Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Ainda sabemos muito pouco sobre a religião das culturas mesoamericanas.2 Isso se deve às
poucas pesquisas desta natureza que aparecem na literatura produzida e, sobretudo, ao impacto de
estudos sobre religião baseados em conceitos ocidentais, principalmente da Grécia Antiga. Logo,
a concepção de religião mesoamericana foi construída a partir de um contexto histórico e
arqueológico por arqueólogos norte-americanos no início do século XIX.
Sob esta ótica, podemos explicar termos que até hoje são muito recorrentes na Arqueologia
da Mesoamérica e que, na verdade, não refletem um contexto cultural a que tais sociedades
estiveram inseridas. Para exemplificar, o emprego de uma teocracia maia3 como mecanismo de
poder político foi estabelecido por aqueles arqueólogos e até hoje ainda é utilizada.
Contudo, um dos exemplos mais nítidos de uma justaposição de conceitos culturais
ocidentais é a sustentação de que os maias organizaram-se, religiosamente, sob um âmbito
politeísta. Apesar de polêmica, esta visão começa a ser revista no final do século XX. As diversas
divindades atribuídas às culturas maia e mexica, na verdade, podem ser somente desdobramentos
ou manifestações de uma única entidade.
Este discurso baseia-se no fato de que muitos deuses maias apresentam uma relação com
um mesmo atributo a eles relacionados. Por exemplo, existe uma série de divindades para
designar um culto à fertilidade. Assim, poder-se-ia ser uma única divindade, mas com
1
Doutorando em Arqueologia Americana pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo –
MAE/USP.
2
O termo Mesoamérica foi proposto prla primeira vez em 1943 pelo arqueólogo Paul Kirchhoff , “Mesoamerica: Sus
Limites Geográficos, Composición Étnica u Caracteres Culturales”. In Suplemento da Revista Tlatoani, nº 3,
México, 1960. O intuito foi descrever as culturas que se desenvolveram no México e América Central através das
semelhanças fundamentais observadas a partir de uma caracterixação etnológica em termos geral de área cultural, do
registro etnográfico e pós-colombiano e de suas disposições territoriais.
3
Utilizamos a grafia maia, aportuguesada e flexionada, para nos referir à civilização; c.f., edição portuguesa do livro
de Michael Coe, Os Maias, Editorial Verbo, 1968.
1
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
2
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
Fig. 1 – Provável área de interação do culto à Quetzalcóatl durante o Clássico Final e Epiclássico
(700 a 950 d. C.). Baseado em Ringle et al. 1998, p. 184.
Nos centros urbanos desta época, como Cacaxtla, Xochicalco e Cholula, no altiplano
mexicano e em Chichén Itzá, Uxmal e Seibal, na área maia, a imagem da serpente emplumada,
aparece, majoritariamente, relacionada à guerra e ao sacrifício humano em que cenas de
combates, decapitações e derramamento de sangue são muito recorrentes.
Em Chichén Itzá, inúmeras pedras de jade foram coletadas do Cenote Sagrado, um poço
natural para obtenção de água, com iconografia guerreira. Além delas, vários discos de ouro
retratando este mesmo fenômeno, além do sacrifício humano, foram resgatados deste poço (figs.
2 e 3).
3
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
Fig. 2 – Disco de ouro H retirado do Cenote Sagrado de Chichén Itzá. Nota-se sacrifício de um
indivíduo. E, na parte superior do disco, de dentro da boca de uma serpente emplumada sai um
guerreiro. In De La Garza 1984: fig. 31.
4
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
5
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
Fig . 4 – Provável difusão do culto à Quetzalcóatl via marítima ou fluvial. Nota-se guerreiros e um
templo da divindade com indivíduo rendendo-se ao culto. In Ringle et al. p. 216, 1998.
6
Belo Horizonte - 2000
Anais Eletrônicos do V Encontro da ANPHLAC ISBN 85-903587-1-2
Bibliografia
POPOL VUH (tradução de Adrián Recinos). México: Fondo de Cultura Económica, 1996.
PROSKOURIAKOFF, Tatiana. Jades from the Cenote of Sacrifice, Chichen Itza, Yucatán.
Memoirs of the Peabody Museum of Archaeology and Etnology, vol. 10, nº 1. Cambridge:
Harvard University, 1974.
RENFREW, Colin & BAHN, P. Archaeology, theories, method and practice. Londres: Thames
and Hudson, 1991.
RINGLE, William; GALLARETA NEGRÓN, Tomás; BEY III, George J. The Return of
Quetzalcóatl: evidence for the spread of a world religion during the Epiclassic period, pp. 183-
232. In Ancient Mesoamerica, vol. 9, pp. 183-232. Cambridge: Cambridge University press,
1998.
SABLOFF, Jeremy A . The New Archaeology and the Ancient Maya. Nova Iorque: scientific
American Library, 1994.
SCHIFFER, M. B. Formation Processes of the Archaeological Record. Albuquerque: University
of New Mexico Press, 1987.
SÉJOURNÉ, Laurette. El Universo de Quetzalcóatl. México: Fondo de Cultura Económica,
1966.
THOMPSON, J. Eric S. Grandeza y Decadencia de los Mayas. México: Fondo de Cultura
Económica, 1954.