Sei sulla pagina 1di 2

292.

Clubismo intelectual e cultura verbal (“gostosão intelectual”)


Existem algumas filosofias prontas às quais basta aderir da boca para fora (o Facebook é um
excelente meio para tal) e logo o sujeito começa a julgar as filosofias alheias, sentindo-se um
“gostosão intelectual”. Uma destas correntes é o marxismo, entendido em sentido lato, ao qual
se pode aderir mesmo sem alguma vez ter lido uma obra de Marx, mas que dá um reconforto de
pertencer à parte mais progressista e iluminada da humanidade. Outra linha é a do
aristotelismo-tomismo, que também dispensa contacto com os mestres, 358
basta frequentar a paróquia e logo se tem uma autoridade para condenar os hereges. Uma escola
com alguma importância pública é o liberalismo iluminista-materialista-cientifista, que para ser
um expoente do mesmo basta ter lido o Dicionário Filosófico, de Voltaire, a Sociedade Aberta e
Seus Inimigos, de Popper, e ter acompanhado algumas polémicas de Richard Dawkins.
Podemos dizer que o positivismo perdeu a sua força autónoma e foi absorvido por esta terceira
corrente. Existe uma quarta corrente de ideias, a dos tradicionalistas guenonianos, evolianos e
duguininianos, mas que ela mesma se vota ao elitismo por submeter os seus membros à prática
do segredo iniciático.
Quem não tenha dissolvido a sua individualidade num destes quatro grupos e, pior ainda, ainda
teime em estar apegado a práticas como a filosofia, a teologia, a ciência ou a sabedoria esotérica
será chamado pelo primeiro grupo de “fascista”, pelo segundo de “herético, pelo terceiro de
“fanático religioso” e pelo último de “profano”. Todos os membros destes grupos concordam
com a superioridade da solidariedade grupal sobre a pretensão individual de investigar a
verdade da situação concreta. Fora deste quatro “clubes” considera-se que não existe vida
intelectual, que passou a resumir-se a uma actividade classificatória das ideias consoante a
proximidade ou afastamento daquilo que diz o grupo de referência.
Obviamente que a averiguação da concordância de proposições ou ideias com os parâmetros de
certas escolas de pensamento é uma actividade puramente verbal, semântica, e que nada tem a
ver com a realidade das coisas. Isto é apenas um actividade de análise de textos, mas a falta de
consciência da distância entre palavras e factos indicia um fraco nível de alfabetização. As
crianças durante muitos anos não têm capacidade de verificar a ligação objectiva entre palavras
e realidade, há primeiro uma imersão na linguagem, o aprendizado das regras, e o resto da vida
levamos a completar isto com a experiência. Mas há muitas pessoas quem nem se preocupam
em buscar a realidade, simplesmente vão acumulando mais palavras para poder converter umas
noutras, e no final podem acreditar que estas são objectos concretos, como na escola literária do
concretismo. No limite temos o desconstrucionismo, que diz que o texto não têm referência à
realidade, apenas a um outro texto, sem esquecer que este é também um elemento da realidade,
que foi impresso e assim por diante.
A identidade grupal que estamos a ver deriva de uma identidade verbal, isto é, não passa de uma
capacidade de repetir as mesmas frases e de fazer certas variações em torno para obter um
reforço social e psicológico. O tipo que diz “eu sou marxista” ou “eu sou liberal” apenas tenta
proferir uma profecia auto-realizável. Isto é um sintoma psicótico e nem se confunde com o
antigo defeito de possuir apenas cultura livresca, hoje é apenas uma cultura verbal, mas que é
muito atractiva porque é uma forma de fazer amigos, reunir influência, ter um grupo de
referência e até um sentimento e uma segurança

Potrebbero piacerti anche