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SE CRUZAM?
RESUMO
Historicamente a educação em áreas rurais implicava em uma educação precarizada com baixos
recursos e formatação urbana. A educação rural comprometida com a lógica capitalista tinha por
objetivo perpetuar as desigualdades no campo. No entanto, há uma proposta de educação que
vem sendo construída por camponeses e camponesas e movimentos sociais. Nessa proposta, o
educando é formado para pensar criticamente o espaço em que está inserido e a partir dessa
compreensão transformá-lo. Portanto, o ensino de geografia que busca analisar o espaço
desvelando suas contradições e valorizando os movimentos sociais como agentes
transformadores desse espaço, vai ao encontro da proposta da Educação do campo. Iremos
analisar a contribuição do ensino de geografia para a educação do campo na escola Francisco
Araújo Barros em Itarema-CE.
RESUMEN
Históricamente la educación en las zonas rurales implicaba una educación precaria de bajos
ingresos urbanos y el formato. La educación rural comprometido con la lógica capitalista estaba
destinado a perpetuar las desigualdades en el campo. Sin embargo, no es una propuesta
educativa que se está construyendo por campesinos y movimientos sociales. En esta propuesta,
el estudiante está capacitado para pensar críticamente el espacio en el que aparece ya partir de
ese entendimiento cambiarlo. Por lo tanto, la enseñanza de la geografía que trata de analizar el
espacio revelando sus contradicciones y valorar los movimientos sociales como agentes de
cambio que el espacio, es coherente con la propuesta del campo Educación. Vamos a revisar la
geografía de la contribución de enseñanza para la educación rural en la escuela Francisco
Araujo Barros en Itarema-CE.
1
Graduando do curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Email:
hilcocrision@hotmail.com
2
Professora Adjunta do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Email:
aldivadiniz@gamil.com
INTRODUÇÃO
3
“[...] Ato de mudar as circunstâncias com a atividade humana ou autotransformação pode ser
compreendida e entendida de maneira racional apenas na condição de práxis revolucionária
(revolutionärePraxis).”(MARX e ENGELS. 2007, p. 28).
Martins: “Os movimentos sociais constroem estruturas, desenvolvem processos,
organizam e dominam territórios das mais diversas formas” (2011 p. 50). Sendo assim,
é fundamental destacarmos os movimentos sociais como categoria geográfica4.
Portanto, não podemos analisar as transformações sociais sem considerar os
agentes modificadores do espaço, as lutas sociais pela conquista do território, e os
impactos que essas modificações ocasionarão sobre a natureza. Portanto:
[...] um ensino que busque incutir nos alunos uma postura crítica diante da
realidade, comprometida com o homem e a sociedade; não com o homem
abstrato, mas com o homem concreto, com a sociedade tal qual ela se
apresenta dividida em classes com conflitos e contradições. E contribua para
a sua transformação. (OLIVEIRA, 2010 p.143).
Dessa forma, o ensino de geografia não é neutro ele está comprometido com a
formação do sujeito crítico para agir como cidadão na sociedade transformando a
realidade que o circunda. Concordamos com OLIVEIRA quando afirma que,“[...] a
geografia explica como as sociedades produzem o espaço, conforme seus interesses em
4
Ver: FERNANDES, Bernardo M. Movimento social como categoria geográfica. In:____. Questão agrária
pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001.
determinados momentos históricos e que esse processo implica uma transformação
contínua.” (2010 p.142).
A transformação contínua da sociedade deve implicar na transformação
constante no ensino, pois ele é fundamental para se estabelecer o projeto de sociedade.
No campo, podemos perceber que está em marcha uma nova proposta de educação – a
chamada Educação do Campo, que esta muito próxima da proposta do ensino de
geografia crítica. Ambas apontam para um conhecimento comprometido com a
formação crítica do educando, com a constituição de processos educativos que leve o
educando refletir criticamente sobre o espaço e as relações de poder contidas nele, trata-
se de entender a realidade e agir sobre ela.
A escola é um espaço de luta classes, dessa forma existem projetos diferentes,
para o campo e para educação no meio rural, um da classe dominante, e no contra ponto
o dos movimentos sociais, dos camponeses. É essa discussão que iremos abordar a
seguir.
É uma educação que prepara esses novos cidadãos para serem submissos à
lógica do capitalismo. Ou, para mais tarde serem apenas explorados. Esse
mesmo modelo de educação parece colaborar com o processo de expulsão
dos jovens do campo fortalecendo o ciclo vicioso que estes têm realizado: ou
sair do campo para estudar ou estudar para sair do campo. (BENJAMIN e
CALDART, 2000, p.2).
Contudo, a Educação Rural se apresenta como reprodutora de valores da classe
dominante, auxiliando na manutenção de uma sociedade cada vez mais individualista e
injusta. Nela está implícita, uma forma de controle social através de uma pedagogia
onde a conscientização política é deixada de lado implicando em uma intencionalidade
desmobilizadora.
Partindo da luta por melhorias nas condições sociais dos trabalhadores rurais os
movimentos sociais do campo, principalmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), perceberam que não bastava apenas reivindicar distribuição de terras
e de renda; fazia-se necessário reivindicar educação de qualidade, ou seja, uma
pedagogia condizente com a luta e com o processo de produção e reprodução da classe
camponesa. A partir das reivindicações dos movimentos sociais, passa a se discutir uma
nova proposta pedagógica para as escolas do campo.
Portanto, consideramos que a escola não pode ser algo distante da realidade do
educando, ela deve englobar as dimensões da vida política, econômica e cultural.
Acreditamos que a proposta da Educação do Campo aponta uma nova perspectiva
educacional para os camponeses.
A Educação do Campo se mostra como uma forma de resistência à invasão
capitalista do território camponês, pois se o capitalismo se apropria do campo, isso
significa o fim dos camponeses enquanto classe, e sua consequente proletarização.
Entendemos que a Educação não deve ser um mero instrumento de produção e
manutenção do sistema capitalista e da ideologia neoliberal atual, e sim, pautar-se em
uma análise crítica da realidade, em uma perspectiva libertadora e de consciência de
classe.
No entanto, apesar da nova proposta de Educação do Campo, diversas escolas no
campo ainda apresentam características da Educação Rural comprometendo assim a
formação de cidadãos críticos.
No sentido de mudar essa realidade, o MST tem lutado pelo direito à educação
em todos os níveis e nessas lutas surgiu à necessidade de criação de escolas públicas nos
espaços de reforma agrária. No Ceará, esta luta levou a conquista da construção de
cinco Escolas do Campo de Nível Médio em assentamentos de Reforma Agrária, são
eles: Lagoa do Mineiro, em Itarema; 25 de Maio, em Madalena; Santana, em
Monsenhor Tabosa; Maceió, em Itapipoca, e Pedra e Cal em Jaguaretama.
Dentre elas focamos um olhar para a escola Francisco Araújo Barros no
assentamento Lagoa do Mineiro em Itarema.
Francisco Carneiro de Sousa Filho (conhecido por Chico) foi encontrado nas
proximidades da comunidade de Patos com varias perfurações de faca no
corpo na volta de um enfrentamento entre trabalhadores e os mandados do
fazendeiro; Francisco Araújo Barros, degolado em uma broca em que
trabalhava em mutirão depois de levar um tiro e Francisco Izaquiel Ferreira,
conhecido por Ciço levou um tiro quando ia receber um dinheiro da
emergência (Programa do Governo Federal) a caminho da comunidade de
Barbosa. (PPP, 2012, Pág. 11).
a escola faz com que a gente enxergue mais, porque algumas pessoas onde a
gente mora, não aceita a realidade que a gente mora, no campo e a escola
propõe um acordo entre a gente, pra gente aprender sobre o campo.
Essa escola tem muita importância porque a grande importância dela é pelo
motivo dela estar construída no campo, porque foi uma luta dos trabalhadores
pra conseguir essa escola muita gente morreu pra conseguir essa escola
como, por exemplo, o nome é Francisco Araújo Barros foi um dos lutador
por essa escola.
Portanto, podemos concluir que na visão dos alunos, a escola facilitou o acesso
ao ensino médio, pois, a distância entre as comunidades e escola foi minimizada e o
espaço escolar está permitindo que aprendam sobre o campo, além de ser uma conquista
dos trabalhadores através da luta social.
Marco na história do assentamento, a escola mudou significativamente o
cotidiano dos educandos que tinham que se deslocar diariamente para sede do município
de Itarema, como afirma a diretora da escola e moradora do assentamento, “Nossos
filhos tinham que acordar cinco horas da manhã para pegar ônibus para ir para escola
e muitos eram vítimas de preconceito, pois, eram chamados de “povo da mata””.
Portanto:
Dessa forma, o professor nos indica que, a geografia pode despertar nos alunos a
criticidade e deve procurar oferecer elementos para que o educando, compreenda a
realidade em que está inserido. Nesse sentido, o livro didático é importante, pois,
funciona como ferramenta para nortear o trabalho em sala de aula, além de ser o
material mais acessível ao aluno. Sobre o livro didático o professor relata que:
Apesar da escola ter, uma proposta diferenciada das outras mas, os livros
didáticos contradizem isso, são os mesmos utilizados nas escolas regulares
[...] o professor tem que se adequar através da metodologia, adequar os
assuntos que o livro aborda aos assuntos da realidade dos alunos.
Pra falar a verdade eles vêem como mais um conteúdo, eles não tem tanto
interesse [...] com relação a esses assuntos que abordam questões de reforma
agrária apesar, da grande maioria dos alunos aqui serem de áreas de
assentamento, a grande maioria mesmo, eu não consigo perceber o interesse
deles em questões de envolvem a reforma agrária [...] uma das grandes
decepções que eu vejo dentro dessa escola é isso.
Dessa forma, segundo o professor, questões que deveriam despertar um maior
interesse nos educandos por estarem relacionadas à realidade deles como, por exemplo,
a luta pela terra, reforma agrária, movimentos sociais do campo na prática isso não
ocorre.
A Geografia como já foi enfatizado anteriormente é uma disciplina estratégica
para consolidação da proposta da Educação do campo. E para compreendermos mais a
fundo esse processo, abordaremos agora qual a compreensão dos educandos sobre
geografia, e se ela está cumprindo seu papel de contribuir para a formação da
consciência crítica dos educandos, e na compreensão da realidade que os circunda.
Vejamos agora o que nos responderam os educandos no que diz respeito à
ciência geográfica. O entrevistado A afirma que “é a matéria que estuda as coisa da
terra”; o entrevistado B nos diz que “é a matéria que estuda as coisa da terra
temperatura, mapa essas coisas assim”; já o C coloca que “Não entendo muita coisa
não, sou chegada na geografia não ela estuda mais o aquecimento, as divisões da terra
como se diz... essas coisas”. Sobre essas definições iniciais percebemos que o
entendimento que os educandos possuem sobre a ciência geográfica é de uma geografia
que estuda a natureza. Observemos então outras definições. Segundo o entrevistado G
“geografia é o estudo do espaço. Geografia a pessoa entende muita coisa a pessoa
estuda o espaço a superfície a caatinga o cerrado”, e de acordo com os entrevistados J
e M respectivamente, “a geografia estuda tudo aquilo sobre a natureza, sobre os locais
geográficos”, “Entendo muita coisa não a gente viu negócio de relevo, planície.”.
Dessa forma, percebemos que há quase uma unanimidade nos discursos que se referem
à Geografia como ciência que estuda a natureza principalmente aspectos do relevo,
clima, vegetação.
Os assuntos relacionados à geografia agrária como, por exemplo, concentração
de terras, mecanização da agricultura, reforma agrária etc não são mencionados em
nenhum momento pelos educandos quando se referem à geografia.
Por outro lado, três educandos, o I, P e R apontaram alguns elementos que se
aproxima de um estudo mais integrado sociedade/natureza, pois, destacam questões
relacionadas à economia mundial, as modificações da paisagem e o desenvolvimento do
capitalismo. O primeiro reitera que a geografia “é relacionado ao mundo, a alguns
países, saber a desenvoltura dos países” já o segundo afirma que “apresenta as
modificações da paisagem o clima” e por último “estudamos sobre o capitalismo como
surgiu achei muito interessante”, afirma o entrevistado R. Mesmo que esses assuntos
possam trazer em si um caráter mais crítico, os educandos não conseguiram articular o
conceito de Geografia de forma que se aproxime da proposta da educação do campo.
No entanto, os casos mais graves que verificamos foram os seguintes, ao serem
perguntados sobre o que entendiam por geografia, o entrevistado D afirma que “Na
verdade não entendo nada”; já o E diz “não gosto muito de geografia não” e por fim o
entrevistado U reitera “Não sei não, não gosto de geografia não”.
A partir das falas dos educandos percebemos que, ainda há estudantes que
chegam ao ensino médio sem compreenderem as noções básicas da Geografia e nem ao
menos conseguem citar um conteúdo visto nesta disciplina algo bastante grave para
qualquer escola seja do campo ou da cidade.
Outro fato que podemos destacar está relacionado a alguns professores que,
mesmo se dispondo a trabalhar no programa, devido à formação que tiveram por não
estarem inseridos na luta pela terra e pela reforma agrária, possuem muita dificuldade
em romper com um modelo enraizado de educação voltado para mecanismos e
instrumentos formais de construção do conhecimento. Com isso podemos afirmar que
há ainda uma lacuna desses profissionais para o trabalho docente no campo, nos marcos
da Educação do Campo, essa lacuna passa pela necessidade de profissionais
qualificados residentes no campo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Social do Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do
Campo, 1999. (Coleção Por Uma Educação Básica do Campo, n°. 2).
BENJAMIN, César e CALDART, Roseli Salete. Projeto Popular e Escolas do
Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do Campo,
2000. (Coleção Por Uma Educação Básica do Campo, n°. 3).
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http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/gts/1177_1.pdf Acesso: 05 de
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FERNANDES, Bernardo M. Brasil 500 Anos de Luta pela Terra. Disponível em:<
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MOLINA, M. C. JESUS, S. M. S. A.(org.) Por uma Educação do Campo:
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