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EDUCAÇÃO DO CAMPO E O ENSINO DE GEOGRAFIA: CAMINHOS QUE

SE CRUZAM?

José Hilco Costa Santos 1


Aldiva Sales Diniz 2

RESUMO

Historicamente a educação em áreas rurais implicava em uma educação precarizada com baixos
recursos e formatação urbana. A educação rural comprometida com a lógica capitalista tinha por
objetivo perpetuar as desigualdades no campo. No entanto, há uma proposta de educação que
vem sendo construída por camponeses e camponesas e movimentos sociais. Nessa proposta, o
educando é formado para pensar criticamente o espaço em que está inserido e a partir dessa
compreensão transformá-lo. Portanto, o ensino de geografia que busca analisar o espaço
desvelando suas contradições e valorizando os movimentos sociais como agentes
transformadores desse espaço, vai ao encontro da proposta da Educação do campo. Iremos
analisar a contribuição do ensino de geografia para a educação do campo na escola Francisco
Araújo Barros em Itarema-CE.

Palavras-chave: Ensino de geografia. Educação do campo. Emancipação.

RESUMEN

Históricamente la educación en las zonas rurales implicaba una educación precaria de bajos
ingresos urbanos y el formato. La educación rural comprometido con la lógica capitalista estaba
destinado a perpetuar las desigualdades en el campo. Sin embargo, no es una propuesta
educativa que se está construyendo por campesinos y movimientos sociales. En esta propuesta,
el estudiante está capacitado para pensar críticamente el espacio en el que aparece ya partir de
ese entendimiento cambiarlo. Por lo tanto, la enseñanza de la geografía que trata de analizar el
espacio revelando sus contradicciones y valorar los movimientos sociales como agentes de
cambio que el espacio, es coherente con la propuesta del campo Educación. Vamos a revisar la
geografía de la contribución de enseñanza para la educación rural en la escuela Francisco
Araujo Barros en Itarema-CE.

Palabras clave: Educación Geografía. La educación rural. Emancipación.

1
Graduando do curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Email:
hilcocrision@hotmail.com
2
Professora Adjunta do Curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Email:
aldivadiniz@gamil.com
INTRODUÇÃO

No presente artigo temos o objetivo de compreender a proposta da educação do


campo, e como o ensino de geografia poderá contribuir para a consolidação dessa
proposta na Escola e Ensino Médio Francisco Araújo Barros, em Itarema - CE. A luta
por uma educação condizente com a realidade campesina apresenta diversos desafios
alguns já foram superados como, por exemplo, o da estrutura física das escolas. No
entanto, para implementação da proposta da educação do campo faz-se necessário um
diálogo dos professores com a proposta a se construir. Nesse sentido, a Geografia é uma
disciplina estratégica, pois, a ciência geográfica que analisa o espaço agrário de forma
crítica elucidando suas contradições e refletindo sobre questões que perpassam a
realidade do campo brasileiro como, por exemplo, concentração de terras, agronegócio e
reforma agrária, tende a contribuir com a formação crítica dos educandos.
A metodologia utilizada para realização da pesquisa foi a leitura e análise
bibliográfica, e entrevistas realizadas com perguntas abertas. Foram entrevistados 20
alunos entre 1° ano do ensino médio A, Manhã; 2° ano do ensino médio A, Manhã; 3°
ano do ensino médio único, Manhã; 1° ano do ensino médio A, Tarde, 2° ano do ensino
médio A, Tarde; 2° ano do ensino médio B, Tarde; 3° ano do ensino médio A e B,
Tarde. Também foram entrevistados o professor de todas as turmas de Geografia da
escola, o ex-coordenador da escola, membro do setor de educação do MST e a Diretora
da escola.
O artigo se desdobrou em quatro partes: na primeira abordaremos o caráter
contraditório do ensino de Geografia. Na parte dois analisamos as propostas de
educação rural e do campo, a primeira comprometida com a manutenção do status quo;
já a segunda comprometida com a construção de um mundo mais justo e igualitário. Na
parte três, abordamos o processo de luta pela terra e educação no assentamento Lagoa
do Mineiro. Na quarta e última parte, analisamos a luta pela escola do campo, a
importância da escola para o assentamento e região ao seu entorno, e a importância do
ensino de Geografia para a consolidação da proposta da educação do campo a partir da
compreensão dos educandos sobre a ciência geográfica.
CARÁTER CONTRADITÓRIO DO ENSINO DA GEOGRAFIA

O ensino da Geografia tradicional nas escolas muito contribuiu com a


manutenção do status quo, devido ao seu caráter de simples memorizações de
informações, nome de países, capitais, altitudes, etc. Essa falta de análises críticas
também contribuiu consideravelmente para estigmatizar a ciência geográfica como algo
extremamente desinteressante e sem utilidade na vida cotidiana dos educandos.
Porém, há uma grande discussão de reformulação metodológica na forma de se
estudar e ensinar geografia, “construir uma geografia crítica adequada a um ensino que
vise não à reprodução das relações de poder, e sim uma percepção crítica, por parte do
educando do meio onde vive” (OLIVEIRA, 2010 p.111). Uma Geografia que analise de
forma crítica o espaço e as alterações que o homem realiza sobre ele através do trabalho,
desvelando suas contradições e as relações sociais existentes no atual modo de produção
capitalista, um conhecimento geográfico focado na práxis3. Dessa forma, afirma
OLIVEIRA: “Ou juntamos a teoria à prática e vice-versa, ou certamente
continuaremos a nos envolver com “falsas questões” [...]. O rumo à práxis é o caminho
para revolucionarmos a geografia, ou melhor, a sociedade.” (2010 p.29) Ou seja, a
práxis social reafirma o conhecimento, no caso o geográfico, como algo fundamental
para a transformação social e a escola é fundamental nesse processo, portanto:

Trata-se de uma geografia que concebe o espaço geográfico como um espaço


social, construído, pleno de lutas e conflitos sociais [...] Essa geografia
radical ou crítica coloca-se como ciência social, mas estuda também a
natureza enquanto recurso apropriado pelos homens e enquanto uma
dimensão da história, da política. No ensino, ela preocupa-se com senso
crítico do educando e não em “arrolar fatos” para que se memorize.
(VESENTINE, 2010 p.36).

Assim, o ensino da geografia crítica procura romper com o ensino da geografia


tradicional, essencialmente decorativa. A primeira analisa o espaço transformado pelo
homem como gerador de contradições, procura trabalhar a construção da criticidade do
educando considerando as lutas sociais pela democratização da terra e os movimentos
sociais como agentes transformadores do espaço geográfico, que através da práxis,
desconstroem o território do capital e reconstroem o território camponês, como afirma

3
“[...] Ato de mudar as circunstâncias com a atividade humana ou autotransformação pode ser
compreendida e entendida de maneira racional apenas na condição de práxis revolucionária
(revolutionärePraxis).”(MARX e ENGELS. 2007, p. 28).
Martins: “Os movimentos sociais constroem estruturas, desenvolvem processos,
organizam e dominam territórios das mais diversas formas” (2011 p. 50). Sendo assim,
é fundamental destacarmos os movimentos sociais como categoria geográfica4.
Portanto, não podemos analisar as transformações sociais sem considerar os
agentes modificadores do espaço, as lutas sociais pela conquista do território, e os
impactos que essas modificações ocasionarão sobre a natureza. Portanto:

Cabe a geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade em


que vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção
que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza.
(OLIVEIRA, 2010 p.142).

Analisar a relação sociedade/natureza é fundamental na geografia crítica, pois é


a partir da relação de apropriação da natureza que o homem pode viver de forma
sustentável, como por exemplo, na agricultura camponesa, que se caracteriza pelo
trabalho familiar e produção de subsistência vendendo apenas o excedente da produção
para adquirir mercadorias que o camponês não produz; ou pode ocasionar graves
problemas ambientais, como no caso da produção no chamado agronegócio, forma de
produção na agricultura que se utiliza de grandes extensões de terras, trabalho
mecanizado, monoculturas, e uso intensivo de agrotóxicos e fungicidas, voltado para o
mercado externo.
O ensino de geografia crítica deve analisar a forma como os meios de produção
estão concentrados e como ocorre a apropriação da força de trabalho do outro, ou seja,
exploração do homem pelo homem, pois é a partir dessa relação que as principais
desigualdades são estabelecidas entre as classes sociais. Nesse sentido, a geografia
crítica do ponto de vista educacional implica em:

[...] um ensino que busque incutir nos alunos uma postura crítica diante da
realidade, comprometida com o homem e a sociedade; não com o homem
abstrato, mas com o homem concreto, com a sociedade tal qual ela se
apresenta dividida em classes com conflitos e contradições. E contribua para
a sua transformação. (OLIVEIRA, 2010 p.143).

Dessa forma, o ensino de geografia não é neutro ele está comprometido com a
formação do sujeito crítico para agir como cidadão na sociedade transformando a
realidade que o circunda. Concordamos com OLIVEIRA quando afirma que,“[...] a
geografia explica como as sociedades produzem o espaço, conforme seus interesses em

4
Ver: FERNANDES, Bernardo M. Movimento social como categoria geográfica. In:____. Questão agrária
pesquisa e MST. São Paulo: Cortez, 2001.
determinados momentos históricos e que esse processo implica uma transformação
contínua.” (2010 p.142).
A transformação contínua da sociedade deve implicar na transformação
constante no ensino, pois ele é fundamental para se estabelecer o projeto de sociedade.
No campo, podemos perceber que está em marcha uma nova proposta de educação – a
chamada Educação do Campo, que esta muito próxima da proposta do ensino de
geografia crítica. Ambas apontam para um conhecimento comprometido com a
formação crítica do educando, com a constituição de processos educativos que leve o
educando refletir criticamente sobre o espaço e as relações de poder contidas nele, trata-
se de entender a realidade e agir sobre ela.
A escola é um espaço de luta classes, dessa forma existem projetos diferentes,
para o campo e para educação no meio rural, um da classe dominante, e no contra ponto
o dos movimentos sociais, dos camponeses. É essa discussão que iremos abordar a
seguir.

EDUCAÇÃO RURAL E EDUCAÇÃO DO CAMPO

O Estado brasileiro, ao longo do seu transcorrer histórico, é marcado por


profundas desigualdades sociais. No campo essas desigualdades são resultado de um
processo de divisão de terras desequilibrado e excludente, onde a maioria da população
rural não teve acesso a terra. O campo historicamente é visto como o local do atraso,
espaço apenas de produção de mercadorias e as propostas educacionais para os
camponeses foram formulados sobre a ótica do urbano.
Sendo assim, a Educação Rural é resultado da forma como o Estado brasileiro
pensou o campo; ela é considerada como apêndice da educação urbana, associada a uma
concepção política, econômica e ideológica vinculada às elites e as Oligarquias Rurais.
O conceito de Educação Rural é associado a uma educação precária, atrasada, de pouca
qualidade, ou seja, um modelo educacional descontextualizado da realidade do
educando do campo.
No Brasil, a educação nas áreas rurais foi historicamente resultado da lógica
econômico, política e social capitalista, ou seja, de um projeto capitalista para o campo.
A lógica capitalista na agricultura implica na concentração de terras, modernização da
produção, expulsão dos camponeses para os centros urbanos etc. Esse processo acaba
por usurpar outros direitos dos camponeses, entre eles o direito a educação. Nesse
sentido, as experiências escolares vivenciadas pelos educandos não se constituem como
processos educativos satisfatórios. Dessa forma, afirma CALDART:

O mesmo modelo de desenvolvimento que gera os sem-terra também os


exclui de outros direitos sociais, entre eles o de ter acesso a escola. A grande
maioria dos sem terra tem um baixo nível de escolaridade e uma experiência
pessoal de escola que não deseja para os seus filhos: discriminação,
professores despreparados, reprovação e exclusão. (CALDART, 2004,
p.227).

Nesse sentido, a Educação Rural foi organizada de forma a contribuir com a


lógica capitalista. Partindo do pré suposto que nenhum conhecimento é neutro,
entendemos que a Educação Rural compreende um projeto societário e de agricultura
comprometido com os latifundiários, ou seja, empenhado com concentração fundiária e
a exploração do homem do campo. Sendo assim:

A origem da Educação Rural está na base do pensamento latifundista


empresarial, do assistencialismo, do controle político sobre a terra e as
pessoas que nela vivem. O debate a respeito da Educação Rural data das
primeiras décadas do século XX. Começou no 1º Congresso de Agricultura
do Nordeste Brasileiro, em 1923, e tratava de pensar a educação para os
pobres do campo e da cidade no sentido de prepará-los para trabalharem no
desenvolvimento da agricultura. (FERNANDES, B. e MOLINA, M. 2011,
p.9-10).

Dessa forma, a Educação Rural é um conceito associado a uma educação


atrasada e comprometida ideologicamente na manutenção do status quo, considerando
que sua função era apenas instruir os educandos. A ideia do Brasil urbano contribuiu
para que as escolas no campo se transformassem em uma espécie de apêndice da
educação urbana.

Portanto, a Educação Rural:

É uma educação que prepara esses novos cidadãos para serem submissos à
lógica do capitalismo. Ou, para mais tarde serem apenas explorados. Esse
mesmo modelo de educação parece colaborar com o processo de expulsão
dos jovens do campo fortalecendo o ciclo vicioso que estes têm realizado: ou
sair do campo para estudar ou estudar para sair do campo. (BENJAMIN e
CALDART, 2000, p.2).
Contudo, a Educação Rural se apresenta como reprodutora de valores da classe
dominante, auxiliando na manutenção de uma sociedade cada vez mais individualista e
injusta. Nela está implícita, uma forma de controle social através de uma pedagogia
onde a conscientização política é deixada de lado implicando em uma intencionalidade
desmobilizadora.

Partindo da luta por melhorias nas condições sociais dos trabalhadores rurais os
movimentos sociais do campo, principalmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), perceberam que não bastava apenas reivindicar distribuição de terras
e de renda; fazia-se necessário reivindicar educação de qualidade, ou seja, uma
pedagogia condizente com a luta e com o processo de produção e reprodução da classe
camponesa. A partir das reivindicações dos movimentos sociais, passa a se discutir uma
nova proposta pedagógica para as escolas do campo.

Dessa forma, em junho de 1997 nasce a proposta da Educação do Campo no


Encontro nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária-ENERA, realizado
no campus da Universidade de Brasília-UnB promovido pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Fundo das Nações Unidas para Infância-
UNICEF, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -
UNESCO e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB. Após esse encontro
outras conferências foram realizadas debatendo e analisando as experiências
desenvolvidas e outros movimentos sociais passaram a participar dessa discussão e
construção.
O conceito de Educação do Campo surge com a proposta de romper com a
Educação Rural, um modelo essencialmente urbanizado que vê o campo apenas como
espaço produtor de mercadorias. A Educação do Campo também não é neutra; ela esta
arraigada de valores, solidariedade respeito ao próximo e a natureza. A Educação do
Campo esta sendo construído pelos próprios camponeses e camponesas e movimentos
sociais do campo. Essa nova proposta de educação procura considerar a cultura dos
sujeitos, sua relação com o espaço geográfico e a luta por acesso e permanência na terra.
Nela existe a perspectiva da construção de uma pedagogia emancipatória libertadora
fazendo oposição ao modelo neoliberal urbanizado atual. Sendo assim, assume caráter
classista, do lado dos excluídos que ate então não possuíam uma proposta condizente
com o processo de produção material e cultural da classe camponesa.
Nesse sentido, esse modelo de educação procura se comprometer com a
formação da consciência política do educando, com o respeito ao próximo e ao meio
ambiente e com o comprometimento coletivo, e não individual predatório pregado pelo
capitalismo. Portanto:

Ao valorizar a identidade cultural do homem e da mulher do campo, ao


estabelecer a educação condizente com as necessidades desse povo vai além
da apreensão de novas técnicas agropecuárias, ao buscar condições reais para
que os povos do campo tenham acesso à educação (vista como
desenvolvimento das potencialidades humanas) está se proclamando um
projeto societal pautado em valores que privilegiam o ser em detrimento do
ter, que estabelecem prioridades ao ser humano e não ao capital; está se
propondo uma sociedade que procure na solidariedade e não na competição
alicerce para as relações sociais. (MARTINS, 2011, p.5).

Dito isto, podemos perceber que a proposta da Educação do Campo oferece


possibilidade de perspectiva de um modelo societário mais igualitário diferente do atual
onde, o dinheiro e consumo são o centro das relações sociais.
Destacamos também que a Educação do Campo não existe sem a agricultura
camponesa, já que ela foi criada pelos sujeitos que a realizam. Essa postura quer se
utilizar da educação e do conhecimento científico na perspectiva da transformação da
sociedade, com a intenção de romper com o status quo.

Uma escola do campo é a que defende os interesses, a política, a cultura e a


economia da agricultura camponesa, que construa conhecimentos e
tecnologias na direção do desenvolvimento social e econômico dessa
população. A sua localização é secundária, o que importa são suas
proximidades política e espacial com a realidade camponesa. (ARROYO E
FERNANDES, 1999, p.65).

Portanto, consideramos que a escola não pode ser algo distante da realidade do
educando, ela deve englobar as dimensões da vida política, econômica e cultural.
Acreditamos que a proposta da Educação do Campo aponta uma nova perspectiva
educacional para os camponeses.
A Educação do Campo se mostra como uma forma de resistência à invasão
capitalista do território camponês, pois se o capitalismo se apropria do campo, isso
significa o fim dos camponeses enquanto classe, e sua consequente proletarização.
Entendemos que a Educação não deve ser um mero instrumento de produção e
manutenção do sistema capitalista e da ideologia neoliberal atual, e sim, pautar-se em
uma análise crítica da realidade, em uma perspectiva libertadora e de consciência de
classe.
No entanto, apesar da nova proposta de Educação do Campo, diversas escolas no
campo ainda apresentam características da Educação Rural comprometendo assim a
formação de cidadãos críticos.
No sentido de mudar essa realidade, o MST tem lutado pelo direito à educação
em todos os níveis e nessas lutas surgiu à necessidade de criação de escolas públicas nos
espaços de reforma agrária. No Ceará, esta luta levou a conquista da construção de
cinco Escolas do Campo de Nível Médio em assentamentos de Reforma Agrária, são
eles: Lagoa do Mineiro, em Itarema; 25 de Maio, em Madalena; Santana, em
Monsenhor Tabosa; Maceió, em Itapipoca, e Pedra e Cal em Jaguaretama.
Dentre elas focamos um olhar para a escola Francisco Araújo Barros no
assentamento Lagoa do Mineiro em Itarema.

A LUTA PELA TERRA NO ASSENTAMENTO LAGOA DO


MINEIRO

Historicamente o Brasil apresenta uma estrutura fundiária concentrada nas mãos


das elites, portanto, para ter acesso a terra os camponeses lutam e resistem à expulsão
do campo:

Em todos os períodos da história, os camponeses lutaram para entrar na terra.


Lutaram contra o cativeiro, pela liberdade humana. Lutaram pela terra das
mais diferentes formas, construindo organizações históricas. (FERNANDES,
2012, Pág.1).

Dessa forma, a conquista da terra no assentamento Lagoa do Mineiro não foi


diferente. No período anterior a conquista da terra os camponeses viviam em uma área
em que tinham a posse, porém, não possuíam a propriedade, o dono das terras,
Francisco Teófilo mantinha uma relação de exploração com os posseiros onde:

As famílias que moravam na terra tinham o direito de plantar um hectare de


mandioca, milho e feijão nas terras de pior qualidade. Todas as famílias
tinham que dar dois dias de trabalhos por semana para o proprietário, que
pagava essas diárias muitas vezes com mercadorias que dizia vender aos
agricultores. (PPP, 2012, Pág. 10).
Esse tipo de relação não é algo específico da região de Itarema, na realidade essa
prática é muito comum no interior do Ceará como um todo.
Após a morte de Teófilo, as terras passam a ser do padre Aristides, sobrinho do
ex-proprietário. Em 1985, durante uma missa o padre anuncia que as terras irão ser
vendidas para a empresa Ducoco, empresa que explora a cultura do coco na região.
Sujeitos à expulsão sem pagamento de indenização, e a atentados violentos, por parte
dos novos proprietários, a única saída para manutenção da existência de suas famílias
era a organização e a resistência na terra, onde contaram com o apoio da Diocese de
Itapipoca representada pelo bispo Dom Paulo. O processo de ocupação foi
acompanhado de grande repressão e violência, onde resultou no assassinato de três
camponeses:

Francisco Carneiro de Sousa Filho (conhecido por Chico) foi encontrado nas
proximidades da comunidade de Patos com varias perfurações de faca no
corpo na volta de um enfrentamento entre trabalhadores e os mandados do
fazendeiro; Francisco Araújo Barros, degolado em uma broca em que
trabalhava em mutirão depois de levar um tiro e Francisco Izaquiel Ferreira,
conhecido por Ciço levou um tiro quando ia receber um dinheiro da
emergência (Programa do Governo Federal) a caminho da comunidade de
Barbosa. (PPP, 2012, Pág. 11).

Apesar da violência cometida contra os camponeses na luta pela terra, os


acampados permaneceram na área em conflito, e, em 1986, conquistaram a primeira
desapropriação; porém, a luta continuou, pois, apenas uma parte das terras havia sido
desapropriada, mas, com a organização unificada e resistência após alguns anos
conquistaram as demais áreas que não tinham sido desapropriadas.
Atualmente, o assentamento é constituído de sete comunidades são elas Saguim,
Lagoa do Mineiro, Mineiro Velho, Corrente, Barbosa, Cedro, Córrego das Moças
oferecendo moradia e trabalho para cerca de 214 famílias. Do ponto de vista
organizativo:

Cada comunidade vem assumindo seu jeito próprio de se organizarem,


respeitando os princípios e normas do assentamento de forma a não haver
uma divisão entre comunidades do ponto de vista de divergência, mas
garantindo a unidade entre as mesmas nos espaços de discussão geral sobre o
assentamento. (PPP, 2012, Pág. 12).

Nesse sentido, o assentamento se constitui em um espaço de construção coletiva


onde todos os sujeitos envolvidos podem discutir e participar das decisões tomadas. Os
camponeses que antes eram subalternos do proprietário conquistaram seu espaço de
trabalho e de produção cultural, se tornaram sujeitos da sua própria história.

Com a conquista da terra os assentados perceberam que não bastava apenas um


lugar para morar e produzir, a luta por educação de qualidade surgia como um fator tão
necessário quanto à luta pela terra. Como explicitamos anteriormente, a educação no
meio rural historicamente têm sido alvo do descaso pelo poder público. No
assentamento Lagoa do Mineiro não era diferente:

No ano de 1986 somente existiam na área duas escolas isoladas, as quais


funcionavam em condições precárias em casas de taipas familiares, mesmo
sem condições de trabalho a comunidade lutou para que a educação fosse
garantida para as crianças em cada localidade, contando como educadores
(as) Mariinha Martins, Francisca Martins Sousa Silva, Maria Ivaniza, Maria
Firmino (in memorian), Neuza Flor, Rigobertina, Neuza Santana, Pedro
Paulo, Jacinta, esses foram os primeiros educadores (as) que lecionavam em
turmas multisseriadas com idades diferentes. (PPP, 2012, Pág.15-16).

As escolas não tinham o apoio do município e diante dessa situação os pais se


viam obrigados a comprar o próprio material didático dos filhos, os professores eram
voluntários e de forma geral a formação desses educadores limitava-se a 4° série do
ensino fundamental. Aos poucos, a comunidade foi conquistando outras escolas e estão
avançando no ponto de vista educacional. Atualmente o assentamento conta com 7
escolas municipais:

Duas com o Ensino Fundamental completo (São José, comunidade de


Barbosa e Pedro Irineu da Silva em Saguim); uma com Educação Infantil e 1º
ano do Ensino Fundamental (João Silvano de Castro em Corrente); três com
o Fundamental I (Manoel Rosa de Sousa em Cedro, Alvira Félix de Moura
Lagoa do Mineiro e José Tomas da Costa em Córrego das Moças) e uma com
ensino pré-escolar (Maria Neuza Flor na comunidade de Mineiro Velho).
(PPP, 2012, Pág.16).

Nesse sentido, a educação melhorou bastante desde a formação do assentamento.


Segundo o projeto Político Pedagógico da escola:

No contexto das 07 escolas o assentamento conta com 33 professores, sendo


todos concursados efetivos pelo município de Itarema, parte destes
concluíram o Ensino Superior pela Universidade Estadual do Ceará - UECE;
Universidade Federal do Ceará - UFC, Universidade Estadual Vale do
Acaraú - UVA, e outros estão cursando história na Universidade Federal da
Paraíba - UFPB; Licenciatura em Educação do Campo pela UECE. (PPP,
2012, Pág. 16)

O ensino médio também é um grande desafio, e a oferta está se materializando a


partir da conquista da escola de ensino médio Francisco Araújo Barros, o histórico de
luta os desafios e a contribuição do ensino de geografia para educação do campo na
escola é o que iremos abordar em seguida.

O ENSINO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO


FRANCISCO ARAÚJO BARROS

Com o objetivo de compreender como a geografia está contribuindo para a


formação crítica dos educandos, foram entrevistados 20 alunos entre 1° ano do ensino
médio A, Manhã, 2° ano do ensino médio A manhã, 3° ano do ensino médio único,
Manhã, 1° ano do ensino médio A, Tarde; 2° ano do ensino médio A, Tarde; 2° ano do
ensino médio B, Tarde; 3° ano do ensino médio A e B, Tarde. Os educandos
entrevistados foram classificamos de A a U. Também foram entrevistados o professor
de todas as turmas de geografia da escola, o ex-coordenador da escola, membro do setor
de educação do MST, e a Diretora da escola.
Fundada em 2011, a Escola de Ensino Médio Francisco Araújo Barros é
localizada no assentamento Lagoa do Mineiro, mais especificamente na comunidade de
Barbosa, na zona rural do Município de Itarema-CE. A escola possui biblioteca,
laboratório de informática e de ciências, quadra esportiva, anfiteatro e sala de vídeo. O
nome da escola possui um significado de luta e resistência camponesa, além de ser uma
homenagem ao lutador que perdeu sua vida na luta por acesso a terra, Francisco Araújo
Barros é símbolo de solidariedade coletiva para àqueles que resistiram e resistem no
assentamento. A conquista da escola teve uma grande importância para o assentamento,
assim como para as localidades próximas a ele que também são contempladas por ela.
Membro do setor de educação do MST, desde 2005, e coordenador da escola no período
de 2011 a maio de 2012 e atual professor regente da sala de multimeios, enfatiza a
importância da escola:

Primeiro significou uma conquista histórica da juventude ter acesso ao ensino


médio no campo [...] era luta que eles tentaram construir desde o início, se
você for reparar os documentos oficiais do assentamento de 10, 20 anos atrás
já consta que o anseio das famílias era ter uma escola que desse conta de todo
o processo de aprendizagem dos filhos deles, da formação tanto do ensino
fundamental como ensino médio[...] e outra é uma conquista do ponto de
vista político do movimento [...] no sentido de dizer que nós teríamos uma
estrutura que pudesse [...] ser espaço estratégico para efetivação da prática
pedagógica, da proposta da pedagogia do movimento.

Para os Educandos, a escola também possui um grande significado. Dos 20


alunos entrevistados, todos afirmam a sua importante para a região principalmente no
que diz respeito ao término dos deslocamentos para as escolas da zona urbana, como
afirma o entrevistado A: “Uma escola aqui nessa localidade é melhor porque muitos
alunos que saiam de localidade muito longe pra estudar na cidade”. Para o
entrevistado C a escola “Facilita mais o acesso, se não tivesse essa escola aqui, eu
tinha que me deslocar da minha localidade para Itarema, fica mais longe”. Ainda nesse
sentido destaca o entrevistado I “É bom né, porque é perto”.
No entanto, além de diminuir a distância entre as comunidades e a escola ela
“trás a realidade do campo não trás essas coisas da cidade muito né, apesar deu gostar
da cidade, mas, não trás, trás mais do campo”, afirma o entrevistado E. O entrevistado
N completa: “a escola ensina um pouco sobre agricultura sobre o campo”. Já para o
entrevistado T:

a escola faz com que a gente enxergue mais, porque algumas pessoas onde a
gente mora, não aceita a realidade que a gente mora, no campo e a escola
propõe um acordo entre a gente, pra gente aprender sobre o campo.

Percebemos que, todos os alunos entrevistados tem consciência da importância


da escola para o assentamento, no mesmo sentido do deslocamento, mas percebemos
que dois educandos, foram além dessa compreensão. Compreenderam a construção da
escola como conquista dos trabalhadores e trabalhadoras do assentamento: “a escola é
um sonho realizado pra comunidade depois de muita luta” expõe o entrevistado H. Já o
entrevistado G relata:

Essa escola tem muita importância porque a grande importância dela é pelo
motivo dela estar construída no campo, porque foi uma luta dos trabalhadores
pra conseguir essa escola muita gente morreu pra conseguir essa escola
como, por exemplo, o nome é Francisco Araújo Barros foi um dos lutador
por essa escola.

Portanto, podemos concluir que na visão dos alunos, a escola facilitou o acesso
ao ensino médio, pois, a distância entre as comunidades e escola foi minimizada e o
espaço escolar está permitindo que aprendam sobre o campo, além de ser uma conquista
dos trabalhadores através da luta social.
Marco na história do assentamento, a escola mudou significativamente o
cotidiano dos educandos que tinham que se deslocar diariamente para sede do município
de Itarema, como afirma a diretora da escola e moradora do assentamento, “Nossos
filhos tinham que acordar cinco horas da manhã para pegar ônibus para ir para escola
e muitos eram vítimas de preconceito, pois, eram chamados de “povo da mata””.
Portanto:

O deslocamento se dava por meio de dois transportes do assentamento


contratados pela prefeitura municipal de Itarema, um saindo as 5:30hs e
retornando 13:30hs e o outro fazendo o roteiro do ensino fundamental dentro
do próprio assentamento. O deslocamento dos educandos do ensino médio
prejudicava muito devido o horário e o tempo que estes levavam para se
deslocarem até a sede do município. A dificuldade maior era que estes
educandos saiam de suas casas para estudarem e devido à distância em
muitos casos danificavam o material didático nos períodos chuvosos e
ficavam muito tempo sem alimentação por falta de condições financeira da
família, além de sofrerem preconceito por serem alunos do campo
(denominados pejorativamente alunos da mata).(PPP, Pág. 16-17).

Com a construção da escola, essas dificuldades foram minimizadas e atualmente


além dos educandos das sete comunidades do assentamento a escola recebe alunos de
outras localidades:

Os educandos e as educandas da escola Francisco Araujo Barros são oriundos


das comunidades de Brilhante, Comundongo, Trapiá, Touro, São Gabriel,
Santo Antonio, Assentamento Macaco II, Batedeira, Vila do Coco, Patos,
Morro dos Patos, assentamento Pachicu, assentamento Patos Bela Vista,
Assentamento Salgado Comprido, assentamento Lagoa do Jardim,
assentamento Melancias, Aguapé, Varjota e as sete comunidades de Lagoa do
Mineiro. (PPP, Pág. 19).

Por atender alunos de várias localidades diferentes, há uma diversificação no


perfil desses educandos, pois, são de comunidades de pescadores, pequenos
agricultores, assentados e indígenas, e cada comunidade possui suas especificidades;
não que a diversidade seja algo problemático, mas, trás elementos complexos na relação
aluno-comunidade, elementos esses que aos poucos estão sendo superados através da
experiência coletiva.
Conquista da luta por uma educação condizente com a realidade campesina, a
escola:
[...] constituindo-se centro de animação comunitária, vinculado à cultura; ao
trabalho; à organização da comunidade e de suas lutas; ao desenvolvimento
do território camponês, de modo geral. Assim, diversas outras atividades
educativas formais e informais serão promovidas para além do Ensino
Médio, mas sempre se articulando com este, numa perspectiva mais ampla de
educação escolar. (PPP, 2012, Pág. 18-19).

Na tentativa de estabelecer um espaço coerente com a proposta da Educação do


Campo, a escola traz algumas matrizes norteadoras à formação de cidadãos críticos,
arquitetos da própria história valorizando a luta por acesso a terra e cultura campesina,
portanto:

Para uma pedagogia formadora de sujeitos construtores do futuro, é


necessário, assegurar mecanismos que permitam a articulação da escola com
os movimentos sociais do campo; garantir que a experiência de luta dos
educandos e de suas famílias seja incluída como conteúdo de estudo;
promover a organização coletiva, solidária e cooperativa; e compreender as
lutas sociais e a organização coletiva como estratégias pedagógicas,
desenvolvendo práticas que fortaleçam na juventude a postura humana e os
valores aprendidos na luta: o inconformismo, a sensibilidade, a indignação
diante das injustiças, à contestação social, a criatividade diante das situações
difíceis, e a esperança. (PPP, 2012, Pág. 24).

Nesse sentido, a ciência geográfica que procura analisar criticamente o espaço,


suas contradições, as lutas sociais, as transformações sócio-territoriais oriundas da
conquistada da terra pelo campesinato, comunga com essa proposta da educação do
campo e possui um leque de possibilidades e contribuições para a formação de cidadãos
críticos.
Na visão do ex-coordenador da escola e membro do setor de educação do MST a
geografia:

[...] tem sido uma disciplina estratégia na construção da proposta da educação


do campo porque ela faz exatamente essa vinculação da geografia humana
com a geografia física no sentido da gente construir uma estratégia [...] do
ponto de vista da convivência com zona costeira, como a gente construir a
partir do estudo desse solo [...] uma alternativa agroecológica uma alternativa
que possibilite os agricultores produzir mais e viver melhor, de forma digna
[...] e o professor de geografia [...] tem que ter essa capacidade, esse “jogo de
cintura” que relacione esses aspectos.

Para o educador é fundamental compreender o papel do conhecimento para a


formação da criticidade do educando. Portando, afirma o professor de geografia da
escola:
A geografia por si só ela é uma ciência que instiga a criticidade das pessoas
[...] pelo seu aspecto social, então dessa maneira o professor tem uma
facilidade a partir dessa ciência conseguir instigar também a criticidade dos
alunos através de alguns[...] aspectos dentro da geografia que faz com que
leve os alunos a pensarem sobre a realidade em que eles vivem.

Dessa forma, o professor nos indica que, a geografia pode despertar nos alunos a
criticidade e deve procurar oferecer elementos para que o educando, compreenda a
realidade em que está inserido. Nesse sentido, o livro didático é importante, pois,
funciona como ferramenta para nortear o trabalho em sala de aula, além de ser o
material mais acessível ao aluno. Sobre o livro didático o professor relata que:

Apesar da escola ter, uma proposta diferenciada das outras mas, os livros
didáticos contradizem isso, são os mesmos utilizados nas escolas regulares
[...] o professor tem que se adequar através da metodologia, adequar os
assuntos que o livro aborda aos assuntos da realidade dos alunos.

Podemos verificar que os livros didáticos de geografia adotados na escola são os


mesmo adotados nas escolas da cidade. Nesse caso, o professor deve ter o compromisso
de pesquisar e adequar os assuntos abordados nos livros didáticos a realidade dos
educandos. Porém, faz-se necessário um material didático coerente com a proposta da
escola do campo, que valorize a cultura camponesa e destaque a luta dos movimentos
sociais, por reforma agrária por justiça social já que “o livro didático de geografia não
aborda com tanta propriedade os movimentos sociais”, reitera o professor de geografia.
Outro fator importante, no que se refere à aprendizagem dos educandos, é a
relação dos conteúdos vistos em sala de aula com a realidade em que estão inseridos.
Nesse caso, a geografia agrária é fundamental para a compreensão da realidade desses
educandos, pois, são oriundos de assentamentos e de outras áreas rurais, como já
abordamos anteriormente. No entanto, o professor de geografia ao abordar assuntos da
geografia agrária como, por exemplo, reforma agrária não percebe um maior interesse
por parte dos educandos:

Pra falar a verdade eles vêem como mais um conteúdo, eles não tem tanto
interesse [...] com relação a esses assuntos que abordam questões de reforma
agrária apesar, da grande maioria dos alunos aqui serem de áreas de
assentamento, a grande maioria mesmo, eu não consigo perceber o interesse
deles em questões de envolvem a reforma agrária [...] uma das grandes
decepções que eu vejo dentro dessa escola é isso.
Dessa forma, segundo o professor, questões que deveriam despertar um maior
interesse nos educandos por estarem relacionadas à realidade deles como, por exemplo,
a luta pela terra, reforma agrária, movimentos sociais do campo na prática isso não
ocorre.
A Geografia como já foi enfatizado anteriormente é uma disciplina estratégica
para consolidação da proposta da Educação do campo. E para compreendermos mais a
fundo esse processo, abordaremos agora qual a compreensão dos educandos sobre
geografia, e se ela está cumprindo seu papel de contribuir para a formação da
consciência crítica dos educandos, e na compreensão da realidade que os circunda.
Vejamos agora o que nos responderam os educandos no que diz respeito à
ciência geográfica. O entrevistado A afirma que “é a matéria que estuda as coisa da
terra”; o entrevistado B nos diz que “é a matéria que estuda as coisa da terra
temperatura, mapa essas coisas assim”; já o C coloca que “Não entendo muita coisa
não, sou chegada na geografia não ela estuda mais o aquecimento, as divisões da terra
como se diz... essas coisas”. Sobre essas definições iniciais percebemos que o
entendimento que os educandos possuem sobre a ciência geográfica é de uma geografia
que estuda a natureza. Observemos então outras definições. Segundo o entrevistado G
“geografia é o estudo do espaço. Geografia a pessoa entende muita coisa a pessoa
estuda o espaço a superfície a caatinga o cerrado”, e de acordo com os entrevistados J
e M respectivamente, “a geografia estuda tudo aquilo sobre a natureza, sobre os locais
geográficos”, “Entendo muita coisa não a gente viu negócio de relevo, planície.”.
Dessa forma, percebemos que há quase uma unanimidade nos discursos que se referem
à Geografia como ciência que estuda a natureza principalmente aspectos do relevo,
clima, vegetação.
Os assuntos relacionados à geografia agrária como, por exemplo, concentração
de terras, mecanização da agricultura, reforma agrária etc não são mencionados em
nenhum momento pelos educandos quando se referem à geografia.
Por outro lado, três educandos, o I, P e R apontaram alguns elementos que se
aproxima de um estudo mais integrado sociedade/natureza, pois, destacam questões
relacionadas à economia mundial, as modificações da paisagem e o desenvolvimento do
capitalismo. O primeiro reitera que a geografia “é relacionado ao mundo, a alguns
países, saber a desenvoltura dos países” já o segundo afirma que “apresenta as
modificações da paisagem o clima” e por último “estudamos sobre o capitalismo como
surgiu achei muito interessante”, afirma o entrevistado R. Mesmo que esses assuntos
possam trazer em si um caráter mais crítico, os educandos não conseguiram articular o
conceito de Geografia de forma que se aproxime da proposta da educação do campo.
No entanto, os casos mais graves que verificamos foram os seguintes, ao serem
perguntados sobre o que entendiam por geografia, o entrevistado D afirma que “Na
verdade não entendo nada”; já o E diz “não gosto muito de geografia não” e por fim o
entrevistado U reitera “Não sei não, não gosto de geografia não”.
A partir das falas dos educandos percebemos que, ainda há estudantes que
chegam ao ensino médio sem compreenderem as noções básicas da Geografia e nem ao
menos conseguem citar um conteúdo visto nesta disciplina algo bastante grave para
qualquer escola seja do campo ou da cidade.
Outro fato que podemos destacar está relacionado a alguns professores que,
mesmo se dispondo a trabalhar no programa, devido à formação que tiveram por não
estarem inseridos na luta pela terra e pela reforma agrária, possuem muita dificuldade
em romper com um modelo enraizado de educação voltado para mecanismos e
instrumentos formais de construção do conhecimento. Com isso podemos afirmar que
há ainda uma lacuna desses profissionais para o trabalho docente no campo, nos marcos
da Educação do Campo, essa lacuna passa pela necessidade de profissionais
qualificados residentes no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conquista da Escola de Ensino Médio Francisco Araújo Barros é uma vitória


conjunta dos camponeses e camponesas e do MST que almejavam uma escola no e do
campo que possibilitasse um espaço de aprendizagem condizente com a realidades dos
educandos do assentamento Lagoa do Mineiro.
O ensino de geografia que analise o espaço dialeticamente contextualizando com
a realidade dos educandos e buscando interpretar os conflitos sociais criados pelo
capitalismo, possui um papel importante na formação do pensamento crítico dos
educando da escola. Portando, a Geografia é disciplina estratégica para efetivação da
proposta da educação do campo na escola. Porém, ao analisarmos as falas dos educando
percebemos que há um grande desafio a ser superado, pois, no que diz respeito ao
conhecimento geográfico, dos 20 educandos entrevistados todos não possuem uma
compreensão clara do que seja Geografia. Percebemos também que a ideia de Geografia
que os educandos possuem é de uma ciência que estuda apenas aspectos naturais como
relevo, clima, e superfície terrestre. Assuntos como a luta pela terra, concentração
fundiária, conflitos sociais no campo não foram citados pelos educandos como sendo
conteúdos abordados pela Geografia, algo bastante problemático para uma ciência que
possui como objetivo fazer com que os educandos reflitam sobre tais questões.
Portanto, há um grande desafio de tornar a Geografia uma ciência que desperte o
interesse dos educandos e que possa, além disso, contribuir para a formação da
consciência crítica.
No entanto, compreendemos que a Escola de Ensino Médio Francisco Araújo
Barros está em processo de consolidação, pois, seu funcionamento teve inicio em 2011,
ou seja, recente. Nesse sentido, a proposta da educação do campo está sendo construída
cotidianamente e com grande empenho do núcleo gestor, dos professores e todos os
sujeitos que estão edificando a escola.

REFERÊNCIAS
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Social do Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do
Campo, 1999. (Coleção Por Uma Educação Básica do Campo, n°. 2).
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Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional Por Uma Educação Básica do Campo,
2000. (Coleção Por Uma Educação Básica do Campo, n°. 3).
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Projeto Camponês de Educação. Disponível em:
http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/gts/1177_1.pdf Acesso: 05 de
dezembro de 2012.
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Campo. Disponíveleem:
<http://www2.fct.unesp.br/nera/publicacoes/ArtigoMonicaBernardoEC5.pdf>. Acesso
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FERNANDES, Bernardo M. Brasil 500 Anos de Luta pela Terra. Disponível em:<
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/terra/mst3.htm>. Acesso em: 04 de dezembro de
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MOLINA, M. C. JESUS, S. M. S. A.(org.) Por uma Educação do Campo:
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OLIVEIRA, A. U. (org.) Para Onde Vai o Ensino de Geografia. São Paulo: Contexto,
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