar forma e deter- A principal função da música sacra (música eclesiástica ou música
minar a natureza do culto ali celebrado. Alguns exemplos podem ser litúrgica) é acrescentar uma dimensão mais profunda de envolvimento
úteis. A s grandes dimensões e superfícies rígidas de prédios medievais ao culto. Atualmente é provável que quase toda sala de coral tenha um
de pedra tornaram necessária a prática de cantar as recitações de prosa cartaz com a citação de Agostinho segundo a qual a pessoa que canta
de forma melódica a fim de garantir sua audibilidade. Os salmos geral- ora duas vezes, só que os temores de Agostinho sobre a atratividade
mente eram cantados em uníssono com melodias do cantochão, prática excessiva da música nunca parecem ser mencionados. H á muita verda-
esta bem adaptada a um ambiente acústico em que o som persiste no ar. de nessa afirmação sobre orar em dobro; para cantar, é preciso ter a
Por outro lado, não é por acidente que o canto congregacional na consciência ainda mais plena do que se está fazendo. A dança acrescen-
Inglaterra se desenvolveu em pequenas casas de reunião de dissidentes, taria ainda outro nível de consciência. Para se cantar um texto é preci-
e não em portentosas igrejas paroquiais medievais. Com o tempo os so mais concentração do que apenas para recitar algo, embora excesso
anglicanos adotaram a prática de cantar hinos, porém quem tomou a de familiaridade possa fazer com que o canto por vezes fique muito
frente foram os congregacionalistas e metodistas. Suas pequenas e batido. Quando há música, geralmente se atinge um nível de desempe-
aconchegantes casas de reunião encorajavam o canto congregacional nho ou atenção mais profundo do que quando não há música. A música,
por fazer com que cada um se sentisse "no palco". Similarmente, seria portanto, acrescenta uma dimensão nova a qualquer evento. À s vezes é
difícil imaginar a silenciosa espera por Deus, no culto quacre, em preciso experimentar a ausência de música no culto costumeiro, só
qualquer lugar onde o som fosse tão ressonante como numa grande para perceber o quanto ela incrementa a participação plena.
catedral de pedra. N u m pequeno espaço doméstico, o culto quacre
parece natural; na vastidão, essa fala a partir do Espírito pareceria Uma das razões por que a música contribui para o culto consiste no
difícil. fato de ela ser um meio mais expressivo do que a fala ordinária. A
música nos permite expressar uma intensidade de sentimento, modu-
O culto implica uma ampla gama de sons. Como é que as pessoas lando o andamento, o tom, o volume, a melodia, a harmonia e o ritmo.
interagem ao se reunirem? H á o som de pés, vozes e cadeiras se mistu- Assim, quem canta dispõe de uma gama mais ampla de expressão do
rando no culto. Bebês choram e crianças choramingam. Estes não cons- que quem fala. A música pode e muitas vezes efetivamente transmite
tituem sons a serem suprimidos, mas os sons naturais e bem-vindos ao uma intensidade de sentimento maior do que se expressaria sem ela.
se formar um corpo. Mas pode haver sons incômodos do exterior que
precisam ser abafados, ou zunidos mecânicos internos da iluminação, Outro fator é a beleza da música. Precisamos ser cautelosos neste
calefação ou do ar condicionado que deveriam ser absorvidos. ponto, porque a criação de beleza não é o objetivo do culto (nem de
certos tipos de música), embora a beleza possa ter considerável valor no
Ainda mais crucial é a voz falada. Se houver um eco refletido por culto. H á muita música com qualidades estéticas mínimas que mesmo
superfícies rígidas ou curvas, a pregação pode ser difícil. Ouvir a assim parece funcionar bem como veículo satisfatório para certos indi-
palavra de Deus não deveria ser impedido por ecos. H á problemas víduos expressarem seu culto. Não se deve criticar um culto usando os
semelhantes com um ambiente demasiado absorvente, que faz com que mesmos critérios que se aplicariam a um concerto. Muitos que foram
cada pessoa pense que está cantando solo, de modo que geralmente ensinados a saber o que é "boa" música sacra para gente sofisticada
acaba parando de cantar. A absorção demasiada pode fazer com que a não reconhecem que também deveriam ter aprendido o que é " b o m "
música de órgão perca muito do seu brilho. A acústica precária pode para as pessoas e as circunstâncias na qual esta música realmente é
frustrar tanto o orador quanto o músico, mesmo que seus requisitos usada. E m todos os níveis de sofisticação cultural há uma série de
não sejam os mesmos. O orador não deseja eco, ao passo que o organis- possibilidades diferentes, algumas muito mais adequadas do que ou-
tras para cada situação. Assim sendo, se não selecionarmos a música de O espaço tem outros efeitos sobre a música coral. Com efeito, o som
acordo com a cultura e a situação da nossa comunidade, corremos o desse tipo de música será em grande parte condicionado pelo espaço
risco de sermos elitistas na escolha. que lhe for destinado. Antes de construir, precisamos perguntar: qual a
U m a função da música, então, è oferecer algo que consideramos belo, função da música coral? Infelizmente costumamos receber como res-
não importa quão exígua seja nossa própria habilidade musical. É por posta um coro de vozes confusas. A maioria das comunidades dedica
isso que, quando a própria pessoa canta, isto implica mais participação muito mais tempo e energia à construção de espaços maiores e melho-
ativa do que quando ela ouve outra pessoa cantando, por mais superio- res para o coral do que ao exame do que entendem ser a sua função no
res que sejam os méritos musicais da mesma. Felizmente não são culto. Mas aquilo que consideramos ser as principais funções de um
tantas as vezes em que precisamos optar entre as duas possibilidades; coral com certeza determinará a organização do espaço coral e sua
podemos ter música coral e congregacional no mesmo culto. Porém o localização relativa aos outros quatro espaços litúrgicos.
canto congregacional tem a vantagem específica de dar a cada pessoa a
Se a principal função do coral é concebida como u m compartilhar do
oportunidade de oferecer a Deus o melhor som que ela pode criar. Não
ministério da palavra - canto para a congregação -, isto pode requerer
se pode substituir isso pelo esforço de outra pessoa.
uma localização de frente para a congregação. Mas um coral se destina
A música sacra é essencial para acrescentar dimensões adicionais de a ser ouvido, não propriamente visto, e esta localização pode causar
sentimento e beleza ao nosso culto. Se a música é tão importante para o problemas. Outros celebrantes não deveriam se ver obrigados a compe-
culto, então os efeitos do prédio sobre a música são cruciais. No culto, tir com o coral pela atenção da congregação, particularmente durante a
todo o prédio da igreja se torna ele próprio um instrumento musical. O pregação. Se um coral é considerado necessário principalmente para
som ricocheteia para todos os lados ou é absorvido no seu interior como oferecer beleza - cantar pela comunidade -, uma localização menos
em qualquer outro instrumento musical. Algumas salas de concerto conspícua também serviria bem. Cada vez mais as pessoas se dão conta
novas são inclusive construídas de modo a ser "afináveis" com painéis de que uma das principais funções do coral consiste em liderar o canto
que podem ser ajustados para que as paredes possam absorver ou congregacional - o canto com a congregação. Isto se aplica principal-
refletir mais som. A t é certo ponto este ajuste acontece também em mente à introdução de novos hinos ou a puxar músicas difíceis. Esta
igrejas. A acústica muda quando mais pessoas se juntam e mais som é função de apoio muitas vezes é melhor cumprida vindo de trás da
absorvido. Como um instrumento musical, o prédio funciona de diver- congregação. De qualquer maneira, o coral deveria ficar tão próximo da
sos modos que afetam diferentes tipos de música sacra. Ele pode real- congregação quanto possível, talvez até misturado com ela. A antiga
çar ou abafar qualquer tipo de música sacra. disposição espacial da basílica (com o coral na frente da nave e cercado Q
pela congregação em três lados) tem muito a recomendá-la hoje para
A s necessidades de música instrumental variam até certo ponto
todas essas três funções. Finalmente, corais às vezes são usados para
conforme o instrumento ou a combinação de instrumentos usada. Geral-
proporcionar fundo musical, o que reduz a música sacra ao entreteni-
mente se deseja um som brilhante e vivo, preferindo-se um pouco de
mento. Nestes casos seria melhor omitir totalmente o coral e o espaço
reverberação, mas não o suficiente para criar um eco que prejudique a
do coral.
fala. O uso crescente de instrumentos que não o piano ou órgão exige
que se providencie espaço. Geralmente se trata de parte do espaço do Mas onde quer que o coral esteja localizado, isto determinará com
coral. E melhor que os cantores e instrumentistas fiquem próximos uns que sensação e significado o coral e a congregação vão ouvir o que é
dos outros, uma vez que é difícil cantar com acompanhamento de longe. cantado. Assim sendo, a localização do coral provavelmente é o proble-
Essa flexibilidade é particularmente importante para o espaço do coral. ma mais incômodo ao se organizar o espaço de culto hoje em dia. E m
É difícil espremer um violoncelo entre bancos do coro, ou carregar um termos ideais, já que o papel do coral pode mudar de uma semana para
piano escadas acima. Mas todo o interior do prédio precisa ser meticu- a outra, o espaço coral seria tratado como espaço móvel. Em algumas
losamente planejado para se evitar que o som tenha que fazer uma ocasiões, como na Sexta-Feira Santa, ele seria omitido inteiramente.
curva de noventa graus para emergir de um coro ou para não se enter- A l g u m a s congregações, depois de muita reflexão, usam o coral apenas
rar um órgão de tubos de U$ 100.000 num transepto. Os efeitos das em ocasiões especiais e para concertos sacros. O espaço coral deveria
superfícies e dos materiais em todo o prédio terão grande impacto estar estreitamente relacionado com o espaço congregacional, de modo
sobre a qualidade da música instrumental ouvida, por mais competente que o coral e a congregação se identifiquem facilmente um com o outro,
que seja a sua execução. em vez de se criar uma aparente divisão entre executantes e ouvintes.
N o culto, todos são executantes.
O mais importante de todos é o canto congregacional. Neste tipo de Eles só desistiram dela quando a idade avançada dificultou a participa-
música, todos os presentes têm oportunidade de se expressar. O principal ção de todos os membros da sua comunidade. Para certos cristãos na
critério aqui não é a beleza, mas a adequação da expressividade. O canto África, batucar e dançar são modos naturais de cultuar com os pés e as
congregacional precisa passar pelo teste de expressar os mais íntimos mãos. A maioria dos protestantes americanos estão distantes apenas uma
sentimentos e pensamentos dos cultuantes. Quando consegue fazê-lo, com ou duas gerações de ancestrais seus que entendiam bater palmas e bater
freqüência é também (porém secundariamente) de grande beleza. com os pés como parte natural da música de igreja. Em muitas igrejas
O canto congregacional é dividido em salmódia (canto de salmos), ortodoxas orientais a congregação inteira continua móvel hoje em dia,
hinódia (canto de hinos) e cânticos (para um conjunto fixo de palavras como o foram os cristãos ocidentais até a introdução de bancos de igreja.
na liturgia, como o Gloria Patri ou o Sanctus). Agostinho chamava o O corpo inteiro participa do culto por meio de diversas posturas
hino de "louvor de Deus em canto", mas em sentido mais estrito a (ajoelhar-se, ficar de pé, sentar-se), gestos (abraçar, partir o pão, fazer o
maioria dos hinos são poesia métrica adaptada a melodias. Eles variam sinal da cruz) e locomoção (para a balaustrada da comunhão, reunir-se,
enormemente em termos de forma e contexto. A canção gospel é um apresentação de ofertas). E m anos recentes a antiga procissão da comu-
tipo informal e altamente individualista. "Pass Me Not, O Gentle Savior" nidade inteira tem sido redescoberta como animadora forma de teste-
ou "Blessed Assurance, Jesus Is Mine", de Fanny Crosby, são exemplos munho, particularmente quando acompanhada de hinódia apropriada.
populares. O hino de ofício consiste em música e texto usados em A t é mesmo a indumentária é parte importante do culto. Ela atesta
ofícios de oração pública diária e muitas vezes termina com uma estro- nossa compreensão da ocasião e nosso papel na mesma, além de facili-
fe doxológica dirigida à Trindade. "Awake My Soul, and with the Sun " tar ou restringir movimentos dotados de significado.
ou "AH Praise to Thee, My God, This Night" são exemplos conhecidos A dança litúrgica tem-se tornado mais comum em anos recentes. E m
escritos na língua inglesa. Muitos outros foram traduzidos do latim por muitos aspectos ela é comparável à música coral, com executantes
John Mason Neale e outros. treinados e habilidosos oferecendo liderança. Quando possível, a con-
A importância do canto congregacional nem sempre impede que seja gregação também deveria participar ativamente, como no caso da músi-
negligenciado. Carlton R. Young disse que muitas vezes tendemos a ca. Onde o espaço congregacional está totalmente tomado por bancos
tratar o coral como se ele fosse a congregação, ao passo que devería- irremovíveis, as possibilidades da dança congregacional são muito li-
mos, ao invés, tratar a congregação como se fosse o coral. O coral mitadas. Mais uma vez, é difícil lutar contra um prédio construído.
sempre é apenas um suplemento da congregação, exceto em concertos O silêncio também é parte importante do culto. A ausência de som
sacros. O coral existe apenas para fazer aquilo que a congregação não muitas vezes pode comunicar muito. Os quacres podem ensinar a todos
consegue realizar, ou para ajudar a congregação a cantar melhor. Músi- os cristãos muita coisa sobre o silêncio. O melhor uso do silêncio
ca coral não é substituto do canto congregacional. depende da disciplina; o silêncio passa a ser plenamente coletivo ao ser
Boa parte da eficiência do canto congregacional depende da acústica. direcionado de tal modo que todos os cultuantes focalizem em conjunto
Um prédio que absorve demasiadamente o som inibe o canto de cada a confissão de pecados, a reflexão sobre a leitura recém-proferida ou a
membro, uma vez que reforça o temor de que a sua voz esteja se intercessão. O silêncio dirigido pode ser intensamente comunitário. U m
sobressaindo. Superfícies rígidas no chão e nas paredes podem ajudar catar moscas indisciplinado certamente não o será. Para não ser inter-
muito o canto. A comunidade também não deveria ser dividida em rompido, o silêncio pode exigir proteção contra ruídos externos, e sons
transeptos separados ou galerias, salvo se necessário. Essas distribui- mecânicos dentro do prédio talvez precisem ser abafados. Mesmo no
ções podem ser boas para o canto responsivo, porém este método é silêncio, o espaço é de suma importância.
pouco freqüente fora das congregações monásticas.
A música é uma arte corporal. Nossas inibições podem impedir-nos de
reconhecê-lo, porém a música chama todo o nosso corpo para movimen-
Arte Litúrgica
tar-se. A s crianças infelizmente são ensinadas a não dançar. Crianças
mais jovens freqüentemente desatam a dançar ao som de música, porém
O espaço também proporciona o ambiente para outro componente
a idade fá-las aquietar-se. Por vezes os cristãos usaram dança litúrgica
importante do culto cristão que são as artes plásticas. Ralph A d a m s
como parte principal do culto: Clemente de Alexandria, no séc. 2, disse
Cram, o famoso arquiteto, gostava muito de referir-se à arquitetura
que a oração envolvia as mãos e os pés. Os shakers ao longo da maior
como o "nexo das artes". Isto em grande parte é verdade: a arquitetura
parte do séc. 19 fizeram da dança uma parte importante de seu culto.
abriga não só a música e a dança, mas também a escultura, a pintura e criadores de santos da cultura hispânica do séc. 19 e início do séc. 20
uma série de artes plásticas e artesanatos. Porém a arquitetura faz no Novo México e no Colorado criaram uma arte litúrgica de extraordi-
muito mais do que apenas abrigar as outras artes; ela aumenta ou nário poder religioso, da mesma forma como os shakers, contemporâne-
restringe a capacidade delas de ajudar os cristãos a expressar sua os deles, o fizeram no tocante à dança litúrgica. Primitivas e toscas são
relação com Deus. as suas imagens, mas ninguém pode contemplá-las sem ser chamado ao
culto. Elas desprendem poder numinoso numa peça de madeira ou na
Quais as funções que as diversas artes plásticas desempenham no tela, baseando-se muito mais em convicção e intuição do que em habili-
culto cristão? A l g u m a s tradições as evitaram totalmente. Por vezes, na dades artísticas acadêmicas. Este tipo de arte atinge nosso olho inte-
igreja antiga e na Reforma, houve violentos rompantes contra elas, rior, e descobrimos quão próximo o ver está do crer.
embora essas diversas irrupções de iconoclastia (destruição de ima-
gens) fossem elas próprias forte testemunho do poder das imagens Aqueles que destruíram arte litúrgica no passado reconheciam clara-
visuais. No extremo oposto, as artes são usadas de modo puramente mente seu poder religioso, porém temiam que o povo ignorante pudesse
decorativo apenas para ornamentar o espaço. Quando amansadas e confundir o espelho com o que se refletia nele. Esta é provavelmente a
inócuas, elas têm pouco poder de contribuir para o culto e apenas forma menos perigosa de idolatria com que nos deparamos hoje em dia.
oferecem uma ambientação visual. De fato, quando a arte litúrgica nos chama para afastar-nos da satisfa-
ção egocêntrica de nossas emoções e nossas vidas autocentradas, ela
Precisamos distinguir entre arte religiosa de modo geral e arte
pode derrubar uma forma muito pior de idolatria.
litúrgica (por vezes denominada arte cultual, particularmente ao se
considerarem exemplos não-cristãos). N u m a formulação bem sucinta, Outra característica da boa arte litúrgica é sua natureza comunitá-
arte litúrgica é arte usada em culto. "Arte religiosa" é uma categoria ria. O que é projetado não é a experiência individual do artista, mas as
bem mais ampla e, segundo certas definições, inclui ilustrações na percepções da comunidade toda. A boa arte litúrgica não é notável por
literatura de escola dominical, paisagens de Van Gogh ou arte abstrata. sua originalidade no assunto, mas por captar a experiência de uma
Paul Tillich estava disposto a usar o termo "religioso" para designar comunidade. Isto não significa que o artista precise ser cristão; desde
qualquer arte que apresentasse profundidade, que penetrasse além da as antigas catacumbas até a França moderna, arte litúrgica bem-sucedi-
observação superficial .6 da tem sido criada por artistas não-cristãos trabalhando sob a cuidado-
sa orientação da comunidade cristã. E muitos artistas cristãos não
A principal função da arte litúrgica é levar-nos à consciência da
conseguiram produzir arte litúrgica satisfatória porque seu devaneio os
presença do sagrado, tornar visível aquilo que não pode ser enxergado
chamou para uma visão pessoal, ao invés de comunitária. Um arquiteto
por olhos comuns. A arte litúrgica não torna Deus presente, porém ela
não pode projetar uma boa igreja sem entender a vida da comunidade
traz a sua presença para a nossa consciência. Assim como uma fotogra-
que a usará, assim como um artista não poderá produzir boa arte
fia traz à memória pessoas amadas que podem estar longe de nós, a arte
litúrgica sem compreender a mesma vida.
litúrgica abre nossos olhos para a presença não-visível de Deus. Há
uma diferença, naturalmente. A arte litúrgica nos conscientiza de uma A comunidade cuja vida em conjunto deve ser atendida por tal arte
presença, não de uma ausência. não tem a idade de apenas uma geração. Trata-se de uma comunidade
de tradições. Estas refletem a maneira como outras gerações experi-
A arte litúrgica realmente adequada tem um potencial tremendo por
mentaram e se regozijaram nas ações de Deus. Elas descobriram que
causa do seu poder religioso . Trata-se do poder de penetrar além do
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das imagens (Deus Pai com uma longa barba) eram ofensivas também no séc. 5 e introduziram calças para homens em Roma, o clero manteve
para os católicos romanos, sendo que grande parte desta arte foi obliterada. a fé na alfaitaria continuando a vestir os trajes cotidianos da Roma
Era mais fácil imprimir novos catecismos, bem menos imaginativos, sem imperial: a casula, uma cobertura exterior tipo poncho, a alba (ou alva)
dúvida, porém muito mais explícitos para ensinar a doutrina correta ou túnica branca tipo vestido usada por homens e mulheres, a estola
numa época de controvérsia religiosa. Georges Rouault, Graham suspensa em torno do pescoço, símbolo do ofício público (comparável a
Sutherland, Stanley Spencer e inúmeros outros mostraram-nos o quanto uma insígnia policial) e a capa de asperges ou pluvial, um tipo de
a pintura pode contribuir para o conhecimento do objeto do nosso culto manto. Derivados da túnica são a dalmática com mangas largas e
de maneiras que transcendem a maioria das categorias verbais. aberturas laterais, e a sobrepeliz com mangas longas, muitas vezes
usadas dentro de casa sobre um traje de sair longo e negro, a batina.
Vestes especiais são usadas pelos bispos em algumas igrejas. O clero
protestante, acadêmicos e juízes continuam a usar a toga preta do
acadêmico medieval. O séc. 18 fez sobreviver um colarinho secular em
duas pequenas faixas brancas pendentes do pescoço, o peitilho, que
alguns clérigos protestantes usam sobre uma veste preta de pregação, Capítulo 4
o talar. A alba é hoje muitas vezes usada como vestimenta exterior,
sendo preferida por muitos por ser igualmente adequada para mulheres
e homens. Estolas acrescentam variedade de cores, texturas e desenhos Oração Pública Diária
a quaisquer outras vestimentas usadas por baixo (ou por cima) delas. A
roupa é um meio de comunicação, e aquilo que o clero usa expressa
algo sobre o evento.
As artes gráficas assumem tantas formas quanto os têxteis. A
primeira impressão que se tem de um culto é, muitas vezes, um
folheto impresso que nos é entregue ao entrarmos na igreja. E então
V imos nos dois capítulos anteriores quão importantes são o tempo e
o espaço como veículos de comunicação no culto cristão. Com
efeito, é bem possível que não-cristãos obtenham a maioria de suas
tomamos nas mãos u m hinário ou outro livro de culto. Talvez haja impressões sobre o culto cristão ao repararem nos dias santos que seus
cartazes na igreja ou no vestíbulo da mesma. A o s poucos estamos vizinhos cristãos observam e nos prédios que os cristãos freqüentam
nos dando conta de que a aparência de uma p á g i n a é quase tão nesses dias. A s impressões que muitos cristãos têm do culto judaico em
importante quanto aquilo que nela está impresso. Impressos litúrgicos grande parte se baseiam em observações semelhantes. Se o tempo e o
têm-se transformado em anos recentes de uma insipidez deprimente espaço comunicam até para as pessoas que nunca entram numa igreja
para a l g o quase que estimulante, embora bons exemplos ainda sejam para celebrar culto, eles funcionarão ainda melhor como veículos de
raros. Toda comissão de culto deveria fazer visitas regulares à loja comunicação para aqueles que de fato ali se congregam.
local de artigos para arte. Obviamente alguns espaços se adaptam Entretanto, a comunidade reunida para o culto cristão conta ainda
melhor à exposição de estandartes e cartazes do que outros, p o r é m mais acentuadamente com duas outras formas de comunicação: a pala-
dever-se-iam considerar iluminação e lugares adequados para expor vra falada e o sinal executado. A importância desses dois veículos de
formas artísticas sazonais. comunicação para o culto não deveria nos surpreender: eles são as
Os tipos mais recentes de artes visuais usam os meios eletrônicos. formas primordiais com que as pessoas se relacionam entre si. Falar e
Filmes quebram demasiadamente a fluência do culto; imagens paradas fazer são tão vitais em nosso relacionamento com Deus por meio do
podem ser projetadas com sensibilidade, contanto que o prédio o permi- culto como essas atividades o são para nossa comunicação com outras
ta. Onde houver controle adequado da iluminação, superfícies reflexi- pessoas. O Criador é quem nos conhece melhor, e Deus se comunica
vas planas e tomadas elétricas, as projeções podem acrescentar uma conosco por meio de palavras e atos, usando fala e atos humanos. Nossa
nova dimensão ao culto que nenhuma outra geração conheceu. Hoje em atenção neste capítulo e no seguinte estará dirigida para a palavra
dia uma parede pode tornar-se qualquer coisa que queiramos projetar falada como forma primordial de comunicação em grande parte do
sobre ela. O poder de projeção precisa ser usado cuidadosamente, culto cristão. Nos capítulos subseqüentes a estes dois exploraremos
porém de modo a não suplantar, e sim complementar e apoiar o restante como as palavras associadas a atos formam a base dos sacramentos e de
do culto. Assim como a boa música litúrgica, as artes visuais precisam outras formas de culto afins.
ser cuidadosamente coordenadas com o restante do culto. O termo "palavra" é tão importante como símbolo de auto-apresenta-
E m todas essas formas de arte, ficamos na dependência do que o ção, que o quarto evangelho a usa (Lógos) para referir-se ao próprio
espaço permitirá. O prédio pode melhorar muito a eficiência das diver- Cristo (Jo 1.1,14). Embora freqüentes, referências a "a mão de Deus"
sas artes litúrgicas ou pode atrapalhá-las formidavelmente. Bem ou aparecem na Escritura apenas metade das vezes que "a palavra de
mal, a influência do espaço em que celebramos culto é crucial. E nem Deus". A "palavra de Deus" tornou-se um símbolo proeminente na Refor-
poderia ser diferente numa religião fundada na encarnação. ma protestante e na teologia subseqüente como termo referente a Jesus
Cristo, à Bíblia e ao evento da comunicação de Deus por meio da fala
humana. É com a última destas, a palavra falada, que estamos nos
ocupando aqui. " A Palavra" pode referir-se a Deus, ao livro e à fala, e
essa ambigüidade simplesmente sublinha a complexidade e importân- horas diárias de oração particular, presumivelmente obedecidas pelos
cia dessa imagem para a vida cristã. mais devotos. O dia começava com oração, após a qual todos eram
Duas estruturas de culto estão baseadas primordialmente na palavra estimulados a participar da instrução pública "na palavra", quando
falada ou cantada. A ç õ e s estão presentes, mas somente de forma subsi- houvesse. À s nove, orava-se "pois a essa hora viu-se o Cristo ser prega-
diária. Essas estruturas são ofícios de oração pública diária (focaliza- do no lenho"; ao meio dia, quando "se fizeram grandes trevas"; às três,
dos no presente capítulo) e a liturgia da palavra (a ser discutida no quando Cristo morreu; antes de ir dormir, à meia-noite, porque "a essa
capítulo 5). Esta última é a forma primária de culto na maioria das hora toda criatura descansa por um momento para louvar o Senhor; as
igrejas protestantes e poderá vir a sê-lo cada vez mais nas congrega- estrelas, as árvores, as águas param um instante"; e mais uma vez ao
ções católicas romanas, caso não se reverta a escassez de sacerdotes. cantar do galo, quando Pedro arrenegou a Cristo . Tratava-se de um
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Começaremos observando as formas em que os cristãos têm orado rigoroso esquema que estruturava boa parte do dia segundo a paixão e
em conjunto diariamente. Depois de um apanhado dos diversos trajetos morte de Cristo.
históricos, descreveremos as prioridades teológicas neles presentes. Talvez ainda mais importante do que a hora da oração particular seja
Sugeriremos em seguida as bases para a tomada de decisões pastorais a observação de Hipólito a respeito de uma reunião diária para instru-
no planejamento, preparo e condução da oração pública diária. ção e oração. E ressaltada a assistência dos diáconos. "Ao se reunirem
todos, [eles] instruam os que se encontram na igreja e, após a oração,
dirija-se cada um ao trabalho que lhe compete." Hipólito pode estar
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O número apropriado de vezes para a oração durante cada dia preocu- Constituições Apostólicas assim instruíam os cristãos: "Reúnam-se
pou muitos escritores cristãos dos primeiros tempos, embora Clemente todos os dias, de manhã e à noite, cantando salmos e orando na casa
de Alexandria achasse que o verdadeiro cristão "ora durante toda a sua do Senhor" . N u m livro posterior, o mesmo documento nos diz: "Ao
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vida" . Tertuliano e Cipriano diziam que se deveria orar três vezes por
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anoitecer, tu, ó bispo, haverás de reunir a igreja, e após a repetição do
dia, referindo-se ao exemplo de Daniel e a vários atos dos apóstolos nas salmo durante o acender [d]as lâmpadas, o diácono dirigirá orações
horas terceira, sexta e nona mencionados na Bíblia . Essa tríplice discipli-
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pelos catecúmenos. (...) Mas após a despedida destes, o diácono dirá:
na é um "sacramento da Trindade", segundo Cipriano. Ambos os norte- 'Tantos fiéis quantos houver, oremos ao Senhor'". Seguem-se uma
africanos também insistiam na oração ao amanhecer e ao anoitecer. oração responsiva de intercessão, outras orações, uma bênção e a
Em Tradição Apostólica, escrito em cerca de 217, Hipólito relata a despedida. O padrão matutino é semelhante, sem o acender das luzes.
respeito da prática cristã na Roma do seu tempo . Ele descreve sete
4 Crisóstomo disse a cristãos recém-batizados que eles deveriam se
reunir "na igreja ao raiar do dia para fazer vossas orações e confis- povo desaparecer no Ocidente, deixando apenas resquícios como o
sões ao Deus de todas as coisas, e agradecer-lhe pelas dádivas que Ele ofício das trevas na Semana Santa ou certos ofícios em Milão e Toledo.
já concedeu", e então cada um "ao anoitecer (...) deveria voltar aqui O monaquismo surgiu como uma revolta contra o que parecia ser uma
para a igreja, prestar contas ao Mestre sobre todo o seu dia e pedir forma demasiadamente frouxa de cristianismo após a aliança entre igreja
perdão por suas quedas" . 10
e império e o fim da perseguição. Tratava-se basicamente de um movi-
E t é r i a fez anotações meticulosas sobre a série diária de cultos na mento leigo, em suas origens. No séc. 5, Cassiano relatou que os primei-
Jerusalém do séc. 4. Ela observou que três grupos participavam do ros monges egípcios observavam "um sistema prescrito de orações (...)
culto diário na Igreja do Santo Sepulcro: monges e virgens, leigos, e o em suas reuniões da noite e vigílias noturnas" , isto é, ao final do dia e
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clero com o bispo. O culto dos monges e virgens é o mais extenso, com durante a noite. Ele fala de um visitante angélico que partiu após o 12 e
hinos, salmos, antífonas e orações ocupando boa parte do dia e da salmo, estabelecendo assim que uma dúzia de salmos nas matinas era
noite. A l g u n s leigos os acompanham, porém os leigos e o clero geral- suficiente para anjo ou monge. A l é m de salmodia e oração, os monges
mente tomavam parte nos "Hinos da M a n h ã " ao raiar do dia, novamen- egípcios liam um trecho do Antigo e Novo Testamento nos dias da
te nas horas menores ou horas apostólicas - às nove da manhã (só semana, e uma epístola e evangelho aos domingos e na época da Páscoa.
durante a Quaresma), ao meio-dia e às três da tarde - e ao anoitecer ao Nas regiões orientais, o desenvolvimento do monaquismo trouxe o
acender da lâmpada (que ela chama de l u c e r n á r i o ) . H á salmos, refinamento de um ciclo diário de culto. Basílio, em suas Regras Mais
antífonas, hinos, oração por todos, a comemoração de indivíduos pelo Extensas do séc. 4, cita vários precedentes dos apóstolos para a oração
nome, bênção dos catecúmenos e fiéis, e despedida". N o "Dia do nas horas menores e também à meia-noite, além da oração na "hora
Senhor", toda a multidão se reúne antes do cantar do galo para uma matutina, para dedicarmos a Deus os primeiros movimentos da alma e
v i g í l i a da madrugada com salmodia, oração, uma leitura da narrativa da mente", e quando o trabalho do dia está concluído "damos graças
da ressurreição, uma procissão para Gólgota com canto, um salmo, pelo que nos foi concedido neste dia (...) e também confessamos nossas
uma oração, uma bênção e despedida. A o raiar do dia de domingo omissões". "Ao cair da noite, vem a prece para que o repouso seja
segue-se a eucaristia com muitos s e r m õ e s e uma "ação de g r a ç a s " em inofensivo e livre de pesadelos", e cedo de manhã, "antecipando-nos à
seguida. aurora, levantamo-nos para a oração". Ele resume: "Nenhuma dessas
É claro que Jerusalém, sendo centro de peregrinação, não era típica, [oito] horas [de oração] seja esquecida por aqueles que se decidiram a
porém reuniões diárias dos devotos para o louvor e oração antes e viver com fervor para a glória de Deus e de seu Cristo", referindo-se a
depois do trabalho do dia parecem ter sido comuns na igreja principal todos os cristãos, não só aos monges . 14
da maioria das cidades ao final do séc. 4. Conforme a descrição de Crisóstomo nos fala a respeito de outro esquema em congregações
R o b e r t Taft, " a hora matutina de oração era u m ofício de graças e louvor religiosas onde, "tendo dividido o dia em quatro partes, (...) ao final de
pelo novo dia e pela salvação em Cristo Jesus. (...) E as vésperas eram a cada uma eles honram a Deus com salmos e hinos", sendo que o dia
maneira cristã de encerrá-lo, agradecendo a Deus pelas graças concedi- começa e termina com culto . Nas Instituições, Cassiano fala do acrés-
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das no dia, pedindo seu perdão pelas faltas do dia e rogando por sua cimo de outro ofício matutino em monasterios de Jerusalém, de modo
graça e proteção para uma noite segura e sem pecado." 12
que a série de sete ofícios "claramente fecha, de acordo com a letra, com
O ofício diário do povo sobreviveu relativamente intacto entre os aquele número indicado pelo bendito Davi (...) 'sete vezes ao dia' [SI
sírios orientais e armênios. Seu desaparecimento no Ocidente foi um 119.164]."16
processo lento. Com o tempo ele foi suplantado ali pelo ofício monásti- O ciclo foi completado no Ocidente pela adoção dos sete ofícios exis-
co. Este é conhecido sob várias designações, como ofício divino, ofício tentes junto com um ofício de completas ao deitar-se. N o início do séc. 6,
diário, ofícios corais, ou liturgia das horas, sendo todos uma série de Benedito estabeleceu o esquema ocidental definitivo (ligeiramente dife-
diversos ofícios diários, ou ofícios ou horas avulsas. Acabamos de ver rente daquele das igrejas orientais), que esteve em v i g o r até pouco
este tipo de oração monástica antecipado em Jerusalém, onde os mon- depois do Vaticano II. O esquema de orações diárias e noturnas era :
ges e as virgens seguiam um curso, o cursus, de recitação dos salmos.
Etéria ficou impressionada com quão "adequados, apropriados e rele-
vantes" estes eram, mas está claro que a maioria dos leigos e clérigos Vésperas (ao final do dia de trabalho)
não freqüentava grande parte da salmodia. Cada vez mais o ofício Completas (antes de dormir)
monástico passou a dominar o culto não-sacramental, até o ofício do Noturnas ou V i g í l i a s ou Matinas (no meio da noite)
Laudes (ao raiar do dia) U m amplo sortimento de hinos de ofício surgiu a partir do séc. 4.
Prima (pouco depois) Fragmentos de sermões e exposições patrísticos, lendas de santos e
Terça (no meio da manhã) mártires, uma rica coleção de orações, bem como responsórios (ora-
Sexta (ao meio-dia) ções dialogais) e invitatórios (chamados à oração) preenchiam as ho-
N o a (no meio da tarde) ras monásticas.
A mudança continuou durante a Idade Média. A mobilidade cada vez
A estas freqüentemente eram acrescentados o Pequeno Ofício da Bem- maior do clero, o desenvolvimento de universidades e a diminuição do
Aventurada Virgem, o Ofício dos Mortos, uma litania, sete salmos tempo para a reza do ofício levaram à disseminada adoção, no séc. 12,
penitenciais e 15 salmos graduais. Orar esses ofícios a cada dia signifi- do abreviado modernum officium usado na capela papal em Roma. Ele
cava um árduo mas não extenuante ciclo diário e noturno de trabalho, apresentava um lecionário abreviado, mais hinos e um calendário modi-
oração e repouso. Para Benedito tanto o trabalho quanto o culto eram ficado. O surgimento dos franciscanos no século seguinte aumentou a
serviço a Deus: " E m todas as coisas Deus seja glorificado."17
pressão em favor da brevidade e de um ofício que pudesse ser rezado
O monaquismo e o ofício diário evoluíram juntos, sendo praticamente durante as viagens. Estruturalmente o ofício passou por uma modifica-
identificados um com o outro. Os oito ofícios diários (as horas canónicas) ção: nova redução na quantidade de Escritura lida e maior número de
se afastaram cada vez mais da identificação com a vida secular dos festas de santos. O ofício passou a ser mais e mais uma sucessão de dias
leigos. O monaquismo deu o tom para este tipo de culto. O clero paro- de festas e cada vez menos a recitação ordenada do Saltério e da
quial copiou os monges observando oito ofícios diários nos coros das Escritura semana após semana.
suas igrejas geralmente vazias. Mesmo esses coros, conforme vimos, Ainda mais importante do que a mudança na estrutura foi a mudan-
eram cópias de coros monásticos, e a música cantada refletia o canto
ça na prática. O ofício se desenvolvera, até o séc. 13, como um ofício co-
monástico. Os estilos de vida secular e religioso produziram apenas um
ral, rezado e cantado em conjunto e em coro pelas congregações religio-
tipo de culto diário, o ofício monástico. O clero tinha a obrigação de
sas e (em igrejas paroquiais) por sacerdotes e pelo clero menor, fazendo
acompanhá-lo; e os leigos, a liberdade de ignorá-lo. E efetivamente o
ignoraram, de modo que "os ofícios deixaram de ser na prática, senão uso da memória e de diversos livros. Novas condições de viagem e es-
na teoria, a oração comum do povo cristão" . A l g u n s poucos talvez
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tudo fizeram surgir a recitação privada e individual de um único volu-
marcassem presença em dias de semana, e mais gente aos domingos, me, um b r e v i á r i o de bolso, certamente uma conveniência, mas também
porém o ofício medieval acabou efetivamente clericalizado. Na Idade uma subversão de todo o princípio do culto conjunto em coro. Mas este
Média tardia pessoas abastadas eventualmente possuíam manuais de passo revolucionário se impôs com tanta firmeza que no séc. 16 uma
culto simplificados, os devocionários para leigos, para leitura (em voz ordem recém fundada, a dos jesuítas, foi totalmente liberada da obriga-
alta) em público ou em caráter privado. Estes geralmente continham ção de recitação coral, fato este sublinhado por seus prédios de igreja
elementos como os ofícios da Bem-Aventurada Virgem e dos mortos. destituídos de coral.
Tais livros no vernáculo ajudaram a preparar o terreno para cultos O desordenado enredamento de festas e regras complicadas deu
posteriores da Reforma. origem a tentativas de reforma, sendo as mais bem-sucedidas as do
cardeal F r a n c i s c o de Quiñones em 1535, revisadas em 1536 . A p ó s 19
Se os ofícios diários atendiam mal as pessoas comuns, eles tiveram inesperada popularidade, ela foi suprimida em 1538 e suplantada pelo
enorme sucesso em abrir u m profundo canal para a vida litúrgica das B r e v i á r i o R o m a n o de 1568. Todos os outros breviários com menos de
congregações religiosas. Em contraposição ao ofício do povo com seu 200 anos foram substituídos, deixando em uso alguns poucos, como o
uso seletivo de salmos, Benedito havia estabelecido uma recitação se- B r e v i á r i o M o n á s t i c o . Mas para a grande maioria do clero e dos religi-
manal sistemática de todo o Saltério. A salmodia, cantada responsiva- osos, impôs-se rigorosa uniformidade e, afora algumas reformas sob o
mente entre os dois lados do coro monástico com antífonas adequadas papa Pio X em 1911, o breviário de 1568 perdurou até os anos 70 deste
(um versículo-chave como refrão), era o cerne do ofício monástico. A re- século.
citação semanal dos salmos durante toda a existência numa vida está-
A Constituição sobre a Sagrada Liturgia (1963) do Concílio Vaticano
vel e m comunidade moldou por séculos a fio a vida de milhares de ho-
I I ordenou uma profunda reforma daquilo que atualmente é chamado a
mens e mulheres. O ofício monástico também usava uma leitura contí-
liturgia das horas. A s orações matutina e vespertina foram declaradas
nua da Escritura, quase que uma disciplina atlética, em vez de ler ape- os "dois gonzos do Ofício cotidiano", devendo, portanto ser "tidas como
nas porções edificantes da mesma, como acontecia no ofício do povo. as Horas principais. (...) A Hora chamada Matinas (...) possa ser recita-
da a qualquer hora do dia. (...) A prima seja suprimida (...) Fora do coro acabar totalmente com esse culto, uma vez que as congregações monás-
é lícito escolher uma das três [terça, sexta, noa]" (CSL, par. 89). Não ticas foram abolidas.
apenas se reorganizou a programação diária, mas também os salmos
foram distribuídos ao longo de um período de quatro semanas, em vez Houve muitas tentativas de adaptação das orações diárias para uso
de uma. " A leitura da Sagrada Escritura" deveria ser proporcionada nas igrejas paroquiais. E m Zurique o reformador Ulrico Zwínglio deu
"em maior profusão", leituras dos padres da igreja "melhor selecionadas", início a ofícios diários que consistiam, em grande parte, de leituras da
e lendas dos santos escolhidas de acordo com sua "fidelidade histórica" Escritura e e x e g e s e da mesma. A ênfase estava grandemente na
(CSL, par. 92). A Constituição não antecipou o subseqüente abandono edificação; o povo de Zurique podia assistir a 14 sermões por semana,
da recitação do ofício em latim, porém encorajou os leigos a "recitar o caso desejasse. Isto serviu de modelo para a prática sub-reptícia poste-
Ofício divino" (CSL, par. 100). rior entre os puritanos ingleses em que o clero se reunia para "profeci-
a s " semanais nas quais todos tinham liberdade de questionar a exposi-
O resultado foi a publicação, em 1971, da Liturgia das Horas, na qual ção que o pregador fazia do texto. E m certo sentido, a necessidade
o dia se articula em torno dos antigos ofícios de laudes e vésperas, monástica de edificação atingiu sua conclusão lógica nos ofícios diários
conhecidos tanto no oficio do povo quanto no monástico. Um ofício de de Zwínglio, dedicados quase exclusivamente à edificação.
leituras, centrado nas Escrituras e nos padres da igreja ou em leituras
sobre os santos, pode ter lugar a qualquer hora do dia. Pode-se escolher Sob Martinho Bucer, reformador de Estrasburgo, a cidade presen-
uma das horas em torno do meio-dia "de modo a preservar a tradição de ciou a abolição da vida monástica e o desenvolvimento de ofícios diários
se orar no meio do trabalho do dia" . E completas está prevista para o
20 em igrejas paroquiais para todos. Isto implicou a tradução dos ofícios, a
final do dia. A nova Liturgia das Horas tem sido incisivamente criticada composição de músicas e a simplificação para dois ofícios diários,
por ser portadora de "um cunho monástico (...) mais uma oração matutino e vespertino . O Saltério de Estrasburgo de 1526 antecipa as
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contemplativa do que u m ofício devocional popular (...) adequada para a reformas de Quiñones uma década mais tarde ao abrir mão das antífonas,
oração privada do clero e dos religiosos" . A necessidade de recuperar
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mantendo, porém, a estrutura básica dos ofícios latinos. Houve acrésci-
um verdadeiro culto do povo continua não satisfeita nas fontes católi- mo de mais leitura e exposição da Escritura.
cas romanas oficiais. Martinho Lutero era conservador. E m 1523 e 1526 ele propôs a volta
a dois cultos diários: matinas e vésperas em dias feriais (dias de sema-
Os reformadores protestantes tomaram medidas mais drásticas para
na, não feriados), compreendendo leituras bíblicas, salmos, cânticos,
reformar a prática da oração pública diária. Conforme vimos, no séc. 16
hinos, o Pai-Nosso, orações de coleta, o Credo e pregação . Embora
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quase monástica aos esforços protestantes no sentido de reformar o cer ao final do século, e em partes da Romênia eles continuaram exis-
culto diário, levando-os a dar à edificação mais importância do que à tindo entre os luteranos até o séc. 20.
oração e ao louvor. O Lutheran Book oi Worship de 1978 acrescenta ao esquema de
Diversos reformadores encontraram diferentes soluções para o pro- Lutero a "Oração da Manhã: Matinas", "Oração da Noite: Vésperas" e
blema do resgate de orações públicas diárias para uso popular. A s "Oração ao Fim do Dia: Completas" (LBW, 131-60). Para cada uma está
soluções podem ser classificadas nas seguintes categorias: para o culto impresso um acompanhamento musical. A Oração da Manhã inclui
paroquial regular, para grupos dentro da paróquia, para comunidades salmodia, cânticos, leituras bíblicas, hinos, orações e prevê, como
especiais e para o culto em família. Havia também a possibilidade de se opcionais, um sermão e o recolhimento de ofertas, bem como uma
bênção pascal lembrando a ressurreição, esta última para uso nos
domingos. A Oração da Noite pode iniciar com um ofício da luz que ofícios. Uma grande tradição de ofícios diários cantados distingue o
contém salmodia, hinos, cânticos, leituras bíblicas, uma litania, e um culto nas catedrais inglesas.
sermão e ofertas opcionais. A Oração ao F i m do Dia inclui confissão, O sucesso de Cranmer foi indubitável. Com efeito, sua oração da
salmodia, uma breve leitura, um responsório, hinos, orações, um cântico manhã e da noite, além de proporcionar o ofício diário, tornou-se o culto
e bênção. Também estão incluídos dois ofícios de "Oração Responsiva", dominical anglicano normal por 300 anos. A litania, a liturgia da pala-
a "Litania", "Próprios para Orações Diárias", "Salmos para Oração vra da ceia do Senhor e um sermão geralmente eram ajuntados à oração
Diária" e um "Lecionário Diário" (LBW, 161-92). da manhã aos domingos até o séc. 19 adentro, causando certa redun-
A história de sucesso na oração pública diária da Reforma aconte- dância. Mas a piedade eucarística popular e a comunhão freqüente na
ceu na Igreja da Inglaterra. O arcebispo Thomas Cranmer, principal Inglaterra tiveram que esperar pelos metodistas do séc. 18 e pelos
arquiteto do Livro de Oração Comum de 1549 e 1552, estava familiari- tractarianos do séc. 19.
zado com o trabalho dos reformadores do continente e do cardeal A disseminada popularidade da oração da manhã e da noite é bem
Quiñones. Ele combinou matinas, laudes e prima do Sarum Breviary compreensível. Ambos os ofícios apresentam grande quantidade de
medieval inglês em "Matinas", ao passo que vésperas e completas Escritura e considerável participação da congregação, particularmente
foram condensadas no "Evensong". N a edição de 1552, as designações no canto dos salmos e cânticos. Os ofícios são deficientes em sua
passaram a ser "Oração da M a n h ã " e "Oração da Noite". A s horas do carência de hinos. Cranmer se queixou da falta de poetas competentes
meio-dia desapareceram totalmente. Cranmer esclareceu seu objetivo para traduzir os hinos dos ofícios medievais. Na qualidade de ofícios
no "Prefácio", onde ocasionalmente até usou as palavras de Quiñones. diários, a serem suplementados aos domingos pela eucaristia, eles não
Ele esperava "que as pessoas (pelo ouvir diário da Sagrada Escritura previam sermão ou ofertas. A oração matutina e vespertina de Cranmer
lida nas igrejas) haveriam de beneficiar-se cada vez mais no conheci- se transformou no bem-amado culto do povo inglês por séculos e nutriu
mento de Deus e ficar mais inflamadas com o amor da sua verdadeira uma rica piedade bíblica, em vez de sacramental. Sem dúvida, parte da
r e l i g i ã o " . Acreditando (erroneamente) que os "antigos p a i s " tinham
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segundo ele, eram "poucas e fáceis" e somente o livro de orações e a Boa parte da qualidade do trabalho de Cranmer se reflete no fato de
Bíblia eram necessários para conduzir os ofícios. A uniformidade apenas pequenas alterações terem ocorrido nos dois ofícios ao longo de
nacional ficaria assegurada, uma vez que "todo o reino terá apenas mais de quatro séculos. O Livro de Oração Comum americano de 1979
um uso". mostra, finalmente, considerável desenvolvimento no ofício diário, inclu-
indo 110 páginas de material (BCP, 36-146). A mudança mais importan-
O esquema é bastante simples; os salmos são "lidos em sua totalidade te é o reconhecimento franco de que esta é uma era de pluralismo no
uma vez por mês", vários a cada dia na oração da manhã e da noite, culto, assim como na sociedade. A diversidade dentro da Igreja Episco-
começando da frente no início do mês. A Bíblia é lida em sua totalidade pal é reconhecida pela impressão tanto da formulação "tradicional"
na seqüência (lectio continua), começando por Gênesis, Mateus e Roma- quanto da "contemporânea" dos mesmos ofícios. Muitas opções apare-
nos (Antigo Testamento e evangelho nas matinas, Antigo Testamento e cem pela primeira vez num Livro de Oração Comum americano: um
epístola no Evensong). O restante do ofício consiste numa magistral breve ofício para o meio-dia, uma "Ordem de Culto para a Noite",
combinação de elementos dos ofícios do Sarum Breviary. Estes incluem incluindo uma simbólica introdução de luz, e um ofício de completas.
o Pai-Nosso, versículos, salmos com Gloria Patri, duas leituras bíblicas, Um lecionário bienal, baseado no ano eclesiástico, prevê as leituras
cânticos, Kyrie, Credo, Pai-Nosso, versículos e três coletas de encerra- bíblicas (BCP, 934-1001). Mas afora o fato de proporcionar mais opções
mento. Uma mudança ocorreu em 1552 com o acréscimo de um prelúdio para sentenças de abertura, antífonas, cânticos e coletas, é notável quão
penitencial que consistia em sentenças penitenciais da Escritura, num pouco o esquema básico foi modificado desde que Cranmer terminou de
chamado à confissão, numa confissão geral e na absolvição. Preceden- escrever em 1552. Uma revisão basicamente conservadora aparece no
tes para esta maneira de começar se encontram tanto em Quiñones (nas Alternative Service Book 1980 inglês, com mais alternativas em termos
matinas) quanto nos reformadores do continente. E m 1662, orações de cânticos e formulações mais abreviadas de oração matutina e ves-
adicionais e a previsão de um hino foram acrescentadas ao final dos pertina (ASB, 48-95).
Outras igrejas produziram recentemente uma variedade de formas. A Family-Worship da Escócia, de 1647, esboçou um esquema diário de
mais ambiciosa é o volume Daily Prayer (SLR, #5), da Igreja Presbiteriana oração e louvor, leitura da Bíblia e diálogo sobre a aplicação da
dos Estados Unidos, com abundantes subsídios para todo o ciclo do ano mesma. Numerosos manuais e coletâneas de orações foram publica-
cristão. O United Methodist Hymnal de 1989 introduz, pela primeira dos ao longo dos dois séculos e meio subseqüentes para orientar esta
vez, ordens para "Louvor e Oração" matutinas e vespertinas (UMH, 876- forma de oração diária. É difícil documentar até que ponto estava
79). Trata-se de uma tentativa proposital de recuperar o padrão do difundido o uso de orações familiares, embora romances vitorianos,
antigo ofício do povo. Diferentemente dos novos ofícios presbiterianos e como Adam Bede, de G e o r g e Eliot, dêem exemplos de uma reunião
de outros da época da Reforma, a leitura da Bíblia é opcional, sendo a diária de oração, salmódia e leitura da Bíblia dentro do círculo
oração e o louvor prioridades nesta mais nova e, contudo, mais antiga familiar. Tais padrões não estão de modo algum extintos hoje em dia,
forma da oração pública diária. e devocionários continuam existindo em abundância, como The Upper
Uma diversidade de padrões de culto nos dias de semana para grupos Room Discipline.
dentro das paróquias desenvolveu-se com o tempo em diversas denomi-
nações protestantes. Estas receberam forte ímpeto do movimento co- Oração Pública Diária
nhecido como pietismo no final do séc. 17 e no séc. 18. O pietismo
estimulava grupos disciplinados dentro da paróquia, que se encontra- APB, 29-40 MDB, 46-104 Também: Liturgia das
vam em dias úteis para estudo bíblico e oração. Estes foram imitados ASB, 45-95 SBCP, 1-92 Horas, 1971,
pelo metodismo incipiente em classes que se reuniam para orientação BAS, 36-143 SLR, #5 4 volumes
espiritual, canto de hinos e oração, em boa parte de forma espontânea. BCP, 37-155 UMH, 876-79 (católico romano)
N o séc. 19 isto se transformou no encontro de oração do meio da sema- LBW, 131-92 WB, 56-61
na, importante componente do culto no protestantismo americano. Es- LW, 208-99 WBCP, 391-441
tes cultos não só eram dominados pelos leigos, como também foram os
primeiros a dar às mulheres a oportunidade de falar no culto público
(excetuando-se os quacres). Esses ofícios informais deram voz àquelas
pessoas muitas vezes sem voz no domingo e contribuíram muito para a Reflexões Teológicas
capacitação das mulheres, levando-as por fim a se engajar em cruzadas
de reforma. As conseqüências políticas da reunião de oração no meio da E preciso ver a oração pública diária à luz da totalidade da vida
semana foram enormes. cristã para perceber o que é significativo e distintivo na mesma. Obvia-
mente a grande maioria dos cristãos não pratica nem sente falta dessa
Diversas igrejas da Reforma também produziram uma variedade de
forma de culto. Devemos concluir então que se trata meramente de uma
"comunidades de interesse comum" que freqüentemente achavam natu-
opção devota disponível para aqueles que apreciam esse tipo de coisa?
ral fazer orações públicas diárias. A comunidade de Little Gidding na
Ou será que ela satisfaz uma necessidade importante, da qual muitos
Inglaterra, reavivada em anos recentes, realizou um ciclo diário de
cristãos têm sido privados?
ofícios de oração por duas décadas no séc. 17. Seu dia iniciava com
ofícios de oração e concluía com ofícios semelhantes incluindo conside- Quando revemos a dinâmica de outras formas do culto cristão, fica-
rável quantidade de canto congregacional. No séc. 18 os morávios de- mos impressionados com o grau em que expressam predominantemen-
senvolveram um sistema de "corais" de irmãos ou irmãs solteiros/as te a graciosa autodoação de Deus às pessoas. O culto dominical normal
que viviam e prestavam culto em conjunto com oração e hinos diários. da palavra está orientado pela proclamação da palavra de Deus por
Dignas de nota eram também as intercessões de hora em hora, realiza- meio de leituras bíblicas, sermão, música e outras artes. A eucaristia
das incessantemente por indivíduos designados para isso. A oração também focaliza em grande parte a autodoação de Deus por meio de
pública diária era comum entre muitas comunidades utopistas, como os ações feitas com pão e vinho. E verdade que esses ofícios incluem
shakers americanos. elementos de hinos, salmódia e oração, mas sua ênfase é outra.
Uma importante tendência da R e f o r m a foi a relocalização do culto A oração pública diária tem um foco diferente e mais pessoal: nossa
público diário na família. O culto familiar passou a ser uma parte resposta em louvor a Deus em meio à vida diária. Trata-se de uma
importante do culto dos puritanos ingleses, presbiterianos escoce- resposta não só à palavra e aos sacramentos, mas à totalidade da
ses, anglicanos vitorianos e seus afins americanos. O Directory for experiência diária: o sol que se levanta, as brigas em família, a monoto-
nia do trabalho. Trata-se, portanto, de um compartilhar comunitário acima, as circunstâncias da vida monástica encorajavam a disciplina da
das nossas palavras dirigidas a Deus. Muito embora formas comuns oração constante, que incluía cobrir o Saltério semanalmente e as Es-
precisem ser usadas para torná-lo plenamente comunitário, cada um/a crituras anualmente. Isto pode ter sido adequado nessas comunidades,
de nós contribui com os dons pelos quais damos graças, as queixas que mas ofereceu o único modelo que os reformadores protestantes tinham
expressamos, as alegrias pelas quais damos louvor. Esta capacidade de para o povo em geral, de modo que tenderam a fazer da edificação a
expressar-nos na situação da vida cotidiana é que torna característica a principal função do culto diário.
oração pública diária. O antigo ofício do povo relegava a edificação a outras ocasiões:
Boa parte da importância desse tipo de culto consiste em proporcio- catequese e culto dominical. Isso deixava a oração pública diária livre
nar equilíbrio. Isto funciona em vários níveis. Há uma necessidade de para concentrar-se na oração e no louvor em termos que eram familia-
equilibrar a oração pública diária com o ritmo semanal do culto domi- res. E m algumas comunidades desde então, como na dos morávios, não
nical (ou sabático). Mencionamos acima as diferenças de dinâmica precisar do hinário ao cantar era um autêntico sinal de que a pessoa
entre o culto dominical da palavra e a eucaristia. Naturalmente é possí- fazia parte do grupo. U m a variedade grande de hinos poderia ser mais
vel ter sermões diários como fez Zwínglio em Zurique, ou uma eucaris- edificante; a familiaridade permitia que a pessoa manifestasse à vonta-
tia diária como fazem alguns católicos romanos e anglicanos. Porém de os próprios sentimentos pessoais. Portanto, é preciso ter cuidado ao
estes têm uma dinâmica que ofícios focalizados na oração e no louvor tomar decisões sobre se a oração pública diária de fato deve focalizar a
não possuem, e o caráter mais íntimo das orações oferece um equilíbrio Escritura e ser edificante, ou se ela atende a um fim fundamentalmente
desejável em relação aos cultos, os quais se prefere que sejam sema- diferente. Certamente a leitura da Bíblia pode e deveria continuar em
nais, em vez de diários. particular, mas é bem possível que a reunião pública diária tenha
Há também a questão do equilíbrio entre oração pública e oração outras prioridades.
particular. Esta última não foi mencionada, mas presume-se que a ora-
ção pública geralmente esteja acompanhada por oração em particular
em outras ocasiões durante o dia. Uma não substitui a outra; cada qual
fortalece sua contrapartida. Precisamos, portanto, encarar a oração
Considerações Práticas
privada como a outra ponta da mesma haste, não como objeto distinto.
Boa parte do valor da oração pública diária reside no fato de ela ser
A oração particular traz energia e foco para a oração pública. Porém a
adaptável às pessoas e às circunstâncias presentes. Todas as revisões
oração pública proporciona um bom equilíbrio para a oração privada ao
recentes parecem enfatizar a flexibilidade, adaptando as coisas às pes-
relacioná-la com o todo da cristandade em oração. Essencialmente, a
soas e à sua situação. Isto tem implicado o acréscimo de muitas opções
companhia de muitas vozes faz com que a oração cristã seja cristã. Nós
e alternativas. Se é que se pode julgar com base nessas novas formas, a
não oramos contra as pessoas, mas para elas e com elas. E precisamos
adaptabilidade está sendo muito valorizada. Cada comunidade tem seus
da disciplina da oração pública para tornar plenamente cristãs as nos-
próprios estilos de vida distintos, e estes deveriam refletir-se na manei-
sas próprias orações particulares. Caso contrário elas podem afastar-se
ra em que ela ora em conjunto. U m grupo de colegiais num retiro não
do essencial e dar voz a fantasias e aberrações privadas.
deveria esperar que vá orar em conjunto da mesma maneira em que o
Neste sentido a oração pública diária é uma escola de oração. Ela nos fariam estudantes de Teologia.
ensina como orar, algo em que nós todos/as precisamos de ajuda, quer
vivamos no séc. 1 (Lc 11.1), quer atualmente. Talvez não nos ensine a Basicamente, a simplicidade parece ser um fator importante nas
orar por João ou Alice, mas nos ensina, sim, a necessidade de irmos ao reformas modernas. Isto combina muito bem com outra qualidade dese-
encontro dele ou dela quando precisarem de ajuda. A oração de 1662 por jável, que é a familiaridade. O importante na oração diária muitas vezes
"todos os tipos e condições de homens" agora parece um tanto exclusi- é ter condições de refletir sobre palavras que são familiares e significa-
va, mas o instinto era de ensinar os cristãos a estar do lado de todos os tivas. Neste sentido o uso de um mantra ou expressão repetitiva em
outros seres humanos na oração. Desta maneira a oração pública nos certas religiões orientais não deixa de ser relevante. N i n g u é m jamais
ensina como orar, uma vez que ela transcende a limitação das nossas mergulha até o fundo do Pai-Nosso. O Salmo 23 e outros bem conheci-
próprias vidas. dos se revelam inexauríveis. Certas orações e hinos continuam a condu-
zir-nos a profundezas ainda maiores. Estruturas de oração diária que
O terceiro tipo de equilíbrio sobre o qual precisamos refletir é o são simples e não-familiares parecem gozar de preferência cada vez
equilíbrio entre oração e louvor e a leitura da Bíblia. Conforme indicado maior hoje em dia.
A familiaridade também torna desejável uma relativa brevidade. Se
10 minutos é bom, isto não significa que 20 seja duas vezes melhor. A
qualidade da oração diária é que nos interessa, não sua quantidade.
Ofícios curtos também podem atrair mais pessoas a dar uma parada no
meio de um dia cheio ou ao anoitecer. Capítulo 5
E m anos recentes tem havido uma percepção crescente de que se
deveriam associar mais ações às orações diárias. Coisas como o ósculo
da paz transmitido com um aperto de mão ou um abraço, a cerimônia A Liturgia da Palavra
de acender um círio ao anoitecer ou a utilização de incenso são, todas
elas, coisas que movem o corpo e os sentidos e deixam claro que todo o
nosso ser está prestando culto a Deus, e não só nossos lábios.
Nenhuma outra forma de culto é tão afetada pela hora do dia como a
oração diária. O termo "liturgia das horas" resgata este sentido. A s N o capítulo anterior sobre a oração pública diária tratamos de uma
forma de culto moldada em grande parte pela palavra falada.
Voltamo-nos agora para outra forma de culto que igualmente provém
pessoas são diferentes a diferentes horas do dia; elas se comportam de
maneiras diferentes, sentem-se diferentes e têm necessidades diferen- essencialmente da palavra falada, a liturgia da palavra. Embora em
tes. O metabolismo físico não deixa de estar relacionado à maneira ambas as formas de culto ocorra bem mais do que simplesmente aquilo
como as pessoas oram a diferentes horas. Qualquer pessoa que esteja que se realiza pela fala, a palavra falada é o modo principal de comuni-
preparando ou planejando uma oração pública precisará ter sensibili- cação. É oralmente que as memórias coletivas da comunidade são lem-
dade para o fato de que as pessoas mudam ao longo do dia. Isto faz bradas e reforçadas.
parte daquilo que a oração pública diária tem de atraente e desafiante. O assunto deste capítulo inclui a primeira metade da ceia do Senhor,
ou missa, porém a liturgia da palavra é também o culto dominical
normal da maioria dos grupos protestantes, com exceção de alguns
quacres. Por isso seria tentador dar a este capítulo o título de " O Culto
Dominical", caso o ofício em pauta não estivesse presente também em
dias úteis como parte da eucaristia ou em diversas ocasiões de
reavivamentos ou reuniões. "Liturgia da palavra" parece então a desig-
nação mais acurada. Outros termos usados para designar a primeira
metade da missa incluem: pré-missa, ante-comunhão, sinaxe ou pró-
anáfora. Para o culto protestante usual existem muitos termos: culto
dominical, ordem matutina, culto de pregação ou culto divino.
Nosso método será reconstituir os diversos trajetos históricos deste
tipo de culto conforme se manifestam na ceia do Senhor e em ofícios
não-eucarísticos. Então poderemos examinar alguns princípios teológi-
cos pertinentes, antes de passarmos a ver como a história e a teologia se
refletem nas questões pastorais hoje em dia.
O OFÍCIO DA PALAVRA luteranos. O novo (1978) Lutheran Book ofWorship retorna ao modelo
do séc. 6. Há uma "breve ordem para a confissão e o perdão", que pode
Primeiros três séculos Séculos 4 a 6 Idade Média preceder o culto. Estão previstos três acompanhamentos musicais (LBW,
57-119). Quando a eucaristia não é celebrada, a seqüência é: hino de
Saudação entrada, saudação, Kyrie, Gloria in excelsis, coleta, primeira leitura,
Salmo 43 salmo, segunda leitura, aleluia ou trato, evangelho, sermão, hino, credo,
Confíteor ofertas, orações (que podem ser intercessões), Pai-Nosso e bênção. Este
Intróito modelo teria sido familiar para um cristão do séc. 6.
(litania), resposta do Kyrie Na tradição reformada, ocorreu uma mudança maior, baseada na
Gloria in excelsis suposição de que se estava seguindo a igreja antiga. Trataremos de
Coleta João Calvino primordialmente porque sua Forma de Orações Eclesiais
(Leituras do Antigo Testamento) (...) segundo o Costume da Igreja Antiga de 1542 (Genebra, Estrasburgo,
6
(Salmo) 1545) foi a fonte a partir da qual esta tradição se difundiu, embora
Epístola grande parte de sua originalidade se deva a Martinho Bucer. O ofício é
(Salmo) Gradual, aleluia, trato (Seqüência) fortemente penitencial e didático. Esta tradição parecia apreciar muito
Evangelho as confissões de pecados medievais. O rito começa com uma vigorosa
Sermão oração de confissão observando que somos "incapazes de qualquer
Credo Niceno bem, e em nossa depravação transgredimos infinita e incessantemente
(Despedida dos catecúmenos) os santos mandamentos". Segue-se a absolvição, depois u m elemento
(Oração dos fiéis) introduzido por Bucer, o canto do Decálogo. Faz-se uma oração espontâ-
nea, canta-se um salmo metrificado para então se pronunciar uma
Diagrama 4 oração de coleta rogando por iluminação, elemento este supostamente
comum no culto cristão antigo, mas que, ao invés disso, tornou-se uma
Querendo ou não, os próprios reformadores tinham sido moldados contribuição distintivamente reformada . Seguem-se a leitura e o ser-
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pela versão medieval tardia deste oficio com sua pesada carga de ele- mão. Uma longa oração pastoral de intercessão, uma petição e uma
mentos penitenciais e a perda da leitura do Antigo Testamento e da paráfrase do Pai-Nosso precedem a bênção de encerramento.
oração intercessória. Se tivessem tido maior conhecimento da história
do rito, teriam tido mais liberdade para reformá-lo; sem esse conheci- Calvino preferia que todas as semanas ocorresse a eucaristia, mas foi
contrariado pelo conservadorismo dos magistrados genebrinos que não
mento, as circunstâncias não p e r m i t i a m que se libertassem. _Qs
estavam acostumados a receber a comunhão com freqüência. Mas é
reformadores de fato contribuíram consideravelmente para o avanço da
importante que o modelo para o culto dominical na tradição reformada
pregação, do canto congregacional e dos ritos vernaculares. Em sua
tenha sido a liturgia da palavra, não o ofício diário. O canto dos salmos
Formula Missae de 1523, Lutero alterou pouco na liturgia da palavra . 4
Sendo basicamente uma revisão conservadora da liturgia da palavra do expectativa do canto de hinos, que trouxe um calor bem característico
Sarum, o rito de Cranmer de 1549 começava com um salmo de intróito, ao culto metodista. A l g u n s metodistas britânicos tendiam a se apegar à
Pai-Nosso, oração de coleta por pureza, Kyrie, Gloria in excelsis, sauda- oração matutina anglicana. John Wesley mostrou ser mau juiz dos seus
ção, coleta do dia e coleta pelo rei . Seguem-se imediatamente a epístola e
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seguidores na América. E m 1792, ano subseqüente à morte de Wesley, o
o evangelho, vindo a seguir o Credo Niceno e o sermão. O culto passa texto impresso da liturgia da palavra foi posto de lado.
então para a exortação e a eucaristia. Dois elementos foram transplanta-
Que aconteceu no séc. 19? Os livros oficiais da lei eclesial metodista,
dos para dentro da própria eucaristia: intercessões aparecem logo após o
os Cânones, durante este século dão apenas um esboço muito vago: "O
Sanctus, e a confissão vem antes da comunhão. Na versão de 1552 houve
ofício matutino deve consistir em canto, oração, leitura de um capítulo
uma guinada na direção reformada: os salmos de intróito desapareceram
do Antigo Testamento, outro do Novo, e pregação." Isto se parece um
e o Decálogo foi acrescentado imediatamente após a oração de coleta por
pouco mais com a oração matutina do que com a liturgia da palavra,
pureza . As intercessões voltaram para logo após o sermão e as ofertas,
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as palavras passam a fazer parte de uma ação que usa um objeto como
pão, vinho, óleo ou água.
N o culto cristão tanto a palavra falada (conforme se encontra na
oração pública diária ou na liturgia da palavra) quanto o sinal executa- •
do (como se encontra nos sacramentos) se reforçam mutuamente. Um
aperto de mão não entra em concorrência com uma saudação falada;
cada qual reforça a cordialidade e o significado da outra. A lavagem do
batismo sublinha as palavras ditas a respeito da ação de Deus na
purificação. Assim como comer e beber, falar e agir estão ligados no
culto cristão. O mesmo Deus que nos deu ouvidos para ouvir também
nos deu olhos para ver.
O culto faz justiça às formas em que as pessoas se intercomunicam.
O beijo faz aquilo que palavras não conseguem; palavras conferem
significado ao beijo. Boa parte da beleza e do colorido da vida se
I perderia se tivéssemos que optar entre um meio ou outro. A o invés,
\ dizemos muito por meio de um aceno da cabeça, um gesto da mão ou
um abraço. Cada um desses atos-sinal, embora pequeno por si só, não
O D e s e n v o l v i m e n t o d a R e f l e x ã o s o b r e os S a c r a m e n t o s
deixa de fazer parte de toda uma galáxia de ações que se somam àquilo
que expressamos em palavras. Essas ações revelatórias são um meio de
nos autodoarmos aos outros ao lhes transmitirmos o que queremos A prática dos sacramentos sofreu apenas poucas mudanças dramáti-
dizer ou mesmo quem somos. Palavras fazem isso, porém nem mais nem cas ao longo dos séculos. O desenvolvimento da prática, em sua maior
menos, apenas de modo diferente. parte, foi como o lento desabrochar de um botão. Novas formas de
compreender o que era experimentado nos sacramentos também não
Desde a época do Novo Testamento a igreja julgou essenciais certos foram articuladas rapidamente, exceto em algumas poucas épocas de
atos-sinal para expressar o encontro entre Deus e as pessoas. Esses controvérsia. Muitos termos que atualmente consideramos essenciais
atos-sinal significavam coisas sagradas e se tornaram formas de ex- eram desconhecidos nos primeiros mil anos de história da igreja. Inclu-
pressar aos sentidos o que nenhum sentido físico poderia perceber, a sive o número de sacramentos permaneceu indeterminado ao longo da
autodoação de Deus. Os sacramentos nos chamam a "provar e ver" (SI maior parte da história do cristianismo.
34.8), tocar, ouvir, até mesmo cheirar "que o Senhor é bom". Neles o
físico passa a ser um veículo do espiritual na medida em que o ato-sinal Mais uma vez precisamos começar pela mentalidade e pelos costu-
nos faz experimentar o que ele representa. Obviamente só certos atos- mes judaicos que possibilitaram o surgimento dos sacramentos entre os
sinal dentre as miríades que usamos na vida cotidiana funcionam como cristãos. É difícil imaginar uma vida sacramental se desenvolvendo a
sacramentos. O processo de chegar a um consenso sobre quais atos- partir de alguma religião que não o judaísmo. Os judeus mantinham
sinal deveriam receber a designação de sacramento foi complexo, con- uma tensão entre a transcendência de Deus e o envolvimento concreto
forme veremos resumidamente. dele nos eventos reais da história humana. Deus era tornado conhecido
por meio de eventos e objetos que revelavam a vontade divina, mas que
O número de atos-sinal que podem ser usados universalmente no nunca eram confundidos com a deidade. Os seres humanos, por sua vez,
culto é limitado e parece haver uma propensão natural para o podiam responder a Deus por meio de ações adequadas.
conservadorismo ao se reter aqueles que comunicam bem. Os que estão
em uso atualmente teriam sido familiares em qualquer período da A mais profunda dívida da cristandade para com o judaísmo nesta
história cristã. Atos-sinal não mudam com tanta rapidez como palavras área, então, é a mentalidade que concebia o uso de certas ações e obje-
faladas. Talvez seja esta uma razão por que parecem tão constantes nas tos físicos como uma maneira de os seres humanos e Deus se comunica-
solenes crises da vida: nascimento, matrimônio, doença e morte. rem. Mesmo assim Deus permanecia transcendente, jamais devendo ser
confundido com o que foi criado. Desta maneira, até mesmo objetos
Quando a função original de algo se torna obscura, há no cristianis- inanimados podiam adquirir o poder de falar, sem por isso jamais
mo uma tendência a lhe sobrepor um significado simbólico para mais passarem a ser identificados com Deus. U m a coluna de fogo, uma nu-
tarde abandoná-lo como irrelevante. Tanto os puritanos quanto os cató- vem, um vulcão, o pão de cada dia, todos podiam tornar-se maneiras
licos tenderam a tornar triviais certas ações e enterrá-las debaixo de pelas quais Deus era revelado, embora ele não fosse nenhum desses.
uma pilha de palavras. U m a refeição virou um lanche rápido, o ato de Assim evitava-se uma falsa cisão entre o material e o espiritual. Mesmo
lavagem foi minimizado enquanto interpretávamos em palavras aquilo objetos ordinários, como a água, podiam ser usados para transmitir o
que estava acontecendo, em vez de efetivamente fazê-lo. Só nos últimos amor de Deus a nós. De tempos em tempos os cristãos precisam lem-
anos tomamos consciência plena do valor que as ações têm por si brar-se de que não são chamados a ser mais espirituais do que Deus; o
mesmas enquanto sinais, finalmente dispondo-nos a deixá-las "falar" caminho para o espiritual passa por muitas realidades materiais.
por si mesmas.
E m todo o Antigo Testamento encontramos uma variedade de formas
Neste capítulo vamos reconstituir o gradativo desenvolvimento da de simbolismo profético nas quais ações dramáticas exprimem para as
reflexão cristã sobre aquilo que a igreja experimenta nos sacramentos. pessoas a vontade e intenção de Deus. Freqüentemente as ações não só
Parte desse exame implicará familiarizar-nos com termos que os cris- revelam, mas também ajudam a iniciar eventos. Jeremias faz um jugo de
tãos selecionaram ao longo de séculos como sendo os mais adequados ferro ou esmaga um pote de barro. Essas ações dão ímpeto à subseqüen-
para explicar o que experimentaram nos sacramentos. Tentaremos de- te revelação do que Deus pretende. Elas fazem parte dos próprios even-
pois enunciar o significado que os sacramentos têm hoje. A exposição tos que antecipam, tendo assim o potencial de cumprir a vontade de Deus.
prática acompanhará os distintos sacramentos nos capítulos subse-
qüentes. Do judaísmo também procede uma profunda compreensão de cada
refeição como evento sagrado. Esta, que é uma das atividades sociais
humanas mais comuns, transformava-se para o judaísmo numa oportu- são uma base mais firme para os sacramentos do que os relatos sobre
nidade de louvar e agradecer a Deus, bem como de formar um vínculo suas palavras. Em nível ainda mais profundo, o próprio Jesus como
de unidade entre os participantes. Longe de ser mera necessidade física, manifestação visível de Deus é o sacramento primordial. A igreja, ao
a refeição transformou-se numa maneira de encontrar-se com Deus fazer o que ele fez, simplesmente dá continuidade à sua missão sacra-
como provedor, anfitrião e companheiro. mental de revelar Deus .2
O judaísmo descobriu que os seres humanos também podem usar A igreja continuou a repetir as ações de Jesus a partir da sua morte,
ações para alcançar Deus. Práticas de sacrifício de alimento e bebida isto é, muito antes de as Escrituras terem recebido a forma escrita. O que
tornaram-se maneiras de estabelecer e manter relacionamentos com encontramos registrado nas Escrituras representa, então, práticas sacra-
Deus. Embora as formas de interpretação do sacrifício sejam comple- mentais que a igreja há muito já observava. A s diversas narrativas de
xas, o conceito central parece ser o uso de objetos de valor para transmi- instituição da ceia do Senhor (Mt 26.26-29; M c 14.22-25; Lc 22.15-20; 1 Co
tir nossa intenção, nosso próprio ser, numa entrega do eu para a comu- 11.23-26) podem informar tanto sobre o cumprimento da vontade do
nhão com Deus. Senhor pelas igrejas em diversas localidades quanto nos falam sobre as
Sem essa mentalidade judaica e sem essas práticas a vida sacramen- próprias diretrizes do Senhor . Em suma, os sacramentos são mais anti-
3
tal do cristianismo jamais teria nascido. Mas, como a maioria dos gos que as Escrituras em sua forma escrita, as quais se referem tanto à
primeiros cristãos também eram judeus, essas formas de pensar e fazer prática litúrgica contemporânea quanto ao passado recordado.
as coisas lhes v i e r a m naturalmente. Embora cercados por uma grande Os atos de obediência da igreja a Cristo são, portanto, nossa princi-
variedade de religiões idólatras, os primeiros cristãos foram capazes de pal prova do fundamento dos sacramentos, muito mais do que as pala-
usar o material como canal para o espiritual. Seu senso do transcenden-
vras da instituição. Não há razão para se acreditar que a prática da
te lhes deu liberdade para usar o material de maneiras espirituais sem
igreja não seguisse fielmente o que ela entendia serem as intenções do
risco de idolatria. Era uma liberdade temperada pela responsabilidade
próprio Jesus. As práticas apostólicas dos seguidores de Jesus que bati-
para com os irmãos mais fracos (1 Co 8), que ainda não tinham se
livrado dos grilhões da idolatria. zavam (At 2.41), impunham as mãos (At 6.6), oravam (At 2.42), curavam
(Tg 5.14) e repartiam o pão em conjunto (At 2.46) são atos de obediên-
Os evangelhos mostram Jesus e seus discípulos usando os padrões cia. Esses atos dos apóstolos revelam as intenções de Jesus tanto quan-
sacramentais do judaísmo. Os discípulos começaram a batizar cedo du- to quaisquer fórmulas em letra vermelha. Isto também significa que não
rante o ministério de Jesus (Jo 4.2), seguindo um costume que se desen- estamos limitados a um punhado de passagens para interpretar as in-
volvera de batizar pessoas convertidas ao judaísmo. O próprio Jesus se tenções de Jesus no que tange a sinais representados, mas que podemos
submetera ao batismo pelas mãos de João Batista, fato este explicado recorrer a Atos e às epístolas, que fornecem muito mais detalhes.
pelos evangelistas (com certa dificuldade) como tendo ocorrido para que O Novo Testamento está repleto de referências àquilo que gerações
"se cumprisse toda a justiça" (Mt 3.15). Era óbvio para Jesus, bem como posteriores chamariam de sacramentos. Dentre todas, as mais numero-
para qualquer outro judeu, que a comemoração anual da Páscoa fazia sas, como se poderia esperar de uma igreja inflamada de zelo missioná-
reviver o momento crucial de sua história. A própria refeição pascal era rio, são as referências ao batismo. E m segundo lugar v ê m as menções
uma série de atos-sinal que recordavam o que Deus fizera para tornar os da ceia do Senhor. Alusões muito dispersas aparecem no tocante a
judeus u m povo distintivo. Esses costumes faziam parte do próprio ar outras ações sacras como impor as mãos, curar, ungir e perdoar. E m
que Jesus e seus discípulos respiravam. Nada podia ser mais natural do nenhum desses casos obtemos muito mais do que um lampejo da práti-
que transformar essas práticas familiares ao estabelecer uma nova alian- ca apostólica. Menos ainda encontramos uma exposição do que essas
ça, ou melhor, uma nova maneira de comemorar tal evento. práticas significavam para os participantes. Mas, no geral, descobrimos
Muito menos claro é o que Jesus precisamente tencionava que seus inúmeras percepções ricas e variadas da fé e prática sacramental da
seguidores fizessem. Pode-se discutir se temos na Escritura ordens igreja apostólica. A s múltiplas descrições da prática apostólica são
expressas nas palavras efetivas de Jesus para batizar (Mt 28.19), perdo- como diferentes facetas de uma jóia. Para lhes fazer justiça precisamos
ar pecados (Jo 20.23) ou comer e beber em memória dele (1 Co 11.24-25). virar a jóia em todas as direções de modo que todas as facetas possam
Por outro lado, pouca dúvida pode haver de que a igreja antiga conside- cintilar. Infelizmente, ao longo de toda a sua história a igreja tendeu a
rava estar cumprindo a vontade do Mestre ao continuar essas práticas considerar apenas uma única faceta, ou duas, ignorando o resto. Tenta-
em seu nome. Não há dúvida de qué Jesus recebeu o batismo, perdoou remos, em capítulos subseqüentes, examinar a rica variedade dessas
pecados ou observou a festa. Neste sentido as próprias ações de Jesus facetas bíblicas de modo a obter uma visão equilibrada.
Assim sendo, podemos ser gratos pelo fato de não haver no Novo A s definições precisas com que estamos familiarizados eram desconhe-
Testamento um capítulo dedicado exclusivamente a retratar a vida e a cidas, porque ninguém pressionava a igreja a definir o que ela queria
doutrina sacramentais. Nos diversificados e dispersos fragmentos, dizer. Conceitos como um número exato de sacramentos, ou o momento
espelha-se uma realidade mais ampla e mais profunda. E m nosso desejo em que o Espírito Santo era concedido na iniciação, ou o momento em
de sistematizar precisamos resguardar-nos da tentação de fixarmo-nos que os elementos e u c a r í s t i c o s e r a m c o n s a g r a d o s t e r i a m s i d o
numa visão estreitamente coerente, em vez de aceitar o sortimento rico desconcertantes no período heróico da igreja. Por bem mais de mil anos
e variado que a Escritura apresenta. A Bíblia não nos dá liturgias ou não havia consenso sobre quantos sacramentos existiam precisamente.
teologias sacramentais, mas assenta os fundamentos sobre os quais Para Agostinho a lista incluía coisas como a pia batismal, o uso do sal
elas podem ser erigidas. A igreja usa o Novo Testamento, então, não no batismo, as cinzas da penitência, o credo, o Pai-Nosso e o Dia da
como um livro de leis e estatutos, mas como a constituição fundamental Páscoa. Importava uma coisa: que nesses sinais representados Deus
para o seu ministério dos sacramentos. era dado aos seres humanos.
Precisamos ter cuidado ao dirigir à igreja antiga nossas perguntas E m conseqüência, aquilo que sabemos a respeito da prática e reflexão
sobre os sacramentos. Os próprios termos e categorias em que pensa- primevas sobre os sacramentos vem indiretamente. Tertuliano escreveu
mos são produtos de eras posteriores. Nossos termos pareceriam irre- o breve tratado Sobre o Batismo em inícios do séc. 3, mas ele nos fala
mediavelmente legalistas e mecanicamente precisos para uma era mais mais sobre a disciplina batismal do que sobre teologia. Em Sobre a
inclinada a experimentar os sacramentos do que a considerá-los objetos Penitência ele nos dá um pouco mais de teologia, mas, na maior parte,
de estudo teológico. Por outro lado, podemos aprender muito com o uso conselhos práticos. Obtemos lampejos de ritos propriamente ditos em
que a igreja fez dos sacramentos nos primeiros séculos da era cristã. Hipólito, mas quase nenhuma interpretação. Ambrósio, João Crisóstomo,
Uma intuição básica se revela no termo grego normalmente usado Teodoro de Mopsuéstia e Cirilo de Jerusalém são mais detalhados nas
para designar um sacramento, mystérion. A tradução usual, "mistério", preleções dadas a cristãos recém-batizados, nas quais tentam interpretar
leva a mal-entendidos. Da maneira como o Novo Testamento usa o aquilo que os novos cristãos acabavam de experimentar pela primeira
termo, ele se refere aos pensamentos secretos de Deus, os quais trans- vez. Elas datam do séc. 4, mas são tão perigosas quanto tantalizantes.
cendem a razão humana e por isso precisam ser revelados àqueles que Para nós é tentador retroprojetar desdobramentos posteriores no Ociden-
Deus deseja que esses segredos alcancem. E m Mc 4.11 Jesus diz aos te e Oriente para dentro dessas parcas afirmações sobre o que ocorre na
discípulos: "A vós foi dado o segredo [mystérion] do reino de Deus", ao eucaristia. Mas essas preocupações são nossas, não deles. Agostinho nos
passo que outros precisam depender de parábolas. Paulo usa o termo desconcerta com aparentes contradições ao apresentar, lado a lado, inter-
para referir-se ao próprio Cristo, à pregação apostólica, àquilo que é pretações realistas e simbólicas da presença de Cristo na eucaristia. O
falado no Espírito e à oculta sabedoria de Deus. A intuição básica no que para nós é incoerência nunca preocupa esse grande pensador. Nos-
uso desse mesmo termo para designar aqueles atos-sinal que chama- sas categorias decididamente não são as suas, e nossa linguagem
mos de sacramentos é que mystérion implica atos nos quais Deus se exclusivista parece um tanto banal, em comparação.
revela a nós. Esses mistérios celestiais são completamente dependentes Agostinho efetivamente cutucou a igreja para a frente em diversos
da atuação de Deus em sua autodoação. rumos irreversíveis no tocante à compreensão do que ela experimenta-
Infelizmente o termo latino escolhido por Tertuliano para tomar o va nos sacramentos. Ele deu início à tentativa de definir um sacramento,
lugar de mystérion não tem toda essa riqueza Sacramentum é um considerando-o um sinal sagrado que representa aquilo que significa,
termo que se referia a um juramento de lealdade prestado por um assim como pão e vinho representam corpo e sangue. D a maior impor-
soldado ou a um voto de cumprir uma promessa. É um termo muito tância são suas expressões "forma visível" e "graça invisível", que
mais legalista e carece da dimensão cósmica da autodoação pessoal moldaram a definição-padrão da Idade Média tardia (em Graciano e
divina conotada por mystérion. Mesmo assim, é a palavra que a igreja Pedro Lombardo) segundo a qual "um sacramento é a forma visível de
ocidental escolheu a partir do séc. 3. uma graça invisível". A l é m disso, Agostinho distinguia entre o sacra-
Qualquer que seja o termo utilizado, os sacramentos eram mais mento visível em si (sacramentum) e o poder (res) de um sacramento.
experimentados do que debatidos pela igreja antiga. Heresias abunda- Afora a graça invisível, o sacramento não tem poder em si mesmo;
vam em outras áreas, mas reinava relativa tranqüilidade neste aspecto somente este poder ou força invisível é que pode conferir-lhe efeito.
da vida da igreja, sem considerar defesas ocasionais dos sacramentos E m função do seu envolvimento na controvérsia donatista, Agostinho
contra aqueles que desprezavam a utilização de objetos físicos no culto. teve que esclarecer quem efetivamente tinha sido batizado. A o refutar um
grupo de cismáticos norte-africanos conhecidos como donatistas (e o bis- mente nos sécs. 12 e 13. A maior parte das nossas abordagens dos
po católico Cipriano), que acreditavam que só pessoas boas podiam re- sacramentos hoje em dia estão tão fortemente tingidas por esses desdo-
alizar bons sacramentos, Agostinho divulgou alguns conceitos que se bramentos medievais tardios, que para nós é difícil enxergar por trás
instalaram permanentemente no pensamento da igreja sobre os sacra- deles. É extraordinário quão tarde vieram esses desdobramentos. Uma
mentos. Antes de mais nada, Agostinho tinha que demonstrar que os polêmica sobre a natureza da eucaristia foi deflagrada em meados do
donatistas, mesmo cismáticos, possuíam batismo genuíno, embora ilegi- séc. 9 entre dois monges da Abadia de Corbie, na França setentrional,
timamente. Isto é verdade porque os sacramentos não dependem da pes- Pascásio Radberto e Ratramno. No séc. 11, B e r e n g á r i o percebeu, para
soa que os administra, mas de Deus. Seu poder não é humano, não está sua consternação, que havia alguns limites para aquilo que eram fron-
condicionado pelo caráter moral ou pela doutrina do celebrante, mas, em teiras aceitáveis para crenças referentes à eucaristia. Ele se viu forçado
vez disso, depende de Deus, que usa os sacramentos para realizar as suas a retratar suas impopulares concepções de uma abordagem puramente
próprias intenções. Esta é ao mesmo tempo a mais importante e mais simbólica. Porém mesmo então uma considerável amplitude ainda era
controversa declaração teológica jamais feita sobre os sacramentos. Ou- possível. Ainda no séc. 12 havia opiniões variadas sobre o número de
tros a trabalharam como a doutrina do ex opere operato, isto é, de que sacramentos. Ainda em 1140 Hugo de São Vitor relacionava coisas tão
Deus opera simplesmente através da obra realizada, independentemente diversas quanto a bênção dos ramos, o recebimento de cinzas, a
do agente humano. A grande contribuição de Agostinho consiste em genuflexão ou a recitação de credos como sendo sacramentos, e em
esclarecer que a fonte dos sacramentos é a atuação divina, não a humana. 1179 o Terceiro Concílio de Latrão falou da instituição de sacerdotes e
— Se os donatistas tinham batismo genuíno, eles o tinham, todavia, do sepultamento dos mortos como sacramentos. E m suma, de Agosti-
contrariando as leis da igreja católica e sem os benefícios do batismo. nho até o séc. 12 ainda havia considerável amplitude no tocante a
Permanecendo obstinadamente no cisma, eles não podiam se beneficiar muitas doutrinas sacramentais.
do amor e da caridade da comunidade na qual o batismo inicia a pessoa. Enquanto isso a prática e piedade populares continuaram a mudar. A
Agostinho não leva essas conclusões à sua definição precisa, mas estão prática da penitência passou por uma radical transformação a partir do
implícitos aqui os germes de distinções bem posteriores: os sacramen- séc. 7, deixando de ser um ofício público somente para aqueles que
tos podem ser válidos (isto é, conferem a graça) ou inválidos; regulares tivessem praticado transgressões graves, para passar a ser um ofício
(isto é, de acordo com a lei da igreja) ou irregulares; e eficazes (isto é, privado para todo o mundo. Lenta mas inarredavelmente os ritos de
benéficos) ou ineficazes. Mas, depois de Agostinho ter vergado a rama
iniciação foram fragmentados no Ocidente. Mais lentamente ainda_a
nesta direção, ela estava fadada a crescer, transformando-se em um
igrejapassou a dominar a cerimônia do casamento. A cura passou a ser
importante ramo da teologia sacramental e lei canónica.
associada quase que exclusivamente com a morte, sendo conhecida
Sintetizemos o que se pode aprender da igreja antiga no tocante aos como extrema-unção. A prática eucarística transformou-se cada vez
sacramentos. O número de sacramentos era indeterminado e não estava mais numa celebração da missa como espetáculo grandioso, raramente
definido como eles operavam. Preocupação maior era expressa sobre com comunhão e com pouca participação dos leigos. A t é mesmo a
quem poderia receber os sacramentos e quem poderia executá-los, em- ordenação sofreu mudanças na medida em que cerimônias acessórias
bora mesmo nestas questões parecesse haver considerável imprecisão. p ^ s s a x a m a j g m i n a r o rito cada vez mais.
Aquilo que viria a ser uma incrustação jurídica dos sacramentos na O séc. 12 foi uma época em que se sintetizou a Escritura e os pais da
teologia e na lei canónica mal tinha se desenvolvido. Mas o que era igreja, resumindo aquilo que se aprendera até ali e dividindo esse
patente e característico é que os cristãos experimentavam nos sacra- conhecimento em segmentos manejáveis. A teologia sacramental mos-
mentos a autodoação de Deus, regozijando-se nesses atos-sinal. Muito trou um desenvolvimento fulminante. Da maior influência foi a obra de
mais tarde Calvino haveria de dizer sobre a eucaristia: "(...) não [me] Pedro Lombardo, professor e (por pouco tempo) bispo em Paris, cuja
envergonhará confessar que é um segredo por demais sublime para que obra Quatro Livros de Sentenças foi completada em cerca de 1150,
possa ou ser compreendido por meu entendimento, ou ser explicado por tornando-se o compêndio básico da doutrina cristã por quase 500 anos.
[minhas] palavras, e, para que [o] diga mais abertamente, [que] mais Ele é o funil pelo qual todos os desdobramentos anteriores de alguma
experimento do que entenda." Isto também poderia sintetizar boa parte
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significação passaram para um aprimoramento futuro. N u m a passa-
do testemunho dos primeiros cristãos sobre os sacramentos. gem-chave Lombardo nos diz:
- t > O período medieval mostra um lento movimento em direção a mais
definições e nova terminologia, processo este acelerado consideravel- Vejamos agora os sacramentos da nova aliança, os quais são: batismo,
confirmação, a bênção do pão, isto é, a eucaristia, penitência, extrema-
unção, ordenação, matrimônio. Destes, alguns oferecem remédio para o conferem a todos os que os recebem dignamente" . Três coisas são
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pecado e conferem a graça auxiliar, como o batismo; outros são mero necessárias para cada um desses sacramentos: a matéria apropriada
remédio, como ^matrimônio; outros fortalecem-nos com graça e virtude,
(objetos, como água), as palavras corretas ou a forma (como a fórmula
como a eucaristia e a ordenação.
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patente para nossos sentidos) e a res (coisa, isto é, fruto do sacramento) sacramento a matéria, a forma e o ministrante adequados, bem como os
fazendo uma distinção tríplice entre o sacramentum em si (o exterior e benefícios proporcionados ao receptor.
visível), a res (os frutos interiores) e o sacramentum et res (a combina- Tudo isso é muito coerente e nítido, longe da imprecisão de Agosti-
ção dos dois, isto é, tanto o sinal quanto a realidade). Uma indicação de nho até mesmo sobre o número dos sacramentos. O que tinha aconteci-
desdobramentos futuros ocorre na declaração de Lombardo de que "um do é que os sacramentos se haviam transformado num sistema, um
sacramento é adequadamente assim denominado por ser um sinal da modo de vida cuidadosamente elaborado, no qual cada jornada ou pas-
graça de Deus e a expressão da graça invisível, de modo que leva sua sagem humana importante era assistida com um sacramento apropria-
imagem e é sua causa" . Assim sendo, um sacramento santifica bem
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do. Nascimento, crescimento, matrimónio, ordenação e doença eram
como significa, e isto o século seguinte haveria de elaborar em detalhe. todos marcados por sacramentos. Era-se nutrido na eucaristia e recupe-
E m outro ponto, Lombardo olha para trás, e não para a frente. A o rado da queda por meio da penitência. Os efeitos de cada sacramento
chegar o séc. 13, tomou-se como certa a premissa de que um sacramento foram meticulosamente elaborados, de modo que as pessoas que os
somente poderia ser instituído por Cristo, um acréscimo à definição de recebessem com a disposição adequada, isto é, sem colocar obstáculo à
sacramento como "forma visível de uma graça interior" que veio a sua operação, podiam ter certeza de receber a graça designada.
causar uma explosão na Reforma. Porém Lombardo, embora certo de W Quais são os resultados dessa evolução medieval tardia? A igreja
que Cristo instituiu o batismo e a eucaristia, aparentemente segue a finalmente definiu-se a respeito do que experimentava nos sacramen-
crença anterior de que os apóstolos instituíram o restante e relata que a tos. Feliz ou infelizmente, ela dispunha das ferramentas da filosofia
unção dos enfermos foi "instituída pelos apóstolos" . Lombardo e o
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aristotélica e podia prestar contas de forma racional daquilo que expe-
passado não foram seguidos neste ponto. rimentava. Mas aí também está seu ponto fraco. O que percebemos nos
Outros problemas foram atacados por teólogos do séc. 13, os teólogos escolásticos desse período é um racionalismo do correto, total-
escolásticos, especialmente as questões de ministrantes e recebedores mente ortodoxo, porém mais uma questão de categorias racionais do
adequados, bem como os efeitos e a operação da graça nos sacramentos. que experienciais. A definição do milagre da eucaristia em termos de
Num período de brühante atividade teológica, a experiência eclesial dos substância localizada é um exemplo disso, embora no séc. 13 o termo
sacramentos foi reduzida a palavras. A clareza de linguagem assim formu- "substância" fosse um termo muito mais experiencial do que hoje . 11
lada perdurou, e até pouco tempo atrás todas as discussões subseqüentes Não é possível evitar uma sensação de que nessas distinções nítidas
estavam vinculadas à terminologia elaborada nesse período. Os concílios sobre a operação da graça há o perigo de saber demais, o esquecimento
de Florença e Trento nos sécs. 15 e 16 pouco mais fizeram do que pôr um de que se está lidando com mistérios celestiais, não com aquilo que é
timbre oficial no trabalho teológico efetuado durante o séc. 13. suscetível de solução filosófica.
A mais conveniente síntese de todo esse trabalho encontra-se no O sistema sacramental que abarcava toda a vida foi um produto
Decreto para os Armênios publicado pelo Concílio de Florença em brilhante da engenhosidade humana, tratando de todos os aspectos da
1439. Ele principia relacionando aquilo que até ali se tornara a lista assistência pastoral. Este foi o seu problema. H á limites para a
convencional dos sete sacramentos, que "tanto contêm a graça quanto a engenhosidade humana quando a realidade irrompe de maneira
inexplicada, não compreendida em nossa filosofia. Um sistema excessi- qual Jo 20.23 se aproxima de uma injunção dominical. Se Lutero tives-
vamente arrumado levou o catolicismo romano, em especial depois da se tido a liberdade, que prevalecia ainda no séc. 12, de aceitar uma
Reforma, a tratar os sacramentos de maneira demasiado jurídica e a instituição outra que não de Cristo somente, a Reforma teria tomado
enfatizar em excesso a questão da validade, obsessão esta que alcançou • outro curso, mas ele próprio estava cativo da qualificação "instituído
seu auge no séc. 18. A necessária preocupação com a afirmação de que w\¿? por Cristo", do séc. 13.
os sacramentos dependem de Deus ex opere operato podia às vezes O ímpeto do ataque de Lutero levou o C o n c í l i o de T r e n t o (1545-1563)
sofrer um desvirtuamento, resultando num conceito mecânico de graça, católico romano a declarar, em desafio: "Se alguém diz que os saoraj
tipo toma lá, dá cá. Muito mais livres eram os sacramentais, um núme- I mentos da Nova Lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, nosso
ro indeterminado de práticas piedosas como bênçãos de mesa, utiliza- ¿0 Senhor, ou que eles seriam mais ou menos do que sete (...) seia anàte-
ção de água benta, atos de caridade, e t c , cujos benefícios dependiam da rna/1' Trento (prudelSêrnênfê) não entrou e m detalhes sobre onde todos
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disposição interior do e x e c u t a n t e (ex opere operantis). A l é m disso, os sete foram instituídos, ou sobre as contrastantes opiniões dos pais
todo o sistema sacramental estava muito fortemente vinculado ao mi- da igreja. Os protestantes, com a mesma obstinação, sustentaram que
nistério do clero ordenado. Só o batismo e o matrimônio podiam ser somente dois sacramentos tinham autoridade divina. Infelizmente não
ministrados por leigos, e no Ocidente geralmente só bispos podiam era mais possível concordar que o número de sacramentos fosse desco-
conferir a confirmação e a ordenação. Mulheres podiam somente reali- nhecido ou que alguns pudessem ter sido instituídos pelos apóstolos
zar batismos de emergência e unir-se a um homem no casamento. seguindo as práticas do próprio Cristo. Definições medievais tardias
N ã o obstante, até mesmo aqueles que questionam o sistema sacramen- haviam fechado essas portas para protestantes e católicos.
tal não podem deixar de admirar sua abrangência e minuciosidade no A desintegração do sistema sacramental pode não ter sido o que
atendimento às necessidades humanas, embora possam questionar tam- Lutero desejava, embora ele certamente deplorasse seu clericalismo,
bém a sabedoria de se saber demais sobre a maneira como Deus age. sua filosofia aristotélica e sua justificação pelas obras. Mas a verdade é
Problemática pode ser também a restrição medieval tardia do número de que ele o desintegrou, e as peças jamais voltaram a se unir no protes-
sacramentos a sete, a crença de que todos os sete foram instituídos por tantismo. Lutero e seus contemporâneos sabiam m e n o s sohrR a, igreja.
Cristo e toda a estrutura de um sistema tão intimamente interligado. A o antiga dojrue_juigavarn gaher, e muito menos do que nós pensamos
se lidar com algo tão sublime como a maneira pela qual Deus age ao se saber. E em seu zelo de reformar o sistema eles por vezes deixaram de
autodoar, divisões e distinções escolásticas muito nítidas talvez não perceber seu lado humano, sua capacidade de atender às mais profun-
sejam um substituto adequado para a admiração e o assombro. das necessidades humanas desde o nascimento até o leito de morte. É
A rebelião contra um sistema tão finamente concebido explodiu por verdade que nesse sistema havia falhas, porém ele oferecia assistência
fim na pessoa de Martinho Lutero. O mais veemente golpe de Lutero pastoral abrangente a necessidades humanas profundamente sentidas
contra o sistema sacramental foi desfechado em seu Cativeiro Babilónico que são permanentes.
da Igreja (1520), no qual ele abriu sucessivas brechas nos muros que os A pressão sobre uma parte do sistema sacramental com certeza
romanistas haviam levantado para proteger a missa. Escrito com fúria haveria de distorcer outras partes. Quando o sacramento da penitência
avassaladora, não era uma exposição lógica, mas uma explosão violen- foi abolido, como poderia o pecador contrito encontrar o mesmo
ta contra todo o sistema sacramental. É difícil sobrestimar sua força; asseguramento concreto de absolvição que este sacramento garantira?
esse escrito moldou todo o pensamento protestante posterior sobre os O resultado foi obrigar a eucaristia a ser um sacramento penitencial
sacramentos. Com exceção de pequenos grupos como os quacres e o também, um processo já fortemente desenvolvido na piedade medieval
Exército da Salvação (que em princípio contestam a necessidade de tardia. Desde a Reforma a eucaristia protestante tem prestado duplo
sacramentos exteriores), todos os grupos protestantes aceitaram a. con- serviço, como sacramento tanto de penitência quanto de ação de graças.
clusão final de Lutero de que somente dois sacramentos foram instituí- Afinal de contas, a profunda necessidade humana de ser perdoado não
dos por Cristo e que por jfiso R Ó há. ñnia «gicramentos. Lutero fez restri- desapareceu simplesmente pelo fato de o sacramento da penitência ter
ções ainda mais rigorosas do que seus predecessores da Idade Média ^ sido abolido; ela simplesmente sobrecarregou a eucaristia. Talvez seia_
tardia, ao declarar que os únicos sacramentos são aqueles para os quais ¡0 mais exato dizer que o protestantismo tem dois-sacramentos. e-meÍQLX>
o Novo Testamento registra palavras explícitas de Cristo, isto é, aquelas ' b a t i s m o e uma eucaristia penitencial.
com injunções dominicais, nas quais Cristo claramente ordena os sa-
cramentos. A t é mesmo Lutero teve problemas com a penitência, para a .O destronamento da confirmação como sacramento foi igualmente
problemático. Em v e z de voltar a ser unida ao batismo, a Reforma a
transformou numa experiência didática que se expressa numa cerimô- agente nos sacramentos, e as pessoas são as receptoras daquilo que
nia de formatura para aqueles que deram conta do catecismo. Boa parte Deus resolve fazer em nosso benefício por meio dos sacramentos. Calvino
da educação cristã passou a ser construída sobre essa resolução duvi- encarava os sacramentos como "sinais visíveis melhor adaptados à
dosa. A s racionalizações medievais sobre os efeitos da confirmação não nossa capacidade limitada", nos quais Cristo age "dando garantias e
foram muito melhores, mas ao menos o catolicismo considerava a confir- penhores" . Esta abordagem é francamente sacra ao insistir que Deus
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mação uma dádiva de Deus, em vez de um ato de educação humana. usa os objetos e ações físicas deste mundo para realizar a sua vontade
O matrimônio foi preservado, mas não como sacramento. Pode-se para conosco. A eficácia dos sacramentos não depende de nós, mas é
debater se na realidade a ordenação alguma vez deixou de ser tratada dádiva da graça. Deus faz os sacramentos acontecerem, embora as
como sacramento. A t é mesmo João Calvino poderia tê-la considerado um pessoas sejam livres para receber ou rejeitar a dádiva de Deus que neles
sacramento, caso fosse destinada a todos os cristãos. A maioria dos se encontra.
protestantes tratam a ordenação como conferidora de um caráter indelé-
O séc. 18 viu uma mudança mais sutil, embora ainda mais drástica
vel e não reordenam clérigos que voltam ao ministério ordenado após um
do que a da Reforma no tocante à teologia dos sacramentos. Ela se deu
trabalho secular. Ironicamente o protestantismo nunca desenvolveu um
nas tendências dessacralizantes do iluminismo, que considerava repug-
rito de passagem semelhante para o ingresso em profissões seculares.
nante a noção de que Deus interviria no tempo atual, ou que ele usaria
Os protestantes tiveram que pagar pela perda da cura como sacra- objetos e ações físicas para realizar a vontade divina. A o s poucos, para
mento, em parte pelo afloramento de esforços bizarros e espetaculares alguns protestantes, estas concepções acabaram por erodir a visão
de atender a uma necessidade humana básica: o desejo da ajuda de Deus tradicional católica e reformatoria de que Deus age por meio dos sacra-
para restaurar a saúde. mentos para realizar seus objetivos. A s tendências dessacralizantes
Quais foram os resultados alcançados pela Reforma no tocante aos reduziram o papel de Deus nos sacramentos e aumentaram o da huma-
sacramentos? Muitos não foram propositados, principalmente o de em- nidade. O biblicismo continuava suficientemente firme para que os
purrar o culto sacramental do centro para a periferia da vida cristã. cristãos aceitassem dois sacramentos como sendo e x i g i d o s pelo
Resgates vieram apenas muito mais tarde, nos inícios do metodismo, ensinamento de Jesus.
nos Discípulos de Cristo e no Movimento de Oxford. Lutero propôs Para vasto segmento do protestantismo os dois sacramentos passa-
algumas percepções profundas sobre o batismo como estilo de vida que ram a ser meros exercícios piedosos de memória. Os sacramentos eram
nunca foram devidamente consideradas nem mesmo pelos seus sucesso- ocasiões em que as pessoas lembravam o que Deus fizera em tempos
res. Calvino teve mais sucesso do que seus contemporâneos na fusão de passados. Atribuía-se-lhes um imenso valor prático de instigar as pes-
razão, biblicismo e certo senso de reverência ante os mistérios sagra- soas a um maior esforço moral. A lembrança dos atos passados de Deus
dos. Nesse ponto ele foi quem mais se aproximou da compreensão da era considerada forte incentivo para se levar uma vida melhor. P o r é m a
igreja antiga, deixando um legado que teve sua ressonância em John ênfase no protestantismo dessacralizado estava não na atuação presen-
Wesley. A tentativa da maioria dos reformadores de restaurar a comu- te de Deus, e sim na lembrança do que Ele fizera outrora. A atuação é
nhão freqüente para os leigos teria sido um ganho formidável, não humana; nós lembramos, nós agimos.
fosse esta uma mudança demasiadamente radical em relação à prática Há premonições desses desdobramentos no tratado Sobre o Batismo,
medieval tardia de recepção pouco freqüente do sacramento. Os de Ulrico Zwínglio, de 1525, embora elas sejam menos evidentes em sua
reformadores também eram filhos da Idade Média tardia. Porém alcan- compreensão da ceia do Senhor. Zwínglio ainda vivia num mundo sacro
çaram ganhos claros no culto sacramental por meio de ritos vernaculares em que Deus intervinha no culto. Ma.s a, yerdadfijxa ruptura que ocorreu
simplificados, maior participação da congregação, canto comunitário, ao longo do séc. j j y t o i j i a ^ e ^ j m t r e os que acompanhavam o conceito
leigos bem catequizados e uma nova ênfase na pregação da palavra. católico e reformatorio tradicional de que Deus age nos sacramentos e
Talvez a Reforma tenha sido excessivamente dramática, uma vez que, aqueles que os consideravam basicamente exercícios piedosos de mgj
apesar de todo o alarido, muito mais se manteve do que se descartou do mórja. Entre estes últimos estava uma grande variedade de grupos
aparato de pensamento agostiniano e medieval sobre os sacramentos. protestantes, desde os bispos anglicanos até os batistas da fronteira
Mesmo ao deblaterar contra a transubstanciação, Lutero se empenhava americana. A t é mesmo Benjamin Franklin se lançou à revisão de livros
em pensar sobre a eucaristia em termos de presença espacial. E muitos de orações, mostrando as vantagens práticas de lembrar Jesus para
dos reformadores preservaram a essência do ex opere operato ao pen- melhorar o próprio caráter. Este é o racionalismo da esquerda. Se o
sarem os sacramentos como atos de Deus. Para eles, Deus é o principal racionalismo da direita incrustou a piedade medieval numa concha de
filosofia aristotélica, então o racionalismo do séc, 18 criou um universo começou a ser algo comum para os católicos romanos pela primeira vez
rigorosamente dessacralizado, no qual tudo não passava da sua própria depois de mais de um milênio. O M o v i m e n t o L i t ú r g i c o trouxe mais
aparência externa. mudanças, em termos de incremento do estudo bíblico, maior participa-
Não era mais Deus que fazia acontecer os sacramentos; isto dependia ção da congregação e uma clara visão da igreja como comunidade. O
dos seres humanos. Era algo muito mais limitante, porque tudo dependia Vaticano II acelerou esse processo com importantes avanços em termos
do fervor humano para gerar a capacidade de lembrança. Muitas vezes de doutrina (particularmente no tocante à igreja e aos sacramentos) e
essa capacidade não conseguia produzir um fervor duradouro para lem- em consideráveis alterações no culto. A revisão pós-Vaticano II dos
brar Deus e ajustar o comportamento. Era uma piedade do tipo Getsêmani livros litúrgicos acarretou importantes modificações na forma exterior
("Se Cristo fez ... será que você não pode pelo menos...?"), e seu fervor de cada um dos sacramentos, embora estas tenham sido mais evidentes
muitas vezes era frágil. O resultado foi uma grande queda no culto sacra- na penitência e na cura. Menos óbvio foi o fato de que se passou a tratar
mental nas tradições protestantes como a luterana, a qual em alguns os sacramentos menos em termos jurídicos legalistas (principalmente
lugares mantivera uma eucaristia semanal até fins do séc. 18. no que tange à sua validade e regularidade) e com uma preocupação
O valor da doutrina do ex opere operato é claro; se os sacramentos maior com os frutos (eficácia) na vida das pessoas.
são meros exercícios piedosos de memória, então eles têm pouca chance N o protestantismo, alterações de igual importância podem ser detec-
de ser o centro de um culto cheio de vida, mas permanecem somente tadas no crescimento difundido de uma piedade sacramental mais pro-
como um sobrevivente legalista porque Jesus certa vez disse: "Fazei funda. N o s últimos anos se tem visto maior freqüência de cultos
isto". Tradicionalmente, o objetivo dos sacramentos não era de induzir eucarísticos, avançando de freqüência trimestral para mensal e para
bom comportamento ético, mas de dar às pessoas acesso a Deus (o que, semanal em muitas congregações. A emergente recuperação da euca-
por sua vez, efetivamente altera o comportamento). ristia como norma no culto dominical também foi acompanhada por
Hoje em dia existe uma verdadeira divisão no protestantismo entre uma preocupação maior com o batismo como ato da congregação.
aqueles que seguem a Lutero, Calvino e Wesley na concepção tradicio- Menos detectável, porém ainda mais significativa, é a gradativa mudan-
nal de que Deus age nos sacramentos, usando-os como meio da graça ça no sentido de não mais se encarar o culto como experiência intelectu-
para a autodoação divina, e aqueles que seguem as tendências al de instrução ou como válvula de escape emocional, mas como algo
dessacralizantes do iluminismo, que encarava os sacramentos como que abrange todo o nosso ser: corpo, emoções e intelecto. Entre todos
algo que as pessoas fazem a f i m de estimular a memória õLojJue Deus ia. os cristãos surgiu uma maior sensibilidade para o papel crucial que
fez. Esta divisão é, no mínimo, tão grande quanto aquela existente entre atos-sinal desempenham nas relações interpessoais e no encontro entre
os reformadores e seus contemporâneos católicos romanos. Felizmente Deus e as pessoas. Muitos descobriram que um ato-sinal tão carregado
nenhuma das duas abordagens está congelada, e há sinais de que de emoção como é a imposição de cinzas na Quarta-Feira de Cinzas faz
ambas estão começando a mudar. Hoje em dia estamos vendo com parte do culto da mesma forma como um sermão doutrinal. Provavel-
maior clareza a autodoação divina que ocorre nos sacramentos, ao mente o impacto dessas mudanças reflete algo mais amplo do que
mesmo tempo em que estamos descobrindo mais a respeito do seu apenas o culto: estamos descobrindo mais sobre o que significa ser
aspecto humano na medida que este tem a ver com a comunicação. plenamente humano. O reavivamento do interesse pelo sacramento ape-
nas mostra quão profundamente antropológicos são os sacramentos,
isto é, com quanta exatidão eles refletem o que é ser humano.
Essa nova preocupação focalizou a atenção no v a l o r de sinal dos
Nova Compreensão dos Sacramentos sacramentos, isto é, em quão bem eles comunicam. Podemos batizar
com um conta-gotas se nossa única preocupação for a validade do
N o s últimos anos a cristandade ocidental passou por grandes mudan- sacramento, ou seja, aquilo que é o mínimo a se fazer para ainda se ter
ças no tocante à maneira como os sacramentos são compreendidos. um sacramento legítimo. Mas se o que nos interessa é o valor do
Essas mudanças romperam fronteiras denominacionais e mudaram tan- sacramento como sinal, o batismo obviamente comunicará muito mais
to a fé quanto a prática em amplos segmentos do mundo cristão. em termos de purificação e lavagem se uma quantidade considerável de
A s mais óbvias alterações na prática ocorreram no catolicismo roma- água for vista, ouvida e até sentida vicariamente. Para os responsáveis
no desde o Concílio Vaticano II. Entretanto, a mudança já começara no pela condução do culto, surge uma nova preocupação, que é a qualida-
início deste século, quando a recepção da comunhão todas as semanas de da celebração. Quão bem aquilo que fazemos comunica em termos
humanos o que Deus está fazendo? Neste sentido nenhum detalhe é A prática e a teoria, a experiência e a compreensão devem caminhar
insignificante se contribui para o valor-sinal daquilo que fazemos nos juntas. N ã o é fácil elaborar um ensinamento claro em pouco espaço,
sacramentos. A humanidade intrínseca dos sacramentos se mostra na assim como não é simples tecer um padrão coerente a partir de fios de
fidelidade com que eles seguem formas humanas normais de comunica- cores e texturas muito diferentes. Mesmo assim, o restante do presente
ção e de relacionamento com outros. Isto confere grande responsabili- capítulo tentará, da forma mais breve possível, fazer um apanhado
dade às pessoas que estão conduzindo o culto: que tenham percepção contemporâneo do que os sacramentos podem significar para o cristão
plena daquilo que estão comunicando com a voz e com o corpo. de hoje. Falaremos de todos os sacramentos aqui. N e m todos os comen-
A s modificações na prática sacramental muitas vezes refletiram novas tàrios_se aplicam da mesma forma a cada sacramento A l é m de terem
formas de compreender aquilo que se vivência nos sacramentos. O mais muito em comum, os sacramentos obviamente diferem entre si. Somen-
significativo avanço no presente século começou com o teólogo alemão te alguns cristãos são ordenados, ao passo que todos recebem o batis-
Odo Casei, monge beneditino de Maria Laach na Alemanha. A teologia mo. A s generalizações deste capítulo precisam ser temperadas pelas
do mistério de Casei salientou que o culto cristão é basicamente um especificações dos capítulos subseqüentes.
mistério de tempo no qual a realidade de eventos passados volta a ser A esta altura deveria estar claro que considero o número de sacra-
oferecida a nós quando os reencenamos no culto. Ele evitou muitos dos mentos como indeterminado, assim como o fizeram a maioria dos sécu-
termos escolásticos do séc. 18 e procurou mostrar como, através da los cristãos. O número de sete é tão arbitrário quanto dois, e as possibi-
recordação coletiva da história da salvação pela igreja, cada cristão pode lidades ventiladas pelos primeiros 12 séculos cristãos parecem mais
apropriar-se desses eventos e viver "nossa própria história sacra" .
14 ricas do que aquelas selecionadas pelos últimos oito.
Os desdobramentos teológicos do pós-guerra nos Países Baixos e na E m primeiro lugar, parece que qualquer compreensão satisfatória
Bélgica, associados aos nomes dos teólogos Piet Schoonenberg e Edward dos sacramentos deve começar com a crença de que Deus age nos
Schillebeeckx, produziram novos avanços significativos. Cristo, o Sa- sacramentos. Isto significa que os sacramentos dependem do uso que
cramento do Encontro com Deus, de Schillebeeckx, foi a obra mais Deus faz deles, não do caráter moral das capacidades ou intenções dos
influente sobre teologia sacramental dos anos ligados ao Vaticano I I . 15 seres humanos. A forma exterior, visível é um tanto moldada pelas
Nela o autor apresenta Cristo como o sacramento primordial por meio pessoas e pode variar em detalhes de uma geração para outra, porém a
do qual nos encontramos com Deus. Os sacramentos visíveis são meios graça interior depende de Deus. A res, a coisa ou fruto do sacramento,
pelos quais podemos experimentar um relacionamento pessoal gracio- depende de Deus, embora as pessoas possam impor um obstáculo ao
so com Deus. A s categorias usadas por Schillebeeckx são relações que Deus oferece. Neste sentido podemos falar do caráter objetivo da
humanas pessoais, e não termos jurídicos e estáticos. Em certos pon- graça divina nos sacramentos.
tos, algumas percepções de Calvino parecem vir à tona; em outros Estes são, naturalmente, os conceitos que Agostinho usou com tanta
aparece a filosofia fenomenológica moderna. veemência em seu debate com os donatistas. Os sacramentos não de-
Foram vários os fatores que influenciaram as novas abordagens dos pendem do caráter moral do celebrante, mas exclusivamente de Deus.
sacramentos. Análises da Escritura lançaram nova luz sobre nossa com- Os seres humanos estão livres da necessidade de fazer um sacramento
preensão da riqueza e complexidade do testemunho bíblico sobre os acontecer; somente Deus pode fazê-lo. N e s t e sentido a p o s i ç ã o
sacramentos, e estudos históricos mapearam o lento desenvolvimento da dessacralizante é profundamente insatisfatória, uma vez que faz com
experiência cristã dos sacramentos e da reflexão sobre os mesmos. O que os sacramentos dependam da atuação humana, obrigando que sua
ecumenismo fez com que cada ramificação do cristianismo se dispusesse fecundidade repouse sobre o grau de fervor com que os sacramentos
a compartilhar sua experiência particular, bem como a assimilar a expe- são abordados. Isto confunde o papel de Deus, o doador, com o dos
riência de outras. Controvérsias antigas foram contornadas, muitas vezes seres humanos, os receptores. A l g u m a forma da doutrina do ex opere
com base numa compreensão melhor da herança comum do Novo Testa- operato parece essencial para salvaguardar o sentido crucial da ativida-
mento e da igreja antiga. A moderna teoria da comunicação, estudos de divina, embora isto não deva ser levado a um ponto tal que torne
antropológicos e a pesquisa sociológica esclareceram o conteúdo huma- irresistível a graça ou deixe completamente passivas as pessoas.
no dos sacramentos, levando a uma compreensão mais profunda de como Os sacramentos, como Calvino percebeu com tanta clareza, são idéia
as pessoas se relacionam entre si e com Deus. de Deus, destinados por Deus a nos conduzir a Ele. " O misericordioso
Tendo em vista todos esses fatores, qual será a melhor forma de Senhor", diz Calvino, "à nossa capacidade aqui assim Se acomoda, que
expressarmos o papel dos sacramentos na vida do cristão hoje em dia? (...) Se não agrave a Si conduzir-nos mesmo com estes elementos terre-
nos e propor na própria carne um espelho dos bens espirituais." Deus
16
Não há amor que não se manifeste de alguma maneira. Qualquer emo-
é quem melhor nos conhece e sabe da necessidade de fortalecer nossa fé. ção humana tão poderosa quanto o amor se reflete na maneira em que
E o Criador é quem melhor sabe como se dirigir a nós como criaturas. nos relacionamos com a pessoa amada. O amor está constantemente
Os sacramentos são, portanto, a maneira de agir de Deus. Eles são buscando atos-sinal pelos quais possa se revelar ao objeto do nosso
muito mais do que exercícios piedosos de memória, uma vez que neles, amor. Ele pode tomar formas afetuosas como abraços e beijos, pode
continua Calvino, Deus "dispensa[-nos] as cousas espirituais sob [for- aflorar ao se dar um presente, ou pode manifestar-se quando lavamos
mas] visíveis". pratos para alguém. Escrevemos cartas, fazemos uma visita no hospital
ou telefonamos para manifestar visivelmente o amor. Estes atos-sinal
E m segundo lugar, Deus atua nos sacramentos autodoando-se. Deus
visíveis são identificados com o amor. Sabemos que outra pessoa nos
toma a iniciativa nos sacramentos. O que é dado não é alguma idéia
ama pela forma como ela age em relação a nós.
abstrata de infusão mecânica de energia, mas uma graciosa relação
pessoal, a vida de Deus entrando na nossa. Deus nos dá o presente de Este não é um princípio abstrato, é simplesmente a maneira como as
sua autodoação. O cristianismo proclama que Deus é amor e que a pessoas são. E preciso que as coisas nos sejam mostradas. E m Jesus
própria natureza do amor está na autodoação. De formas diversas em Cristo, Deus nos mostrou a plenitude do amor divino. Mas é preciso que
diferentes sacramentos, Deus se nos autodoa de modo adequado ao esse amor sempre volte a nos ser mostrado. N o s sacramentos Deus
tempo e à ocasião: como perdão e reconciliação neste sacramento, como continua, em visibilidade presente, aquilo que já fez ao se autodoar na
aceitação naquele outro. Presentes são a maneira humana de nos dar- visibilidade histórica de Jesus Cristo. O amor se manifesta de diversas
mos aos outros. Nada menos do que isto é o que Deus faz nos sacramen- maneiras, segundo os diferentes estágios e circunstâncias de vida em
tos. Com efeito, pelo fato de Deus nos ser dado nos sacramentos, temos que nos encontramos. Deus como amor nos é dado para nos sustentar ao
condições de nos darmos a outros de modo mais amplo e profundo. fazermos um voto vitalício de amor recíproco. Outra forma de autodoação
Quando Ele se autodoa, digamos na eucaristia, somos unidos com os é testemunhada quando a comunidade ora pela recuperação da nossa
outros celebrantes e capacitados a servir a todo o mundo. Assim sendo, saúde. O amor se torna visível quando a comunidade fica feliz pelas
os sacramentos têm o poder de mudar tudo que fazemos por intermédio dádivas que alguém recebeu para a liderança pastoral.
do poder baseado na autodoação inicial de Deus. Dessas e de outras maneiras, o amor de Deus se nos torna visível por
A autodoação de Deus de forma alguma está confinada aos sacramen- meio de ações. Assim como dependemos de um aperto de mão, de um
tos. O Antigo e o Novo Testamento inteiros são crônicas sobre as beijo e um abraço para expressar nosso amor de modo que outras
maneiras como Deus foi dado aos s e r e s humanos no passado. pessoas possam reconhecê-lo, dependemos dos sacramentos para saber
Freqüentemente essas maneiras de dar assumiram formas inesperadas, do amor de Deus. N ó s tornamos visível o amor humano quando o
não para os orgulhosos e poderosos, mas para os modestos e humildes. expressamos; no caso do amor divino não é diferente. Distinções entre o
Deus nos é dado na criação, na lei e no profetismo, e na vida conjunta de ato de amor e o próprio amor logo desaparecem. O beijo passa a ser o
um povo eleito. Deus nos é dado na pessoa de Jesus, que "esvaziou-se a próprio amor, o ato é parte da emoção. O ato amoroso é amor tornado
si mesmo e assumiu a condição de s e r v o " (Fp 2.7). A s Escrituras são visível. Os sacramentos são o amor de Deus tornado visível.
registros da autodoação de Deus no passado. E m quarto lugar, a autodoação de Deus como amor é tornada visível
Os sacramentos são um terceiro testamento da autodoação de Deus. por meio de relações de amor dentro da comunidade. Embora os sacra-
P.or meio deles a sua autodoação ocorre como realidade presente em mentos impliquem uma relação vertical (Deus com pessoas), eles tam-
nosso próprio aqui e agora. A realidade de eventos passados nos é bém implicam relações horizontais (pessoa com pessoa). Os sacramen-
tornada presente na leitura e exposição das Escrituras. Porém a reali- tos são sociais de fora a fora. Em toda a narração bíblica Deus opta por
dade da ação contínua nos é transmitida nos sacramentos. Eles consti- agir dentro de uma comunidade de pessoas fiéis. Os sacramentos ope-
tuem ainda outro testamento sobre a natureza autodoadora de Deus. ram dentro da comunidade, possibilitando que os cristãos se edifiquem
Todos os três testamentos - o Antigo, o N o v o e os sacramentos - nos dão reciprocamente em amor, fé e esperança.
a conhecer a vontade de Deus de se autodoar para o nosso benefício. Os sacramentos funcionam como veículos visíveis de amor dentro da
E m terceiro lugar, por meio dos sacramentos a autodoação de Deus comunidade de duas maneiras. Eles estabelecem novas relações de
ocorre como amor tornado visível. Para os cristãos, a autodoação de amor e mantêm e nutrem relações de amor já existentes. Quando duas
Deus é percebida como a doação do seu amor: "Deus é amor, e aquele pessoas se dão uma à outra no casamento. Deus a g e por meio da
que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele" (1 Jo 4.16). comunidade no sentido de fortalecer a relação de amor do casal por
meio de apoio e bênção. Uma ordenação sem uma comunidade de fé
seria quase uma caricatura. No batismo e na confirmação entramos
numa nova relação de amor dentro da comunidade, pois Deus nos incor-
pora ao corpo de Cristo. N a doença, Deus capacita a comunidade a nos
cercar com seu testemunho de amor dedicado. A morte marca mais uma Capítulo 7
transição na qual, pela graça de Deus, passamos da igreja militante
para a igreja triunfante. A o longo da jornada da vida Deus nos é ofereci-
do. A eucaristia nos nutre e a reconciliação nos ergue quando tropeça- Iniciação Cristã
mos. E m todos esses atos-sinal somos edificados em amor, fé e esperan-
ça por meio do estabelecimento de novas relações de amor ou pela
manutenção de relações de amor já existentes dentro da igreja.
N
E m ambos os casos é Deus que age dentro das ações da comunidade inguém nasce cristão. A pessoa se torna cristã ao passar a fazer
para tornar frutíferas essas relações de amor. A comunidade de fé atua parte de uma comunidade com um modo de vida distintivo que
para desempenhar as formas exteriores e visíveis dos sacramentos. Ela implica compromissos definidos em termos de ética e credo. Esta mu-,
sabe, porém, que o sacramentum fica destituído de sentido sem a res, a dança em nosso ser é marcada por sacramentos, que proclamam o que
doação interior do amor de Deus. O sacramento e a realidade são Deus está fazendo para nos levar à fé,
vivenciados em conjunto ao reunir-se a comunidade para receber a
autodoação de Deus expressa como amor em forma visível. Isto experi- Neste capítulo vamos examinar como os cristãos experimentam e
mentamos dentro da comunidade, a qual é ela própria uma manifesta- compreendem as maneiras em que Deus age para nos iniciar na comuni-
ção visível do amor de Deus. Por seus atos-sinal, a igreja nutre nosso dade dos fiéis. O amor de Deus tornado visível na iniciação cristã envolve
amor por meio de relações novas ou renovadas de amor. Naturalmente, uma variedade de estágios e atos-sinal. Eles podem incluir os que estão
esse amor se derrama para a missão dirigida a todo o mundo de Deus. ligados ao catecumenato (período de instrução, catequese e exame),
Assim como Deus usa as palavras do/a pregador/a para tornar audível a aqueles que cercam a lavagem em si do batismo, vários atos subseqüen-
sua palavra, Ele usa os sacramentos para tornar visível o seu amor. Nos tes, muitas vezes conhecidos como confirmação ou recepção como mem-
sacramentos Deus atua em amor autodoador tornado visível por rela- bro e primeira comunhão. Todo o processo ritual da feitura de um
ções de amor na comunidade. cristão será chamado de iniciação cristã, sendo que as diversas partes
serão designadas na medida em que forem sendo tratadas.
Muitas destas considerações ficarão mais claras ao explorarmos cada
N e m sempre é fácil distinguir entre a prática e a compreensão da
um dos sacramentos tradicionais nos capítulos seguintes. Embora ve-
mesma, entre rito e razão, entre liturgiologia e teologia sacramental.
nhamos a explorar de modo um tanto detalhado a forma exterior de
Porém é este o procedimento que tentaremos seguir neste capítulo.
cada sacramento, o que interessa essencialmente não e_Q_xpie-rtos.fa.Ke-
Primeiro faremos uma análise daquilo que os cristãos fizeram e fazem
mps, mas c o m o a r e a l i d a d e do amor de Deus é tornada manifesta em
atualmente na iniciação cristã. E m seguida examinaremos sua compre-
cada caso. P r e c i s a r e m o s lembrar, ao nos p r e o c u p a r m o s c o m as
ensão desses diversos atos. Finalizando, tiraremos algumas conclusões
intrincadas questões de matéria, forma e ministrante, que o que impor-
para uso pastoral.
ta em última análise não é o que nós fazemos com cada sacramento,.
mas o que Deu_s fãã_xan_e__T
até receberem a imposição das mãos (At 8.17). Em Éfeso, após o batis- em passagens bem do início do séc. 3 em Tertuliano, que deplora o
mo, "impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo" (At batismo de "criancinhas", que mais tarde podem causar embaraço a seus
19.6). Duas coisas parecem prováveis com base nesses relatos: o Espíri- responsáveis, e numa passagem contemporânea de Hipólito, que fala de
to Santo e o batismo estão direta e intimamente relacionados e a impo- batizar as "criancinhas" (párvulos) primeiro, algumas das quais aparen-
sição das mãos ou o ato de selar (unção) (2 Co 1.22; Ef 1.13 e 4.30) temente ainda não conseguem "falar por si mesmas". Hipólito, claramen-
parece atestar essa associação ao enfatizar a presença do Espírito nos te, está falando de uma prática há muito familiar; mas há quanto tempo?
batizados. Será ela apostólica ou não? Não temos prova em nenhum dos dois
Tem havido especulação sobre se 1 Pedro é um sermão de batismo. A sentidos. No séc. 5 o batismo de crianças já estava disseminado. Desde
carta se dirige a seus leitores como "crianças recém-nascidas" (2.2) que então os cristãos sempre praticaram o batismo de crianças.
"antes não eram povo, mas agora são povo de Deus" (2.10). A s águas do A igreja do séc. 2 fornece mais detalhes sobre as práticas de iniciação,
dilúvio de Noé são encaradas como prefiguradoras da "água do batis- além das pistas que encontramos nos relatos do Novo Testamento., A
m o " (3.21), alusão esta que repercute até hoje nos ritos de batismo. E o Didaqué proíbe ás pessoas não-batizadas "em nome do Senhor" o comer e
batismo é comparado a uma consciência limpa (3.21). tomar a eucaristia.lOs batizandos devem jejuar. Preferivelmente o batis-
Problemas práticos começaram a surgir à medida que a igreja foi mo deve ser efetuado em água fria corrente, mas, na falta desta, a água é
ficando mais velha. A Epístola aos Hebreus levanta a questão da apostasia derramada "três vezes (...) sobre a cabeça do candidato em nome do Pai e
por parte daqueles que foram batizados: "É impossível que aqueles que •do Filho e do Espírito Santo"; . Justino não dá muito mais detalhes. O
1
uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial e se tornaram catecumenato implica instrução, a promessa de "viver de acordo", oração
participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os e jejum. O batismo ocorre num lugar "onde houver água", e os candidatos
poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová- são lavados em nome da Trindade. A s pessoas batizadas são então
los para arrependimento" (6.4-6). Este problema tem incomodado a igreja conduzidas para onde está reunida a igreja e tomam parte, pela primeira
desde então: como lidar com o apóstata. O Pastor de Hermas, do séc. 2, é vez, da oração comum, do ósculo da paz e da eucaristia . 5
um pouco mais brando. Reconhecendo que alguns negam qualquer arre- Muito mais informações aparecem no século seguinte, no tratado de
pendimento além do batismo, ali se admite que, "se, depois desse impor- Tertuliano Sobre o Batismo, além de outras dispersas em suas demais
tante e solene chamado [batismo] alguém, seduzido pelo diabo, cometer obras. Tertuliano indica uma disciplina rigorosa para as pessoas em vias
pecado, ele dispõe de uma só penitência; contudo, se peca repetidamente, de serem batizadas, envolvendo "orações (...), jejuns, genuflexões e vigíli-
ainda que se arrependa, a penitência será inútil O..)" .
1
as" . A mais solene ocasião para o batismo, diz ele, é a Páscoa. Pentecos-
6
Nos tempos modernos, o problema mais incômodo tem sido a questão tes vem em segundo lugar, embora qualquer momento seja possível. O
se os relatos neotestamentários são compatíveis com o batismo de crian- ministrante normalmente é o bispo, caso esteja presente, depois
ças (pedobatismo). Não há evidências explícitas nem a favor nem contra presbíteros e diáconos autorizados, mas "também os leigos têm o direito.
o batismo de crianças no Novo Testamento. Os que praticam o batismo de O que se recebe em iguais condições também se pode dar nas mesmas
crianças tendem à convicção de que as passagens com o termo oikos condições (...)" . Imediatamente antes do batismo vem a renúncia ao
7
(lar), que falam do batismo de lares inteiros (At 16.15,33; 18.8; 1 Co 1.16), "diabo, seu séquito e seus anjos". Os candidatos são "imersos três v e z e s "
provavelmente incluíam filhos e filhas da família ou de escravos residen- após "interrogações bastante mais extensas do que nosso Senhor pres-
tes. Como o pai geralmente determinava a religião da família inteira, é creveu" , para então serem "abundantemente ungidos com uma unção
8
provável, assim argumentam, que o batismo fosse aplicado a todas as benta", como a que Moisés usou para ungir Arão para o sacerdócio. Em
pessoas do lar como algo natural. Os que não praticam o batismo de seguida, "se impõem as mãos, pedindo e convidando o Espírito Santo
crianças tendem a argumentar contra ele baseados em que as exigências para uma bênção", como Jacó abençoou seus netos . Ainda outra imagem
9
de arrependimento e de fé da parte das pessoas a serem batizadas (Mc do Antigo Testamento aparece no ato de dar aos recém-batizados "uma
16.16; A t 2.38) excluem o batismo de crianças. mistura de leite e mel", símbolo da terra prometida (Êx 3.8).
Se tomarmos por base exclusivamente as evidências históricas, preci- Hipólito corrobora tudo isso, dando-nos muitos detalhes, principal-
samos concordar com Kurt Aland que "o batismo de crianças só pode ser mente sobre um catecumenato longo e rigoroso que podia durar até três
comprovado com certeza a partir do séc. 3" , embora haja certos motivos
2 anos. Durante este árduo período, os catecúmenos são ouvintes da
teológicos para afirmar que tenha sido praticado na época do Novo palavra, freqüentando a liturgia da palavra, mas não podem orar com
os fiéis, dar o ósculo da paz ou ficar para a eucaristia. Candidatos
Felizmente diversos exemplos desse método de catequese mistagógica
avançados e adequados são separados a cada ano, e sua conduta exami-
sobre o significado dos sacramentos da iniciação sobreviveram em
nada (o que por vezes é ritualizado em escrutínios). Eles são submeti-
forma de palestras dadas por Ambrósio em Milão, Cirilo (ou seu suces-
dos a um período de intensa preparação com exorcismo diário. Os
sor) em Jerusalém e João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuéstia em
candidatos jejuam nos dias que atualmente chamaríamos de Sexta-
A n t i o q u i a . A m b r ó s i o conta aos novos cristãos o significado do
Feira Santa e Sábado Santo.
ephphatha, a abertura cerimonial e bênção das orelhas e narinas (Mc
O ápice do processo de iniciação ocorre na manhã da Páscoa, após 7.34). E segue: "Foste ungido como atleta de Cristo (...) aprestando-te
uma vigília que dura toda a noite com leitura da Bíblia e instrução. A o para a luta deste século." Após o batismo há um lava-pés, embora
13
cantar do galo ora-se sobre a água, os candidatos se despem e o bispo Ambrósio esteja cônscio de que Roma não o faz.
prepara os óleos de exorcismo e de ação de graças. Depois, após a
Cirilo nos dá muito mais detalhes e estende-se sobre significados
renúncia a Satã, cada candidato é ungido completamente com óleo de
simbólicos: "Depois de despidos, fostes ungidos com óleo exorcizado,
exorcismo, desce para a água e três perguntas lhe são dirigidas, as
desde o alto da cabeça até os pés. Assim, vos tornastes participantes da
quais são virtualmente as palavras do Credo Apostólico (usado até
oliveira cultivada, Jesus Cristo." Teodoro acrescenta outros detalhes,
14
Sobre os Mistérios. No séc. 5 "confirmar" se referia à unção pós- as, mas Calvino foi ainda mais longe, "abolindo-as, de modo que não
batismal e imposição das mãos pelo bispo, mas somente no séc. 9 é que mais houvesse impedimento para o acesso direto das pessoas a Jesus
veio a "se tornar o termo normal a ser usado para designar esta parte Cristo" . E m seu lugar, Calvino acrescentou exortações didáticas.
20
de que para aqueles "batizados em Cristo (...) não pode haver judeu nem iniciação, a imposição das mãos (At 19.1-7J) Outras imagens parecem
grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher; porque todos referir-se à atividade T¡.Rp.r.t.n ¡atgStn n¿Ti:mnia.r.g/v "iluminação" (Hb
vós sois um [só] em Cristo Jesus" (Gl 3.27-28), O batismojé_0-ato=sinal de 6.4) ou "santificação^XI Co 6,11). A ação de dar sal (sabedoria) ou uma
ingresso na igreja, não vindo ao caso em que idade ele ocorre. Por esta vela acesa (prontidão) aos recém batizados, assim como o símbolo
razão_ as fontes batismais muitas vezes estão localizadas-próximo à visual da pomba, sublinham a obra do Espírito na iniciação.
entrada da igreja e alguns ritos incluem uma procissão-de -entrada- para O mais importante testemunho nos relatos neotestamentários é que a
o meio do templo e das pessoas. iniciação é muito mais profunda do que qualquer interpretação avulsa
A iniciação também é o renascimento. Estreitamente vinculada à união da mesma. Nosso problema é obter uma compreensão equilibrada que
com. Cristo^ n^ajnorte^.e ressurreição- e- ao ingresso n u m novo corpo, à faça justiça a todas as cinco metáforas principais. Todos os desdobra-
igreja^ a imagem do renascimento aparece na discussão de Jesus com mentos subseqüentes devem ser medidos segundo esse padrão de com-
Nicodemos: "Quem-não nascer da água e do Espírito não pode entrar no preensão equilibrada. A iniciação é uma jóia com muitas facetas. Não
reino de Deus'f (Jo 3.5)., Implícito nesta imagem está o ser uma nova percebemos todo o seu brilho até enxergarmos todas as facetas refletin-
criatura em CristóTésus, depois de deixar-se para trás o Velho Adão, nosso do a luz.
passado. Tito 3.5 ("ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador Provavelmente a declaração mais concisa possível dessas cinco metá-
do Espírito Santo") tem sido uma fonte de controvérsia devido ao termo- foras ocorre nos dois breves relatos de Justino Mártir sobre a iniciação
chave paliggenesía ou "regeneração". 0_i!ejiascmiento^é^a_mai&ieminina em sua Primeira Apologia. Ele fala de ser "renovado por Jesus Cristo", de
das imagens, e algumas fontes foram modeladas de modo a sugerir uma ser levado para a assembléia cristã e saudado por ela, da "regeneração
mulher grávida. Fala-se do batismo^como^útero e como sepultura. com que também nós fomos regenerados", do arrependimento dos peca-
A coisa mais óbvia referente ao batismo (tão óbvia que muitas vezes é dos e de "tomar o banho na água", bem como do "banho chamado
esquecida) é a ação purificadora da água, representando o perdão do iluminação" . Ireneu combina vários desses temas falando do batismo
27
pecado. JEm At 22.16, Ananias ordena: "Recebe o batismo e lava [apólousai] como a água sem a qual "a farinha seca não pode (...) tornar-se uma só
os teus pecados, invocando o nome dele" (cf. também 1 Co 6.11). Tanto"" 1 massa, nem um só pão, (...) também nós não nos poderíamos tornar um
Pe (3.21) quanto Hb (10.22) comparam o batismo ^ p n a lavagem externa só em Cristo, sem a água que vem do céu" . Clemente de Alexandria dá
28
e à purificação interior de "uma boa consciencia'VJA relação entre batis- preferência ao tema da "iluminação"; outros pais da igreja tem suas
mo e perdão é clara em A t 2.38: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja predileções, mas, tomados em conjunto, parece haver um razoável grau
batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados." de equilíbrio. O que não se encontra num, provavelmente aparece noutro.
Ela se tornou dogma no Credo Niceno: "um só batismo, para remissão Infelizmente esse equilíbrio sempre foi algo fortuito, sempre sujeito a
dos pecados". Q_atcu3e-la5Hai-ne-baptism comójeo pressões externas. Neste caso ele surgiu de modo não-intencional. Agos-
são_íis„rnais_ób_ãa£-repr^e^ de novas vestes tinho, que fizera ele próprio um uso razoavelmente equilibrado dessas
brancas após o batismo reforça a idéia_de uma consciência novamente metáforas, em conseqüência da controvérsia com Pelágio acabou impe-
limpa e de revestir-se de Cristo (Gl 3.27)^J. lindo a igreja fortemente na direção de uma concepção do batismo como
A recepção do Espírito Santo é uma metáfora complexa, em parte remédio para dois tipos de pecado: o original, isto é, a culpa que todos
porque a desintegração dos ritos de iniciação que ocorreu com o tempo herdamos do pecado de Adão, e o atual, que nós mesmos cometemos . 29
É um tanto irônico que o próprio Agostinho só tenha sido batizado ministrante é o bispo, embora ocasionalmente um sacerdote possa admi-
relativamente tarde em sua vida, porém a conseqüência do seu desen- nistrá-lo com o crisma abençoado por um bispo. Cortada sua conexão com
volvimento sistemático de conceitos existentes de pecado original foi a
o batismo, a confirmação tornou-se um apêndice sem muita importância.
de apressar o batismo de crianças por medo de que elas morressem sem
batismo e fossem para o inferno por culpa do pecado original. N a época da Reforma, o batismo, a confirmação e a primeira comu-
nhão se haviam tornado entidades separadas em quase todos os luga-
Toda a evolução medieval fez com que a ênfase pendesse para o res. O Concílio de Trento simplesmente cimentou práticas e crenças da
perdão do pecado, particularmente do pecado original no caso de crian- Idade Média tardia. O batismo não era um ponto de grande controvérsia
ças pequenas. Como vimos, minimizou-se a descrição da união com
entre a maioria dos protestantes e os católicos romanos, embora no
Cristo no tempo da Páscoa, enquanto que a incorporação na igreja,
meio protestante se acendesse um vivo debate em torno do mesmo. Os
quando esta era equivalente à própria sociedade civil, tinha relativa-
reformadores não distinguem convenientemente entre nossas cinco me-
mente pouca importância. O sentido de renascimento perdeu boa parte
do seu impacto quando somente crianças eram batizadas. A doutrina táforas neotestamentárias de iniciação, embora possamos destacar cer-
sobre a obra do Espirito Santo ficou subnutrida no Ocidente, sendo o tos centros de gravidade entre eles. O medo de que as crianças que
batismo um bom exemplo dessa deficiência. Pedro Lombardo tem muito morressem sem estarem batizadas não pudessem ser salvas preocupa-
a dizer sobre o batismo, porém tudo pode ser reduzido a uma palavra: va-os menos, de modo que o perdão dos pecados tendeu a perder o papel
"remissão" . O perdão do pecado é uma parte importante do testemu-
30 preponderante. Porém novas considerações, como a doutrina da elei-
nho bíblico sobre a iniciação, mas ao tornar-se tão dominante a ponto ção, trouxeram novas pressões.
de excluir os outros temas, não podemos fugir à impressão de que Lutero apresenta algumas das mais profundas intuições, que até hoje
ocorreu uma compreensão unilateral do que Deus faz na iniciação. ainda não foram plenamente assimiladas. A ênfase especial de Lutero é
sobre o batismo como "promessa", na qual, diz ele, "Cristo nos é dado".
Um dos desdobramentos medievais mais infelizes deu-se na compre- O que se segue é uma relação vitalícia de compromisso de fé, pela qual
ensão da confirmação. Já vimos como essa parte da iniciação foi separa- nosso batismo torna-se vitorioso sobre a dúvida e o pecado, porque "o
da no Ocidente em função do conservadorismo que a limitou ao bispo. batismo conserva sua força por toda a vida". Com efeito, em momentos
A o longo de toda a sua história subseqüente, a confirmação foi uma do mais profundo desespero Lutero podia asseverar que "fui batizado, e
prática à procura de uma teologia. Pedro Lombardo encontrou muito através do batismo Deus, que não pode mentir, fez uma aliança comi-
pouco para dizer sobre a confirmação (duas páginas), mas disse tudo g o " . E numa manifestação que ficou famosa ele exclama: "(...) não há
33
que a igreja do início da Idade Media proporcionara: "A virtude do consolo maior sobre a terra do que o batismo." Lutero sugere a possi-
34
sacramento é a de doar o Espírito Santo para [se obter] força, o qual é bilidade de encarar toda a vida cristã em termos de espiritualidade
concedido no batismo para a remissão." Lombardo ainda atribui a Rábano batismal, isto é, uma vivência do batismo durante a vida inteira. Ele
a declaração de que somos fortalecidos pela imposição das mãos "para provavelmente se aproxima mais da ênfase sobre a união com Jesus
anunciar aos outros aquilo que alcançamos no batismo" . Lombardo
31
"Neste sacramento o Espírito Santo nos é dado para fortalecer-nos (...) para compromisso ou sinal de pacto tende a transformá-lo numa questão de
que o cristão possa confessar destemidamente o nome de Cristo." A 32
registro externo, em vez de ser a fonte de uma calorosa relação interior,
matéria do sacramento " é o crisma feito de óleo (...) e de bálsamo (...) como no caso de Lutero. Esse conceito também estabelece o precedente
abençoados pelo bispo. A forma é: 'Eu te assinalo com o sinal da cruz e te para conceber o batismo de crianças como um rito de dedicação, tema
confirmo com o crisma da salvação, em nome (...)'." Normalmente o este bastante popular entre certos protestantes americanos.
Calvino deplora a visão zwingliana de batismo como "sinal ou marca" é que deveriam receber o batismo. A abordagem de Barth era essencial-
e-profissão. Calvino enfatiza^_pQder_do batisme-de ^alvar^por m e i o d o mente cognitiva; o batismo é uma "representação" ou "mensagem" para
pexdão ou purificação e da união_com Cristo, Porém para ele parece a pessoa batizada. E m contraposição a isto, outro teólogo suíço, Oscar
que a metáfora predomir^nte-é_a_de-ser- r_ecebido à sociedade da igreja
íí
Cullmann, replicou que o batismo é causador na medida em que coloca
para que, enxertados em Cristo, sejamos çontadoS-_entre o&Iilhos_de a pessoa dentro da comunidade na qual a fé se torna uma possibilidade,
-Deus." Ele se preocupa também em refutar a crítica anabatista ao
36
e não apenas informa essa pessoa a respeito de algo. Cullmann insistia
batismo de crianças. Os infantes também se encontram dentro do pacto que potencialmente Cristo morreu por todos e que isto se torna efetivo
e são membros da igreja, insiste Calvino. quando a pessoa é incorporada na igreja e recebe a possibilidade de
Os-anabatistas naturalmente insistiam que "as crianças pequenas crescer num ambiente de f é . 39
não têm compreensão e não são ensináveis; por isso o batismo não lhes Ainda entraram na refrega, por razões estritamente históricas, dois
pode SPT rniniptrg^o_sernjafiriaerier a ordem do Senhor, cometer abuso estudiosos do Novo Testamento, Joachim Jeremias e Kurt A l a n d . O
40
Um termo-chave nos relatos paulino e lucano é anamnesis. Nenhum cia, a cronologia sinótica me parece mais convincente. De qualquer
termo no vernáculo transmite sozinho seu sentido pleno; lembrança, maneira os eventos culminantes da paixão e morte de Cristo ocorrem
recordação, representação, experiência renovada são apenas fracas apro- no contexto da festa da Páscoa e estão fortemente tingidos por sua
ximações. Anamnesis expressa o sentido de que, ao repetir essas ações, celebração da libertação do cativeiro através do sangue no passado e
a pessoa volta a vivenciar a realidade do próprio Jesus presente. Em anos por sua expectativa de iminente libertação futura pela ação divina.
recentes este conceito tem sido um termo-chave em discussões ecumênicas
da eucaristia como memória com nuances de sacrificio e presença. O N o v o Testamento nos oferece apenas rápidos lampejos de eucaristi-
as do séc. 1. Atos 2.46 fala que os membros da Igreja de Jerusalém
A s ações da instituição não são menos importantes do que as pala- "partiam pão de casa em casa, e tomavam as suas refeições com alegria
vras. O estudioso inglês Gregory Dix deu muita importância à "estru- e singeleza de coração". Uma expressão contida na severa advertência
tura em quatro ações" que determina a "estrutura da liturgia" . Mar-
2
de Paulo à igreja de Corinto contra a participação indigna na "ceia do
cos 14.22 reza: "Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a benção, o Senhor" associa a eucaristia à proclamação da "morte do Senhor, até
partiu e lhes deu" (grifo meu). A s mesmas ações são usadas em relação que ele venha" (1 Co 11.26). Paulo ameaça com doença e morte as
ao cálice, exceto que não acontece o partir. Essas ações ocorrem em pessoas culpadas de comer e beber indignamente, isto é, sem discernir
o corpo do Senhor na comunidade. Claro está também que a ceia do assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja em teu
Senhor é simplesmente isto: uma refeição completa. A l g u n s estudiosos reino" . Esta expressão e outra subseqüente têm forte sabor escatológico.
7
procuraram descobrir dois tipos de eucaristia no Novo Testamento e na Profetas, assim somos informados, podem "bendizer à vontade". Didaqué
literatura protocristã: um tipo alegre, outro sombrio . Hoje essas teori-
5
14 e o Diálogo com Tritão 41, de Justino, citam Ml 1.11 ao falar sobre
as parecem altamente improváveis, uma vez que a morte do Senhor é um "sacrifício puro" e referem-se especificamente à eucaristia em lin-
uma memória temperante e, mesmo assim, uma fonte de alegria. guagem sacrificai.
Obtemos uma rápida noção de outra eucaristia quando Paulo se prepa- N a Primeira Apologia de Justino encontramos nosso primeiro esboço
rava para deixar Trôade (At 20.7-12), onde Eutíquio continuou dormindo da eucaristia. E m um caso ela se segue ao batismo, mas normalmente
até mesmo durante a pregação de Paulo, mas recebemos poucas informa- viria depois da liturgia da palavra:
ções a mais sobre a eucaristia em si. Uma singular referência ocorre na
Epístola de Judas, onde se tematizam problemas aparentemente seme- Terminadas as orações [petição e intercessão], nos damos mutuamente o
lhantes aos de Corinto. "Esses homens são como rochas submersas das ósculo da paz. Depois àquele que preside aos irmãos é oferecido pão e
vossas festas de fraternidade (agápais), banqueteando-se juntos sem qual- uma vasilha com água e vinho; pegando-os, ele louva e glorifica o Pai do
universo através do nome de seu Filho e do Espírito Santo, e pronuncia
quer recato" (v. 12). O ágape ou festa do amor era aparentemente uma
uma longa ação de graças, por ter-nos concedido esses dons que dele
refeição completa, mas de certa forma distinta da eucaristia. Hipólito faz provêm. (...) Depois que o presidente deu ação de graças e todo o povo
j questão de distingui-la da ceia do Senhor. Não se sabe quando a ceia do aclamou [com um "amém"], os que entre nós se chamam ministros ou diá-
' Senhor deixou de ser uma refeição completa; aparentemente ainda era conos dão a cada um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre
possível ser um glutão e beberrão quando Paulo escreveu. Numa antiga os quais se pronunciou a ação de graças [literalmente: "eucaristizados"] e
carta (de cerca de 112 d.C.) de Plínio, governador romano pagão na os levam aos ausentes. 8
orações eucarísticas. Todas as pessoas participam delas, embora uma ções do ministério ordenado é a capacidade de os presbíteros e bispos
só profira as palavras. resumirem a fé de toda a igreja e a proclamarem em oração. Não admira
que Inácio tenha limitado a presidência da eucaristia ao "bispo ou (...)
• A maioria das liturgias subseqüentes passam então para o sanctus alguém que foi encarregado por ele" . Cada pastor/a é um/a teólogo/a
12
("Santo, santo, santo"), baseado em Is 6.3 e A p 4.8. Hipólito não mencio- para a congregação. A ele/a é confiada a declaração da fé da comunidade
na o sanctus, quer porque não estivesse em uso, ocorresse em outro por meio de sua expressão suprema, a oração eucarística.
lugar, ou porque ele não considerasse necessária a sua menção. O pós-
sanctus continua dando graças pelo que Deus fez em Jesus Cristo, Pequenas mudanças ocorreram após Hipólito na oração eucarística,
recita as obras de Cristo e conclui esta seção com as palavras da principalmente numa expansão das palavras que conclamam a dar
instituição. E m seguida uma seção conhecida como o b l a ç ã o de graças após o sursum corda. Esta parte é chamada de prefácio, consti-
anamnese resume o que está sendo relembrado e oferece a Deus o pão e tuindo o início de uma recitação de agradecimento. N o Ocidente ela
o cálice. A parte final de Hipólito é uma invocação do Espírito Santo ou podia variar segundo a época ou ocasião, formando um prefácio variá-
epiclese, na qual o Espírito Santo é invocado para tornar proveitosa a vel. E m ritos orientais e certos ritos protestantes, ela é fixa e inalterá-
comunhão dos participantes. Alguns ritos têm uma epiclese de consa- vel. O sanctus vem em seguida, e muitas vezes o benedictus qui venit:
gração ou preliminar (geralmente antes das palavras da instituição), ou "Bendito aquele que vem em nome do Senhor". Em certos ritos, uma
uma epiclese de comunhão após a oblação de anamnese (como Hipólito), epiclese preliminar ocorre na parte inicial do pós-sancíus. A epiclese
ou ambas. Hipólito cita benefícios desejados do Espírito Santo. É um final pode desembocar em intercessões bastante extensas. Como Hipólito,
pequeno passo daí para intercessões em favor de outros, vivos e mortos, os ritos protestantes de modo geral evitaram a epiclese preliminar e as
assim como as orações sinagogais tinham passado facilmente da ação intercessões. Depois de dominado este padrão específico de orações
de graças através de recitação para a súplica por ação continuada. eucarísticas, é possível improvisá-lo de muitas maneiras diferentes, da
Hipólito não avançara nessa direção, mas era uma evolução natural mesma forma como se podem escrever sonetos dentro da forma
que em breve se seguiu. Toda a oração conclui então com uma doxologia especificada. O padrão da maioria das orações eucarísticas adotadas
trinitaria e um amém.
desde o Vaticano II inclui:
Ora, por que tudo isso é tão importante? O que Hipólito nos fornece é
o protótipo da oração central do ato central do culto cristão. A oração diálogo
eucarística era, na época dele e por vários séculos depois, a declaração prefácio
teológica mais comum da fé cristã. A o agradecer a Deus, a igreja seguia sanctus e benedictus
o costume judaico de resumir sua fé naquilo que Deus fizera. A oração é pós-sanctus
em grande parte uma recitação dos mirabilia Dei, os atos de salvação (epiclese preliminar)
de Deus. É proclamação e credo integrados em um só ato. A estrutura é palavras da instituição
basicamente trinitaria: agradecimento a Deus Pai, comemoração das oblação de anamnese
obras de Deus Filho perante Deus Pai e a invocação de Deus Pai para epiclese
enviar Deus Espírito Santo. O todo é então concluído com uma doxologia (intercessões)
glorificando todos os três integrantes da trindade. A forma é inteira- doxologia
amém
Mas, como indica Hipólito, nem todos "têm a capacidade de orar
Após a oblação de anamnese vem outra epiclese, consecratória e de
demoradamente de forma solene". Pouco tempo depois encontramos
comunhão em sua intenção, e uma doxologia de conclusão.
textos mais ou menos fixos que passaram a ser usados. U m dos mais
antigos provém da mão de Serapião, bispo de Thmuis, no Egito, de Mais para o Oriente encontramos a família antioquena ou sírio-
cerca de meados do séc. 4. O elemento mais distintivo é uma epiclese ocidental, com importantes documentos de Antioquia e Jerusalém,
dirigida à segunda pessoa da trindade . Uma ou mais gerações depois,
13 freqüentemente designada sob o nome de liturgia de São Tiago. Muitos
aparece um texto muito extenso no livro 8 das Constituições Apostóli- a conhecem como fonte do texto do hino L e r ali mortal flesh keep
cas. Embora provavelmente jamais tenha sido usado de fato, ele repre- silence ["Toda carne mortal silencie"]. Característico dessa família é o
senta a vitória das formas prescritas sobre a liberdade expressa pela prefácio com sua lista de chamada celestial. O pós-sancíus retoma a
Didaqué e por Justino. palavra "santo" - "santo és tu" - numa recitação de obras da antiga e
nova aliança. Aclamações e améns proferidos pelas pessoas recente-
A eucaristia de ordenação de Hipólito contém referências um tanto
mente foram copiados no Ocidente. U m a longa série de intercessões em
obscuras à apresentação e ação de graças sobre óleo, queijo e olivas.
favor dos vivos e mortos segue-se à epiclese, sendo que cada petição
Em sua eucaristia pascal, leite e mel, água (símbolo do batismo) e vinho
começa com "Lembra, Senhor". A linguagem é floreada, poética e nunca
são dados depois de o bispo ter partido o pão (a fração) e distribuído os
sucinta. O rito armênio provavelmente é derivado, em última análise,
fragmentos com as palavras "o pão celestial em Jesus Cristo". Os três
dessa família, embora contenha influência bizantina posterior.
cálices são dados com uma fórmula trinitária à qual cada receptor
responde "amém". O culto termina abruptamente quando todos saem e A família que mais nos deixa intrigados é, sem dúvida, a sírio-
"apressam-se a praticar o bem". oriental, que se originou em Edessa como a liturgia dos santos Addai e
Mari. Isolada por heresia e pelo islamismo, ela continuou em uso relati-
N a era pós-nicena, uma variedade de ritos eucarísticos se desenvolve-
vamente intocada por outras influências. Como tal tem raízes muito
ram dispersos ao redor do perímetro do Mediterrâneo. Todos apresen-
antigas, talvez refletindo a prática do séc. 3 naquela região. O aspecto
tam características comuns. Por volta do séc. 6 a liturgia da palavra e a
mais controverso é uma aparente falta de palavras de instituição, o que
eucaristia já haviam sido casadas para todo o milênio seguinte. A s
a tornaria única entre as liturgias cristãs. A epiclese vem por último
quatro ações prenunciadas nos relatos neotestamentários, segundo as
após as intercessões.
famosas palavras de Dix, "constituíram o núcleo absolutamente invariá-
vel de todo rito eucarístico que conhecemos em toda a Antiguidade" . 14 À família de Basílio de Cesaréia na Á s i a Menor devemos uma versão
Por mais que variem as formas das palavras, o conteúdo básico do antiga conhecida como a de Basílio Alexandrino, uma vez que pode ter
segundo desses atos - o agradecimento ou oração eucarística - se sido trazida ao Egito pelo próprio Basílio em torno do ano de 357. Ela
expressa de maneira notavelmente semelhante. Nos sécs. 4, 5 e 6 apare- tem sido muito admirada nos últimos anos e forma a base para a
cem importantes divergências de estilo e formulação, testemunhando a " O r a ç ã o Eucarística C o m u m " , bem como para diversas o r a ç õ e s
diversidade dos povos, porém preservando a constância de objetivo. O eucarísticas denominacionais. Uma versão posterior, provavelmente re-
estudo comparativo dessas divergências é uma ciência vasta; aqui ape- visada pelo próprio Basílio, contém mais referências da Escritura. Ela é
nas poderemos sugerir um pouco da sua rica diversidade ao acompa- usada pelas igrejas ortodoxas do mundo em dez dias do ano, principal-
nharmos essas famílias litúrgicas ao redor do Mediterrâneo em sentido mente na Quaresma. E m termos estruturais, ambas as versões são do
anti-horário. tipo antioqueno, porém a última liturgia de São Basílio apresenta uma
detalhada recitação da criação, queda e redenção após o sanctus.
A oração eucarística típica da família alexandrina ou egípcia é aquela
denominada segundo Marcos, que, de acordo com a tradição, atuou em A l g o dependente da mesma é a liturgia de São João Crisóstomo ou
Alexandria. Nesses ritos o prefácio muitas vezes tem uma longa enume- liturgia bizantina, que é o rito eucarístico a ocupar o segundo lugar em
ração das obras de criação e redenção de Deus, derivada do Antigo disseminação e freqüência de uso no mundo de hoje. Ele reflete igual-
Testamento (notavelmente ausente em boa parte da tradição ocidental da mente a estrutura antioquena. João Crisóstomo foi bispo em Antioquia
oração eucarística). Daí se passa para a intercessão (incluindo oração no final do séc. 4. O pós-sancíus e as intercessões são relativamente
pela elevação do Nilo) e os dípticos (lista das pessoas, vivas e mortas, em curtos e toda a oração parece condensada, em comparação com a maio-
favor das quais foram recolhidas as ofertas). Segue-se o sanctus. Caracte- ria daquelas já mencionadas.
risticamente o pós-sancíus inicia com "Cheios, em verdade, estão os céus Voltando-nos para o Ocidente, deixamos momentaneamente de lado a
e a terra". Uma epiclese consecratória conduz à narrativa da instituição. família romana para observar um grupo de ritos ocidentais não-roma-
nos conhecidos coletivamente como gálicos, subdividido em ambrosiano
(ou milanês), moçárabe (da Espanha), céltico (originado na Irlanda, vinho, eram circundadas por confissões de pecado subjetivas ou ora-
mas espalhado por onde viajavam missionários célticos) e galicano no ções sobre a indignidade do clero e do povo. Estas tendiam a ser
sentido estrito de francônio-germânico. Há conexões entre esses ritos e penitenciais e introspectivas no seu tom. A ç õ e s acessórias como incensar
aqueles do Oriente, embora a derivação exata seja incerta. O rito a mesa de altar e lavar as mãos do sacerdote se juntaram a orações
ambrosiano continua sendo usado na arquidiocese de Milão, e o particulares do oficiante no ofertório. O Agnus Dei ("cordeiro de Deus")
moçárabe em uma capela da catedral de Toledo na Espanha. Uma foi introduzido no fim do séc. 7 durante a fração, o mesmo ocorrendo
característica comum é a linguagem floreada e orações eucarísticas com a comistura (mistura de uma partícula de pão ao vinho, remanes-
que, com exceção do sanctus e das palavras da instituição, mudam cente de um símbolo da unidade do papa com as igrejas de sua diocese).
completamente de acordo com o dia ou com a época do ano, proporcio-
Orações individualistas cercavam a distribuição do pão e do vinho. A s
nando uma extraordinária variedade.
abluções (cerimônia de limpeza dos vasos litúrgicos e das mãos do
Por dois séculos após Hipólito há um blecaute de material no tocante oficiante) desenvolveram-se como reflexo da escrupulosidade medieval
ao rito romano, embora Ambrósio prenuncie boa parte daquilo que ha- tardia sobre cada gota e migalha dos elementos consagrados. A Idade
veria de surgir em Roma e os exíguos fragmentos norte-africanos ainda Média tardia também acrescentou um último evangelho (Jo 1.1-18), e
sobreviventes mostrem algumas similaridades. A neblina se dissipa em papas modernos juntaram algumas orações de conclusão. Esses elemen-
Roma quando descobrimos diversos sacramentarlos antigos, coletâne- tos de efeito anticlímax desapareceram após o Vaticano II.
as de orações sacerdotais para as diversas missas do ano, incluindo a O rito eucarístico ocidental daí resultante está mapeado de forma
iniciação e ordenações, e diversas ordines, que são coletâneas de rubri- simplificada no diagrama 5, com os elementos transferidos ou elimina-
cas. Entre os mais antigos sacramentários, o leonino preservou orações dos entre parênteses:
próprias de mais de 300 missas, muitas das quais podem remontar
efetivamente ao papa Leão I (440-461). A v e r s ã o mais antiga do gelasiano
pode conter orações de abertura e prefácios que receberam sua forma A EUCARISTIA
do papa Gelásio I (492-496), que parece ter polido o cânon. O gregoriano
foi denominado segundo o papa Gregório I (590-604), que reformou o Hipólito Sécs. 4 a 6 Medieval
rito romano e ancorou o Pai-Nosso ao final do cânon.
Diversos sacramentários estavam circulando no início da Idade Mé- (ósculo da paz)
ofertorio
dia no Ocidente. Carlos Magno buscava uma padronização que servisse orações de ofertório
à unidade do império e requisitou uma cópia de um sacramentário e cerimônias
romano autêntico. O papa Adriano I (772-795) enviou um para a sede oração sobre as ofertas
imperial em Aachen. Entretanto, evidenciou-se que ele era severamente oração eucarística prefácio, sanctus,
incompleto para fins paroquiais. U m dos conselheiros eclesiásticos de intercessões
Carlos Magno, provavelmente Benedito de Aniane, acrescentou um Pai-Nosso
"suplemento" de materiais extraídos dos diversos ritos galicanos então ósculo da paz
usados em todas as regiões do império. Qualquer distinção entre os fração Agnus Dei
ritos oficiais obrigatórios e o "Suplemento" opcional logo desapareceu, comistura
orações sacerdotais
de modo que os dois acabaram fundidos numa unidade. Dois séculos
"Senhor, não sou digno"
mais tarde o sacramentário combinado foi levado a Roma e imposto à
distribuição de pão canto da comunhão
própria Roma pelos imperadores germânicos. Em conseqüência, o rito e vinho
romano assimilou uma variedade de próprios galicanos, inclusive ora- oração silenciosa
ções sobre as ofertas, prefácios e orações pós-comunhão adicionais. abluções
Estas complementavam aquelas anteriormente desenvolvidas em Roma. oração pós-comunhão
A o chegar o séc. 5, no Ocidente o ósculo da paz havia sido recolocado bênção com despedida
após a oração eucarística. (último evangelho)
(orações de conclusão)
A o longo da Idade Média a oração eucarística permaneceu estável,
mas cada vez mais ela e a outra ação central, a distribuição de pão e
Diagrama 5
Esta é a estrutura que os reformadores herdaram. H á muito que se John Knox. É característica da tradição reformada o fato de a eucaristia
havia perdido qualquer noção da função original da oração eucarística ser excessivamente didática, incluindo uma leitura das palavras da
como a grande e agradecida síntese e proclamação da fé da igreja. Se é instituição fora da oração eucarística como justificativa para a obser-
que tal função chegara a se efetivar, fora relegada ao credo como parte vância da eucaristia. A interdição das mesas (refletindo 1 Co 11.27-32)
da liturgia da palavra (no Ocidente) ou como prelúdio da anáfora (no proibia malfeitores de comungar.
Oriente). A s devoções subjetivas medievais que se haviam insinuado A s práticas variavam amplamente entre os anabatistas, alguns dos
antes e após a oração eucarística e a distribuição do pão e do vinho quais tinham sérias dúvidas sobre qualquer sacramento exterior. Uma
v i e r a m a ser os elementos secundários que a Reforma transformou em simplicidade extrema caracterizava suas celebrações, enriquecidas ape-
principais. A Oração anglicana de Humilde Acesso ("Não ousamos vir à nas por uma hinódia altamente desenvolvida. Entre os puritanos ingle-
tua mesa") é um bom exemplo. ses, liturgias fixas de forma alguma foram evitadas no final do séc. 16 e
Os reformadores, entretanto, tomaram algumas medidas positivas início do séc. 17. Porém o Westminster Directory de 1645 por fim
muito importantes, embora nenhuma delas tivesse captado o antigo substituiu sacramentários por ordines e ritos por rubricas, embora
significado da oração eucarística. Eles passaram a missa para o verná- esboçasse uma oração eucarística modelar. Os quacres, é claro, insisti-
culo, simplificaram-na e (com exceção de Zwínglio e dos anabatistas) ram em se nutrir silenciosa e interiormente em Cristo enquanto evita-
fizeram a corajosa tentativa de restaurar a comunhão freqüente. Entre- vam sacramentos exteriores.
tanto, para um laicato acostumado a receber a comunhão apenas rara- O p r i m e i r o L i v r o de Oração Comum anglicano, de 1549, trazia um
mente, a comunhão freqüente mostrou ser um ponto de partida radical rito de comunhão vernacular que era visivelmente uma mistura conser-
demais para obter sucesso amplo. vadora do rito Sarum da Inglaterra meridional com a teologia da Refor-
Lutero deu o mais forte, se não primeiro, ímpeto para a reforma da ma. Boa parte da teologia eucarística do Livro de Oração Comum de
missa com seu rito latino, a Formula Missae de 1523 e sua Deutsche 1549 era deliberadamente ambígua, permitindo interpretações tanto
Messe de 1525no vernáculo . Lutero é conservador até chegar ao câ-non,
15
católicas quanto protestantes. Três anos mais tarde este rito foi substi-
"aquela coisa mutilada e abominável, ajuntada de muita sujeira e escu- tuído por outro que eliminou a maior parte da ambigüidade e implicou
ma", que ele simplesmente reduziu às palavras da instituição e ao sanctus .
16
uma drástica reestruturação. O cânon foi segmentado em dois. A oblação
De um só golpe ele leva ao extremo uma tendência da Igreja Católica foi colocada após a comunhão de modo a eliminar qualquer sentido
Romana medieval, que havia localizado o momento da consagração exa- tradicional de sacrifício. Apesar de alterações menores feitas em 1559,
tamente nas palavras da instituição. Lutero advogou o acréscimo de 1604 e 1662, aquilo que é basicamente o rito de 1552 continua em uso
hinos no vernáculo. Sua missa alemã preservou boa parte do cerimonial, oficial na Inglaterra, embora atualmente tenha sido em grande parte
incluindo a elevação do pão e do vinho, bem como instruções para que o substituído pelo Alternative Service Book de 1980. Os livros de oração
"sanctus alemão" ou outros hinos fossem cantados durante a distribui- americanos (1789, 1892, 1928) utilizaram uma oração eucarística esco-
ção do pão e hinos ou o Agnus Dei durante a distribuição do cálice. cesa muito mais rica.
E m seu Ataque contra o Cânon da Missa, de 1523, Zwínglio substituiu John Wesley seguiu o rito eucarístico do Livro de Oração Comum de
o cânon por quatro de suas orações latinas. E m 1525 produziu sua 1662 em seu Sunday Service de 1784, apenas abreviando-o ligeiramen-
Realização ou Uso da Ceia do Senhor, que fez parecer inofensiva a te. A s duas grandes contribuições de Wesley foram um reavivamento
reforma de Lutero. Desapareceram praticamente todo o cerimonial e eucarístico com celebrações semanais e (juntamente com Charles Wesley)
também a música. O que restou foi uma austera comemoração e refei- uma magnífica coletânea de 166 hinos eucarísticos. Estes contêm uma
ção de comunhão, praticada quatro vezes por ano.^ rica variedade de ênfases sacrificais, escatológicas e pneumatológicas,
O trabalho de Martinho Bucer em Estrasburgo fundamenta boa parte ausentes da piedade eucarística protestante por muitos séculos. Porém
dos esforços litúrgicos de Calvino e, com o rito de Zwínglio, ajudou a nem a rigorosa disciplina eucarística de Wesley nem os hinos eucarísticos
moldar a tradição eucarística reformada. Bucer foi antecipado em foram apreciados por seus seguidores. Uma forma abreviada do seu
Estrasburgo por Diobald Schwartz, e Calvino em Genebra por Guillaume rito continuou sendo usada nos Estados Unidos.
Farei. A Forma das Orações da Igreja, Genebra, 1542, de Calvino, Os pentecostais variam enormemente no uso ou não-uso de formas
representa o trabalho de seus antecessores levado a uma forma definiti- estabelecidas para a ceia do Senhor. Eles concordam que o Espírito
va para a tradição reformada. Ela foi transmitida para o mundo de fala Santo precisa estar livre pára irromper em qualquer esquema por meio
inglesa por intermédio da The Forme of Prayers, Genebra, 1556, de
de elementos espontâneos. A freqüência das eucaristias varia de sema- Alterações significativas ocorreram no rito metodista unido aprova-
nal até rara. do para o United Methodist Hymnal de 1989 (p. 6-31). Elas incluem
Tendências recentes em muitas igrejas estão centradas na restaura- quatro versões de "Uma Ordem Litúrgica para a Palavra e o Sacramen-
ção de muitas práticas da igreja antiga. Geralmente há concordância de t o " (A Service for Word and Table), sendo que a principal diferença nas
que a maioria dos desdobramentos medievais foram distorções, embora três primeiras está no grau de completitude dos textos. Os atos de
possamos estar propensos a romantizar a igreja antiga assim como os confissão e perdão seguem-se ao sermão e conduzem para a paz e o
vitorianos faziam com a medieval. Muitas das mudanças resultaram de ofertório. Cinco acompanhamentos musicais são oferecidos para a gran-
estudos históricos de liturgiologia comparada. Os resultados desses de ação de graças. O Culto I V está na linguagem tradicional do Livro de
estudos se tornam mais atraentes na medida em que a igreja da era pós- Oração Comum de 1552, v i a Wesley, com o acompanhamento musical de
cristã tem muito em comum com a igreja pré-constantiniana. Os resul- John Merbecke de 1550. N o Culto IV, após quase quatro séculos e meio,
tados da revisão litúrgica são tão semelhantes que em muitos casos é as duas partes da oração eucarística de Cranmer foram novamente
difícil distinguir qual tradição teria produzido um rito eucarístico novo unidas. Uma característica nova e distintiva dos metodistas unidos é a
caso se perdesse a página de rosto. utilização de 25 orações eucarísticas que mudam totalmente de acordo
com a festa (Pentecostes), época do ano litúrgico (Advento) ou ocasião
Básica para a maioria dos ritos desde o surgimento do rito da Igreja
(casamento cristão), à semelhança do que faziam as antigas liturgias
do Sul da índia em 1950 é a estruturação em torno das quatro ações
gálicas. Elas se encontram em Holy Communion (SWR, #16) . Novos 17
encarnação, mas todas as obras de Cristo, começando pela criação, ora escatologicamente: "Das extremidades da terra seja unida a ti tua
igreja em teu r e i n o " . Referências sacrificais aparecem muito cedo; a
20
Didaqué compara a eucaristia ao "sacrifício p u r o " de M l 1.11, e a O primeiro milênio do cristianismo se caracteriza pela ausência de
Primeira Epístola de Clemente fala daqueles que apresentam oferendas distinções teológicas precisas sobre a compreensão de eucaristia. Falta
(prosphorá) ou dádivas (dôra), presumivelmente na qualidade de mi- inclusive o vocabulário para a discussão teológica técnica da eucaristia.
nistros da eucaristia .21
Usam-se termos diversos, e cada autor escolhe o que melhor serve ao
Inácio nos fornece uma das mais fortes imagens da presença ao falar seu objetivo. Um prenúncio do que se passaria no Ocidente aparece na
da eucaristia como "o remédio da imortalidade", insistindo contra os proposta de A m b r ó s i o de que é a recitação das palavras da instituição
docetistas que "a eucaristia é a carne do nosso Salvador" . Firmeza
22
que realiza a consagração: "Com que termos então se faz a consagração
igual ele manifesta ao afirmar que a comunhão da igreja está centrada e com as palavras de quem? Do Senhor Jesus (...) É, pois, a palavra de
no bispo. Ireneu declara a presença de Cristo no cálice, que " é seu Cristo que produz este sacramento." Mas o período inicial tem uma
27
próprio sangue", e no pão, que " é seu próprio c o r p o " . Cipriano fala de
23
maravilhosa liberdade de expressar o que se vivenciava no coração, não
comunhão em termos poéticos: "Assim como muitos grãos, coletados, o que precisava ser definido na cabeça. A igreja mais vivenciava do que
moídos e misturados numa única massa fazem um só pão, assim em debatia a eucaristia.
Cristo, que é o pão celestial, podemos saber que há um só corpo ao qual Dois monges iniciaram o debate no Ocidente, Pascásio R a d b e r t o e
todos nós somos juntados e unidos." 24
Ratramno, ambos monges da abadia de Corbie, França, no séc. 9.
A obra do Espírito Santo é expressa por Hipólito, o qual, em sua Pascásio, tentando comprimir em palavras a presença de Cristo experi-
oração eucarística, invoca o Pai para que envie o Espírito Santo sobre a mentada na eucaristia, usou uma linguagem que chamaríamos de lite-
oferenda da santa igreja e que preencha as pessoas reunidas de modo a ral ou realista; pouco depois, Ratramno tentou expressar a mesma
fortalecer sua fé na verdade. Esta atividade é definida mais explicita- experiência em linguagem mais espiritual ou simbólica. Dois séculos
mente mais de um século depois nas catequeses mistagógicas de Cirilo mais tarde a controvérsia voltou a irromper, desta vez de forma menos
de Jerusalém. Ele diz aos recém-iniciados que na eucaristia "suplica- amigável. Categoricamente rejeitados foram os esforços de B e r e n g á r i o
mos ao Deus benigno que envie o Espírito Santo sobre os dons coloca- para expressar em termos simbólicos a experiência da presença de
dos, para fazer do pão corpo de Cristo e do vinho sangue de Cristo. Pois Cristo na eucaristia. Uma confissão grosseira lhe foi imposta, afirman-
tudo o que o E s p í r i t o Santo t o c a é santificado e transformado do que o corpo de Cristo é manipulado e partido pelas mãos do sacerdo-
[metabébletai]" .
25
Isto sugere a direção que as igrejas ortodoxas toma- te e esmagado pelos dentes do comungante. Do séc. 11 em diante a
ram subseqüentemente, ao entenderem a função do Espírito Santo ao eucaristia virou assunto não só de experiência devota, mas também de
santificar e transformar os elementos eucarísticos. Cirilo prenuncia especulação intelectual.
uma abordagem que se tornou sumamente importante no Oriente, em- Não há nada de errado nisso, mas infelizmente os temas mais contro-
bora negligenciada no Ocidente até o passado recente. versos passaram para o primeiro plano, ao passo que os outros definha-
Nós, cientes de desdobramentos posteriores, ficamos intrigados com ram silenciosamente tanto na piedade quanto no desenvolvimento
a maneira em que os antigos cristãos falavam da presença tanto em doutrinal. Prevaleceu uma piedade penitencial e introspectiva, mais do
termos realistas quanto simbólicos. N a mesma preleção Cirilo fala do que um espírito alegre de ação de graças. A missa acabou focalizando
pão e do vinho como "sinal (antitypon) do Corpo e Sangue de Cristo". quase que totalmente a paixão, morte e ressurreição, com os mistérios
Agostinho usa uma linguagem que por vezes parece realista, e outras dolorosos predominando no Ocidente. Quando o rito se tornou cada vez
vezes, obviamente simbólica. Infelizmente tal ambigüidade não mais é mais clerical e a comunhão tornou-se um evento raro ou anual, dissi-
possível para nós, embora seja revigorante ver a flexibilidade de ex- pou-se todo e qualquer sentimento forte de celebração comunitária. A s
pressão ainda possível no séc. 4. Os limites de termos aceitáveis eram leituras do Antigo Testamento haviam desaparecido, não aparecendo
amplos. no cânon romano quaisquer referências à criação e ao resto da história
Agostinho nos oferece algumas percepções sobre o tema do sacrifício. da salvação da antiga aliança. Assim, a comemoração da obra de Cristo
Baseando-se nos conceitos do sacrifício eterno de Cristo (Hb 9.14) e da acabou severamente podada. A dimensão escatológica há muito que
união dos cristãos com Cristo, Agostinho diz: "Eis o sacrificio dos cris- desaparecera, e o rito romano simplesmente ignorou qualquer declara-
tãos; muitos um só corpo em Cristo (...) a igreja se oferece a si mesma na ção sobre a atividade eucarística do Espírito Santo.
oblação que faz [a Deus]." Assim, a eucaristia é uma união do culto da
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Restaram duas áreas para debate: como Cristo estava presente e de
igreja com a eterna oferenda do próprio Cristo em favor dela. Este que modo a eucaristia era um sacrifício. Teólogos da Idade Média
conceito de sacrifício ficou ofuscado nos séculos subseqüentes. tardia dedicaram sua atenção a essas duas áreas. O desdobramento
mais significativo foi a concordância quanto à palavra que descrevia a da salvação, obra atual do Espírito Santo ou como antegosto do
experiência de que o pão e o vinho transmitiam a realidade de Cristo. banquete messiânico, então os desdobramentos doutrinais teriam sido
Como vimos no caso de Berengário, a igreja estava tateando rumo a muito diferentes. A o menos assim parece a partir de uma perspectiva
uma l i n g u a g e m realista de v a r i e d a d e espacial. P o r é m o t e r m o moderna.
transubstanciação chegou tarde, muito depois de a idéia estar buscan- U m remanejamento das prioridades ocorreu na Reforma, com suces-
do expressão. E l e só foi usado definitivamente em 1215, quando o I V so limitado em alguns casos, em que se restaurou uma compreensão
Concílio de Latrão falou da "transubstanciação do pão em corpo e do eucarística equilibrada. Havia poucas coisas nas quais os reformadores
vinho em sangue" . O termo em si sofreu alterações de significado na
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eram unânimes, mas uma delas era a rejeição das abordagens medie-
história subseqüente. Usando as melhores ferramentas filosóficas dis- vais tardias sobre a compreensão de presença e sacrifício. A Reforma
poníveis, principalmente Aristóteles, o séc. 13 descreveu esse milagre (facilitada pela utilização do vernáculo) presenciou enormes ganhos na
de modo que pudesse ser expressado: "A substância do pão é transfor- recuperação de um senso de comunhão, algum progresso na amplitude
mada no corpo de Cristo e a substância do vinho, em seu sangue." Os 29
da comemoração e reformas nas concepções de presença e sacrifício.
acidentes (aquilo que é perceptível aos sentidos) continuam inalterados, Diz Brilioth: "A redescoberta da idéia de comunhão é a maior contribui-
porém a substância (realidade interior) é miraculosamente transforma- ção positiva da Reforma no tocante à eucaristia." Os avanços na
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da, contrariando tudo o mais que existe no mundo natural, onde todos recuperação de um alegre senso de ação de graças foram ambíguos; o
os acidentes e a substância se conformam mutuamente. Esse triunfo do reconhecimento da obra do Espírito Santo foi recuperado por alguns, e
racionalismo tentou explicar o mistério, em vez de aceitá-lo e adorá-lo. a percepção escatológica o foi apenas raramente, exceto em grupos que
De mãos dadas com essas definições teológicas havia práticas que sofriam perseguição.
afastavam cada vez mais os elementos sagrados do contato com o povo, Lutero, que descartara o cânon da missa por cheirar demais a sacrifí-
exceto por uma mostra dramática na elevação, quando o pão e o cálice cio e que via no sacrifício o "terceiro cativeiro da missa" não conseguiu
eram erguidos para que todos vissem. A doutrina da concomitância alcançar muito de positivo no tocante ao sacrifício . Entretanto, ele se
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deixou claro que o Cristo inteiro está presente em cada gota e migalha ocupou com o conceito de presença e, embora rejeitasse a idéia de
dos elementos consagrados, de modo que não mais se considerava transubstanciação ("o segundo cativeiro"), insistiu que o pão e vinho se
necessário que os leigos recebessem o cálice com todos os riscos de tornavam a substância do corpo e sangue de Cristo, embora ainda
derramamento do sangue de Cristo que isso acarretava. Com a comu- mantendo as substâncias naturais do pão e do vinho, assim como um
nhão infreqüente, o papel dos leigos era mínimo. O sacerdote oferecia a ferro vermelho em brasa pode ser ferro e fogo ao mesmo tempo. U m a
missa em nome deles numa linguagem que poucas pessoas entendiam. vez que Cristo está presente em toda parte por sua natureza divina
A reflexão a respeito da eucaristia como sacrifício também se desen- (ubiqüidade) e todos os poderes da sua natureza divina são comunica-
volveu, de modo que a missa era vista como propiciatória, realizada dos à sua natureza humana, ele pode estar presente em mil mesas de
para alcançar objetivos desejados. Explanações sofisticadas de que a altar simultaneamente. Isto resolve alguns problemas, embora continue
missa seria um memorial, e não repetição do sacrifício único do Calvário, afirmando o conceito de presença em termos espaciais: Cristo está
eram despejadas, quase sempre sem atingirem qualquer efeito, sobre a presente "em, com e s o b " o pão e vinho. Mesmo ao se rebelar, Lutero
maioria das pessoas. Teorias da expiação em voga concentravam-se ficou preso a conceitos medievais de presença. Ele recuperou boa parte
quase que exclusivamente na morte de Jesus como satisfação do esque- da participação congregacional ao restaurar o cálice para os leigos ("o
ma de justiça do Pai, e a eucaristia encaixava-se com perfeição neste es- primeiro cativeiro"), o uso do vernáculo e rica hinódia congregacional.
quema de coisas. Muito facilmente essa concepção estreita de sacrifício Certamente a maior tragédia da Reforma foi o conflito entre Lutero e
fez com que a eucaristia se transformasse num meio de garantir o favor Zwínglio sobre o conceito de presença, contenda esta que irrompeu no
de Deus, em vez de ser uma proclamação desse favor já realizado para Colóquio de Marburgo (1529). Zwínglio, impaciente com qualquer con-
toda a eternidade. ceito de que o físico pudesse transmitir o espiritual, repudiou a doutri-
Presença e sacrifício foram aspectos altamente desenvolvidos pelo na de Lutero sobre a presença, com a concepção de que Cristo só está
período da Idade M é d i a tardia, porém esse incremento na construção presente espiritualmente por sua natureza divina. O ponto forte de
doutrinal se deu às custas de uma interpretação equilibrada. Se a Zwínglio era a ênfase na comunhão e na união espiritual dos partici-
eucaristia tivesse recebido ampla atenção como proclamação da ação pantes que confessavam em conjunto sua fé, uma transubstanciação de
de graças, sacramento da unidade, comemoração de toda a história pessoas em vez de elementos. Lutero ficou encalhado entre o racionalismo
da direita (escolástica) e da esquerda (humanismo zwingliano), de modo cançou um equilíbrio que faltava até mesmo ao reformador de Genebra.
que os dois reformadores romperam na questão do sacramento da Isto se reflete nas seções do Hymns on the Lord's Supper de John e
unidade. Eles tinham claramente um "espírito diferente". Charles Wesley: "Como Memorial dos Sofrimentos e da Morte de Cris-
O papel de João Calvino foi, de certo modo, o de um mediador entre os to", "Como Sinal e Meio da Graça", " O Sacramento, uma Promessa do
dois, porém ele acrescentou muita coisa própria, ou antes, recuperou Céu", "A Santa Eucaristia Implica um Sacrifício", "Sobre o Sacrifício
algo da igreja antiga. Deus, que nos conhece melhor, utiliza sinais das Nossas Pessoas" e "Após o Sacramento" . Finalmente, ocorre em
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exteriores na autodoação. Devido ao nosso pecado e falta de fé, esses W e s l e y uma forte e positiva afirmação protestante do sacrifício
sinais são necessários; por causa do amor de Deus por nós, eles são eucarístico associada a um senso patrístico-calvinista da presença como
eficazes. N ó s nos nutrimos de Cristo na eucaristia, mas isto é possibili- mistério. Os aspectos escatológico e pneumatológico também estão
tado apenas pela operação do Espírito Santo que eleva nossas almas ao vivamente presentes, assim como o senso de comunhão, embora a come-
céu. A maneira de se nutrir de Cristo é um "mistério ao qual nem pode moração e a ação de graças ainda se concentrem apenas na paixão e
estar em condições de pensá-lo claramente o intelecto, nem de explicá-lo morte de Cristo.
a língua" . A o enfatizar o papel do Espírito Santo e o senso de mistério,
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Tem havido muitas controvérsias sobre a doutrina eucarística de abrira novas possibüidades ao descrever a missa como um mistério
Cranmer expressa nos primeiros dois Book of Common Prayer. De temporal, e não espacial. Segundo a idéia de transignificação, se o signi-
modo geral, sua posição é encarada como algo semelhante à de Zwínglio, ficado de alguma coisa é um componente capital do seu próprio ser, pode-
mas com maior valorização da comunhão freqüente. "Mesmo assim, ele se dizer que o pão e o vinho sofrem uma alteração ontológica na eucaris-
se distingue do reformador de Zurique pela maior estima da ceia do tia, ao passarem a significar o corpo e sangue de Cristo. Por analogia,
Senhor e por enfatizar que a observância fiel da mesma é acompanhada uma caixa de bombons se torna um presente por meio do ato-sinal de dar,
pela operação da graça de Deus." O senso zwingliano de comunhão
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passando então a ser não mais meramente uma caixa de bombons, mas
também está presente, assim como uma dimensão bastante vigorosa de um meio de autodoação. Esses conceitos mais recentes que virtualmente
comemoração, embora, à semelhança da maior parte dos materiais da igualam o significado com o ser admitem as percepções da filosofia
Reforma, ela se concentre de modo estreito na paixão. fenomenológica recente e por vezes parecem refletir a compreensão de
John Wesley tinha a vantagem de viver numa época posterior às Calvino de que Deus faz uso de sinais como maneira de se acomodar à
controvérsias da Reforma, além de ter um profundo conhecimento da capacidade humana. Essas novas abordagens nem de longe são unanime-
patrística. Embora próximo a Calvino em muitos aspectos, Wesley al- mente aceitas pelos católicos romanos, mas têm gozado de grande aceita-
ção por muitos protestantes como base de compreensão comum. Até que escatológica para o banquete celestial que marcará a consumação de
ponto isso se tornou possível se mostra no documento ecumênico de 1982 todas as coisas em Jesus Cristo. Muitas orações eucarísticas novas
intitulado Batismo, Eucaristia e Ministério .
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afirmam explicitamente este aspecto da fé cristã. U m sinal disso é uma
Nossa compreensão de sacrifício se ampliou imensamente na medida aclamação recuperada tanto por católicos romanos quanto por protes-
em que o equiparamos não apenas ao aspecto de paixão-expiação, mas tantes: "Cristo voltará."
a toda a encarnação de Cristo, que se auto-esvaziou de seu ser divino Há muitas coisas com as quais podemos nos alegrar nessas novas
para tomar a forma de escravo (Fp 2.7). Foi reconhecida mais ampla- compreensões do que a igreja experimenta na ceia do Senhor. Essas
mente a presença de terminologia sacrificai no Novo Testamento e na interpretações não só aproximam os cristãos do testemunho da Bíblia
igreja antiga. A recuperação de imagens como a descrição agostiniana e da igreja antiga, mas também os aproximam uns dos outros.
da igreja em união com Cristo na eterna oferenda dele em nosso favor •
ações descrito acima. Será que o tomar ou preparar chama a atenção diavelmente preocupadas, esses temores podem ser evitados embeben-
para o fato de que se seguirá uma refeição e que a mesa do altar e os do-se o pão num cálice comum (intinção), ou despejando o vinho do
elementos precisam estar preparados? Será que usamos as mãos, assim cálice para copos individuais, ou dando-se o vinho já distribuído em
como nossa voz, para expressar que estamos dando graças a Deus sobre copos individuais. Antes dos tempos modernos a quantidade de pão e
os elementos? Será o partir do pão um sinal claro da unidade daquele pão vinho consumida não eram migalhas, mas porções algo mais genero-
uno que é partido em favor de muitos? Será que ocorre efetivo toque de sas, certamente com maior valor como sinal.
mãos quando o pão é dado na mão de cada receptor? Todos esses atos Problemas especiais aparecem ao se assistir os enfermos. Os católi-
exigem muita atenção, de modo que seu valor como sinal seja expresso, cos romanos elaboraram um sistema de ministros extraordinários
não oculto. Boa comunicação exige preparo feito com sensibilidade. (leigos) treinados para levar o pão consagrado aos enfermos e idosos,
Deus opera por meio do oficiante e das pessoas, mas o oficiante tem a às vezes diariamente. Outra solução é fazer com que várias pessoas da
responsabilidade de tornar a comunicação tão clara quanto possível. Não comunidade acompanhem o pastor ou sacerdote na celebração no quar-
iríamos pregar o sermão murmurando; não deveríamos economizar ges- to do enfermo, que naturalmente deveria ser abreviada, porém mesmo
tos ao desempenhar a eucaristia. Esses atos-sinal não são decoração; são assim um verdadeiro ofício conjunto de "discernir o c o r p o " do Senhor.
uma parte vital do ministério ao conduzir as pessoas à comunhão com Algumas igrejas atualmente têm ritos eucarísticos para serem usados
Deus. Na mesa do Senhor nós entendemos quão completamente Deus no quarto de enfermos. Levar o pão e vinho consagrados aos enfermos
conhece e ama as pessoas como seres humanos plenos. A glória e majes- tem sido um importante ministério desde Justino Mártir.
tade do ser de Deus são acomodadas à nossa humilde capacidade huma- Muito preparo, planejamento e cuidado na condução da eucaristia em
na. Assim sendo, o que fazemos com nossas mãos, corpos e vozes ao todos os seus aspectos exteriores e visíveis são necessários para que
conduzir a eucaristia é um ministério vital que exige sensibilidade para a ela possa comunicar da melhor forma possível a realidade interior da
forma como os seres humanos se relacionam e se comunicam. Assim autodoação de Deus.
como há uma linguagem vocal, há também uma linguagem corporal, e
precisamos aprender a falar ambas com eloqüência.
O pão e vinho em si também são uma parte importante da ação.
Dizia-se que custava mais fazer crianças católicas acreditarem que as
hóstias da comunhão são pão do que fazê-las acreditar que o pão se
torna corpo de Cristo. É que elas tinham visto pão de verdade. A
utilização de alimento comum está no âmago da eucaristia. Cristo não
escolheu néctar e ambrosia, o alimento dos deuses, mas pão e vinho, o
alimento dos humanos. O sinal não deve ser uma falsificação. Boa parte
do valor como sinal se perde quando o pão passa a ser um biscoito com
gosto de papelão, alguma massa com cara de plástico e paladar artifici-
al ou qualquer outra coisa que não tenha aparência, gosto e cheiro de
pão. O mesmo vale para o vinho. O pão precisa ser pão que se possa
partir com facilidade, nem muito fresco, nem dormido. O ato de parti-lo
pode ser uma das partes mais significativas do culto, se for feito com
cuidado. O ato de dar também é importante. Dar um presente pode ser
uma verdadeira arte; dar pão e vinho não foge desta regra.
A distribuição do cálice apresenta problemas específicos. Certamen-
te o maior valor como sinal de unidade está na distribuição do vinho a
partir de um cálice comum. Acontece que na maioria dos segmentos da
Jornadas e Passagens
Os picos e vales da vida são ocasiões para culto cristão tão certamen-
te quanto o são as planícies da vida cotidiana. Os pontos de crise da
vida são marcados quando a comunidade de fé se reúne em torno de
indivíduos para expressar seu amor quando estes atravessam diversos
Capítulo 9 estágios: casamento (para a maioria), ordenação (para alguns), profis-
são ou comissionamento r e l i g i o s o (para alguns) e morte (para todos).
Cada passagem reflete três estágios em graus variados: afastamento de
-
Jornadas e Passagens uma forma de vida passada, transição ou momento em que se atravessa
um limiar para uma nova ordem de ser, e incorporação numa nova
forma de vida ou a própria morte. Diversas passagens são acompanha-
das de períodos de transição no tempo (noivado, estudo de Teologia,
noviciado, saúde em declínio), bem como de transições no espaço (novo
vida está repleta de ciclos que se repetem e de eventos únicos.
ÁPodemos ficar doentes em numerosas ocasiões, porém temos que lar, novo local de ministério, nova comunidade, o cemitério).
Para os cristãos nenhuma dessas passagens é um momento exclusiva-
morrer apenas uma vez. O culto cristão tem formas de prestar assistência
em períodos recorrentes de crise e em eventos que são únicos. Correspon- mente privado, mas, antes, uma questão compartilhada por toda a
dentemente, denominaremos os ciclos recorrentes de jornadas, e os even- comunidade cristã. U m casamento sinaliza a formação de uma nova
tos únicos, de passagens. Ambos demandam especial atenção e assistên- família e potencialmente aumenta o corpo de Cristo. A t é mesmo a
cia da parte da comunidade cristã por meio de ofícios ocasionais ou do solidão da morte é mitigada pela crença de que a morte não nos afasta
que poderíamos chamar de ritos pastorais. Esses ofícios manifestam a da igreja, mas apenas nos transfere para a parte maior, a igreja triun-
solicitude amorosa da comunidade cristã para com seus membros à fante. N a sua qualidade de questões comunitárias, esses momentos
medida que prosseguem em sua contínua jornada ao longo da vida ou intensamente pessoais em geral são celebrados em meio à comunidade
quando passam por experiências novas e irrevogáveis. cristã. A comunidade de amor nos cerca e apoia tanto nas alegrias do
casamento, da ordenação, profissão ou comissionamento religioso quanto
A jornada através da vida implica, para todos os cristãos, transgres-
na dor da morte.
sões contra o que sabemos ser a vontade de Deus. Todas as pessoas
cristãs, por definição, são pecadoras e sabem disso. Porém o culto Por meio da comunidade humana Deus busca estabelecer novas rela-
cristão proporciona maneiras de lidar com este aspecto da nossa condi- ções de amor nessas ocasiões especiais. Essas novas relações são ex-
ção, particularmente quando o fardo do pecado se torna intolerável.~Há pressas de diversas formas em diferentes relacionamentos e tipos de
diversas formas em que os cristãos podem arrepender-se e viver assegu- amor, como o conjugal ou aquele para com os enlutados. A eucaristia
rados de que Deus age para perdoar o pecado. Diversos nomes identifi- pode ser uma parte importante do ministério de amor da igreja nesses
cam o processo: penitência ou confissão são os termos tradicionais; momentos de passagem.
reconciliação é o termo preferido atualmente. Utilizaremos este último Com exceção da ordenação e da profissão ou comissionamento religi-
termo porque reconciliação sugere tanto o sentido vertical de ser nova- oso, essas passagens de forma alguma são exclusivamente cristãs, mas
mente unido a Deus quanto o sentido horizontal de ser novamente unido afetam todas as pessoas. E m nenhum outro ponto se vê com maior
ao próximo. clareza a influência da cultura local sobre o culto cristão do que na
A reconciliação muitas vezes é considerada remédio para uma alma forma como são observadas as crises da vida. Nesses momentos se
doente. A o mesmo tempo o cristianismo assiste corpos que estão enfer- manifesta uma grande variedade de costumes e práticas locais, ocasio-
mos. Para certas pessoas, a doença é uma ocorrência rara ou algo de nalmente conflitantes com a fé cristã, às vezes contribuindo para ela e,
que são poupadas inteiramente, mas para muitas pessoas pode ser um com freqüência, indiferentes para com a mesma. Os cristãos não detêm
ciclo recorrente. Desde os apóstolos, os cristãos estiveram envolvidos o monopólio da comemoração de passagens como o casamento ou a
na cura do corpo, bem como de almas enfermas. E m anos recentes o morte, mas certamente são influenciados pelas formas como outros
ministério junto aos doentes e moribundos tem recebido mais atenção observam esses eventos. É importante saber qual é o testemunho cris-
no culto cristão do que jamais foi o caso anteriormente. A enfermidade é tão distintivo nessas ocasiões e o que é culturalmente determinado, de
uma parte importante da jornada de vida de muitas pessoas, e a igreja modo que se possam tomar decisões bem informadas ao lidar com
precisa estar presente nessas ocasiões também. situações específicas. Por mais estranho que pareça, quanto mais se-
cundário for o relacionamento de uma pessoa com uma comunidade culpados de pecados graves como a apostasia. Os penitentes eram
cristã, tanto mais importantes se tornam, muitas vezes, passagens excluídos da eucaristia até serem reconciliados com a igreja na Páscoa,
cristãs como o casamento e os funerais. N a verdade elas talvez sejam o justamente quando os recém-batizados eram admitidos para sua pri-
único contato da pessoa com a comunidade de fé. meira comunhão. A reconciliação efetivamente era a tábua após o nau-
Trataremos em primeiro lugar dos ofícios para a jornada da vida: frágio para os que tinham cometido pecado grave e destruído os efeitos
reconciliação e cura. E m seguida examinaremos o casamento cristão, a purificadores do seu batismoyA reconciliação envolvia um período de
ordenação, a profissão ou comissionamento religioso e o sepultamento jejum, o uso de vestes penitenciais e a abstinência, sendo geralmente
cristão. Todos eles tratam de um ministério eficaz num momento de praticada uma vez na vida./Tertuliano a considera medicinal, uma
profunda necessidade humana. Nosso apanhado será breve, porém apon- maneira de sarar uma ferida na comunidade, assim como o medicamen-
tará algumas direções contemporâneas da fé e prática em cada área. to adstringente cura. Assim sendo, a manhã da Páscoa celebrava publi-
camente a reconciliação de ovelhas perdidas, reconciliação tanto com
Deus quanto com a comunidade cristã ofendida.
que não é repetível, a reconciliação é um evento recorrente. do séc. 7 a influência dos livros célticos se espalhou, popularizando um
tipo de penitência totalmente separado daquele da reunião pública da
Causa certa surpresa o fato de que o Novo Testamento pouco nos diz igreja. De fato, alguns dos primeiros confessores irlandeses eram lei-
a respeito de pecadores batizados. Paulo ameaça que "não os poupará" gos e leigas, mas com o tempo apenas sacerdotes podiam ser confesso-
em Corinto (2 Co 13.2) e um pecador notório deve ser "entregue a res. Concílios da Idade Média tardia decretaram que a confissão era
Satanás" (1 Co 5.5). O Antigo Testamento oferecia amplos precedentes necessária antes de se receber a comunhão, sendo que ambas teriam
para as práticas penitenciais da súplica, jejum, lamento e vestir pano de que ser. recebidas pelo menos uma vez por ano, o que representou uma
saco. Considerando o importante papel que o texto desempenhou em vinculação funesta para ambos os sacramentos.
épocas subseqüentes, é espantoso que a igreja antiga pareça dar pouca
A reconciliação foi uma oportunidade perdida na Reforma. Lutero
ênfase ao versículo que com a maior clareza lhe confere autoridade para
redigiu "Uma Breve Ordem de Confissão perante o Sacerdote para o
perdoar ou reter pecados: Jo 20.23. Nos evangelhos a volta dos pecado-
Homem Comum" em 1529 e escreveu "Como Se Deveria Ensinar as
res é claramente buscada, e Paulo identifica a servidão ao pecado com a
Pessoas Simples a Confessar-Se" dois anos mais tarde . Estes escritos
2
dos atualmente (1989) pelos metodistas unidos e presbiterianos. "Lombardo é sintetizado pelo Concílio de Florença no sentido de envolver,
A maioria dessas igrejas inclui elementos penitenciais na maior parte como a matéria do sacramento, três atos de penitência: "contrição do
dos ofícios dominicais, particularmente na eucaristia. Os luteranos ago- coração (...) confissão com a b o c a (..,JIJe\ satisfação pelos pecados (...)
ra têm uma "Breve Ordem para Confissão e P e r d ã o " preliminar e principalmente por meio de oração, jejum e esmolai" A forma eram as
opcional antes da eucaristia (LBW, 56). Os episcopais dispõem de uma palavras do sacerdote (o ministro deste sacramento): "Eu te absolvo." '
4
"Ordem Penitencial" um tanto livre (BCP, 319-21, 351-53) para uso na A reconciliação não era considerada sacramento em nenhuma das
eucaristia, enfatizando, porém, que, na ausência da mesma, uma confis- igrejas da Reforma, embora Lutero encorajasse a penitência particular e
são geral deveria seguir-se às intercessões. Para os católicos romanos e elementos penitenciais passassem a ser uma parte saliente do culto
presbiterianos, os ritos introdutórios dos cultos dominicais normais dominical. Apesar de todas as suas deficiências, a prática medieval da
começam com atos de confissão e perdão, um legado da Idade Média. penitência de fato possibilitava que homens e mulheres levassem a vida
E m anos recentes tem-se mostrado mais preocupação com as épocas com a garantia concreta de que Deus verdadeiramente havia agido para
penitenciais como o Advento e a Quaresma e ocasiões como a Quarta- perdoá-los quando tivessem sido verdadeiramente contritos, confessas-
Feira de Cinzas. A tradição puritana há muito tinha dias especiais de sem ao sacerdote e executassem obras de satisfação. A Reforma trouxe a
humilhação e jejum, bem como dias de ação de graças. Existe também percepção de que todos os cristãos poderiam exercer um papel sacerdo-
uma antiga tradição metodista de cultos de vigília e cultos de compro- tal confessando e perdoando-se uns aos outros. Porém muitas vezes onde
misso. O primeiro Livro de Oração Comum apresentava um ofício para o poder está à disposição de todos, ele não é exercido por ninguém.
a Quarta-Feira de Cinzas com veementes maldições de Dt 27, ofício este Todas as tradições protestantes julgaram necessários padrões de disci-
redenominado em 1662 "Uma Cominação, ou Denúncia da Ira e Juízos plina e julgamento, embora os meios de execução variassem. Calvino
de Deus contra os Pecadores". Observancias algo mais suaves da Quar- vinculou à eucaristia a ação disciplinar de excluir da comunhão (i. é,
ta-Feira de Cinzas têm-se tornado comuns em muitas igrejas, e um ofí- excluir pecadores notórios, 1 Co 11.27), sendo que Wesley exigia tíquetes
cio com imposição opcional de cinzas aparece no BCP (264-69), no L B W de comunhão dos membros de suas classes. Ambas as práticas sobrecar-
(Ministers Desk Edition, 129-31) e no Handbook oí the Cristian Year regavam a eucaristia com um indevido fardo disciplinar.
Os novos conceitos que estão por detrás das atuais reformas na restauração plena, física e espiritual. Fica bastante claro que o objetivo
reconciliação na verdade são muito antigos. Eles focalizam a natureza da, u n ç ã p ^ o r a ç ã o é a cura tanto física quanto espiritual.
do pecado como uma ofensa contra o próximo e contra Deus. Em vários A próxima referência clara a respeito da unção dos enfermos aparece
ritos toda a comunidade se dedica a ouvir a palavra de Deus na Escritu- em Hipólito. A p ó s a oração eucarística, alguém pode oferecer óleo. O
ra, fazer um exame de consciência, suplicar perdão e ouvir a declaração bispo dá graças sobre o óleo e se roga a Deus que conceda que este
da vontade de Deus em perdoar. A natureza comunitária do pecado^em "proporcione consolo aos que o provam e saúde aos que dele se ser-
formas como o racismo, nacionalismo, sexismo è outras injustiças pra- v e m " . O óleo está obviamente destinado tanto a ser bebido quanto a ser
5
ticadas por grupos contra outros é incluída para exame e confissão em aplicado externamente com a finalidade de curar. Mais de um século
muitos desses ritos. Dessa forma os ofícios de reconciliação estão pro- depois, Serapião nos dá mais detalhes; ele inclui uma oração sobre o
fundamente envolvidos na busca cristã de justiça. óleo após a oração eucarística: "que toda febre e todo mau espírito e
toda enfermidade desapareçam pelo beber e ungir" . Uma oração subse-
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com ó l e o " quando Jesus ainda estava com eles. A prática apostólica defesa da repetição do sacramento em caso de doença recidivante. Entrei. ;
está abundantemente registrada, porém a passagem central para desdo- tanto, no final do séc. 12 considerava-se a unção cada vez mais somente
bramentos posteriores é/Tg_ 5.14-16, Diversas questões se salientam como preparação para a entrada da alma moribunda no céu, conforme dá
nesta passagem. Os mais velhos, ou presbíteros (o conselho que preside a entender a designação extrema unção. Esta foi uma mudança drástica
uma igreja), são aqueles que desempenham o ministério da cura. Sua em relação à concepção e prática anterior, para a qual a unção implicava
função é "orar sobre" a pessoa enferma e "ungi-la com óleo em nome do a cura tanto do corpo quanto da alma. A t é pouco tempo atrás ainda se
Senhor". A intenção é claramente a _ c u r a j ^ c o x B Q , porémjQ^ato_eslá apelava para os escolásticos para fundamentar a abordagem segundo a
acompanhado também do perdão dosi.pecadog. Por isso todos os cris- qual a unção seria o "sacramento da consagração para a morte".
tãos são aconselhados a confessar seus pecados entre si e a orar uns /*" A o passo que o método mais antigo de unção parece ter sido o de
pelos outros, porque assim serão curados fisicamente. aplicá-la onde quer que houvesse dor, ao final da Idade Média se ungi-
O uso de óleo para fins de cura era disseminado no mundo antigo, am os olhos, orelhas, narinas, boca, mãos, pés e quadris, todos suscetí-
sendo usado tanto para ungir quanto para uso interno. Para os cristãos veis de pecado. Por volta do séc. 15, determinou-se que a unção somente.**
tal uso era natural, uma vez que "Messias" ou "Cristo" significava deveria ser ministrada às pessoas moribundas. A formulação era a
"ungido". Juntam-se a oração humana e a atividade divina: a oração seguinte: "Por meio desta sagrada unção e de Sua extrema compaixão,
para salvar e o Senhor para fazer ressurgir. A declaração do poder de o Senhor te concede o perdão de quaisquer pecados que tenhas cometi-
cura é forte, embora não mais do que em|55c~r6TÍ8TV2 do pela visão", e t c , e a matéria era óleo de oliva abençoado pelo bispo .
8
Ecumênica sobre Textos Comuns, esse ofício destina-se a ser usado por
protestantes utilizaram estas palavras ou similares. O protestantis-
cristãos de tradições diferentes. Atualmente (1989) ainda espera pela
mo de fala inglesa geralmente segue a versão medieval-anglicana dos
aprovação do Vaticano.
votos, incluindo os votos de noivado (com o verbo no futuro) e os
votos de núpcias (verbo no presente) e a entrega das alianças ("Com
esta aliança..."). Wesley omitiu a entrega da noiva e das alianças;
seus descendentes restauraram ambas.
Recentes revisões do rito de casamento têm tanto em comum que é
difícil fazer uma distinção entre elas. A maioria delas ressalta as obri-
gações da comunidade, como o voto da congregação de "apoiar estas
duas pessoas em seu matrimônio" (BCP, 425). Muitas novas versões
tentam fazer do rito de casamento um ofício completo com hinos, leitu-
ras e outros atos de culto, de modo a fazê-lo parecer-se com um culto
e Efésios 5 para mostrar "que o matrimônio é uma boa coisa, caso
Casamento Cristão contrário não seria um sacramento; pois um sacramento é um sinal
sagrado." Ele mostra que a união sexual é necessária para refletir a
18
ASB, 285-304 CF, 91-95 Rites, 1, 531-70 WL, 30-35 plenitude da união entre Cristo e a igreja.
BAS, 526-50 LBW, 202-5 SB, 189-201 WW, 31-88 Com efeito, alguns teólogos medievais chegaram a acreditar que a
BCO, 73-87 LWA, 120-36 SBCP, 405-18 Também: The matéria real do sacramento fosse a união sexual em si, ato este bastante
BCP, 422-38 MDE, 328-30 SLR, #3 Celebration of difícil de ser administrado pela igreja. Mas a efetiva celebração do con-
BofS, 68-79 MSB, E1-E25 SWR, #5 Marriage, trato "por consentimento mútuo manifestado de viva voz ali no lugar"
BofW, 144-46 OS, 27-43 UMH, 864-69 1985 (Igreja veio a ser considerada a verdadeira forma e matéria deste sacramento.
BOS, 159-61 PH, 1007-12 WB, 65-68 Unida Como Cristo não deixou uma forma, a igreja está livre para mudar as
PM, 135-95 do Canadá) palavras efetivamente usadas, mas não a necessidade de livre consenti-
mento recíproco. A igreja pode proibir o casamento diante de vários
impedimentos, como a clandestinidade, casamento sob coação ou con-
O pensamento da igreja sobre o ofício matrimonial tem sido muito sentimento simulado. A lei canónica que trata do casamento é complexa.
influenciado pelo fato de que muitas leis canónicas focalizam questões O consenso resultante (no Ocidente) foi de que os próprios casais são
matrimoniais. Isto fez com que a reflexão sobre o matrimônio tendesse
os únicos ministrantes adequados deste sacramento, que constitui o
a girar em torno de controvérsias mais legalistas do que litúrgicas.
único sacramento que o sacerdote ou bispo católico romano não pode
Efetivamente, com exceção do debate da Reforma sobre a questão se o
realizar, embora possa oficiar uma missa nupcial e abençoar a união.
matrimônio é ou não sacramento, as controvérsias sobre o rito em si
têm sido quase que inexistentes. Segundo o Decreto para os Armênios, são três as finalidades do
matrimônio: "Primeiro, a geração de prole e sua educação no culto dó)
Duas passagens neotestamentárias têm sido proeminentes no pensa- Senhor; segundo, a fidelidade que marido e mulher deveriam manter >
mento da igreja sobre o matrimônio: as afirmações de Jesus sobre a um em relação ao outro; terceiro, o caráter indissolúvel do m a t r i m ô n i o /
indissolubilidade do matrimônio (Mt 19.9 e 5.32) e Ef 5.22-23. Os ritos uma vez que este tipifica a união indissolúvel de Cristo e da igreja." 19
)
da igreja ocidental ignoraram as referências escatológicas a Cristo,
onde ele é comparado ao noivo e seus discípulos aos participantes da A principal mudança efetuada pela Reforma foi negar que o casamento
festa de casamento (Mt 9.15; 25.1-13), uma alusão à vinda do reino de fosse um sacramento. Calvino fala por todos os reformadores ao afirmar:
Deus. A passagem de Efésios chama o matrimônio de "um grande
[O matrimônio] dado por sacramento ninguém vira até os tempos de
mistério [mystérion] (...) no tocante a Cristo e à igreja" (5.32, tradução Gregório [o Grande]. E a quem sóbrio jamais teria [isso] vindo à mente?
l i t e r a l ) . A igreja baseou-se nesta passagem como indicadora da [O matrimônio] é uma boa e santa ordenança de Deus. E o cultivo da
completitude da união entre marido e mulher, embora ela talvez nos terra, a construção de moradias, o fabrico de calçados e o ofício de
diga mais ainda sobre a união entre Cristo e a igreja. Mystérion trans- barbeiro são legítimas ordenanças de Deus, contudo, nem são sacramen-
formou-se em sacramentum em latim, garantindo assim a subseqüente tos. Pois, no sacramento busca-se não apenas isto, que seja um ato de
inclusão do casamento entre os sete sacramentos. Deus, mas ainda que seja uma cerimônia exterior posta por Deus para
confirmar-se uma promessa. Nada tal haver no matrimônio até crianças
A igreja antiga teve poucos problemas em interpretar o casamento
julgarão. 20
vais-reformatórios não parecem tão ruins. No entanto, a necessidade de recém-balizade. E m ambos os casos a relação de amor é permanente. 1
procriação da sociedade a fim de garantir a sobrevivência é muito Não só o casal entra em acordo recíproco, mas também a própria comu-
menos urgente hoje em dia. nidade faz o pacto de sustentá-lo. A leitura das proclamas com antecedên-
A mais importante mudança ocorrida nos últimos anos tem sido uma cia e a indagação se há algum impedimento no início da cerimônia do
nova-ènfase no matrimônio como_pacto, e não como contrato. Isto casamento ajudam a sublinhar a natureza social do casamento. A família,
representa uma volta para uma perspectiva bíblica e protocristã (e_ inaugurada no casamento, é em essência uma pequena igreja modelada
romana pagã), segundo a qual Deus age como testemunha e garante de segundo o amor recíproco dentro do corpo de Cristo. É instrutiva a
que u m p a c t o seja fielmente c u m p r i d o . A tendência m e d i e v a l , imagem escatológica das igrejas orientais segundo a qual a família é um
prosseguida pelos teólogos escolásticos, de pensar o matrimônio em antegosto e pequeno modelo do reino de Deus.
termos de contrato e m v e z de pacto, tornou fácil a atitude dos Os novos ritos estão elaborados especificamente para pessoas de fé
reformadores de negar que o matrimônio fosse um sacramento. Afinal cristã. Que obrigação têm as igrejas, se é que a têm, de assistir não-
de contas, contratos geralmente tratam de questões impessoais, nas crentes que desejam uma cerimônia na igreja? Seria este um serviço
quais a atuação de Deus de forma alguma é patente. Raramente contra- social necessário ou uma rendição a um mundo secular?
tos envolvem amor. Uma relação^^o_pjotpj_por_outxo_lad£^sâÜ2as^a Outros problemas abundam na sociedade moderna. Como pode a igre-
numa idéia de amor recíproco por toda a vida, não na pqjdêjicia^urrn.. ja assistir aquele segmento (aproximadamente metade) da sociedade que
contrato legal. É significativo que o Vaticano II sempre fale do matrimô- passou pela agonia d o divórcio? A questão fica particularmente
nio em termos de pacto, não de contrato. desconcertante em caso de novo casamento. As igrejas orientais solucio-
Várias preocupações se destacam no pensamento recente sobre o naram esta questão com integridade. Mais radical é a questão das uniões
rito do casamento. O Vaticano I I determinou que vários "louváveis de homossexuais, as quais a maioria das igrejas até agora se negou a
costumes e cerimônias" locais não só sejam preservados, mas inclusive sancionar. A s pressões no sentido de celebrar semelhantes contratos sem
estimulados (CSL, par. 77). A indigenização é claramente apoiada, dúvida vão aumentar. À medida que as estruturas sociais mudam, a
contanto que haja uma declaração clara de consentimento vitalício nos igreja enfrentará novos problemas no tocante à relação matrimonial.
votos de ambas as partes. A s gritantes desigualdades da antiga bênção ^_AJuU3ar_pelosJiovos ritos, uma tendência parece claraÇA cerimônia^
nupcial (que rogava que somente a mulher "seja fiel e casta" e que "ela matrimonial crisíâ?]è concebida como um contrato público perante teste-
se fortifique contra sua fraqueza") estão alteradas para "deveres co- m u n h a ^ f e c h a d o jpor um homem e uma mulher que,_por_s_eu __livre_e
muns de mútua fidelidade de ambos os esposos" (CSL, par. 78). Os mútuo consentimento, fazem promessas incondicionais de fidelidade
católicos romanos têm sido menos sujeitos a pressões no sentido de vitalícia recíproca com a ajuda de Deus. Nada há de novo ou inovador
secularizar as cerimónias de casamento pelo acréscimo de sentimenta- nisso; representa um entendimento presente desde o N o v o Testamento.
lismos, particularmente na música. A questão se as banalidades que Lutero (e alguns dos ritos gáJicT3s~ãrrtes dele) reforçaram esta concep-
muitas vezes têm assolado os casamentos protestantes virão a ser um ção pelo simples acréscimo de^Mt 1 9 . 6 p r ó p r i o rito: "Portanto, o que
problema para os católicos romanos ainda está em aberto. Teoricamen- Deus uniu, não o separe o homem", palavras estas contidas na maioria
te a indigenização é uma excelente idéia, mas se ela significa cantar dos novos ritos. Elas certamente implicam uma concepção sacramental
" N o rancho fundo" ou "Encosta tua cabecinha" durante a cerimônia, é de casamento, embora Lutero repudiasse essa idéia. Essas palavras
de se pensar duas vezes. indicam que Deus atua por meio das ações da igreja para suscitar uma
A questão se a igreja deveria realizar cerimônias de casamento preci- nova e permanente relação de amor.
sa ser colocada. Afinal de contas, durante a maior parte de sua história a Numerosas questões pastorais assomam em função da necessidade
igreja deixou a sociedade fazê-lo. O melhor argumento em favor da igreja de destacar essa natureza distintiva do matrimônio cristão e do pró-
prio rito. Oficiar cerimônias de casamento certamente é um dos pa- ser oonsultq.rin/R rtesde o começo do planejamento, A persuasão gentil
péis pastorais mais gratificantes que os/as pastores/as ou sacerdotes muitas vezes pode evitar lapsos no tocante ao bom gosto e a distorção
desempenham, mas também um dos mais exigentes em sua complexi- do significado religioso do ofício. Material impresso tem alguma auto-
dade^ ridade para convencer os que têm dúvidas. A denominação a que se
E m primeiro lugar, esse ministério exige considerável tempo e habi- pertence geralmente pode fornecer uma lista de músicas recomenda-
lidade no aconselhamento das pessoas que desejam se casar. O Estado das para cerimônias de casamento. Cada congregação deveria publi-
tem suas próprias leis no tocante a quem pode se casar, e a maioria das c a r j e g r a s p a r a p uso de suas dependências para cerimônias de casa-
igrejas tem normas adicionais. O papel do sacerdote ou pastor/a é de ser niento, incluindo pontos como quem pode usar o órgão, um esquema
fiel às normas de sua igreja, e isto implica a capacidade de dizer "não". de taxas para a utilização do prédio da igreja e serviços de limpeza,
Certamente este deve ser o caso quando não houver vontade ou tempo onde e como flores e velas podem ser colocadas de modo a não danifi-
para o aconselhamento. Rejeitar a celebração de um casamento impro- car móveis ou ocultar centros litúrgicos, bem como regras referentes
visado é na verdade prestar um serviço às pessoas, embora provavel- aos fotógrafos. Fica bem mais fácil para o/a pastor/a ou sacerdote
mente não seja entendido desta maneira. fazer cumprir regras impressas aprovadas pela assembléia, conselho,
O,lado positivo do aconselhamento^tanto pré-nupcial quanto após o presbitério ou diretoria paroquial local do que baseando-se apenas em
inícicTdo matrimônio, é a capacidade de apresentar o testemunho da sua própria autoridade.
igreja sobre o significado do amor responsável, que está sendo tão A maioria dos casais cristãos está aberta para sugestões a respeito
amplamente trivializado em nossa sociedade. O papel pastoral natural- de como tornar a sua cerimônia nupcial o melhor ato possível de culto
mente depende de ter um rebanho e o apoio da congregação para ajudar cristão. O sacerdote ou pastor/a precisa estar familiarizado com as
o casal em sua intenção de levar um matrimônio cristão. Não temos opções disponíveis. A maioria dos novos ritos oferece uma série de
apenas as doutrinas da igreja para apresentar, mas a igreja como comu- possibilidades, deixando muita coisa a critério do clérigo. Isto exige
nidade viva. maior liderança pastoral, mas também proporciona uma melhor oportu-
Quando clérigos realizam uma cerimônia matrimonial, eles também nidade de ministério. É preciso estar familiarizado com as possibilida-
agem como servidores civis do Estado não-pagos. Isto significa que des (e problemas) de se celebrar a eucaristia num casamento com uma
estão sujeitos às leis do estado, da província ou do país onde a cerimô- congregação em cujo meio pode haver pessoas não-cristãs. Como o
nia está sendo realizada. A violação dessas leis, conscientemente ou por cristianismo ocidental ensina que o casal se casa um com o outro e o
ignorância, é uma atividade criminosa para a qual existem multas e clérigo apenas preside a cerimônia, isto deveria dar forma a todo o
penalidades. Não há nada que substitua a necessidade de familiarizar- ofício. Com certeza o casal deveria ficar frente a frente^ao proferir seus
se com as leis da jurisdição civil sob a qual a cerimônia será realizada. votos e ao trocar alianças.
Nos Estados Unidos não há uniformidade de um estado para o outro no Seria muita ousadia, para não dizer imprudência, tentar um casa-
tocante a quando e onde vale uma licença de casamento, sobre o número mento sem ensaio. Quando mais não for, o ensaio deveria criar confían-
necessário de testemunhas ou sobre o modo de registrar a certidão de ca no casal, que muitas vezes fica apavorado por ocasião da cerimônia
casamento. A única maneira de se ter certeza é conferir com um tabe- em Si. O/A pastor/a OU sacerriptfl riftvpria. pnga.ia.r fcvjag a.s pn.rt.ftg prnhlft-
lião do estado em que deverá realizar-se a cerimônia. Por exemplo: em máticas em que pessoas nervosas podem se atrapalhar: o cortejo de
alguns estados o casamento somente pode ser realizado no município entrada, tomar as mãos, proferir os votos, a troca de alianças e a saída.
que emite a licença e em certos casos apenas dentro de determinado Depois de passada a cerimônia e providenciados os detalhes legais,
número de dias. há responsabilidades pastorais igualmente importantes no aconselha-
O devido respeito para com a etiqueta pastoral deveria ser observado mentn matrimonial e na integração do casal na vida da congregação. A
ao se realizar uma cerimônia matrimonial numa paróquia que não a maior parte delas são responsabilidades felizes na medida em que se
própria. O certo seria fazê-lo somente a convite do pastor ou pastora observa o amadurecimento do amor. O matrimônio realmente é um
local, que merece uma carta de agradecimento do/a pastor/a visitante. "grande mistério" por meio a o qual Deus atuã~e nr> qnai ns clérigos têmt
Para se ajudar a planejar u m casamento são necessárias todas as o privilégio de participar.
habilidades de um diplomata. Vários aspectos, como a música, podem
ficar fora de controle, a não ser que se possam sugerir padrões de
excelência e adequação. U m a r e g r a geral é que o/a pastor/a deveria
Ordenação bispo ora, talvez usando parte da mesma linguagem da ordenação de
um bispo, mas especificamente invocando o Espírito para o ministério
de um presbítero. A oração cita a escolha dos setenta por Moisés (Nm
A maioria dos cristãos provavelmente jamais presenciou uma ordena-
11.17-25; cf. também Lc 10.1-17). Os novos colegas do ordenando na
ção, porém a maior parte deles é servida por homens e mulheres ordena-
ordem dos presbíteros também participam da imposição das mãos
das. Em algumas igrejas só bispos realizam ordenações, e pastores/as e
(embora não do proferimento da oração). Mas, no caso do diácono,
sacerdotes talvez raramente se façam presentes numa ordenação que
somente o bispo impõe as mãos, uma vez que, segundo nos relata
não a sua própria. Mesmo assim, em nenhuma outra ocasião a igreja
Hipólito, o diácono serve ao bispo e não é membro do conselho de
torna tão explícita sua compreensão do propósito da igreja e do seu
presbíteros. Usa-se uma oração invocando o Espírito Santo para o
ministério. Muito embora a ordenação seja um rito de passagem reser-
trabalho de um diácono. Para todas as três ordens, o ato central é a
vado para a exígua minoria de cristãos que entra para o ministério
oração de ordenação pronunciada durante a imposição das mãos. N o
ordenado, ela deveria ser melhor compreendida por todos os cristãos.
mais há muito pouco cerimonial.
O testemunho do Novo Testamento sobre os ritos de ordenação é míni-
Os sacramentários dos primeiros tempos contêm orações apropria-
mo. Ela consiste da imposição das mãos com oração após a eleição ou
das para a ordenação de todas as três ordens: geralmente uma oração
indicação pelos apóstolos (At 6.1-6; 13.3; 14.23; 1 Tm 4.14; 5.22; 2 Tm 1.6). O
ato é acompanhado de jejum e provavelmente inclui uma incumbência responsiva de intercessão, uma coleta e a oração de ordenação em si . 22
específica para os ordenados (At 20.28). O ato de imposição das mãos, Geralmente esta última é um encadeamento de referências escriturísticas,
como vimos na iniciação, é um sinal da outorga de poder, de bênção ou do começando por Moisés e culminando com a invocação do Espírito
ato de apartar uma pessoa por parte de alguém autorizado para tal. Santo para o trabalho da respectiva ordem.
No séc. 3 somente três ordens recebiam ordenação. P o r é m no início
O Novo Testamento nos fala de uma variedade de ministérios (1 Co
da Idade Média ocorreu a elaboração de quatro ordens menores: ostiario,
12.28). Percorrendo suas páginas, percebe-se que há uma evolução pela
leitor, exorcista e acólito. No início estes eram instituídos simplesmen-
qual passou uma üsta de ministérios breve e de forma alguma decisiva,
te por meio da outorga das ferramentas do seu ofício, a porrectio
que quase não distingue ministérios leigos de ordenados. A Didaqué fala
instrumentorum ou transmissão dos instrumentos (chave, livro de
de profetas, que obviamente eram pessoas com dons especiais, e através
leituras, livro de exorcismo, além de vela, castiçal e galheta). A cerimô-
de Hipólito ficamos sabendo de confessores que haviam sofrido por sua fé,
nia da tonsura (corte do cabelo) assinalava o voto de celibato e a
o que era considerado consagração suficiente sem imposição das mãos, a
entrada nas ordens maiores, que vieram a ser reconhecidas como
não ser que a pessoa viesse a se tornar bispo. Leitores, subdiáconos e
subdiácono, diácono e sacerdote. Os ritos para cada ordem menor
operadores de curas eram reconhecidos, não ordenados. Segundo Hipólito,
evoluíram com uma alocução, uma fórmula proferida ao receberem os
somente três recebiam ordenação: bispos, presbíteros e diáconos.
símbolos do seu ofício e duas orações de bênção. O subdiácono partilha-
Mais uma vez nos baseamos em Hipólito para expor os primeiros va do ministério da mesa do altar, e por isto o celibato era imposto neste
indícios substanciais de como a ordenação ocorria na igreja antiga. estágio. Originalmente essas ordens eram permanentes, e não degraus
Hipólito fornece um relato completo da ordenação de um bispo, um na escalada para uma ordem "mais elevada". Por séculos os bispos de
presbítero e um diácono . A ordenação ocorre no contexto da eucaris-
21
Roma foram escolhidos dentre os diáconos romanos.
tia, ao invés de ocorrer durante a liturgia da palavra. Aparentemente o
A última revisão do Pontifical Romano (tradução para o inglês em
novo bispo é escolhido pelas pessoas algum tempo antes da ordenação
1978) aboliu a tonsura, as ordens menores de ostiario e exorcista, bem
efetiva, a qual acontece num domingo na presença de outros bispos. A s
como a ordem maior de subdiácono. A l i se introduziram ritos de "Insti-
pessoas dão sua aprovação, provavelmente por aclamação. E m seguida
tuição" de leitores e de acólitos bem como um rito de "Admissão entre
os bispos impõem as mãos enquanto um bispo profere a oração de
os Candidatos à Ordem Sacra", assim como ritos de ordenação para
ordenação. A oração principia por uma enumeração dos atos salvíficos
bispos, sacerdotes e diáconos (Rices, 2, 3-108; Roman Pontifical, 113-254
de Deus, para então invocar o derramamento do Espírito Santo sobre o
[em português, estes rituais de ordenação constam num fascículo à
novo bispo de modo que ele possa servir adequadamente em suas
parte do Pontifical Romano]) ®.
7
nua o decreto, era: "Recebe o poder de oferecer sacrifício na igreja em Efetivamente é estranho que a cristandade nunca tenha chegado a
prol dos vivos e dos mortos, em nome do Pai e do Filho e do Espírito elaborar ritos para comemorar a entrada em vocações não-eclesiásticas.
Santo." Como Cristo não especificou a forma ou matéria da ordenação, Lutero e a maioria dos protestantes sustentaram que cada vocação que
a igreja pôde revisar a sua prática. Em 1947, Pio XII, em A Constituição serve a outras pessoas é uma vocação sacerdotal válida. Lutero nos
Apostólica sobre as Ordens Sagradas reafirmou que a matéria era a lembra que o funcionário de uma fábrica de laticínios tem uma vocação
imposição das mãos. A forma por ele prescrita aparece agora na oração
tão sagrada quanto a freira. Toda pessoa numa ocupação honesta serve
de ordenação do novo Pontifical Romano.
a seu próximo, estando assim envolvida no ministério. Mas as igrejas
Os reformadores tiveram dificuldades em aceitar a noção de que a nunca desenvolveram ritos comparáveis à ordenação para aquelas pes-
ordenação confere um caráter indelével. Lutero considerava a ordena- soas que optam por outras maneiras de servir a humanidade.
ção como algo funcional, ao designar um cristão para fazer aquilo que A maioria dos/as pastores/as não terá oportunidade de planejar orde-
todos têm autoridade para fazer e efetivamente qualquer um poderia nações, mas existem alguns aspectos práticos na maioria dos novos
fazer caso se encontrasse numa ilha deserta sem contar com um cléri- ritos que merecem ser mencionados. E m primeiro lugar, como a ordena-
go: "Todos somos igualmente sacerdotes, isto é, temos o mesmo poder ção é para pessoas, elas próprias precisam ter a oportunidade de parti-
na Palavra e em qualquer sacramento." Para Lutero, a ordenação
26
cipar ativamente. Aclamações espontâneas quando os/as candidatos/as
permaneceu um chamado público para "o ministério da Palavra". Algu- são apresentados/as, até mesmo o aplauso, deveriam ser estimuladas.
mas igrejas levaram isso ainda mais longe ao igualarem a ordenação à Hinos e orações em uníssono deveriam ter a participação plena de
instalação na função pastoral em uma igreja local. Entretanto, a todas as pessoas reunidas. Representantes dos leigos podem se envol-
reordenação raramente é praticada quando o/a pastor/a se muda para ver em alguns atos, particularmente na saudação das pessoas recém-
outra congregação ou quando troca de denominação. Mesmo assim, ordenadas. Isto não deveria ser relegado apenas aos pais e à família,
isso foi um grande problema nas negociações de unificação entre mas na medida do possível deveria ser feito também por aquelas pes-
anglicanos e metodistas nos anos 60. soas que efetivamente serão servidas pelos ordenados.
De modo geral os protestantes evitaram a crença de que a ordenação O antigo uso da eucaristia como contexto no qual se realiza a ordena-
traz graças específicas, considerando-a comumente como designação de ção tem muito a recomendá-lo. A ordenação é uma ocasião quase tão
pessoas para certas funções. Poder-se-ia sustentar que a prática apostóli- feliz quanto um casamento; a congregação é quase certamente toda ela
ca de imposição das mãos sugere um conceito mais elevado de autorida- cristã, e para ela a eucaristia é o sinal mais adequado de alegria e ação
de do que as palavras de teólogos possam admitir. Por outro lado, a de graças. A eucaristia também proporciona às pessoas ordenadas sua
-eleição e aclamação pelo povo certamente mostram que, quaisquer que primeira oportunidade pública de exercer partes importantes do seu
sejam o poder e autoridade que são conferidos, eles somente têm sentido ministério da palavra e do sacramento.
enquanto são usados no ministério em prol da igreja. É vital reconhecer Muita coisa aconteceu nos últimos anos para fazer com que os novos
que a ordenação é algo feito em prol da igreja, não apenas para indivídu- ritos de ordenação convergissem. Se as diversas igrejas fossem tão
os. Somente nos últimos anos nos damos conta de que a preocupação com próximas em sua compreensão das ordens e do ministério como o são
õ que o indivíduo recebe não atina com o essencial e que aquilo que a na prática da ordenação, os cristãos efetivamente teriam alcançado um
própria comunidade recebe é o verdadeiro foco deste sacramento. feliz estágio para a reunificação da cristandade. Mas a ação às vezes
precede o pensamento, e a utilização de novos ritos certamente é um A entrada no noviciado, os votos temporários e permanentes foram
importante passo para a unidade. Uma importante declaração de avan- todos ritualizados. Caso alguém deixasse a congregação, sua própria
ço ecumênico se encontra em Batismo, Eucaristia e Ministério, embora roupa era restituída. Dessa forma, uma série de imagens está presente
o ministério continue sendo o mais controvertido dos três tópicos . 87 nos ritos monásticos de profissão religiosa: segundo batismo, martírio e
sepultamento cristão.
Desenvolveu-se também uma série de ritos para os líderes de tais
comunidades, especialmente para a "Bênção de um A b a d e " (Rites, 2,115-
P r o f i s s ã o ou C o m i s s i o n a m e n t o R e l i g i o s o
24) e a "Bênção de uma Abadessa" (Rites, 2,125-31 [em português: Ritual
de Ordenação de Bispos, Presbíteros e Diáconos, 279-98]). De muitas
U m significativo número de pessoas passa por ritos religiosos, para maneiras esses ritos constituíam um paralelo à consagração dos bispos,
entrar numa vida inteira de serviço, que podem ou não implicar uma sendo que abades mitrados recebiam muitos dos símbolos de autoridade
ordenação. Trata-se de ritos que iniciam pessoas em comunidades reli- de um bispo, embora geralmente sem a jurisdição episcopal.
giosas de irmãs, freiras, mendicantes, monges, diversas ordens cleri-
cais, institutos leigos, diaconisas ou missionários. Provavelmente have- Todos esses ritos foram amplamente revisados em tempos modernos.
Diversas ordens e congregações têm seus próprios ofícios distintivos,
rá um significativo aumento de ministérios leigos no futuro, fazendo
embora com muita coisa em comum. Os ritos genéricos atuais se encon-
com que os ofícios de comissionamento se tornem ainda mais importan-
tram em The Rite of Religious Profession, recentemente publicado (em
tes do que atualmente.
1989). Geralmente o bispo local preside essas cerimônias. Na Igreja Epis-
Os grupos organizados para o ministério têm uma longa história. Já copal está previsto um rito para a "Separação para uma Vocação Espe-
nos primeiros dois séculos encontramos indícios da existência de cris- cial", que prevê um noviciado, votos temporários e votos finais ou vitalí-
tãos vivendo intencionalmente em virgindade. No séc. 3 havia em mui- cios (BOS, 254-58). Cada estágio implica uma solicitação, um sermão,
tas comunidades grupos de viúvas e virgens que tinham papéis distin- exame, promessas ou votos, oração ou bênção e apresentação da roupa.
tos na vida eclesial. O séc. 4 revela que esses grupos levavam uma vida Outras igrejas têm diversos formulários para ministérios especiais, como
comunitária, e logo se desenvolveram ritos de consagração para esse "Separação de uma Diaconisa" entre os luteranos (OS, 210-17) ou "Uma
estilo de vida. A história desses ritos é bastante diferente para homens e Ordem para o Compromisso com o Serviço Cristão" e outros ofícios no
mulheres. Blessings and Consecrations metodista unido (SWR, #14, 26-37).
N o caso das m u l h e r e s esses r i t o s g e r a l m e n t e i m p l i c a v a m o
sancionamento, pelo bispo, do voto de virgindade e da recepção de um
Profissão ou Comissionamento Religioso
véu. A principal imagem para referir-se à entrada nas ordens femininas
veio a ser matrimonial, tendo promessas esponsais e a recepção de um
BofS, 129-36 LWA, 254-80 SB, 247-49 Também: Novo
anel como ações centrais.
BofW, 422-38 OS, 204-17 SWR, #14, 26-37 Rito de Profis-
Entre as primeiras ordens de homens, a imagem central era original- BOS, 175-91, PM, 95-131 WB, 96-101 são Religiosa
mente um segundo batismo. A oferta de si mesmo era sinalizada por 254-58 Rites, 2,111-81 (católico romano)
meio de votos feitos à mesa do altar ou pela colocação sobre a mesma de
um documento assinado, tendo algumas das qualidades do martírio. A
renúncia a propriedades mundanas, as quais poderiam estar relaciona-
das numa lista depositada sobre a mesa do altar, era uma parte impor- Sepultamento Cristão
tante disso. Os trajes desempenhavam papel importante na medida em
que o futuro monge colocava de lado as roupas deste mundo e vestia o O sepultamento cristão é praticado para consolar os enlutados e
hábito de sua nova congregação. Cada peça - capuz, escapulário, capa encomendar a pessoa falecida a Deus. Isto pode parecer um assunto não
e cinturão - passou a ser um símbolo da nova vida em comunidade. N a muito alegre para concluir nosso estudo do culto cristão, porém ele de
Idade Média tardia, a morte para este mundo passou a ser simbolizada fato mostra que toda a vida do cristão envolve o louvor a Deus, do
pela prostração perante a mesa do altar e pelo ato de ser envolvido no batismo ao sepultamento. E a observância da morte cristã tem muito a
próprio hábito como que numa mortalha. O monge morria para si nos dizer sobre a própria vida cristã.
mesmo e era ressucitado para uma nova vida em comunidade.
Historicamente, as atitudes para com o sepultamento cristão pare- memória daqueles que combateram antes de nós, e para exercitar e
cem ter evoluído através de três estágios bastante diferentes: esperan- preparar aqueles que deverão combater no futuro." 30
7 Cyril R I C H A R D S O N , op. cit., p. 174 [trad, port.: p. 31]. Capítulo 3: A Linguagem do Espaço
8 James D O N A L D S O N (ed.), Ante-Nicene Fathers (doravante A N F ) , N e w York : Charles
Scribner's, 1899, vol. 7, p. 469. 1 Para mais detalhes, veja James F. W H I T E , Susan J. W H I T E , Church Architecture: Buil-
9 John C H R Y S O S T O M , Baptismal Instructions, in: Ancient Christian Writers, Westmins- d i n g and Renovating for Christian Worship, Nashville : A b i n g d o n , 1988.
ter, Md. : N e w m a n , 1963, vol. 31, p. 127. 2 Historicamente sempre houve uma estreita relação entre os artistas do livro e a expres-
10 TERTULLXAN, On Baptism, in: A N F , vol. 3, p. 678 [trad, port.: O Sacramento do Batis- são religiosa, e e m nenhuma tradição isto t e m sido mais forte do que no cristianismo.
mo : T e o l o g i a Pastoral do Batismo segundo Tertuliano, Petrópolis : Vozes, 1981, p. 71]. E na área das artes livrescas, uma das mais visíveis expressões de devoção através da
a r t e m a n i f e s t o u - s e n a á r e a d a e n c a d e r n a ç ã o . A s e v i d ê n c i a s h i s t ó r i c a s são
11 E U S E B I U S , The History oí the Church, Baltimore : P e n g u i n , 1965, p. 230.
assoberbantes, e essa tradição ainda está muito viva hoje em dia. P o r é m atualmente a
12 John W I L K I N S O N (ed. e trad.), Egeria's Travels, London : S.P.C.K., 1971, p p . 132-33 tradição existe mais devido ao apoio de patrocínios privados ou de bibliotecas univer-
[trad, port.: Peregrinação de Etéria: Liturgia e Catequese e m Jerusalém no Século IV, sitárias do que a partir de comissões de igrejas.
Petrópolis : Vozes, 1971, pp. 96-97].
3 Para um relato histórico mais detalhado, veja James F. W H I T E , Protestant Worship
13 A U G U S T I N E , Letters, in: Fathers of the Church, N e w York : Fathers of the Church, and Church Architecture, N e w York : Oxford University, 1964, caps. 3-6.
1951, vol. 12, p. 283.
4 A s letras que aparecem nas figuras estampadas nas páginas subseqüentes t ê m os
14 Thomas J. T A L L E Y , The Origins of the Liturgical Year, N e w York : Pueblo, 1986, seguintes significados: A = altar; C = coro; E = estante; F = fonte; P = púlpito; T =
pp. 194-203. tribuna de oração; linhas pontilhadas = galerias (exceto na figura 1, onde representam
15 Cyril of Jerusalem and Nemesius ofEmesa, Philadelphia : Westminster, 1955, p. 68. uma parede removida). Os desenhos não são em escala.
16 A U G U S T I N E , op. cit., pp. 284-85. 5 James A . M U L L E R (ed.). The Letters of Stephen Gardiner, N e w Y o r k : Macmillan, 1933,
17 T E R T U L L I A N , op. cit., p. 678. p. 355.
18 EUSEBIUS, Life of Constantine the Great, in: Nicene and Post-Nicene Fathers (doravante 6 Paul TTLLICH, Existentialist Aspects of M o d e r n Art, in: Carl M I C H A L S O N (ed.), Chrís-
N P N F ) , 2nd Series, N e w York : Christian Literature, 1890, vol. 1, p. 557. tianity and the Existentialists, N e w York : Scribner's, 1956, especialmente pp. 134-44.
19 Thomas J. T A L L E Y , op. cit., p p . 129-34. 7 Cyril C. R I C H A R D S O N , Some Reflections on Liturgical A r t , Union Seminary Quarterly
Review, v. 8, pp. 24-28, 1953.
20 John CHRYSOSTOM, Opera Omnia, Paris : Gaume, 1834, vol. 2, p. 418.
8 J. G. D A V I E S (ed.), The New Westminster Dictionary of Liturgy and Worship, Philadel-
21 ID., ibid., vol. 2, p. 436.
phia : Westminster, 1986, pp. 521-40.
22 Cit. ap. L. D U C H E S N E , Christian Worship, 5. ed., London : S.P.C.K., 1923, p. 260, nota 3.
23 T E R T U L L I A N , D e Corona, in: A N F , vol. 3, p. 94.
24 John C H R Y S O S T O M , Opera Omnia, vol. 1, p. 608.
25 Gregory DDC, Shape of the Liturgy, Westminster : Dacre, 1945, p. 305.
26 Formula Missae, in: Bard T H O M P S O N (ed.), Liturg-ies of the Western Church, Cleveland :
W o r l d , 1961, p. 109.
Capítulo 4: Oração Pública Diária 25 The First and Second Prayer Books of Edward VI, London : J. M. Dent, 1952, p. 3.
26 Ibid., p. 6.
1 Didache, 8, in: Cyril R I C H A R D S O N (ed.), Early Christian Fathers, p. 174.
2 C L E M E N T , The Stromata or Miscellanies, 7, 7; A N P , vol. 2, p. 534.
3 T E R T U L L I A N , On Fasting, 10, On Prayer, 25; C Y P R I A N , On the L o r d ' s Prayer, 34.
Capítulo 5: A Liturgia da Palavra
4 Bernard B O T T E , La Tradition apostolique de Saint Hippolyte, Münster : Aschendorff-
1 Cyril R I C H A R D S O N (ed.), Early Christian Fathers, p. 287 [trad, port.: Justino de Roma,
sche, 1963, para introdução, texto, notas e tradução para o francês. Tradução para o
inglês: Geoffrey C U M I N G (ed.), Hippolytus : A T e x t for Students with Introduction, p. 83].
Translation, Commentary, and Notes, Bramcote, Notts, U.K. : Grove Books, 1976 [trad, 2 Trata-se da famosa segunda lei de Anton B A U M S T A R K , explicada em sua obra
port.: Tradição Apostólica de Hipólito de Roma : Liturgia e Catequese em R o m a no Comparative Liturgiology, London : A . R. Mowbray, 1958, p. 27. A primeira lei é que os
Século III, Petrópolis : Vozes, 1971, pp. 64s.]. elementos antigos com o tempo tendem a ser duplicados com elementos mais modernos;
depois, ao ser finalmente notada a redundância, os elementos mais antigos são elimina-
5 Gregory DEC (ed.), The Treatise on the Apostohc Tradition of St. Hippolytus of Rome, 36,
d o s (p- 23).
London : S.P.C.K., 1968, p. 63 [trad, port.: p. 66].
6 G r e g o r y DDC (ed.), Apostolic Tradition, 33, p. 60; cf. também 35, p. 61 [trad, port.: p. 63]. 3 A U G U S T I N E , Sermon #324, in: Patrologiae Latina, Paris : J. P. M i g n e , 1863, vol. 38,
p. 1449.
7 G e o r g e G U I V E R introduz o último termo, que parece o mais apropriado. Company of
Voices, N e w York : Pueblo, 1988, p. 53. 4 Bard T H O M P S O N (ed.). Liturgies of the Western Church, Cleveland : W o r l d , 1961,
pp. 106-22.
8 E U S E B I U S , Commentary on Psalm 64, verse 10, in: Patrologiae Graecae, Paris : J. P.
5 ID., ibid., pp. 123-37.
M i g n e , 1857, vol. 23, p. 640.
6 Ibid., pp. 197-208.
9 Apostohc Constitutions, 2, 59, in: A N F , vol. 7, p. 423; 8, p. 35; A N P , vol. 7, p. 496.
10 John C H R Y S O S T O M , Baptismal Instructions, 17, trad. Paul W . Harkins, in: Ancient 7 Hughes O. OLD, The Patristic Roots of Reformed Worship, Zürich : Theologischer
Christian Writers, Westminster, M d . : N e w m a n , 1963, vol. 31, pp. 126-27. Verlag, 1975, pp. 208-18.
11 Egeria's Travels, 24, ed. e trad. John W i l k i n s o n , London : S.P.C.K., 1971, pp. 123-24. 8 Bard T H O M P S O N , op. cit., pp. 354-71.
12 R o b e r t TAFT, The Liturgy of the Hours in East and West, Collegeville, Minn.: Liturgical, 9 ID., ibid.. pp. 245-68.
1986, p. 56. 10 Ibid., pp. 269-84.
13 C A S S I A N , Institutes of the Coenobia, 2, 3, in: N P N F , 2nd series, vol. 11, p. 206. 11 John Wesley's Sunday Service of the Methodists in North America. Nashville : United
14 BASIL, Question 37, Ascetical Works, trad. M . Monica Wagner, C.S.C., N e w York : Methodist. 1984.
Fathers of the Church, 1950), pp. 309-10 [trad, port.: São B A S Í L I O M A G N O , As Regras 12 Veja John KNOX, Integrity of Preaching, Nashville-New Y o r k : Abingdon, 1957; Gustav
Monásticas, Petrópolis : Vozes, 1983, pp. 106s.]. W I N G R E N , The Living Word. Philadelphia: Fortress, 1960; Karl B A R T H , The Preaching
15 C H R Y S O S T O M , H o m i l i e s on First Timothy, #14, in: N P N F , 1st series, vol. 13, p. 456. of the Gospel, Philadelphia : Westminster, 1963; P. T. F O R S Y T H , Positive Preaching
and the Modern Mind, London : Independent, 1960; H. H. F A R M E R Servant of the
16 C A S S I A N , Institutes, 3, 4, in: N P N F , 2nd series, vol. 11, p. 215. Word, Philadelphia : Fortress, 1964; Fred B. C R A D D O C K Preaching, Nashville :
17 BENEDICT, The Rule, in: Western Asceticism, Philadelphia: Westminster, 1958, p. 327. A b i n g d o n , 1985; David G. B U T T R I C K , Homiletic, Philadelphia: Fortress, 1987; Richard
18 E. C. RATCLIFF, The Choir Offices, in: W. K Lowther C L A R K E , Charles H A R R I S (eds.), L. E S L I N G E R , A New Hearing, Nashville : A b i n g d o n , 1987.
Liturgy and Worship, London : S.P.C.K., 1932, p. 266.
19 J. W i c k h a m L E G G (ed.). The Second Recension of the Quignon Breviary, London :
H e n r y Bradshaw Society, 1908, vol. 35; e J. W i c k h a m LEGG, Liturgical Introduction
Capítulo 6: O Amor de Deus Tornado Visível
with Life of Quignon, London : H e n r y Bradshaw Society, 1912, vol. 42.
20 Liturgy of the Hours: The General Instruction, London : Geoffrey Chapman, 1971, p. 35,
1 Tractus on John, 80, 3; in: N P N F , 1st series, vol. 7, p. 344; e John C A L V I N , Institutes, IV,
par. 77.
xiv, 4, p. 1279 (Library of Christian Classics, 21) [trad, port.: João C A L V I N O , A s Institutas
21 R o b e r t TAFT, op. cit, p. 316. ou Tratado da Rehgião Cristã, São Paulo : Presbiteriana, 1989, vol. 4, p. 261].
22 Hughes Oliphant OLD, Daily Prayer in the Reformed Church of Strasbourg, 1525-1530, 2 Essa é a tese central de E. S C H I L L E B E E C K X , Christ the Sacrament of the Encounter
Worship, v. 52, pp. 121-38, 1978. with God, N e w Y o r k : Sheed and W a r d , 1963.
23 Cf. Formula Missae e Deutsche Messe, in: Bard T H O M P S O N (ed.), Liturgies of the 3 Cf. Joachim J E R E M I A S , Eucharistic Words of Jesus, N e w York : Scribner's, 1966,
Western Church, Cleveland : World, 1961, pp. 120-21 e 129-30. pp. 106-37.
24 Günther STILLER, Johann Sebastian Bach and Liturgical Life in Leipzig, St. Louis : 4 John C A L V I N , Institutes, IV, x v i i , 32, p. 1403 [trad, port.: A s Institutas, vol. 4, p. 376].
Concordia, 1984, p. 55. 5 Texto em Elizabeth Frances R O G E R S , Peter Lombard and the Sacramental System,
Merrick, N.Y.: Richwood, 1976, vol. IV, ii, 1, p. 85.
6 ID., ibid., vol. IV, i, 6, p. 82. 16 Concerning the Sacraments, III, 8, in: E. C. W H I T A K E R (ed.), op. cit., p. 131 [trad,
port.: Os Sacramentos e os Mistérios, p. 42].
7 Ibid., vol. IV, i, 4, p. 80.
17 J. D. C. F I S H E R Christian Initiation : Baptism in the M e d i e v a l West, London :
8 Ibid., vol. rv, xxiii, 3, p. 221.
S.P.C.K., 1970,-p. 148.
9 T e x t o em Ray C. P B T R Y (ed.), A History of Christianity, E n g l e w o o d Cliffs, N.J. : Pren-
tice-Hall, 1962, p. 324. 18 ID., ibid., p. 106.
10 ID., ibid., p. 325. 19 Ulrich S. L E O P O L D (ed.), Luther's Works, Philadelphia : Fortress, 1965, vol. 53, pp.
107-9 [trad, port.: Martinho L U T E R O , P e i o Evangelho de Cristo, São Leopoldo : Sino-
11 P a r a um importante exame desse termo e de seus significados cambiantes, cf. Piet
dal; Porto A l e g r e : Concórdia, 1983, pp. 243-47].
S C H O O N B N B E R G , Transubstantation: H o w F a r I s T h i s D o c t r i n e H i s t o r i c a l l y
Determined?, in: Concilium (The Sacraments, an Ecumenical Dilemma), N e w York : 20 Rubricas em The Form of Prayers and (...) M a n n e r of A d m i n i s t e r i n g the Sacraments,
Paulist, 1966, vol. 24, pp. 78-91. texto em J. D. C. F I S H E R (ed.), Christian Initiation : The Reformation Period, London:
S.P.C.K., 1970, p. 117.
12 Canons and Dogmatic Decrees of the Council of Trent, in: Philip S C H A F F (ed.), The
Creeds of Christendom, Grand Rapids, M i c h . : Baker, s. d., vol. 2, p. 119. 21 Texto cit. ap. R o l l i n S. A R M O U R , Anabaptist Baptism, Scottdale, Pa. : Herald, 1966,
pp. 143-44.
13 John C A L V I N , Institutes, IV, x v i i , 1, p. 1361.
22 G. R. B E A S L E Y - M U R R A Y , Baptism in the New Testament, Exeter : Paternoster, 1962,
14 Burkhard N E U N H E U S E R (ed.), The Mystery of Christian Worship and Other Writings,
Westminster, M d . : N e w m a n , 1962, p. 124. p. 125.
15 Veja também Eduard S C H I L L E B E E C K X , The Eucharist, N e w York : Sheed and W a r d , 23 J. D. C. F I S H E R (ed.), op. cit., p. 173.
1968. 24 ID., ibid., pp. 174-78.
16 John C A L V I N , Institutes, IV, xiv, 3, p. 1278 [trad, port.: As Institutas, vol. 4, p p . 260s.]. 25 John C A L V I N , Institutes, IV, xix, 13, p. 1461 [trad, port.: A s Institutas, vol. 4, p. 430].
26 Para uma exposição mais detalhada, cf. James F. W H I T E , Sacraments as God's Self
Giving, Nashville : Abingdon, 1983, cap. 2.
Capítulo 7: Iniciação Cristã 27 First Apology, 61 e 65, in Cyril R I C H A R D S O N (ed.), op. cit., pp. 282-83, 285 [trad, port.:
Justino de Roma, pp. 76-77].
1 Mandate IV, iii, 6, in: The Apostolic Fathers, Cambridge : Harvard, 1965, vol. 2, p. 85 28 V s . Heresies, III, x v i i , 2, in: H e n r y B E T T E N S O N , The Early Cristian Fathers, London :
[trad, port.: Padres Apostólicos, p. 198]. Oxford University, 1963, p. 129 [trad, port.: Ireneu de Lião : I, II, III, IV, V Livros, São
Paulo : Paulus, 1995, p. 326].
2 Kurt A L A N D , Did the Early Church Baptize Infants?, London : S C M , 1963, p. 10.
29 Enchiridion, 43-52; in: N P N F , 1st series, vol. 3, pp. 252-54.
3 Oscar C U L L M A N N , Baptism in the New Testament, London: SCM, 1950.
4 Didache, 9 e 7, in: Cyril R I C H A R D S O N (ed.), Early Christian Fathers, Philadelphia : 30 Sentences, IV, ii-vi, in: Elisabeth R O G E R S (ed.), Peter Lombard and the Sacramental
System, pp. 85-116.
Westminster, 1953, pp. 174-75 [trad, port.: Didaqué, pp. 32 e 30]
31 ID., ibid., IV, v i i , 3, p. 117.
5 First Apology, 61 and 65, in: Cyril R I C H A R D S O N (ed.), op. cit., p p . 282, 285.
6 On Baptism, 20, in: A N F , vol. 3, pp. 678-79 [trad, port.: O Sacramento do Batismo, p. 73]. 32 In: R a y C. P E T R Y (ed.), A History of Christianity, E n g l e w o o d Cliffs, N.J. : Prentice-
Hall, 1962, p. 326.
7 Ibid., 17, A N F , vol. 3, p. 677 [trad, port.: p. 63].
33 M a r t i n L U T H E R , The Holy and Blessed Sacrament of Baptism, in: Luther's Works, vol.
8 Of the Crowns, 3, in: E. C. W H I T A K E R (ed.), Documents of the Baptismal Liturgy, 35, p. 36 [trad, port.: Martinho L U T E R O , Obras Selecionadas, São Leopoldo : Sinodal;
London : S.P.C.K., 1970, p. 10. Porto A l e g r e : Concórdia, 1988, vol. 1, p. 420].
9 On Baptism, 8, A N F , vol. 3, p. 672 [trad, port.: p. 38]. 34 ID., ibid., p. 34 [trad, port.: p. 419].
10 Gregory DDÍ (ed.), The Treatise on the Apostohc Tradition of St. Hippolytus, London : 35 Of Baptism, in: G.W. B R O M I L Y (ed.), ZwingU and Bullinger, Philadelphia: Westminster,
S.P.C.K., 1968, p. 38 [trad, port.: Tradição Apostólica de Hipólito de Roma, p. 53]. 1953, p. 156.
11 R. H u g h C O N N O L L Y (ed.), Didascalia Apostolorum, Oxford : Clarendon, 1969, p. 147. 36 John C A L V I N , Institutes, IV, xv, 1, p. 1303 [trad, port.: A s Institutas, vol. 4, p. 285].
12 Egeria's Travels, 45-47, ed. e trad. John W i l k i n s o n , London : S.P.C.K., 1974, pp. 143-46. 37 Menno S I M O N S , Foundation of Christian Doctrine, in: Complete Writings, ed. C. Wen-
13 Concerning the Sacraments, 1, 4, in: E. C. W H I T A K E R (ed.), op. cit., p. 128 [trad, port.: ger, Scottdale, Pa. : Herald, 1965, p. 120.
Os Sacramentos e os Misterios: Santo Ambrosio, Petrópolis : Vozes, 1972, p. 22]. 38 Karl B A R T H , The Teaching of the Church Regarding Baptism, London : S C M , 1948.
14 M y s t a g o g i c a l Catechesis, 2, in: ID., ibid., p. 29 [trad, port.: São C I R I L O DE JERUSA- 39 Oscar C U L L M A N N , Baptism in the New Testament, London : S C M , 1950.
L E M , Catequeses Mistagógicas, Petrópolis : Vozes, 1977, p. 25].
40 Joachim J E R E M I A S , Infant Baptism in the First Four Centuries, Philadelphia : West-
15 Ibid., pp. 40-41. Cf. também Edward Y A R N O L D , The Awe-Inspiring Rites of Initiation, minster, 1962, e The Origins of In fant Baptism, Philadelphia : Westminster, 1963; Kurt
London : St. Paul, 1972. A L A N D , Did the Early Church Baptize Infants?, Philadelphia : Westminster, 1963.
41 Baptism, Eucharist and Ministry, Geneva: W o r l d Council of Churches, 1982, p. 4 [trad, João Ecolampádio, Das Testament Jesu Christi
port.: .Batismo, Eucaristia, Ministério : Convergência da Fé, R i o de Janeiro, T e m p o e 1524 - Diobald Schwarz, Teutsche Messe
Presença, 1983.] Guillaume Farel, L a Maniere et fasson
42 Urban T. H O L M E S , Young Children and the Eucharist, ed. r e v . N e w Y o r k : Seabury, 1982. Missa de W o r m s (em alemão)
Martinho Bucer, Grund und Ursach
1525 - João Ecolampádio, Form und Gstalt
Ulrico Zwinglio, Action oder Bruch des Nachtmals
Capítulo 8: A Eucaristia Dõber, M i s s a para a Capela do Hospital de Nuremberg (em alemão)
Martinho Lutero, Deutsche Messe
1 Joachim J E R E M I A S , Eucharistie Words of Jesus, N e w Y o r k : Charles Scribner's Sons, Veja I r m g a r d P A H L (ed.), Coena Domini, F r e i b u r g : Universitâtsverlag, 1983, vol. I.
1966, p. 173. 16 Formula Missae, in: Bard T H O M P S O N (ed.). Liturgies of the Western Church, p. 108.
2 Gregory DIX, The Shape of the Liturgy, W e s t m i n s t e r : Dacre, 1945; Joseph J U N G M A N N , Este livro e o de J A S P E R e C U M I N G , Prayers of the Eucharist, deveriam ser consulta-
M a s s of the Roman Rite, N e w York : Benziger, 1951-55, 2 vols.; e Y n g v e B R I L I O T H , dos para encontrar os textos dos ritos protestantes.
Eucharistie Faith and Practice, London : S.P.C.K, 1953, são clássicos modernos de 17 Nashville : A b i n g d o n , 1987.
estudos eucarísticos. A influência de D i x tem sido profunda e m quase toda a revisão
18 Duas obras importantes são: John M c K E N N A Eucharist and Holy Spirit, London :
litúrgica feita desde a primeira publicação d o rito da Igreja do Sul da índia e m 1950.
Alcuin Club, 1975; e Geoffrey W A I N W R I G H T , Eucharist and Eschatology, N e w York :
3 C H U R C H O F T H E B R E T H R E N , Pastor's Manual, E l g i n , 111.: Brethren, 1978, pp. 27-58; Oxford University, 1981.
S a c , 208; BCP, 274; L B W - Ministers Desk Edition, 138.
19 First Apology, 65-67, in: Cyril R I C H A R D S O N , op. cit., pp. 286-87 [trad, port.: Justino de
4 Para um bom resumo dessa discussão, veja A . J. B. H I G G I N S , The Lord's Supper in the Roma, p. 82].
New Testament, London : S C M , 1952, pp. 13-23; t a m b é m J o a c h i m J E R E M I A S ,
20 Didache, 9, in: ID., ibid., p. 175 [trad, port.: Didaqué ou Doutrina dos Apóstolos, p. 32].
Eucharistie Words, pp. 41-84.
21 Clement's First Letter, 40 e 44, in: ibid., pp. 62, 64.
5 Hans L I E T Z M A N N , Mass and Lord's Supper, Leiden : E. J. Brill, 1979; também Oscar
C U L L M A N N , F. J. L E E N H A R D T , Essays on the Lord's Supper, Richmond, Va. : John 22 T o the Smyrnaeans, 7, in: ibid., p. 114.
Knox, 1958. 23 A g a i n s t Heresies, 5, 2, in: ibid., p. 388.
6 C H U R C H O F T H E B R E T H R E N , op. cit., pp. 27-58. 24 Epistle 62, 13, in: A N F , vol. 8, p. 217.
7 Didache, 9-10,14, in: C y r i l R I C H A R D S O N (ed.). Early Christian Fathers, Philadelphia: 25 Mystagogical Catechesis V, in: St. Cyril of Jerusalem's Lectures on the Christian
Westminster, 1953, pp. 175-76, 178 [trad, port.: Didaqué ou Doutrina dos Apóstolos, p. 32]. Sacraments, London : S.P.C.K., 1960, p. 74.
8 First A p o l o g y 65, in: Cyril R I C H A R D S O N , op. cit., p p . 285-86 [trad, p o r t : Justino de 26 City of God, 10, 6; in: N P N F , 1st series, vol. 2, p. 184 [trad, port.: Santo A G O S T I N H O , A
Roma, pp. 81-82]. Cidade de Deus, São Paulo : Editora das A m é r i c a s , 1961, p. 55].
9 Disponível da forma mais conveniente e m R. C. D. JASPER, G. J. C U M I N G , Prayers of 27 On the Sacraments, IV, 14; in: J A S P E R e C U M I N G , op. cit., pp. 144-45 [trad, port.: Os
the Eucharist: Early and Reformed, N e w York : Pueblo, 1987, pp. 31-38. Também G. J. Sacramentos e os Mistérios, p. 50].
C U M I N G , Hippolytus: A Text for Students, Bramcote, Notts., U.K.: Grove, 1976, pp. 10-
11. Nos idiomas originais, cf. A . H A N G G I , I. P Ä H L Prex Eucharistica, Fribourg : 28 H e n r y D E N Z I N G E R , Adolf S C H Ó N M E T Z E R , Enchiridion Symbolorum, 33. ed., R o m a :
Editions Universitaries, 1968, pp. 80-81. Estes livros serão muito úteis no decorrer das Herder, 1965, p. 260.
paginas seguintes. 29 D e c r e e for the Armenians, in: Ray C. P E T R Y (ed.), A History of Christianity, p. 328.
10 C. D. JASPER, G. J. C U M I N G , op. cit., p. 34. 30 Y n g v e B R I L I O T H , op. cit., p. 97.
11 Bernard BOTTE, L a Tradition apostolique de Saint Hippolyte, Münster: Aschendorffsche, 31 Tanto mais irônico é o fato de Lutero ter descartado o cânon da missa com exceção das
1963, p. 28. palavras da instituição, as quais, para nós, parecem usar uma linguagem explicita-
12 T o the Smyrnaeans, 8, in: Cyril R I C H A R D S O N , op. cit., p. 115 [trad, port.: Inácio aos mente sacrificai.
Esmirneanos, in: Padres Apostólicos, p. 118]. 32 John C A L V I N , Institutes, IV, xvii, 7, p. 1367 [trad, port.: A s Instituías, vol. 4, p. 345].
13 John W O R D S W O R T H (ed.), Bishop Sarapion's Prayer-Book, Hamden, C o n n . : Archon, 33 ID., ibid., IV, x v i i , 38, p p . 1415-16 [trad, port.: ibid., p. 387].
1964, p. 63. 34 Cyril R I C H A R D S O N , Zwingli and Cranmer on the Eucharist, Evanston, 111.: Seabury-
14 G r e g o r y DIX, op. cit., p. 48. W e s t e r n Theological Seminary, 1949, p. 48.
15 A cronologia das mais importantes liturgias protestantes durante o s primeiros cinco 35 J. E. R A T T E N B U R Y , The Eucharistic Hymns of John and Charles Wesley, London :
anos cruciais de esforço para produzir u m a eucaristia reformada é: Epworth, 1948, pp. 195-249.
1521 - A n d r é Karlstadt, Missa de Natal de Wittenberg (em alemão)
36 Eduard S C H I L L E B E E C K X , The Eucharist, N e w York : Sheed and W a r d , 1968; Joseph
1522 - Gaspar Kantz, Missa Evangélica (em alemão)
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Ulrico Zwinglio, De Cânone Missae Epicheiresis
37 Rio de Janeiro : Tempo e Presença, 1982. 29 Confessions, 9, cit. ap. Geoffrey R O W E L L The Liturgy of Christian Burial, London :
38 Bishops' Committee on the Liturgy Newsletter, v. 15, p. 147, jan. 1979. S.P.C.K., 1977, p. 24 [trad, port.: Santo A G O S T I N H O , A s Confissões, São Paulo : Edito-
ra das A m é r i c a s . 1961, p p . 266ss.].
30 The Martyrdom of Polycarp, V, 18, in: Cyril R I C H A R D S O N , op. c i t , p. 156 [trad, p o r t :
Padres Apostólicos, p. 154].
Capítulo 9: Jornadas e Passagens
31 Martin L U T H E R , Preface to the Burial H y m n s , in: Luther's Works, vol. 53, p. 326.
1 Veja John T. M c N E I L L , Helena M . G A M E R Medieval Handbooks of Penance, New 32 Por exemplo, John H I C K S , Death and Eternal Life, N e w York : H a r p e r & Row, 1976.
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2 M a r t i n L U T H E R , Luther's Works, vol. 53, p p . 116-21.
3 Peter Lombard and the Sacramental System, rV, xiv, 3; in: Elisabeth R O G E R S (ed.), p. 117.
4 D e c r e e for the Armenians, in: Ray C. P E T R Y , A History of Christianity, Englewood
Cliffs, N.J. : Prentice-Hall, 1962, p. 328.
5 G r e g o r y DDC (ed.), Apostolic Tradition, V, p. 10 [trad, p o r t : Tradição Apostólica de
Hipólito de Roma, p. 42].
6 John W O R D S W O R T H (ed.). Bishop Sarapion's Prayer-Book, 1, 5, Hamden, Conn. : Ar-
chon, 1964, p. 67. Veja também 3, 17, pp. 77-78.
7 Peter Lombard, IV, xxiii, 3, in: op. cit., p. 222.
8 D e c r e e for the Armenians, in: Ray C. P E T R Y , op. cit., p. 329.
9 John C A L V I N , Institutes, IV, xix, 18, p. 1466 [trad, port.: A s Instituías, vol. 4, p. 435].
10 ID., ibid., r v , xvii, 39, pp. 1416-17.
11 C H U R C H O F T H E B R E T H R E N , Pastor's Manual, pp. 63-71, que inclui uma boa introdu-
ção. Esse rito deveria ser mais amplamente conhecido.
12 First Apology, 65-67, in: Cyril R I C H A R D S O N , Early Christian Fathers, pp. 286-87.
13 T o Polycarp, 5. in: Cyril R I C H A R D S O N , op. cit., p. 119 [trad, port.: Cartas de Santo Inácio
de Antioquia, p. 87].
14 Martin L U T H E R , Luther's Works, Philadelphia : Fortress, 1965, vol. 53, pp. 110-15.
15 The Celebration of Marriage, Toronto : United Church of Canada, 1985, p. 11.
16 Philadelphia : Fortress, 1987.
17 Peter Lombard, IV, xxvi, 2, in: op. cit., p. 243.
18 Ibid., IV, xxvi, 5, in: op. cit., p. 245.
19 Decree for the Armenians, in: R a y C. P E T R Y , op. cit., p. 329.
20 John C A L V I N , Institutes, IV, xix, 34, p. 1481 [trad, port.: As Instituías, vol. 4, p. 449].
21 Gregory DDC (ed.),Apostohc Tradition, 4-19. Veja também Paul B R A D S H A W , Ordination
Rites of the Ancient Churches of East and West, N e w York : Pueblo, 1990.
22 Paul B R A D S H A W , op. cit., p p . 215-42.
23 Washington: International Commission on English in the Liturgy, 1978.
24 Martin L U T H E R , Luther's Works, vol. 53, p p . 124-26.
25 D e c r e e for the Armenians, in: Ray C. P E T R Y , op. cit., p. 329.
26 Martin L U T H E R , Babylonian Captivity, in: Luther's Works, vol. 36, p. 116 [trad, port.:
Do Cativeiro Babilónico da Igreja: in: Obras Selecionadas, São Leopoldo : Sinodal; Porto
A l e g r e : Concórdia, 1989, vol. 2, p. 417].
27 Geneva : W o r l d Council of Churches, 1987, pp. 20-33 [trad, port.: Batismo, Eucaristia,
Ministério, Rio de Janeiro : Tempo e Presença, 1983].
28 Bishop Sarapion's Prayer Book, V, 18, in: John W O R D S W O R T H (ed.), pp. 79-80.
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Anglicano, culto, 29 161-62. 212, 221,236, 238
Cristo])
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ja A r m ê n i a , 28, 98, 185 Cânticos, 126
Metodista Unida)
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Barth, Karl, 170
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Centros litúrgicos, 70, 72-81
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Basílio, 28, 99, 185
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Batismo, 71-72, 76,114, 134, 138. 144, 147,
(Igreja Presbiteriana no Canadá) 153-174, 238, 241 Cirilo de Jerusalém, 43-44. 46, 159. 194
aspectos pastorais, 172-74 Coletas, 116
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(Igreja Presbiteriana no Canadá) história do. 153-65 Comissionamento, 205-06, 232-33,
modalidade do, 173-74 Common Lectionary, 57-58, 62
renovação do, 163-64, 174 Comum, tempo, 52, 54, 59
sentido do, 165-67
Comunhão, 192, 197
Batismo d o Senhor, 54, 59-60
Comunhão, primeira, 153, 160, 163, 171- Diversidade, 24-30 Gradual, 117 Liturgiologia, 35
72, 174 Dix, Gregory, 50, 178-79, 184, 190 Gráficos, recursos, 65 Livro de Oração Comum, 30-32, 104-05.
Comunidade, 151-52, 173, 205, 210, 233 119-20, 189, 190, 208, 213, 221-22, 237
Doentes. Veja Enfermos
Confirmação, 143, 153, 154-55, 158-64, Hinos, 33, 63, 88, 100, 105, 126, 241 Lombardo, Pedro. 139-40, 168, 209, 220-21
D o m i n g o , 41
168-70 H i p ó l i t o , 42, 96-97, 137, 157. 172, 180-84, Luterano, culto, 29, 146, 190
Donatistas. 138, 149 211, 226-27, 229-30, 234
Confissão, 117, 119-20, 128-29 Lutero, Martinho, 16, 33, 50,103, 118, 142-
Durando, Guilherme. 34, 228 Hispânico, 46,
Congregacional, canto, 86, 88-89 44, 161-62, 169, 173, 188, 197, 207-08.
Encomendação, 239-40 Hoon, Paul, 15, 18 217-18, 223, 229-30, 236, 238
Constância, 24, 30-36
Horas, liturgia das. Veja Liturgia das horas Lutheran Book ot Worship, 103-04, 119,
Constituição sobre a Sagrada Liturgia, Encontros em tendas, 122
164. 190, 208
18, 71-72, 78, 102, 123, 213, 222, 237 Enfermos, ministério para os, 203, 205, Hübmeier, Balthasar, 162
Constituições Apostólicas, 41, 47, 97 210-16 Luto, 238-39
Igreja da Inglaterra, 161-62,170,173, 217-
Contrato de casamento, 217, 221-22 Epiclese, 182-85, 200 Manuais de culto. Veja Culto, manuais de
18, 229
Coral, 71, 87, 129 Epifania, 47-49, 54 Igreja d o s I r m ã o s , 34, 212, 215 Martirológio, 32, 235
Cores litúrgicas, 64 Escatologia, 39, 201 Iluminismo, 145-46 Matinal, oração, 98-99, 104-06
Cranmer, Thomas, 104-05,120-21,198,213, Escolástica, 140-41, 195, 211, 222 Imposição das mãos, 226 Matrimônio, 144, 205, 216-25
236 Escritura no culto, 124, 126 Inácio, 40 Maurice, F. D., 24
Credo, 117-18, 126, 129, 158, 163, 188, 241 E s p a ç o , 66-94 Inculturação, 25-26 McArthur, A l l a n , 51-52
Crisóstomo, João, 26, 28, 41, 46, 48, 50, Espaços liúrgicos, 70-81
Iniciação cristã. VejaBatismo; Catecúmenos; Metodistas, 29, 30, 106, 121, 144, 164.208.
61, 97, 99, 159, 185
Espírito Santo, 166-67,193-94, 197-98,200, Comunhão, primeira; Confirmação 212. Veja também Wesley, John
Cristo Rei, 55, 59 226-27, 229
Instrumentos musicais, 86 Ministério, 226-33
Cristológicas, festas, 49-50, 56, 60-61 Espontaneidade, 30-31
Introdutório, rito. Veja Rito introdutório Missal, 35
Crosby, Fanny, 88, 122 Estandartes, 64, 93
Intróito, 115-16 Missal Romano, 123
Cullmann, Oscar, 171 Etéria, 43, 45, 98-99, 158
Ireneu, 167 Monástico, culto, 76-77, 98-100, 233
Culto Eucaristia, 114, 135, 143. 175-203 Moravos, 106-09
constância do, 30-36 h i s t o r i a d a , 176-91 Jeremias, Joachim, 171 M o r t e , 205, 233-41
da sinagoga. Veja Sinagoga, culto da instituição da, 178-92
definições de, 14-19, 68 Jerusalém, 43, 45, 98 Movimento Litúrgico, 147
prática da, 201-03
diversidade do, 24-30 teologia da, 192-201 João Batista, 154 Mulheres, 24-25, 30, 106, 142, 158, 207,
fenômeno do. Veja Fenômeno d o culto Judaico, culto. 41-42, 53, 96, 112-14, 133-
Eucarística, oração, 182-85,188,190-91 219, 222, 232
judaico. Veja Judaico, culto 34, 154, 176-77, 192, 206, 216
luterano. Veja Luterano, culto Eusébio, 97 Música, 35, 62,83-89, 10OO1,105,128-29, 224
manuais de, 30-36 Justiça, 24-25
Evangelização, 172
monástico. Veja Monástico, culto Justino Mártir, 40,114,155,167,181,193, Natal, 48-49, 54
protestante. Veja Protestante, culto Ex opere operato, 138, 142, 146, 149
203, 214 N e g r o s , 24, 30
reformado. Veja Reformado, culto Extrema-unção, 211
termos-chave, 19-24 Nissiotis, Nicos, 17
Kingdomtide, 51
Fala(r), 69-70, 84-85, 95-96
Cura, 204, 210-16 K y r i e , 116, 120-21 Ocasionais, ofícios, 204-41
Familiar, culto, 106-07, 177 matrimônio, 216-25
Dança, 85, 88-89 Famílias litúrgicas. Veja Litúrgicas, fa- Lava-pés, 46, 179 ministério para os doentes, 210-16
Decreto para os A r m ê n i o s , 140, 168, 209, mílias Lecionário, 35, 60-62, 125 ordenação, 226-32
221, 230 Fenômeno do culto, 12-14 profissão religiosa, 232-33
"Liturgia", termo. 20
reconciliação, 206-10
Devocionários, 100 Florovsky, George, 17-18 Liturgia das horas, 34, 98-102 sepultamento cristão, 233-34
Devoções, 22 Fronteira, tradição da, 29, 122 Litúrgicas, famílias, 26-28, 185 Oferenda, 129
Diácono, 227 Funeral, 233-41 Litúrgicas, tradições, 28-29 Ofício
Diário, ofício, 76-78 Litúrgico. Movimento. Veja Movimento Li- d o povo, 97, 100, 102, 109
Gálico, rito, 28, 186 dos mortos, 100. 235-36
Didaqué, 4041,155-57,181,184,194, 226 túrgico
Gloria in excelsis, 116, 120-21
Bibliografia Introdução ao Culto Cristão
Ofícios ocasionais. Veja Ocasionais, ofícios Presbítero, 227 e m geral, 131-52 Tempo
Oração, 62, 125 Presença, 193-96 instituição dos, 134-35, 140, 143-44 estrutura do, 38-65
de gratidão, 112-13, 120, 125, 128 natureza dos, 171 sentido do, 37-38
Profissão religiosa, 205, 232-33
de súplica, 113 número dos, 137, 139-41, 142-43, 149 Tempo comum. Veja Comum, tempo
extempore, 127 Próprios, elementos, 56-65 termo n y s t e r i o n , 136-37
intercessória, 114-15, 120, 125, 128- Temporal, ciclo, 49
Protestante, culto, 28-30 Sacrifício, 176, 192-94, 195-9?, 199-200
29, 215 Tertuliano, 47, 49. 96, 136, 157, 207, 214,
matinal. Veja Matinal, oração Protestantes, igrejas. 78-81 Salmos, 32, 62, 88, 98-102, 104, 125-26, 128
220. 234
pastoral, 128-29 Púlpito, 72 Sanctus, 182-86, 188
preocupações práticas, 109-10 Tillich, Paul. 90
Puritanos, 29, 103, 119, 132, 161-62, 190, Santa, semana. Veja Semana santa
privada, 108 Tradição Apostólica. Veja Hipólito
pública diária, 95-110 208. 218, 222. 236 Santo, Espírito. Veja Espirito Santo
T r a d i ç õ e s litúrgicas. Veja Litúrgicas, tra-
teologia da, 107-08 Santoral, ciclo, 49
Quacres, 24, 29, 31, 70-71, 80, 84, 89, 106, dições
Ordem do culto, 127-28 111, 121, 142, 162, 189, 228 Santos, dia dos, 49-50 Transfiguração, 55, 59
Ordenação, 144, 205, 226-32 Quaresma, 44, 48, 55, 163 Schillebeeekx, Edward, 148 Transignificação, 199
Order of Christian Funerais, 237 Quarta-Feira de Cinzas, 44, 147, 208 Semana santa, 44-46 Transubstanciação, 144, 196-97
Ordinal, 34 Quartodecimana, controvérsia, 43 Sepultamento cristão, 205, 233-41 Trento. Concílio de, 143, 160-61
Ordinários, elementos, 56 Quiñones. Francisco de, 101, 104 Serapião, 184, 211, 234 Triduo pascal. 46-47
Ortodoxas, igrejas, 76, 89, 217 S e r m ã o , 63-64
R a m o s , D o m i n g o de. Veja Paixão, Domin- Última ceia, 177-78
Ósculo da paz, 181, 234 g o da Símbolos visuais, 65, 91-93
Unção, 154-55, 158-59, 174, 210-12
Reavivamentismo, 80, 122-23 Sinagoga, culto da, 111-14, 130, 176 Underhill. Evelyn. 16, 23
P a i x ã o , D o m i n g o da, 43, 62
Reconciliação, 204, 206-11, 214 Sinal United Methodist Hymnal, 128, 16" 191,
Palavra falada, 95-96, 111-30 atos-. Veja Atos-sinal
Reforma, 35 219, 237
Parsch, Pius, 53 valor de, 132, 147, 173, 202, 214
Pascal, mistério, 18-19 R e f o r m a d o , culto. 29. Veja também Pres- Síria, ritos da Vésperas, 98-100, 104-05
biterianos ocidental, 28, 185-86
Pascal, vigília, 44. 62, 159 Vestimentas, 93-94
Regeneração, 166, 170 oriental, 28, 185
Páscoa, 44-46, 55, 62, 158-59, 207, 237 Visuais, elementos, 64
Reserva, 182, 214 Solenidades, 52, 60
Pastoral, assistência, 141-43
Reunião, 128 Wesley, John, 51, 144. 161, 170, 180, 189,
Paz, gesto da, 70 Taft, Robert, 98-102
Rito 198-99, 209. 218, 236
Penitenciais, elementos, 116, 118-19, 122- bizantino. 28. 185 Televisão, culto pela, 122
Westminster Directory, 51, 119, 189, 236
23, 128 introdutório, 115-16 Templo, 176
Pentecostais, 30-31. 189, 200 romano, 28 Zwinglio, Ulrico, 103, 145, 169-70, 188-89,
Pentecostes, 46-47, 59, 122 Rites, 163, 208, 213, 227, 233 197-98
James F. Whitê